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MICROTRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA PLASMÁTICA

A membrana plasmática é uma barreira com permeabilidade


seletiva entre a célula e o meio extracelular. Esta permeabilidade
assegura que moléculas essenciais tais como glucose, aminoácidos e
lípidos permaneçam no interior da célula. Isto é, a permeabilidade
seletiva mantém um meio interno constante. Similarmente,
organelos da célula com membrana podem ter um meio interno
diferente ao citosol e as membranas do organelo mantêm essas
diferenças.

A bicamada fosfolipídica, pelas características apolares que


apresenta, é apenas permeável a moléculas lipossolúveis, que a
atravessam dissolvendo-se e difundindo-se no seu interior lipídico.
Muito embora a compartimentação conseguida à custa de barreiras
lipídicas tenha sido, em termos evolutivos, um acontecimento crucial,
uma membrana de base exclusivamente lipídica seria uma barreira
impeditiva à passagem da maioria das substâncias polares ou com
carga elétrica que incluem nutrientes essenciais às necessidades
metabólicas das células. Como resposta a estas limitações, surgiram
estruturas proteicas especializadas na membrana celular que, direta
ou indiretamente, evitam o contacto de moléculas polares com o
ambiente lipídico das membranas, permitindo que um grande e
variado número de iões e de moléculas essenciais, tais como
açúcares, aminoácidos e outras solúveis em água, facilmente entrem
ou saiam da célula, e que produtos do metabolismo sejam
eliminados. Este tipo de translocação membranar corresponde ao
que habitualmente se designa por transporte membranar mediado
por oposição ao que ocorre por difusão simples que é transporte
membranar não mediado. Os complexos moleculares envolvidos no
transporte mediado são proteínas integrais, designam-se
genericamente de proteínas de transporte membranar.
De acordo com a Segunda Lei da Termodinâmica, as moléculas
movem-se espontaneamente de uma região de maior concentração
para uma de menor concentração. Neste caso, trata-se de transporte
passivo, em que o movimento das moléculas de água e do soluto é
determinado pela diferença de gradiente entre os meios intra e
extracelulares.

Transporte não mediado

Difusão simples - A via lipídica

O movimento de moléculas lipossolúveis através de bicamadas


lipídicas pode descrever-se como consistindo numa sequência de três
passos: passagem (partilha) do meio aquoso para o meio lipídico da
membrana, difusão no interior da membrana e terminando com a
subsequente passagem (partilha) para o meio aquoso do lado
oposto. Esta descrição tem o nome de modelo partilha-difusão. A
velocidade do movimento será, de início, rápida e diminuirá
gradualmente até se estabelecer o equilíbrio. Nesta situação, a
concentração do soluto é igual nos dois lados da membrana, isto é, o
gradiente de concentração é nulo. Importa referir que o equilíbrio é
dinâmico, o que quer dizer que há moléculas que passam em ambos
os sentidos através da membrana, mas a velocidade de transferência
é igual em ambos os sentidos. Este processo, termodinamicamente,
favorável não implica dispêndio de energia e é a expressão de uma
tendência universal, mediante a qual um sistema passa de um estado
de energia livre mais elevado para um de energia livre mais baixo. É
designado por difusão simples.

Segundo o modelo de partilha-difusão, a permeabilidade de


uma membrana a um dado composto (P, cm/s) é dada pela seguinte
equação:

P = K D/l,
onde D (coeficiente de difusão, cm2/s) reflete a facilidade com
que a substância difunde no interior da membrana e l a espessura da
membrana (em cm).

A solubilidade na membrana é, normalmente, expressa pelo


coeficiente de partilha (K, adimensional), coeficiente de repartição
lípido/água, que se mede dissolvendo a substância numa mistura
água/lípido e medindo a concentração da substância na água (Cágua)
e no lípido (Clípido). Quanto mais elevado for o valor de K, maior será
a lipossolubilidade da substância e mais elevado será o gradiente de
concentração através do interior da membrana.

❖ Os ácidos gordos de cadeias longas são mais hidrofóbicos


do que os de cadeia curta e difundir-se-ão mais
rapidamente através de uma bicamada pura de
fosfolípidos.

Exemplo:

O
||
NH2 – C –NH2 Ureia K = 0,0002

O
||
CH3 – CH2 - NH2 – C –NH2 – CH2 – CH3 Dietilureia K = 0,01

A dietilureia difunde através da bicamada de fosfolípidos 50


vezes mais rapidamente que a ureia (0,01/0,0002).

No caso das membranas celulares, como o coeficiente de


difusão (D) não varia de um modo significativo de composto para
composto e a espessura das membranas (l) para uma dada célula é
praticamente constante, a permeabilidade (P) é, sobretudo,
determinada pelo coeficiente de partilha, ou seja a diferenças de
lipossolubilidade e, como consequência, a velocidade de difusão
simples é, regra geral, proporcional ao coeficiente de partilha
lípido/água.

Para fins práticos, é válido afirmar que as membranas celulares


são impermeáveis (P~=10-12 – 10-10 cm/s) aos pequenos iões (porque
o seu coeficiente de partilha é negligenciável) e muito permeáveis à
água (10-4 – 10-2 cm/s). Estas caraterísticas implicam que em quanto
os iões pequenos atravessam muito lentamente as membranas
biológicas, não é possível manter diferenças de concentração de água
entre os dois lados das membranas biológicas.

As moléculas de interesse biológico que atravessam por


difusão, a taxas apreciáveis, as membranas biológicas são:

- moléculas pequenas não polares (de gases como o azoto, o


oxigénio, ou anidrido carbónico),

- solventes orgânicos (álcool, éter, clorofórmio, benzeno, etc.)

- substâncias lipossolúveis (esteroides, vitaminas lipossolúveis)

- pequenas moléculas não carregadas (água),

- ureia e

- glicerina.

A difusão através da membrana liberta energia. O movimento


de 1 mol de substância desde uma solução 1M a uma solução 0,1M
(aumento de 10) produz 1359 cal (25ºC).

G = - RT ln C2/C1 = - [1,987 cal/(graus.mol)] (298ºC) (ln 1,0/0,1)

= - 1359 cal/mol

Se quiséssemos levar 1 mol, desde uma solução 0,1M até uma


solução 1M gastaríamos 1359 cal.
Transporte mediado

A bicamada fosfolipídica é praticamente impermeável a todos


os iões de vital importância para o metabolismo da célula (Na+, K+, Cl-,
Ca++, etc.), as bases conjugadas dos aminoácidos (que são aniões) e a
totalidade das bases orgânicas (acetato, piruvato, etc.). Mesmo em
relação a certas moléculas não iónicas (glucose, lactose), a
permeabilidade da via lipídica é insuficiente para assegurar um fluxo
compatível com as necessidades metabólicas. Estas limitações são
ultrapassadas pela presença nas membranas celulares de proteínas
de transporte membranar.

A passagem de uma substância através da membrana por


transporte mediado não obedece, em geral, a uma cinética de
primeira ordem, como na difusão simples, mas sim a uma cinética de
saturação, à qual se aplicam os princípios gerais da cinética das
reações enzimáticas.

Difusão facilitada

Certas substâncias, cujas moléculas apresentam características,


a priori, impeditivas de difusão simples, são capazes de atravessar
rapidamente as membranas biológicas. É o que sucede, por exemplo,
com a passagem de glucose através da membrana do eritrócito a
uma taxa que pode ser 105 vezes maior do que a taxa calculada para
a difusão simples, com base na sua lipossolubilidade e tamanho
molecular. Este tipo de transporte passou a ser designado difusão
facilitada. Este processo está acoplado ao gradiente de concentração
da molécula sem gastos de outra forma de energia, pelo que não
permite a transferência de uma substância contra um gradiente. O
processo é explicado pela presença de estruturas proteicas
especializadas que facilitam a passagem do substrato através da
bicamada lipídica, descritas como transportadores (carriers) do tipo
uniporte (permeases) e poros ou canais hidrofílicos
transmembranares.
Transportadores de tipo uniporte, proteínas transportadoras
ou permeases unem-se ao soluto que vai ser transportado
especificamente e sofrem uma série de mudanças na sua
conformação que permitem a sua transferência. Este tipo de
transporte mediado por moléculas de uniporte apresenta as
características associadas a um processo de difusão facilitada,
designadamente:

- a velocidade de transporte é muito mais rápida do que a da


difusão simples,

- o transporte é específico para um dado substrato ou grupo de


moléculas estruturalmente afins,

- o transporte depende do número de moléculas de uniporte


presentes na membrana.

Sendo, como tal, caracterizado por um valor máximo de


capacidade de transporte.

❖ A glucose une-se à proteína transportadora e esta altera


a sua forma permitindo a passagem do açúcar. Logo que
a glucose chega ao citoplasma, uma quinase a transforma
em glucose-6-fosfato. Desta forma, as concentrações de
glucose no interior da célula são sempre muito baixas, e o
gradiente de concentração exterior-interior favorece a
difusão da glucose.

Canais hidrofílicos transmembranares formam poros


hidrofílicos através das membranas celulares. O transporte através
dos canais ocorre a uma velocidade muito superior à velocidade de
difusão facilitada através dos uniportes. A maioria dos canais está
sujeita a regulação, não se encontrando permanentemente abertos.
A maior parte dos translocadores são canais. Foram descritos três
tipos de canais: canais iónicos, aquaporinas e porinas.
As aquaporinas são proteínas intrínsecas da membrana que
asseguram o transporte de água, podendo também, em alguns casos,
mediar a passagem de pequenas moléculas não carregadas, tais
como glicerol e ureia. São proteínas que se encontram distribuídas
pela grande maioria das células do nosso organismo, tendo a AQP1
(abundante nos eritrócitos) sido a primeira a ser identificada. Nos
mamíferos, são conhecidas 13 aquaporinas com diferentes
localizações celulares estando, assim, associadas a funções
específicas. Se localizam preferentemente nos rins mas também são
abundantes em eritrócitos, epitélio intestinal, células da glia do
cérebro, etc.

A AQP2 na membrana plasmática de certas células do rim é


essencial para a reabsorção de água proveniente da urina em
formação.

A velocidade de transporte de água através das aquaporinas é


muito superior à velocidade de difusão simples da água, sendo, por
isso, muito importantes na resposta rápida a perturbações no
equilíbrio osmótico.

Os canais iónicos levam a cabo um transporte rápido de


determinados iões. São poros estreitos e muito seletivos que se
podem abrir e fechar, são regulados por diferentes mecanismos que
permitem ou não a sua abertura. A seletividade é conferida pelo
tamanho do poro e pela existência de grupos hidrófilos.

❖ Os canais de potássio permitem a passagem de K+, mas


não de Na+.

Os canais não podem acoplar-se a uma fonte de energia para


realizar um transporte ativo. Pelo que, a função dos canais iónicos é a
de permitir que alguns iões inorgânicos determinados,
fundamentalmente, Na+, K+, Ca2+ ou Cl- possam difundir rapidamente
a favor de gradiente eletroquímico através da bicamada lipídica. A
capacidade de controlar os fluxos iónicos através destes canais é
essencial para muitas funções celulares.

Foram descritos mais de 100 tipos de canais iónicos. São


responsáveis pela excitabilidade elétrica das células musculares
(canais de Na+, K+, Ca2+) e medeiam a maioria das formas de
sinalização elétrica do sistema nervoso.

Os canais iónicos encontram-se em todas as células animais e,


também, em plantas e microrganismos.

Os canais iónicos mais comuns são os que permitem a


passagem de K+.

Segundo o tipo de regulação, os canais iónicos podem dividir-se


em diferentes grupos:

- Canais mecano-sensíveis,

- Canais quimio-sensíveis,

- Canais dependentes de voltagem e

- Canais das uniões tipo gap.

As porinas se localizam na membrana externa das


mitocôndrias, cloroplastos e de muitas bactérias. Formam poros de
grande tamanho compostos por proteínas que atravessam várias
vezes a membrana. São bastante inespecíficos.

Os sistemas de difusão facilitada apresentam sempre alguma


das seguintes características:

- especificidade;

- grande sensibilidade à temperatura;

- fenómenos de saturação, a taxa de transporte nunca


ultrapassa um valor máximo;
- competição, em certos sistemas, duas moléculas semelhantes
utilizam o mesmo translocador;

- inibição, o sistema pode ser bloqueado por fármacos


aplicados em baixíssimas concentrações;

- acoplamento de fluxos, o movimento de dois iões no mesmo


sentido (K+ e Cl-, por exemplo) ou em sentido contrário (Na+ e Ca++),
através de uma membrana utilizando o mesmo translocador.

Transporte ativo

Quando é necessário o consumo de energia para transportar


moléculas através da membrana plasmática estamos perante um tipo
de transporte denominado, ativo. Está acompanhado de um
aumento da energia livre de Gibbs (G>0), termodinamicamente
desfavorável, só podendo ocorrer quando acoplado a outros
processos exergónicos (G<0). Dada a sua dependência de energia, o
transporte pode, à partida, ser bloqueado por inibidores do
metabolismo celular. Por outro lado, o transporte ativo requer a
presença de proteínas transportadoras.

De acordo com a natureza da fonte de energia utilizada no


transporte, os processos de transporte ativo podem ser classificados
em transporte ativo primário e transporte ativo secundário. Por
definição, um sistema de transporte ativo primário catalisa
concomitantemente uma reação química e um processo de
transporte de um ou mais substratos contra os seus gradientes de
concentração. Por sua vez, um sistema de transporte ativo
secundário catalisa o movimento de um substrato contra o seu
gradiente de concentração, mas utilizando, para o efeito, a energia
acumulada na forma de um gradiente elétrico (uniporte
eletroforético) ou eletroquímico (cotransporte) gerados pelos
sistemas de transporte ativo primário.
Transporte ativo primário

A energia que se utiliza para o transporte ativo primário pode


ser fornecida diretamente por hidrólise de ATP, por absorção de luz
solar ou ainda por uma reação de oxido-redução.

Este tipo de transporte está mediado por transportadores,


também chamados bombas ou ATPasas, movidas pela hidrólise do
ATP, bombas de protões ativadas pela luz (bacteriorrodopsina) e
complexos da cadeia de transporte de eletrões.

Todas as bombas são proteínas transmembranares, com um


ou mais locais de ligação ao ATP. Apenas hidrolisam ATP quando
associado ao transporte simultâneo de iões ou outras moléculas. Este
acoplamento é indissociável e faz com que a energia armazenada na
ligação fosfoanidro do ATP seja usada para mover, contra gradiente
eletroquímico, iões ou outras moléculas. As ATPases estão,
genericamente, agrupadas em quatro classes: P-ATPases, F-ATPases,
V-ATPases e ATPases da superfamília ABC. As três primeiras
transportam iões e a quarta transporta, para além de iões, diferentes
moléculas ou mesmo proteínas.

A bomba de Na+/K+

Está presente em todas as células animais. É um tetrâmero de


subunidades de composição 22.

Uma característica essencial da bomba de Na+/K+ é que o ciclo


de transporte depende da autofosforilação da proteína. As bombas
iónicas que se autofosforilam recebem o nome de ATPases de
transporte de tipo P. Se considera que a proteína poderá apresentar
duas conformações: uma que permite o acesso ao local da ligação do
substrato do lado intracelular e outra do lado extracelular. A energia
necessária à alternância das conformações resulta da hidrólise de
ATP.
Figura 1. Bomba classe P

O líquido extracelular das células animais tem uma


concentração salina semelhante à da água do mar. Contudo, as
células têm que controlar as suas concentrações salinas
intracelulares. Por exemplo, a maioria das células animais contém
alta concentração de K+ e baixa de Na+ em relação ao meio externo.
Estes gradientes iónicos são gerados por um sistema específico de
transporte, uma enzima dita bomba de Na+ e K+ ou Na+-K+ ATPase.

Na conformação da bomba voltada para o citosol, ligam-se três


iões da Na+ à ATPase, e esta união provoca a sua fosforilação pelo
ATP num resíduo específico de aspartato. Esta fosforilação conduz a
uma orientação da proteína para o meio extracelular, associada a
uma diminuição da afinidade para o Na+, levando à sua libertação.
Esta mudança conformacional conduz também à exposição dos dois
locais de ligação para o potássio, permitindo a sua ligação à ATPase.
Esta ligação do K+ origina a desfosforilação da proteína, que se
orienta novamente para o meio intracelular com a consequente
libertação de potássio para o citosol.

Esta ATPase, igual a todas as ATPases, necessita de Mg2+.

O transporte ativo de Na+ e K+ é de grande significado


fisiológico. De facto, mais de um terço do ATP consumido num
animal em repouso é utilizado para bombear estes iões. O gradiente
de Na+ e K+ em células animais controla:

a) o volume da célula, evita que as células animais arrebentem.


A importância da bomba de Na+/K+ no controlo do volume celular
manifesta-se pelo facto de que muitas células animais incham
quando são tratadas com ouabaína, que inibe a bomba de Na+/K+.

b) a propagação do impulso nervoso já que torna os neurónios


e as células musculares eletricamente excitáveis,

c) impulsiona o transporte ativo de aminoácidos.

Outros exemplos representativos de P-ATPases incluem: 1) a


Ca2+ ATPase, que promove o efluxo de iões Ca2+ do citosol para o
meio extracelular e outros do citosol para o retículo endoplasmático
(RS), outros ainda para o retículo sarcoplasmático das células
musculares. Esta ATPase tem a importante missão de manter baixos
os níveis citoplasmáticos de Ca2+.

Figura 2 – Bomba de Ca++

A libertação de iões Ca+2 armazenados desde a luz do RS ao


citosol provoca a contração. A entrada de iões Ca+2 no RS induz o
relaxamento.
2) a K+ - H+ ATPase gástrica, enzima responsável pelo
bombeamento de protões no estômago suficientes para deixar o pH
abaixo de 1,0 e a entrada de K+ nas células.

Figura 3 - Membrana plasmática apical de estômago de mamíferos


(bomba clase P)

Transporte ativo secundário

O transporte ativo secundário recebe este nome porque


movimenta o substrato de um meio a outro aproveitando a energia
liberada ao equilibrar-se um gradiente eletroquímico.

O processo de transporte ativo também designado por


transporte acoplado é aquel no qual o substrato pode ser
transportado contra o seu gradiente, aproveitando a energia
libertada pelo deslocamento de um ião (cossubstrato, Na+ ou H+) a
favor do seu gradiente. Desta maneira, a energia livre libertada
durante a deslocação do ião inorgânico a favor de gradiente
eletroquímico se utiliza como força impulsora para bombear outros
solutos contra gradientes eletroquímicos. Os dois, substrato e
cossubstrato, podem mover-se no mesmo sentido ou em sentidos
opostos, designando-se, respetivamente, por simporte ou antiporte.

Na membrana plasmática das células animais, o ião


cotransportado cujo gradiente eletroquímico proporciona a força
impulsora que permite o transporte ativo da segunda molécula
costuma ser o Na+. O Na+ que entra na célula durante o transporte é
posteriormente bombeado ao exterior mediante uma bomba de
sódio impulsada por ATP, situada na membrana plasmática, a qual,
ao manter o gradiente de Na+, impulsa indiretamente o transporte de
outras moléculas que se cotransportam com o Na+. Por esta razão
dizemos que os transportadores impulsados por iões medeiam
transportes ativos secundários, enquanto os transportadores
impulsados por ATP medeiam transportes ativos primários.

Exemplo de simportes com Na+, em células animais, são o


transporte de açúcares e aminoácidos em células do epitélio
intestinal. Por sua vez, os sistemas de transporte do tipo antiporte
são, normalmente, responsáveis pela regulação da concentração de
iões. São exemplos destes sistemas os antiportes Na+-H+ e Cl--HCO3-,
importantes na regulação do pH, bem como o antiporte Na+-Ca2+,
que, juntamente com a Ca2+-ATPase, é responsável pelo efluxo de
cálcio das células, mantendo a sua concentração intracelular
reduzida.

Transporte transcelular através de epitélios

A membrana das células epiteliais do intestino tem duas


regiões: a apical, voltada para o lado exterior e a basolateral do lado
interno. A Na+-K+ATPase está localizada, exclusivamente na superfície
basolateral da membrana plasmática. Os iões Na+ transportados
desde o lúmen intestinal à célula durante o simporte Na+ de glucose
e aminoácidos são bombeados para fora pela membrana basolateral,
garantindo uma baixa concentração de Na+ intracelular. A
concentração de glucose e de aminoácidos dentro da célula obtida
por simporte tende a reduzir-se pelo transporte por difusão facilitada
da glucose, pelo uniporte de glucose GLUT2, e os aminoácidos
através da membrana basolateral. O resultado é o movimento de
Na+, aminoácidos e glucose desde o lúmen intestinal através do
epitélio celular até o sangue.
O funcionamento coordenado destas duas proteínas de
transporte – Na+/K+ ATPase e simporte Na+/glucose – permite o
movimento de glucose, contra o seu gradiente, do intestino para
dentro da célula epitelial.

O aumento da pressão osmótica resultante do transporte


transcelular de sal e glucose através do epitélio conduz à
transferência de água para o meio que rodeia a superfície basolateral
(reidratação).

O conhecimento adquirido sobre o transporte coordenado de


glucose e Na+ através do epitélio e consequente gradiente osmótico
transepitelial, constitui a base de terapias simples aplicadas em
situações de perturbações gastrintestinais associadas à perda
massiva de água, diarreia e consequente desidratação. Nestas
situações, é de extrema utilidade a prescrição de uma solução de
açúcar, água e sal para beber, mas não simplesmente água, nem
somente açúcar ou sal. A absorção eficiente da água só terá lugar
quando associada ao transporte coordenado de glucose e Na+ através
do epitélio intestinal, que gera um gradiente osmótico transepitelial,
forçando o seu movimento do lúmen do intestino para o meio que
rodeia a membrana basolateral, conduzindo à reidratação.
Analogamente, soluções de açúcar e sal são a base de bebidas
usadas, com frequência, por atletas para a absorção rápida e
eficiente de açúcar e de água.
Bibliografia

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