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Resenha Crítica da Lei Mariana Ferrer, nº 14.

245/2021

Mariana Ferrer, que era influenciadora digital e trabalhava como promoter de uma casa
noturna, alegou em dezembro de 2018 ter sido dopada por um homem que lhe ofereceu uma
bebida durante um evento cujo a mesma estaria trabalhando, e que em seguida este mesmo
homem a levou para uma sala e a estuprou. Mariana denunciou o estupro e após 5 meses do
registro da ocorrência, relatou o ocorrido em suas redes sociais transmitindo para quase 100
mil seguidores, o caso repercutiu em todo território nacional, o homem cujo nome é André
Aranha é muito conhecido e de grande poder aquisitivo.
O relato compartilhado por Mariana continha fotos e detalhes sobre o caso e segundo ela
havia uma clara obstrução das provas e favorecimento do denunciado e dos demais envolvidos
no crime. Em junho de 2019 o empresário André Aranha foi denunciado pelo Ministério
Público de Santa Catarina pelo estupro de vulnerável, pois de acordo com a descrição dos fatos
narrados pela vítima, a mesma não tinha condições de oferecer resistência por ter sido
dopada.
Em setembro de 2020 o acusado foi a julgamento e absolvido em primeira instância por falta
de provas, quanto ao estado de vulnerabilidade da vítima. Segundo o promotor responsável
pelo caso, não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a vítima não estava
em condições de consentir a relação, portanto, não existindo a intenção de estuprar, ou seja,
uma espécie de “estupro culposo”, segundo ele.
Durante o julgamento, o advogado do acusado feriu a dignidade da vítima, humilhando-a
durante a audiência, mostrando cópias de fotos sensuais produzidas pela jovem enquanto
modelo profissional antes do crime, como reforço ao argumento de que a relação foi
consensual. O advogado ainda proferiu que jamais teria uma filha no “nível” de Mariana, e
repreende o seu choro, dizendo ser falso. Mariana pede respeito. O juiz realizou várias
intervenções para manutenção da ordem.
Após os acontecimentos e humilhações ocorridas na audiência, foi criada a Lei Mariana Ferrer,
com o objetivo de proteger a dignidade das vítimas de Crimes Sexuais, evitando
constrangimentos e comportamentos desrespeitosos e vexatórios, como os ocorridos na
audiência de Mariana. A partir da data de implementação da referida Lei, entrará em vigor o
crime de coação acrescido de um parágrafo único, que estabelece um aumento de 1/3 até a
metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual.
De acordo com o artigo 344 do Código Penal, comete o crime de coação no curso do processo
aquele que usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou
alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a
intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral.
Além disso, foram acrescentados no Código de Processo Penal, dois artigos que modificam as
fases de instrução e julgamento. O artigo 400-A determina que na audiência de instrução e
julgamento, em especial nas que apurem crimes contra a dignidade sexual, todos os
envolvidos no processo deverão zelar pela integridade física e psicológica da vítima. O artigo
474-A, dispõe que durante o período de instrução em plenário todos os sujeitos envolvidos no
processo devem respeitar a dignidade da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e
administrativa, cabendo ao juiz presidente garantir o cumprimento do disposto neste artigo. A
mesma redação foi acrescida também ao artigo 81 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais.
Assim, fica expressamente proibidos elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos
e a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima
ou de testemunhas. As alterações criadas pela Lei Mariana Ferrer, buscam reprimir a chamada
vitimização secundária, a qual diz respeito às agressões psicológicas sofridas pelas vítimas no
âmbito público, praticadas por agentes do Estado ou pela própria sociedade e pode ocorrer em
delegacias de polícia, institutos médico-legais, varas criminais ou fóruns. Essas agressões são
chamadas de violência institucional.
Aluna: Beatriz Rodrigues Alab
Professor: Antonio Alceste
Disciplina: Processo Penal II

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