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LICENCIATURA EM TURISMO
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A diarista carioca Jane Santana, de 32 anos, passou boa parte da vida procurando um
produto para domar seus cabelos muito crespos. "Tentei alisamento e permanente, mas
nunca deu certo", diz. Até que, conversando com uma amiga, descobriu um salão da rede
Beleza Natural, no Rio de Janeiro. Há três anos, todos os meses ela enfrenta longas filas
para deixar seus cachos arrumados. Com renda mensal de 400 reais, chega a gastar ali 90
reais por mês em produtos e serviços de beleza. "Não abro mão do tratamento", diz Jane.
A responsável por sua satisfação é a carioca Heloísa Helena de Assis, de 45 anos, a Zica.
Ela conhece bem as necessidades de mulheres como Jane. Zica também foi empregada
doméstica e morava numa comunidade pobre no subúrbio do Rio de Janeiro. Passou dez
anos misturando cremes em bacias até conseguir domar sua volumosa cabeleira com
uma fórmula própria. Hoje ela mora na Barra da Tijuca e administra a rede de salões de
beleza que mais faz sucesso entre as mulheres das classes C e D. Especializada em
cabelos crespos, a Beleza Natural emprega 400 funcionárias e atende mais de 20 000
clientes por mês em quatro salões no Rio e um no Espírito Santo. Faturou 13 milhões de
reais no ano passado e vendeu 530 toneladas de produtos de beleza.
"Eu sabia que muitas pessoas tinham as mesmas necessidades que eu, e o mercado não
as enxergava." Com seus atuais cachos soltos, Zica encontrou muito mais do que uma
solução estética para seus cabelos. Ela é o retrato do empreendedor que seguiu uma
fórmula de sucesso freqüentemente recomendada, mas difícil de aplicar - inventar o que
ainda não existe e copiar o que pode ser copiado. Para fazer da Beleza Natural uma
empresa vitoriosa, Zica combinou um produto inovador para um imenso mercado não
atendido com um modelo de negócios inspirado em práticas de sucesso de empresas que
nada têm a ver com cabelos ou beleza, como a rede de lanchonetes McDonald's.
O sistema funcionou, mas, empolgados com a visão dos lucros, Zica e seus sócios deram
um passo maior que a perna. Em 2000, foram inauguradas três lojas ao mesmo tempo. Só
depois de fechar um dos pontos e de uma longa renegociação das dívidas, a empresa se
recuperou. "Naquela época, não calculávamos o retorno dos salões", diz Rogério Assis,
irmão de Zica. "Hoje sabemos que é preciso planejar muito." O plano agora é
profissionalizar a equipe e investir 5 milhões de reais em dez lojas próprias em três anos.
No dia-a-dia, um trio de auditoras vai aos salões checar uma lista de itens -- como música
ambiente, estoque e quantidade de creme gasto --, outra adaptação do modelo
McDonald's. A padronização rígida é um passo rumo às franquias. "Estamos numa
encruzilhada. Nosso desafio é crescer e, ao mesmo tempo, manter a qualidade", diz Leila.
"Pensamos em adotar um modelo híbrido, com lojas próprias em pontos estratégicos e
franquias em outros mercados." A rede tem consultoria da Endeavor, organização sem
fins lucrativos de apoio ao empreendedorismo. "Até agora, a rede tem conseguido manter
o padrão nas suas cinco lojas", diz Paulo Telles, gerente da Endeavor. "No dia em que
virar uma empresa com 50 pontos, o risco de a qualidade se perder é alto. Esse é o
desafio que Zica vai enfrentar agora."