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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

10
OUT/NOV/DEZ
2010

AUTOGIRO
GIROPLANO
– O enquadramento

> Paramotor PMP-G1/PMT-G1


> Pendular PDL-G2
> Multieixos MEB-G2/MEA-G3
> Motoplanador MPL-G3
WWW.APAU.ORG
NOTÍCIAS

Autogiros voaram
em Ferreira do Zêzere
(Lago-Azul) > Mário Ferreira

Confesso!... Sou um aficionado destas deitar por terra de alguns mitos negativos Passados alguns anos e como o sonho
máquinas!... sobre o desempenho e risco, fomos voar!... ainda se vive, a chama volta a ganhar força
Talvez um pouco de história para quem não Se sem voar eu achava que o Autogiro quando recentemente voltei a voar nesta
conhece o que já se passou em Ferreira do era interessante, para mim passou a máquina.
Zêzere a respeito deste assunto... espectacular!... Nós que gostamos de voar e que temos
Em 1995 surgiu um projecto para a Mesmo depois de se ter iniciado a mostrado várias competências no que
construção de Autogiros que foi de construção do primeiro modelo em Ferreira diz respeito à organização, segurança e
imediato apadrinhado pelo poder local. Foi do Zêzere, por motivos que agora não operação, merecemos uma legislação justa
construído um hangar, feitos vários estudos interessam, fomos obrigados a abandonar a e aprovada que permita voarmos Autogiro
da legislação Francesa para tentar enquadrar ideia, o que para mim foi uma perda muito em Portugal.
na Portuguesa, muitas deslocações a Lisboa grande. Já aprendi, esqueci e voltei a aprender...
e... nada disso deu resultado!... agora, não gostaria de novamente
Enquanto este processo decorria, achei desaprender!...
por bem apostar nesta actividade, foi O Autogiro é uma máquina segura e muito
então que me desloquei a França para agradável de se voar, basta para isso, tal
voar em Autogiro. Tive o prazer de voar como em todas as outras, não esquecer
com o bem conhecido Sr. Xavier Averso, as limitações tanto do piloto como as da
considerado por alguns como o “Pai” dos máquina!...
Autogiros. Depois de algumas explicações
das limitações da máquina e também do Bons voos!

IMPOSIÇÃO DE ASAS AOS PILOTOS


BREVETADOS EM PIAS LONGAS > Luís Gama

Realizou-se num restaurante do Concelho Embora infelizmente a nossa pista se


de Ourém um jantar, seguido da cerimónia encontre presentemente encerrada devido
de entrega de asas aos pilotos recém­ à construção de um parque eólico nas
‑formados neste Aeroclube. proximidades, contamos já com a promessa
Contou com a ilustre presença de alguns da Câmara Municipal de Ourém, Junta de
Autarcas locais, elementos dos Órgãos Freguesia, INAC e Direcção do Aeroclube
Sociais da Associação de Pias Longas e da deslocalização da infra-estrutura agora
Instrutores dos cursos. desactivada para um outro local próximo,
Os cursos ministrados durante os anos de permitindo a continuação de projectos
2008 e 2009 e que culminaram com o aeronáuticos incluindo a formação.
aproveitamento dos respectivos candidatos Na minha qualidade de Piloto Instrutor e
visaram as seguintes qualificações: amante da modalidade há já vários anos, a
3 Pilotos AB-INITIO (MEA) – G3, 4 concretização das promessas acima referidas
Comunicações, 4 Licenças não restritas a seria para mim não só uma grande satisfação
voos locais, 1 Piloto conversão de ATPL(A), como também a oportunidade de poder
1 Piloto conversão de CPL(A), 1 Instrutor continuar a contribuir, na minha terra, para
de Voo (MEA) – G3 e 2 Renovações de o desenvolvimento de uma modalidade que
licença PU. tem vindo a afirmar-se no nosso País.

 APAUVOAR
EDITORIAL

O Enquadramento,
a Época e a Solidariedade
FICHA > António Rocha
TÉCNICA
Director
António Rocha
Estamos a terminar o 4º inferiores a 560Kg, e que permita de proficiência satisfatório e
Trimestre... e este assunto ainda a inscrição destas Aeronaves no dentro dos padrões de segurança
Coordenador de Edição não está resolvido! RAN. comummente aceites na
João Dantas Há já uns anitos que os Falta também alterar o aeronáutica quer numa emissão
Editor de Fotografia
Autogiros/Giroplanos foram Regulamento aplicável para inicial quer para revalidação
André Garcez inventados e foi mesmo aqui ao incluir o processo formativo que ou renovação da qualificação.”;
lado, no “quintal” do vizinho. possibilite o acesso a esta classe Acreditamos que o pouco que
Secções E sobre História fico-me por de Ultraleve, tal como em todas falta fazer para este “salto de
Segurança de Voo e aqui pois, tal como eu, terão a as outras, em regime ab-initio. actualização” Nacional, depende
Procedimentos
Formação e Licenciamento
oportunidade de se deliciarem Também aqui a nossa proposta, exclusivamente da Autoridade
Legislação e Regulamentos com o que irão ler quando observada a especificidade, vai no Aeronáutica, fará a diferença e
Pistas deslizarem os olhos pelas sentido da transversalidade com a pode (e deve) ser feito com o
Eventos próximas páginas. Hoje são formação ab-initio das Classes já nosso apoio.
Comunicação
máquinas seguras, atractivas, englobadas no Grupo 3. Nesse sentido, estão iniciadas
Colaboradores aperfeiçoadas, com rendimento e De facto, a especificidade de as diligências que considerámos
David Campinho performance muito interessantes. conhecimento e técnica de adequadas.
Francisco Fernandes Evoluiu também o conhecimento Pilotagem exigida a cada Classe, Estamos outra vez no Natal.
João Godinho das técnicas de operação. Um em si mesmo justificativa Época dada a “estados de alma”
João Paulo Girbal
Joaquim Figueiredo
toque de excentricidade dá-lhes o da segmentação em Classes, pouco compatíveis com a
José Boieiro condimento que faltava para que não é coerente com a actual Pilotagem ou até com o simples
Luis Gama sejam atentamente seguidas com dependência de uma qualificação abrir do portão do hangar...
Mário Ferreira o olhar quando evoluem. Numa anterior noutra Classe. Por Há que ter a coragem de adiar
Miguel Santana
Nuno Fonseca
coisa estamos todos de acordo: analogia, a própria EASA não sempre que a ética de Aviador
Nuno Monteiro A sua Pilotagem, tal como nos faz depender a emissão de uma assim o exija.
Nuno Vicente paramotores, pendulares ou Licença de PPL(H) de uma São tempos difíceis em que, já o
Pedro Gaivão multieixos é muito específica. Licença prévia de PPL(A). Ambas dissemos, a solidariedade entre
Ricardo Vicente Os Autogiros/Giroplanos, são muito específicas e apenas pares terá um papel fundamental.
Rogério Nave
Rui Vasco Mendes
voam hoje em quase todos os comuns em algumas áreas de Sendo verdade que “muito mais
Países da Europa enquadrados formação de base. é o que nos une do que aquilo
Redacção por Legislação que permite Ora se: que nos separa”, a APAU é
Rua Frei Tomé de Jesus, 8 o seu Registo Nacional • O Anexo II ao Regulamento exactamente o local adequado
P-1749-057 Lisboa
Portugal
e, consequentemente, o (CE) Nº216/2008 do para debater a divergência e
Tel.: (+351) 217 926 820 cumprimento de formalidades Parlamento Europeu e do adequar a estratégia para o
Fax.: (+351) 217 926 815 fiscais nos respectivos Estados de Conselho de 20 de Fevereiro de futuro e desenvolvimento da
Email: geral@apau.org Registo. 2008 enquadra, na sua alínea f), modalidade. É também um
Em Portugal, embora haja um os “Giroplanos monolugares espaço de trabalho altruísta que,
Foto da capa
João Godinho
“discreto” reconhecimento e bilugares com uma massa se dividido por todos, pesa pouco
oficial da modalidade, com uma máxima à descolagem não individualmente e nos enriquece
Publicidade CIA do INAC que enquadra superior a 560 Kg”; como comunidade.
eventos@apau.org o averbamento de qualificação • E a CIA 14/2008 de 02 Em ano de cessação de mandato
Tel.: (+351) 217 926 820
em Licenças de Voo já emitidas de Dezembro do INAC dos actuais Órgãos Sociais, apelo
Edição e Pré-Impressão (Licença PU para MTOM “pretende estabelecer as ao envolvimento de todos os
Armazém de Papéis do Sado <560Kg), uma Estrutura normas e requisitos para praticantes desta modalidade
Setúbal Formativa aprovada pelo INAC averbamento de Qualificação com a SUA Associação. Toda
e um Instrutor/Verificador da Autogiro/Giroplano numa a participação construtiva é
Impressão
Armazém de Papéis do Sado
Classe, distinto Associado, falta licença válida de Piloto de (...) sinérgica e, como sempre, será
assumir um enquadramento Ultraleve. Simultaneamente, bem recebida.
estruturado que reconheça o seu pretende definir os programas Os Órgãos Sociais da Associação,
Direitos reservados à utilização de textos
e imagens desta publicação sem englobamento nas aeronaves de formação considerados aqui vos deixam os votos de Boas
autorização prévia da Associação ultraleves (por nossa sugestão no mínimos para que os Festas e de um Ano 2011 pleno
Portuguesa de Aviação Ultraleve.
Publicação interna aos associados. Grupo 3), para pesos iguais ou candidatos obtenham um nível de voos excelentes e seguros.

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PENDULARES

ASA DELTA COM MOTOR:


O ULM ESQUECIDO DE PORTUGAL
> Miguel Santana

Em Portugal as asas delta motorizadas dava os primeiros passos em motor. Por cá e nos três anos que se seguiram, alargou­
(vulgo Ultraleves Pendulares) têm uma o Zé Manuel Costa (agora com o Campo ‑se rapidamente para uma dezena de
história que já vai pelos cerca de 30 anos. de Voo da Azambuja) foi o verdadeiro praticantes de asa delta que compraram na
São poucos os actuais praticantes de precursor da modalidade tendo escolhido época os seus primeiros “triciclos”.
Ultraleve que conhecem as verdadeiras um local “meio buraco” para os primeiros “Aller aux vaches” (ir às vacas, ou
raízes destas “gloriosas máquinas voadoras” testes: os terrenos do Estádio Nacional na aterragem fora da pista) era normal para
e como nestas 3 décadas se passou a voar Cruz Quebrada. Seguiram-se um grupo quem tinha de aprender a voar em...
de cerca de 40 Kms/hora para os ultraleves restrito de pilotos de asa delta da zona de aparelhos MONOLUGARES! Lembro o
avançados que rasgam os céus a mais de Cascais, pela simples razão que em 1980 meu primeiro voo, depois das primeiras
300 Kms/hora. um entusiasta já falecido (que nunca descolagens e aterragens em frente,
A nossa História acompanhou a par e passo conseguiu aprender a voar) o António Vilar, com o Zé Manuel a gritar e a gesticular
a evolução dos Ultraleves em França e havia comprado um triciclo da Veliplane, freneticamente lá em baixo! Na época nem
Inglaterra, fruto de um pequeno grupo de com motor Solo 210. Com esse aparelho rádios nem telemóveis!
pilotos de asa delta que haviam começado a muito leve e uma asa Lancer IV (creio que Para a APAU seria interessante um dia
voar em Portugal, em 79/80. da Nova Zelândia) eu e o João Garção colocar no seu SITE reportagens daqueles
Na época 1980/1981 a revista “Vol Libre (irmão do Luis Garção da TAP) iniciámos saudosos dias, prova destas aventuras e dos
Magazine” (Francesa) tinha uma pequena as primeiras corridas de teste num local primeiros passos da modalidade no nosso
secção dedicada aos ULM: “Ultra-Léger pouco recomendável (o Autódromo do país.
Motorisé”. Daí a designação que acabámos Estoril) seguidos de pequenos voos no Lembro de voar à volta de Tires e das
por adoptar em Portugal durante muitos muito pouco movimentado Aeródromo pessoas correrem e saírem das fábricas (a
anos: ULM ou Ultra Ligeiro Motorizado. de Tires com a autorização do então sirene tocava!) e dos seus trabalhos, para
O dono da revista, René Coulon, entusiasta director Sr. Granja. Esse pequeno grupo, irem ver aquela estranha “motorizada do
do voo em asa delta (que nos chegou a formado por mim próprio, pelo João e ar” – como lhe chamaram os jornalistas em
visitar e a ficar no Estoril) também na época pelo Pombinho, após esses voos iniciais reportagens.

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PENDULARES

Entretanto os Franceses eram pioneiros que está na TAP, há-de ver as fotos que Portugal) contámos com 54 aeronaves e
nas asas motorizadas com asas e triciclos tenho dele bem novinho a ajudar-me a metade eram pendulares. Recordo com
Bernard Dannis e Veliplane acompanhados colocar as letras na asa! prazer 2 pilotos da Air France que vieram
de muito perto do outro lado do canal Só depois começam a aparecer os e regressaram em voo de Paris com as
pelos Ingleses. “multieixos”, inicialmente 2 eixos, como suas deltas motorizadas e os sacos cama
Em apenas dois anos o desenvolvimento foi o caso do Vector 600 (cauda em V) a acompanhar! A jornalista Katia, do
dos “trikes” foi enorme, com construtores comprado pelos Cor Brito e Cor Gouveia Semanário Expresso, pôde testemunhar
como a Hiway (Tredegar-South Wales) em Tires. o verdadeiro prazer de voar de alguns
a venderem pendulares monolugares às O Ultraleve Pendular, no entanto e ao profissionais da Aviação Comercial...
dúzias... contrário dos países que acompanhámos Na VPU 2001 (que organizei pelo Delta
No início de 1982 e ainda com 19 anos de tão de perto nos seus passos iniciais, Clube Estoril) os pendulares percorreram
idade (!) fui um desses felizes compradores. não teve continuidade em Portugal. É literalmente todo o País em cerca de 1
Paguei ao John Ivers, dono da “Hiway”, muito raro vermos algum piloto a voar semana acompanhando diariamente os
com libras que tinha levado escondidas pendular. Decerto, por uma falta crónica avançados, não tendo havido, felizmente,
no corpo (na época não se podia sair de de divulgação, de instrutores qualificados qualquer tipo de acidente a lamentar.
Portugal creio que com mais de 200 contos e também por um incompreensível Começámos em Espinho, atravessámos
(!) – cerca de mil euros – e comprei o meu preconceito que paira sobre esta a Serra da Estrela a Sul, fizemos todo o
1º “skytrike” na Hiway com um motor espectacular máquina voadora. Algarve e passámos pelo Aeroporto de
Hiro 125 de 24 cavalos e uma hélice de De referir que em alguns países mais Cascais rumando de novo até ao Norte do
fazer as delícias a qualquer coleccionador! desenvolvidos os Pendulares têm pelo País.
Esse triciclo ainda hoje pode ser visto menos 50% de quota do mercado, quando Tal como na nossa Historia da Aviação,
na Azambuja. Com ele tive o prazer de não a ultrapassam... em que Sacadura Cabral e Gago Coutinho
voar pela 1ª vez todo o Algarve fazendo Lembro que na VPU 2001 (1ª Volta a atravessaram o Atlântico Sul, também um
publicidade à “Old Bond Jeans”; O Branco, Portugal em Ultraleve organizada em aventureiro Francês atravessou, há uns 20

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anos atrás, na mesma rota... mas em asa iniciação) pode ser equipada em menos de Assim sendo é muito estranha, diria mesmo
delta motorizada! 10 minutos. misteriosa, a tão fraca divulgação desta
Para quem pode pagar, muitos são os que Sem dúvida que estes atributos fazem estes modalidade ULM no nosso país quando,
voam actualmente com motores a 4 tempos Ultraleves super competitivos e com eles de facto, foi ela que tudo começou.
acabando por melhorar e muito a segurança será mais fácil dispensar uma, normalmente Decerto anos melhores virão para as “asas
de voo destes aparelhos. incontornável, mensalidade para hangar. motorizadas” em Portugal. (talvez a crise!)
Na região de Atibaia, Brasil, (ver fotos) por
onde me encontro estes dias, vi Hangares
com dezenas e dezenas de “trikes” equipadas
de motores Rotax 912 (4 tempos).
Hoje temos ULM pendulares que podem
voar com velocidades que já ultrapassam
os 200 kms/hora e que têm consolas e
instrumentos de fazer inveja a qualquer
Cessna!
Uma grande vantagem em relação aos
Ultraleves 3 eixos convencionais, de realçar,
a enorme facilidade de Hangaragem. Um
“trike” pode ocupar o espaço de uma
simples moto em qualquer garagem e a
asa desmontada pode ficar pendurada na
parede ou no tecto.
O mesmo para se transportar: a asa delta
vai no tejadilho de qualquer carro como
uma simples canoa ou windsurf e o “trike”
segue atrás num atrelado como um jet­
‑ski. Também é super fácil de montar e
desmontar: uma asa de vela simples (tipo de

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Pendular:
a liberdade
de voar > Nuno Vicente

O Pendular (Trike) é, na actual legislação dispensa as mãos na barra de comando.


portuguesa, um avião ultraleve do Grupo Apesar de muito agradável e radical, o
2, em que o controlo primário de voo é voo em Pendular é uma actividade pouco
efectuado por deslocação do centro de praticada em Portugal embora noutros
‑se para a direita e o Pendular volta para a
gravidade. Surgiu nos anos 70 do século países da Europa seja muito popular,
direita. Se o raciocínio for este, ou seja se
passado, em França, a partir da motorização nomeadamente em França. As razões são
pensarmos em termos de deslocação do
das Asas Delta e posterior inclusão de um várias e vão desde as suas características a
pêndulo, a aprendizagem para voar este tipo
carro triciclo dando assim inicio a uma preconceitos relativos ao seu aspecto muito
de aeronave é bastante simples.
nova geração de aeronaves: os ultraleves. simples e muito diferente de um verdadeiro
Para os pilotos com grande experiência
Os ultraleves, nos seus primórdios avião.
de voo em aeronaves em que o comando
eram de construção bastante elementar, A simplicidade de construção, permite
é feito através da acção de superfícies
normalmente de tubo e tela, as guardar o Pendular na garagem, depois
secundárias para cada um dos eixos,
performances bastante baixas e a instrução de desmontada a asa (operação que
a iniciação ao voo em Pendular pode
muito simplificada, até porque só voavam demora cerca de 15 minutos). A sua baixa
tornar-se algo “complicada”, pois tendem
nas proximidades das pistas. velocidade de perda permite a utilização de
a raciocinar como se estivessem a pilotar
Com a evolução da tecnologia e dos pistas muito curtas.
com o manche, quando na realidade estão a
materiais (nomeadamente os compósitos) Como qualquer outra aeronave, o Pendular
deslocar o centro de gravidade da aeronave
os ultraleves das classes multi-eixos, tem as suas limitações. Pistas cruzadas ou
ao deslocar a posição do “pêndulo”.
evoluíram imenso, sendo que existem terrenos que permitam a aterragem em
Aparentemente os comandos funcionam ao
ultraleves com performances que qualquer sentido são o ideal, já que se trata
contrário e isto pode inicialmente colidir
ultrapassam as de muitos aviões ligeiros. de uma aeronave que lida mal com os
com as reacções já muito intuitivas.
Com os Pendulares, a evolução não ventos laterais.
O que realmente necessita de mais atenção
foi tão evidente, até pelas suas próprias O comando do Pendular é feito, conforme
para pilotos muito experientes noutro tipo
características intrínsecas, embora existam o seu nome sugere, pelo movimento
de aeronaves é o controlo da direcção na
modelos carenados, com asas bastante “pendular” do carro e ocupantes, suspensos
rolagem, pois aqui sim que os pés têm que
rápidas. no centro de gravidade da asa em forma de
fazer o movimento contrário ao habitual. O
Se é certo que o Pendular não é o meio Delta.
Pendular vai virar para o lado contrário do
mais indicado para grandes viagens, Para fazer as manobras básicas de voo
pé que pressionamos, porque o comando é
continua a ser um dos ultraleves mais (cabrar, picar e voltar), o piloto só tem
feito directamente no eixo da roda de nariz.
divertidos de voar, proporcionando uma que deslocar o centro de gravidade
experiência inesquecível, pelo prazer e relativamente ao centro de pressões,
sensações que esse voo oferece. movendo o carro onde vai sentado, com
a força dos braços (que não tem que ser
muita, ao contrário do que pode parecer),
actuando na barra de comando que faz
parte do triângulo solidário com a asa.
Trata-se assim de efectuar um comando
primário da aeronave.
Empurrando a barra para a frente, o centro
de gravidade desloca-se para trás do centro
de pressões e o Pendular irá cabrar. Quando Penso que o voo em Pendular pode ser
puxamos a barra de encontro ao nosso uma óptima e económica opção, para
corpo, o centro de gravidade passa para a quem pretenda fazer do voo um momento
O voo em Pendular proporciona uma frente do centro de pressões e o Pendular irá de diversão, fruição e liberdade, e saiba
impar sensação de liberdade e permite picar. Se deslocarmos a barra para a nossa respeitar as limitações meteorológicas.
desfrutar descontraidamente a paisagem, direita, o centro de gravidade desloca-se Para quem deseje fazer grandes viagens,
pela quase ilimitada visibilidade que para a esquerda, fazendo com que a asa então a opção terá que ser outra...
proporciona, pela sua baixa velocidade de direita ganhe sustentação e se faça a volta possivelmente um automóvel que mesmo
voo, pela sua facilidade de manobra, pela para a esquerda. Deslocando a barra para em dias de chuva e vento nos transporta
estabilidade, que na ausência de vento forte a esquerda, o centro de gravidade desloca­ confortavelmente!

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PARAMOTORES

O PARAMOTOR
NASCEU
DO PARAPENTE
> João Boieiro
in: FPA

O desenvolvimento Desde 1991 que se organizam tutela os campeonatos do A França desde muito cedo se
espectacular do voo em competições regulares em Mundo e da Europa. Em 1993 tinha revelado a potência do
Paramotor, deve-se entre França, o 1º campeonato na Republica Checa organiza-se voo em Parapente motorizado...
outros factores, às melhorias espanhol foi em Outubro de o 1º Europeu da modalidade; mas nos jogos mundiais do ar
nos motores actualmente mais 1997 em Mansilla. a 1ª Taça do Mundo de na Turquia em 1997 a Espanha
potentes e mais silenciosos, A FAI (Federação Aeronáutica Paramotor teve lugar na Polónia revela-se ainda mais forte com
ao incremento do desenho de Internacional) estabelece e em1994. nomes como Ramon Morillas,
asas, melhores rendimentos Nino Muelas, Dani Martinez,
e valias, desenvolvimento de que não mais deixaram o
parapentes específicos para domínio Internacional, quer
o voo com motor e ainda ao vencendo medalhas, quer
desenvolvimento dos próprios abrindo caminhos pioneiros,
pilotos de Paramotor, muitos como a realização de raides
tiveram uma formação prévia através de distancias enormes,
em parapente. ou batendo recorde de distância
Com a democratização do voo e altitude.
através do Paramotor e devido Em 2004 realizou-se o
ao seu baixo preço comparativo Campeonato da Europa
a outras modalidades de aviação ultra ligeira em
aeronáuticas, vivemos hoje uma Portugal (Castelo Branco) foi
espécie de “novo nascimento a 1ª experiência competitiva
da aviação”, é pois uma forma Internacional da selecção Lusa.
de evasão, de ócio para puro A prova para apuramento
prazer dos sentidos e emoções. da selecção portuguesa “Pré
Mas as competições são sempre selecção 2004” realizada em
um meio de catapultar o voo ao Sines / Santiago do Cacém,
seu expoente mais elevado. fez história ao seleccionar os

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PARAMOTORES
pilotos e dar corpo á 1º Selecção mesmo pedir-se aos pilotos...
Nacional de Paramotor... que estimem o tempo da sua
todos os clubes de parapente e prova.
Paramotor de Portugal foram •  Maneabilidade, é uma prova
convocados a participar. espectacular e muito do agrado
A autonomia destas aeronaves do público, consiste em voar
aumentou muito, voos de 4 ou a cerca de um ou dois metros
5 horas transpondo enormes do solo contornando pinos de
distâncias são vulgares para 2 metros (flexíveis) no menor
os pilotos mais experientes... tempo possível e por uma
o Paramotor pode mesmo ordem indicada.
voar com o motor parado •  Provas de consumo, que
em correntes ascendentes e podem ser num circuito,
assim poupar combustível... com por exemplo 2 litros de
alongando o seu raio de acção. combustível e tentar dar o

desenvolveu-se inicialmente no de acordo com aquilo que


norte com o “Clube Nacional realmente é, uma modalidade
de Paramotor” com formação que se situa entre o voo livre
de muitos pilotos e organização puro e os micro-ultraligeiros,
de encontros anuais na praia da com características muito
Torreira. próprias, é por isso que se torna
A sul com a “Escola de Voo necessário uma regulamentação
de Santiago do Cacém” específica para o Paramotor.
organizam-se Raides pelo Com a adesão desta modalidade
interior, formam-se pilotos. à FPA (Federação Portuguesa
A organização da 1ª prova de de Aeronáutica) e a elaboração
navegação pura, foi em Julho de de regulamentos específicos
2003 em Messejana. para o Paramotor tais como o
Em 2004/2005, o clube “Regulamento de Paramotor” e
As competições em Paramotor maior nº de voltas... ou voando AVLS (Sintra) surge também o “Regulamento de Instrução e
são muito variadas, o que em térmica com 1,5 litros apostando forte na organização Qualificações”.
exige dos pilotos profunda de gasolina, permanecendo de eventos e formação de Também estamos a
experiência e as mais variadas o máximo de tempo no ar à pilotos. trabalhar com o Inac para
capacidades para o voo: vista dos juízes... recentemente O órgão criado no seio da que se reconheça as nossas
•  Raides e Navegação, a em Portugal (campeonato FPA e que desenvolve todo especificidades, as nossas
prova rainha nos campeonatos, da Europa) foi conseguido o o trabalho de remodelação, limitações e a nossa grande
consiste em voar por mapa recorde do mundo por um enquadramento e relançamento manobrabilidade.
(sem GPS) procurando balizas piloto francês, mais de cinco do Paramotor, a CPP Espera-se que todo este trabalho
no solo, no menor tempo horas de voo com 1,5 litros. (o (Comissão Portuguesa de venha ordenar e dar futuro a
possível, alia-se a velocidade consumo médio de um motor é Paramotor) tudo tem feito uma modalidade que pode
às capacidades do piloto em de cerca de 2,5 litro hora). para que o Paramotor seja trazer muito ao desporto
navegação, nesta prova pode Em Portugal o Paramotor devidamente considerado aeronáutico português.

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MOTOPLANADORES

Porquê
a opção de adquirir
um Motoplanador
Ultraleve? > Nuno Fonseca

Deve-se começar por dizer que para além de todos estes


que a aquisição de um aspectos ditos operacionais,
Motoplanador deve ser há ainda razões de ordem
encarada genericamente entre económica em virtude de se
uma de duas filosofias possíveis. conseguirem custos de operação
Uma delas é para todos nitidamente mais baixos.
aqueles que entendam que a Nesta filosofia, o Motoplanador
circunstância do Motoplanador está somente equipado
possuir um motor, deverá com um motor de fraca
apenas servir para facilitar a potência, normalmente a
descolagem pelos seus próprios 2 tempos e escamoteável,
meios, dando assim uma de forma a se conseguir
enorme autonomia evitando obter uma performance tão
estar-se dependente de outras parecida quanto possível a
pessoas que necessariamente um planador convencional,
são indispensáveis para aquele onde o coeficiente de planeio
efeito; tenha-se em atenção que nesta opção em muito
um simples planador necessita pouco ficará afectado. Este
de um avião rebocador ou tipo de Motoplanador, no
guincho, respectivo pessoal para entanto, pode sempre ser
os operar e todas as imensas utilizado, através dos métodos
tarefas que em terra implicam tradicionais, mesmo em casos
várias pessoas na preparação onde o motor possa estar
da respectiva descolagem. É de inoperativo, na medida em
salientar que para além destes que os mesmos se encontram
aspectos técnicos/operacionais, equipados com o respectivo
há ainda um outro também gancho de reboque.
de relevo que é o de evitar as Neste tipo de Motoplanador,
aterragens fora de pista não o piloto pode tirar partido
desejadas. É, por fim, de realçar, de todo o tipo de sensações

10 APAUVOAR
MOTOPLANADORES

que o voo à vela proporciona, vantagens versus desvantagens


tal como se tratasse de um comparativamente ao Planador enquadrámos dentro do que
planador puro. puro. chamámos um segundo tipo de
A outra filosofia é aquela que Quanto ao Motoplanador que filosofia para esta problemática,
procura dar resposta a todos além das vantagens já acima
aqueles pilotos que para além descritas que este tipo de
de gostarem, por vezes, de fazer aparelho possui versus
voo sem motor, também, não Ultraleve/Avião convencional,
prescindem de possuir um há ainda a realçar a economia
aparelho com características de combustível (cerca de mais
semelhantes a um ultraleve ou ou menos 3lt/h para rotax
avião com motor e, daí, tirar 80cv) e, consequentemente,
todo o proveito que este tipo de a vantagem da obtenção de
voo lhes proporciona. uma maior autonomia de voo.
Este tipo de Motoplanador Contudo, não se pode também
é normalmente equipado deixar de referir que dada a
com um motor frontal, de envergadura das suas asas a
potência que varia entre arrumação em hangar torna-
os 80cv e 100cv e cujo se mais difícil e com maiores
hélice poderá ser colocado custos.
em posição de bandeira De qualquer modo e em
quando for o caso; também jeito de conclusão, pode­
é possuidor de um trem de ‑se dizer que este último
aterragem fixo o que somado tipo de Motoplanador,
às características atrás descritas alia num mesmo aparelho
faz com que a sua razão de as possibilidades de poder
planeio seja algo penalizada proporcionar o voo sem
comparativamente ao primeiro motor aos pilotos apreciadores
tipo de Motoplanador acima do voo à vela, à capacidade
apresentado. de poder proporcionar de
Aqui chegados pode-se uma forma muito favorável,
questionar quais as vantagens desempenhos similares aos
ou inconvenientes em se optar obtidos nos Ultraleves e Aviões
por adquirir Motoplanadores convencionais.
face a Planadores puros É por tudo quanto acima
ou a Ultraleves ou Aviões se disse que esta solução de
convencionais com motor. adquirir um Motoplanador é
Quanto ao Motoplanador entendida por muitos como
enquadrado dentro do primeiro vantajosa face às opções do
tipo de filosofia para estes Planador puro/Ultraleve/Avião
casos acima apresentado, convencional.
terá ficado claro das nítidas Bons voos... boas aterragens!

APAUVOAR 11
AUTOGIROS

Autogiros > Pedro Galvão

Se durante uma normal conversa entre século passado, tendo contado com o apoio
amigos for mencionado algum episódio do americano Harnold Pitcairn a partir
envolvendo helicópteros, ninguém terá dos fins de 1928. Pitcairn entusiasmou-se
duvidas sobre que tipo de máquina tanto com as possibilidades que o autogiro
voadora se está a falar, no entanto se em oferecia, que em 1929 vendeu a sua
vez de helicópteros a referência for feita companhia aérea (que esteve na origem da Picairn PC-2
a autogiros, o mais provável é surgirem Eastern Airlines) e criou uma empresa para
dúvidas sobre qual a máquina voadora de o estudo, desenvolvimento e exploração 1940 num acidente com arma de fogo,
que se está a falar e isto acontece mesmo se dos autogiros. Teve bastante êxito, foi privaram o mundo da aviação dos dois
os intervenientes forem pilotos... De facto, desenhando, construindo e melhorando os pilares entusiastas do desenvolvimento
o autogiro continua a ser uma máquina seus aparelhos, sempre em contacto e com dos autogiros. O esforço de guerra que se
voadora muito pouco conhecida. apoio de Juan de la Cierva, de tal forma iniciou nos EUA, associado ao êxito do
No entanto, a verdade é que o autogiro que em 1930 foi iniciado o transporte recente voo do helicóptero concebido por
foi cronológicamente o antecessor do de correio porta a porta utilizando a Igor Sikorsky, que conseguiu captar os
helicóptero, tendo mesmo algumas das capacidade de STOL (Short Take Off and fundos disponiveis para R&D (Research
caracteristicas desenvolvidas e tornadas Landing) caracteristica do autogiro. Em & Development), significou o inicio do
operacionais pelo autogiro, estado na 1933 já era comum o transporte de correio desinteresse da comunidade aeronáutica
origem do sucesso e desenvolvimento entre topos de prédios das grandes cidades pelos autogiros. O helicóptero tinha uma
futuro do helicóptero, inclusive do Leste da América e o futuro do autogiro vantagem assinalável, conseguia fazer
com prejuizo para a actualização e parecia risonho e assegurado. voo estacionário (parar no ar), factor
desenvolvimento do próprio autogiro. A morte prematura de Juan de la Cierva determinante na escolha dos militares para
Juan de la Cierva inventou o autogiro num acidente de aviação (DC2 da KLM) investimento e desenvolvimento.
em 1923. Prosseguiu com o seu em 1936 apenas com 41 anos de idade, O autogiro iniciou então um período de
desenvolvimento durante a década de 20 do seguida da morte de Harold Pitcairn em abandono e esquecimento generalizado

12 APAUVOAR
AUTOGIROS
Mas infelizmente os acidentes também
marcaram presença e a partir desta
época, com o incremento do número de
aparelhos vendidos, a taxa de acidentes
começou a aumentar, iniciando-se então
um sentimento popular de contestação e
desconfiança em relação às caracteristicas
de segurança destas estranhas máquinas
voadoras. Igor Bensen sentiu que em
nome da verdade, não podia deixar de
contribuir para a melhoria da reputação que
o gyrocopter foi adquirindo, tendo então
estado na origem da criação e nascimento
da PRA Popular Rotorcraft Association, que
desde o início da sua existência se dedicou
à formação, informação e esclarecimento
da comunidade aeronáutica em relação a
tudo o que diz respeito aos autogiros. Na
realidade, a PRA engloba tanto autogiros
como helicópteros (rotorcraft), mas a sua
grande maioria ainda hoje é composta por
pilotos de autogiro.
exceptuando apenas poucos casos pontuais e caracteristicas dos modelos realizados
Nessa altura, a maioria dos aparelhos eram
tanto do lado da Alemanha como do por Igor Bensen foram reconhecidos pela
monolugares. Os motores eram muito
lado dos aliados ou mesmo do Japão, e comunidade aeronáutica assegurando um
pouco fiáveis mas acima de tudo a grande
básicamente ligados a pequenas aeronaves aumento de popularidade crescente ao
maioria dos pilotos eram inexperientes e
rebocadas por submarinos ou largadas Gyrocopter. O modelo B-8M (1956) foi
autodidatas. Estavam assim reunidas as
de aviões e portanto não motorizadas. o autogiro (gyrocopter) mais vendido de
condições para que a segurança de voo
Projectos muito interessantes, mas que estão sempre e ainda hoje há quem o adquira na
fosse beliscada. E assim foi, o autogiro
fora do âmbito do artigo presente. forma de planos de construção, na procura
(gyrocopter) foi ganhando uma fama
Foi preciso esperar pela década de 50 para da concretização do velho sonho de voar.
injusta de perigoso de voar e muita da
voltar a haver interesse no desenvolvimento
curiosidade demonstrada pela comunidade
do autogiro e quem o fez foi um
começou a desaparecer voltando-se para
Engenheiro de origem russa de seu nome
outros desafios. O autogiro (gyrocopter)
Igor Bensen. Bensen entusiasmou-se com
não é perigoso... mas...
as caracteristicas de voo e simplicidade dos
De facto houve três factores que se
autogiros, iniciando estudos e projectos
conjugaram para contribuir para esta infeliz
curiosamente com base nos modelos Bensen B-8M e injusta conotação,
rebocados alemão e inglês referidos atrás.
É interessante verificar que por detrás
do desenvolvimento moderno de ambas
as máquinas voadoras de asa rotativa, os
helicópteros e os autogiros, estiveram dois
homens de origem russa naturalizados
Americanos de nome Igor, Sikorsky pelos
helicópteros, Bensen pelos autogiros.
Após a guerra, já na década de 50 do
século passado, Igor Bensen registou o
termo Gyrocopter e iniciou o estudo e
produção de pequenos autogiros rebocáveis
(Gyrogliders) prontos a voar ou para auto
construção que começaram a ter um êxito
assinalável. Bensen não parou a investigação
e inovação e foi produzindo sempre
evoluções dos seus modelos. A certa altura
introduziu um motor em configuração
“pusher” que passou a permitir o voo
autónomo sem necessidade de reboque.
A facilidade de construção, simplicidade

APAUVOAR 13
AUTOGIROS
1.  Aviadores autodidatas aventureiros Desvantagem do autogiro em relação ao Desvantagens do autogiro em relação ao
com pouca experiência de voo, avião de asa fixa, helicóptero,
sem conhecimento especifico das 1.  Velocidades de cruzeiro mais baixas. 1.  Não faz Hover (parar no ar).
caracteristicas próprias do voo em 2.  Não consegue aterrar em clareiras
autogiro (ausência de formação), O voo em autogiro tem vantagens sobre o fechadas. Precisa de algum espaço para
reagiam de forma errada ás solicitações voo em helicóptero, descolar, mesmo com a capacidade de
da máquina, saíndo do envelope e 1.  Já está em autorotação. No caso “Jump Take Off”.
entrando em situações perigosas e de falha de motor é só reduzir para
mesmo incontroláveis (PIO & PPO)*. a velocidade óptima de voo e aterrar O autogiro é portanto uma aeronave com
2.  Desenho dos aparelhos com Linha numa clareira. caracteristicas de voo próprias que lhe
de potência (Thrust Line) acima do 2.  É muito mais simples conferem capacidades e limitações próprias.
C.G. (centro de gravidade), o que mecânicamente, sendo muito mais Desperta paixões e o justo aumento da sua
provoca um efeito de nariz em baixo barato e fácil de manter. popularidade deve-se a vários factores como
(pitch down) com o aumento de
potência. Problema verificado apenas
nos aparelhos com configuração
“pusher”.
3.  Motores adaptados muito pouco
fiáveis.

Em finais da década de 80, as causas da


elevada taxa de acidentes com autogiros
estava perfeitamente identificada tanto
nos EUA como na Europa. Entretanto, a
evolução dos materiais (fibras, compósitos,
etc.) e o aparecimento de motores mais
fiáveis e potentes, possibilitaram o desenho
e fabricação de autogiros bilugares que
passaram a facilitar a realização de treino
e formação de uma forma muito mais
regular.
A PRA trabalhando em conjunto com a
FAA e com os seus “Chapters” espalhados
por todo o mundo, foi ao longo dos anos
formando Pilotos Instrutores, dando
conferências e criando Work Shops
temáticos difundindo a informação e
instrução, conseguindo assim, pouco a
pouco alterar as regras, atitudes e hábitos
modernizando a actividade. Como
resultado as taxas de acidentes foram-se
reduzindo, a credibilização da actividade
foi-se cimentando novamente, novos
fabricantes foram aparecendo com projectos
mais ou menos arrojados e as caracteristicas
dos autogiros voltaram a despertar paixões
agora mais esclarecidas e assentes em
factores reais e com conhecimentos técnicos
mais aprofundados.

O voo em autogiro tem vantagens sobre o


voo em avião de asa fixa,
1.  Voo lento e não entra em perda.
2.  Aterra parado, sem velocidade de
translação (pin point).
3.  Descola em muito menos espaço
(com pré lançamento do rotor).
4.  Guarda-se em qualquer garagem/
hangar ocupando muito pouco espaço.

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AUTOGIROS
numa emissão inicial quer para revalidação
ou renovação da qualificação.
Concordamos na generalidade com os
considerandos e princípios constantes
nesta CIA, mas consideramos que
algumas alterações devem ser efectuadas
e/ou acrescentadas com o objectivo de
ajustar a legislação à realidade e também
de promover de uma forma proactiva o
desenvolvimento seguro e equilibrado da
actividade.
Baseados na nossa experiência de voo e
de formação, consideramos que as horas
minimas exigidas para a obtenção da
qualificação inicial de Autogiro/Giroplano
numa licença válida de Piloto de Avião,
Helicóptero ou Ultraleve previstas na CIA,
são exageradas. De acordo com o que se
passa nos vários países da Europa, onde
a facilidade da obtenção de informação, benefícios daí resultantes. não existe uniformidade nesta matéria,
o aumento da oferta de modelos cada vez O INAC atento a esta realidade, publicou pensamos que não deveriam ser exigidas
mais perfomantes e seguros, o seu relativo em 02 de Dezembro de 2008 a sua CIA mais de 6 a 10 horas de tempo mínimo
baixo preço de aquisição e manutenção e 14/08 com o título Qualificação em de voo ou, melhor ainda, não ser exigido
acima de tudo as suas características de voo Aeronaves do Tipo Autogiro/Giroplano. tempo mínimo mas sim deixar a avaliação
e capacidade de manobra. Nesta CIA, o INAC tem como objectivo de proficiência do formando ao critério
Torna-se assim urgente enquadrar esta estabelecer as normas e requisitos para do instrutor e examinador, como aliás
nova realidade no sentido de lhe criar as averbamento de Qualificação Autogiro/ acontece em alguns países Europeus. Esta
condições legais para a sua utilização e Giroplano numa licença válida de Piloto de responsabilização do instrutor/examinador
desenvolvimento dentro de parâmetros Avião, Helicóptero ou Ultraleve. é importante e está de acordo com os
normalmente aceites para e pela Simultaneamente, pretende definir os pressupostos de uma maior proactividade
comunidade aeronáutica. programas de formação considerados subjacentes na filosofia do legislador
Como aeronaves de baixo peso voltadas mínimos para que os candidatos obtenham moderno, que se traduz numa maior
para a utilização particular de cariz lúdico, um nível de proficiência satisfatório responsabilização a par de uma maior
deverão ser legalmente enquadradas dentro e dentro dos padrões de segurança fiscalização.
da legislação UltraLeve com as exigências e comummente aceites na aeronáutica quer Estamos certos que todo o processo de

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APAUVOAR 15
AUTOGIROS
formação se tornaria mais eficiente e a
segurança de voo seria maximizada.
Por outro lado, a CIA 14/08 não contempla
a formação “ab initio” para quem que
não tenha qualquer experiência de voo e
deseje apenas aprender e voar em autogiro/
giroplano.
Pensamos que esta ausência foi apenas
devida ao esquecimento pois parece-nos
enquadrar-se naturalmente na intenção
legislativa do INAC contida nesta CIA.
Para esse efeito, achamos que para a
obtenção de qualificação em aeronaves do
tipo autogiro/giroplano para pilotos ­“ab­
‑initio” deveriam ser aplicados os mesmos
critérios e mínimos que para a obtenção de
qualificação em aeronaves ultraleves de 3
eixos.
Em ambas as situações o sylabus da
instrução teórica terá óbviamente que
ser orientada para as particularidades
do autogiro/giroplano. É importante
que o aspirante a piloto de autogiro seja
conhecedor das caracteristicas próprias
destas máquinas. Mesmo os pilotos de
helicópteros deverão ser sujeitos a formação
específica sobre as caracteristicas próprias do
autogiro.

através da optimização técnica, do “design” enquadramento legal do voo em autogiro/


e da qualidade de construção, assim como giroplano em Portugal.
Conclusão, o aumento da oferta de modelos mono e
–  O aumento do interesse da comunidade bi-lugares. Estamos prontos para colaborar com
aeronáutica pelo voo em autogiro/giroplano –  Sabemos ser essencial o factor formação o INAC no sentido de tornar real este
é um facto que saudamos. como factor catalizador de boas práticas, desiderato, com o objectivo de credibilizar,
–  Constatamos haver um incremento atitude correcta e conhecimento técnico uniformizar e fomentar o voo em autogiro
significativo na segurança activa e tendo como objectivo final sempre a com segurança e eficiência em Portugal.
performance dos autogiros/giroplanos segurança de voo.
*  PIO – Pilot Induced Oscilation (Oscilação Induzida pelo Piloto)
actualmente disponiveis no mercado, –  Consideramos ser essencial e inadiável o PPO – Pilot Push Over (Empurrão para a Frente pelo Piloto)

16 APAUVOAR
APAUVOAR 17
AUTOGIROS

Breve
História do autogiro > Rogério Nave

Embora, ainda actualmente Vientos (Madrid). os helicópteros. O termo Depois destes dois franceses,
um grande número de pessoas A máquina original de La Gyrocopter veio mais tarde a ser outros pioneiros e amantes
não conheça, não tenha visto, Cierva, era parecida com uma adoptado como marca registada da aviação tentaram repetir
ou mesmo ouvido falar de aeronave de asa fixa da época, pela Besen Aircraft. a proeza, entre eles o bem
Autogiros e muito menos com uma hélice instalada no De uma maneira simplista pode conhecido Igor Ivanovich
voadas estas maravilhosas nariz em configuração tractora, dizer-se que o texto acima, Sikorsky (Rússia 1909/10),
máquinas, elas possuem uma a fim de permitir impulsionar a resume a história dos Autogiros, Jacob C. H. Ellehammer
história, e não são propriamente aeronave através do ar. Modelos e comitantemente a das (Dinamarca 1912), Emile
uma novidade. posteriores patenteados pelo aeronaves de asa rotativa, nada Berlinger (EUA 1919) e George
O termo Autogiro advém do Eng. americano Igor Bensen, mais enganador, a sua história é de Bothezat (EUA 1920). No
espanhol, embora menos usual privilegiaram a configuração muito mais antiga e ricamente entanto, os voos com aeronaves
também pode ser referido impulsora, isto é: com o mais vasta. Tudo começou em de asa rotativa mais promissores
como Girocóptero, já os termos hélice e motor atrás, é esta a 320DC, com um pequeno foram efectuados pelo espanhol
Giroplano e Rotorplano são configuração que predomina brinquedo sustentado por uma Raul Panteras Pescara e o
pouco ou nada usados, mas nos actuais Autogiros asa rotativa inventado pelos francês Etienne Oehmichen em
todos classificam um tipo de independentemente da marca. Chineses, a partir do qual, ao 1922 e 1924 respectivamente,
aeronave de asa rotativa, que Na verdade o termo Autogiro longo dos tempos foram feitos estes voos foram efectuados
faz uso de um rotor livre, (isto foi a marca registada da muitas duplicações e estudos com aeronaves rudimentares,
é: sem estar interligado a um Cierva Autogiro Company com o intuito de se entender semelhantes a helicópteros e
motor) sempre em autorotação (curiosamente com sede em e melhorar a aerodinâmica das conseguiram alcançar uma
para criar sustentação. Inglaterra), o termo Gyrocopter asas rotativas. distância de pouco mais de 800
Conjuntamente com o rotor foi usado por E. Burke Wilford, O exemplar mais conhecido metros, uma verdadeira proeza
livre, faz uso de um hélice que passou a incorporar nas e famoso é o helixpteron (asa para a época.
acoplado a um motor numa suas máquinas a partir de 1931, espiral) de 1480, nada mais, Contudo como já foi referido
configuração similar a uma uma novidade desenvolvida nada menos, que um estudo anteriormente, o verdadeiro
aeronave de asa fixa, de maneira pelos engenheiros aeronáuticos sobre modelos giroscópios começo dos Autogiros dá-se
a criar empuxe. alemães Walter Rieseler aéreos efectuado por Leonardo com o construtor de aviões de
Embora similar em aparência e Walter Kreiser, o rotor Da Vinci. asa fixa, Juan de La Cierva, que
a um rotor de helicóptero, o Reiseler Kreiser, que possuía Já em 1907, Louis Charles devido à onerosa perda que
autogiro necessita que o ar flua a particularidade da aplicação Breguet construiu o primeiro sofrera, (destruição total de um
por cima e através do disco prática do controlo do passo Giroplano capaz de levantar voo gigantesco avião, que entrou
do rotor, de maneira a criar cíclico, e passou posteriormente com um passageiro a bordo, ao em perda) procurou uma
sustentação. O autogiro foi a equipar quase todos os qual deu o nome de Giroplano maneira técnica para que tal
inventado pelo Eng. espanhol “Autogiros” na primeira metade N.º 1, contudo era na verdade não se repetisse mesmo a baixas
Juan de La Cierva y Codorniu do século vinte. Este avanço um helicóptero rudimentar, velocidades.
(fig. 1) em 1919, cuja intenção permitiu que se controlasse com um controlo e sustentação La Cirva inventou e construiu
era criar uma aeronave que directamente o ângulo do passo inadequados. então, uma aeronave que nunca
voasse com segurança, mesmo a do disco do rotor. Para além de Nesse mesmo ano um entra em perda, o Autogiro!
baixas velocidades, contudo só melhorar a manobrabilidade outro inventor francês, Paul A sua primeira tentativa
efectuo o seu primeiro voo ao da máquina, esta invenção viria Cornu, fez o primeiro voo denominou-se C.1, esta
fim de quatro anos de intenso mais tarde a ser a base para o sustentado num helicóptero máquina possuía dois rotores
trabalho, a 9 de Janeiro de desenvolvimento das aeronaves básico, no entanto não houve em contra-rotação a fim de
1923 no Aeródromo de Quatro de descolagem vertical, desenvolvimento posterior. anularem o torque e criarem

18 APAUVOAR
AUTOGIROS

mais sustentação, no entanto completa, a sustentação torna-se japoneses (Gyroglider), e por de aeronave o projecto foi
por problemas vários e a balanceada, consequentemente fim os ingleses (Rotachute), abortado, em Inglaterra a
complicada e difícil construção o efeito giroscópico é abolido. (fig. 4) os primeiros e os Fairey Rotodyne conseguiu
e controlo do sistema fê-lo O autogiro ao qual foi aplicada segundos fabricaram pequenos mesmo a licença de produção,
rapidamente passar ao modelo esta solução com sucesso autogiros sem motor, que eram chegando mesmo a haver
C.2 com apenas um rotor denominou-se C.4. rebocados por submarinos e se rotas aéreas planeadas para
de cinco pás, seguidamente Este não era mais que um avião elevavam no céu dos mares sem transportar passageiros entre
o modelo C.3, (fig. 2) de convencional com um hélice serem praticamente notados, áreas metropolitanas, de
apenas três pás, todos eles de frontal para gerar propulsão, recolhendo assim preciosas maneira mais rápida e barata
rotor rígido. Esta característica mas sustentado por um rotor informações sobre o movimento que qualquer helicóptero ou
impunha dois graves problemas, flexível de três pás, desta marítimo dos oponentes. O avião comercial. Contudo este
o primeiro, o efeito giroscópico, conjugação vencedora realizou­ Rotachute dos ingleses com o válido projecto foi “morto”
o segundo sustentação não ‑se como já anteriormente seu nome parcialmente indica, pelos políticos, quando puseram
balanceado. foi referido, o primeiro voo foi desenvolvido e usado pela a Fairey Co. sob controlo da
Basicamente estes dois verdadeiramente controlado em Airborne Forces Experimental Westland Co. a qual tinha
problemas estão interligados Autogiro no dia 9 de Janeiro de Establishment at Ringway, fortíssimas ligações com os
entre eles, e podem explicar-se 1923. Manchester, que o utilizaram fabricantes de helicópteros.
da seguinte maneira: enquanto Ironicamente Juan de La em detrimento do pára- A Westland destruiu os
a parte do disco do rotor Cierva y Codorniu, faleceu quedas para colocar tropas em protótipos, bem como os
que gira no mesmo sentido num desastre aéreo de avião, territórios críticos, devido á modelos já desenvolvidos,
do voo da aeronave provoca apenas com 41 anos de idade sua maior manobrabilidade e desenhos técnicos e ferramentas
sustentação, a outra parte que na manhã de 9 de Dezembro de capacidade de carga útil, cerca de produção.
gira em oposição ao sentido 1936, depois de ter embarcado de 110Kg. Também nos pós guerra,
do voo, perde sustentação em Croydon num Dutch O interesse por este tipo em Daitona (Ohio) o Dr.
provocando o seu abaixamento, DC2 da KLM com destino a de aeronave floresceu nos Igor Bensen foi encarregue
levando a que haja um efeito Amesterdão. Apesar do denso USA até 1940, onde foram pelo governo dos USA e
de torção lateral permanente nevoeiro que se fazia sentir o certificados vários recordes pela General Electric (GE)
(efeito giroscópico). La Cierva, DC2 descolou por volta da mundiais e se produziram cada para estudar o aparelho com
como bom engenheiro que era, 10h30m mas despenhou-se vez mais desenhos. Trágica tecnologia secreta capturado
depressa compreendeu o efeito, logo a seguir praticamente no e ironicamente os “pais”, aos alemães o Gyroglider, e
criando uma solução simples fim da pista, devido ao choque precursores e fabricantes destas também o aparelho dos ingleses
mas efectiva, aplicou ao rotor com um edifício, incendiando- avançadas máquinas também o Rotachute. O Dr. Bensen
uma espécie de dobradiça, se de seguida. faleceram em acidentes aéreos com base nos conhecimentos
permitindo assim que as Apesar do seu precoce noutro tipo de aeronaves, não adquiridos desenhou e
pás subissem ou descessem desaparecimento o seu tendo ficado ninguém para patenteou o (Gyrocopter), um
(flapping) em conformidade contributo foi decisivo para impulsionar e dar continuidade Autogyro com hélice atrás, e
com o sentido da sua rotação, o desenvolvimento das ao seu trabalho de construção e começou a vender os planos aos
dando-se assim um ajuste aeronaves de asas rotativas, desenvolvimento. hobystas, e assim em 1953 deu­
automático do ângulo de ataque aliás grande número das A posterior depressão que se ‑se o renascer do interesse pelos
das mesmas. suas patentes foram copiadas estabeleceu fez com que as Autogyros com a “invenção”
O principio desta solução despudoradamente, sem companhias que ainda restavam do Dr. Igor Bensen patenteado
ainda hoje prevalece, e permite qualquer posterior referência rapidamente fechassem as como “Gyrocoptero”.
que a pá que avança tenda ao seu trabalho, contudo a sua portas. Devido à forte adesão, o Dr.
para baixo, reduzindo assim terra natal, Múrcia, edificou um Nos pós guerra a extraordinária Benson fez pressão na FAA
o seu ângulo de ataque, e monumento em sua merecida tecnologia dos Autogyros para a criação da regra dos
consequentemente a sua honra. (fig.3) quase foi retomada pelos 51% a nível dos Experimentais
sustentação, contrariamente Com a Segunda Guerra governos dos EUA e UK. O construídos em casa, o que
a pá que recua aumenta o seu Mundial, os Autogyros projecto americano era de ainda hoje vigora nos USA,
ângulo de ataque gerando também tiveram a sua quota­ cariz militar, subsidiado com previamente todos as aeronaves
maior sustentação, como isto ‑parte de desempenho como fundos ilimitados, contudo construídas em casa voavam
acontece de uma maneira armas secretas, os alemães por interesses obscuros de ilegais, ou seja, foi graças aos
sincronizada a cada rotação primeiramente e depois os fabricantes de outros tipos Autogyros que todas as outras

APAUVOAR 19
AUTOGIROS
aeronaves se legalizaram. Copter quebrou o recorde de avançadas, nada devendo às fronteiras, com destaque para o
Actualmente, o interesse velocidade de aeronaves de soluções e materiais empregues Irão, Israel, Alemanha, Espanha,
comercial está a retornar, com asa rotativa, a Groen Brother’s aviação dita profissional, Burkina Faso e Somália para
companhias tal como a Boieng está a desenvolver Autogyros existindo já máquinas na já. È aliás na Comunidade
a entrar neste campo, a Carter de grandes dimensões, para classe UL com capacidade de Europeia, onde se concentra o
transporte pesado e seguro, uma despegue vertical (Gyrhino), maior número de fabricantes
alternativa muito mais barata para isso tem contribuído para destas máquinas económicas,
aos helicópteros, a Monarch além da engenharia aeronáutica, seguras e fáceis de pilotar,
Landing desenvolveu um trem a facilidade de manuseamento começando pela Inglaterra,
de aterragem que permite das fibras de vidro, carbonos, Polónia, Alemanha, França,
aterragens verticais com grande kevlares e afins, coadjuvado Itália, Espanha, para nomear
velocidade sem deteriorar pelo crescente interesse do só alguns, tudo devidamente
componentes estruturais. público por estas máquinas legislado e enquadrado,
È no entanto no campo da maravilhosas. Tanto nos EUA exceptuando-se Portugal, que
aviação de lazer, que mais como por todos os países da vá-se lá saber porque razão,
empresas se tem engajado no Europa, é um tipo de aeronave teima no “orgulhosamente sós”.
desenvolvimento e fabricação em franco progresso na
deste tipo de aeronaves, os conquista de mercado de lazer Bibliografia:
•  L’Autogire et sa Technique de
Autogyros actuais (fig. 5) são e não só, pois já existem várias
Xavier Averso e Jean Fourcade
hoje máquinas extremamente Forças Policiais e Militares, •  The Gyroplane Flight Manual de
Fig. 1
D. Juan de La Cierva y Codorniu seguras e tecnicamente dentro e fora da Europa a Paul Bergen Abbott
utilizarem estas aeronaves em •  La Biblia de los Autogiros de
Edgardo Maffía
serviço de patrulhamento a •  El Autogyro y su Vuelo de Ferrán
nível de tráfego e controlo de Roselló Verdaguer

Fig. 2
O Autogiro modelo C.3 no museu Inglês da RAF
Fig. 4
Rotachute das Forças Pará-quedistas inglesas da IIWW

Fig. 3 Fig. 5
Monumento a Juan de La Cierva em Murcia Autogiro actual, ELA 07 (pitura camuflada)

20 APAUVOAR
AUTOGIROS

Autogiros! > Rui Vasco Mendes

não lhe falta. O princípio parte certificação e registo nacional.


de uma sustentação gerada Do voo em si e do M-16 em
por um rotor que funciona particular, recomenda-se um
permanentemente em regime voo de experiência. descolagens
de auto rotação, o que por si curtas, manobrabilidade
só proporciona a possibilidade excepcional, sensação de voo
de aterrar virtualmente sempre de helicóptero com o som
em segurança, com ou sem do rotor sobre as cabeças,
motor, e de qualquer altitude. visibilidade total e aterragens
Ao contrário do helicóptero, ultracurtas, por vezes até quase
não existe a chamada “curva parado. Tudo encanta e traz
do homem morto”. O motor sensações de sonhar ! Paragens
Tem-se verificado um interesse parou? Sem problemas, aterra- de motor não constituem
crescente focado neste tipo de se em emergência em pouco problema, e uma “final” a 800
máquina voadora por parte da espaço e relativa segurança. pés sobre a cabeceira da pista,
comunidade de entusiastas e Dizíamos, nestes últimos anos termina numa aterragem suave
pilotos de ultraligeiros. Como tem vindo a AVIEUROPA a nos primeiros 100 metros ou
é do conhecimento geral, divulgar o voo em autogiro, menos, conforme a experiência
nem o conceito é novo, pois sendo a única escola autorizada do piloto. A máquina é toda
remonta a várias décadas, pelo INAC, que conta com construída com materiais de
sendo os espanhóis os seus Instrutores e Examinador de qualidade aeronáutica e com a
inventores, nem tão pouco é grande Experiência neste tipo sabedoria de Vittorio Magni,
novo o facto de existirem no de aeronaves de Asa Rotativa engenheiro aeronáutico da
mercado autogiros ultraligeiros. a ministrar cursos desde 2002. Agusta Bell, e que desenha
Há-os de vários modelos e Desde o primeiro curso, e fabrica autogiros desde há
motorizações, com mais ou concluído em Abril de 2003 e 40 anos. Contam com mais
menos tecnologia, mas o que incluiu pilotos portugueses de 600 unidades vendidas
conceito geral é o mesmo. Em e espanhóis, tem continuado em todo o mundo. Num
Portugal, vemos disponível a sua formação e entregue as mercado de mudança e cada
desde 2001 a marca italiana suas licenças com Qualificação vez mais refinado em termos
MAGNI GYRO representada de Autogiro a novos pilotos. O de tecnologia, este tipo de
pela EMPRESA AVIEUROPA, modelo utilizado na instrução aparelho é uma opção cheia
para a divulgação de um outro é o popular e provadíssimo de personalidade e múltiplas
tipo de voo, tão agradável e Magni M-16 o qual saliente­ vantagens tanto no voo, como
interessante. É de tal forma ‑se, possui certificado de tipo na manutenção e consumo de
apaixonante, que nos agarra e certificação no Reino Unido combustível, refira-se que os
desde a primeira descolagem. segundo os mais exigentes motores são os consagradíssimos
Mas o que é afinal o autogiro? padrões. É também reconhecido Rotax de 4 cilindros, e como
Muitos perguntam, é como um como categoria de ultraligeiro bónus, quem adquirir um
helicóptero? Mas, tem hélice nos países da EU. Em Portugal, autogiro pode arrumá-lo a um
traseiro como um avião e, não último país a ver incluído este cantinho do hangar ou garagem
tem rotor de cauda...! Há que tipo de aeronave na referida sem problemas. Está tudo dito,
esclarecer. Nem se voa como categoria de ultraligeiro, está­ experimentem, vão voar e sem
um avião, ou mesmo como um ‑se neste momento a dar os sombra de dúvidas tenham uma
helicóptero. As semelhanças passos necessários para que nos grande e agradável surpresa.
acabam no aspecto exterior. É equiparemos aos outros países
uma aeronave de características europeus... aguardemos! Não
bem próprias, com as suas quer com isto dizer que não
particularidades inerentes à se possam voar autogiros no
sua configuração e soluções território nacional ou obter
técnicas e, como tal tem de ser uma licença de voo. Quando se
compreendida pelos candidatos reconhecerem como ultraligeiro
a pilotos e respeitada para se tudo se tornará mais simples,
utilizar em segurança. Esta, sobretudo em termos de

APAUVOAR 21
AUTOGIROS

a paixão
da asa rotativa > João Godinho

Quando em 1927, o Eng. Piloto Aviador, autogiro de LaCierva e tiveram um efeito tal máquina diferente do que estava habituado,
Juan de LaCierva, conseguiu substituir em mim, que ainda hoje me dedico a ajudar com uma euforia que tentava controlar
as asas dum avião por um rotor que a manter alguns deles em boas condições e um nervosismo que mal me deixava
rodava livremente, só com o vento e para que cheguem e abalem em segurança. ouvir o briefing que o instrutor nos ia
que criava sustentação, havia descoberto O meu entusiasmo pela aviação fez-me dando em espanhol. Passada a mensagem,
uma das aeronaves mais interessantes, o tirar a minha licença de voo de ultraleves há certificados que não havia dúvidas quanto
AUTOGIRO. mais de uma dúzia de anos e tenho voado ao funcionamento e todos os procedimentos
Não quero, no entanto, fazer aqui uma algumas belas máquinas de asa fixa. No operacionais e de segurança, era altura de
descrição da máquina ou entrar nos entanto, a paixão da asa rotativa sempre começar a mexer e colocar em prática o que
pormenores técnicos que, a quem possa esteve presente e quando fui confrontado ouvimos e também o que já tinha sido o
interessar, verão descritos e ilustrados em com a possibilidade de integrar um grupo trabalho de casa, no meu caso trabalho com
um qualquer sitio da internet, bastando de voadores para fazer a qualificação em alguns anos em espera. Quem vai primeiro,
para o efeito fazer uma busca por tema. autogiro, não pensei duas vezes. Sabia quem vai depois, ficou decidido que eu seria
Quero apenas deixar o meu testemunho que o Reg. Nº 164/2006 do INAC não o primeiro a voar naquele dia.
pessoal acerca do que é voar esta máquina e os especificava e que no Decreto-Lei Era hoje!
o enorme prazer que dá a quem, como eu, Nº 283/2007 de 13 de Agosto quase Capacete, blusão, luvas, prancheta... nada
um dia se ergueu nos ares ao comando desta estiveram a ser reconhecidos, no entanto a mais? Alguém perguntou... Ou é ou não
magnifica máquina voadora. legislação não os contemplava. Aguardava­ é... e vamos lá que se faz tarde. Não queria
Sou um entusiasta da aviação e quase toda ‑se desenvolvimentos para breve. Apesar de acreditar! Sentado no banco da frente, num
a minha vida tem sido dedicada ás coisas saber tudo isto e antes que a oportunidade cockpit parecido com o do QuickSilver
do ar. Fiz carreira militar na Força Aérea se gorasse, fiz as contas aos euros e decidi GT500 em termos de espaço, sentia-me
Portuguesa e tive a felicidade de durante aceitar o convite. Mantinha a esperança que uma criança com um brinquedo novo.
muitos anos poder trabalhar naquelas em breve as coisas mudariam em termos de Olhei á volta... onde está a asa? Depressa
máquinas voadoras que são “um conjunto legislação e que esta seria a oportunidade esqueci pois o som da voz em espanhol
de porcas e parafusos a voar em formação ideal. Como estas paixões não são coisas entrou nos meus auscultadores... Tudo
cerrada” a que chamamos helicópteros. de um homem só, na data marcada eu e Bem? Confortável? Ok... Vamos lá então...
Delas também se diz que são relutantes os meus amigos António Antunes e Mário e aí estou eu a colocar o Rotax 100 cv
ao voo e não nasceram para voar e que, Ferreira rumámos de Tomar para sul a em marcha... pressões... temperaturas...
por isso, não descolam e aterram mas que fim de nos apresentar-mos para a referida rotações... tudo normal... vamos rolar...
chegam e abalam. O certo é que eles andam instrução. devagar... Sentia-me como no primeiro voo
por aí, tiveram a sua evolução a partir do De repente, ali estava eu, frente a uma de instrução no velho Ikarus, há muitos

22 APAUVOAR
AUTOGIROS
anos atrás na Azambuja... Ainda tive tempo delirante e sem palavras... Braços de fora e Aproximação à avião... velocidade ideal 60
para pensar se seria realmente capaz de só pés... estabilizado e sem oscilações... Há km/h... razão de descida... defini o ponto
cumprir o que se tinha definido e que deu tanto tempo que sonhava com isto... Ás de contacto... 200 pés... 100 pés... 50 pés...
origem a este curso. perguntas que vinham do banco de trás 20 pés... 10 pés... vai ser dura... 2 pés...
Esta era uma formação para pilotos de quase não tinha palavras para responder... FLARE... fechar potência e manche atrás...
ultraleve, com mais de 100 (cem) horas de era uma maravilha aquela máquina e segurar... aliviar... Suave... Suave... “Mui
voo em aviões e a ideia era que com 6 (seis) voar assim tinha sido o que sempre tinha bien”! Mas logo a mesma voz me ordenou
horas de instrução se ficasse a voar a solo e sonhado... quinze minutos para habituação “Potência” e de novo o manche atrás para
com segurança. e depois vamos trabalhar... antes algumas o rotor ganhar as tão necessárias rotações
Bom, iríamos tentar... afinal, “quem sabe demonstrações de manobras possíveis num e mais um circuito. O tempo passou e era
da tenda é o tendeiro”, e se o instrutor dizia autogiro... hora de parar para descansar. Quando saía
que era possível, eu só tinha que fazer o Quem disse que não fazia? Quem disse que do cockpit eu tinha um grande sorriso na
meu melhor e aprender o máximo possível. não podia? Quase tudo é possível nestas minha cara e uma nova perspectiva sobre
Alinhados na pista, vento fraco pela manhã máquinas, se feito dentro dos parâmetros de o autogiro. Estava feliz por ter conseguido
e enfiado... tudo normal nos parâmetros de segurança. realizar o sonho de voar com a asa rotativa.
motor... ok... vamos pré-lançar o rotor. As manobras de demonstração serviram Continuei o meu treino, cada vez mais
Tinham-me “vendido” a ideia que o para me mostrar a estabilidade do autogiro, apurado e trabalhoso porque depois tive
autogiro era uma máquina perigosa, a suavidade de movimentos e o controlo sempre vento cruzado quando fui voar.
manobras que não se podiam fazer e que fácil da máquina. O voo lento, a descida à Sentia uma alegria enorme em cada voo
era preciso ter muito cuidado. Bom iria ver vertical ou em espiral, as manobras evasivas e um prazer diferente ao voar aquela
como é pessoalmente. no caso de obstáculo pela frente, as voltas máquina. Fui “largado” com 4:10 h
Apertei a manete do pré-lançador e o rotor coordenadas e mais apertadas em relação de instrução e fiz duas horas a solo. Só
começou a rodar... rpm a subir... 150... a uma referência no chão... e as demais experimentando se consegue perceber o
180... 200 rpm... largar pré-lançador... manobras possiveis... previsível... suave... prazer de voar um autogiro quando estamos
largar travão de parque... manche todo estável... e em cima de tudo isso, uma forma a sós com ele lá em cima.
atrás e manete de potência á frente... tudo de voar diferente. Lindo! O objectivo proposto foi alcançado e ficou
suave mas com ligeireza de movimentos Percebi que muitos dos mitos que ouvi falar provado que para fazer uma qualificação
para as rotações do rotor não caírem não são verdadeiros e que o autogiro tem em autogiro por parte de quem já tenha
muito... roda de nariz... trem principal e umas características de voo excepcionais. experiência não são precisas mais de 10
aliviar um pouco o manche para ganhar Estava rendido àquela máquina... horas de voo.
mais velocidade... saímos de forma Comandos para mim e voltemos ao Esperamos, todos os apaixonados da asa
harmoniosa e estamos a voar... manche trabalho. O tempo passa e há que treinar rotativa, que o INAC produza rapidamente
em neutral... 5.200 rpm e estamos a subir aterragens... E agora? Reporte rádio, a tão necessária legislação que integre os
bem. 500 pés... nivelar... reduzir potência entrar no circuito e iniciar procedimentos. autogiros na nossa classe de voo desportivo
e compensar. Extraordinário... Estava Estava confortável e sentia-me confiante. e de lazer.

APAUVOAR 23
AUTOGIROS

Auto-gyro > João Paulo Girbal

Autogiros, há algum tempo que três aspectos que julgo turbulência é exagerada pelos chamado Norman Surplus ia
já ouvia falar destas geringonças absolutamente cruciais e que fans, qual é o verdadeiro tentar ser o primeiro a dar a
que pareciam resultar de um sistematicamente apareciam espectro de velocidades, etc, etc volta ao mundo num autogiro.
encontro tipo “one night associados com os autogiros A leitura do material disponível Eu segui o seu percurso
stand” entre um avião com das novas gerações: a segurança na internet só esclarecia avidamente e com enorme
o helicóptero. No entanto só intrínseca ao tipo de aeronave, a parte das duvidas e resolvi admiração, quem sabe se até
verdadeiramente me comecei a relativa imunidade à turbulência que na viagem à feira de com um pouco de inveja por
interessar mais a sério quando e a necessidade de muito pouco Friedrichshafen iria tentar tirar aquela fascinante viagem, que o
por curiosidade pesquisei no espaço para descolar e aterrar. a limpo tanto quanto possível levou da Irlanda ao extremo da
youtube uns vídeos sobre o Da mesma forma que o meu as minhas duvidas falando Ásia. O GPS tracker que levava
assunto e encontrei um que interesse pelos autogiros crescia, com os fabricantes presentes. permitiu seguir a evolução da
me fascinou. A estrela era iam-se também avolumando Depois das muitas conversas na viagem a par e passo. Todos
Calidus, um autogiro tandem as duvidas: como seria que feira e de uma experiência no os dias lia as noticias no blog
de cabine fechada e de aspecto se comportava em caso de simulador que estava disponível e via as fotos que iam sendo
verdadeiramente espectacular. falha de motor, será que o no stand da AutoGyro, o meu publicadas. O incidente que
Cativou-me o aspecto de ficção mecanismo do rotor é resistente entusiasmo pelos autogiros saiu sofreu na Tailândia e o atraso de
cientifica da aeronave. Foi uma a falhas estruturais, será que ainda mais reforçado. semanas que causou na viagem
espécie de amor à primeira tem a complexidade técnica de Adicionalmente houve um não esmoreceram a minha
vista. helicóptero, e o preço quer de acontecimento que reforçou curiosidade e eu continuei a
Depois de gastar mais umas aquisição quer de manutenção, ainda mais a minha certeza de consumir tudo o que encontrei
horas a investigar na internet onde estão os fabricantes de que os autogiros eram um tipo sobre os autogiros.
fiquei ainda mais interessado melhor nome destes aparelhos, de aviação em que valia apostar Depois de um verão em
especialmente devido a será que a imunidade à para Portugal. Um indivíduo que como habitualmente

24 APAUVOAR
AUTOGIROS
a meteorologia tornou alguns dos meus preferidos
desconfortáveis alguns passeios como seja a Mercedes, a
e evitou mesmo outros, decidi BMW, a Porsche, a AUDI e
com os meus sócios que a Volkswagen, SIEMENS,
devíamos ir à fonte ver ao vivo e AEG, MIELE
a cores os aparelhos e se possível 4)  a AutoGyro GMBH em
fazer a adaptação. Eu ofereci- menos de uma década de
me logo como voluntário e operação tornou-se num dos
seria acompanhado por um mais respeitados e utilizados
dos instrutores da Aerolazer, fabricantes de autogiros do
o Alvaro Matos, que diga-se é mundo.
tanto ou ainda mais entusiasta
do que eu pelos autogiros. Marcou-se a viagem para a
A escolha do fabricante semana de 17 de Outubro
para a visita foi simples: com o objectivo de fazer a
AutoGyro GMBH, sediada em adaptação ao autogiro e nuvens, frio, chuva e vento. nessa posição enquanto
Hildesheim. aprofundar os contactos Confesso que fiquei apreensivo percorria o comprimento da
As razões da escolha da com a fabrica. A escola para e durante a viagem de Lisboa pista.
AutoGyro GMBH foram: a formação está localizada para Hannover pensei se não Aproveitamos para conhecer as
1)  o Calidus é produto deles no mesmo aeródromo de iria ser uma perda de tempo. pessoas que trabalham na escola
2)  o MT03 (e o MTOSport Hildesheim e é dirigida pelo Chegamos a Hildesheim no e claro está inspeccionar os
que se lhe sucedeu em indivíduo que provavelmente Domingo à noite e na 2a feira aparelhos no hangar. O hangar
2008) que levou o Norman no mundo terá mais experiência apresentamo-nos na escola às da escola pouco maior é que
Surplus à Tailândia e depois de trabalho com autogiros, 9 horas, com neblina e uma uma garagem onde caberiam
ao extremo da Ásia também Thomas Kiggen, para alem de visibilidade de menos de 200 com boa vontade dois dynamic.
é deles ser um indivíduo absolutamente metros. Estranhamos ouvir o A porta também não era muito
3)  tenho uma enorme fantástico como rapidamente ruído de um motor a funcionar grande, seguramente não era
confiança na qualidade e viemos a descobrir. e tal não é o nosso espanto suficiente para deixar passar
rigor da construção alemã. A meteorologia parecia que quando nos apercebemos que um dos nossos ultraleves com
Os exemplos de engenharia e não iria colaborar. O tempo havia uma aula a decorrer na as asas montadas. dentro do
fabrico alemão de excelência previsto para a semana era pista com um aluno a treinar hangar estavam 8 autogiros,
são tantos que não vou de nevoeiros matinais no levantar o nariz do aparelho MTOSport e Calidus, bem
alongar-me aqui apenas cito principio da semana e muitas e mantê-lo controladamente arrumadinhos ao lado uns

APAUVOAR 25
AUTOGIROS
de lado a lado. de diâmetro e 12 toneladas.
Posso afirmar que turbulência Imagine-se o vento que não
nunca senti a não ser aquela é necessário para lhe alterar
induzida pelo inexperiente o movimento!! Posto desta
piloto. É extraordinário o que maneira pouco científica
se goza numa maquina que não percebe-se o porquê da enorme
entra em perda nem em spin. estabilidade destas máquinas,
Comparado com o voo em razão pela qual podem sempre
aeronave de asa fixa, as grandes voar com qualquer tempo
diferenças que senti foi que desde que haja visibilidade. Na
a descolagem no autogiro é pratica em Portugal estamos a
mais técnica e a aterragem falar de 365 dias por ano. Em
sensivelmente mais simples e Hildesheim não é muito menos
intuitiva. Em todas as alturas e mas seguramente muitas vezes
desde que se siga um conjunto com temperaturas e humidade
de procedimentos repetidos à bastante menos agradáveis.
exaustão pelo Thomas e pela Ficamos convencidos que os
dos outros e espaço havia para confirmadas ou ultrapassadas. Stefanie, a nossa instrutora, a autogiros da AutoGyro GMBH
colocar outros tantos. Na rua Durante a semana voamos com sensação de que estamos numa são uma boa aposta no projecto
estavam mais 3. todo o tipo de meteorologia aeronave incrivelmente segura de aviação em que estamos
Com o passar da manhã, a mas a que nos deu mais é total. empenhados no Campo de Voo
meteorologia e a visibilidade gozo foi sem duvida o dia Uma nota aqui para que quem de Benavente e na Aerolazer.
melhoraram o suficiente para em que apanhamos 25 nós ainda não experimentou Cumpre os apertados critérios
encararmos o primeiro voo. de vento com rajada de 38! voar em autogiro fique com de segurança e qualidade de
Como estava a chover e cerca Experimentamos coisas que uma noção da estabilidade da equipamentos em que nos
de 4 graus, a opção recaiu no nos pareceram na altura maquina, pensem no seguinte: empenhamos.
Calidus por ter cabine fechada absolutamente extraordinárias cada pá do rotor pesa cerca O contrato de representação da
e ser mais confortável. O Alvaro como sejam parar o autogiro no de 16 quilos e a rotação de AutoGyro GMBH em Portugal
foi primeiro. Quando voltou ar, fazer 360 graus sobre o seu trabalho são entre as 320 e as foi assinado em Outubro e
trazia um sorriso de orelha a eixo vertical, descer suavemente 400 rpm. Isto significa que o primeiro MTOSport para
orelha. Nos primeiros minutos na vertical e aterrar sem rolar 1 a força centrifuga em cada uso da Aerolazer chega em
não conseguiu dizer nada a não metro que fosse. Para treinar o pá é de cerca de 6 toneladas! Dezembro. É vermelho e
ser: “Espectacular!” controle flutuamos a um metro Simplificando, estamos vai fazer as delicias de tantos
Depois foi a minha vez e todas da pista, a direito, em slalom portanto em presença de um quantos tiverem a oportunidade
as minhas expectativas foram nos riscos da pista ou varrendo disco de giroscopio com 8,4m de o verem e experimentarem.

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AUTOGIROS

Autogiros! > Joaquim Figueiredo


> David Campinho
> Nuno Monteiro

Falar sobre este tema, inventor da máquina para paragens muito a ligação directa aos
é para mim um prazer, voadora a que deu o diferentes daquelas a que comandos. Formada por
mas também creio nome de AUTOGIRO. Bensen foi. uma série de peças, todas
que me responsabiliza La Cierva registou a 1ª elas deliberadamente
no sentido de tentar patente em 1920 (o C-1) “Little Nellie” James sobredimensionadas
IGOR
esclarecer dúvidas e FOTO 2 (C-1) e com o BENSEN Bond em “You only live (resistem cerca de dez
concepções erradas, C-30 FOTO 3 (C-30), Twice” vezes a carga máxima
ou pelo menos, não o autogiro atinge a sua FOTO 4 (Bensen), Actualmente, existem que é possível durante
muito exactas, sobre maioridade: denominação que se muitos fabricantes de o voo aplicar nelas).
as suas qualidades, 1. Sistema de mando tornou a sua marca autogiros, uma grande Podemos dizer que
defeitos, limitações, e directo ao rotor patenteada).Com um maioria da fórmula uma das peças mais
também implicitamente, 2. Sistema de pré- motor de dois tempos Bensen (motor atrás) importantes deste
dizer-vos o porquê da lançamento mecânico de 72 cavalos, Torna-se o FOTO 5 (Dominator), elemento é o rolamento
nossa escolha em nos Com o seu maior aparelho mais produzido e alguns, filhos directos alojado no seu interior,
sentarmos aos comandos impulsionador e mais copiado de toda a de La Cierva (motor que permite que as pás
desta aeronave, e desaparecido, o autogiro história, e sendo vendido tractor) FOTO 6 (Little rodem livremente, e
desfrutar de tudo o que vai paulatinamente quer em kit quer em Wing). que está apto a operar
ela é capaz oferecer desaparecendo, até finais plano. a cerca de 10000
Autogiros, giroplanos, da 2º Guerra Mundial. Na Europa, a Para podermos ter rotações por minuto
girocópteros, ou Eventualmente, nesse história decorre de uma ideia de conjunto (se, e para facilitar as
qualquer outra período foram usados modo diferente. Em deste aparelho, contas, sabemos que o
designação mais ao alguns modelos, sob Inglaterra, Wallis, e o generalizamos a sua rotor não ultrapassa as
menos conhecida, licença Cierva, em Finlandês Tervamaki, constituição: 500rpm, geralmente
são sinónimos de um diversas Nações. começaram com kits bastante menos, vemos
aparelho pertencente a No entanto, graças a um ou planos Bensen, que o dito rolamento
um extenso capítulo da pequeno giroplanador mas rapidamente funciona a apenas 5% da
História da Aeronáutica. de fabrico inglês (o modificaram o desenho, sua capacidade). FOTO
FOTO 1 (Otto Rotachute), e a um levando o autogiro 7 (Cabeça do rotor e
Lilienthal). imigrante Russo Parafuso de batimento)
Juan de La Cierva, nos EUA (IGOR A cabeça do rotor está
tinha 8 anos, quando BENSEN), o autogiro montado sobre um
os irmãos Wright sobrevive, e começa um CABEÇA conjunto de peças
inauguraram a segundo folgo, que dura DO ROTOR basculantes, de modo
caminhada das máquinas até aos dias de hoje. Parte do autogiro que a conseguir que o rotor
voadoras motorizadas, Bensen, cria o B-8 M liga o rotor ao resto em si (pás e porta pás),
e, seria ele o futuro (GYROCOPTER) WA 116 do aparelho, e que faz possa oscilar em todas

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APAUVOAR 27
AUTOGIROS
as direcções, e assim QUILHA tem de estar equilibrada é que, o rotor, no Evidentemente, e como
controlar o voo. Peça horizontal da exactamente como eles. autogiro, não tem, se poderá depreender, há
fuselagem, ligada à FOTO 8 (Pás e Porta- durante o voo, qualquer um movimento rotativo,
PARAFUSO extremidade inferior pás) motor a propulsioná-lo, portanto a velocidade
DE BATIMENTO do mastro, e serve Uma nota, apenas para sendo mantido a rodar e o ângulo do vento
Conecta a cabeça do de suporte ao trem falarmos do porta pás, por forças puramente relativo varia ao longo
rotor com o centro do de aterragem, ao que como o nome diz aerodinâmicas, da envergadura da pá,
rotor (através do seu estabilizador, ao une as duas pás, e as liga fenómeno conhecido variando também a força
porta pás), permitindo assento(s) do(s) (já transformadas em por autorrotação. de “impulsão” dos dois
que o mesmo se mova ocupante(s), aos rotor), à cabeça do rotor, Um princípio da vectores resultantes,
livremente à volta desse pedais da direcção, através do parafuso de Engenharia diz-nos daí existirem áreas
eixo, fazendo com que e eventualmente à batimento. que a direcção da específicas no disco
a pá que avança, e a pá carenagem, se existir. Para finalizar, e já que o sustentação, é sempre rotor que têm função
que recua, forneçam rotor do autogiro roda perpendicular ao vento diferente (umas são mais
sustentação igual em ESTABILIZADOR livremente, podemo- relativo. sustentadoras, outras
ambos os lados do VERTICAL nos interrogar, como No caso do nosso mais tractoras), e cuja
aparelho (sem ele, o Similar em desenho e é que ele inicia o seu rotor em movimento, área varia de acordo com
autogiro, uma vez em efeito ao dos asas fixas. movimento? a sustentação aparece o envelope de voo do
translação horizontal Realmente, é um quando as pás têm aparelho. São três zonas,
ficaria incontrolável, e ESTABILIZADOR conjunto com bastante ângulo positivo em e variam em tamanho,
cairia para o lado da pá HORIZONTAL inércia, logo tem de relação ao vento relativo. automaticamente
que recua, porquê?... É um elemento fixo, sem ter uma ajuda para Desenhando (isto é, sem qualquer
mais á frente...). qualquer parte móvel, iniciar a rotação, seja simplesmente os intervenção do piloto),
De notar que este e cuja função é criar por um impulso à vectores seguindo tal durante o voo, de
parafuso é especial, estabilidade longitudinal mão, e depois restante princípio, verificamos modo que o regime de
tremendamente do aparelho. rotação conseguida que o vector resultante voltas do rotor, se auto
resistente (da com a corrida de da direcção do vento regula, qualquer que
mesma ordem que descolagem (neste relativo aponta para seja a velocidade do
TREM
os rolamentos atrás caso bastante longa), cima e ligeiramente para aparelho (desde zero até
DE ATERRAGEM
mencionados), de seja através de um a frente. á máxima velocidade),
Similar aos aviões.
qualidade aeronáutica. mecanismo chamado é O FENÓMENO DA
PRÉ-LANÇADOR, AUTORREGULAÇÃO
HASTES MANCHE
que usando a força DO REGIME ROTOR.
DE COMANDO Um dos três comandos
do motor, consegue
São dois tubos (pelo usados para controlar o A variação do factor
rodar o rotor até cerca
menos) que se ligam autogiro (motor e leme de carga está associado
de 2/3 das rotações
ao tubo de torque de direcção os outros). á modificação
necessárias para o voo Decompondo
(ligado à cabeça do Faz com que o aparelho momentânea do regime
(nos UL), encurtando este vector (esta
rotor), e transmitem o se incline para a direita rotor:
dramaticamente a “resultante”),
movimento efectuado ou para a esquerda, ou o Conforme aumentam
corrida de descolagem. verificamos que temos
pelo manche à nariz para cima ou para ou diminuem os G’s,
uma parte totalmente
cabeça do rotor, e baixo. aumenta ou diminui
ASSIM, ENTRAMOS vertical (dá-nos a
consequentemente ao Esta acção é feita o peso, aumenta ou
ENTÃO NA sustentação pura), e um
disco rotor. através da inclinação diminui o regime rotor,
ESSÊNCIA DO VOO a parte horizontal que é
da cabeça do rotor, e que só dura enquanto
DO AUTOGIRO a componente que nos
MASTRO consequentemente do durar o aumento ou
puxa para a frente a pá, e
É peça vertical da disco rotor. diminuição do factor de
no fundo nos mantém o
fuselagem que conecta a AUTORROTAÇÃO rotor a rodar. carga (autorregulação do
cabeça do rotor e o resto PÁS Um autogiro é uma regime rotor)
da fuselagem, tendo DO ROTOR máquina que realmente Outro factor que
pelo caminho, ligados, São elas o verdadeiro parece uma mistura tem importância
a bancada do motor, aparelho. Todo o resto entre um avião e um na manutenção da
e pelo menos um dos existe para fazer com helicóptero... Tem uma rotação do rotor é
assentos dos ocupantes. que as pás funcionem fuselagem e uma hélice, a inércia das pás.
Resistente, e ao mesmo correctamente. Cada pá como um avião, e obtém Esta acção é contínua, Quanto mais pesadas,
tempo flexível, pois funciona em si como a sustentação através nunca parando mais contribuem
absorve as vibrações do um aparelho voador em de um rotor, como um enquanto o aparelho para a inércia, mas
motor e suporta todo o contínuo voo circular, helicóptero... estiver no ar submetido a evidentemente, não as
peso do aparelho. o que quer dizer que No entanto, a diferença G’s positivos. podemos pôr pesadas

28 APAUVOAR
AUTOGIROS
de qualquer maneira, a mesma sustentação, ‑se irreversivelmente a pá, a velocidade do aparelho.
pois existem limitações qualquer que seja a sua para o lado da pá de diminui, diminuindo Como exemplo
mecânicas, de suporte, e posição no círculo de menor sustentação a sustentação, fazendo tomemos um bilugar
de possibilidades de pré rotação. (a que recua), efeito descer a “asa”, o ângulo voando com o máximo
lançamento. Consideremos agora, absolutamente de incidência aumenta, de peso permitido em
para além do movimento indesejado, apenas aumentando portanto a ultra ligeiro, sejam 450
A importância das pás de rotação do rotor, anulado, por mecanismo sustentação e anulando o kg.
Observando cada pá, também o movimento descoberto por Cierva, efeito da diminuição de Cada pá irá sustentar
individualizamos tudo o de translação, do simples, qual ovo de sustentação provocado 225 kg, e calculando
que é preciso numa asa... aparelho portador das Colombo. pela diminuição da para um rotor de
pás. Neste caso podemos Esse mecanismo velocidade da pá. A comprimento médio 8
distinguir as duas pás do compensador é experiência mostra metros e com velocidade
nosso rotor: o movimento de que estes 2 fenómenos 100m/s, verificamos que
- Pá avançante será batimento das pás: se compensam, vamos obter cerca de
aquela que avança na fazendo com que a 4300kg = 4,3 toneladas
direcção da translação, SUSTENTAÇÃO em força centrífuga (esta
Os rotores podem ser e atinge a máxima global dessa pá se força como é óbvio varia
classificados com base no velocidade num ponto mantenha constante. com a velocidade do
nº de pás. determinado É, portanto uma Assim, em voo de rotor).
Ou com base no grau de - Pá retrocedente será maneira de produzir translação, cada pá ESTA FORÇA
liberdade de movimento aquela que recua em artificialmente e oscila constantemente, CONSIDERÁVEL,
que cada pá possa ter no relação á direcção da automaticamente uma graças á compensação IMPEDE QUE AS PÁS
conjunto do rotor: translação, e atinge um variação do ângulo de automática entre a SE DOBREM PARA
- Rigida, em que á pá mínimo de velocidade incidência das pás, de variação de velocidade CIMA SOB O EFEITO
não é concedida nenhum num ponto determinado modo que este ângulo resultante, e da DA SUSTENTAÇÃO.
grau de mobilidade, Fixemos esta definição seja mínimo para a pá variação do ângulo de A combinação de duas
“trabalhando” apenas que avança e máximo incidência.
que é importante para forças (Força centrifuga
baseado no grau de para a pá que recua
compreender algo que + Sustentação), faz
deformação elástica do (compensando as
demorou alguns anos simplesmente com
alterações de sustentação
material. a Cierva a deslindar, que as pás adquiram
produzidas pelas
- Semi-rígida, em que a ASSIMETRIA um pequeno ângulo,
diferentes velocidades
á pá só é permitido um LATERAL DA em relação ao plano
das pás).
só movimento vertical, SUSTENTAÇÃO: de rotação do rotor,
que toma o nome de Tal comportamento No caso da pá que ângulo a que chamamos
“batimento” é devido á soma da avança Sustentação do peso Ângulo de conicidade
- Articulado, em que velocidade periférica da Batimento para cima, do aparelho pelas (ou simplesmente,
á pá são permitidos pá em rotação com a em que a pá avança, a “minúsculas asas” conicidade).
dois movimentos, o velocidade de translação velocidade aumenta, a A única coisa que
“batimento”, vertical, e o para a frente. sustentação aumenta, A primeira vez que pode fazer variar
“arrasto”, horizontal. Examinando o fazendo subir a “asa”, observamos as pás de um significativamente, a
No caso dos autogiros comportamento da o ângulo de incidência aparelho de asa rotativa, conicidade, é a variação
ultraligeiros centramo- pá que avança e da diminui, diminuindo e vemos que elas flectem do ângulo de ataque
nos apenas nos rotores que recua, verifica- portanto a sustentação sob o próprio peso, das pás, que no caso
ai existentes, os se um contributo de e anulando o efeito do interrogamo-nos como dos autogiros em geral,
SEMIRIGIDOS. sustentação muito aumento de sustentação conseguem elas em voo, é fixo, portanto a
maior da parte da pá provocado pelo aumento sustentar todo o peso do conicidade será sempre a
Pá avançante e pá que avança (velocidade da velocidade da pá. aparelho, incluindo nas mesma ao longo do voo.
retrocedente angular mais velocidade A experiência mostra acelerações mais fortes: Outras variáveis passíveis
Noção importante para de avanço somadas = que estes 2 fenómenos As pás dos rotores de alterar a conicidade
compreender o voo dos maior sustentação), do se compensam, sustentam o aparelho, são o peso das pás e a
autogiros que a que retrocede fazendo com que a com maior ou menor repartição do peso ao
Pensemos primeiro (velocidade angular SUSTENTAÇÃO carga alar, dependendo longo da envergadura
num rotor a rodar, com menos velocidade global dessa pá se do número de pás das mesmas, que no
o autogiro parado: de avanço = menor mantenha constante. existentes. No caso dos autogiro são constantes,
A extremidade de cada sustentação). autogiros de lazer, os levando ao mesmo
pá está submetida a uma RESULTADO: No caso da pá que recua rotores são normalmente raciocínio.
velocidade constante, de Tendência do Batimento para baixo, bipás, portanto, cada pá Nos autogiros, ao
modo que cada pá tem aparelho a inclinar­ em que, recuando sustenta metade do peso efectuarmos por

APAUVOAR 29
AUTOGIROS
exemplo uma volta em condições meteo (asa ou rotor), e não da essa trajectória, com a fixa que tenha qualidades
mais apertada, que mais difíceis, ou em fuselagem. estabilidade de uma seta aerodinâmicas boas de
corresponde a aumentar perdas de concentração Como no autogiro, e não mais ao menos estabilidade.
a carga no aparelho momentâneas... o rotor não é fixo em aleatoriamente, como
(recordemos que o passo Instintivamente, todos relação á fuselagem, e sucede com os aparelhos Finalmente cada
é fixo), o rotor responde nós acharemos que, este rotor é comandado sem estabilizador autogiro é uma
aerodinâmicamente com quanto mais a fuselagem independentemente horizontal. interacção de
uma subida de voltas se assemelhar em termos pelos impulsos do piloto, Por outro lado, como o numerosos factores
compensatória, o que de estabilidade, a uma e não depende de rotor não está solidário
leva a um aumento, seta, mais correctamente superfícies de controlo, com a fuselagem, esta, Há vários pontos
no mesmo “timing”, responderá ao vento que por um lado façam se bem desenhada importantes, de
da Força centrífuga, relativo. FOTO 10 mexer a fuselagem (leme, aerodinâmicamente, não concentração de massas,
portanto NÃO altera a (Autogiro “Estável”) direcção e profundidade) muda constantemente pressões e impulsos, que
conicidade. Esta qualidade inclui o e só depois a superfície de atitude a qualquer entre si têm distâncias,
tamanho e a eficiência sustentadora, ou movimento ligeiro do criando binários
A importância da aerodinâmica das pequenas superfícies rotor, contribuindo estáticos (no sentido de
fuselagem no voo superfícies estabilizadoras móveis (ailerons) que assim para a estabilidade a distância entre eles em
(horizontal e têm que fazer mexer a do conjunto, mas linha recta ser sempre a
Por concepção, o vertical), em relação superfície de sustentação apenas muda quando a mesma), cujas somas
autogiro tem geralmente às propriedades e ainda arrastar consigo interface entre o rotor durante o voo se têm de
o Centro de Sustentação aerodinâmicas da a fuselagem, a ela e a fuselagem (que é o equilibrar uns aos outros
(CS =VSR) do rotor, fuselagem (sustentação, solidarizada. FOTO 11 piloto), ordena qualquer de modo a obtermos
afastado para trás do arrasto, localização do (Biplano Mai) alteração major da uma estabilidade
Centro de Gravidade CG). Assim, no autogiro, trajectória. dinâmica (a variação
(CG) geral da fuselagem. o rotor é controlado QUER ISTO DIZER angular entre os pontos ser
No caso de qualquer pela acção do cíclico, QUE O CONJUNTO o mínimo possível, e além
perturbação da muito poderosa (como ROTOR/FUSELAGEM disso, essa variação, tender
estabilidade do voo, o um enorme aileron ESTÁVEL, SEM para zero, quando houver
CG oscila sob o CS, e profundidade), O COMANDO qualquer factor externo a
como um pêndulo. Este fazendo com que este DO PILOTO, perturbar).
movimento pendular movimento se produza SEGUE UMA
tende a estabilizar-se muito rapidamente, TRAJECTÓRIA, UM
por ele mesmo, em e com muito mais ESTABILIZANDO O
movimentos cada vez Podemos então com esta
ideia tecer algumas notas autoridade que num OUTRO.
mais pequenos numa asa fixa. FOTO 12 No entanto, quando Problemas possíveis no
sinusóide. sobre a estabilidade dos
rotores: (Autogiro Mai) o piloto comanda o voo do autogiro
Estes movimentos são
É evidente que, o facto cíclico, pela grande
geralmente amortecidos PIO
manobrabilidade vs de o rotor não estar fixo potência do mesmo, e
se existe uma boa É a “Pilot Induced
estabilidade numa posição única pela não solidarização
“fórmula” aerodinâmica. Oscilation”, ou a
em relação á fuselagem, do mesmo com a
Uma analogia também traz alguns fuselagem (ligados por oscilação induzida pelo
tradicional, que se problemas específicos parafuso de batimento piloto.
costuma fazer entre de estabilidade do permitindo liberdade
Se o autogiro não os aviões de asa fixa e CONJUNTO (rotor/ de movimento), pode
a tem, FOTO 9 os autogiros, é que, os fuselagem), pois apesar fazê-lo mudar de atitude
(Autogiro”instável”) autogiros, tal como as de tudo estão ligados muito mais rapidamente Acontece geralmente, em
como acontecia nos outras aeronaves de um ao outro, embora do que a fuselagem o autogiros com fuselagem
primeiros aparelhos asa fixa, quanto mais de maneira diferente permitiria se estivesse “instável”, quando o
desprovidos de estáveis forem, menos das outras aeronaves ligada a ele de modo piloto não é capaz de
estabilizador horizontal, manobráveis serão... Não referidas. rígido. dar “ordens” precisas e
todo o trabalho de é verdade! Uma fuselagem Em Resumo: Um compensatórias a uma
amortecimento tem As alterações da ESTÁVEL é aquela autogiro estável, é, pelas alteração de atitude,
de ser feito pelo piloto, trajectória de voo, que segue com precisão razões apontadas, tão e gera rapidamente
o que requeria um velocidade e direcção, uma trajectória de voo manobrável, e mais oscilações da trajectória,
treino elevadíssimo de qualquer aeronave, (por outras palavras, seguramente, que um chegando também
e apesar disso são o resultado da o rotor determina a “instável”. Também rapidamente a extremos
aconteciam problemas mudança de atitude do trajectória de voo, e a é portanto mais muito grandes, em
relacionados, sobretudo elemento sustentador fuselagem tem de seguir manobrável que um asa poucos ciclos (mais

30 APAUVOAR
AUTOGIROS
ao menos como o o aparelho a iniciar
flutter), podendo levar, uma série de oscilações
se não combatido rápidas, alternativamente
imediatamente ao PPO ascendentes e
(ver á frente). descendentes. Em
Era a primeira função da ligeira
instabilidade encontrada diferença temporal que
pelos alunos pilotos, existe entre a ordem
essencialmente nos dada e a sua efectivação,
autogiros com pouco ou convém, para estabilizar
nenhum Estabilizador o aparelho, que o piloto
Horizontal, apesar do antecipe a correcção,
fenómeno poder existir numa fracção de
em todos com maior segundo. Se tal não
ou menor resistência acontecer, a correcção é
ao mesmo dependendo efectuada em “timing”
das qualidades errado, o que pode
aerodinâmicas do levar a dar a ordem
modelo. precisamente na altura
Bastam pequenos em que o efeito vai ser o
movimentos para contrário, amplificando
gerar alterações de o movimento (É O
trajectória. Para além SOBRECONTROLE
disso, a precessão DO MANCHE).
giroscópica provoca um Sublinhe-se que uma
ligeiro atraso no tempo superfície estabilizadora
entre a ordem dada limita os riscos de
e o movimento real. aparecimento desta
Durante voo estabilizado instabilidade, e mesmo,
em translação horizontal, tende a corrigi-la e a
um movimento anulá-la em grande
importante no sentido parte.
longitudinal, pode levar Se não parada a tempo,

APAUVOAR 31
AUTOGIROS
o PIO pode provocar a as não compensadas uma parábola de curva
destruição do aparelho aerodinâmicamente), superior.
por acumulação de 2 baixe rapidamente, Neste caso não há
erros a não cometer: forçando o rotor a qualquer problema.
1º. Acções de grande ficar “descarregado” Uma situação de voo
amplitude do manche aerodinâmicamente, análoga no autogiro,
(NÃO). fazendo-o perder provoca uma diminuição
2º. Manobras em G´s voltas, perde rigidez, e do regime rotor, e o
negativos (NÃO). entra em batimento. piloto tem a sensação de
“Acessoriamente” e para “flutuar na cadeira” (é a
PPO agravar, o movimento situação de zero G).
É o Power Push Over (á pendular pode ser tão No topo da parábola,
falta de melhor tradução, grande que o aparelho o rotor deixa de
é o “empurrão sob acção fica tanto com o “nariz estar em carga, e
de potência”) em baixo”, que o portanto a “tracção”
Consequência do estabilizador vertical toca do rotor desaparece
sobrecontrole, pois assim no rotor, fazendo reduzir momentaneamente.
que o piloto começa a ainda mais a rotação do Resulta daqui que o
provocar “ondulação” rotor... modo de estabilização,
do aparelho, vai ter pendular do aparelho,
a impressão que as MANOBRAS A ZERO desaparece, restando
suas correcções são G’S apenas activos, o CG
demasiado fracas (pelo Sabemos que o regime da fuselagem, e a TM
atraso em reagir, do rotor varia no mesmo (tracção) do motor.
aparelho, como dito sentido que o factor de A fuselagem, então,
atrás), e vai portanto carga. propulsionada pelo
aumentando a amplitude É o peso que faz rodar impulso da hélice (sem
das mesmas, e como se o rotor!!!! Se se anula o a sustentação do rotor
disse, rotor poderoso, peso, o rotor não roda!!!!! a contrabalançar), roda
resposta cada vez mais As manobras ditas a sobre o CG, pondo-se
poderosa, até que um zero G são habituais brutalmente em picada
impulso do manche nos aviões, e provocadas (se TM está acima da
á frente rapidamente, por uma colocação do linha do CG), pois
faz com que o nariz da aparelho a picar após o binário entre estes
fuselagem (sobretudo uma subida, descrevendo dois deixa de estar em

equilíbrio. com a descida, no


PARA EVITAR máximo neutralizando
ESTE EXTREMO, o suavemente o manche,
piloto que se coloque e eventualmente
em subida rápida, nivelar para continuar
nunca deve empurrar o cruzeiro, ou descer,
o manche, basta-lhe conforme se dá ou não
simplesmente mantê-lo potência.
na posição em que se Como nota final, diga-
encontra, esperar que se que são geralmente
o autogiro reduza a as manobras em G
velocidade por ele (pode negativos, rápidas e de
ajudar a isto reduzindo grande amplitude que
o motor). Assim são as “nocivas”, pois
que a velocidade do os autogiros, sobretudo
autogiro decresce, sem os actuais suportam
se fazer nada, ele toma perfeitamente pequenas
a atitude de descida, alterações negativas dessa
nariz em baixo. Aqui força, como por exemplo
basta deixar acelerar efeito de descendentes,

32 APAUVOAR
AUTOGIROS
aparecendo em pequena, e as próprias Os aparelhos de asa
cruzeiro... pás, após essa ordem rotativa têm uma
inicial amplificam a quarta forma de
Algumas razões que nos força, alterando elas armazenamento de
podem levar a querer próprias, o ângulo do energia:
voar em autogiro DISCO ROTOR. Velocidade de rotação
(o contrário não do rotor
Claro que cada um pode acontece, isto é, uma Foto 1 - Otto Lilienthal FOTO 8 - Little Wing
enumerar uma série rajada de vento que O que vai permitir, entre
de razões para o não tente mudar o ângulo outras coisa aterragens de
fazer, ou para andar de do DISCO ROTOR, ao velocidade de translação
bicicleta, ou não... não agir sobre cada pá, zero ou quase zero.
1. Os rotores são muito dificilmente o consegue,
menos susceptíveis á pois é necessária uma 4. Os rotores podem FOTO 2 - Cierva C-1
turbulência força imensa para aterrar a muito pouca
FOTO 9 - Autogiro Instável
A capacidade de um ultrapassar desse modo velocidade horizontal
autogiro UL em relação a inércia giroscópica). É o resultado do já
á possibilidade de voo referido armazenamento
em turbulência, poderá 2. Os autogiros podem de energia no rotor.
equiparar-se á de um voar mais lentamente
avião ligeiro, do tipo que um asa fixa 5. Grande variedade de
Cherokee 6, sendo os Os rotores em coeficientes de planeio FOTO 3 - Cierva C-30
factores predisponentes autorrotação, pela sua Precisamente porque FOTO 10 - Autogiro Estável
a isso: natureza, não entram as asas rotativas podem
a) As pás do rotor têm em perda no sentido voar confortavelmente
carga alar alta (não o convencional da palavra, e com todo o controlo
disco rotor) e continuam a rodar, “atrás da curva de
Cada pá tem uma mesmo em descida potência”, há muitas
área mais pequena perfeitamente vertical. opções de aproximação
e velocidade relativa O autogiro pode voar para aterragens.
FOTO 11 - Biplano MAI
muito maior que perfeitamente sob O autogiro não
qualquer semi-asa de controle, mesmo a tem geralmente um FOTO 4 - Bensen
UL, resultando numa velocidade zero (neste coeficiente de planeio
menor sensibilidade á caso, em descida sempre, tão bom como os de
turbulência em relação á massa asa fixa, mas pode, com
b) Os rotores em de ar). O seu factor muito mais precisão,
rotação têm grande de segurança, é que, ajustar a pendente de
quantidade de energia nunca acontecerá, como descida sem medo da FOTO 12 - Autogiro MAI
(inércia) acontece nos aviões perda, e inclusivamente
Este facto faz, (sempre, por mais até á vertical.
essencialmente, que se lentamente que estejam Bom, espero que com
comporte como um desenhados para voar), esta contribuição tenha,
giroscópio gigante, chegar a uma velocidade pelo menos despertado
com todas as suas de tal modo que deixe de a curiosidade de quem FOTO 5 - Cabeça do Rotor e
Parafuso de Batimento
propriedades de resistir voar e caia sem controlo nunca voou em autogiro, FOTO 13 - STOL
a mudanças do plano de (perda). FOTO 13 e o anime a experimentar
rotação. (STOL) este voo que pelas suas
c) Os rotores têm muito características nos levam
mais autoridade de 3. Os rotores a descobrir “pistas” aéreas
controlo armazenam e com olhos roubados
O controlo cíclico dum transferem energia àquelas aves que FOTO 6 - Pás e Porta-Pás
sistema rotor, só altera Os aparelhos de asa fixa invejamos o revoltear
o ângulo de cada pá armazenam energia de curto, baixinho e FOTO 14 - JT-05

individualmente. A força três formas: brincalhão. FOTO 14


necessária a empregar Inércia; Altura; Motor (JT-05)
pelo piloto para iniciar Estas 3 formas vão sendo
o movimento (num trocadas entre si para a Bons voos FOTO 7 - Dominator
rotor a rodar), é muito manutenção do voo.

APAUVOAR 33
SEGURANÇA DE VOO E PROCEDIMENTOS

O ÁLCOOL E O VOO
Aspectos da fisiologia de voo
Álcool se dissiparem, e nada poderá imprevisíveis e poderá tornar-se do que as 8h será necessário
O alcool, mesmo quando acelerar este processo. Café, agressivo e de comportamento para que não existam vestígios
consumido em pequenas exercício físico ou sono não incontrolável, tornando-se um de álcool no nosso organismo
quantidades, produz uma serão factores diminuidores da risco considerável para o voo. depois de consumido.
atrofia no julgamento, na influência do alcool. Acresce o facto de que tem Os efeitos após ingestão
compreensão e atenção, Cientistas descobriram também comandos de voo do exagerada de álcool, a vulgar
diminuição do sentido de recentemente que o álcool é seu lado. “ressaca”, também afectam a
responsabilidade, lentidão absorvido para o fluido do A regra para tanto piloto como capacidade de performance,
de refelxos e redução da ouvido interno e aí permanece passageiro em relação ao álcool causando dores de cabeça
coordenação, eficiência visual, mesmo depois de desaparecer deveria muito simplesmente ser: e afectando a estabilidade
aumenta a frequência de erros, do sangue e do cérebro. Uma “Se voar, não beba!”. As regras emocional e o julgamento.
diminuição de memória, vez que o ouvido interno EASA impõem que um piloto Podemos também aqui referir
capacidade de compreensão e monitoriza o equilíbrio, a não consuma álcool até 8h antes outros agentes que afectam a
fadiga. presença de álcool poderá ser de tripular um avião comercial, nossa capacidade de pilotagem.
responsável por informação regras que poderíamos muito
de equilíbrio incorrecta e bem adoptar para a nossa Medicação
possivelmente desorientação modalidade. Na verdade, Os medicamentos, bem
espacial. provavelmente mais tempo como as condições fisiológicas
A presença de álcool no sangue
interfere com o consumo
normal de oxigénio pelos
tecidos (hipoxia histotóxica).
Devido à pressão reduzida a
Quando um piloto efectua altitudes mais elevadas, e à
um voo ao longo de uma correspondente diminuição da
determinada rota de uma capacidade da hemoglobina
pista para outra, centenas de de absorver oxigénio, o efeito
decisões são tomadas quanto à do álcool no sangue, a voos a
operação do avião e aos aspectos altitudes mais elevadas, será
relacionados com a navegação. muito mais pronunciado do
Os procedimentos adequados que ao nível do mar. É evidente
deverão ser efectuados para que as aeronaves UL não
a garantir a condução segura voam às altitudes do tráfego
do voo e para assegurar que comercial, no entanto, devido
nenhum risco é causado às à ausência de pressurização de
aeronaves que partilham cabine, a altitude a que estão
o espaço aéreo próximo. sujeitos os pilotos de ambas
Obviamente, tudo o que as actividades é semelhante.
diminua a capacidade do piloto Num A320 a FL370 a altitude
para tomar decisões aumentará de cabine rondará os 8000’,
o potencial de acidente. o equivalente a um voo
O álccol é absorvido muito panorâmico em ultraleve sobre
rapidamente para o sangue e a Serra da Estrela...
tecidos do corpo humano. Os Igualmente, deverá ter-se o
seus efeitos na fisiologia são cuidado de não transportar
evidentes brevemente após a um passageiro que esteja
ingestão e dissipam-se muito sob o efeito do álcool, pois
lentamente. De facto, demora o seu julgamento também
cerca de 3 horas para os efeitos está afectado. As suas
da ingestão de 30ml de alcool reacções durante o voo serão

34 APAUVOAR
SEGURANÇA DE VOO E PROCEDIMENTOS

que determinam a sua alguns medicamentos são mais efeitos. Poderá ser causada por desconforto e aceitação de uma
administração, podem interferir pronunciados em altitude do inúmeras condições como falta margem de erro maior do que
com a eficiência do piloto e que ao nível do solo. Alguns de sono, excesso de trabalho, o normal.
ser extremamente perigosas. dos medicamentos acima stress, má alimentação, Uma boa condição física,
Mesmo os medicamentos referidos, se tomados em desidratação, etc. uma atitude mental saudável,
que não carecem de receita conjunto, reagirão levando a alimentação adequada e
médica, como as aspirinas, efeitos secundários aumentados descanso suficiente são as
anti-histamínicos, comprimidos exponencialmente. Outro tipo melhores armas que um
para as constipações, de medicamentos, como os piloto tem ao seu dispor para
descongestionantes nasais, antibióticos, são igualmente combater a fadiga.
xaropes para a tosse, laxativos, tão ou mais perigosos nos seus
tranquilizantes e supressores de efeitos secundários no que Alimentação
apetite afectam o julgamento respeita à pilotagem. O stress do voo, bem como
e a coordenação. São muitas qualquer actividade, consomem
vezes responsáveis por Fadiga Numa actividade de lazer energia, que é obtida a partir do
sonolência, tonturas, visão A fadiga é um factor cujo maior como o voo em ultraleve, não oxigénio e do açúcar no sangue.
desfocada, confusão, vertigens perigo será o facto de o próprio é expectável que a fadiga seja Assim, voar após um tempo
e depressão. Os efeitos de piloto não reconhecer os seus causada pela própria actividade, prolongado sem comer levará a
mas antes por factores externos que o nível de açúcar no sangue
à mesma. No entanto, é um seja baixo, o que equivale a dizer
factor a ter em consideração que a sua reserva de energia será
nomeadamente na execução baixa. As reacções serão lentidão
dos passeios organizados, que de movimentos e pensamento,
consistem em efectuar voos e ineficiência. Nas etapas mais
durante vários dias seguidos, longas será aconselhável levar
por vezes sob temperaturas um complemento alimentar,
elevadas, e não raramente bem como água.
depois de noites bem passadas Por outro lado, comer
de que o convívio e as em demasia também tem
jantaradas são apanágio. consequências ao nível da
Um piloto cansado não performance de pilotagem, tais
consegue cumprir as suas como sonolência e formação
tarefas correctamente, está mais excessiva de gases. Para não falar
irritável e menos alerta, sendo no acréscimo de consumo de
menos exigente quanto aos combustível devido ao excesso
níveis de performance exigidos. de peso...
Alguns sintomas de fadiga serão
difíceis de reconhecer como Em conclusão, e com o
tal, e para os quais se deve estar aproximar da quadra festiva
atento: deterioração na rapidez em que a tradição da mesa
de movimentos e pensamento, farta ainda, e felizmente, se vai
irritabilidade e falta de mantendo entre nós, mantenha
paciência, tendência para focar uma atitude prudente sempre
a atenção num certo parâmetro que for voar.
de voo em vez de efectuar Desejamos a todos Boas Festas,
uma interverificação correcta, um Bom Ano de 2011, e voe
tendência para se esquecer ou sempre em Segurança.
ignorar factores relevantes,
tendência para controlar o A Comissão de Segurança de Voo.
avião em demasia (overcontrol),

APAUVOAR 35

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