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Modelagem do Processo de Fragmentação

de Catalisadores Suportados Durante a A


Pré-polimerização de Olefinas R
T
Douglas M. Merquior
Departamento de Engenharia Química, IME I
Enrique L. Lima, José Carlos Pinto
G
Programa de Engenharia Química, COPPE, UFRJ
O
Resumo: Uma metodologia é proposta para descrever a morfologia das partículas de polímero que são
obtidas durante os momentos iniciais da polimerização de olefinas via catálise heterogênea. O método é
baseado na análise matemática da capacidade da partícula em liberar a energia mecânica acumulada no seu
interior devido à rápida produção de polímero. O balanço entre as quantidades de energia acumulada e
T
liberada é calculado com o auxílio de um modelo dinâmico da reação de pré-polimerização. A combinação
da metodologia proposta com o modelo dinâmico permitiu a análise dos mecanismos de fragmentação,
É
indicando a morfologia da partícula de polímero produzida em função do tamanho da partícula e da tem- C
peratura do reator.
Palavras-chave: Fragmentação, catálise heterogênea, pré-polimerização, olefina. N
Modeling of Catalyst Fragmentation During Olefin Pre-polymerizations
I
Abstract: A model-based methodology is proposed for describing the morphology of the polymer particles C
that are obtained during the very early stages of the olefin polymerization. The method is based on the
analysis of the particle capacity to release the amount of energy that is accumulated in its interior during the O
polymerization, due to the fast polymer production. The balance between the accumulated and released
amounts of energy is calculated with the help of a dynamic pre-polymerization reaction model. The combination
of the fragmentation criteria and of the polymerization model allows the analysis of the prepolymerization
step, indicating the morphology of the final polymer particles as a function of the catalyst particle diameter C
and reactor temperature.
I
Keywords: Fragmentation, heterogeneous catalysis, prepolymerization, olefin.
E
Introdução manda por poliolefinas, diversos esforços têm sido
feitos para melhorar a produtividade das plantas indus-
N
Na indústria de polímeros, as poliolefinas ocu-
pam posição de destaque pela quantidade de resina
triais, bem como aprimorar a qualidade das resinas
olefínicas produzidas. Os catalisadores metalocênicos
T
produzida, recursos movimentados ao redor do mun-
do e perspectivas promissoras de crescimento. Espe-
vêm atender estes dois aspectos, conjugando maior
produtividade com a possibilidade de sintetizar
Í
ra-se que as poliolefinas substituam diversos materiais polímeros com novas estruturas[1,2]. Entretanto, esta
alta atividade contribui para a elevação do risco de
F
plásticos atualmente em uso, cujos processos de ma-
nufatura ou reciclo sejam menos vantajosos[1]. instabilidade térmica, principalmente no início da I
Para acompanhar este forte crescimento da de- reação. A fim de se aproveitar a maior produtividade
C
Autor para correspondência: José C. Pinto, Programa de Engenharia Química, COPPE, UFRJ, CP: 68502, CEP: 21945-970, Rio de Janeiro, RJ. E-mail:
pinto@peq.coppe.ufrj.br O
Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 12, nº 3, p. 220-227, 2002 220
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oferecida por esses novos catalisadores, deve-se in- ratura científica, pode-se afirmar que apenas a série de
vestigar e desenvolver mecanismos que evitem tal in- trabalhos desenvolvidos por Chiovetta e colaborado-
conveniente. Um dos métodos mais empregados na res[10-12] tentou construir um modelo matemático que
indústria é a pré-polimerização, que consiste na mostrasse a importância da etapa de fragmentação so-
polimerização da partícula de catalisador em condi- bre o restante da polimerização; ou seja, o efeito de
ções brandas. Embora este processo permita o con- um breve período de poucos segundos sobre o restante
trole da morfologia da partícula de polímero em da reação, que pode levar horas. Isto significa que a
crescimento e evite o aparecimento de pontos quen- maioria dos modelos existentes na literatura não é ade-
tes no interior do reator, ainda não foi completamen- quada para a representação do estágio inicial da
te estudado e compreendido. polimerização de olefinas via catálise heterogênea.
Sabe-se que o fenômeno dominante nos instan- Este trabalho propõe o desenvolvimento de uma
tes iniciais da polimerização é a fragmentação, que metodologia baseada em modelo matemático que
consiste na quebra do suporte original em pequenas permite qualificar a morfologia das partículas resul-
partículas. Entretanto, isto pode ocorrer de forma tantes da ruptura do catalisador suportado durante os
descontrolada, formando partículas muito pequenas estágios iniciais da reação de polimerização. A idéia
e com morfologia irregular, resultando também em central do método baseia-se na verificação da capa-
sérios problemas operacionais. cidade da partícula em dissipar energia resultante do
Embora seja fundamental para a continuidade da acúmulo de tensões em seu interior durante o cresci-
polimerização, a fragmentação ainda não foi total- mento. Esta análise é feita por intermédio de um ba-
mente elucidada. Sua observação experimental é lanço de energia entre as quantidades acumulada e
muito difícil, pois ocorre em questão de segundos e dissipada. Para tal, um modelo dinâmico da reação
num nível submicroscópico, havendo poucos traba- de pré-polimerização de olefinas[13] é utilizado para
lhos publicados na literatura[3]. Recentemente, Pater calcular as grandezas envolvidas.
et al.[4] fizeram um avanço considerável na investiga-
ção experimental. Eles montaram um pequeno reator A Fragmentação do Catalisador Suportado
para realizar a polimerização em lama do propileno a
baixas taxas de reação, permitindo o estudo sistemá- Os catalisadores organometálicos suportados em
tico das partículas formadas. O rendimento da pré- material inorgânico poroso (normalmente sílica ou
polimerização variou de 0,3 a 50 gramas de cloreto de magnésio) constituem usualmente as par-
polipropileno por grama de catalisador empregado. tículas de catalisador empregadas na polimerização
A morfologia das partículas de pré-polímero assim de olefinas em meio heterogêneo. Ao serem
produzidas foi analisada em microscópio eletrônico introduzidas num ambiente reacional, as partículas
de varredura, esclarecendo alguns aspectos do pro- de catalisador entram em contato com as moléculas
cesso de ruptura do suporte e crescimento do de monômero, determinando o início da reação de
polímero. polimerização. As moléculas de monômero são
Por outro lado, ainda não há métodos analíticos adsorvidas pelos sítios ativos presentes na superfície
conclusivos que descrevam apropriadamente a e no interior da partícula. À medida que a reação avan-
fragmentação e possam ser usados para inferir como ça, a expansão da fase polimérica leva a um acúmulo
conduzir a reação de forma a se obter pré-polímero de tensão mecânica no interior da partícula, que pode
com as propriedades desejadas. Os modelos mate- resultar na ruptura ou não do suporte em considera-
máticos utilizados para simular os processos de ção[14]. A quebra do suporte original em partículas
polimerização de olefinas admitem geralmente que a menores aumenta a área específica e porosidade da
partícula de catalisador fragmenta-se de forma ho- partícula de catalisador, sendo fundamental para a
mogênea e controlada logo no início da reação, sen- continuidade da polimerização e para a estrutura fi-
do que o tempo necessário para que a quebra do nal do polímero. Conhecendo-se o mecanismo de
suporte se complete, da ordem de segundos ou me- fragmentação da partícula durante os estágios inicias
nos, é neglicenciado. Esta hipótese é a base do mo- da polimerização, pode-se inferir a respeito do curso
delo multigranular [5-7] e do modelo do fluxo da reação, bem como estimar a morfologia da partí-
polimérico[8,9]. Após uma análise cuidadosa da lite- cula de polímero produzida.

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Admitindo que o acúmulo de tensões é que pro- é reconhecido como a taxa de polimerização. Substi-
voca a quebra do suporte, a modelagem matemática tuindo estas duas últimas expressões na Equação (5),
proposta fundamenta-se em analisar a capacidade da obtém-se:
partícula em dissipar a energia acumulada, por inter-
dE
médio de um balanço de energia entre as quantidades = 4π ⋅ r 2 ⋅ ∆r ⋅ K ⋅ R p (8)
dt
dissipada e acumulada.
Considerando-se que uma partícula de catalisador
que relaciona a variação temporal de energia acumu-
suportado seja uma calota esférica isotrópica de vo-
lada no interior da partícula com a quantidade de
lume dV, a energia E acumulada por causa do acúmulo
polímero produzido (Rp), levando-se em consideração
de tensões pode ser dada por:
as características particulares do polímero (K) por uni-
dE = p ⋅ dV (1) dade de volume numa determinada calota esférica.
A fim de alcançar alta atividade de polimerização,
onde p é a pressão interna resultante do acúmulo de
a partícula de catalisador deve ser escolhida (mate-
polímero nos canais da partícula de catalisador. Por-
rial do suporte, tamanho da partícula, porosidade, etc.)
tanto, a taxa de geração de energia na calota esférica
de forma a garantir que a fragmentação ocorra logo
de espessura ∆r é:
no início da reação. Sendo assim, as partículas não
dE ∂p devem ser capazes de acumular uma quantidade signi-
= 4π ⋅ r 2 ⋅ ∆r ⋅ (2)
dt ∂t ficativa de energia. Na verdade, a energia gerada deve
Admitindo-se que uma equação de estado pode ser de alguma forma dissipada pela partícula. Espe-
ser usada para avaliar a dependência da concentração ra-se que o meio tenha capacidade de dissipar energia,
mássica do material polimérico (P) com a pressão e ou na forma de ruptura do suporte, ou de deformação
a temperatura: da massa polimérica. Admitindo-se que a capacidade
de dissipar energia dependa da quantidade de polímero
∂P  ∂P  ∂p  ∂P  ∂T agregado à partícula original, tem-se:
=  +  (3)
∂t  ∂p T ∂t  ∂T  p ∂t
= f (P ) ⋅ 4π ⋅ r 2 ∆r
dE d
(9)
dt
Contudo, admitindo-se que a variação de pressão
é dominada pelos efeitos da variação da densidade onde f(P) caracteriza a capacidade da partícula em
do material no interior da partícula, é razoável que o dissipar energia. Para a partícula original, f(P) repre-
segundo termo seja desprezado, chegando-se a: senta a resistência à tração ou compressão do supor-
te. Quando a partícula está repleta de polímero, f(P)
∂p  ∂p  ∂P
=  (4) assemelha-se à resistência ao impacto deste material,
∂t  ∂P T ∂t
pois é razoável supor que a massa polimérica tenha
capacidade muito maior de dissipar energia que o
que substituída na Equação (2), fornece a seguinte
suporte catalítico.
expressão para a taxa de geração de energia:
Sendo o meio incompressível (K muito grande),
dE  ∂p  ∂P (5) a estrutura isotrópica da partícula faz com que a ener-
= 4π ⋅ r 2 ⋅ ∆r ⋅  
dt  ∂P T ∂t gia seja dissipada na calota esférica de espessura R -
r, que circunda o ponto de acúmulo de energia (r), ou
Observa-se que: seja, onde está ocorrendo a quebra do suporte. A sa-
ber, R é o raio da partícula. Sendo assim, o total de
 ∂p 
  =K (6) energia dissipada nessa calota é dado por:
 ∂P T
R
dE d
= ∫ f (P ) ⋅ 4π ⋅ ξ 2 dξ (10)
é o módulo de compressão específico do material dt I r
polimérico. Por outro lado,
Cabe ressaltar que a Equação (9) representa a
∂P
= Rp (7) energia dissipada numa camada de espessura
∂t
infinitesimal, enquanto a Equação (10) fornece o to-

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tal de energia dissipada em toda a calota esférica que (15)


circunda o ponto de acúmulo de tensões.
Comparando-se as Equação (8) e (10), finalmente,
e admitindo-se que ∂p/∂r pode ser aproximado por
define-se um critério que identifica os diferentes ∆p/∆r e identificando K na expressão acima, tem-se:
mecanismos de fragmentação e permite fazer
inferências a respeito da evolução morfológica das (16)
partículas de polímero em crescimento.
a) Se
Por sua vez, ∆p pode ser associado à pressão
(11)
máxima pmax que o suporte pode resistir antes de se
quebrar (resistência à tração). Portanto,
a partícula fragmenta-se, mas se mantém íntegra. A
capacidade de dissipar energia na calota que circunda (17)
o ponto de acúmulo de tensões é maior que a taxa de
geração. Além disso, dependendo da comparação
entre a taxa local de geração de polímero (K.Rp) e a O termo ∂P/∂r indica a variação da concentração
capacidade local de dissipação de energia (f(P)), é interna de polímero ao longo da direção radial. Caso
possível identificar ainda duas situações distintas: ∂P/∂r seja nulo, deve-se aplicar uma aproximação de
a.1) Se segunda ordem:
(12)
(18)
a partícula fragmenta-se apenas localmente e a fren-
te de dissipação de energia não se propaga, pois a
taxa local de geração é menor que a capacidade local
de dissipação. O critério aqui definido permite a definição de
a.2) Se dois índices que completam a caracterização da frag-
mentação: o comprimento da frente de dissipação
(13)
(∆rd) e o índice de deformação (ID).
a frente de dissipação de energia propaga-se e ocorre Caso a taxa local de geração seja menor que a
a deformação da partícula, pois a taxa local de gera- capacidade local de dissipação, a frente de dissipa-
ção é maior que a taxa local de dissipação. A partícu- ção não se propaga, logo ∆rd é nulo. Caso contrário,
la como um todo, no entanto, mantém-se íntegra. ∆rd é calculado, considerando a igualdade da Equa-
b) Se ção (11). Para tal, basta substituir R por r+∆rd e re-
solver a equação resultante para ∆rd:
(14)
(19)

a partícula desintegra-se, pois a capacidade de dissi-


par energia na calota que circunda o ponto de acúmulo De forma análoga ao caso anterior, se a taxa lo-
de tensões é menor que a taxa de geração. Depen- cal de geração for menor que a capacidade local de
dendo da diferença relativa entre os termos, pode in- dissipação, não há deformação da partícula de
clusive aparecer finos no reator de polimerização. polímero, logo ID é nulo. Caso contrário, ID é calcu-
Portanto, esta análise evidencia que as caracte- lado tomando-se a razão entre a quantidade de ener-
rísticas do suporte, do polímero e as condições da gia gerada e a quantidade de energia dissipada:
reação de polimerização interagem fortemente, de-
terminando o momento da fragmentação e a (20)
morfologia das partículas de polímero produzidas.
Para que as equações acima sejam resolvidas, é
imprescindível que ∆r seja definido. Sabendo-se que:

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O Modelo Dinâmico de Pré-polimerização onde M é a concentração mássica de monômero como


função do tempo (t) e do raio (r); P é a concentração
As grandezas envolvidas no desenvolvimento mássica do polímero; S é a concentração mássica de
deste modelo, tais como r, Rp, P, e ∂P/∂r, são calcula- solvente; I é a concentração mássica de inerte; T é a
das resolvendo-se um modelo dinâmico[13] que des- temperatura; Rp é a taxa de polimerização; ∆Hp é o
creve a polimerização dentro da partícula de calor de polimerização; ρj é a densidade da espécie j
catalisador nos instantes iniciais da reação. Este mo- em consideração; Cp é a capacidade calorífica do
delo baseia-se no processo de reação com difusão, meio; Dj é a difusividade da espécie j em considera-
normalmente aceito para catálise heterogênea. O sis- ção; kM é o coeficiente de transferência de massa do
tema composto por um conjunto de equações dife- monômero no filme externo; kS é o coeficiente de
renciais parciais está apresentado a seguir: transferência de massa do solvente no filme externo;
ke é condutividade térmica da partícula; h é o coefi-
∂M 1 ∂  ∂M 
= 2 ⋅  DM ⋅ r 2 ⋅  − Rp (21) ciente de transferência de calor no filme externo; Mb
∂t r ∂r  ∂r 
é a concentração mássica de monômero no meio
reacional; Sb é a concentração mássica de solvente
∂P
= Rp (22) no meio reacional; I0 é a concentração mássica ini-
∂t
cial de inerte na partícula de catalisador; Tb é a tem-
peratura da reação; Tp0 é a temperatura inicial da
∂S 1 ∂  ∂S  partícula de catalisador; e R é o raio da partícula de
= ⋅  DS ⋅ r 2 ⋅  (23)
∂t r 2 ∂r  ∂r  catalisador.
Este sistema é reduzido a um conjunto de equa-
ções diferenciais ordinárias pela aplicação do méto-
∂T 1 ∂  ∂T 
ρ P ⋅CP ⋅ = ⋅ ke ⋅ r 2 ⋅  − ∆H p ⋅ R p (24) do da colocação ortogonal. Em seguida é executada a
∂t r 2 ∂r  ∂r 
integração numérica no tempo. Assim, a concentra-
ção interna de polímero é calculada ao longo da rea-
t = 0, ∀r : M =P=S =0 ção e usada para estimar o momento da fragmentação,
(25)
I = I 0 ; T = T pO que é considerado como o instante em que a concen-
tração de polímero torna-se igual à densidade espera-
da para o polímero nas condições de operação
∂M ∂S consideradas. Para este instante, também é calculado
t > 0, r = 0 : = =0
∂r ∂r o perfil de concentração ao longo do raio da partícula.
∂P Por outro lado, as grandezas pmax, f(P), K são
= Rp (26)
∂t r =0 características do suporte ou do polímero e podem
∂T ser obtidos na literatura[15] ou avaliados com o auxí-
=0
∂r lio de correlações termodinâmicas.

∂M Resultados e Discussão
r = R: DM ⋅ = kM ⋅ (Mb −M)
∂r
∂S O modelo do processo de fragmentação foi apli-
DS ⋅ = kS ⋅(Sb −S)
∂r (27) cado ao processo de pré-polimerização do propileno
∂P em fase gasosa definido em trabalho anterior[13]. A
= Rp
∂t r=R
cat
Tabela 1 apresenta as condições operacionais e as
∂T principais propriedades térmicas, físicas e de trans-
ke ⋅ = h(Tb −T)
∂r porte usadas nas simulações.
A fim de exemplificar a aplicação do modelo de
e a restrição termodinâmica: pré-polimerização, a Figura 1 apresenta curvas típicas
de concentração mássica de polímero, obtidas como
M P S I resultado das simulações. É importante ressaltar que
+ + + =1 (28)
ρM ρP ρS ρI os perfis de polimerização mostrados na Figura 1

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indicam que a fragmentação pode começar em qual-


quer parte da partícula do catalisador e não somente
na superfície, como normalmente aceito na literatu-
ra. A curva para Tb = 243 K atingiu a densidade espe-
rada para o polímero (0,905 g/cm3) no centro da
partícula. Já a curva para Tb = 403 K somente atingiu
a densidade esperada na superfície. Estes resultados
de simulação são suportados por dados experimen- Figura 1. Perfil de concentração mássica de polímero numa partícula
de catalisador com raio igual a 25 µm, no momento da fragmentação
tais obtidos por Pater et al.[4]. Estes autores mostra- para duas temperaturas de operação diferentes.
ram que o modelo de fragmentação normalmente
aceito, que assume quebra do suporte camada por Mais detalhes a respeito do perfil da concentração
camada da superfície para o centro da partícula[10] mássica de polímero podem ser verificadas em tra-
não é válido em certas condições. Portanto, o meca- balho anterior[13].
nismo camada por camada pode ser considerado como Além deste importante resultado, o modelo dinâ-
um caso particular do fenômeno de fragmentação. mico calcula as grandezas r, Rp, P, e ∂P/∂r nos ins-
Tabela 1. Condições operacionais, propriedades físicas, cinéticas, e de tantes iniciais da reação de pré-polimerização,
transporte para a pré-polimerização do propileno em fase gasosa. tornando possível a análise definida neste trabalho,
Proprie dade
que será exemplificado adiante.
A Tabela 2 apresenta os valores encontrados na
Mb (g/cm3) 0.042 literatura[15] para grandezas pmax, f(P), K, completando
Tb (K) 240-343 os dados necessários para utilização do critério dos
Tp0 (K) 240-343 mecanismos de fragmentação. Cabe ressaltar que foi
3
escolhida a sílica como suporte.
Sb (g/cm ) 0
Realizando diversas simulações variando-se a tem-
p (atm) 21 peratura de reação e o tamanho das partículas e apli-
ν (cm/s) 2 cando o critério dos mecanismos de fragmentação, foi
R (cm) 10-4-10-1
possível organizar os resultados, conforme está apre-
sentado na Tabela 3. Tint representa a temperatura limite
-∆Hp (cal/g) 590,5
do reator para a qual a partícula de um determinado
Cp (cal/g.K) 0,331 tamanho mantém-se íntegra, de acordo com a Equa-
E343 (kcal/gmol) 10 ção (12). Por sua vez, Tfrag representa a menor tempe-
ratura do reator para a qual a partícula desintegra-se,
kp (l cat/gmol sitio.s) 2640
levando-se em consideração a Equação (14). No inter-
C* (gmol sitio/l cat) 10-3 valo de temperatura entre Tint e Tfrag, a partícula com-
ke (cal/cm.s.K) 2,6 x10-4 porta-se com o estabelecido no critério da Equação
kf (cal/cm.s.K) 5 x 10-5 (13), ou seja, ocorre a deformação da partícula. Em
todos os casos a concentração mássica de monômero
(cal/cm2.s.K) 84,5
h
no reator foi considerada igual a 0,042 g/cm3.
km (cm/s) 0,65 De acordo com os resultados da Tabela 3, as par-
ρM (g/cm3) 0,042 tículas com raio igual a 1 e 10 µm não apresentaram
ρP (g/cm3) 0,905 Tfrag, ou seja, nas condições operacionais emprega-
das não correm o risco de desintegração. Para estes
µ M (cp) 0,01
2 Tabela 2. Propriedades mecânicas da sílica e do polipropileno.
DM (cm /s) 5 x 10-3
ε 0,4 Proprie dade

τ 4 ρmax (N/cm2) 50
2
Onde v é a velocidade do gás; E343 é a energia de ativação; kf é a f(P) (N/cm .s) 101,6
condutividade térmica do fluido; µM é a viscosidade do monômero; ε é a
K (N.cm/g) 3,8 x 105
porosidade; e τ é o fator de tortuosidade.

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dois tamanhos de partícula, a maior temperatura do


reator testada foi 423 K. Mesmo para esta tempera-
tura, as partículas continuariam apenas a se defor-
mar, sem a ocorrência da desintegração. Cabe lembrar
que os reatores de polimerização não operam neste
patamar de temperatura, pois é muito próximo da tem-
peratura de fusão do polipropileno. Além disso, obser-
Figura 2. Critério para determinação do mecanismo de fragmentação
va-se que as partículas com tamanho menor que em função da temperatura de reação e do tamanho da partícula de
100 µm têm Tfrag menor ou igual a 326 K. Sendo as- catalisador.
sim, pode-se dizer que é segura a operação do reator não devem ser empregados, a fim de evitar um
com esta faixa de tamanho de partículas. Por outro polimerização problemática, com a obtenção de fi-
lado, as partículas com tamanho acima de 500 µm nos no reator e provavelmente instabilidade térmica
podem oferecer sérios riscos à operação das plantas no reator de polimerização.
de polimerização. Isso porque, segundo os resulta- É importante salientar que a figura 2 não é a úni-
dos obtidos, as partículas se desintegram a partir de ca forma de apresentação do critério de controle
270 K, provavelmente levando à formação de finos e morfológico apresentado. Estruturas similares podem
instabilidade térmica no reator. ser construídas, por exemplo, a partir de variações da
Os dados da Tabela 3 estão apresentados também concentração de monômero no reator e de variações
na Figura 2. Esta figura sintetiza o critério desenvol- de concentração de catalisador suportado no interior
vido neste trabalho e permite uma consulta fácil a da partícula. Dessa forma, é possível fazer um proje-
respeito do mecanismo de fragmentação, definindo to consistente da partícula de catalisador, visando o
três regiões a saber: partícula íntegra, partícula de- adequado controle morfológico do polímero final.
formada e partícula desintegrada. Por exemplo, para
inferir a respeito do mecanismo de quebra, bastaria Conclusões
conhecer a distribuição do tamanho das partículas e
a temperatura de operação. Sendo a temperatura do Este trabalho propõe o desenvolvimento de uma
reator igual a 300 K e o tamanho médio das partícu- metodologia que permite avaliar a morfologia das
las de catalisador igual a 75 µm, consultando-se a partículas resultantes da pré-polimerização do
figura 2 verifica-se facilmente que a operação é se- catalisador suportado. A idéia central do método ba-
gura com a formação de partículas de polímero não seia-se na verificação da capacidade da partícula em
desintegradas. Por outro lado, a figura 2 mostra qual dissipar energia resultante do acúmulo de material
a faixa de temperatura e tamanho de partícula que em seu interior. O método necessita de grandezas que
são calculadas via solução numérica de um modelo
Tabela 3. Organização dos resultados das simulações segundo o critério
de fragmentação. dinâmico e os parâmetros necessários são obtidos na
literatura ou calculados com auxílio de correlações
Raio (µ m) Tint (K) Tfrag (K)
termodinâmicas.
1 243 — Espera-se que o critério aqui desenvolvido e sin-
10 243 — tetizado em gráficos, como o apresentado na Figura
2, seja de grande valia para a operação das plantas
25 243 398
industriais de produção de poliolefinas, devido a sua
50 243 359 grande simplicidade de utilização. Por outro lado,
75 243 338 espera-se que o método seja importante também para
100 243 326 ajudar a esclarecer o mecanismo da fragmentação nos
estágios iniciais da polimerização.
250 242 291
500 242 270
Agradecimentos
750 241 260
Os autores agradecem o CNPq – Conselho Naci-
1000 240 253
onal de Pesquisas e Desenvolvimento Tecnológico e

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Merquior, D. M. et al. - Modelagem de processo de polimerização

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