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Histórias de
Fantasmas
Paz
Robert Greenberger
Tradução
Rodrigo Santos
Copyright © 2012 by After Earth
Enterprises, LLC. Todos os direitos reservados. Utilizado sob autorização.
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Objetiva Ltda.
Rua Cosme Velho, 103
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Tel.: (21) 2199-7824 – Fax: (21) 2199-7825
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TÍTULO ORIGINAL
Peace
CAPA
Trio Studio sobre design original de Dreu Pennington-McNeil
IMAGEM DE CAPA
Stephen Youll
COORDENAÇÃO DE TRADUÇÃO
Reverb Localização
REVISÃO
Joana Milli
COORDENAÇÃO DE E-BOOK
Marcelo Xavier
CONVERSÃO PARA E-BOOK
Abreu’s System Ltda.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G83p
Greenberger, Robert
Paz [recurso eletrônico]: Depois da Terra: histórias de fantasmas / Robert
Greenberger;
[tradução Rodrigo Santos]. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Tradução de: Peace
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
33p. ISBN 978-85-8105-133-8 (recurso eletrônico)
1. Ficção americana 2. Livros eletrônicos. I. Santos, Rodrigo
II. Título. III. Série.
13-0340. CDD: 813
CDU: 821.111(73)-3
Sumário
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Sumário
Mas ele me bateu!
Quem fez isso?
Diaz saiu
Meses depois
Você o quê?
Um a um
Ser um guardião
Eu estou
A cada passo
As ruas estavam
Ao dobrarem
MESES DEPOIS,
logo depois do fim dos sofridos testes da Fase 2, Kevin
Diaz rolou para fora da cama, com cuidado para não acordar Katya,
que estava adormecida ao seu lado. Era o grande dia e ele não
conseguia dormir. Estava empolgado demais com a cerimônia.
Sentia o pulso acelerado ao pensar nos eventos do dia. Tomou um
banho rápido e inspecionou cuidadosamente cada centímetro de
seu uniforme de Guardião. Enquanto polia uma abotoadeira com um
pedaço de tecido, Katya, ainda vestida com a camisa dele, chegou
sonolenta na sala.
— Você vai me deixar cega com o brilho dessas coisas —
murmurou ela, enquanto procurava algo pra beber.
— Só estou ansioso.
— Sério? Nem percebi — comentou ela, antes de dar um grande
gole. Balançou a cabeça, mas seu cabelo curto se recusou a mexer.
O ar, normalmente seco, estava relativamente úmido, algo incomum
naquela época do ano. Ela sempre usava o cabelo curto, até mais
curto do que pedia o regulamento.
— Vamos lá, vá tomar banho que eu preparo o café da manhã —
ofereceu ele.
— Eu posso desembalar a minha própria barra de proteína, mas
muito obrigada.
— Bom, então se apresse. Hoje é o grande dia.
— Não brinca. Eu já sei. Hoje nos tornaremos Guardiões. O
general-comandante em pessoa fará o discurso, e pode até nos dar
um tapinha nas costas. Eu já sei. Nossos pais estarão lá para bater
palmas e tirar fotos. Nós comemoraremos, especialmente os dez
por cento que ficaram com a melhor colocação.
Diaz queria ser o número um, mas teve que se contentar em
estar entre os dez melhores. Ele passou facilmente pelo teste da
câmara e pelos testes físicos. Ganhara a aposta e Katya teve que ir
a um encontro formal e usar um vestido pela primeira vez na vida.
Desde então, eles estavam juntos.
Porém, ele fora punido por Velan pelo “uso de força excessiva” no
estande de tiro. Em vez de acertar os soldados Skrel holográficos
um a um, ele disparara demais e um pouco sem precisão. Ele se
lembrava da torrente de adrenalina, da emoção da aventura e de se
deixar levar pelo calor da batalha. Velan gritara com ele por deixar a
arma falar mais alto. Diaz quase gritou de volta, mas o treinamento
fez com que ele segurasse a língua no último instante. Mais tarde,
na mesma noite, Katya comentou, implicante, como Diaz tinha
ficado vermelho que nem beterraba, de tanta raiva, e jurou ter visto
ondas de calor emanando da sua cabeça.
Aquilo acabara lhe custando o primeiro lugar, mas seu
autocontrole permitiu que ele se tornasse um Guardião.
Diaz foi até o armário, pegou as barras de proteína que Katya
gostava, além de uma fruta vermelha redonda, e colocou tudo na
mesa. Os outros cadetes finalmente estavam acordando, o que
significava que haveria uma corrida para os chuveiros e para o
refeitório. Acordar cedo tinha seus benefícios.
Por outro lado, acordar cedo significava ter que esperar mais
tempo pelo começo da cerimônia, e ele nunca fora muito bom em
esperar. Apressou Katya para que tivessem tempo de caminhar pelo
pátio, e assim gastar um pouco do nervosismo. Além do calor
abafado, havia muita ansiedade no ar. Não só os amigos e a família
participavam da cerimônia, mas muitos dos moradores da região
também apareciam. Ser um Guardião era um grande prestígio. E
também significava que eles talvez pudessem conhecer Cypher
Raige, o primeiro-comandante, talvez a pessoa mais famosa de
Nova Prime.
Diaz e Katya caminharam pelo pátio vazio. Ninguém estava
usando os equipamentos, não havia nenhum treinador gritando com
recrutas. O ar estava parado e o calor crescia. Nova Prime acabou
se revelando mais quente do que todos esperavam. As construções
nas montanhas, em forma de colmeia, ofereciam alguma trégua.
Mas, no campo de treinamento, o sol era cruel e fazia o suor
escorrer.
— Meu uniforme vai ficar murcho — reclamou ele, enquanto se
aproximavam do grande palco onde o evento ocorreria em uma
hora.
— Velan vai lhe dar uma reprimenda — implicou ela.
— Você acha mesmo?
— Claro! E depois vai fazer você dar quinze voltas, cem flexões e
costurar à mão um novo uniforme — anunciou ela solenemente. —
Tudo isso antes da cerimônia.
— Você esqueceu a parte de disciplinar os formandos
insubordinados — corrigiu ele, puxando-a pela cintura para perto.
Cheirou o cabelo dela com prazer e ficou feliz. Ela o fazia se
concentrar de uma forma que sua criação nunca conseguira.
Os dois tinham flertado desde o início, e o romance pegou fogo
rapidamente. Apesar de a fraternização ser malvista entre os
Guardiões, os cadetes tinham um pouco mais de liberdade, já que
dependiam da ajuda mútua durante o treinamento e as provas.
Velan deixou claro que, se os dois se tornassem Guardiões, eles
nunca seriam designados para o mesmo local ou tarefa, para que
ficassem o mais afastados possível e se mantivessem concentrados
no trabalho. Se isso não os detivesse, então seria permitido que
casassem algum tempo mais tarde.
Diaz corou ao pensar em casamento. Droga, ele só tinha 16.
Tinha a vida toda pela frente.
— VOCÊ O QUÊ?
Diaz nem conseguia ter certeza se era seu pai ou sua mãe
falando. Ele estava voltando do recrutamento pelo Corpo de
Guardiões, naquele que considerava como o dia mais orgulhoso de
sua vida. Com entusiasmo, ele correu para casa, entrou no
apartamento e fez o anúncio antes mesmo de dizer oi.
Eles estavam lendo. Eles sempre estavam lendo histórias sobre o
passado na Terra, sobre soluções pacíficas para problemas difíceis,
como quando a população quase se amotinou na arca Asimov, até
eles terem a ideia de ressuscitar os jogos olímpicos, redirecionando
a energia do povo. Tudo que a família dele buscara todos esses
anos era a paz elegante. Bom, exceto Kevin, que estava estourando
com entusiasmo.
Marisa, sua mãe, caiu na cadeira com a boca aberta, sem
produzir som algum. Juan Carlos esfregou as mãos e as colocou no
bolso bruscamente.
— Eu quero ser um Guardião.
— Meu filho — começou ela, hesitante. — Nós sempre quisemos
o melhor para você... mas as tradições da nossa família...
— Mas as tradições da família não significam nada para mim —
gritou ele. — Nunca significaram!
— Olhe como fala! — rebateu Juan Carlos. Ele era um pouco
mais velho do que Marisa e tinha cabelos prateados. Tinha o físico
certo para uma briga, mas com uma personalidade incrivelmente
pacífica. — Kevin, você tem rejeitado os nossos costumes por anos.
Houve brigas, incidentes que pensamos que você fosse superar
com a idade. Você precisa encontrar a paz interior da sua família, a
tranquilidade espiritual que poderá guiá-lo por toda a vida.
— Isso nunca funcionou, pai! Eu me meto em brigas, eu discuto
com as pessoas. Esse sou eu!
— Mas nós não somos assim. A vida simples, sem complicações,
funcionou por várias gerações e nós prosperamos como família.
Veja Luis, um arquiteto de sucesso que nunca apareceu com o nariz
sangrando.
— Não desde aquela briga.
Luis era quatro anos mais velho; ele tornara-se aprendiz aos 15 e
vivia longe de casa. Os irmãos não tinham nada em comum e
raramente mantinham contato. Sempre que discutiam, Luis saia pela
porta para evitar o conflito. Como fora ensinado. Mas por algum
motivo, essas lições nunca alcançaram Kevin.
— Não desde aquela época — concordou o pai. — Mas desde
aquele dia, você passou a ignorar nossas lições. Você só tentava
usar a razão depois de ter dado o primeiro golpe. Isso o tornou uma
pessoa melhor?
— Eu ainda estou crescendo. Não sei que tipo de pessoa eu vou
ser. Mas eu sei que vou ser um Guardião.
Com um suspiro profundo, o pai falou:
— Eu não sei que tipo de pessoa você vai se tornar. Tenho
bastante certeza de que nesse momento não é o tipo que eu gosto,
e isso me magoa.
— Olha... mãe, pai, talvez ser um Guardião seja o melhor para
mim. Eles têm treinamento e vou ter chance de fazer coisas boas.
— Nós treinamos você aqui — comentou Marisa, apontando a
casa simples e arrumada. — Não parece ter funcionado. Por que
você acha que eles vão fazer um trabalho melhor?
— Eu não sei! — gritou ele. — Mas vocês sabem que isso é o
que eu sempre quis.
— E nós sempre fomos contra — completou Juan Carlos. —
Ainda assim, você nos desafiou e se inscreveu.
— Eu não vou desistir — afirmou ele, rilhando os dentes para não
chorar.
— Ele se inscreve na primeira oportunidade que tem e espera o
nosso apoio — disse Marisa ao marido, com os olhos cheios d’água.
— Eu não vou impedi-lo — respondeu Juan Carlos. — Ele tomou
uma decisão e agora terá que viver com as consequências. Nós
também ensinamos isso a ele. Mas Kevin, nós não podemos apoiá-
lo nisso.
— Eu sei, pai. Mas eu quero que vocês tenham orgulho de mim.
— Eu não creio que isso seja possível — respondeu o pai, em
voz baixa.