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Leonardo Clément

ATENDIMENTO AO TRAUMA NO APH


As Últimas Novidades
Sobre o Autor + Mensagem aos Leitores
Olá, prazer, sou Leonardo Clément, médico formado pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP),
diretor médico do Instituto Brasileiro de Atendimento Pré-Hospitalar (IBRAPH), idealizador e cofundador do
programa de capacitação Suporte ao Trauma no APH (STAPH) ao lado do enfermeiro e mestre Wesley Pinto.

Toda minha atuação profissional como médico está voltada para o Atendimento Pré-Hospitalar (APH) e tenho
atuado nesses anos de formado em diferentes ambientes dentro do APH:
• APH em ambiente aeroportuário
• APH em rodovias
• APH em indústrias
• SAMU

Todo esse material foi elaborado com muita dedicação e atenção aos
mínimos detalhes.

Espero que seja valioso para você e que contribua um pouco mais
com os seus conhecimentos de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) e
mais especificamente de atendimento aos pacientes vítimas de
trauma no APH.

Atenciosamente,
Leonardo Clément
Apresentação Geral
Esse livro foi escrito tendo como base o artigo de revisão “Inicial Care of the Severely Injured Patient”,
publicado em 2019 na revista científica “The New England Journal of Medicina”.

Utilizamos as fontes citadas nesse artigo para construir o raciocínio e conteúdo disponibilizado nesse material.

Agradeço ao enfermeiro Wesley Pinto, por ter me apresentado a esse excelente material assim como pelos tantos
outros que costuma compartilhar comigo.

Aqui vamos apresentar as principais novidades e conceitos atuais de atendimento ao trauma com foco no APH.

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1609326
Um Pouco de Filosofia

Todos nós temos um problema:


A DEPENDÊNCIA
Diante disso temos uma meta:
A INDEPENDÊNCIA
Mas essa não é a solução... O Solução é:

A INTERDEPENDÊNCIA

Napoleon Hill
A Interdependência
Introdução
Grandes e rápidos avanços no atendimento ao trauma estão associados a épocas de guerra.
As inovações são importantes para esse avanços assim como a análise científica com metodologia
adequada para verificação da eficácia e efetividade das inovações propostas.
Recomendo a leitura do blog do prof. e Dr. Luis Claudio Correia para saber mais sobre como ler criticamente
artigos científicos: www.medicinabeadaemevidencias.blogspot.com.br
Nos EUA, mortes por trauma ocupam o primeiro lugar em indivíduos entre 1 e 44 anos.
As Principais Inovações no Trauma
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1609326

Tipos de intervenções
no trauma:

- Mecânicas
(Ex. Torniquetes)
- Farmacológicas
(Ex. Agentes fibrinolíticos)
- Filosóficas ou Estratégicas
(Ex. Cirurgia de controle de
danos precoce, RMC, PCR no
Trauma)
Caso
Local da Ocorrência

Cidade 1: USB APH

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – SANGRAMENTO EM MIE CONTIDO POR
TORNIQUETE + DUAS PERFURAÇÕES EM
REGIÃO TÓRACO ABDOMINAL (PULSO
PERIFÉRICOS TAQUICARDICOS + FILIFORMES
Cidade 1: USB APH + PELE FRIA E PEGAJOSA + TEC > 3S

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


TORNIQUETES
Uso de Torniquetes no APH
No início das guerras contra o terrorismo...
a taxa de mortalidade devida a hemorragias graves de
membros e ferimentos juncionais era...
...extremamente elevada.

Apesar de já existirem recomendações militares para uso de


torniquetes no campo de batalha em caso de hemorragias de
extremidades ameaçadoras à vida desde de 1996.

O uso de torniquetes improvisados se tornou comum,


embora em grande parte ineficazes.

Os combatentes começaram a perceber a necessidade de um melhor controle das hemorragias graves de


membros na cena, foi então que dispositivos comerciais para controle dessas hemorragias para a ser
padronizados no campo de batalha, associados a treinamentos para uso dos mesmos.

Essas mudanças resultaram em...


reduções comprovadas das mortes
por sangramentos graves de extremidades
Uso de Torniquetes no APH
As guerras anteriores viram os...
...torniquetes caírem em desuso
devido aos tempos prorrogados para evacuação dos feridos do
campo de batalha e consequente perda de membros devido à
isquemia.

Nos conflitos atuais, os tempos de evacuação reduziram


bastante, e hoje em dia a...
...perda de membros devido à isquemia por
tempo prolongado de torniquetes é rara.

Curativos hemostáticos avançados também


foram introduzidos para controle de sangramentos
graves juncionais e de extremidades.
Esses avanços, entre outros, foram descritos no
Tactical Combat Causalty Care Guidelines.

Torniquetes comerciais associados à treinamentos adequados para uso dos mesmos,


passaram a ser popularizados para as lesões do dia a dia no meio civil ,
estimulado em parte por eventos com vítimas em massa, no exemplo na maratona de Boston.
Uso de Torniquetes no APH
Esses eventos acenderam um sinal de alerta para a necessidade urgente de um controle agressivo das
hemorragias de extremidades e resultou na criação de Consensus de Hartford e da...
...campanha Stop the Bleed.
O uso de torniquetes comerciais para controle de hemorragias graves ainda não foi protocolado em muitos
serviços de primeiros socorros e de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) em diversos locais do mundo.

Porém, as evidências científicas indicam que...


...TODOS os socorristas DEVEM ADOTAR essa estratégia...
...agressiva para controle das hemorragias no local na ocorrência, quando tiver indicação.

Uma vez que o torniquete é colocado no APH em ambiente civil, o mesmo DEVE FICAR POSICIONADO ATÉ
que possa ser retirado com segurança em ambiente hospitalar com suporte cirúrgico.
Epidemiologia das Lesões no Campo de Batalha
Epidemiologia das Lesões no Campo de Batalha
Torniquete Recomendado desde 1996

FASE 1
Torniquete Recomendado desde 1996
FASE 2 FASE 3
Uso de Torniquetes Comerciais no Campo - 2009
Uso de Torniquetes Comerciais no Campo - 2009
Curativos Hemostáticos Tópicos Avançados

https://www.researchgate.net/publication/267743873_Management_of_External_Hemorrhage_in_Tactical_Combat_Casualty_Care_Chitosan-Based_Hemostatic_Gauze_Dressings_-_TCCC_Guidelines-Change_13-05
Consensus de Hartford - 2013

https://www.east.org/content/documents/44_hartfordconf_1.pdf
Campanha STOP the Bleed

LINK PARA DOWNLOAD


Campanha STOP the Bleed
Todos DEVEM Adotar Essa Estratégia - 2014
Todos DEVEM Adotar Essa Estratégia - 2014

LINK PARA DOWNLOAD


Popularização dos Torniquetes no Meio Civil - 2015

https://dev-journals2013.lww.com/jtrauma/Abstract/2015/03000/Tourniquet_use_at_the_Boston_Marathon_bombing__.20.aspx#pdf-link
Popularização dos Torniquetes no Meio Civil - 2015

https://dev-journals2013.lww.com/jtrauma/Abstract/2015/03000/Tourniquet_use_at_the_Boston_Marathon_bombing__.20.aspx#pdf-link
Popularização dos Torniquetes no Meio Civil - 2015

https://dev-journals2013.lww.com/jtrauma/Abstract/2015/03000/Tourniquet_use_at_the_Boston_Marathon_bombing__.20.aspx#pdf-link
Como Usar o Torniquete
Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência CONTIDA COM TORNIQUETE
A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS –
SATO2 98% EM MÁSCARA NÃO
REINALANTE
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – DUAS PERFURAÇÕES EM REGIÃO
Cidade 1: USB APH TÓRACO ABDOMINAL (PULSO PERIFÉRICOS
TAQUICARDICOS + FILIFORMES + PELE FRIA E
PEGAJOSA + TEC > 3S + PA: 70X40 MMHG
D – GLASGOW 14

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


TERAPIA ANTIFIBRINOLÍTICA
Uso de Fibrinolítico no APH
Apesar de que a coagulopatia do trauma ainda não está completamente
entendida, nos sabemos que um dos componentes da mesma é uma...
...HIPERFIBRINÓLISE MALIGNA.

A fibrinólise é um processo intravascular normal que mantém um equilíbrio com


a trombose.

Após lesões graves, o estado hiperfibrinolítico se desenvolve em alguns pacientes,


no qual o trombo é degradado de forma endógena mais rápido do que é
sintetizado.

Essa alteração pode exacerbar a perda


sanguínea e contribuir para a morte.
O ÁCIDO TRANEXÂMICO (Transamin ®), é um droga antifibrinolítica
que foi usada por décadas no tratamento de hemorragias pós parto.

Porém, sua utilidade no tratamento ou prevenção de hiperfibrinólise nos


pacientes de trauma não foi reconhecida até poucos anos atrás.
Uso de Fibrinolítico no APH

Tratamento com Ácido Tranexâmico:


1g EV em 10 minutos
Seguido por:
1g EV infundido em 8h
A primeira dose deve ser administrada dentro das 3 primeiras horas após a lesão.
Após esse tempo, o risco de morte pode aumentar.

Esse tratamento foi adotado como rotina no campo de batalha e tem ganhado aceitação nos EUA e em outros
locais do mundo.

Seu custo quando comparado com muitas outras intervenções no trauma, é mínimo.

Quando mais cedo é administrado após a lesão, melhores são as taxas de mortalidade.
Uso de Fibrinolítico no APH

O uso do ÁCIDO TRENAXÂMICO, deve ser incorporado nos protocolos de transfusão maciça.

Nem todos os pacientes de trauma se beneficiam com o seu uso...


...particularmente, os pacientes que tiveram uma suspeita inicial de hemorragia maciça, porém não confirmada
após uma investigação mais aprofundada.

Entretanto...
...nenhum dano ou malefício foi atribuído para o seu uso universal...
como intervenção inicial para pacientes com suspeita de hemorragia grave.

Apesar de não ser uma intervenção antifibrinolítica direta, a...

administração de plasma...
...durante o transporte para o hospital, potencializa a coagulação e...

...reduz a mortalidade geral.


Coagulopatia no Trauma - 2012
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22766227
Coagulopatia no Trauma - 2012

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22766227
Ac. Tranexâmico em Hemorragias Pós Parto - 2012

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22766227
Reconhecimento para Uso no Trauma Recente - 2013

LINK PARA DOWNLOAD


Reconhecimento para Uso no Trauma Recente - 2013
Reconhecimento para Uso no Trauma Recente - 2013
Quanto Mais Cedo For Usado, Melhor... 2017

LINK PARA DOWNLOAD


Quanto Mais Cedo For Usado, Melhor... 2017
Seu Uso Universal Não Traz Malefícios - 2017

Seu Uso Universal Não Traz Malefícios...


Uso de Plasma Durante o Transporte - 2018

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1802345
Uso de Plasma Durante o Transporte - 2018

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1802345
Uso de Plasma Durante o Transporte - 2018

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1802345
Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência CONTIDA COM TORNIQUETE
A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS –
SATO2 98% EM MÁSCARA NÃO
REINALANTE
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – SANGRAMENTO EM MIE CONTIDO POR
Cidade 1: USB APH TORNIQUETE + DUAS PERFURAÇÕES EM
REGIÃO TÓRACO ABDOMINAL (PULSO
PERIFÉRICOS TAQUICARDICOS + FILIFORMES
+ PELE FRIA E PEGAJOSA + TEC > 3S + PA:
70X40 MMHG + INÍCIO DE REPOSIÇÃO
VOLÊMICA COM CRISTALÓIDE
D – GLASGOW 14

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


HIPOTENSÃO PERMISSIVA
Hipotensão Permissiva no APH
1 século atrás, Walter Cannon declarou que:
“perdas sanguíneas oriundas de fontes inacessíveis ou
incontroláveis não deveriam ser tratadas com fluidos até a
momento do controle cirúrgico da hemorragia”.

Foram necessários...
mais 76 anos para comprovar cientificamente
essa declaração...
em um estudo executado com bastante cuidado.

Infelizmente, essa estratégia, hoje conhecida como


“hipotensão permissiva”...
...demorou de ser difundida como conduta de rotina.
Durante a maior parte do século XX, o princípio de permitir
que os pacientes de trauma permanecessem hipotensos até
o controle cirúrgico da hemorragia foi violado com o uso de
soluções cristaloides. Walter Cannon

A prática comum de administrar 2 litros de cristaloides nos


pacientes de trauma hipotensos, piora a coagulopatia e a
acidose e deve ser abandonada.
Hipotensão Permissiva no APH

Pacientesnormotensos não devem receber


fluidos de ressuscitação enquanto...
...os
pacientes hipotensos devem receber fluidos de
ressuscitação por meta até atingir uma PA sistólica
de aproximadamente 80 mmHg.

A partir daí reposição deve ser efetuada em...

...pequenos bolus de 250 a 500 ml de sangue ou plasma afim de manter a PA


sistólica entre 80 e 90 mmHg.
O uso e aceitação da hipotensão permissiva têm se espalhado após as guerras no oriente médio.
Essa recomendação, além de ser segura, também (PARECE) aumentar a sobrevida dos pacientes tanto com trauma
penetrante quanto com trauma contuso.

Os limites seguros da hipotensão permissiva são desconhecidos, porém a administração de grandes volumes de fluidos EV
antes do controle cirúrgico das hemorragias é perigosa e não deve ser realizada, exceto em caso de:

Traumatismo Crânio Encefálico (TCE)


76 anos Depois... 1994

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7935634
76 anos Depois... NEJM - 1994

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7935634
Guideline para Ressucitação Volêmica no APH - 2009

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19667896
Devemos Pegar um Acesso no APH?

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19667896
Onde e Como Pegar o Acesso?

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19667896
Devemos Fazer Reposição Volêmica?

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19667896
Qual Solução Devemos Usar?

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19667896
Qual Volume Devemos Infundir?

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19667896
Revisão Cochrane - 2014

https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD002245.pub2/full
Revisão Eur J Trauma Emerg Surg - 2018
Revisão Eur J Trauma Emerg Surg - 2018
Revisão Scand J Trauma - 2018

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6296142/
Revisão Scand J Trauma - 2018

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6296142/
Revisão Scand J Trauma - 2018

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6296142/
Revisão Scand J Trauma - 2018

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6296142/
Hipotensão Permissiva no TCE
https://traumarummet.files.wordpress.com/2016/12/mortality-and-prehospital-
blood-pressure-in-patients-with-major-traumatic-brain-injury.pdf
Hipotensão Permissiva no TCE

https://traumarummet.files.wordpress.com/2016/12/mortality-and-prehospital-blood-pressure-in-patients-with-major-traumatic-brain-injury.pdf
Hipotensão Permissiva no TCE

https://traumarummet.files.wordpress.com/2016/12/mortality-and-prehospital-blood-pressure-in-patients-with-major-traumatic-brain-injury.pdf
Hipotensão Permissiva no TCE

https://traumarummet.files.wordpress.com/2016/12/mortality-and-prehospital-blood-pressure-in-patients-with-major-traumatic-brain-injury.pdf
Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência CONTIDA COM TORNIQUETE
A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS –
SATO2 98% EM MÁSCARA NÃO
REINALANTE
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – SANGRAMENTO EM MIE CONTIDO POR
Cidade 1: USB APH TORNIQUETE + DUAS PERFURAÇÕES EM
REGIÃO TÓRACO ABDOMINAL (PULSO
PERIFÉRICOS TAQUICARDICOS + FILIFORMES
+ PELE FRIA E PEGAJOSA + TEC > 3S + PA:
80X50 MMHG
D – GLASGOW 15

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

? Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


HORA DE OURO
“A Hora de Ouro”
Durante a primeira guerra mundial, os franceses fizeram a primeira
publicação científica relacionada ao tempo de tratamento do choque
após a lesão.

Trabalho intitulado:
“Du Shock Traumatique dans les Blessures de Guerre: Analyses
d’Observation”.

Embora a taxa de mortalidade não tenha comprovação


científica que aumente abruptamente aos 60 minutos após a
lesão...

...o reconhecimento de que a intervenção deveria acontecer


precocemente, ajudou no desenvolvimento dos serviços médicos de
emergência Adams Cowley
https://en.wikipedia.org/wiki/R_Adams_Cowley

O conceito “A Hora de Ouro” resumiu essa abordagem para os formuladores de


política, embora desconsidere a realidade de que...
....A MAIORIA DAS MORTES POR HEMORRAGIA DE TRONCO,
OCORRE NOS PRIMEIROS 30 MIN após a lesão.
“A Hora de Ouro”

Dados recentes das guerras no Iraque e no Afeganistão sugerem que...


...a sobrevida no campo de batalha após a lesão está intimamente relacionada com o
intervalo entre a lesão e a evacuação para a intervenção cirúrgica de primeiro grau...
(Cirurgia de controle de danos).

Isso levou o departamento de defesa americano a estabelecer uma determinação para que a

evacuação de todas as ocorrência no campo sejam realizadas de helicóptero e dentro de...


....no máximo 60 minutos após a lesão.
Essa medida foi recompensada em termo de vidas salvas.
O entendimento atual do papel do tempo de atendimento no trauma permanece primordial, já que...
...o intervalo entre o momento da lesão e a intervenção cirúrgica
influencia diretamente nos desfechos tanto dentro quando fora do
campo de batalha.
“A Hora de Ouro”
Intervenção cirúrgica não deve ser confundida com triagem e ressuscitação.

A ressuscitação não é um substituto do controle de hemorragias. Temos que ter cuidado quando as medidas de
ressuscitação são realizada sem um plano ou uma previsão para controle cirúrgico da hemorragia.

A proposta principal da conceito “HORA DE OURO”, consiste em direcionar todos os esforços em direção a um
controle precoce da hemorragia, incluindo os demais cuidados iniciais, tais como...
...TRIAGEM, EVACUAÇÃO RÁPIDA e RESSUSCITAÇÃO.
“A Hora de Ouro”
Outros sistemas de trauma, tais
como o europeu ou o australiano,
contemplam o conceito de
hora de ouro colocando
médicos ou outros
profissionais de suporte
avançado no ambiente pré-
hospitalar para facilitar as
manobras para controle de
hemorragia precoce.

Desde do primeiro momento após a


lesão, nosso foco e todo no
esforço deve estar voltado
para o controle cirúrgico
precoce da hemorragia.
https://www.youtube.com/watch?v=VII_9-aRYgM&t=1537s
Todas as demais medidas adotadas
servem para contemplar esse
objetivo principal.
Fato Científico ou Lenda “Médica” Urbana?

http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.472.6423&rep=rep1&type=pdf
Mortes por Hemorragia de Tronco, Antes dos 30’

https://emsfellowship.com/wp-content/uploads/2018/12/LTOWB20.pdf
Mortes por Hemorragia de Tronco, Antes dos 30’

https://emsfellowship.com/wp-content/uploads/2018/12/LTOWB20.pdf
Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência CONTIDA COM TORNIQUETE
A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS –
SATO2 98% EM MÁSCARA NÃO
REINALANTE
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – SANGRAMENTO EM MIE CONTIDO POR
Cidade 1: USB APH TORNIQUETE + DUAS PERFURAÇÕES EM
REGIÃO TÓRACO ABDOMINAL (PULSO
PERIFÉRICOS TAQUICARDICOS + FILIFORMES
+ PELE FRIA E PEGAJOSA + TEC > 3S + PA:
80X50 MMHG
D – GLASGOW 15

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

? Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência CONTIDA COM TORNIQUETE
A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS –
SATO2 98% EM MÁSCARA NÃO
REINALANTE
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – SANGRAMENTO EM MIE CONTIDO POR
Cidade 1: USB APH TORNIQUETE + DUAS PERFURAÇÕES EM
REGIÃO TÓRACO ABDOMINAL (PULSO
PERIFÉRICOS TAQUICARDICOS + FILIFORMES
+ PELE FRIA E PEGAJOSA + TEC > 3S + PA:
80X50 MMHG
D – GLASGOW 15

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


USG FAST NO TRAUMA
USG FAST no Trauma
POCUS – Point-of-care ultrasound

F – FOCUSED
A – ABDOMINAL
S – SONOGRAPHY
T – TRAUMA

Exame ultrassonográfico do abdome e pericárdio.


É tão essencial quanto a aferição dos dados vitais na triagem inicial e na tomada de decisão cirúrgica,
principalmente nos pacientes vítima de trauma que estão apresentando hipotensão.

O exame, poucos minutos após a chegada no hospital, ou até mesmo no APH, é conduta padrão nos EUA, países
da Europa, Austrália, Japão e muitos outros países desenvolvidos.

O FAST estendido (E-FAST), que inclui uma...


...avaliação adicional de espaço pleural bilateral, é especialmente útil, particularmente nos casos que o
raio-x de tórax precisa ser postergado.
USG FAST no Trauma
O FAST permite a detecção e semi-quantificação
de hemorragia intra-abdominal, a qual pode
indicar a necessidade de uma intervenção cirúrgica e a
detecção de hemopericárdio (uma emergência
cirúrgica), tanto quanto hemotórax e
pneumotórax.
O FAST pode ser realizado rapidamente a beira do leito
dentro de poucos minutos após a chegada do paciente no
hospital.

A identificação precoce dessas condições permite ao


profissional assistente de intervir imediatamente, ou iniciar os
preparativos para tais intervenções como manobras de controle de hemorragia, como
uma laparotomia ou toracotomia, sem a necessidade de estudos radiográficos ou
laboratoriais.
USG FAST no Trauma

Pacientes vítimas de trauma com hipotensão não devem perder tempo indo para
Tomografia Computadorizada (TC), e essa armadilha comum pode ser evitada pela avaliação com
FAST à beira do leito.

Outra armadilha é o...


...resultado falso negativo na avaliação com FAST, que pode ocorrer mesmo quando o FAST é
realizado por profissionais experientes.

Se o paciente aparenta ter uma hemorragia interna não compressível, abdominal ou torácica,
apesar do resultado negativo no FAST, o profissional assistente deve suspeitar de falso negativo e...
...proceder a outros métodos diagnósticos como a TC, DRENAGEM TORÁRICA BILATERAL
ou a depender do caso, LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA.
ABCDE do FAST no APH - 2018

A – IOT e posicionamento do tubo


B – Pneumotórax; Hemotórax; Ruptura Diafragmática,
Posicionamento de tudo gástrico
C – PCR, Hemoperitônio,
D – AVC
E – Fraturas, Corpo estranho,
Revisão Cochrane 2018
REBOA
Resuscitative Endovascular Balloon Occlusion of The Aorta (REBOA)

Controle de hemorragias internas não


compressíveis abaixo do diafragma.
Indicação: paciente hemodinamicamente instáveis,
sem evidência de hemorragia torácica e que não está
em PCR.

Técnica menos invasiva que a toracotomia e


clampeamento aórtico.

O REBOA é posicionado através de um acesso


percutâneo ou aberto na artéria femoral, comumente
ainda durante o atendimento inicial.

O balão pode ser posicionado na Zona I: proximal


ao hiato aórtico diafragmático para controle
temporário de hemorragias exsanguinantes
infradiafragmáticas uma vez que hemorragias supra-
diafragmáticas foram descartadas.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1609326
Resuscitative Endovascular Balloon Occlusion of The Aorta (REBOA)

Alternativamente, o balão pode ser colocada na


zona III para controle de hemorragia pélvica
maciça ou juncional uma vez que hemorragias supra
diafragmáticas ou intra-abdominais foram
descartadas.

Descartar sempre possíveis hemorragias proximais


ao posicionamento do balão. Pelo aumento da
pressão causado pelo balão, uma hemorragia
proximal poderia ser agravada e acelerar a morte do
paciente.

Possíveis métodos usados para afastar essas


hemorragias: USG; Radiografia de tórax e pelve;
drenagem torácica diagnóstica; aspiração ou lavagem
peritoneal diagnóstica.

A tempo de uso do REBOA deve-se limitar a 30 min


devido ao risco de isquemia dos órgãos intra-
abdominais, mas idealmente essa oclusão deve ser a
mais curta possível. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1609326
Resuscitative Endovascular Balloon Occlusion of The Aorta (REBOA)

O REBOA pode beneficiar o subgrupo de pacientes mais graves e com


sangramentos internos infra diafragmáticos mais importantes.

Os riscos do uso do REBOA são:


Isquemia visceral total; perda de membros inferiores; exacerbação de uma lesão encefálica
traumática; isquemia de medula espinhal; aumento de sangramento proximal.

Essa técnica já é
usada em alguns
centros de trauma
especializados e
ainda merece
muita atenção e
mais pesquisas.

https://www.youtube.com/watch?v=Ft2PIgBdXj8
20 Anos de Experiências em Centro de Trauma Nível 1 - 2018

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29298239
REBOA com Alternativa à Toracotomia - 2015
REBOA com Alternativa à Toracotomia - 2015
REBOA com Alternativa à Toracotomia - 2015
Caso
X – HEMORRAGIA EM COXA ESQUERDA
Local da Ocorrência CONTIDA COM TORNIQUETE
A – VIAS AÉREAS PÉRVIAS –
SATO2 98% EM MÁSCARA NÃO
REINALANTE
B – TAQUIPNEIA (FR: 24 IPM)
C – SANGRAMENTO EM MIE CONTIDO POR
Cidade 1: USB APH TORNIQUETE + DUAS PERFURAÇÕES EM
REGIÃO TÓRACO ABDOMINAL (PULSO
PERIFÉRICOS TAQUICARDICOS + FILIFORMES
+ PELE FRIA E PEGAJOSA + TEC > 3S + PA:
80X50 MMHG
D – GLASGOW 15

Cidade 2: USA APH +


HOSPITAL COM CENTRO CIRÚRGICO

Cidade 3: CENTRO DE TRAUMA


TRANSFUSÃO MACIÇA
Protocolo de Hemotransfusão Maciça
Pacientes que sangram precisam de sangue.
Sangue total ou substitutos que se aproximem do sangue
total, devem ser usados na ressuscitação volêmica, associado
a manobras de controle das hemorragias.

alta
Um protocolo organizado de transfusão maciça, com
taxa de proporção de concentrados de
hemácias em relação ao plasma (1:1), mostrou
melhorar os resultados no campo de batalha, e foi
posteriormente adotado de forma mais ampla.

Os estudos que compararam as proporções 1:1 e 1:2, não


encontram diferenças entre os grupos.

Transfusão sanguínea maciça:


≥ 10u em 24h; ≥6u em 12h; ≥5u em 4h
Essa abordagem deve ser adotada por estabelecimentos que
recebem pacientes de trauma.
Protocolo de Hemotransfusão Maciça
Produtos derivados de sangue devem ser refrigerados para armazenamento e
aquecidos à temperatura corporal por um dispositivo de aquecimento de fluidos para uso
durante a ressuscitação.
Esse é um ponto importante, porque a transfusão de derivados sanguíneos frios nos pacientes
vítima de trauma e com hemorragia, irão contribuir com a hipotermia iatrogênica e
coagulopatia.

A taxa de administração deve ser proporcional ao grau do choque e deve


seguir os princípios de hipotensão permissiva.
Derivados sanguíneos devem ser administrados na maior taxa possível (frequentemente até 500 ml/min) e
obedecendo os princípios de ressuscitação hipotensiva, com uma meta de pressão sistólica de 80 mmHg
durante a cirurgia de controle de danos.

Entretanto, a ressuscitação NÃO é uma substituta ao controle da hemorragia.


Se a ressuscitação foi iniciada, as manobras de controle de hemorragia, incluindo cirurgia de controle de
danos se indicada, devem ser iniciadas simultaneamente.
Dispositivo Qinflow

http://qinflow.com/
Dispositivo Qinflow

http://qinflow.com/
Enfermeiro Davi – SAMU Maiorca
Aumento de Sobrevida - 2011

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21814099
Aumento de Sobrevida - 2011

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21814099
Aumento de Sobrevida - 2011

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21814099
CIRURGIA DE CONTROLE DE DANOS
Cirurgia de Controle de Danos
Trata-se de uma...
...estratégia pra controle de hemorragias graves.
Essa abordagem consiste numa intervenção cirúrgica inicial e envolve deixar o abdome com alguma técnica de
fechamento temporário e postergar manobras cirúrgicas definitivas e reconstruções para abordagens
subsequentes.
Aumenta a sobrevida dos pacientes com as lesões mais graves e com os maiores volumes de sangue perdido.
Alguns pacientes devem ser submetidos a múltiplas cirurgias por um período de vários dias para evitar os danos
fisiológicos causados por uma cirurgia mais prolongada com extensa perda de sangue.

Entre os diferentes estágios cirúrgicos, os pacientes são internados em UTI, onde são manejados
cuidadosamente com atenção na ressuscitação, resolução da acidose, mantendo a normotermia e
eliminação da coagulopatia.

Muitas vezes ficam sedados e sob ventilação mecânica.

Essa abordagem já era rotina no início do século XX, e foi ressuscitada e batizada como...

... cirurgia de controle de danos em 1993.


Ganhou força após as guerras modernas e...
...tem sido adotada em por centros de trauma em muitos países...
...principalmente nos países com mais desenvolvidos e que possuem os recursos médicos adequados para tal.
Cirurgia de Controle de Danos

Hoje em dia á cirurgia de controle de danos...

...é reconhecida como o tratamento padrão...


...para os pacientes mais graves que necessitam de cirurgia para controle de hemorragias graves.

Essa medida atua diretamente no ciclo vicioso da HIPOTERMIA, ACIDOSE e COAGULOPATIA.

A primeira cirurgia subsequente, deve ser realizada dentro de 24h após realização da cirurgia de
controle de danos.

Cada cirurgia subsequente, quando necessária, deverá também ser realizada dentro de 24h após a cirurgia
anterior com o objetivo de...
...aumentar as chances de fechamento primário da fáscia.

Tentativas cirúrgicas de fechamento primário da fáscia devem ocorrer todos os dias,


já que o exame a beira leito não tem valor preditivo para fechamento da fáscia.
Cirurgia de Controle de Danos

Além disso, o uso de dispositivo a vácuo para fechamento abdominal temporário e


o uso precoce de bloqueador neuromuscular aumentam as taxas de
fechamento primário da fáscia, portanto devem ser considerados caso não haja
contraindicação.

A indicação de cirurgia de
controle de danos deve ser
criteriosa já que cirurgias repetidas
aumentam a morbidade dos
pacientes com lesões de gravidade moderada.
Histórico da Técnica – Nome Atual 1993

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8371295
24h até a Próxima Cirurgia - 2014

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24962190
24h até a Próxima Cirurgia - 2014

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24962190
Indicação de Cirurgia de Controle de Danos - 2016

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26151522
Indicação de Cirurgia de Controle de Danos - 2016

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26151522
Indicação de Cirurgia de Controle de Danos - 2016

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26151522
RESTRIÇÃO DE MOVIMENTOS DA COLUNA
PCR NO TRAUMA
AVANÇOS ADICIONAIS
Avanços Adicionais

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1609326
Um Pouco de Filosofia

Todos nós temos um problema:


A DEPENDÊNCIA
Diante disso temos uma meta:
A INDEPENDÊNCIA
Mas essa não é a solução... O Solução é:

A INTERDEPENDÊNCIA

Napoleon Hill

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