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NECESSIDADES A SATISFAZER

Quando tentamos determinar qual o equipamento que devemos levar numa actividade de
pedestrianismo ou de montanhismo, a primeira questão que devemos formular é: quais as
necessidades básicas que este deve satisfazer? A generalidade dos autores coincidem em
quatro necessidades básicas: (1) vestuário (e calçado) apropriado às condições climatéricas; (2)
água em boas condições; (3) comida apetitosa e nutritiva; (4) um refúgio, preferencialmente
cómodo, para abrigo e dormida. De forma simples: vestuário, água, alimentos e abrigo. Estas
necessidades devem ser sempre consideradas prioritárias aquando da preparação do que levar
para uma actividade.
Este conjunto de necessidades é, porém, bastante minimalista tendo em conta, desde logo, que
para carregar o material, de modo a fazer face às ditas, é preciso equipamento de transporte
(uma mochila ou outra solução igualmente adequada). Sem dúvida, mas essa constatação não
invalida a prioritária importância das quatro necessidades elencadas. De resto, ninguém morre
por falta de uma mochila, mas por privação de qualquer uma das quatro necessidades
identificadas será apenas uma questão de tempo.
É fundamental deixar claro que não devem ocorrer quaisquer flexibilizações ou facilitismos no
tocante à satisfação de todas essas quatro necessidades. Poder-se-á pensar, por exemplo, que
numa simples jornada não será necessário transportar equipamento para abrigo (visto não
estar prevista qualquer pernoita). Todavia, estando o abrigo identificado como uma
necessidade prioritária é insensato não levar algo que o assegure: por isso é que, no mínimo,
uma cobertura de sobrevivência deve sempre fazer parte do conteúdo de uma mochila. A razão
para tal é muito simples: é preciso não só prevenir como remediar!… E se alguém se sentir mal,
por razões de saúde, e for preciso abrigá-lo dos agentes atmosféricos? E se devido a algum
incidente ou acidente for preciso pernoitar?
A generalidade dos autores coincidem nas quatro necessidades referidas atrás mas divergem,
contudo, noutras igualmente importantes. Com base no trabalho desenvolvido nos últimos
anos, em diversas acções de formação acerca do assunto em causa, identificámos 12
necessidades a satisfazer em actividades de campo: (1) vestuário e calçado; (2)
alimentação/hidratação; (3) abrigo/pernoita; (4) combustível/fogo; (5) transporte; (6) primeiros
socorros; (7) comunicação/sinalização; (8) defesa/segurança; (9) progressão; (10) orientação;
(11) iluminação; (12) higiene. As primeiras três necessidades coincidem com as quatro já
anteriormente identificadas e, tal como já foi referido, são prioritárias em todas as actividades.
Chama-se apenas a atenção para o facto de, nesta classificação, se dar uma especial
importância à implementação de sinergias entre o vestuário e o equipamento de pernoita. As
restantes oito necessidades, não sendo prioritárias em todas as actividades, terão muitas vezes
esse estatuto e, por isso, também deveremos estar aptos a satisfazê-las quando tal for
necessário. Para isso, é preciso compreender em que consiste cada uma dessas necessidades
em causa.
Por fim, associada a todas estas necessidades temos a noção de “conforto”. Poderemos ter
todas as necessidades satisfeitas (i.e. estarmos relativamente seguros) e, no entanto, não nos
encontrarmos propriamente confortáveis! Neste contexto, o pedestrianismo (ultra)leve, tendo
certamente em conta a segurança dos praticantes, não deverá confundir conceitos ao
pretender reduzir substancialmente (ou radicalmente) o peso e, simultaneamente, manter o
conforto. A comodidade que advém das práticas light traduz-se na menor carga a transportar e,
portanto, na maior facilidade e rapidez de progressão. Mas quando chega, por exemplo, a hora
de pernoitar rapidamente constatamos que o minimalismo não faculta propriamente os mais
elevados padrões de conforto. Aliás, tal não se trata de uma questão de fé mas de algo muito
concreto que facilmente se poderá comprovar no terreno... De resto, a noção de conforto é
subjectiva variando de pessoa para pessoa e, por isso, aquilo que para um determinado
indivíduo poderá ser embaraçosamente desconfortável para outro poderá constituir um
verdadeiro luxo! Nas sociedades modernas ocidentais tornámo-nos bastante condicionados no
que diz respeito ao conforto e, nesse contexto, perdemos muitas das nossas competências
tradicionais. Por isso, também, é possível adaptar-nos a situações mais exigentes em termos de
(des)conforto, sendo sensato fazer uma aproximação gradual, ponderada e experimental não
só em termos do equipamento a utilizar como do treino físico e psicológico que consideremos
adequado aos objectivos pretendidos. Por exemplo, a aclimatação – habituação – a condições
de frio e/ou de calor mais ou menos intensos também pode ser treinada.

Pedro Cuiça (Curso de Guias da Montanha do Pico, 2019)


Atenção!
Necessariamente a ter em conta
• Vestuário e Calçado
• Alimentação/hidratação
• Abrigo/pernoita
• Combustível/fogo
• Transporte do equipamento
• Estojo de primeiros socorros
• Comunicação/sinalização
• Defesa/segurança
• Material de progressão
• Equipamento de orientação
• Iluminação
• Higiene

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