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Responsável pelo Conteúdo:

Profª Ms Janaina Pinheiro Vece

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lidia de Sa Cicaroni
Relações, Espaços e Tempos:
implicações no processo
educativo

Caro aluno,

Nesta unidade, vamos concluir a disciplina Escola, Família e


Comunidade, compreendendo a organização escolar no que
se refere aos seus espaços e tempos. Nossos estudos abordam
a revisão histórica do modelo rígido e autoritarista da idade
moderna, que influenciou e até hoje influencia a estrutura da
escola, procurando reconstruir, principalmente, as relações
entre professor e aluno no contexto contemporâneo.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Leia o trecho de um texto bastante curioso, de 1922, que mostra os ideais disciplinares da
instituição escolar da época.

Recomendações Disciplinares

Em classe a disciplina deve ser severa:

- os alunos devem manter silêncio absoluto;

- não poderá estar em pé mais de um aluno;

- a distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem;

-sempre que se retirar da sala, a turma a deixará na mais perfeita ordem.

No recreio a disciplina é ainda necessária para que ele se torne


agradável aos alunos bem comportados:

- os alunos devem participar de conversas e diversões que não produzam grande


alarido.

Ao findar os trabalhos do dia, cada classe seguirá em fila e em pleno


silêncio até a escada de saída (...).

Texto adaptado do livro Indisciplina na Escola de Julio Groppa Aquino (1996, p.42).

Você já vivenciou, enquanto aluno, situações como as apresentadas no texto? Em sua


Ao findar os trabalhos do dia, cada classe seguirá em fila e em pleno
opinião, faz sentido esse tipo de recomendação disciplinar para os alunos da escola
silêncio até a escada de saída (...).
contemporânea?

Na unidade IV, vamos refletir sobre a organização do espaço e do tempo escolar e a


Texto adaptado do livro Indisciplina na Escola de Julio Groppa Aquino (1996, p.42).
relação entre professor e aluno com intuito de superar o modelo disciplinar da idade moderna
que, nos dias de hoje, ainda influencia a educação no Brasil.
Material Teórico

Na última unidade da disciplina Escola, Família e Comunidade, iremos


estudar a organização da escola, em especial os espaços, os tempos e as
relações que acontecem em seu contexto. Para tanto, na introdução, serão
apresentados alguns aspectos históricos que subsidiam as duas principais
temáticas deste texto:
 A organização da Escola: tempos e espaços.
 A relação entre professor e aluno.

Ao ler o texto aproveite para registrar os aspectos que achar mais


importantes e as dúvidas que surgirem.

Boa leitura!

Introdução
É evidente que a escola de hoje é produto de transformações históricas e sociais. A
organização disciplinar por meio do castigo e controle, como forma de modelar o
comportamento humano, marcou, significativamente, o desenvolvimento da escola como
instituição formativa.

Sobre esse modelo disciplinar, Aquino (2007) refere-se à organização de um mundo


novo que nasceu a partir do século XVIII. Para o autor, trata-se de um modelo insólito na
história da humanidade, voltado para a racionalização e normatização do espaço, do tempo e
dos corpos dos indivíduos.

As técnicas sistemáticas de vigilância, punição e controle influenciaram e influenciam,


ainda hoje, a organização escolar. Esse modelo apresenta um perfil de aluno ideal, que pouco
considera se o mesmo é bem comportado por medo do castigo ou se, de fato, o seu
comportamento é tranquilo.

Para Aquino (2007, p.9), “a disciplina dedica-se ao assujeitamento dos corpos dos
indivíduos nas instituições”.
Vejamos um trecho de um texto bastante curioso de 1922, apresentado por Aquino
(1996, p.42) e intitulado “Recomendações Disciplinares”:

Não há crenças refratárias à disciplina, mas somente alunos não disciplinados. A disciplina é um fator
essencial do aproveitamento dos alunos e indispensável ao homem civilizado. Mantém a disciplina,
mais do que o rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as crianças
interessadas em algum assunto útil.

Os alunos devem se apresentar na escola minutos antes das 10 horas, conservando-se em ordem no
corredor da entrada, para daí descerem ao pátio onde entoarão o cântico.

Formados dois a dois dirigir-se-ão depois às suas classes acompanhadas das respectivas professoras,
que exigirão que se conservem em silêncio e entrem nas salas com calma, sem deslocar as carteiras.

Deverão andar sempre sem arrastar os pés, convindo que o façam em terça, evitando assim o balançar
dos braços e movimentos desordenados do corpo. (...)

Observa-se, no texto, que as correções disciplinares são evidentes para controle e


ordenação do corpo e da fala. O silencio é absoluto dentro e fora da sala de aula e os
movimentos corporais são contidos e esquadrinhados nos diferentes tempos e espaços da
escola.

Para Aquino (1996), muitos educadores concebem essa descrição de cotidiano escolar
com certo saudosismo, como um modelo de educação muito almejado.

No caso do ensino público, tal mentalidade mostra suas feições quando, por
exemplo, insiste-se em enaltecer uma época tão remota em que “os
professores eram respeitados e só frequentava escola quem sabia dar valor a
ela” – chavão repetido por 9,9 entre 10 cidadãos brasileiros, sendo eles ligados
profissionalmente ao campo pedagógico ou não (AQUINO, 2007, p.21).

Trata-se de um espaço escolar organizado como um verdadeiro “quartel”, onde


professor assume a posição de superior hierárquico, em que os termos de obediência e
subordinação são determinantes na sua relação com o aluno.

Conforme Aquino (1996, p.43), “O professor não era só aquele que sabia mais, mas
que podia mais, porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela”.

A disciplina então imposta pela época ocorria por meio do castigo, medo, coação e
subserviência, principalmente à figura do professor.
De acordo com Taille (1996, p.10):

O tema disciplina pode nos levar mais longe ainda: discutir a própria natureza
humana. Para o filósofo Kant, por exemplo, a disciplina é condição necessária
para arrancar o homem de sua condição natural selvagem. Não se trata,
portanto, apenas de “bons modos”: trata-se de educar o homem para ser
homem, redimi-lo da sua condição animal.

Permanecer parado e quieto na cadeira escolar tornou-se, por muito tempo, necessário
não só para possibilitar o bom funcionamento da escola, mas, principalmente, para ensinar a
criança a controlar os seus impulsos e afetos. Sobre o controle disciplinar na escola, Aquino
(2007) faz referência à instituição como um dispositivo biopolítico, ou seja, que regula os
fenômenos biológicos e políticos ligados à população.

Acerca da biopolítica, Aquino (2007, p.10) destaca:

A normalização operada pela biopolítica é o que faz com que incorporemos


paulatinamente certos padrões relativos a como proceder no campo da
sexualidade, da estética, da dietética, dos cuidados pessoais etc., que
convertem em paradigmas morais com vistas a uma administração eficaz da
própria existência.

Nessa perspectiva genérica dos fatores biológicos e psicológicos, infelizmente ainda


idealizam um sujeito abstrato, idealizado e desenraizado do seu tempo real e histórico.

Pensando na democratização política do país e, consequentemente, da escola, a


desmilitarização das relações sociais desenvolveu uma nova geração. Atualmente a escola está
inserida num contexto em que o controle dos indivíduos escapou das instituições sociais,
sendo que outras instâncias, como a mídia e a internet, apropriaram-se desse papel.

(...) o monopólio escolar estaria sendo drasticamente preterido por outras


formas de ensino e aprendizagem, em particular aquelas propiciadas pela TV e
internet. Sem papel definido neste mundo volátil e imagético, o velho trabalho
escolar deveria então se reduzir à guarda e à tutela moral da infância e da
juventude? Deveriam os professores cumprir o papel outrora exclusivo da
família? (...) (AQUINO, 2007, p.24).

Nesse conflituoso cenário, além de desvencilhar da organização de outrora, a escola


tem diante de si um novo aluno e um novo professor, sujeitos históricos que, até então,
tinham bem definidos os seus papéis, aquele que mandava e outro que apenas obedecia.
Pensando no espaço da escola como uma dimensão democrática, em que a educação
é um direito consolidado, faz-se necessário repensar os tempos e os espaços oferecidos pela
instituição escolar e a relação entre professor e aluno no atual contexto.

A organização da Escola: tempos e espaços

A partir de uma análise crítica acerca da organização dos tempos e ritmos da escola,
Freitas (2004, p. 1) destaca:

Esta dimensão espacial é vivida em acontecimentos que se desenrolam em


seus tempos e ritmos (tempo para estudar, tempo para aprender matemática,
tempo para brincar, tempo para planejar, tempo para gerir). Nada é tão
demarcado na escola atual como seus tempos. Instituí-los implicou em
decisões igualmente orientadas por uma visão de mundo e por concepções de
educação. Tais decisões foram implementadas há tanto tempo na história da
escola que já não nos damos mais ao trabalho de examiná-la se, em geral,
damos isso por suposto e naturalizado.

Segundo o autor, o sistema seriado por décadas foi utilizado pela escola para classificar
os alunos e organizá-los com base em seus conhecimentos e competências. No entanto, esta
organização sempre esteve intimamente relacionada a uma ordem política e pedagógica
capitalista.

Por outro lado, a organização do ensino por ciclo, coerente aos princípios progressistas
e aos pressupostos de Paulo Freire, diz respeito a um mecanismo de permanência dos
estudantes na escola, com o objetivo de reduzir o índice de evasão e retenção presentes no
regime seriado. Ao ciclo estão agregados a compreensão dos tempos de aprendizagem e o
processo de desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.

Para saber mais sobre a organização da escola leia o artigo

“CICLO OU SÉRIES? O que muda quando se altera a forma de organizar os tempos-


espaços da escola?”

de Luiz Carlos de Freitas.

http://www.anped.org.br/reunioes/27/diversos/te_luiz_carlos_freitas.pdf

Vale ressaltar que é impossível falar sobre espaço e tempo na escola sem
compreendermos como os alunos são organizados e enturmados nos diferentes períodos da
educação básica. Portanto, adiante, apresenta-se como essa organização temporal e espacial
pode acontecer na prática, já que o texto de Freitas (2004) aborda, com detalhes, os regimes
de séries e ciclos adotados, historicamente, por nosso sistema brasileiro.

Conforme explicitado por Freitas (2004), algumas decisões foram implantadas há tanto
tempo na história da escola que já não nos damos o trabalho de examiná-las com criticidade
e, muitas vezes, com rigor pedagógico.

É muito comum, nas escolas, a ausência dos alunos na composição dos diferentes
espaços, salas, corredores, bibliotecas, pátio etc. Em outros momentos, também nos
deparamos com uma organização do espaço dirigida estritamente para o público adulto, como
materiais e trabalhos expostos numa altura imprópria para a criança, o que impede a
exploração do espaço com mais intensidade e entusiasmo.

O controle corporal ao qual os alunos, infelizmente, ainda são submetidos, contraria a


ideia de que a criança estrutura o conhecimento de mundo e de si mesma por meio da
experiência corporal. Se a escola de antes era controladora dos elementos físicos e
comunicativos, atualmente muitos pesquisadores têm se preocupado com a importância do
movimento corporal e das relações interpessoais para o processo de aprendizagem.

De acordo com Fraga (2010, p.8):

Geralmente, quando se fala da necessidade de movimento corporal das


crianças, pensa-se muito mais num âmbito funcional, relacionado ao
desenvolvimento motor e à aquisição de determinadas habilidades. Ou então,
restringe-se à possibilidade de extravasar, gastar energia, já que as crianças
passam tanto tempo em atividades que exigem contenção.

Segundo a autora, mesmo que o movimento da criança esteja relacionado às ações


comuns do cotidiano, está imbuído de expressividade. O grande problema é que, muitas
vezes, os profissionais não se atentam à expressão de seus alunos e nem estão preparados
para “ler” o significado dessa movimentação.

Considerando que a tradição escolar, ainda hoje, persiste em controlar e reprimir a


atividade corporal e expressiva da criança, observa-se a preocupação em reconstruir os
aspectos concernentes à organização temporal e espacial da escola, priorizando a autonomia
do aluno na condução dos seus movimentos.

O Parecer CNE/CEB n. 20/2009 faz uma revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil e, assim, refere-se ao importante papel do professor na organização
do tempo e do espaço nas instituições, em especial de Educação Infantil:
A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos
espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as
crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras
tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e
movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das
classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos
e materiais diversificados que contemplem as particularidades das diferentes
idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as
diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias
e comunidade regional (BRASIL, 2009, p. 14).

Apesar do excerto se referir especificamente à Educação Infantil, as considerações são


válidas e relevantes para outras modalidades de ensino.

Embasados no Parecer CNE/CEB n. 20/2009, vejamos alguns questionamentos sobre a


organização do tempo apontados no documento de Reorientação Curricular da Educação
Infantil da prefeitura de Osasco (2011, p.109):

Nossas rotinas são flexíveis para garantir às crianças o tempo para as brincadeiras livres?
Quando ela está envolvida nesse tipo de atividade ela toma decisões, faz escolhas, admite
consensos com o (a) professor (a), vivenciando situações essenciais a uma formação cidadã?
Quando está em grupo, aprende a dividir, a ouvir e a aceitar visões de mundo diferentes da
sua? E o planejamento diário? O chamado plano do dia, situação em que a criança tem
oportunidade de saber, participar e dar opiniões sobre o que vai acontecer naquele dia,
aprendendo a lidar com suas ansiedades e expectativas, está garantido?

Diferente do modelo autoritário e estático, os questionamentos apresentados na RECEI


(2011) são convidativos para reflexão de uma rotina escolar flexível e compartilhada, no que
se refere à organização do tempo de trabalho educativo realizado com as crianças.

A nova perspectiva atribuída à educação busca superar a ideia de que o aluno precisa
adaptar-se e/ou ajustar-se às exigências de organização da escola. Pelo contrário, a
organização está intimamente ligada à concepção de infância como uma fase de
desenvolvimento humano que requer uma composição de um ambiente próprio para atender
às suas particularidades e não à de um adulto em miniatura.

As questões reportam-nos a uma nova concepção de criança, ou seja, um sujeito único


e singular. O tempo para brincar, por exemplo, permite um período dedicado à atividade mais
importante para a faixa etária e que proporciona o conhecimento de uma cultura acumulada.
O convite à tomada de decisão e o incentivo para expressar sua opinião evidenciam
que o aluno é um sujeito que também organiza o ambiente da escola, podendo modificá-lo,
explorá-lo e recriá-lo.

No processo em que a escola busca se desvencilhar da sua inadequada estrutura, o


tempo necessita, prioritariamente, ser objeto de análise e transformação, superando os
pragmatismos de que a escola é quem dita as regras. A proposta de reorganizar o tempo
submete-se à ideia de que a escola deve estruturar-se e desenvolver-se, apriori, para os seus
alunos e não o contrário.

Nesse contexto, o professor reconstrói o seu papel, ouvindo as crianças a respeito da


organização e, especialmente, observando como elas se relacionam com os aspectos
temporais da rotina, como, por exemplo, verificando se conseguem se alimentar na hora do
recreio ou se apresentam sono em determinados momentos no período em que estão na
escola. Afinal os fatores biológicos influenciam diretamente o desempenho dos alunos e não
podem, em hipótese alguma, serem unificados.

Para o documento RECEI (2011), a organização dos espaços e dos materiais


disponibilizados na escola constitui-se como um instrumento fundamental para a prática
educativa. Isso significa que todas as atividades realizadas com os alunos devem ser
planejadas, prevendo a forma mais adequada de organizar o mobiliário e os materiais na sala
de aula. É importante destacar que tal procedimento transcende o espaço da sala de aula para
os espaços da área externa e outros da instituição.

Ao pensar sobre a organização dos seus espaços, é importante que a escola se


autoquestione: o ambiente que ofereço é acolhedor, desafiador e criativo? Esse
ambiente é um local seguro e promotor de desenvolvimento?

De acordo com o documento RECEI (2011, p.112):

Em um espaço em que a oportunidade de expressão é valorizada e onde são


igualmente valorizadas as mais variadas maneiras de expressão da criança
(desenho, pintura, o faz de conta, o teatro, a modelagem, a fala, entre outras),
adultos e crianças tornam-se sujeitos aprendentes de uma experiência
educativa que respeita as diferenças de cada um(a), num espaço
aconchegante, seguro e diversificado, com a oferta de materiais e objetos da
cultura às crianças.

Mediante os aspectos apresentados conclui-se que a organização da escola não pode


ser restrita à figura de um ou de outro. Enquanto local compartilhado e construído
coletivamente, o espaço escolar exige a participação de gestores, professores, alunos e
comunidade, de forma que a oferta intencional de espaços organizados e tempos
diversificados contribua para a formação de cidadãos mais autônomos e que compartilham de
experiências coletivas.

Sintetizando:

ESCOLA

ESPAÇO TEMPO

Figura 1 – Esquema elaborado pela autora

A relação entre professor e aluno

Quando falamos em infância, um conjunto de fatores determina os papéis da família


eda escola que colaboram para compreender os diferentes modos de pensar e viver essa etapa
particular do desenvolvimento humano. Desde o final do século XII até início do século XX, a
sociedade vem criandoconceitos e modelos para infância.

De acordo com a RECEI (2011):

Ao longo da história, a criança tem sido considerada como um ser incompleto,


portanto frágil, precisando de proteção, controle, direção, dependente da
orientação de um adulto, que o avalia de acordo com as expectativas.

Os avanços das diferentes ciências, como a Psicologia, Pedagogia, Sociologia,


Antropologia, entre outras áreas, apontam que novos olhares são atribuídos à infância.
Atualmente a criança é considera como um sujeito de direitos, que interpreta o mundo, age
sobre ele e que produz e reproduz cultura.
Mediante a ressignificação do seu público, é preciso que a escola repense as relações
que são estabelecidas com a criança e o adolescente, concebendo-os como seres capazes de
se expressar, comunicar, aprender e que chegam à escola com saberes acumulados.

Contrapondo à concepção de aluno como simples objeto à mercê de determinações e


mandonismos de adultos, os estudos de Paulo Freire contribuem para a reconstrução dessas
relações, por apresentarem críticas à escola rígida e autoritária e, principalmente, por atentar-
se às relações estabelecidas entre professor e aluno.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de


setembro em Recife. É considerado um dos
pensadores mais notáveis na história da
pedagogia mundial.

De acordo com Freire (2002, p.25):

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos,


apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de
objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender.

Na defesa de que ensinar não é transferir conhecimentos, o autor mostra que o


processo de ensino e aprendizagem não deve ocorrer de maneira que o aluno, no papel de
objeto, seja formado pelo professor, sujeito único e exclusivo formador. Para Freire (2002),
essa relação reduz o processo de ensino e aprendizagem a uma educação bancária que se
aproxima à de um paciente que recebe os conteúdos acumulados por um sujeito que sabe.

Embora diferentes entre si, aluno e professor estão envolvidos num mesmo processo,
em que um existe em detrimento do outro. Sendo assim, é preciso que a relação entre ambos
seja construída de forma colaborativa e dialógica, em que todos se constituem como sujeitos
aprendentes e ensinantes, conforme é apresentado no documento RECEI (2011).

Sobre a postura do professor em relação ao aluno, Freire (2002, p.52) destaca:

Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser
crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não
a de transferir conhecimento.

Considerando a condição de inacabamento do ser humano, que está em constante


processo de educação desde o seu nascimento até a sua morte, o professor necessita de se
predispor à mudança e aceitar o diferente, já que a cada dia mais demandas são impostas à
escola.

Por outro lado devemos reconhecer que o professor não pode eximir-se da sua tarefa
educativa. A prática escolar cotidiana deve dar condições para que as crianças não somente
conheçam as expectativas em relação a elas, como, por exemplo, que apresentem atitudes de
solidariedade, respeito e cooperação, mas também que construam e interiorizem esses valores
de forma consciente e conhecedora dos “porquês”. Mais do que obedecerem a com regras
estabelecidas e conformarem-se com elas, os alunos precisam ter a oportunidade de conhecer
as intenções que as originaram.

Nesse processo, o papel mediador do professor é de fundamental importância, pois,


além de constantemente estimular os alunos a refletirem sobre as regras construídas
coletivamente, também oferece a eles a oportunidade de negociá-las e flexibilizá-las.

Nesse sentido, Taille (1996, p.23) contribui dizendo:

(...) somente resta à escola uma solução: lembrar e fazer lembrar em alto e
bom tom, a seus alunos e à sociedade como um todo, que sua finalidade
principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão,
são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço
público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo
franco entre olhares éticos. Não há democracia se houver completo desprezo
pela opinião pública.

A escola concebida como um lugar que proporciona a vivência social diferente do


grupo familiar tem um papel extremamente relevante, que não o é, como já aconteceu, o de
controlar e ameaçar, mas sim o de oferecer a oportunidade de acesso às informações novas e
desafiadoras, tornando os alunos capazes de se apropriarem dos princípios de uma sociedade
democrática.
ESCOLA

Sintetizando

PROFESSOR ALUNO

Figura 2 – Esquema elaborado pela autora


Material Complementar

Neste espaço, você terá acesso a conteúdo complementares ao material da unidade IV.
Aproveite para aprofundar e sistematizar os conhecimentos acerca dos conteúdos teóricos.
Bom estudo e até a próxima unidade!

Acesse o texto Currículo: tempo e espaço na escola, de Stelamaris Rosa Cabral. O artigo traz
contribuições para compreensão da organização escolar a partir de uma abordagem histórica,
resgatando paradigmas da escola do século XVIII.
Acesso ao artigo:
http://www.revistafaag.br-web.com/revistas/index.php/ser/article/view/20/pdf_12

Acesse o texto Organização do espaço e do tempo na Educação Infantil: a Legislação e os


Documentos publicados pelo Ministério da Educação, de Maévi Anabel Nonol. Apesar de
direcionado ao público da Educação Infantil, o artigo traz contribuições para as demais
modalidades de ensino.
Acesso ao artigo: http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/296/5/01d13t07.pdf

No Google Livros, pesquise a obra Instantâneos da Escola Contemporânea, de Julio Groppa


Aquino, e aprofunde um pouco mais seus conhecimentos sobre os aspectos históricos e sociais
da escola apresentados na unidade IV.
http://books.google.com.br/books?id=rRPSBV_Y_WwC&printsec=frontcov
er&dq=julio+groppa+aquino&hl=pt-
PT&sa=X&ei=9k8WUceaG5OA0AGQ_4D4Cg&ved=0CEMQ6AEwAw
Referências

AQUINO, J. G. Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo:


Summus, 1996.

______. Instantâneos da Escola Contemporânea. São Paulo: Papirus, 2007.

BRASIL. Parecer CNE/CEB n. 20, de 11 de novembro de 2009. Revisão das Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1, p. 14, 9 dez. 2009.

FRAGA, A. O corpo e o movimento criativo. In: Cadernos da Rede Formação de


Professores. São Paulo: Prefeitura de São Paulo, 2010.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Edição 27ª.


São Paulo: Paz e Terra, 2002.

FREITAS, L. C. CICLO OU SÉRIES? O que muda quando se altera a forma de organizar os


tempos-espaços da escola. Disponível em:

<http://www.anped.org.br/reunioes/27/diversos/te_luiz_carlos_freitas.pdf>, Acesso em: 8


fevereiro 2013.

OSASCO. Reorientação Curricular da educação infantil e ensino fundamental. São


Paulo: Instituto Paulo Freire, 2011.

TAILLE, Y. L. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In:AQUINO, J. G. Indisciplina na


Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.
Anotações

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