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L C U.T.I.

LINGUAGENS
E CÓDIGOS
Unidade Técnica de Imersão
2
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
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Autores
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Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira

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Coordenador geral
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Bruno Alves Oliveira Cruz
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Iago Maciel Kaveckis
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
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CARO ALUNO

Você está recebendo o segundo caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este
material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 3 e 4, oferecendo-lhe uma
seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre
pronto a realizar as provas de 2ª fase dos vestibulares.
Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda
mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram
esquecidos.
Aproveite para aprimorar seus conhecimentos.

Bons estudos!

Herlan Fellini
SUMÁRIO

5
35

59

83

91
0 2 Gramática

U.T.I.
© Pexels/Pixabay.com

L C
ENTRE LETRAS
Conjunções
Conjunções coordenativas
As conjunções coordenativas conectam orações sem estabelecer uma relação de dependência (uma função
sintática). De acordo com um critério lógico-semântico, elas se classificam assim:

§ Aditivas – estabelecem uma relação de soma, de adição entre os termos.


§ Principais conjunções aditivas: e, nem, não só... mas também, não só... como também, bem como,
não só... mas ainda.
Exemplos: Ele saiu cedo e levou a carteira.
Ela não só saiu cedo como também passou na farmácia.

§ Adversativas – estabelecem uma relação de contraste, de oposição entre os termos.


§ Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não
obstante.
Exemplo: Tentou vender os livros usados, mas não conseguiu.

§ Alternativas – estabelecem uma relação de alternância, de escolha ou de exclusão entre os termos:


§ Principais conjunções alternativas: ou, ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez...
talvez.
Exemplo: Ou você chega logo, ou vou embora para minha casa.

§ Conclusivas – estabelecem uma relação de conclusão a respeito de um fato dado no mundo.


§ Principais conjunções conclusivas: logo, portanto, por conseguinte, por isso, assim, pois (depois do
verbo e entre vírgulas).
Exemplo: Estava muito irritado, portanto, preferiu conversar mais tarde.

§ Explicativas – estabelecem uma relação de explicação sobre um fato que ainda não ocorreu no mundo.
§ Principais conjunções explicativas: que, porque, porquanto, pois (antes do verbo).
Exemplo: Não fique irritado, porque a conversa pode tomar outros rumos.

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Conjunções subordinativas fim de que, que, porque (para que), que.
Exemplo: Mande o e-mail para que todos
As conjunções subordinativas ligam duas ora- compareçam no horário correto.
ções, das quais uma é necessariamente dependente da
§§ Proporcionais – introduzem uma oração que
outra, desempenhando em relação a esta uma função
expressa um fato relacionado proporcionalmen-
sintática. São classificadas como:
te à ocorrência da principal.
§§ Causais – introduzem a oração que é causa da §§ Principais conjunções proporcionais: à
ocorrência da oração principal. medida que, à proporção que, ao passo que
§§ Principais conjunções causais: porque, – e as combinações: quanto mais... (mais),
que, pois que, visto que, uma vez que, por- quanto menos... (menos), quanto menos...
quanto, já que, desde que, como (no início (mais), quanto menos... (menos).
da frase). Exemplo: Os problemas saem do controle à
Exemplo: Ele não fez as compras porque medida que não são resolvidos.
não havia trazido a carteira.
§§ Temporais – introduzem orações que acrescen-
§§ Concessivas – introduzem a oração que ex- tam uma circunstância de tempo ao fato expres-
pressa ideia contrária à da principal. so na oração principal.
§§ Principais conjunções concessivas: em- §§ Principais conjunções temporais: quan-
bora, ainda que, apesar de que, se bem que, do, enquanto, antes que, depois que, logo
mesmo que, por mais que, posto que, con- que, todas as vezes que, desde que, sempre
quanto. que, assim que, agora que, mal (assim que)
Exemplo: Embora fosse arriscado, investi- Exemplo: Ele nos atendeu assim que co-
mos em ações. meçamos a reclamar.

§§ Condicionais – introduzem uma oração que


§§ Comparativas – introduzem orações que ex-
indica a hipótese ou a condição para ocorrência
pressam ideia de comparação em relação à ora-
da principal.
ção principal.
§§ Principais conjunções condicionais: se,
§§ Principais conjunções comparativas:
caso, contanto que, salvo se, a não ser que,
como, assim como, tal como, como se, (tão)...
desde que, a menos que, sem que.
como, tanto como, tanto quanto, do que,
Exemplo: Caso precise de algum emprésti-
mo, procure um banco. quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que
(combinado com menos ou mais).
§§ Conformativas – introduzem uma oração que Exemplo: A seleção fez mais gols hoje que
exprime a conformidade de um fato com outro. no jogo anterior.
§§ Principais conjunções conformativas:
conforme, como (conforme), segundo, con- §§ Consecutivas – introduzem orações que ex-
soante. pressam consequência em relação à principal.
Exemplo: As coisas nem sempre ocorrem §§ Principais conjunções consecutivas: de
como queremos. sorte que, de modo que, sem que (que não),
de forma que, de jeito que, que (cujo antece-
§§ Finais – introduzem uma oração que expressa dente na oração principal seja tal, tão, cada,
a finalidade ou o objetivo com que se realiza a tanto, tamanho).
principal. Exemplo: Dormiu tanto que ficou com do-
§§ Principais conjunções finais: para que, a res no pescoço.

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Conjunções integrantes
As conjunções integrantes introduzem as orações subordinadas substantivas. Ocorrem com os termos “que”
e “se”.
Exemplos: Espero que você volte (espero sua volta).
Não sei se ele voltará (não sei da sua volta).

Dica
Para confirmar se uma conjunção é do tipo integrante, deve-se substituir os termos “que” ou “se”, e o
restante da oração que os acompanha, pelo pronome “isso”.

Exemplo: É necessário que se mudem os pensamentos.

Termos essenciais
da oração: sujeito e predicado
Sujeito é o termo que concorda, em número e pessoa, com o verbo da oração. Em grande número de casos,
o sujeito da oração é também o agente da ação expressa pelo verbo, mas essa não deve ser a base de definição
conceitual, uma vez que há orações para as quais não se pode atribuir ao sujeito essa função de agente.

Exemplos:
Ele viajou para o interior de São Paulo.
(viajou está no singular para concordar com ele. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)

Eles viajaram para o interior de São Paulo.


(viajaram está no plural para concordar com eles. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)

Ele está no interior de São Paulo.


(está está no singular para concordar com ele; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.)

Eles vivem no interior de São Paulo.


(vivem está no plural para concordar com eles; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.)

Observação: as gramáticas normativas determinam o sujeito e o predicado como termos essenciais; no


entanto, deve-se observar que o termo constante em toda oração é o verbo.
Exemplos: Choveu o dia todo. (verbo que indica um fenômeno natural.)
Chorou.
(verbo que indica uma ação e permite a possível identificação do sujeito através da desinência.)

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Classificação do sujeito a) com verbo na terceira pessoa do plu-
ral, sem que ele se refira a nenhum termo
O sujeito das orações pode ser determinado ou identificado anteriormente (nem em outra
indeterminado. oração).
1. Sujeito determinado é aquele que pode ser Exemplos: Proibiram a entrada de meno-
identificado com precisão a partir da concordân- res.
cia verbal. Ele pode ser:
Estão transferindo as crianças de lugar.

a) Simples, se apresentar apenas um núcleo b) com verbo na voz ativa e na terceira


(a palavra principal do sujeito, que encerra pessoa do singular seguido do prono-
essencialmente a significação) ligado direta- me se, pronome esse que atua como índi-
mente ao verbo, estabelecendo uma relação ce de indeterminação do sujeito. Essa
de concordância com ele. construção ocorre com verbos que não apre-
sentam complemento direto (verbos intran-
Exemplo: As pessoas saíram pelas ruas em
sitivos, transitivos indiretos e de ligação). O
protesto.
verbo obrigatoriamente fica na terceira pes-
Observação: O sujeito é simples, se o verbo soa do singular.
da oração referir-se a apenas um elemento, Exemplos: Vive-se melhor após o avanço
seja ele um substantivo (singular ou plural), da tecnologia. (verbo intransitivo)
um pronome ou um numeral. Não confundir
Precisa-se de vendedores com prática. (ver-
sujeito simples com a noção de singular.
bo transitivo indireto)
Exemplos: O segundo andar possui sala
No dia da prova, sempre se fica nervoso.
de reunião.
(verbo de ligação)
Todos correram em direção ao ônibus.
c) com o verbo no infinitivo impessoal:
b) Composto, se apresentar dois ou mais nú-
cleos ligados diretamente ao verbo, estabele- Exemplos: Era penoso estudar Direito e
cendo uma relação de concordância com ele. Economia, simultaneamente.
É bom assistir a filmes antigos.
Exemplo: Brigadeiro e caipirinha são es-
pecialidades tipicamente brasileiras. 3. Orações sem sujeito são formadas apenas pelo
predicado e articulam-se a partir de um verbo
c) Oculto (elíptico ou desinencial): O sujei- impessoal. Por isso se diz que o sujeito é ine-
to oculto ocorre quando o sujeito não está xistente. Observe a estrutura destas orações.
expresso na oração, mas é possível identificá- Exemplos: Havia borboletas no jardim.
-lo por meio da terminação do verbo. Nevou muito este ano em Santa Catarina.
Exemplos: Resolvi meus os problemas com ATENÇÃO!
o fisco. – Sujeito oculto: (eu resolvi) Os verbos impessoais devem ser usados sem-
pre na terceira pessoa do singular. Cuidado
Estávamos cansados do trabalho. – Sujeito
com os verbos fazer e haver usados impessoal-
oculto: (nós estávamos)
mente: não se deve empregá-los no plural.
2. Sujeito indeterminado: é aquele que, embora
existindo, não é possível determiná-lo nem pelo Exemplos: Faz muitos anos que nos conhece-
contexto, nem pela terminação do verbo. Há três mos.
maneiras diferentes de indeterminar o sujeito de Deve fazer dias quentes na Bahia.
uma oração: Há muitas pessoas interessadas na vaga.
Houve muitas pessoas interessadas na vaga.

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Observação: O verbo existir é pessoal, por- ção para o final de semana.
tanto, admite sujeito que concorda com ele. Núcleo: animados (adjetivo que dá informação
sobre o sujeito oculto. Sintaticamente, este adje-
Predicado tivo recebe a função de predicativo do sujeito).

É o termo da oração que faz uma afirmação 3. Predicado verbo-nominal tem dois núcle-
sobre o sujeito; diz-se, portanto, que se trata de uma os: um núcleo constituído de uma forma verbal
predicação sobre o sujeito. No caso das orações sem e um núcleo constituído de uma forma nominal.
sujeito, a predicação é genérica. Tudo o que constitui as Exemplo: Os alunos chegaram cansados.
orações, à exceção do sujeito e do vocativo, faz parte Predicado: chegaram cansados
do predicado.
Núcleo verbal: chegaram
Os predicados devem conter necessaria-
Núcleo nominal: cansados
mente um verbo, mas o núcleo do predicado (termo
que detém o sentido propriamente) pode ser um verbo,
um nome ou a junção dos dois. Predicativo do sujeito e
predicativo do objeto
Tipos de predicado
É importante sistematizar a definição de predi-
A partir de estruturas que se assemelham às dos cativo, função sintática relacionada à ocorrência, nas
exemplos anteriores, podem-se classificar os predicados orações, de predicados nominais ou verbo-nominais.
em três categorias: Denomina-se predicativo a palavra ou locução de na-
1. Predicado verbal tem, como núcleo, uma for- tureza nominal que constitui o núcleo de um predicado
ma verbal. nominal ou o núcleo de um predicado verbo-nominal. O
a) A estudante gosta de viajar nas férias. predicativo pode se referir ao sujeito da oração – predi-
Predicado: gosta de viajar nas férias cativo do sujeito –, no caso dos predicados nominais, ou
Núcleo: gosta ao objeto da oração – predicativo do objeto –, no caso
b) Todo domingo à tarde ele vai ao cinema. dos predicados verbo-nominais.
Predicado: vai ao cinema
Núcleo: vai Exemplos:
Ana saiu enfurecida.
2. Predicado nominal tem, como núcleo, uma
Predicado: saiu enfurecida.
forma nominal (adjetivo ou locução adjetiva). Núcleo: enfurecida (predicativo do sujeito)
Os verbos que ocorrem nos predicados nomi- Eles julgaram o criminoso culpado.
nais são sempre de ligação. Predicado: julgaram o criminoso culpado
Importante: Os termos que constituem o nú- Núcleo verbal: julgaram.
cleo dos predicados nominais denominam- Núcleo nominal: culpado (predicativo do objeto).
-se predicativos do sujeito.

Exemplo: O filme foi emocionante.


Predicado: foi emocionante
Núcleo: emocionante (adjetivo que dá informa-
ção sobre o substantivo sujeito. Sintaticamente,
esse adjetivo recebe a função de predicativo do
sujeito).

Exemplo: Ficaram animados com a programa-


ção para o final de semana.
Predicado: ficaram animados com a programa-

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Termos integrantes e termos acessórios
Termos integrantes da oração
1. Complementos verbais completam o sentido de verbos transitivos diretos e transitivos indiretos.
§§ Objeto direto é o termo que completa o sentido do verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem o
auxílio da preposição.
Exemplo: Os professores fizeram as resoluções dos exercícios.

O objeto direto pode ser constituído:


a) por um substantivo ou expressão substantivada.
Exemplos: O agricultor cultiva a terra.
Unimos o útil ao agradável.

b) pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos.
Exemplos: Espero-o na minha formatura.
Ela me ama.
Observação: Os pronomes oblíquos empregados no interior de um mesmo enunciado têm a função de
objeto direto pleonástico. Aqueles livros (objeto direto) na estante, eu os (objeto direto pleonástico do
mesmo verbo) comprei na loja nova do shopping.

§§ Objeto indireto é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto. Vincula-se indiretamen-
te aos verbos mediante uma preposição.
Exemplo: Gostava de Matemática e Física.

2. Complemento nominal – nomes (substantivos e adjetivos) e alguns advérbios, da mesma forma que os
verbos, podem exigir um complemento para integrar seu sentido. Tais complementos de nomes são chama-
dos complementos nominais e vêm sempre antecedidos por preposição.

§§ Substantivo complemento nominal


Exemplo: Ela tem orgulho da filha.

§§ Adjetivo complemento nominal


Exemplo: Ana estava consciente de sua escolha.

§§ Advérbio complemento nominal


Exemplo: O juiz decidiu favoravelmente ao acusado.
Observação: O complemento nominal representa o recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa
por um nome. É regido pelas mesmas preposições do objeto indireto. Difere dele apenas porque, em vez
de complementar verbos complementa nomes (substantivos, adjetivos) e alguns advérbios terminados
em -mente. Os complementos nominais mantêm com os nomes o mesmo tipo de relação que os objetos
mantêm com os verbos transitivos. Eles são necessários para complementar o sentido dos nomes.

3. Agente da passiva é o termo da frase que pratica a ação expressa pelo verbo na voz passiva analítica
(construída com o verbo ser). Vem regido comumente da preposição por e eventualmente da preposição de.

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Exemplo: A vencedora foi escolhida pelos jurados. No primeiro caso, muito intensifica a forma ver-
sujeito paciente voz passiva verbo Agente da passiva bal lutaram, que é núcleo do predicado verbal.
Ao passar a frase da voz passiva para a voz ativa, No segundo, muito intensifica o adjetivo inteli-
o agente da passiva recebe o nome de sujeito: gente, que é o núcleo do predicativo do sujeito.
Exemplo: Os jurados escolheram a vencedora. Na terceira oração, muito intensifica o advérbio
sujeito verbo objeto direto mal, que é o núcleo do adjunto adverbial de modo.
Exemplos: Amanhã, vou de bicicleta ao trabalho.
voz ativa
Os termos em destaque
Exemplo: A empresa foi comprada pela concorrente.
estão indicando as seguintes circunstâncias:
sujeito paciente verbo Agente da passiva
§§ amanhã indica tempo
voz passiva §§ de bicicleta indica meio
§§ ao trabalho indica lugar
O concorrente comprou a empresa.
sujeito verbo objeto direto
voz ativa Classificação do adjunto adverbial

Termos acessórios Há algumas circunstâncias que o adjunto


adverbial pode expressar:
da oração §§ Acréscimo: Além de conhecimentos em
Matemática, eram necessários também conhe-
Existem termos que, apesar de dispensáveis na cimentos em Química.
estrutura básica da oração, são importantes para a com- §§ Afirmação: Ele viajará com certeza.
preensão do enunciado. Ao acrescentarem informações §§ Assunto: Falávamos sobre cotas. (ou de cotas,
novas, esses termos: ou a respeito de cotas).
§§ caracterizam o ser; §§ Causa: Com a falta de chuvas, a seca pro-
§§ determinam os substantivos; e pagou-se.
§§ exprimem circunstância. §§ Companhia: Foi ao cinema com a namorada.
§§ Concessão: Apesar da dificuldade do exer-
São termos acessórios da oração: cício, conseguiu resolvê-lo.
§§ o adjunto adverbial §§ Condição: Sem autorização, a criança não
§§ o adjunto adnominal poderá embarcar.
§§ o aposto §§ Conformidade: Seguem os relatórios, confor-
§§ o vocativo me o combinado (ou segundo o combinado).
§§ Dúvida: Talvez seja melhor sair mais cedo.
Adjunto adverbial §§ Fim, finalidade: Viajei a trabalho.
§§ Frequência: Sempre ocupava o mesmo lugar
Como o próprio nome indica, trata-se de advér- à mesa.
§§ Instrumento: A redação deve ser feita à ca-
bio ou locução adverbial associados a verbos, adjetivos
neta.
ou a outro advérbio, acrescentando circunstâncias espe-
§§ Intensidade: A aluna estudava bastante.
cíficas (no caso de verbos) ou intensificando seu sentido
§§ Lugar: Estou em casa.
no contexto.
§§ Matéria: A cadeira é feita de aço.
Exemplos: Eles lutaram muito por seus direitos. §§ Meio: Atravessou a cidade de ônibus.
Ele é muito inteligente. §§ Modo: Fique à vontade para fazer seus co-
Falou-se muito mal daquele filme. mentários.
§§ Negação: Não se deve esquecer o horário da
Nessas três orações, o termo “muito” é adjunto consulta.
adverbial de intensidade. §§ Tempo: O expediente é das 8h às 17h.

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Adjunto adnominal só pode ser complemento nominal. Se não
houver preposição ligando os termos, será
É o termo que determina, especifica ou expli- um adjunto adnominal.
ca um substantivo. O adjunto adnominal tem função
adjetiva na oração, a qual pode ser desempenhada por b) O complemento nominal equivale a um com-
adjetivos, locuções adjetivas, artigos, pronomes adjetivos plemento verbal, ou seja, mantém relação
e numerais adjetivos. exclusivamente com os substantivos cujos
Exemplo: O médico prescreveu dois remé- significados transitam. Portanto, seu valor é
dios ao paciente. Sujeito objeto direto passivo, é sobre ele que recai a ação. O ad-
objeto indireto
junto adnominal tem sempre valor ativo.
Nessa oração, os substantivos médico, remédio e pa- Exemplo: Ana tem muito amor à mãe.
ciente são núcleos, respectivamente, do sujeito determi- A expressão à mãe classifica-se como com-
nado simples, do objeto direto e do objeto indireto. Ao plemento nominal, uma vez que mãe é pa-
redor de cada um desses substantivos, agrupam-se os
ciente de amar, recebe a ação de amar.
adjuntos adnominais:
Exemplo: Ana é um amor de mãe.
O artigo o refere-se a médico;
A expressão de mãe é adjunto adnominal,
O numeral dois refere-se ao substantivo remé-
dios; uma vez que mãe é agente de amar, pratica
O artigo o (em ao), refere-se a paciente. a ação de amar.

Os adjuntos adnominais costumam ser expres-


sos por: Aposto
§§ Adjetivos: crianças tagarelas, políticos corrup-
É um termo que, acrescentado a outro termo da
tos;
oração, tem a função de ampliar, resumir, explicar ou de-
§§ Locuções adjetivas: anéis de ouro, livro de
histórias; senvolver mais o conteúdo do termo ao qual se refere.
§§ Artigos definidos e indefinidos: o papel, os Exemplo: Ontem, domingo, passaram o dia no
papéis, um papel, uns papéis; parque.
§§ Pronomes possessivos: meu carro;
§§ Pronomes demonstrativos: este carro; Domingo é aposto do adjunto adverbial de
§§ Pronomes indefinidos: algum carro; tempo "ontem". Diz-se que o aposto é sintaticamente
§§ Pronomes Interrogativos: qual chave?; equivalente ao termo a que se relaciona porque pode
§§ Pronomes relativos: na biblioteca cujos livros substituí-lo:
estão em mau estado;
Exemplo: Domingo passaram o dia no parque.
§§ Numerais adjetivos: trezentos e cinquenta
soldados. Verifica-se, portanto, que, se "ontem" for elimi-
nado, o substantivo "domingo" assume a função de
Distinção entre adjunto adnominal
adjunto adverbial de tempo.
e complemento nominal
Exemplo: Gosto de todos os tipos de música:
É comum confundir o adjunto adnominal, na for-
rock, blues, chorinho, samba etc. objeto indireto
ma de locução adjetiva, com o complemento nominal. aposto do objeto indireto
Para evitar que isso ocorra, considere o seguinte:
a) Somente os substantivos podem ser acompa- Se for retirado o objeto da oração, seu aposto
nhados de adjuntos adnominais; os comple- passa a exercer essa função:
mentos nominais podem ligar-se a substanti-
Exemplo: Gosto de rock, blues, chorinho,
vos, adjetivos e advérbios. O termo ligado por
samba, etc.
preposição a um adjetivo ou a um advérbio objeto indireto

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Observação: O aposto tem a mesma função sin- Nessas orações, os termos destacados são voca-
tática do termo ao qual se relaciona. tivos: indicam e nomeiam o interlocutor a quem se está
dirigindo a palavra.
Classificação do aposto Observações: o vocativo pode vir antecedido
por interjeições de apelo, tais como ó, olá, eh! etc.
De acordo com a relação que estabelece com o
Ó mar salgado! Quanto do teu sal são lágrimas
termo a que se refere, o aposto pode ser classificado
de Portugal.
em:
a) explicativo: A Linguística, ciência da Olá prezado cliente! Entramos em contato para
linguagem, fornece subsídios importantes apresentar novos produtos.
para o conhecimento da língua materna.
b) enumerativo: A vida se compõe de muitas Distinção entre vocativo e aposto
coisas: amor, trabalho e dinheiro.
O vocativo não mantém relação sintática com
c) resumidor ou recapitulativo: Vida digna,
outro termo da oração.
cidadania plena, igualdade de oportunida-
Exemplo: Pessoal, vamos estudar mais.
des, tudo isso está na base de um país me- Vocativo
lhor.
O aposto mantém relação sintática com outro
d) comparativo: Drummond e Guimarães
termo da oração.
Rosa são dois grandes escritores, aquele na
Exemplo: A vida de Marylin Monroe, artista
poesia e este na prosa.
hollywoodiana, foi muito conturbada.
Além desses, há o aposto especificativo, que di- sujeito a posto
fere dos demais porque não é marcado por sinais de
pontuação (vírgula ou dois-pontos). O aposto especifi-
cativo individualiza um substantivo de sentido genérico,
Sintaxe de colocação
prendendo-se a ele diretamente ou por meio de uma
A colocação de pronomes oblíquos átonos em
preposição, sem que haja pausa na entonação da frase.
português pode ser realizada em três posições, obede-
Exemplos: O poeta Carlos Dummond de An-
cendo a regras e condições específicas. Essas três posi-
drade criou obra de expressão simples.
ções são a próclise, a mesóclise e a ênclise.
A rua Augusta é um dos pontos turísticos de São Paulo.

Vocativo 1. Próclise
É um termo que não tem relação sintática com Temos próclise quando o pronome surge antes
outro termo da oração. Não pertence, portanto, nem ao do verbo. Suas condições de colocação são:
sujeito nem ao predicado. É o termo que serve para cha-
mar, invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético. a) Nas orações que contenham uma palavra ou
Em razão de seu caráter, geralmente se relaciona à se- expressão de valor negativo.
gunda pessoa do discurso. Exemplos: Ninguém me ajuda.
Não me fale de problemas hoje.
Exemplo: Não se esqueça de marcar todas as
Nunca se esqueça do que lhe disse
respostas no gabarito, pessoal! vocativo
Exemplo: A vida, minha filha, é feita de esco- b) Nas conjunções subordinativas:
lhas. vocativo Exemplos: Voltarei a fazer contato se me
interessar.
Ela não quis jantar, embora lhe servissem o
melhor prato.

15
É necessário que o vendamos por um bom preço. Como te admiro! (oração exclama-
tiva)
c) Nas orações em que existam pronomes in-
definidos ou advérbios, sem marcas de pau-
sa.
2. Mesóclise
Exemplos: Tudo me irrita nessa cidade. Temos mesóclise quando o verbo estiver em al-
(pronome indefinido) gum dos tempos futuros do indicativo (futuro do pre-
Hoje se vive melhor no Brasil. sente ou futuro do pretérito), desde que não existam
(advérbio) condições para a próclise. O pronome é colocado no
Observação: caso tenhamos marcas de pausa meio do verbo.
depois do advérbio, emprega-se ênclise. Exemplos: Comprar-lhe-ei umas roupas novas.
Exemplo: Hoje, vive-se melhor no Brasil. (comprarei + lhe)
(advérbio) Encontrar-me-iam se realmente
quisessem. (encontrar + me)
d) Nas orações iniciadas por pronomes ou ad-
vérbios de tipo interrogativo. Observações:
Exemplos: Quem te chamou até aqui? a) Havendo condições para a próclise, esta
(pronome interrogativo) prevalece sobre a mesóclise:
Por que o convidaram? Exemplo: Sempre lhe contarei os meus segre-
(advérbio interrogativo) dos. (O advérbio “sempre” exige o uso de próclise.)

e) Com gerúndio precedido de preposição b) A mesóclise é uso exclusivo da língua culta e


“em”. da modalidade literária. Não a encontramos
Exemplo: Em se tratando de pesquisas, melhor na comunicação oral mais básica.
utilizar a biblioteca. c) Com esses tempos verbais (futuro do pre-
f) Nas orações introduzidas por pronomes rela- sente e futuro do pretérito) jamais ocorrerá
tivos. a ênclise.
Exemplos: Foi aquele rapaz quem me pediu
para falar com você.
3. Ênclise
Há situações que nos constrangem.
Essa foi a festa onde te conheci. Temos ênclise quando o pronome surge depois
do verbo. Seu emprego obedece às seguintes regras:
g) Com a palavra “só” (no sentido de “apenas”
a) Nos períodos iniciados por verbos (desde que
ou “somente”) e com as conjunções coorde-
não estejam no tempo futuro), pois, segundo
nativas alternativas.
a gramática normativa, não podemos iniciar
Exemplos: Só se lembram dos pais quando
frases com pronome oblíquo.
precisam de dinheiro.
Exemplos: Fale-me o que está acontecendo.
Ou vai embora, ou se prepare para
Compravam-se muitos produtos
a bronca.
antes da crise.
h) Nas orações iniciadas por palavras exclama-
b) Nas orações imperativas afirmativas.
tivas e nas optativas (que exprimem desejo).
Exemplos: Ligue para seu primo e avise-o do
Exemplos: Deus o ilumine! (oração optativa)
horário
Ei, ajude-me com essa receita!

c) Nas orações reduzidas de infinitivo.

16
Exemplos: Convém dar-lhe um pouco mais de Exemplos: Viajaram e trouxeram muitas fo-
tempo. tos de lembrança.
Espero enviar-lhe isto até amanhã cedo. Não trouxeram presentes nem
fotos da última viagem.
d) Nas orações reduzidas de gerúndio (desde
que não venham precedidas de preposição Observação: A conjunção “nem” tem o va-
“em”). lor da expressão e não. Dessa forma, deve-se
Exemplos: A mãe adotiva ajudou a criança, evitar, na língua escrita, a estrutura “e nem”
dando-lhe carinho e proteção. para introduzir orações aditivas. As orações
Ele se desesperou, deixando-se le- sindéticas aditivas podem também estar liga-
var pela situação. das pelas locuções “não só... mas (também)”;
Observação: Se o verbo não estiver no início “tanto... como” e semelhantes. Essas estrutu-
da frase, nem conjugado nos tempos Futuro do ras costumam ser usadas se se pretender en-
Presente ou Futuro do Pretérito, é possível usar fatizar o conteúdo da segunda oração. Ele não
tanto a próclise como a ênclise. só canta, mas também (ou como também)
Exemplos: Eu me encontrei com ela. interpreta muito bem. Ela sabe tanto matemá-
Eu encontrei-me com ela. tica como português.

b) As adversativas exprimem fatos ou conceitos


que se opõem ao que se declara na oração
Orações coordenada anterior, estabelecendo entre elas
coordenadas assindéticas contraste ou compensação. Mas é a conjunção
adversativa típica. Além dela, empregam-se:
Como se viu, são orações não introduzidas por porém, contudo, todavia, entretanto e as locu-
conjunção. São coordenadas, postas lado a lado e sepa- ções no entanto, não obstante, nada obstante.
radas por sinais de pontuação. Exemplos: Eles embarcariam para a Europa
Exemplos: Vim, vi, venci. dentro de uma hora, mas perderam o voo.
Chegou; ninguém reparou nele: todos estavam O cachorro não é bonito; no entanto, é sim-
ocupados em seus afazeres. pático.
O problema é grave; contudo, há solução.

Orações Importante
Dependendo do contexto em que for empre-
coordenadas sindéticas gada, a conjunção e pode indicar ideia de adver-
sidade. Compraram vários presentes e perceberam
Conforme o tipo de conjunção que as introduz,
depois que não caberiam nas malas. Deitou-se cedo
as orações coordenadas sindéticas podem ser aditivas,
e não conseguiu dormir.
adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas.

c) As alternativas expressam ideia de alternân-


a) As aditivas expressam ideia de adição, de
cia de fatos ou escolha. Regularmente é usa-
acréscimo. Regularmente indicam fatos,
acontecimentos ou pensamentos dispostos da a conjunção ou. Além dela, empregam-se
em sequência. As conjunções coordenativas também os pares: ora... ora; já... já; quer...
aditivas típicas são e e nem (e + não). quer; seja... seja etc.

17
Exemplos: Diga agora ou cale-se para Orações
sempre. (apenas a segunda é sindética, mas
ambas são alternativas, dada a ideia de es-
subordinadas adjetivas
colha.).
Uma oração subordinada adjetiva tem valor e
Ora mostra-se alegre, ora ex-
função de adjetivo, ou seja, equivale a essa classe de
pressa tristeza profunda.
palavras. As orações adjetivas vêm introduzidas por pro-
Estarei lá, quer você aceite, quer
nome relativo e exercem a função de adjunto adnomi-
não. (a segunda oração fica su-
nal do antecedente.
bentendida, para evitar a redun-
Exemplo: Este é o livro que te indiquei como
dância do mesmo verbo.)
referência.
Observação: Nesse último caso, o par quer...
A conexão entre a oração subordinada adjetiva
quer está coordenando entre si duas orações
e o termo da oração principal que ela modifica é feita
que, na verdade, expressam concessão em
pelo pronome relativo “que”.
relação a “Estarei lá”. É correspondente se-
Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o
manticamente a “embora você não queira,
pronome relativo desempenha uma função sintática na
estarei lá”.
oração subordinada: ocupa o papel que seria exercido
d) As conclusivas exprimem conclusão ou con- pelo termo que o antecede.
sequência referentes à oração anterior. As
conjunções típicas são: logo, portanto e pois Importante
(posposto ao verbo). Usa-se ainda: então, as-
Para que dois períodos unam-se num perío-
sim, por isso, por conseguinte, de modo que,
do composto, altera-se o modo verbal da segunda
em vista disso etc.
oração, se necessário.
Exemplos: Tenho prova amanhã, portanto Dica: O pronome relativo que sempre pode
não posso ir ao show. ser substituído por: o qual, a qual, os quais,as
A situação econômica é delicada; quais. Refiro-me ao livro que é referência. Essa
devemos, pois, agir com cautela. oração é equivalente a: Refiro-me ao livro o qual
O time jogou bem, por isso foi é referência.
vencedor.
Aquela substância é toxica, logo
deve ser manuseada com cuida- Classificação das orações
do. subordinadas adjetivas
e) As explicativas Indicam uma justificativa ou
Na relação que estabelecem com o termo que
uma explicação referente ao fato expresso na
caracterizam, as orações subordinadas adjetivas podem
declaração anterior. As conjunções que mere-
atuar de duas maneiras diferentes. Há as que restrin-
cem destaque são: que, porque e pois (obriga-
gem ou especificam o sentido do termo a que se refe-
toriamente anteposto ao verbo).
rem, individualizando-o. Nessas orações, não há marca-
Exemplos: Vá com cuidado, que o caminho
ção de pausa; são as chamadas orações subordinadas
é perigoso.
adjetivas restritivas.
Mudou de emprego, porque es-
Há também as orações que realçam um detalhe
tava farto da rotina.
ou amplificam dados sobre o antecedente, já suficien-
Ligue para ela, pois hoje é o seu
temente definido; são as denominadas orações subordi-
aniversário.
nadas adjetivas explicativas.
Exemplo: O homem que trabalha é útil à so-
ciedade.

18
A ausência de vírgula restringe o sentido da
palavra homem, designando um tipo de homem entre Atenção
vários.
Trata-se de oração subordinada restritiva que É importante, nesse momento, que sejam
apresenta valor sintático de adjunto adnominal, uma recuperados os conceitos de identificação de con-

vez que qualifica o termo anterior. junções integrantes anteriormente aprendidos.


Lembremos que, para localizarmos uma conjunção
Exemplo: O homem, que trabalha, é útil à so-
integrante, devemos substituir os elementos “que”
ciedade.
ou “se” pelo pronome demonstrativo “isso”. A
A presença de vírgula amplia o sentido da pala- função que couber ao pronome indicará a função
vra homem, que pode ser entendida como todo homem. exercida pela oração.
Trata-se de oração subordinada explicativa, pois Exemplos:
acrescenta uma informação acessória; desempenha
É importante que chegue cedo ao atendimento.
também valor sintático de adjunto adnominal, uma vez
que qualifica o termo anterior. Substituindo a oração subordinada em des-
taque pelo pronome “isso”, temos:
Observação: A oração subordinada adjetiva ex-
plicativa é separada da oração principal por uma pausa, É importante isso (ou, na ordem direta: Isso é im-
portante). Percebemos então que a função sintática
que, na escrita, é representada pela vírgula. É comum,
do pronome “isso” na construção é de sujeito. Ve-
por isso, que a pontuação seja indicada como forma de
jamos outro exemplo:
diferenciar as orações explicativas das restritivas. De fato,
as explicativas vêm sempre isoladas por vírgulas; as res- Não sei se entregaremos a encomenda hoje.

tritivas, não. Substituindo a oração subordinada em des-


taque pelo pronome “isso”, temos:

Orações subordinadas Suponho isso (o pronome “isso” completa o sen-


tido do verbo “supor”). Percebemos então que a
substantivas
função sintática do pronome “isso” na construção
é de objeto direto.
A oração subordinada substantiva trata-se de
uma construção com verbo que possui valor de substan-
tivo (esta oração fica posicionada onde, habitualmente, Classificação das orações
deveria haver um substantivo) e vem introduzida, geral-
mente, pelas conjunções integrantes que ou se. Sintati-
subordinadas substantivas
camente, podem exercer a função de: De acordo com a função que exerce no período,
§§ sujeito a oração subordinada substantiva pode ser:
§§ objeto direto
a) subjetiva: exerce a função sintática de su-
§§ objeto indireto jeito do verbo da oração principal:
§§ complemento nominal Exemplo: Não se sabe se ela foi embora.
§§ predicativo do sujeito §§ Oração principal: Não se sabe
§§ aposto §§ Oração subordinada: se ela foi embora
(sintaticamente exerce função de sujeito da
oração principal).

b) objetiva direta: exerce a função de objeto


direto do verbo da oração principal:
Exemplo: Eu percebo que ficarei com bastante
sono hoje.
19
§§ Oração principal: Eu percebo f) apositiva: exerce a função de aposto de al-
§§ Oração subordinada: que ficarei com bas- gum termo da oração principal.
tante sono hoje (sintaticamente exerce fun- Exemplo: Eu espero a seguinte solução: que re-
ção de objeto direto da oração principal). liguem a energia elétrica em casa.
§§ Oração principal: Coloco uma condição
c) objetiva indireta: exerce a função de ob- §§ Oração subordinada: que não me pertur-
jeto indireto do verbo da oração principal (a be mais. (sintaticamente exerce função de
conjunção integrante vem precedida de pre- aposto da oração principal).
posição). Atenção: a oração subordinada substanti-
Exemplo: Tudo depende de que ela se esforce. va apositiva é a única que pode prescindir da
§§ Oração principal: Tudo depende conjunção integrante. Isso ocorre por conta de
§§ Oração subordinada: de que ela se esfor- os que a acompanham funcionarem, também,
ce. (sintaticamente exerce função de objeto como elemento integrante.
indireto da oração principal.)
Orações subordinadas
d) completiva nominal: exerce a função de
complemento nominal (complementa o sen- adverbiais
tido de um nome que pertença à oração prin-
Uma oração subordinada adverbial exerce a fun-
cipal; também vem marcada por preposição).
ção de adjunto adverbial do verbo da oração principal.
Exemplo: Sou favorável a que o absolvam.
Dessa forma, pode exprimir circunstância de tempo,
§§ Oração principal: Sou favorável
modo, fim, causa, condição etc. Classifica-se de acordo
§§ Oração subordinada: a que o absolvam.
com a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz.
(sintaticamente exerce função de comple-
mento nominal da oração principal.) Exemplo: Quando vi a pintura do artista, senti
uma das maiores emoções de minha vida.

Importante A primeira oração, “Quando vi a pintura do ar-


tista”, atua como um adjunto adverbial de tempo, que
Não podemos esquecer que as orações
modifica a forma verbal “senti”.
subordinadas substantivas objetivas indiretas inte-
gram o sentido de um verbo, enquanto as orações Trata-se de uma oração subordinada adverbial
subordinadas substantivas completivas nominais temporal, uma vez que indica uma circunstância tempo-
integram o sentido de um nome. Para distinguir ral acrescida ao verbo da segunda oração. É importante
uma da outra, é necessário levar em conta o termo lembrar que a classificação das orações subordinadas
complementado. adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação
dos adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância ex-
e) predicativa: exerce o papel de predicativo pressa pela oração.
A seguir, temos as circunstâncias expressas pelas
do sujeito do verbo da oração principal e vem
orações subordinadas adverbiais:
sempre depois do verbo “ser”.
a) causa
Exemplo: O grande mal é que me esqueço das
Exemplo: Como ninguém se interessou pelo
coisas.
projeto, não houve alternativa a não ser cancelá-lo.
§§ Oração principal: O grande mal é
§§ Oração principal: não houve alternativa a
§§ Oração subordinada: que me esqueço das
não ser cancelá-lo.
coisas. (sintaticamente exerce função de pre-
dicativo da oração principal.)

20
§§ Oração subordinada: Como ninguém se §§ Oração subordinada: conforme a recei-
interessou pelo projeto (assume valor de ad- ta (assume valor de adjunto adverbial de
junto adverbial de causa, uma vez que pro- conformidade, pois exprime uma regra, um
voca um determinado fato, ao motivo do que
modelo adotado para a execução do que se
se declara na oração principal.)
declara na oração principal).
b) consequência
Exemplo: Sua fome era tanta que comeu com g) finalidade
casca e tudo. Exemplo: Li o manual a fim de aprender mais
§§ Oração principal: Sua fome era tanta sobre como usar o produto.
§§ Oração subordinada: que comeu com cas- §§ Oração principal: Li o manual
ca e tudo (assume valor de adjunto adverbial
§§ Oração subordinada: a fim de aprender
de consequência, uma vez que declara o efei-
mais sobre como usar o produto (assume va-
to na oração principal.)
lor de adjunto adverbial final, pois expressa a
c) condição
intenção, a finalidade daquilo que se declara
Exemplo: Se o torneio for bem estruturado, to-
dos sairão ganhando. na oração principal).
§§ Oração principal: todos sairão ganhando.
h) proporção
§§ Oração subordinada: Se o torneio for bem
Exemplo: Viaja ao exterior à medida que a
estruturado (assume valor de adjunto ad-
verbial de condição, uma vez que a oração empresa solicita seu trabalho.
subordinada impõe-se como necessária para §§ Oração principal: Viaja ao exterior
a realização ou não de um fato sobre a prin- §§ Oração subordinada: à medida que a em-
cipal.) presa solicita seu trabalho (assume valor de
d) concessão adjunto adverbial proporcional, pois exprime
Exemplo: Embora não goste de cogumelos, ideia de proporção, ou seja, um fato simultâ-
irei provar o prato.
neo ao expresso na oração principal).
§§ Oração principal: irei provar o prato
§§ Oração subordinada: Embora não goste i) tempo
de cogumelos (assume valor de adjunto ad- Quando você for a Londres, traga-me um pre-
verbial de concessão, uma vez que admite sente.
uma ideia de cessão a algum fato, ou mesmo §§ Oração principal: traga-me um presente.
anormalidade em relação a esse fato).
§§ Oração subordinada: Quando você for a
e) comparação Londres (assume valor de adjunto adverbial
Exemplo: Andava rápido como um foguete.
temporal, uma vez que acrescenta uma ideia
§§ Oração principal: Andava rápido
de tempo ao fato expresso na oração princi-
§§ Oração subordinada: como um foguete
(assume valor de adjunto adverbial de com- pal, podendo exprimir noções de simultanei-
paração, uma vez que estabelece uma com- dade, anterioridade ou posterioridade).
paração com a ação indicada pelo verbo da
oração principal).

f) conformidade
Exemplo: Fez o bolo conforme a receita.
§§ Oração principal: Fez o bolo

21
U.T.I. - Sala
1. (Fuvest 2019) Leia o texto.
Tio Ben cravou pouco antes de falecer: “grandes poderes nunca vêm sozinhos”. E não há respon-
sabilidade maior do que tirar a vida de alguém. Isso, no entanto, não significa que super-heróis
tenham a ficha completamente limpa. Na verdade, uma olhada mais atenta nos filmes sobre os
personagens confirma uma teoria não tão inocente – a grande maioria deles é homicida.
Foi pensando nisso que um usuário do Reddit, identificado como T0M95, resolveu planilhar os
assassinatos que acontecem nos filmes da Marvel. Nos 20 longas, que saíram nos últimos 10 anos,
foram 65 mortes – e 20 delas deixaram sangue nas mãos dos mocinhos.
Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram na planilha
vítimas que tinham, pelo menos, nome antes de baterem as botas. Nada de figurantes ou bonecos
criados em computação gráfica só para dar volume a uma tragédia. Ficaram de fora, por exemplo,
as centenas que morreram durante a batalha de Wakanda, em “Vingadores: Guerra Infinita”, ou a
cena de “Guardiões da Galáxia” que se consagrou como o maior massacre da história do cinema.
https://super.abril.com.br/cultura/quantos_assassinatos_cada_heroi_e_vilao_da_marvel_cometeu_nos_cinemas. Adaptado.

a) Qual o sentido das palavras “cravou” e “planilhar” destacadas no texto e qual o efeito que elas
produzem?
b) Substitua os dois-pontos do trecho “Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes re-
levantes à história: só entraram na planilha vítimas que tinham, pelo menos, nome antes de
baterem as botas” por uma conjunção e indique qual a relação de sentido estabelecida por ela.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Ao oferecer-se para ajudar o cego, o homem que depois roubou o carro não tinha em mira, nesse
momento preciso, qualquer intenção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez não foi mais
que obedecer àqueles sentimentos de generosidade e altruísmo que são, como toda a gente sabe,
duas das melhores características do género humano, podendo ser encontradas até em criminosos
bem mais empedernidos do que este, simples 1ladrãozeco de automóveis sem esperança de avanço
na carreira, explorado pelos verdadeiros donos do negócio, que esses é que se vão aproveitando
das necessidades de quem é pobre. (...) Foi só quando já estava perto da casa do cego que a ideia
se lhe apresentou com toda a naturalidade (...). Os cépticos acerca da natureza humana, que são
muitos e teimosos, vêm sustentando que se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também
é certo que o ajuda muito. 2Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado
o segundo oferecimento do afinal falso samaritano, naquele derradeiro instante em que a bon-
dade ainda poderia ter prevalecido, referimo-nos o oferecimento de lhe ficar a fazer companhia
enquanto a mulher não chegasse, quem sabe se o efeito da responsabilidade moral resultante da
confiança assim outorgada não teria inibido a tentação criminosa e feito vir ao de cima o que de
luminoso e nobre sempre será possível encontrar mesmo nas almas mais perdidas.
JOSÉ SARAMAGO. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

2. (Uerj 2018) Observe a mudança de posição do advérbio afinal nos enunciados a seguir:
1) Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado o segundo oferecimento
do afinal falso samaritano, (ref. 2)
2) Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado afinal o segundo ofere-
cimento do falso samaritano.
Explique a diferença de sentido entre os enunciados, a partir da posição do advérbio. Justifique,
ainda, a opção pela primeira construção, tendo em vista a sequência dos acontecimentos.

23
3. (Ufjf-pism 3 2017) Para responder à questão, leia o fragmento da peça Se eu fosse Iracema, de
Fernando Marque.
A história do homem branco é história.
A ciência do homem branco é ciência.
A religião do homem branco é religião.
A arte do homem branco é arte.
A filosofia do homem branco é filosofia.
E a história de qualquer outro homem é folclore,
é caso,
é mentira,
é bobagem,
é superstição,
é lenda,
é enredo de escola de samba,
é poesia de livro didático.
Só o homem branco sabe,
Só o homem branco sobe,
Só o homem branco salva,
Os outros homens: selva.
MARQUES, Fernando. Se eu fosse Iracema. Rio de Janeiro, 2016. 20p. Folder elaborado para divulgação.

Releia o seguinte trecho:


“A filosofia do homem branco é filosofia.
E a história de qualquer outro homem é folclore.”

Substitua a conjunção “e” por outra que não altere fundamentalmente o sentido do trecho desta-
cado. Justifique sua escolha.

4. (Pucrj 2017) Texto 1


Os filósofos chineses viam a realidade, a cuja essência primária chamaram tao, como um processo
de contínuo fluxo e mudança. Na concepção deles, todos os fenômenos que observamos participam
desse processo cósmico e são, pois, intrinsecamente dinâmicos. A principal característica do tao é
a natureza cíclica de seu movimento incessante; a natureza, em todos os seus aspectos — tanto os
do mundo físico quanto os dos domínios psicológico e social —, exibe padrões cíclicos. Os chineses
atribuem a essa ideia de padrões cíclicos uma estrutura definida, mediante a introdução dos opos-
tos yin e yang, os dois polos que fixam os limites para os ciclos de mudança: “Tendo yang atingido
seu clímax, retira-se em favor do yin; tendo o yin atingido seu clímax, retira-se em favor do yang”.

Na concepção chinesa, todas as manifestações do tao são geradas pela interação dinâmica desses
dois polos arquetípicos, os quais estão associados a numerosas imagens de opostos colhidas na
natureza e na vida social. É importante, e muito difícil para nós, ocidentais, entender que esses
opostos não pertencem a diferentes categorias, mas são polos extremos de um único todo. Nada
é apenas yin ou apenas yang. Todos os fenômenos naturais são manifestações de uma contínua
oscilação entre os dois polos; todas as transições ocorrem gradualmente e numa progressão inin-
terrupta. A ordem natural é de equilíbrio dinâmico entre o yin e o yang.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora Cultrix. 1982. Tradução de Álvaro Cabral, pp. 32-33.

Texto 2
Efeitos da mudança das condições

Tenho, até o presente, falado de mudanças — tão comuns e tão diversas nos seres orgânicos re-
duzidos ao estado doméstico e, em menor escala, naqueles que se encontram em estado selvagem
— como se elas fossem fortuitas. É, sem objeção, uma expressão muito incorreta; talvez, contudo,
seja suficiente para demonstrar a nossa total ignorância sobre as razões de cada variação particu-
lar.

24
Alguns cientistas julgam que uma das funções do sistema reprodutor consiste tanto em produ-
zir diferenças individuais, ou pequenos desvios de estrutura, como em produzir descendentes
semelhantes aos pais. Mas o fato de as variações e de as deformações se apresentarem em maior
número no estado doméstico que no estado natural, o fato de as espécies que têm um habitat mui-
to extenso serem mais variáveis que as que têm um habitat restrito, permitem-nos concluir que
a variabilidade deve ter, comumente, qualquer analogia com as condições de sobrevida às quais
cada espécie foi submetida durante algumas gerações sucessivas. Tentei provar que as mudanças
de condições atuam de duas maneiras: diretamente, sobre toda a organização, ou sobre algumas
partes unicamente do organismo; e indiretamente, por meio do sistema reprodutor. Em todos os
casos, há dois fatores: a natureza do organismo, que é a mais importante das duas, e a natureza
das condições ambientes. Neste último caso, o organismo parece tornar-se plástico e encontramos
uma grande variabilidade incerta. No primeiro caso, a natureza do organismo é tal que cede facil-
mente, quando submetido a certas condições, e todos, ou quase todos os indivíduos, se modificam
da mesma maneira.

É difícil delimitar até que ponto a alteração das condições — por exemplo, a alteração do clima, da
alimentação, etc. — atua de uma maneira definida. Há razão para se acreditar que, no decurso do
tempo, os efeitos destas alterações sejam tão marcantes que possam ser provados por evidências
claras. Contudo, podemos concluir, sem receio de engano, que não se pode atribuir unicamente a
uma tal causa atualmente as adaptações de estrutura, tão numerosas e tão complicadas, que obser-
vamos na natureza entre os diferentes seres orgânicos.
DARWIN, Charles. A origem das espécies. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., pp. 143-4 (Tradução de Eduardo Fonseca, 2004.)

a) Reescreva o trecho “Os opostos não pertencem a diferentes categorias.”, substituindo o verbo
“pertencer” por “derivar”. Faça as modificações necessárias.
b) Destaque do Texto 1 a palavra em que o prefixo “in” apresenta o mesmo sentido que na palavra
“incessante”.
c) Indique a palavra ou expressão a que se refere a última ocorrência de “que” no Texto 2.
d) No Texto 2, o enunciador apresenta suas reflexões acerca do que está sendo observado e das
investigações que vem desenvolvendo. Destaque, do último parágrafo, a expressão que, em si
mesma, denota certeza a respeito do que é enunciado.

TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Tentação

Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor − a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de
sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde.
E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a mo-
mento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com
soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de
bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia
futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava senta-
da num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora,
com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade
de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na
figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostu-
mado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua
vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que
viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os
cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele
nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não
havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com enca-
bulamento, surpreendidos.

25
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha.
E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos − lá
estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues,
ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade
com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma
mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset
ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento
nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos
que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 67-69

Eu te peço perdão por te amar de repente


Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da aurora
MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.92-3.

5. (Pucrj 2017) Ternura

a) No poema Ternura, o eu lírico dirige-se à amada usando a 2ª pessoa tu. Reescreva o verso a
seguir, substituindo os pronomes oblíquos sublinhados por seus correspondentes, de modo que
a 2ª pessoa empregada passe a ser “você”.

“Eu te peço perdão por te amar de repente”

b) Em “Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo.” (8º parágrafo do
conto Tentação), a palavra “se” apresenta dois comportamentos distintos. Explique a diferença
de sentido entre eles.

26
U.T.I. - E.O. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Ética

A palavra “ética” vem do grego ethos, tal


como “moral” vem do latim mores. Sinto-
1. (Ufjf-pism 2 2016) Nova data? Escola não
maticamente, tanto ethos como mores sig-
libera muçulmanos para festa religiosa
nificam costumes. De acordo com essa sig-
Diretor afirmou que aqueles que não compa-
nificação original, as normas de conduta e
recessem às aulas levariam falta
a definição do que era certo e do que era
Nesta quinta-feira (24), a religião Islã co-
errado eram impostas aos indivíduos pela
memora a Festa do Sacrifício, uma das datas
comunidade, e os indivíduos as aceitavam
religiosas mais importantes para os muçul-
(tendiam a concordar com o castigo, quan-
manos. Apesar do feriado religioso, uma es-
do as infringiam). Desse modo, podemos di-
cola no Reino Unido não liberou seus alunos
zer que, num tempo muito antigo, os seres
das aulas e informou que aqueles que não
humanos já conheciam valores. E podemos
comparecessem levariam falta. As informa-
dizer mais: esses valores, embutidos nas
ções são do Independent.
normas de conduta, eram inculcados nos in-
Normalmente, em feriados religiosos, as es-
divíduos pelo grupo. A comunidade precedia
colas tendem a dar uma "falta autorizada"
a individualidade.
aos alunos de determinada religião. No en-
Posteriormente, quando se desenvolveu a
tanto, a instituição afirmou aos pais que os
atividade mercantil, o comércio exigia a am-
alunos muçulmanos não seriam liberados e
pliação do espaço para a autonomia indivi-
poderiam comemorar a data na sexta-feira
dual (o comerciante precisava de espaço para
(25), quando a escola estará fechada pra um
se deslocar para o lugar certo na hora exata
treinamento dos professores. "Sexta-feira
em que podia comprar barato e vender caro,
não significa nada. O Eid al-Adha (Festa do
a fim de ser bem sucedido, por sua livre ini-
Sacrifício) é na quinta", disse a mãe de uma
ciativa pessoal). Os indivíduos mais autôno-
das alunas da escola, que estranhou a deci-
mos passaram a se defrontar com situações
são da instituição, já que as crianças normal-
nas quais não podiam se limitar a obedecer
mente são liberadas.
às normas pré-fixadas pela comunidade e es-
A carta enviada pela diretoria aos pais dizia:
sas normas começaram a perder o vigor. Os
"Nós permitimos que os estudantes regis-
indivíduos passaram a enfrentar o desafio
trados como muçulmanos tenham um dia de
de decidir por conta própria o que era certo
falta autorizada para celebrar a ocasião. A
e o que era errado. Por mais autônomos que
sexta-feira, 25 de setembro, quando a Aca-
se tornem, entretanto, os indivíduos não po-
demia estará fechada para alunos, foi reser-
dem subsistir sozinhos, precisam da socie-
vada para isso. Nesse dia todos os alunos te-
dade para sobreviver ao nascer, para crescer,
rão direito a uma falta autorizada".
para assimilar uma linguagem. A dimensão
Muitos pais ficaram insatisfeitos e alunos
social nas pessoas é ineliminável.Por isso, ao
não foram à escola, apesar da posição da di-
tentarem justificar suas escolhas, ao tenta-
retoria. No feriado da Festa do Sacrifício, os
rem esclarecer os fundamentos de sua pre-
muçulmanos reservam o dia para rezar, tro-
ferência, ao tentarem hierarquizar seus va-
car presentes e comemorar com a família e
lores, os indivíduos são levados a formular
amigos.
princípios que devem valer tanto para eles
http://noticias.terra.com.br/educacao/nova-data-
escola-nao-libera-muculmanos-para-festa-religiosa,13 como para os outros. Quer dizer: são levados
59610477ae131c95eb751344b0b21e8mkih63u.html a elaborar uma ética (uma pauta de condu-
ta) que só pode ser proposta seriamente aos
Releia o trecho abaixo: outros (à sociedade) se puder se basear na-
“Muitos pais ficaram insatisfeitos e alunos quilo que cada indivíduo tem de universal.
não foram à escola apesar da posição da di- Toda pessoa é um indivíduo singular, com
retoria. No feriado da Festa do Sacrifício, os desejos e interesses particulares, mas é tam-
muçulmanos reservam o dia para rezar, tro- bém — potencialmente — um representante
car presentes e comemorar com a família e da humanidade (Kant). Coexistem dentro de
amigos”. cada um de nós, segundo Kant, o represen-
Por que razão foi usado o verbo no pretérito tante da humanidade e o indivíduo sempre
perfeito na primeira frase e no presente, na particular. Por isso, o ser humano é “social-
segunda? -insociável”.

Texto modificado de KONDER, Leandro. Ética. In: YUNES,


Eliana & BINGEMER, M. Clara Lucchetti. Virtudes. Rio de
Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2001. pp. 86-87.

27
2. (Pucrj 2016) “Essa é uma condição necessária para que os
processos de tomada de consciência superem
a) Conservando o sentido original, reescreva a racionalidade instrumental e habilitem o
a frase abaixo, atendendo ao início pro- sujeito frente às possibilidades da compe-
posto em cada item: tência comunicativa” (referência 1)

“Toda pessoa é um indivíduo singular, com b) Com relação à frase abaixo, faça o que é
desejos e interesses particulares, mas é tam- pedido a seguir.
bém — potencialmente — um representante
da humanidade.” “A escola deve assumir o compromisso com o
desenvolvimento das estruturas mentais do
i) Apesar de sujeito para que ele seja capaz de operar em
ii) Embora níveis de abstração elevada.”

b) Comente as mudanças estruturais e se- i. Determine o valor semântico do verbo au-


mânticas decorrentes do emprego das xiliar dever na locução “deve assumir”.
preposições nas frases abaixo: ii. Indique um outro verbo auxiliar que man-
Consciência e responsabilidade são condi- tenha o mesmo sentido da expressão subli-
ções indispensáveis da vida ética. nhada e que forme uma locução verbal com
Consciência e responsabilidade são condi- o verbo operar:
ções indispensáveis à vida ética.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
3. (Pucrj 2015) A tarefa de desenvolver as ca- Leia o texto para responder à(s) questão(ões).
pacidades intelectuais e morais do sujeito
universal, como condição de aprimoramento Discurso do presidente do Uruguai, José
da personalidade do indivíduo, juntamente Pepe Mujica, na Assembleia da ONU/2013
com a inserção social e a reprodução dos con-
teúdos culturais da tradição, formam o es- Sou do sul e venho do sul a esta Assembleia,
teio da intencionalidade educativa moderna. carrego inequivocamente os milhões de com-
A escola deve assumir o compromisso com patriotas pobres, nas cidades, nos desertos,
o desenvolvimento das estruturas mentais nas selvas, nos pampas, nas depressões da
do sujeito para que ele seja capaz de operar América Latina, pátria de todos que está se
em níveis de abstração elevada. 1Essa é uma formando.
condição necessária para que os processos Carrego as culturas originais esmagadas com
de tomada de consciência superem a racio- os restos de colonialismo nas Malvinas, com
nalidade instrumental e habilitem o sujeito bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do
frente às possibilidades da competência co- Caribe que se chama Cuba. Carrego as con-
municativa. sequências da vigilância eletrônica, que
não faz outra coisa que não despertar des-
Cabe à escola favorecer uma aprendizagem confiança. Desconfiança que nos envenena
crítica do conhecimento científico, promo- inutilmente. Carrego uma gigantesca dívi-
ver a discursividade dos alunos e a discus- da social com a necessidade de defender a
são pública das formas de racionalidade Amazônia, os mares, nossos grandes rios na
subjacentes aos processos escolares. [...] A América. Carrego o dever de lutar por pátria
construção de uma razão que se descentra é para todos.
condição necessária para que o sujeito reco- Nossa civilização montou um desafio men-
nheça outras razões e seja capaz de agir com tiroso e, assim como vamos, não é possível
competência no discurso argumentativo, satisfazer esse sentido de esbanjamento que
fundamental para a racionalidade comunica- se deu à vida. Isso se massifica como uma
tiva que opera nas bases de um pensamento cultura de nossa época, sempre dirigida pela
refletido, tornando conscientes os seus es- acumulação e pelo mercado.
quemas de ação. Prometemos uma vida de esbanjamento,
e, no fundo, constitui uma conta regressi-
Texto adaptado de LIMA, João Francisco Lo- va contra a natureza, contra a humanidade
pes de. A reconstrução da tarefa educativa: no futuro. Civilização contra a simplicidade,
uma alternativa para a crise e a desesperan- contra a sobriedade, contra todos os ciclos
ça. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003, p. naturais.
103. O pior: civilização contra a liberdade que
supõe ter tempo para viver as relações hu-
a) Reescreva o trecho a seguir sem a palavra manas, as únicas que transcendem: o amor,
que. Faça as modificações necessárias. a amizade, aventura, solidariedade, família.

28
Civilização contra tempo livre que não é fanatismos, até que, talvez, a mesma natu-
pago, que não se pode comprar, e que nos reza faça um chamado à ordem e torne invi-
permite contemplar e esquadrinhar o cená- áveis nossas civilizações. Talvez nossa visão
rio da natureza. Arrasamos a selva, as selvas seja demasiado crua, sem piedade, e vemos
verdadeiras, e implantamos selvas anônimas ao homem como uma criatura única, a úni-
de cimento. Enfrentamos o sedentarismo ca que há acima da terra capaz de ir contra
com esteiras, a insônia com comprimidos, a sua própria espécie. Volto a repetir, porque
solidão com eletrônicos, porque somos feli- alguns chamam a crise ecológica do plane-
zes longe da convivência humana. ta de consequência do triunfo avassalador
Ouvimos da biologia que defende a vida pela da ambição humana. Esse é nosso triunfo
vida, como causa superior, e a suplantamos e também nossa derrota, porque temos im-
com o consumismo funcional à acumulação. potência política de nos enquadrarmos em
A política, eterna mãe do acontecer humano, uma nova época. E temos contribuído para
ficou limitada à economia e ao mercado. De sua construção sem nos dar conta.
salto em salto, a política não pode mais que A cobiça, tão negativa e tão motor da histó-
se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e ria, essa que impulsionou o progresso ma-
se entretém, aturdida, lutando pelo gover- terial, técnico e científico, que fez o que é
no. Debochada marcha de historieta huma- nossa época e nosso tempo, um fenomenal
na, comprando e vendendo tudo, e inovando avanço em muitas frentes, paradoxalmen-
para poder negociar de alguma forma o que te, essa mesma ferramenta, a cobiça, que
é inegociável. Há marketing para tudo, para nos impulsionou a domesticar a ciência e
os cemitérios, os serviços fúnebres, as ma- transformá-la em tecnologia, nos precipita
ternidades, para pais, para mães, passando a um abismo nebuloso. A uma história que
pelas secretárias, pelos automóveis e pelas não conhecemos, a uma época sem história,
férias. Tudo, tudo é negócio. e estamos ficando sem olhos nem inteligên-
Todavia, as campanhas de marketing caem cia coletiva para seguir colonizando e para
deliberadamente sobre as crianças, e sua continuar nos transformando.
psicologia para influir sobre os adultos e ter, Porque se há uma característica deste bichi-
assim, um território assegurado no futuro. nho humano é a de que é um conquistador
Sobram provas de que essas tecnologias são antropológico.
bastantes abomináveis e que, por vezes, con- Parece que as coisas tomam autonomia e es-
duzem a frustrações e mais. sas coisas subjugam os homens. De um lado
O homenzinho médio de nossas grandes ci- a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo
dades perambula entre os bancos e o tédio isso e para vislumbrar o rombo. Mas é im-
rotineiro dos escritórios, às vezes tempe- possível para nós coletivizar decisões globais
rados com ar condicionado. Sempre sonha por esse todo. A cobiça individual triunfou
com as férias e com a liberdade, sempre so- grandemente sobre a cobiça superior da es-
nha com pagar as contas, até que, um dia, pécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa pa-
o coração para, e adeus. Haverá outro sol- lavra simples, menos opinável e mais evi-
dado abocanhado pelas presas do mercado, dente? Em nosso Ocidente, particularmente,
assegurando a acumulação. A crise é a im- porque daqui viemos, embora tenhamos vin-
potência, a impotência da política, incapaz do do sul, as repúblicas, que nasceram para
de entender que a humanidade não escapa afirmar que os homens são iguais, que nin-
nem escapará do sentimento de nação. Sen- guém é mais que ninguém, que os governos
timento que está quase incrustado em nosso deveriam representar o bem comum, a jus-
código genético. tiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúbli-
Hoje é tempo de começar a talhar para pre- cas se deformam e caem no esquecimento da
parar um mundo sem fronteiras. A economia gente que anda pelas ruas, do povo comum.
globalizada não tem mais condução que não Não foram as repúblicas criadas para vege-
seja o interesse privado, de muitos poucos, tar, mas, ao contrário, para serem um grito
e cada Estado Nacional mira sua estabilida- na história, para fazer funcionais as vidas
de continuísta, e hoje a grande tarefa para dos próprios povos e, portanto, as repúblicas
nossos povos, em minha humilde visão, é o que devem às maiorias e devem lutar pela
todo. promoção das maiorias.
Talvez nosso mundo necessite menos de or- Seja o que for, por reminiscências feudais
ganismos mundiais, desses que organizam que estão em nossa cultura, por classismo
fóruns e conferências, que servem muito às dominador, talvez pela cultura consumista
cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, que rodeia a todos, as repúblicas frequente-
no melhor dos casos, não reúnem ninguém e mente, em suas direções, adotam um viver
nem se transformam em decisões. diário que exclui, que se distancia do ho-
Continuarão as guerras e, portanto, os mem da rua.

29
Ouçam bem, queridos amigos: em cada mi- 4. (Ufg 2014) Considerando o trecho “Porque
nuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em se há uma característica deste bichinho hu-
ações militares nesta Terra. Dois milhões de mano é a de que é um conquistador antropo-
dólares por minuto em inteligência militar!! lógico”,
Em investigação médica de todas as enfer-
midades que avançaram enormemente, cuja a) explique a função de “porque” para o de-
cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a senvolvimento da temática explorada por
investigação cobre apenas a quinta parte da Mujica.
investigação militar. b) Além de bichinho, Mujica usa outra pala-
Amigos, creio que é muito difícil inventar vra no diminutivo. Transcreva-a do tex-
uma força pior que nacionalismo chauvinis- to e explique o sentido que essa palavra
ta das grandes potências. A força é que liber- confere aos argumentos do presidente.
ta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos pro-
cessos de descolonização, formidável para 5. (Pucrj 2013) Texto 1
os fracos, se transforma em uma ferramenta Apesar de consideradas pela crítica, durante
opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos muito tempo, uma manifestação menor da
200 anos, tivemos exemplos disso por toda literatura, as narrativas de viagem viveram
a parte. momentos de glória no passado. Inúmeros
Até que o homem não saia dessa pré-história escritores se dedicaram ao gênero, e eram
e arquive a guerra como recurso quando a muitos os leitores aficionados pelos relatos
política fracassa, essa é a larga marcha e o de aventuras. Na forma de diários, memórias
desafio que temos daqui adiante. E o dize- ou simplesmente impressões de viagens, os
mos com conhecimento de causa. Conhece- textos surgiam aos borbotões, nos séculos
mos a solidão da guerra. No entanto, esses XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora
sonhos, esses desafios que estão no horizon- pelo Novo Mundo, expressando sempre o
te, implicam lutar por uma agenda de acor- olhar fascinado, a curiosidade e o desejo do
dos mundiais que comecem a governar nossa viajante de deixar registrada a sua experiên-
história e superar, passo a passo, as ameaças cia, que ele julgava ímpar.
à vida. A espécie como tal deveria ter um Na Europa, os destinos mais buscados eram
governo para a humanidade que superasse o a Alemanha, a Itália e a Espanha, fosse pela
individualismo e primasse por recriar cabe- mitologia, pela glória passada ou pela profu-
ças políticas que acudam ao caminho da ci- são de ruínas históricas. 1E não importava se
ência, e não apenas aos interesses imediatos a viagem durasse semanas, meses ou anos;
que nos governam e nos afogam. interessava relatá-la e assim se inscrever
Paralelamente, devemos entender que os in- na tradição do gênero. Dentre os mais ilus-
digentes do mundo não são da África ou da tres viajantes, Goethe, Mme. de Stäel, Victor
América Latina, mas da humanidade toda, e Hugo, Michelet, Lamartine e Mérimée foram
esta deve, como tal, globalizada, empenhar- autores que incentivaram outros escritores
-se em seu desenvolvimento, para que pos- a também excursionar e a escrever sobre as
sam viver com decência de maneira autôno- novas terras.
ma. Os recursos necessários existem, estão A América foi igualmente pródiga em inspi-
neste depredador esbanjamento de nossa rar viajantes - em sua maioria pintores, bo-
civilização. tânicos, naturalistas, arqueólogos ou simples
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em aventureiros -, ainda que a maioria não ti-
um corpo de bombeiros, uma homenagem vesse pretensões literárias e quisesse apenas
a uma lâmpada elétrica que está acesa há fazer anotações acerca da geografia, fauna e
cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! flora tropical das novas terras.
Quantos milhões de dólares nos tiraram dos Octavio Ianni, em A metáfora da viagem,
bolsos fazendo deliberadamente porcarias afirma que a história dos povos “está atra-
para que as pessoas comprem, comprem, vessada pela viagem”, não importa se real
comprem e comprem. (se ocorre o deslocamento geográfico, es-
Mas esta globalização de olhar para todo pacial e temporal), ou metafórica (sem o
o planeta e para toda a vida significa uma deslocamento físico, mas apenas o sensível
mudança cultural brutal. É o que nos requer ou sensorial), pois toda sociedade trabalha
a história. Nosso dever biológico, acima de a viagem, “seja como modo de descobrir o
todas as coisas, é respeitar a vida e impul- ‘outro’, seja como modo de descobrir o ‘eu’”.
sioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que A viagem destina-se, portanto, a ultrapassar
a espécie é nosso “nós”. fronteiras, a demarcar as diferenças e as se-
melhanças entre os povos.
Transcrição e tradução do discurso feitas por Kiko Nogueira
Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.
com.br/>. Acesso em: 26 set. 2013. (Adaptado).

30
E, se consideramos as condições em que os b) Reescreva o período abaixo, fazendo as
deslocamentos eram realizados, as enormes alterações necessárias para atender ao
distâncias, o desconforto de navios, carros que é proposto.
de bois e ferrovias, além dos perigos de toda “Raros são os seus pensamentos: ou reme-
natureza a que estavam sujeitos, causa es- mora as léguas que andou, ou computa as
panto encontrar tantas mulheres, dentre os que tem que vencer para chegar ao término
viajantes, que ousaram deixar a segurança da viagem.” (Texto 2 – ref. 1)
de seus lares, suas famílias e enfrentar o Raros eram
preconceito, as novas fronteiras, o desco-
nhecido. c) Com relação à passagem “Dá-lhe o Sol,
DUARTE, Constância Lima; MUZZART, Zahidé quando muito, os pontos cardeais, e a
Lupinacci. Pensar o outro ou quando as mulheres
terra só lhe prende a atenção” (Texto 2
viajam. Revista Estudos Feministas. vol.16 n.3.
Florianópolis. Setembro/dezembro. 2008. Apresentação. – ref. 2), explique por que o verbo dar
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. encontra-se flexionado na 3ª pessoa do
php?pid=S0104-026X2008000300018&script=sci_ singular.
arttext>. Acesso em: 12 ago. 2012.

Texto 2 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Espalham-se, por fim, as sombras da noite.
O sertanejo que de nada cuidou, que não ou- Sobre as memórias (fragmento)
viu as harmonias da tarde, nem reparou nos Rubem Alves
esplendores do céu, que não viu a tristeza a
pairar sobre a terra, que de nada se arreceia, Memória é onde se guardam as coisas do pas-
consubstanciado como está com a solidão, sado.
para, relanceia os olhos ao derredor de si e, Há dois tipos de memória: memórias sem
se no lagar pressente alguma aguada, por má vida própria e memórias com vida própria.
que seja, apeia-se, desencilha o cavalo e reu- As memórias sem vida própria são inertes.
nindo logo uns gravetos bem secos, tira fogo Não têm vontade. 1Sua existência é seme-
do isqueiro, mais por distração do que por lhante à das ferramentas guardadas numa
necessidade. caixa. Não se mexem. Ficam imóveis nos
Sente-se deveras feliz. Nada lhe perturba seus lugares, à espera. À espera de quê? 2À
a paz do espírito ou o bem-estar do corpo. espera de que as chamemos. 3Ao chegar a um
Nem sequer monologa, como qualquer ho- hotel, a recepcionista nos entrega uma ficha
mem acostumado a conversar. para ser preenchida. 4Lá estão os espaços
1
Raros são os seus pensamentos: ou reme- em branco onde deverei escrever meu nome,
mora as léguas que andou, ou computa as endereço, número da carteira de identidade,
que tem que vencer para chegar ao término do CPF, número do telefone, e-mail. Abro a
da viagem. minha caixa de memórias sem vida própria e
No dia seguinte, quando aos clarões da auro- encontro as informações pedidas. Se desejo
ra acorda toda aquela esplêndida natureza, ir do meu apartamento à casa de um amigo,
recomeça ele a caminhar, como na véspera, eu pergunto: que ruas tomar para chegar lá?
como sempre. Abro a caixa de ferramentas e lá encontro
Nada lhe parece mudado no firmamento: as um mapa do itinerário que devo seguir. É da
nuvens de si para si são as mesmas. 2Dá-lhe caixa das memórias sem vida própria que se
o Sol, quando muito, os pontos cardeais, e a valem os alunos para responder às questões
terra só lhe prende a atenção, quando algum propostas pelo professor numa prova. Se a
sinal mais particular pode servir-lhe de mar- memória não estiver lá, ele receberá uma
co miliário na estrada que vai trilhando. nota má...
TAUNAY, Visconde de. Inocência. Disponível em: São essas as memórias que os neurologistas
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/
testam para ver se uma pessoa está sofrendo
texto/bn000002.pdf>. Acesso em: 20 set. 2012.
do 5mal de Alzheimer. O médico, como quem
a) Com base na frase abaixo, extraída do não quer nada, vai discretamente fazendo
texto 1, determine a diferença que se es- perguntas sobre a cidade onde nasceu, o
tabelece entre os dois empregos da pala- nome dos pais, onde moram os filhos. Se a
vra se. pessoa não souber responder é porque sua
“E não importava se a viagem durasse sema- caixa de memórias está vazia. Essas memó-
nas, meses ou anos; interessava relatá-la e rias são muito importantes. Sem elas não
assim se inscrever na tradição do gênero.” poderíamos nos virar na vida. Estaríamos
(ref. 1) sempre perdidos.

31
6
As memórias com vida própria, ao contrá- Pensando bem, ele talvez derive do fato,
rio, não ficam quietas dentro de uma caixa. creio que já notado por outras pessoas, de
7
São como pássaros em voo. Vão para onde ser o guarda-chuva o objeto do mundo mo-
querem. E podemos chamá-las que elas não derno mais 1infenso a mudanças. Sou apenas
vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós, um quarentão, e praticamente nenhum obje-
mas não nos pertencem. O seu aparecimento to de minha infância existe mais em sua for-
é sempre uma surpresa. É que nem suspei- ma primitiva. De máquinas como telefone,
távamos que estivessem vivas! A gente vai automóvel, etc., nem é bom falar. Mil peque-
calmamente andando pela rua e, de repente, nos objetos de uso mudaram de forma, de
um cheiro de pão. E nos lembramos da 8mãe cor, de material; em alguns casos, é verdade,
assando pães na cozinha. para melhor; mas mudaram.
(...) O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs,
Uma leitora enviou-me um e-mail em inglês. as sombrinhas, já se entregaram aos piores
Desculpou-se. É egípcia. Vive no Brasil, en- 2
desregramentos futuristas e tanto abusa-
tende bem o português, mas tem dificulda- ram que até caíram de moda. Ele perma-
des em se expressar. Disse-me que gostava neceu 3austero, negro, com seu cabo e suas
das coisas que escrevo. Escreveu-me para invariáveis varetas. De junco fino ou 4pinho
dizer que uma palavra, uma única palavra vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre
que eu havia escrito a apunhalara. Numa ou rico, ele se tem mantido digno.
crônica que eu escrevera para minhas netas, Reparem que é um dos engenhos mais curio-
contando como era a vida na roça, disse que sos que o homem já inventou; tem ao mes-
não havia eletricidade. Portanto não havia mo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre,
geladeiras. As comidas eram guardadas num essa pequena barraca ambulante.
armário de tela chamado “guarda-comida”. Já na minha infância era um objeto de ares
Essa foi a palavra que a apunhalou. Como é antiquados, que parecia vindo de épocas re-
que uma palavra tão banal pode apunhalar? motas, e uma de suas características era ser
Não foi a palavra. Foi a lembrança. Ela já ha- muito usado em enterros. Por outro lado,
via se esquecido de que essa palavra existia. esse grande acompanhador de defuntos sem-
Aí, quando ela a leu, um passado longínquo pre teve, apesar de seu feitio grave, o costu-
retornou. Ela se viu menina na cozinha de me leviano de se perder, de sumir, de mudar
sua casa no Cairo. Lá havia um guarda-co- de dono. Ele na verdade só é fiel a seus ami-
mida... gos cem por cento, que com ele saem todo
(...) dia, faça chuva ou sol, apesar dos 5motejos
(http://tiatiz.wordpress.com/2009/11/06/sobre-as- alheios; a estes, respeita. O freguês vulgar e
memorias-rubem-alves/Acesso em 04/01/2013.) ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da
primeira distração para sumir.
Vocabulário:
Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honra-
5
Mal de Alzheimer: A doença de Alzheimer
do. Ali está ele, meio aberto, ainda molha-
provoca deterioração das funções cerebrais,
do, choroso; descansa com uma espécie de
como perda de memória, da linguagem, da
humildade ou paciência humana; se tivesse
razão e da habilidade de cuidar de si pró-
liberdade de movimentos não duvido que
prio.
iria para cima do telhado quentar sol, como
fazem os urubus.
6. (G1 - cp2 2013) Observe: “Ao chegar a um Entrou calmamente pela era atômica, e olha
hotel, a recepcionista nos entrega uma ficha com ironia a arquitetura e os móveis chama-
para ser preenchida.” (ref. 3) dos funcionais: ele já era funcional muito
antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a
Qual é o valor semântico da oração adverbial fantasia, a inquietação e a ânsia de varieda-
em destaque? de do homem não conseguiram modificá-lo
em coisa alguma.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: (...)
Coisas antigas (BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana.
Rio de Janeiro: Record, 1993.)
(...)
Depois de cumprir meus afazeres, voltei para Vocabulário
casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e 1
Infenso: contrário, oposto
me pus a contemplá-lo. Senti então uma cer- 3
Austero: rígido, severo
ta simpatia por ele; meu velho rancor contra 4
Pinho: madeira do pinheiro
os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho 5
Motejo: zombaria
carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber
qual a origem desse carinho.

32
7. (G1 - cp2 2013) No terceiro parágrafo do uma aparência melhor para enfrentar o dia
texto (ref. 2), existe uma relação de causa e que estava começando. Muitos de nós via-
consequência entre duas orações. jávamos de trem por economia. Outros, por
Transcreva somente a oração que expressa a medo de voar, como o próprio Cyro Monteiro,
consequência. que chamava o trem de “avião dos covardes”.
[...]
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: (CARLOS, Manoel. Revista Veja Rio,
Trem de aço Editora Abril, 31/10/12, p. 130.)

1
Viajar de trem me dá saudade de coisas que
não vivi. É também diante de um trem, estan- 8. (G1 - cp2 2013) No primeiro parágrafo da
do eu dentro ou fora dele, que revejo cenas crônica Trem de aço, lê-se:
que não presenciei e histórias que incluem
pessoas que nem sempre conheci. 2Gente “(...) ao nos lembrarmos delas, ficamos em
esperando na plataforma, dando adeus aos dúvida sobre sua vivência real ou sonhada.”
amigos, beijando a namorada, enxugando (ref. 3)
uma lágrima, mas fingindo sorrir. São como
muitas imagens que povoam os nossos so- a) Reescreva a oração destacada, desenvol-
nhos e que, 3ao nos lembrarmos delas, fica- vendo-a.
mos em dúvida sobre sua vivência real ou b) Qual é o valor semântico da oração usada
sonhada. Se estou dentro de um deles, ime- para responder ao item a?
diatamente me acomodo junto à janela, para
ver o desfile das pequenas cidades, as crian-
ças acenando, as mulheres suspendendo por 9. (Ufmg 2012) Leia estes trechos, atentando
um instante o que estão fazendo 4e assim, para os conectivos neles destacados:
com os olhos cheios de sonhos, se postarem
nas janelas e nos quintais, suspirando por TRECHO 1
uma vida bonita como uma viagem de trem.
[...] Ouvimos o ferrolho da porta que dava para
Uma viagem, qualquer uma, curta ou longa, o corredor interno; era a mãe que abria Eu,
seja por um meio, seja por outro, sempre uma vez que digo tudo, digo aqui que não
nos deixa imagens de vida que ficam para tive tempo de soltar as mãos da minha ami-
sempre. Mas as que fazemos de trem per- ga...
duram muito além das outras. Num avião, MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro.
por exemplo, não temos paisagem. É como São Paulo: Globo. 1997. p. 67.
se viajássemos dentro de um tubo de ensaio.
Num navio existe sempre a monótona so- TRECHO 2
lidão do oceano que parece não ter fim. 5O
trem, ao contrário, nos enriquece os olhos Fomos jantar com a minha velha. Já lhe po-
e a imaginação, com as múltiplas imagens dia chamar assim, posto que os seus cabelos
desfilando diante de nós, como no cinema. brancos não o fossem todos nem totalmente;
Muitas vezes viajei no “trem de aço”, como e o rosto estivesse comparativamente fres-
era chamado o comboio que fazia o trajeto co...
entre São Paulo e Rio, ainda que o nome ofi- MACHADO DE ASSIS. J. M. Dom Casmurro,
São Paulo: Globo, 1997. p.165.
cial fosse Santa Cruz. Quantos enredos foram
vividos ali, 6nas viagens quase semanais que a) Reescreva cada um desses trechos, subs-
eu fazia para participar do Grande Teatro. tituindo o conectivo destacado por outro
Muitas na companhia ocasional de Caymmi, de igual valor e fazendo as adaptações
do Cyro Monteiro, da Aracy de Almeida, entre necessárias.
outros. No carro-restaurante rolavam uísque b) Explicite o tipo de relação que cada um
e boas histórias. 7Fui testemunha de roman- desses conectivos estabelece entre as ora-
ces que começaram e que terminaram nessas ções, nos trechos em que estão emprega-
viagens. Quantas lágrimas felizes e infelizes dos.
vertidas na madrugada. Numa dessas via-
gens presenciei a bofetada de uma amante,
indignada e raivosa com suposta traição, em
seu parceiro. E em meio a essas cenas, quan-
do nos dávamos conta, já era dia claro. Então
corríamos às nossas cabines, para um sim-
ples cochilo que fosse e que nos devolvesse

33
1
0. (G1 - cp2 2012)

Reescreva a oração “que gera gentileza”, do


texto, substituindo o pronome relativo pelo
termo antecedente, a fim de construir um
período simples.

34
0 2 Literatura

U.T.I.
© Pexels/Pixabay.com

L C
ENTRE LETRAS
Romantismo em Portugal
O Romantismo em Portugal
Partidários do liberalismo de D. Pedro e antimiguelistas, os jovens escritores Almeida Garrett e Alexandre
Herculano tiveram de exilar-se na Inglaterra e na França, onde tomaram contato com as obras de Lord Byron, Walter
Scott e William Shakespeare.
De volta, em 1825, Garrett publicou uma biografia romanceada concebida em versos brancos chamada
Camões. Com esse poema, introduziu-se o Romantismo em Portugal. Suas características viriam a firmar-se no
espírito romântico: versos decassílabos brancos, subjetivismo, nostalgia, melancolia e a grande combinação dos
gêneros literários.
O Romantismo português durou aproximadamente 40 anos, como nos demais países europeus, o Romantis-
mo português atrelou-se ao liberalismo e à ideologia burguesa e assumiu compromissos com o novo público leitor.

Gerações do Romantismo português


Nos anos caóticos de lutas entre liberais e conservadores, os românticos foram, pouco a pouco, implementando
as reformas literárias que modificariam o quadro estético neoclássico português.
O Romantismo português conheceu três momentos distintos.
A Primeira Geração (Almeida Garrett e Alexandre Herculano), entre os anos de 1825 e 1840, muito contribuiu
para a consolidação do liberalismo no país.
A Segunda Geração (Camilo Castelo Branco), ultrarromântica, levou o movimento ao exagero, e prevaleceu
entre os anos 1840 e 1860.
A Terceira Geração (Júlio Dinis), de transição para o Realismo, marcou presença nos anos de 1860. Nesses três
momentos, a poesia, o romance, o teatro, a historiografia e o jornalismo se desenvolveram de forma inédita em Portugal.

1ª GERAÇÃO
Almeida Garrett
§§ É um dos principais escritores do romantismo português.
§§ Em 1832, participou do cerco à cidade do Porto, empreendido pelos liberais.
§§ Escreveu romances, poesia e teatro.
§§ Viagens na minha terra é um relato-personagem que registra o pitoresco da terra natal. Trata-se de um
misto de diário, literatura de viagens, reportagens e ficção, cujo fio narrativo é uma viagem de Lisboa e
Santarém. É organizada em capítulos que relatam os acontecimentos e as reflexões do narrador sobre vários
assuntos, entre os quais amor, política, curiosidades.

Alexandre Herculano
§§ Assim como Garrett, engajou-se na luta ao lado dos pedristas (liberais).
§§ A obra literária de Herculano obedece ao princípio romântico de busca da realidade ideal para o país
mediante a reconstituição das formas sociais mais significativas de sua história. Esse historicismo tem sua
origem no romantismo histórico e social do escritor inglês Walter Scott e do francês Victor Hugo.
§§ A ficção histórica é constituída por 3 obras: O bobo, que trata da formação de Portugal em meio a uma
intriga romântica; Eurico, o presbítero, que registra a situação histórica portuguesa sob o domínio mouro e
discute criticamente a questão do celibato clerical; e O monge de Cister, romance que marca o momento
histórico da centralização política monárquica.

37
2ª GERAÇÃO 3ª GERAÇÃO
Camilo Castelo Branco Júlio Dinis
§§ Camilo concentrou seus esforços profissionais na
§§ Criava seus personagens sob a lógica dos tipos
carreira de escritor, fonte de seu sustento. Sua vas-
ta obra compreende as temáticas com foco no sociais e substituiu o ultrarromantismo pelas an-
mistério, nas questões históricas e na crítica aos tecipações realistas, em que a oralidade e os com-
costumes. portamentos observáveis passaram a figurar em
§§ A novela camiliana atende ao gosto popular, com suas narrativas. No entanto, é estudado ainda no
predomínio do ultrarromantismo e do passiona-
Romantismo, por conta do processo de redenção
lismo, traço distintivo e força artística. O mundo
é frustrado sob o ângulo das grandes paixões: nas conclusões de suas tramas.
Carlota Ângela (1858), Amor de perdição (1863), §§ Suas principais obras são: As pupilas do senhor
Amor de salvação (1864), A doida do Candal reitor (1867), A morgadinha dos canaviais (1868),
(1867), O retrato de Ricardina (1868). Uma família inglesa (1868), Serões da província
§§ A obra que rompe com as características típicas
(1870), Os fidalgos da casa mourisca (1871), Po-
do romantismo é Coração, cabeça e estômago,
livro que realiza uma crítica aos costumes como esias (1873), Inéditos e esparsos (1910) e Teatro
numa antecipação ao realismo. inédito (1946-47).

Romantismo no Brasil: três fases da poesia


As gerações do Romantismo
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos.
Essa divisão, contudo, compreende, principalmente, os autores de poesia.
Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas obras apresentam traços
característicos de mais de uma geração.
§§ Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa, com destaque pra Gonçalves Dias e Gonçalves de
Magalhães.
§§ Segunda geração: marcada pelo “mal do século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa-
tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes
Varela e Junqueira Freire.
§§ Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior
expressão desse grupo é Castro Alves. Durante o Segundo Reinado, os românticos foram firmando o projeto de
uma literatura autenticamente nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da
poesia romântica brasileira, cujos poetas reúnem distintas gerações com características em comum.

38
1ª GERAÇÃO para quebrar a noção de ordem e abalar as convenções
do mundo burguês.
Enquanto o lado Caliban do poeta se situa em
Gonçalves de Magalhães uma das linhas que compõem o Romantismo – a linha
orgíaca e satânica –, a ironia levada às últimas conse-
O médico, diplomata, poeta e dramaturgo Do-
quências dos poemas de Álvares de Azevedo acessa um
mingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) foi
veio novo: o antirromântico, o que constitui outro para-
o iniciador do Romantismo na literatura brasileira. Sua doxo. O mais romântico dos nossos românticos lançou o
meta foi implementar a nova corrente literária no País, germe da própria superação do Romantismo, ao ironizar
com o apoio do imperador D. Pedro II. algumas das atitudes mais caras à sua geração, como a
pieguice amorosa e a idealização do amor e da mulher.
Gonçalves Dias
Casimiro de Abreu
Gonçalves Dias criou o indianismo romântico,
impondo-se como uma das maiores figuras da nossa Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poe-
literatura. Seus versos carregavam eloquência, lirismo,
tas românticos mais populares. Natural de Barra de São
grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são: Pri-
João, no Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua
meiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos, Sexti-
obra poética, Primaveras, em Portugal. Apesar de ligado
lhas de Frei Antão, Dicionário da língua tupi, Os timbi-
à segunda geração da poesia romântica, Casimiro con-
ras; as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça,
tribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares
Boabdil e Patkul.
Canção do exílio é um dos mais conhecidos po- de Azevedo deixara ao morrer, sete anos antes.
emas de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em julho
de 1843. Além dele, há também o poema indianista I - 3ª GERAÇÃO
Juca Pirama, a história do último descendente da tribo
tupi feito prisioneiro dos timbiras. O guerreiro seria sa- Castro Alves
crificado e devorado numa festa canibal. Pelo amor ao
pai, já velho e cego, o prisioneiro implora ao chefe dos Castro Alves (1847-1871), o “poeta dos escra-
timbiras que o liberte para cuidar do pai. Julgando-o um vos”, é considerado a principal expressão condoreira da
covarde, o chefe timbira desiste do sacrifício e solta o poesia brasileira. Nascido em Curralinho, hoje Castro
prisioneiro. Alves (BA), estudou Direito em Recife e em São Paulo.
Na evolução da poesia romântica brasileira, sua obra
2ª GERAÇÃO representa um momento de maturidade e de transição.
Maturidade em relação a certas atitudes ingênuas das
gerações anteriores, como a idealização amorosa e o
Álvares de Azevedo nacionalismo ufanista, substituída por posturas mais
críticas e realistas. Transição porque a perspectiva mais
Álvares de Azevedo (1831-1852) é o principal
objetiva e crítica com que trata a realidade aponta para
nome da geração ultrarromântica de nossa poesia. Pau- o movimento literário subsequente, o Realismo.
lista, fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava Castro Alves cultivou a poesia lírica e social, de
o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu que são exemplos Espumas flutuantes e A cachoeira de
um acidente (queda de cavalo), cujas complicações o Paulo Afonso; a poesia épica: Os escravos; e o teatro:
levaram à morte, antes de completar 21 anos. Gonzaga ou Revolução de Minas. Seus poemas trata-
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. vam das questões sociais, da arte engajada e também
Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram da temática lírica.
escritos em apenas quatro anos, período em que era
estudante universitário.
Além disso, o autor também se utilizou constan-
temente da ironia, empregada pelo poeta como recurso

39
Romantismo no Brasil: prosa romântica
O romance brasileiro e a busca do nacional
Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de cons-
truir uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente,
da nossa língua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais.
Nessa busca, o romance se voltou para os espaços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cida-
de, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional
(a vida rural) e ao romance urbano (a vida citadina).
O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja
meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade
brasileira. Esse objetivo foi alcançado.

José de Alencar
José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica.
Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como Mãe e O jesuíta, ence-
nadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles foram
classificados de acordo com o tema.
§§ Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874).
§§ Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875).
§§ Romances históricos: As minas de prata (dois volumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volu-
mes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro).
§§ Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola
(1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877).

Principais obras:
O guarani, 1857, romance histórico-indianista que mostra a convivência entre portugueses e as tribos in-
dígenas da época. A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri
a Cecília; o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, provocada
por D. Diogo, e a consequente revolta e ataque dos Aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de
D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília.
Iracema, 1865, romance histórico-indianista que desenvolve a lenda da fundação do Ceará e a história de
amor entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de cas-
tidade, que rompe ao tornar-se esposa de Martim.
Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigenado.
Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. Enterra-a ao pé
de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho.
Til, 1871, romance regionalista em que o narrador utiliza descrições pormenorizadas da região e de cenários
em torno do rio Piracicaba. A história do romance gira em torno do misterioso nascimento de Berta, uma jovem muito
bondosa e bonita que mesmo sendo uma típica heroína romântica, abnega de seus desejos para cuidar daqueles a
quem quer bem. Por trás de tudo isso, o romance mostra uma visão patriarcal e senhorial presentes no Brasil escra-
vista e patriarcal. Os preconceitos de classe e as relações de poder são enfocadas na obra.
Senhora, 1875, romance urbano, é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamen-

40
to como forma de ascensão social, o autor deu início à problemas até então pouco conhecidos em ou-
discussão sobre certos valores e comportamentos da so- tras regiões do país, como o banditismo, o can-
ciedade carioca da segunda metade do século XIX. Au- gaço, a seca, a miséria, as migrações, mais tarde
rélia Camargo é uma moça pobre e órfã de pai, noiva retomados e aprofundados por Graciliano Ra-
de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona ascender mos, José Lins do Rego, Jorge Amado.
socialmente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça §§ Joaquim Manuel de Macedo – Foi autor do
de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar todos os primeiro romance brasileiro propriamente dito, A
homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se mi-
moreninha (1844), depois de algumas tentati-
lionária, e consequentemente, uma das mulheres mais
vas malsucedidas no gênero. Embora formado
cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda ofe-
em Medicina, Macedo se dedicou ao jornalismo
recer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem revelar
e à política. A moreninha conferiu-lhe ampla po-
seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento.
Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia reve- pularidade, mantida com a publicação de outros
la-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto romances.
fora vil em sua ganância. §§ Manuel Antônio de Almeida – Como escri-
tor, produziu uma única obra. O descompromisso
com o sucesso e um grande senso de humor lhe
Outros autores da prosa permitiram criar uma das obras originais do Ro-
romântica brasileira: mantismo brasileiro: Memórias de um sargento
de milícias.
§§ Bernardo Guimarães – criou o romance
regionalista. ¨ Tornou artísticos os “casos” da
literatura oral, valendo-se das técnicas narrati-
vas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O
seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875),
construídas com temas básicos dos romances de
ênfase social de sua época, respectivamente o
celibato clerical e a escravidão.
§§ Visconde de Taunay – É também autor do ro-
mance regionalista. Por conta de suas andanças
no Mato Grosso, o autorreproduzir com precisão
aspectos visuais da paisagem sertaneja, espe-
cialmente da fauna e da flora da região.
Foi autor do romance Inocência (1872), sua
obra-prima, e de livros sobre a guerra e o sertão,
como Retirada da Laguna (1871).
§§ Franklin Távora – Nasceu no Ceará e estudou
Direito no Rio de Janeiro. Foi um dos mais po-
lêmicos e radicais escritores regionalistas. Rebe-
lou-se contra a “literatura do Sul”, especialmen-
te a de Alencar, seu conterrâneo, alegando que
ele se deixava levar pelos modelos estrangeiros
– nos romances urbanos – e que, ao dedicar-se
a romances regionalistas, nem sequer conhecia a
região retratada – em O gaúcho.
Com O cabeleira, inaugurou um dos veios mais
férteis de nossa ficção regional. Trouxe à tona
41
Realismo em Portugal
Realismo Romantismo
Objetivismo Subjetivismo
Descrições e adjetivação objetivas, voltadas para a captação do real Descrições e adjetivação idealizantes, voltadas para a elevação do
como ele é. objeto descrito.
Linguagem culta e direta. Linguagem culta, e estilo metafórico e poético.
Idealização da mulher com qualidades e defeitos. Idealização da mulher, anjo de pureza e perfeição.
Amor e sentimentos subordinados aos interesses sociais. Amor sublime e puro, acima de qualquer interesse.
Casamento, instituição falida, não passa de contrato de interesses
Casamento centrado no relacionamento amoroso.
e conveniências.
Herói em conflito, enfraquecido, com manias e incertezas. Herói íntegro, de caráter irrepreensível.
Narrativa lenta, ao ritmo do tempo psicológico. Narrativa de ação e de aventura.
Personagens moldadas psicologicamente. Personagens planas cujos pensamentos e ações são previsíveis.
Universalismo. Individualismo, culto do eu.

Naturalismo
§§ Linguagem simples.
§§ Clareza, equilíbrio e harmonia na composição.
§§ Narrativa minuciosa.
§§ Emprego de termos regionais.
§§ Longas descrições.
§§ Impessoalidade.
§§ Determinismo.
§§ Objetivismo científico.
§§ Temas sociais patológicos.
§§ Observação e análise da realidade.
§§ Homens encarados sob a ótica animalesca e sensual.
§§ Despreocupação com a moral.
§§ Literatura engajada.

O Realismo cientificista
Aproximar a verdade social da verdade artística, privilegiando o cotidiano do homem também brutal e
animalizado, foi um dos objetivos do Realismo. Conceitualmente, Realismo e Naturalismo confluíram para o ideal
positivista do final do século XIX. Era pressuposto desses movimentos submeter o texto artístico à realidade. Ao
artista importavam a observação e a experiência, não a idealização da realidade que caracterizou o Romantismo.
Em tempos de industrialização e da vitória do capitalismo, o culto à ciência criou o ambiente contrário
ao sentimentalismo romântico. A ciência passou a ser considerada o único veículo legítimo de conhecimento da
realidade, não mais a emoção. Uma literatura “científica”, um recurso de conhecimento da realidade, um espelho
fiel do universo.
O pensamento positivista do francês Augusto Comte (1798-1857) marcou a atmosfera realista cujo foco foi
o saber à luz das leis científicas, superior ao saber teológico ou metafísico.

42
Realismo em Portugal Preocupação com a reforma da sociedade
Desejo de democratização do poder político
Foi com a Questão Coimbrã, em 1865, polêmica
mediante amplas reformas sociais; diagnóstico de pro-
literária travada pelos jornais de Coimbra, que o Re-
blemas sociais e sugestões de soluções reformistas de
alismo começou a ganhar vida em Portugal. Naquela
caráter socialista.
mesma data, o poeta romântico Antônio Feliciano de
Castilho, representante da Escola de Lisboa, fez elogios
num posfácio à obra Poema da mocidade, de Pinheiro
Representação da vida contemporânea
Chagas, e censurou o estilo poético defendido pela Es- Estabelecimento de conexões rigorosas de causa
cola Coimbrã, citando os nomes de Antero de Quental e e efeito entre os fenômenos observados da realidade
Teófilo Braga. Foi o quanto bastou para que Antero de social
Quental lhe respondesse mediante folhetos denomina-
dos Bom senso e bom gosto e A dignidade das letras e
as literaturas oficiais. Eça de Queirós
Linhas de pensamento do Realismo/ José Maria Eça de Queirós (1845-1900) estudou
Direito na Universidade de Coimbra, onde conheceu
Naturalismo em Portugal a geração que revolucionou a literatura. Aos 21 anos
participou ativamente das Conferências do Cassino Lis-
Estas observações procuram sintetizar a produ-
bonense. Ingressou na vida diplomática e atuou como
ção literária do Realismo/Naturalismo português.
cônsul em Cuba e na Grã-Bretanha, onde escreveu O
Crítica ao tradicionalismo vazio crime do padre Amaro e O primo Basílio, romances de
maior repercussão em sua carreira literária.
da sociedade portuguesa
De acordo com os jovens de Coimbra, o tradi- As três fases de Eça de Queirós
cionalismo era resultado de uma educação romântica,
A obra de Eça de Queirós pode ser organizada
convencional e distante da realidade. O escritor tinha
em três fases:
uma missão a cumprir: a de comprometer-se com a ver-
§§ Primeira fase – de 1865 a 1871 – é conside-
dade social.
rada a fase de aprendizado, com a produção dos
Crítica ao conservadorismo da Igreja folhetins de gosto popular, reunida mais tarde
sob o título de Prosas bárbaras. Neles revela
Tendo em vista a importância do catolicismo em influência de Victor Hugo e Mechelet, uma vez
inclinado para os temas históricos. Também em
Portugal, os realistas criticavam seu conservadorismo
folhetins nasceu seu primeiro romance – O mis-
voltado para o passado, que impedia o desenvolvimen-
tério da estrada de Sintra (1871) –, escrito em
to natural da sociedade. A corrupção, as imoralidades
parceria com Ramalho Ortigão. O método epis-
e a quebra do celibato eram também tematizados em
tolar da escrita – troca de cartas entre os autores
escopo crítico.
– despertou o interesse do público. Nas cartas,
os escritores contam a história de um sequestro.
Visão objetiva e natural da realidade Na época, os leitores acreditavam tratar-se de
fato verídico.
O escritor realista construía seus personagens §§ Segunda fase – de 1871 a 1888 –, chamada
mediante tipos concretos, criados pela observação da Realismo Agudo, deu-se após a publicação de O
relação deles com o meio. Seu comportamento deveria crime do padre Amaro e Os Maias. Seu objetivo
ser definido pelos caracteres psicossociais influenciados foi assim expresso por Eça de Queirós em carta
e adquiridos no ambiente em que viviam. ao amigo Teófilo Braga: [...] “pintar a sociedade

43
portuguesa e mostrar-lhe, como num espelho, A cidade e as serras (1901)
que triste país eles formam. [...] destruir as fal-
sas interpretações e falsas realizações que lhe dá José Fernandes narra uma história que tem como
uma sociedade podre”. protagonista um grande amigo seu: Jacinto.
§§ Terceira fase – de 1888 a 1900 –, conside- Jacinto, que nasceu e sempre viveu em Paris, é
rada a fase de “nacionalismo nostálgico” ou rico e herdeiro de fidalgos portugueses, vive a suposta
“realismo fantasia”, em que suas obras focam felicidade que uma grande renda mensal lhe proporcio-
o tradicionalismo das origens de Portugal e uma na. Vive num palacete nos Campos Elísios, no número
tentativa de fazer as pazes com o país que tanto 202, rodeado por luxo e conforto, mas não está satis-
feito e passa boa parte do tempo entediado, mesmo
criticou. É o caso de A ilustre casa de Ramires. O
considerando a cultura e a tecnologia os únicos meios
protagonista Ramires procura colocar-se à altura
de se chegar a suprema felicidade.
de seus antepassados medievais e a recompor a
Devido a um acidente na capelinha da proprie-
própria história. Esta fase compreende também
dade de Jacinto, em Tormes, Portugal, onde estão enter-
A correspondência de Fradique Mendes e o ro-
rados os ossos de seus avós, o rico herdeiro retorna à
mance A cidade e as serras.
terra natal de seus antepassados. Ao sentir-se útil pela
primeira vez, Jacinto reencontra uma grande alegria de
Principais obras: viver. Assim, realiza uma série de reformas.
Na propriedade constrói boas casas para os em-
O crime do padre Amaro (1875)
pregados, aumenta seus salários e proporciona médico
Primeiro romance do Realismo português tem e remédios. Devido a essa atitude, mudanças aconte-
o enredo ambientado em Leiria, cidade interiorana do cem em toda a região e trazem prosperidade. Jacinto
norte de Portugal, onde o ingênuo padre Amaro Vieira une-se em matrimônio com a prima de José Fernandes,
vai assumir sua paróquia. Hospedado inicialmente na Joaninha, e juntos têm um casal de filhos. Passe a ser
casa da Senhora Joaneira, acaba por se envolver amo- organizado e responsável e nunca mais volta a Paris.
rosamente com sua filha Amélia. Seus colegas padres
não estranham tal relação, o que leva o jovem pároco a
perceber que agiam cinicamente.
Realismo no Brasil
O primo Basílio (1878) O contexto brasileiro
Jorge e Luísa são um casal da burguesia lisboeta. A lição dos contemporâneos portugueses, nota-
Convivem num círculo de amizades formado, entre ou- damente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de pre-
tros, pelo Conselheiro Acácio, homem apegado a con- ferência, foi decisiva para os autores realistas brasileiros
venções sociais; Dona Felicidade, que nutre uma paixão
fortemente influenciados por eles. A família burguesa
por ele; e Sebastião, o melhor amigo de Jorge.
já não era mais o único foco da literatura, como havia
Jorge sai em uma viagem de trabalho e durante
acontecido no Romantismo. Os realistas ocupavam-se
sua ausência, Luísa recebe a visita de Basílio, seu primo,
de outras classes sociais e da alma delas.
residente em Paris. Admirado com a beleza da moça,
A crise matrimonial, o papel da mulher nas rela-
Basílio envolve Luísa em um jogo de sedução, que faz
com que ela se imagine vivendo uma das aventuras ções sociais e o operariado passam a ser temas e perso-
amorosas de suas leituras românticas. nagens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade,
Eles se tornam amantes, passando a trocar car- descrever cenas, ambientes e comportamentos passa a
tas de amor. Luísa encontra estímulo na amiga Leopol- fazer parte considerável das obras literárias. Registrar
dina, mulher casada, colecionadora de casos extracon- a realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos
jugais. Toda a movimentação da casa é observada pela disfarçados, as falsas devoções e a moral de aparência
governanta Juliana, sempre às voltas com planos de são temas que passam a integrar o universo do roman-
enriquecimento rápido. ce.

44
Tal como em Portugal, o Realismo/Naturalismo
Primeira fase: ciclo romântico
no Brasil esteve muito ligado às ideias estéticas, cientí-
ficas e filosóficas europeias – positivismo, darwinismo, Ao analisar os romances e os contos de Machado
comunismo, cientificismo – que provocaram bastante de Assis considerados românticos, já se revela a carac-
repercussão. As mudanças que o tempo impôs coinci- terística que haveria de marcar sua obra. Os aconteci-
diram, por sua vez, com o rápido declínio do Segundo mentos são narrados sem precipitação, entremeados de
Império de Pedro II, após a Guerra do Paraguai. Não só explicações aos leitores por parte do narrador e cheios
o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo/Natu- de considerações sobre os comportamentos.
ralismo. O movimento Republicano, em 1870, também Seus personagens não são lineares como os dos
propunha trocar o trabalho escravo pela mão de obra demais românticos. Têm comportamentos imprevistos,
imigrante. fazem maquinações, não são transparentes, mas inte-
As campanhas abolicionista e republicana tive- resseiros.
ram início a partir de 1870 e formaram um movimento A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear:
político que dominou o Brasil e toda a América Latina, tem começo, meio e fim bem demarcados. Fazem parte
voltado para as grandes reivindicações urbanas que já do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a
haviam triunfado nos Estados Unidos e na Europa. A luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de contos Histórias
aristocracia rural entrava em decadência e a monarquia da meia-noite e Contos fluminenses.
mostrava-se um regime superado.
Segunda fase: ciclo realista
Principais autores Com a publicação de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo
Machado de Assis de sua obra. Amadureceu como escritor e passou a es-
crever para leitores mais exigentes. Seus personagens
Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Mor-
tornaram-se mais elaborados, pois eram compostos à
ro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em esco-
luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição
las públicas e tratou de instruir-se por conta própria,
do romance foi aperfeiçoada: os capítulos e frases pas-
interessado que era pela leitura. Inteligente e esfor-
sam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior con-
çado, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)
tato com o leitor.
aproximou-se de intelectuais e de jornalistas que lhe Observa-se também uma apurada análise da so-
deram oportunidades. Aos dezesseis anos empregou-se ciedade brasileira do final do Segundo Império, ambien-
na tipografia de Paula Brito. Aos dezenove já era cola- te no qual o casamento começa a ser um grande alvo da
borador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio crítica tecida pelo autor. As estruturas narrativas fogem
Mercantil, O espelho, Diário do Rio de Janeiro, Semana à linearidade, entremeadas de digressões temporais, in-
Ilustrada, Jornal das Famílias. tromissões do narrador e a análise apurada dos aconte-
Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de cimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas
Agricultura, enquanto sua carreira de escritor mostrava- Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires
-se cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos são romances do ciclo realista.
com a portuguesa Carolina Xavier de Novais. Além dos romances, Machado publica cerca de
Na passagem do Império para a República, Ma- duzentos contos a partir de 1869, começando com os
chado de Assis já era um intelectual respeitável. For- Contos fluminenses, publicados em pleno Romantismo.
mado escritor à luz do Romantismo, com o tempo en- Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da
veredou para o Realismo, o que, a depender da fase, meia-noite, Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias
sua obra seja caracterizada ou romântica, até 1880, ou histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha.
realista, de então em diante. Merecem destaque os contos A cartomante, Mis-

45
sa do galo, O alienista, O espelho, Cantiga de esponsais, Dom Casmurro (1900)
Noite de almirante, A igreja do diabo, entre outros.
A produção poética de Machado de Assis está
Publicado em 1900, Dom Casmurro é um roman-
reunida em Falenas, Crisálidas, Americanas, Ocidentais.
ce narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback
Destacam-se as peças de teatro Queda que as mulheres
da velhice para a adolescência, Bentinho conta sua pró-
têm para os tolos, Quase ministros e Lição de botânica.
pria história.
Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar
Principais obras muito carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Re-
cebeu todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o desti-
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) nara à vida sacerdotal.
Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Na-
Memórias póstumas de Brás Cubas é o roman-
mora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória,
ce iniciador do Realismo na literatura brasileira, assim
presa a uma promessa que fizera, aceita a ideia inteli-
como da segunda fase do escritor. É, sem dúvida, uma
gente de José Dias de enviar um escravo ao seminário
das mais importantes obras da literatura brasileira,
para ser ordenado no lugar do Bentinho.
como marco inicial do Realismo, bem como um desfile
Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito
de genialidade da escrita do autor.
e acaba casando-se mesmo com Capitu.
As memórias de Brás Cubas não são cronológi-
O casal vive muito bem. Bentinho vai progredin-
cas, optando pelo estilo livre e digressivo. Machado se
do, mantém amizade com Escobar, antigo colega de se-
separa definitivamente do Romantismo, e no próprio
minário, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso.
Realismo coloca em prática seu estilo pessoal que es-
colhe como o personagem principal um defunto que Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
vai contar suas memórias. Brás Cubas decide contar Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho
aos leitores o que foi sua vida sem esconder nenhuma começa a achar Capitu estranha. Surpreende-a contem-
das mais profundas verdades. Essa sinceridade, livre das plando o cadáver de uma forma que ele interpreta como
moralidades e falsidades sociais, só existiam, porque ele apaixonada.
estava morto. A partir do episódio, Bentinho consome-se em
Logo, os seus defeitos vão aparecendo a cada ciúme e o casamento entra em crise. Cada vez mais Eze-
página, entrecortadas por situações de ironia e pessi- quiel torna-se parecido com Escobar – o que precipita
mismo. Seus pensamentos são amorais na viagem que em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O
faz pela memória de sua própria vida. A esse gênero casal separa-se, Capitu e Ezequiel vão para a Europa e
literário dá-se o nome de sátira menipeia, no qual um algum tempo depois ela morre.
morto se dirige aos vivos para criticar a sociedade hu- Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o
mana. pai, que comprova a semelhança do filho com Escobar.
Ezequiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado
em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de “Casmur-
ro” e põe-se a escrever a história de sua vida.

46
Naturalismo no Brasil
Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o
romance O cortiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), para perceber que os contrastes sociais já
faziam parte do dia a dia dos cariocas desde o século XIX.
A história revela um efervescente ambiente urbano, construído à luz da observação do cotidiano e sob a
influência da literatura francesa – notadamente do romance L’assommoir (A taberna), 1877, do francês Émile Zola
(1840-1902), inspirador do naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor.

Burguesia versus proletariado


A segunda metade do século XIX foi caracterizado pela consolidação do poder da burguesia, do materia-
lismo e do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de
outro, o crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e
pelo poder, o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram
e desenvolveram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o
idealismo e o tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo.
O método científico passou a ser o meio de análise e compreensão da realidade. Teorias desse naipe de-
ram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais sejam: teoria determinista, de Hippolyte Tai-
ni (1825-1893), encarava o comportamento humano como determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo
momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-1882) defendia a tese de que o homem descende
dos animais. As características do naturalismo literário são ligadas à realidade da época cujo tom deixa de ser tão
poético e subjetivo, como nas escolas precedentes. Os romances naturalistas revelam:
§§ veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade.
§§ contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas.
§§ detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa; o amor é materializado; e a mulher
passa a ser vista como objeto de prazer masculino.
§§ denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito, e
a ambição humanos.
§§ determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens; consi-
deração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista; homem
próximo ao animal (zoomorfismo).
§§ linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns ao das personagens cotidiana;
linguagem é simples, natural e clara.
§§ cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados.
§§ personagens patológicas – mórbidas, adúlteras, assassinos, bêbadas, miseráveis, doentes, prostitutas
procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano.

Aluísio Azevedo
Nasceu em São Luís, no Maranhão, e posteriormente se mudou para o Rio de Janeiro. Produziu folhetins
românticos para jornais. Memórias de um condenado e Mistérios da Tijuca foram alguns deles ditados pelas neces-
sidades de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como
Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio.

47
Fase romântica começa a se interessar por Zulmira, filha do comerciante
Miranda – sonha casar-se com ela e mudar de condição
Dentre os seus folhetins românticos destacam-se social. Jerônimo, que acaba se juntando a Rita Baiana,
Uma lágrima de mulher; Memórias de um condenado arma uma cilada para Firmo e o assassina a pauladas.
ou A Condessa Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Moradores do cortiço vizinho, o “Cabeça-de-Ga-
Azira; Mistério da Tijuca ou Girândola de amores. to”, ateiam fogo ao cortiço de João Romão, para vingar
a morte do capoeirista. O incêndio, indiretamente, au-
xilia o português, que o reconstrói, fazendo um cortiço
Fase naturalista mais novo e mais próspero.
Com o tempo, João Romão aproxima-se cada
Romances: O mulato; Casa de pensão; O ho-
vez mais de Miranda. Só resta tirar a escrava Bertoleza
mem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os
do caminho. Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra
contos Demônios; Pegadas; O touro negro.
suicida-se. João Romão casa-se com Zulmira.
Considerado o mais importante dos naturalistas
brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração
da patologia humana, como ocorre, por exemplo, na Raul Pompeia
obra do paradigma francês Émile Zola.
Aluísio prefere a observação direta da realida- A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas
de da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio geniais, na literatura brasileira é controvertida. A princí-
exerce sobre o homem, segundo a teoria determinista pio, a crítica o julgou pertencente ao Naturalismo, mas
de Hippolyte Taine. as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-
-no aproximar-se do Simbolismo, ficando a sua arte
como a expressão típica, na literatura brasileira, do esti-
O cortiço (1890)
lo impressionista. Sua obra mais conhecida é O ateneu.
João Romão é um ganancioso comerciante de
origem portuguesa, dono de um armazém, de uma pe- O Ateneu (1888)
dreira e de um terreno de bom tamanho, no Rio de Ja-
O romance O Ateneu tem cunho memorialista e
neiro, onde constrói casinhas de baixo custo para alugar.
ressalta em seu eixo fundamental o estudo psicológi-
Bertoleza, uma ex-escrava negra, vive com o por-
co de um adolescente. O foco narrativo é centrado em
tuguês e o ajuda no armazém.
Sérgio, personagem constantemente em conflito com os
Aos poucos, o cortiço que vai se formando e pas-
valores impostos pela direção do internato.
sa a incomodar o vizinho Miranda, dono de uma loja
Surgem no romance os problemas criados pela
próxima. Chefe de uma família composta pela esposa
educação convencional: a homossexualidade, as revol-
Estela e pela filha Zulmira, Miranda sempre reclama
tas e a corrupção. Oscilando entre ser um diário e um
da situação sórdida do lugar. João Romão, por sua vez,
romance, o livro é recheado das experiências do menino
também não aprecia o vizinho e com ele mantém cons-
Sérgio no internato, dirigido pela mão de ferro do dire-
tante rivalidade.
tor Aristarco de Ramos.
Quando Jerônimo, um operário português que
Trata-se de quadros narrativos que vão sendo
trabalha na pedreira, muda-se com a esposa Piedade
expostos ao leitor. Personagens e situações do colé-
para lá, a situação começa a sofrer alterações. Jerônimo
gio são apresentados, desvendando-se um mundo de
apaixona-se pela mulata Rita Baiana, comprometida hipocrisias e falsidades em que até amigos tornam-se
com o capoeirista Firmo. delatores. A história do internato passa pela formação
Com a evolução dessa paixão, Firmo e Jerôni- sexual e intelectual do adolescente como um reflexo da
mo acabam se enfrentando e o português leva uma sociedade e focaliza, ao mesmo tempo, a decadência do
navalhada do capoeirista. Nesse ínterim, João Romão regime monárquico-escravocrata brasileiro.

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No colégio há um sistema de “proteções”, estudantes mais velhos tomam a guarda de mais novos. O sis-
tema esconde todo tipo de baixeza, inclusive o assassinato provocado pela criada Ângela. A atmosfera saturada e
falsa, forjada pelo diretor Aristarco, contamina a todos, com exceção de D. Ema, esposa do diretor, que é pessoa de
muito boa vontade e vem a ser alvo de uma paixão platônica do menino Sérgio. A obra termina com um incêndio
provocado pelo estudante Américo.

Parnasianismo
Escola literária exclusiva da França e do Brasil, o Parnasianismo originou-se com as antologias poéticas
publicadas na França a partir de 1866, sob o título Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo).
Os parnasianos interessaram-se apenas por poesia e foram guiados pela estética da “arte pela arte”, pro-
posta pelo precursor da escola, o poeta francês Théophile Gautier (1811-1872).
A “arte pela arte” estava voltada para o ideal clássico de beleza e harmonia de formas. Para os parnasianos,
a estrutura métrica e sonora de seus versos era perfeita, uma vez que predominava neles a técnica do bom versejar
em vez da inspiração.
No Brasil, o movimento é contemporâneo ao Realismo-Naturalismo, uma vez que os poetas parnasianos
compuseram suas obras entre o final do século XIX e o começo do século XX, adotando a moda importada da
França.
A partir de 1878, no Diário do Rio de Janeiro, os simpatizantes do Realismo entraram em polêmica aberta
contra os do Parnasianismo. Esse desentendimento ficou conhecido como Batalha do Parnaso e acabou servindo
para divulgar a estética parnasiana, logo alcunhada de “ideia nova”, nos meios artísticos do País.

Características da poesia parnasiana


§§ Objetividade no tratamento dos temas abordados, baseados na realidade sem subjetivismo e emoção.
§§ Impessoalidade do escritor que não interfere na abordagem dos fatos.
§§ Valorização da estética e busca da perfeição, da beleza em si e da perfeição estética.
§§ Preferência pelas rimas esteticamente ricas.
§§ Linguagem rebuscada e vocabulário vernáculo.
§§ Temas frequentes ligados à mitologia grega e à cultura clássica.
§§ Preferência pelos sonetos.
§§ Valorização da metrificação rigorosa dos versos.
§§ Valorização da descrição de cenas e objetos.

Parnasianos no Brasil
“A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em
que o movimento antirromântico começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses”, explica
Manuel Bandeira, em estudo dedicado ao movimento.
Coube, no entanto, à chamada tríade parnasiana, formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e
Olavo Bilac, a consolidação do Parnasianismo brasileiro.

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Simbolismo
O Simbolismo correspondeu a uma resposta artística à crise de civilização burguesa da Europa industrializa-
da. Foi uma revolta contra a ideologia tecnocrática do Naturalismo e contra certos dogmas, como o determinismo,
por exemplo, que sufocavam a criatividade artística.
Essa luta foi instintiva e afetiva, bem como pessimista. O artista dos últimos anos do século XIX negava os
valores da sociedade burguesa de forma problemática e autodilacerante, e, além disso, parecia estar descontente
consigo mesmo.
A arte simbolista apresentou significativa elaboração estética. Apesar de se referir a um mundo decadente,
suas formas eram bastante refinadas: procuram servir de refúgio ao artista diante de um mundo marcado pelas
práticas burguesas. Por valorizar o mundo inteiro e os valores espirituais, a atitude da arte simbolista é subjetivista,
muito semelhante a dos românticos da metade do século XIX. Porém, os simbolistas vão mais além, atingindo as
camadas do inconsciente e do subconsciente. Eles retomam o misticismo, o sonho, a fé, numa tentativa de encontrar
novos caminhos. Na trilha do desconhecido, o movimento explora a possibilidade de estabelecer relações entre o
mundo visível e o invisível, o universo que se pode sentir, mas não revelar, exceto pela representação de sensações.
De acordo com o determinismo, os acontecimentos na vida de uma pessoa, bem como suas vontades, es-
colhas e comportamentos, eram causados por influência do meio. Em razão disso, as pessoas eram consideradas
resultado direto do meio, destituídas de plena liberdade, decisão e escolha. Nascido nesse mesmo contexto, o
Impressionismo, movimento artístico francês, caracterizou-se pelo estilo fundamentalmente sensorial, no qual a
natureza era encarada não de forma objetiva, mas interpretada. Prevalecia, portanto, a verdade do artista.

Características da literatura simbolista


§§ A teoria das correspondências.
§§ A realidade ambígua.
§§ A musicalidade.
§§ Metáforas e analogias sensoriais.

Simbolismo em Portugal
O marco inicial do Simbolismo em Portugal foi Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890. O prefácio traz um
verdadeiro programa de estética simbolista, com base nas ideias do poeta francês Jean Moréas.
O término do Simbolismo português deu-se em 1915, quando Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro
lançaram a revista Orpheu, que deu início ao movimento modernista.

Simbolismo no Brasil
Como o Parnasianismo, o movimento simbolista também se projetou no século XX, sendo que sua influência
estendeu-se pelo Pré-modernismo e Modernismo, considerando que houve modernistas neossimbolistas.
O decadentismo do final do século XIX reflete-se no Simbolismo do Brasil, se considerar estas três orienta-
ções que o nortearam:
§§ Orientação humanístico-social adotada por Cruz e Sousa e continuada, mais tarde, por Augusto dos
Anjos: preocupação com os problemas transcendentais do ser humano.

50
§§ Orientação místico-religiosa adotada por Alphonsus de Guimaraens: temas religiosos distantes do eso-
terismo europeu.
§§ Orientação intimista-crepuscular adotada por pré-modernistas e modernistas, como Olegário Mariano,
Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira e Cecília Meireles: temas relacionados com o coti-
diano, sentimentos melancólicos e gosto pela penumbra.
A produção em prosa não vingou no Simbolismo brasileiro, mesmo com a poesia em prosa de Cruz e Sousa,
por exemplo. Ficou voltada para a poesia em um momento histórico em que o País estava marcado por frustrações,
falta de perspectiva, angústias.

51
U.T.I. - Sala
1. (UFG) Leia os textos que seguem:
Sub Tegmini Fagi
[...]
Vem comigo cismar risonho e grave...
A poesia - é uma luz... e a alma - uma ave...
Querem - trevas e ar.
A andorinha, que é a alma - pede o campo.
A poesia quer sombra - é o pirilampo...
P’ra voar... p’ra brilhar.
[...]
ALVES, Castro. “Espumas flutuantes”. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998. p. 105

poiesis II

luz lapidada
de ourives segredo

incorruptível brilho
faz da sua chama
meu ideograma
MAGALHÃES, Carlos F. F. de. “Perau”. Goiânia: Vieira, 2004. p. 203.

A estrofe de Castro Alves e o poema de Carlos Fernando F. de Magalhães apresentam aspectos que
os aproximam e os distinguem.
Tendo em vista esse fato, indique
a) um aspecto comum aos dois textos;
b) dois aspectos que os diferenciam.

2. (UFBA) AVES DE ARRIBAÇÃO

IV
É noite! Treme a lâmpada medrosa
Velando a longa noite do poeta...
Além, sob as cortinas transparentes
Ela dorme... formosa Julieta!

Entram pela janela quase aberta


Da meia-noite os preguiçosos ventos
E a lua beija o seio alvinitente
- Flor que abrira das noites aos relentos.

O Poeta trabalha!... A fronte pálida


Guarda talvez fatídica tristeza...
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa - o amor e a natureza!

E como o cáctus desabrocha o medo


Das noites tropicais na mansa calma,
A estrofe entreabre a pétala mimosa
Perfumada da essência de sua alma.

No entanto Ela desperta... num sorriso


Ensaia um beijo que perfuma a brisa ...

... A Casta-diva apaga-se nos montes ...


Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!
(ALVES, Castro. OS MELHORES POEMAS DE CASTRO ALVES. Seleção de Lêdo lvo. 4 ed. São Paulo: Global Ed., 1988. p. 78.)

Quais as características da lírica romântica - conteúdo e linguagem - presentes na poesia de Castro Alves?
Escreva um texto sobre essas características, ilustrando-as com exemplos retirados do poema anterior.

52
3. (Puc - RJ) Texto 1
Beijei na areia os sinais de teus passos, beijei os meus braços que tu havias apertado, beijei a mão
que te ultrajara num momento de loucura, e os meus próprios lábios que roçaram tua face num
beijo de perdão.
Que suprema delícia, meu Deus, foi para mim a dor que me causavam os meus pulsos magoados
pelas tuas mãos! Como abençoei este sofrimento!... Era alguma cousa de ti, um ímpeto de tua
alma, a tua cólera e indignação, que tinham ficado em minha pessoa e entravam em mim para
tomar posse do que te pertencia. Pedi a Deus que tornasse indelével esse vestígio de tua ira, que
me santificara como uma cousa tua!
..................................................................
Quero guardar-me toda só para ti. Vem, Augusto: eu te espero. A minha vida terminou; começo
agora a viver em ti.
(José de Alencar. “Diva”. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. p.121.)

O texto acima é um trecho do último capítulo de “Diva”, romance de Alencar que, ao lado de
“Senhora” e “Lucíola”, forma a trilogia de “perfis femininos”. Trata-se de uma carta escrita por
Emília, protagonista da estória, ao jovem médico Augusto. A partir da leitura do texto, indique as
características românticas presentes no fragmento, justificando com exemplos.

4. (UFMG - Adaptada) Leia este trecho


TRECHO 1
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência.
Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia
é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que
perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à
pintura que se põe tia barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito eterno, como se diz nas
autopsias; o interno não aguenta tinta.
MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo, 1997. p. 3.

A partir da leitura desse trecho, explique como o narrador aborda as possibilidades de a escrita
reconstituir o passado.

5. (UNB-Adaptada) O emplasto
Um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu
tinha no cérebro.
Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cambalhotas. Eu deixei-
-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar
a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipo-
condríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade.
Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verda-
deiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar
da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá
do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver
impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas do remédio, estas
três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do
foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me
hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma vi-
rada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro, sede de nomeada.
Digamos: — amor da glória.
Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a
perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um
dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana
que há no homem e, consequentemente, a sua mais genuína feição.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Obra completa, v. I. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com adaptações).

O trecho acima trata do momento que Brás Cubas, ao descrever a ideia do emplastro, revela a forte
preocupação que possuía com a imagem de si mesmo na sociedade. Considerando o contexto da obra,
quais outros caminhos o personagem deveria percorrer para que sua boa aparência social fosse man-
tida? Ao final de sua vida, essa imagem é conservada?

53
U.T.I. - E.O. Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
1. (Uflavras) Leia os seguintes fragmentos de “Ma- Em mim descansava,
rília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga. Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
Texto 1 De penas ralado,
Verás em cima de espaçosa mesa Já cego e quebrado,
Altos volumes de enredados feitos; Que resta? – Morrer.
Ver-me-ás folhear os grandes livros, Enquanto descreve
E decidir os pleitos. O giro tão breve
Da vida que teve,
Texto 2
Os Pastores, que habitam este monte, Deixai-me viver!
Respeitam o poder do meu cajado; Não vil, não ignavo,
Com tal destreza toco a sanfoninha, Mas forte, mas bravo,
Que inveja me tem o próprio Alceste. Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Responda:
Guerreiros, não coro
Em qual dos fragmentos o sujeito lírico é ca-
Do pranto que choro:
racterizado de acordo com a convenção arcá-
Se a vida deploro,
dica? Explique.
Também sei morrer.

2. (UNB) I-Juca Pirama A partir da leitura do clássico poema do india-


Gonçalves Dias
nismo brasileiro, Juca Pirama, e com base em
Meu canto de morte, seus conhecimentos, responda ao que se pede:
Guerreiros, ouvi: a) Por que razão é possível dizer que um poe-
Sou filho das selvas, ma como Juca Pirama superou o movimento
Nas selvas cresci; literário anterior?
Guerreiros, descendo b) Em que medida o esquema rítmico contribui
Da tribo Tupi. para conteúdo expresso no poema?
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante, 3. (UFJF-Pism)
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte, TEXTO I
Sou filho do Norte; SONETO DO EPITÁFIO
Meu canto de morte,
Lá quando em mim perder a humanidade
Guerreiros, ouvi.
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Aos golpes do imigo,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou fra-
Meu último amigo,
de:
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi! Não quero funeral comunidade,
Com plácido rosto, Que engrole “sub-venites” em voz alta;
Sereno e composto, Pingados gatarrões, gente de malta,
O acerbo desgosto Eu também vos dispenso a caridade:
Comigo sofri.
Mas quando ferrugenta enxada edosa
Meu pai a meu lado Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Já cego e quebrado, Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
De penas ralado,
Firmava-se em mi: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Nós ambos, mesquinhos, Passou vida folgada, e milagrosa;
Por ínvios caminhos, Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.
Cobertos d’espinhos (BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. In: LAJOLO, Marisa.
Chegamos aqui! (Org.) Literatura Comentada: Bocage. São Paulo: Abril
Cultural, 1980. p. 91. Ortografia atualizada.)
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria

54
TEXTO II E quem vive de amor não tem pobreza.
LEMBRANÇA DE MORRER (...)
Oito dias lá vão que ando cismado
Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Na donzela que ali defronte mora.
Que o espírito enlaça à dor vivente, Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Não derramem por mim nem uma lágrima Desconfio que a moça me namora!...
Em pálpebra demente. Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
E nem desfolhem na matéria impura Quando bebo, sou rei como um poeta,
A flor do vale que adormece ao vento: E o vinho faz sonhar com os amores.
Não quero que uma nota de alegria O degrau das igrejas é meu trono,
Se cale por meu triste passamento. Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
Eu deixo a vida como deixa o tédio E a preguiça a mulher por quem suspiro.
Do deserto, o poento caminheiro Escrevo na parede as minhas rimas,
– Como as horas de um longo pesadelo De painéis a carvão adorno a rua;
Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como as aves do céu e as flores puras
Como o desterro de minh’alma errante,
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
Onde o fogo insensato a consumia:
(...)
Ora, se por aí alguma bela
Só levo uma saudade – é desses tempos
Bem doirada e amante da preguiça
Que amorosa ilusão embelecia.
Quiser a 2nívea mão unir à minha,
[...]
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.
Álvares de Azevedo
Descansem o meu leito solitário Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela: 1
ditoso − feliz
Foi poeta – sonhou – e amou na vida. 2
nívea − branca

Sombras do vale, noites da montanha 4. (UERJ) Na quinta estrofe do poema Vaga-


Que minha alma cantou e amava tanto, bundo, Álvares de Azevedo, poeta da segun-
Protegei o meu corpo abandonado, da geração do Romantismo, aborda um tema
E no silêncio derramai-lhe canto! muito frequente entre os primeiros român-
ticos.
Mas quando preludia ave d’aurora Identifique o tema e explique a diferença
E quando à meia-noite o céu repousa, entre a abordagem desse tema por Álvares
Arvoredos do bosque, abri os ramos. de Azevedo e pelos poetas românticos da pri-
Deixai a lua pratear-me a lousa! meira geração.
(AZEVEDO, Álvares de.Lira dos Vinte anos. In: Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 188-189.)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES.
Com base nos textos I e II, responda: TEXTO
a) Quais são as características do soneto de Bo-
cage (texto I) que nos permitem identificá- A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi
-lo como satírico? em 1855.
b) Os poemas de Bocage (texto I) e Álvares de Poucos dias depois da minha chegada, um
Azevedo (texto II) tratam diferentemente do amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá,
mesmo tema. Identifique esse tema e expli- levou-me à festa da Glória; uma das poucas
cite as maneiras como cada autor o trata, festas populares da corte. Conforme o costu-
relacionando-as com o contexto de época. me, a grande romaria desfilando pela Rua da
Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. do outeiro e apinhava-se em torno da poé-
tica ermida, cujo âmbito regurgitava com a
VAGABUNDO
multidão do povo.
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Era ave-maria quando chegamos ao adro;
Fumando meu cigarro vaporoso; perdida a esperança de romper a mole de
Nas noites de verão namoro estrelas; gente que murava cada uma das portas da
Sou pobre, sou mendigo e sou 1ditoso! igreja, nos resignamos a gozar da fresca
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro viração que vinha do mar, contemplando o
Mas tenho na viola uma riqueza: delicioso panorama da baía e admirando ou
Canto à lua de noite serenatas, criticando as devotas que também tinham

55
chegado tarde e pareciam satisfeitas com a teima em que lhe pague o trabalho, para en-
exibição de seus adornos. tão fazer outro. Eu, se a obra não estivesse
Enquanto Sá era disputado pelos numerosos acabada, mudava de título, por mais que me
amigos e conhecidos, gozava eu da minha custasse, mas hei de perder o dinheiro que
tranquila e independente obscuridade, sen- gastei? V. Ex.ª 10 crê que, se ficar “Império”,
tado comodamente sobre a pequena muralha venham quebrar-me as vidraças?
e resolvido a estabelecer ali o meu observa- - Isso não sei.
tório. Para um provinciano lançado recém- - Realmente, não há motivo; é o nome da
-lançado-chegado à corte, que melhor festa casa, nome de trinta anos, ninguém a conhe-
do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce ce de outro modo.
luz da tarde, uma parte da população desta - Mas pode pôr “Confeitaria da República”...
grande cidade, com os seus vários matizes e - Lembrou-me isso, em caminho, mas tam-
infinitas gradações? bém me lembrou que, se daqui a um ou dous
Todas as raças, desde o caucasiano sem mes- meses, houver nova reviravolta, fico no pon-
cla até o africano puro; todas as posições, to em que estou hoje, e perco outra vez o
desde as ilustrações da política, da fortuna dinheiro.
ou do talento, até o proletário humilde e - Tem razão... Sente-se.
desconhecido; todas as profissões, desde o - Estou bem.
banqueiro até o mendigo; finalmente, todos - Sente-se e fume um charuto.
os tipos grotescos da sociedade brasileira, Custódio recusou o charuto, não fumava.
desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, Aceitou a cadeira. Estava no gabinete de
desfilaram em face de mim, roçando a seda trabalho, em que algumas curiosidades lhe
e a casimira pela baeta ou pelo algodão, mis- chamariam a atenção, se não fosse o atordo-
turando os perfumes delicados às impuras amento do espírito. Continuou a implorar o
exalações, o fumo aromático do havana às socorro do vizinho. S. Ex.a, com a grande in-
acres baforadas do cigarro de palha. teligência que Deus lhe dera, podia salvá-lo.
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Aires propôs-lhe um meio-termo, um título
Editora Ática, 1988, p. 12.
que iria com ambas as hipóteses, - “Confei-
5. (Puc - RJ) No último parágrafo, Alencar con- taria do Governo”.
trasta a seda e o algodão, o havana e o cigar- - Tanto serve para um regímen como para
ro de palha. outro.
Explique a natureza desse contraste explici- [ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obra Completa. vol.
tando conotações associáveis a tais expres- 3. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1975, p.1028-1029.]
sões substantivas.
7. (Puc - RJ) O texto consiste no diálogo en-
6. (Puc - RJ) O romance “Lucíola”, publicado tre o Conselheiro Aires, diplomata, e o co-
em 1862, é considerado uma das mais im- merciante Custódio, dono da Confeitaria do
portantes obras de José de Alencar. Cite Império, no momento da proclamação da Re-
TRÊS aspectos que marcam o estilo de época pública no Brasil. A partir das considerações
a que se filia o autor, tendo como referência das duas personagens sobre a possível troca
o fragmento selecionado. do nome da Confeitaria, comente, com suas
próprias palavras, a visão crítica presente na
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÃO.
literatura machadeana.
CAPÍTULO LXIII / TABULETA NOVA TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
Era um simples fabricante e vendedor de TEXTO I
doces, estimado, afreguesado, respeitado, e
principalmente respeitador da ordem públi- Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era
ca... uma senhora fraca, de pouco cérebro e mui-
- Mas o que é que há? perguntou Aires. to coração, assaz crédula, sinceramente pie-
- A república está proclamada. dosa caseira, apesar de bonita, e modesta,
- Já há governo? apesar de abastada; temente às trovoadas e
- Penso que já; mas diga-me V. Ex.ª: ouviu ao marido. O marido era na terra o seu deus.
alguém acusar-me jamais de atacar o gover- Da colaboração dessas duas creaturas nasceu
no? a minha educação, que, se tinha alguma cou-
Ninguém. Entretanto... Uma fatalidade! Ve- sa boa, era no geral viciosa, incompleta e,
nha em meu socorro. Excelentíssimo. Ajude- em partes, negativa. Meu tio cônego fazia às
-me a sair deste embaraço. A tabuleta está vezes alguns reparos ao irmão; dizia-lhe que
pronta, o nome todo pintado. – “Confeitaria ele me dava mais liberdade do que ensino, e
do Império”, a tinta é viva e bonita. O pintor mais afeição do que emenda; mas meu pai

56
respondia que aplicava na minha educação TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
um sistema inteiramente superior ao sem-
pre usado; e por este modo, sem confundir o TEXTO I
irmão, iludia-se a si próprio.
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas
Rita Baiana
de Brás Cubas, 1881) Zezé Motta

TEXTO II Olha meu nego quero te dizer


O que me faz viver
Passou pela sala, sem parar avisou ao marido: O que quase me mata de emoção
vamos sair! e bateu a porta do apartamen- É uma coisa que me deixa louca
to. Antônio mal teve tempo de levantar os Que me enche a boca
olhos do livro e com surpresa espiava a sala Que me atormenta o coração
já vazia. Catarina! Chamou, mas já se ouvia Quem sabe um bruxo
o ruído do elevador descendo. Aonde foram? Me fez um despacho
perguntou-se inquieto, tossindo e assoando o Porque eu não posso sossegar o facho
nariz. Porque sábado era seu, mas ele que- É sempre assim
ria que sua mulher e seu filho estivessem em Ai essa coisa que me desatina
casa enquanto ele tomava o seu sábado. Ca- Me enlouquece, me domina
tarina! chamou aborrecido embora soubesse Me tortura e me alucina
que ela não poderia mais ouvi-lo. Levantou- Olha meu nego
Isso não dá sossego
-se, foi à janela e um segundo depois enxer-
E se não tem chamego
gou sua mulher e seu filho na calçada.
Eu me devoro toda de paixão
(LISPECTOR, Clarice. In: - Laços de Família, 1960)
Acho que é o clima feiticeiro
O Rio de Janeiro que me atormenta
8. (UFRJ) Os textos I e II apresentam diferen- O coração
ças no comportamento dos personagens fe- Eu nem consigo nem pensar direito
mininos. Com essa aflição dentro do meu peito
Como se manifesta a relação marido/mulher Ai essa coisa que me desatina
nos textos I e II? Me enlouquece, me domina
Me tortura e me alucina
9. (UFV) Considere as seguintes afirmativas: E me dá
a) “Esforço-me por entrar no espartilho e Uma vontade e uma gana dá
seguir uma linha reta geométrica: ne- Uma saudade da cama dá
Quando a danada me chama
nhum lirismo, nada de reflexões, ausente
Maldita de Rita Baiana
a personalidade do autor.” Gustav Flau-
Num outro dia o português lá da Gamboa
bert (Cf. BOSI, Alfredo. “História concisa
O Epitácio da Pessoa
da literatura brasileira.” São Paulo: Cul- Assim à toa se engraçou e disse:
trix, 1994. p.169) “Oh Rita rapariga eu te daria 100 miréis por
b) “Em “Thérese Raquin”, eu quis estudar teu amor”
temperamentos e não caracteres. Aí está Eu disse:
o livro todo. Escolhi personagens sobera- Vê se te enxerga seu galego de uma figa
namente dominadas pelos nervos e pelo Se eu quisesse vida fácil
sangue, desprovidas de livre-arbítrio, Punha casa no Estácio
arrastadas a cada ato de sua vida pelas Pra Barão e Senador
fatalidades da própria carne [...].” Émile Mas não vendo o meu amor
Zola (Cf. BOSI, Alfredo. “História concisa Ah, ah, isso é que não!
da literatura brasileira.” São Paulo: Cul- Olha meu nego quero te dizer
trix, 1994. p.169) Não sei o que fazer
Os princípios estéticos introduzidos por Pra me livrar da minha escravidão
Flaubert e Zola, respectivamente, os men- Até parece que é literatura
tores do Realismo e do Naturalismo, ser- Que é mentira pura
vem como parâmetro para que se possam Essa paixão cruel de perdição
estabelecer as diferenças básicas entre Mas não me diga que lá vem de novo
essas duas escolas literárias. A sensação
Olha meu nego assim eu me comovo
Reflita sobre as afirmações dos referidos es- Agora não
Ai essa coisa que me desatina
critores franceses e destaque os pontos con-
Me enlouquece, me domina
vergentes e divergentes entre as manifesta-
Me tortura e me alucina
ções da prosa de ficção realista-naturalista
E me dá
no Brasil. Uma vontade e uma gana dá

57
Uma saudade da cama dá
Quando a danada me chama
Maldita de Rita Baiana
Disponível em: <www.letras.mus.br/zeze-
motta/240340/>. Acesso em: 3 out. 2012.

TEXTO II

TEXTO III

Naquela mulata estava o grande mistério, a


síntese das impressões que ele recebeu che-
gando aqui: ela era a luz ardente do meio-
-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasi-
leiras; era a palmeira virginal e esquiva que
se não torce a nenhuma outra planta; era o
veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti
mais doce que o mel e era a castanha do caju,
que abre feridas com o seu azeite de fogo;
ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagar-
ta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava
havia muito tempo em torno do corpo dele,
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as
fibras embambecidas pela saudade da terra,
picando-lhe as artérias, para lhe cuspir den-
tro do sangue uma centelha daquele amor
setentrional, uma nota daquela música feita
de gemidos de prazer, uma larva daquela nu-
vem de cantáridas que zumbiam em torno da
Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro:
Otto Pierre, 1979. p. 110-111.

10. (UFG) No estabelecimento da coesão textual


da letra de canção, a referência ao sentimen-
to que move Rita é feita de maneira peculiar.
Nesse sentido, responda:
a) Que sentimento é esse?
b) Considerando-se a progressão das ideias no
texto, como a referenciação é promovida?
c) Que efeito de sentido o modo de progressão
das ideias provoca em quem lê a canção?

58
0 2 Interpretação de Textos

U.T.I.
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L C
ENTRE TEXTOS
Semântica – elementos Paronímia
de análise I Temos parônimos quando as palavras são muito
parecidas, mas seus sentidos são diferentes.
Já que se fala a todo o momento de semântica
no curso de Gramática, nada melhor do que apresentá-
Exemplos: comprimento (largura)
-la logo no início do material de Interpretação (já que
e cumprimento (saudação)
ela é parte essencial dos processos interpretativos). A
discriminar (separar) e descriminar
semântica é o campo de estudos linguísticos que cui-
da dos significados das palavras e dos textos. Ela está (absolver)
presente em praticamente todos os outros campos gra-
maticais (com exceção dos estudos básicos de fonética Hiperonímia e hiponímia
e fonologia, ligados à ortografia e à acentuação). Pode
ter certeza de que, onde há acepções de sentido, há São fenômenos que operam relações de abran-
semântica. gência entre palavras (palavras que englobam outras
Além de sua presença em várias áreas da Gra- ou que são englobadas). As palavras que englobam são
mática, a semântica possui seus próprios elementos de conhecidas como hiperônimos; as englobadas, como
análise, que conheceremos a seguir. hipônimos.

Sinonímia Exemplos: Comprei um bacalhau para prepa-


rar na semana santa. Esse peixe é bastante salgado.
Ocorre sinonímia quando temos palavras com (Peixe é uma palavra mais abrangente, que dá conta
significados idênticos ou muito semelhantes a outras. de bacalhau e de outros diversos peixes, portanto, po-
§§ Cão = cachorro demos afirmar que peixe é hiperônimo de bacalhau, e
§§ Jerimum = abóbora bacalhau é hipônimo de peixe.)

A sinonímia tem forte relação com a paráfrase Houve um aumento da gasolina. Esse fato
(possibilidade de se reconstruir uma frase ou texto com deixou os brasileiros irritados. (Fato é uma palavra que
outras palavras similares) e nos ajuda nos processos de dá conta de aumento da gasolina, portanto, podemos
coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a afirmar que fato é hiperônimo do trecho sublinhado.)
repetição de termos em um texto).

Antonímia
Ocorre antonímia quando temos palavras com
significados contrários a outras.
§§ Bonito ≠ feio
§§ Alto ≠ baixo

61
Semântica – elementos o verbo ‘comer’ foi usado com dois sentidos diferentes.
Na primeira, temos comer sendo usado na sua acepção
de análise II mais comum, que é alimentar-se. Já no segundo caso, te-
mos o verbo comer sendo usado para “figurar” a ideia
Homonímia de alguém comendo poeira, mas não porque isso esteja
ocorrendo de verdade, e sim porque se tenta passar a
Ocorre homonímia quando temos palavras de ideia de que o piloto passou tão rápido pelo adversário
grafia igual ou pronúncia igual, mas com significado que levantou poeira, e quem está atrás a teria “comido”.
diferente. Isso nos dá três tipos de homônimos: No primeiro caso, a palavra comer foi usada em
1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia seu sentido dito literal, ou o sentido padrão (primeiro)
igual – grafia diferente) dessa palavra. Quando isso ocorre, temos uma palavra
Exemplo: acento (marca gráfica de tonali- em sentido denotativo. Já no segundo exemplo, o verbo
dade) e assento (local para se sentar) comer foi usado em sentido figurado, tentando figurar/re-
2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual presentar uma situação (alguém comendo poeira). Quan-
– pronúncia diferente) do isso ocorre, temos uma palavra em sentido conotativo.
Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo) Sentido denotativo
3. Homônimo homófono homógrafo (pronúncia
Como vimos anteriormente, entende-se por sen-
igual – escrita igual)
tido denotativo o sentido primeiro de uma palavra. Seu
Exemplo: rio (substantivo) e (eu) rio (verbo)
sentido básico, de dicionário. Entender bem o funciona-
mento do sentido denotativo nos ajudará, mais adian-
Polissemia te, a entender como são operados alguns processos de
interpretação em gêneros textuais do português, como
Temos polissemia em palavras que preservam sua
os textos científicos e também os jornalísticos, que são
classe gramatical, mas que possuem significados múlti-
textos cujo objetivo é transmitir informações exatas e
plos.
precisas ao leitor. Um texto denotativo evita palavras às
Exemplos: natureza (meio ambiente) e nature- quais se possam atribuir sentidos variados. Pensando no
za (essência de algo) que aprendemos na aula anterior, os textos denotativos
banco (local onde se senta) e banco evitam trabalhar com textos polissêmicos.
(instituição financeira) Sentido conotativo

Denotação e conotação Entende-se por sentido conotativo aquele que


explora os múltiplos significados que uma palavra
É dentro do campo da semântica que verifica- pode ter. Em um texto conotativo, não importa muito o
mos também os processos de denotação e conotação, sentido primeiro da palavra, e sim a sua capacidade de
fenômenos linguísticos que nos permitem entender a “sugerir” interpretações variadas. Os gêneros que habi
amplitude de significação existente em nossa língua, tualmente trabalham com conotações são os literários
ou, em termos mais claros, é o estudo da denotação (prosa, poesia, crônica, entre outros) e as canções. Mas
e da conotação que nos permite perceber o quanto os também podemos encontrar esse sentido em outros
significados podem variar por conta do interesse dos tipos de gênero, dependendo das intenções do autor.
interlocutores. Vejamos alguns exemplos: Costumam ser textos de natureza mais complexa, que
exigem um trabalho de leitura mais profundo, para
§§ Filho, você tem que comer todo seu jantar, ou
que se possa apreender o que o autor quis expressar
não terá sobremesa.
nas entrelinhas da mensagem. Trabalha-se aqui com
§§ O piloto fez o adversário comer poeira.
conhecimentos amplos de vocabulário.
É possível perceber nas frases apresentadas que

62
Ambiguidade identificação, exigindo bom conhecimento semântico
e algumas estratégias interpretativas. Pode ser desfeita
Tratar do tema da ambiguidade é tratar de um por meio da reorganização das estruturas sintáticas.
problema que interfere diretamente nas possibilidades Exemplos:
de interpretação de textos. Isso porque a ambiguidade é O pai falou com o filho caído no chão. (Não con-
o fenômeno que faz com que uma palavra ou frase pos- seguimos saber quem está caído no chão. Pode ser o pai
sua mais de um direcionamento de sentido, provocando ou pode ser o filho)
ruídos na interpretação. No português nós possuímos Eu li a notícia sobre a greve na faculdade. (Não
dois tipos de ambiguidade: a lexical e a sintática. se sabe se a greve é na faculdade ou fora dela)
O Papa abençoou os fiéis da janela. (Não é possí-
Ambiguidade lexical vel determinar a posição do Papa; ele pode estar na jane-
Temos ambiguidade lexical quando em alguma la mandando bênçãos para os fiéis, ou pode estar na rua
composição linguística existe uma palavra que aponta mandando bênçãos para aqueles que estão na janela)
para mais de um sentido diferente. É um tipo de ambi-
guidade que estabelece relações diretas com o fenôme- Semântica - Os comandos
no da polissemia e da homonímia. Vejamos o exemplo a
seguir, retirado de uma canção de Chico Buarque:
de interpretação
"O homem sério que contava dinheiro, parou,
Na aula introdutória de nosso curso de interpre-
O faroleiro que contava vantagem, parou,
tação de textos, vimos que grande parte dos vestibulares,
A namorada que contava as estrelas, parou"
hoje em dia, trabalha suas questões de compreensão tex-
Para ver, ouvir e dar passagem.”
(Chico Buarque. A Banda) tual a partir de determinados comandos, ativados espe-
cialmente por comandos verbais. Desse modo, conhecer
Nesta canção percebemos que o compositor bem o que cada verbo nos aponta enquanto relação de
brinca com as acepções de sentido existentes na pa- sentido pode nos ajudar a realizar um processo de inter-
lavra “contar”, cujo significado pode ser o ato de enu- pretação mais efetivo, sem que precisemos ficar presos
merar (contar dinheiro e contar estrelas) e também à multiplicidade de dados que nos traz uma questão.
de “narrar” (contar vantagem). Nesse caso, há duplo Vamos, primeiramente, relembrar os comandos verbais
entendimento de um mesmo termo que vem colocado vistos na aula 1 do curso:
sequencialmente nos versos da canção. De qualquer
modo, não é dos fenômenos mais complexos que temos Comandos
no português. Havendo domínio razoável do léxico, é
possível identificar ambiguidades de cunho lexical, que Analisar Inferir Associar Explicitar
podem ser desfeitas com uma simples substituição da
palavra problemática. Relacionar/Dialogar Comparar Substituir Reconhecer

Citar Explicar Identificar Contextualizar


Ambiguidade
sintática (ou estrutural) Analisar: é o ato de averiguar, estudar ou explorar
alguma coisa de maneira minuciosa, com rique-
Temos ambiguidade sintática quando uma cons- za de detalhes: só aceitará a proposta depois
trução frasal apresenta dois caminhos interpretativos de analisar as possibilidades. Comentar critica-
diferentes. Ocorre mesmo quando a frase apresenta mente; subjugar ou criticar. Fazer uma aprecia-
as corretas colocações de seus elementos constitutivos ção ou julgamento de algo, alguém ou de si
(sujeito, verbo, complementos e adjuntos). Trata-se de mesmo: antes de falar do outro, você precisa
um fenômeno que, em alguns casos, é de complexa se analisar.

63
Relacionar/dialogar: é necessário conectar infor- estruturas verbais. Ou seja, o segredo para conseguir rea-
mações de matrizes distintas dentro de um texto, lizar uma interpretação de textos eficiente estaria em con-
ou mesmo verificar como as informações de um seguir compreender a semântica do verbo que conduz o
texto “conversam” com informações contidas enunciado da questão..
em alternativas.
Citar: é o ato de reportar-se a um texto ou às pa- Outros recursos para
lavras de alguém com o intuito de fundamentar
aquilo que se diz, ou mesmo para Informar ou interpretação de textos
notificar alguém a respeito de algo.
Inferir: é o ato de deduzir fatos ou raciocínios par- Nem sempre o comando
tindo de indícios previamente apresentados. verbal estará explícito no
Comparar: é o ato de averiguar, estudar ou explorar
texto
alguma coisa de maneira minuciosa, com rique-
za de detalhes: só aceitará a proposta depois de Para que haja uma maior eficácia em sua prática
analisar as possibilidades. Comentar criticamen- de interpretação de textos, é necessário que saibamos
te; subjugar ou criticar. Fazer uma apreciação ou que os já comentados comandos verbais de interpre-
julgamento de algo, alguém ou de si mesmo: tação (aulas 1 e 12) nem sempre estarão explicitados
antes de falar do outro, você precisa se analisar. em nos textos. Mas ainda assim, pela própria disposição
Explicar: é o ato de fazer com que algo fique claro do enunciado, é possível identificarmos de que verbo
e compreensível; descomplicar uma ambiguida- se trata.
de.
Associar: é o ato de aproximar coisas, uni-las, Recursos morfológicos
juntá-las, reunir, ou mesmo determinar combina-
ções entre elas.
e sintáticos como suporte
Substituir: é o ato de usar uma coisa no lugar de interpretativo
outra, ou mesmo trocar/colocar algo ou alguém
Também, conforme já havíamos informado na
no lugar de outra coisa ou pessoa.
aula de abertura do curso, um bom conhecimento de
Identificar: é o ato de distinguir ou ter a capaci-
recursos gramaticais, especialmente morfológicos e
dade de reconhecer (alguém, alguma coisa ou
sintáticos, contribui bastante para que realizemos de
um argumento), sendo capaz de expressar ou
forma mais precisa nossas interpretações de texto. Não
evidenciar suas particularidades.
podemos nos esquecer de que os elementos morfossin-
Explicitar: é o ato de retirar a ambiguidade, retirar
táticos comportam relações de sentido (possuem se-
o duplo sentido, de fazer com que algo se torne
mântica) por conta disso, eles são usados como ponto
explícito e claro.
chave para exercícios de interpretação.
Reconhecer: é o ato de observar um elemento
verbal ou não-verbal a fim de distinguir algum
detalhe através de certos caracteres.
Substantivos que
Contextualizar: é o ato de mostrar as circunstân- contém ideias verbais
cias que estão ao redor de um fato, aconteci-
mento, situação. Entender ou interpretar algo Algo que é necessário estar atento é o fato de que
tendo em conta as circunstâncias que o rodeiam, o comando verbal de interpretação pode estar, no enun-
ciado, constituído como se fosse um substantivo.
colocando num contexto.
O Enem, por exemplo, em seu grupo de competên-
cias e habilidades, apresenta um conjunto de exigências
pedagógicas para elaboração de questões que partem de

64
Textos em verso D. Pedro II espia do alto.
(As barbas tão alvas
Muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos tão alvas nem sei!)
gêneros literários para construir questões de interpre- E os pares passeiam,
tação de textos. Ou seja, as questões não abordam ne- parece que dançam,
cessariamente um conhecimento profundo sobre a obra que dançam ciranda,
(seu enredo), mas exigem do candidato um trabalho em torno do Rei.
(Jorge de Lima. Poemas negros. Cosac Naify,
mais acurado com as questões estruturais e também página 41, 2014).
com a compreensão do conteúdo de algum poema ou §§ Verso: entende-se por verso uma sucessão ou
trecho de livro. Nessa primeira aula, daremos ênfase às sequência de sílabas que mantém determina-
características dos textos em verso (os poemas). da unidade rítmica e melódica em um poema,
correspondendo, habitualmente, a uma linha do
O poema poema. No poema apresentado, cada linha do
poema corresponde a 1(um) verso, então temos
O poema é um gênero textual de cunho bas- um total de 21 versos.
tante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias
§§ Estrofe: entende-se por estrofe um agrupamen-
ou sentimentos, mas que articula combinações de pa-
to de versos realizado pelo autor do poema. Os
lavras que, na maioria dos casos, constituem sentidos
agrupamentos podem variar bastante, de acordo
variados. Essas combinações de palavras costumam ser
com a forma do poema (forma fixa ou forma li-
distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado
de vários elementos que conheceremos mais adiante, vre). Por exemplo, no poema de Jorge de Lima
como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, que foi apresentado, opta-se por uma forma
o ritmo (elementos sonoros), entre outros. O jogo de mais livre, com agrupamentos variados. Temos
palavras realizado nos poemas (de fortes marcas deno- na abertura duas estrofes de 3 versos (conhe-
tativas), muitas vezes, imprime dificuldades de interpre- cidas como tercetos), seguidas por uma de 6
tação. Vejamos os elementos do poema: versos (sexteto). Em seguida, temos um agrupa-
a) O verso e a estrofe mento com 2 versos (chamado dístico), seguido
Para entendermos com mais precisão o que são de outro de 3 (mais um terceto). O poema é fi-
esses dois elementos, vejamos o poema a seguir, nalizado com um grupo de 4 versos (quarteto).
do escritor Jorge Lima:
Atenção às formas fixas!
Retreta do Vinte
O cabo mulato balança a batuta, São conhecidos como formas fixas aqueles poe-
meneia a cabeça, acorda com a vista mas que apresentam um padrão pré-determinado em
os bombos, as caixas, os baixos e as trompas. sua construção. Existem vários tipos de forma fixa, como
(No centro da Praça o busto de D. Pedro escuta.) o vilancete (um terceto mais dois outros tipos de es-
Batuta pra esquerda: relincham clarins, trofe à escolha do poeta), o haicai (poema de origem
requintas, tintins e as vozes meninas da banda japonesa que se constrói com três versos e um número
do 20. pré-determinado de sílabas) ou as redondilhas (for-
Batuta à direita: de novo os trombones mas fixas de 5 ou 7 versos). A mais tradicional dessas
e as trompas soluçam. E os bombos e as caixas: formas é o soneto. Ele possui uma forma estruturada
ban-ban! a partir do agrupamento de duas estrofes de 4 versos
Vêm logo operários, meninas, cafuzas, (dois quartetos) e outras duas de 3 versos (dois terce-
mulatos, portugas, vem tudo pra ali. tos), totalizando 14 versos. Em sua composição, costu-
Vem tudo, parecem formigas de asas ma ser desenvolvida uma ideia ou discussão que per-
Rodando, rodando em torno da luz. passa os 13 primeiros versos e encontra sua resolução/
Nos bancos da Praça conversas acesas, fecho no último verso. Vejamos um exemplo de soneto:
apertos, beijocas, talvezes.
65
Oficina Irritada
Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
Eu quero compor um soneto duro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

como poeta algum ousara escrever.


Eu quero pintar um soneto escuro, não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro, Pode-se notar que o primeiro verso que escolhe-
não dxxesperte em ninguém nenhum prazer. mos é um decassílabo perfeito. A contagem, como dito,
E que, no seu maligno ar imaturo, deve ser encerrada na última sílaba tônica da última
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. palavra do verso (a palavra “futuro” é paroxítona; sua
Esse meu verbo antipático e impuro tônica é a sílaba “-tu”). Já no segundo verso encontra-
há de pungir, há de fazer sofrer, mos outra regra que deve ser obedecida (sublinhada no
tendão de Vênus sob o pedicuro. verso): a junção da vogal final de uma palavra com a vo-
Ninguém o lembrará: tiro no muro, gal inicial de outra (des-per-te em). Também é um verso
cão mijando no caos, enquanto Arcturo, decassílabo. De acordo com a variabilidade de sílabas
claro enigma, se deixa surpreender. poéticas, as estrofes terão nomes diferentes:
§§ 5 sílabas poéticas: pentassílabo ou redondi-
Temos aí um soneto de estilo clássico, que além
lha menor
de apresentar o agrupamento de estrofes que comen-
§§ 7 sílabas poéticas: heptassílabo ou redondi-
tamos (dois quartetos e dois tercetos), apresenta ele-
lha maior
mentos de métrica e rima bastante determinados. Aliás, §§ 10 sílabas poéticas: decassílabo
é importante nesse momento conhecermos um pouco §§ 11 sílabas poéticas: endecassílabo
melhor esses outros elementos. §§ 12 sílabas poéticas: dodecassílabos ou ale-
xandrinos
Elementos estruturais O processo de contagem e separação de sílabas
poéticas recebe o nome de escansão.
do poema

Ritmo
Métrica
O ritmo corresponde a uma “melodia” que se
A métrica é a medida dos versos, ou, em termos
cria no corpo do poema por conta da acentuação de
mais claros, a quantidade de sílabas de cada linha que certas sílabas que há nos versos. Usando novamente os
compõe o poema. No entanto, a contagem de síla- versos acima apresentados, podemos perceber que há
bas poéticas segue um padrão diferente da se- um conjunto de sílabas mais fortes nas mesmas posições
paração de sílabas tradicional. Na contagem de sí- de cada verso (no caso, a segunda, a sexta e a décima
labas poéticas devemos proceder da seguinte maneira: são as mais fortes). Esse padrão cria um ritmo que dá
§§ Contam-se as sílabas de maneira habitual, mas certa musicalidade ao poema, quando este é recitado.
devem ser contadas como uma única sílaba a
Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
vogal final + a vogal inicial de duas palavras. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

§§ A contagem deve ser encerrada na última sílaba


tônica da última palavra do verso. não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Vejamos um exemplo com os dois primeiros ver-


sos da segunda estrofe do poema de Carlos Drummond
que foi apresentado:

66
Rima pela emissão de opiniões a respeito dos fatos
que ocorrem na história. A narrativa conduzida
A rima é um recurso sonoro que também atribui por esse tipo de narrador costuma ser entendi-
musicalidade ao poema. Constrói-se a partir da seme- da como uma narrativa parcial, pois os eventos
lhança sonora de palavras no final de versos. Novamente: são contados a partir do ponto de vista de quem
os narra (não temos outros pontos de vista). Por
Eu quero compor um soneto duro esse motivo, tem-se uma visão limitada dos fa-
como poeta algum ousara escrever. tos, o que pode contribuir para o efeito de sus-
Eu quero pintar um soneto escuro, pense sobre os fatos da obra, pois o leitor faz
seco, abafado, difícil de ler. descobertas junto com a personagem.
Quero que meu soneto, no futuro, §§ Narrador-protagonista: é aquele que é não
não desperte em ninguém nenhum prazer. apenas o narrador, mas também a personagem
E que, no seu maligno ar imaturo, principal da história. É uma narrativa marcada por
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. forte subjetividade, pois todos os eventos giram
em torno desse personagem principal. É também
um tipo de narrativa parcial, pois o leitor é induzi-
Destacamos o sistema de rimas do poema de Drum-
do a criar uma empatia com os sentimentos de sa-
mond. Fica evidente que é um esquema de rimas em
tisfação ou insatisfação vividos pela personagem.
que os versos se alternam “-uro” e “-er”. Essa sequên-
Isso tudo dificulta a visão geral da história.
cia de versos alternados também garante musicalidade
§§ Narrador-testemunha: trata-se de uma perso-
ao poema.
nagem que conta uma história por ela vivencia-
da, mas da qual não era a personagem principal.
Textos em prosa
Também há nessa modalidade o registro dos fatos
Os tipos de narrador que por uma visão subjetiva, com a diferença de que
conduzem a obra a carga emocional sobre este é menor, tendo em
vista que não é a personagem principal da trama.
Qualquer dos tipos de texto em prosa que foram
apresentados costuma ser conduzido por um narrador, Narrador em terceira pessoa
que é a figura que transmite as mensagens e conta a §§ Narrador onisciente: é aquele que sabe de
história. Existem dois tipos-padrão de condução narra- todos os fatos a respeito da história e das per-
tiva: a narrativa em primeira pessoa, que é um modo sonagens, incluídos aí os pensamentos e sen-
em que a história é narrada por personagens que falam
timentos destes. Por conta dessa amplitude de
sobre e para si mesmos. Já a narrativa em terceira pes-
conhecimento, esse tipo de narrador é capaz de
soa apresenta alguém que conta a história de algum
fazer descrições sobre coisas que acontecem si-
personagem de “fora para dentro”. Esses dois modelos
multaneamente em lugares diferentes.
apresentam algumas subdivisões que conheceremos a
§§ Narrador onisciente neutro: é aquele que re-
seguir.
lata os fatos e descreve detalhes das personagens,
mas sem influenciar o leitor com observações ou
Narrador em primeira pessoa
opiniões dos eventos narrados. Esse tipo de narra-
§§ Narrador-personagem: é aquele que, não
dor costuma evidenciar somente os fatos que são
apenas conta a história em primeira pessoa, mas
essenciais para a compreensão da narrativa.
também faz parte da narrativa (por isso, narrador
e também personagem). Suas principais caracte- §§ Narrador onisciente seletivo: é aquele que,
rísticas estão na evidenciação de fortes marcas tendo conhecimento dos pensamentos e senti-
subjetivas e emocionais do narrador no decor- mentos das personagens, seleciona aqueles aos
rer da obra. O texto é constantemente pautado quais dará maior ênfase nas revelações. Desse

67
modo, é um narrador que tenta influenciar o lei- Estrutura da crônica
tor a tomar algum posicionamento em relação a
algum personagem. Embora não apresente estrutura completamente
§§ Narrador observador: é aquele que presencia fixa, a crônica possui algumas marcas de condução textual
a história que está narrando. Não deve ser con- que são seguidas por boa parte dos autores. São elas:
fundido com a modalidade “onisciente”, pois o §§ Observação mais subjetiva a respeito de aconte-
narrador observador não tem a visão de tudo. Ele cimento cotidiano.
conhece apenas um ângulo da história que nar- §§ Evocação de experiências pessoais ou de pessoas
ra. Funciona como uma testemunha dos fatos, muito próximas para circunstanciar sua opinião.
mas não faz parte de nenhum deles. Não apre- §§ Há uma conclusão que, em certa medida, retoma
senta nenhum tipo de conhecimento em relação os elementos centrais discutidos na crônica.
à intimidade de qualquer personagem. De maneira geral, a crônica costuma ser orga-
nizada por meio de um movimento reflexivo, que parte

Crônicas de uma experiência particular, e que tem como objetivo


alcançar significado mais amplo, que atinja um número
maior de pessoas e as faça refletir.
A crônica é um gênero que transita entre a litera-
tura e o jornalismo. É conduzido a partir da observação
Linguagem da crônica
subjetiva de fatos cotidianos que são relatados ao leitor.
Há, por parte do cronista, um desejo de oferecer não ape- A linguagem da crônica é marcada por certo grau
nas um relato de um acontecimento, mas uma reflexão/ de informalidade, embora suas bases se construam den-
interpretação sobre o ocorrido. Nesse sentido, a crônica tro da gramática normativa. Esse choque linguístico se
acaba por revelar ao leitor elementos que estão por trás dá justamente por conta de ser um tipo de publicação
das aparências ou que não são percebidos pelo senso veiculada em um jornal/revista (meio de comunicação
comum. Trata-se de um gênero marcadamente opinativo, em que, habitualmente, se usa a norma-padrão), mas
em que a subjetividade do escritor vem à tona. que é dotada de fortes marcas subjetivas.

Contexto de circulação
Discursos
As crônicas circulam habitualmente em sessões es-
pecíficas de jornais e também em revistas. Tratam de temas Em um texto narrativo, o autor pode optar por
variados do cotidiano, mas também podem tratar de temas três tipos de discurso, que podem aparecer separados ou
bem específicos se circularem em revistas especializadas juntos.
(por exemplo, uma revista cuja temática seja a beleza femi- §§ Direto – a produção se dá de forma integral, na
nina, terá crônicas que tratem de temas femininos).
qual os diálogos são retratados sem a interferên-
Posteriormente, muitas crônicas publicadas por
cia do narrador; trata-se de uma transcrição fiel
grandes autores podem vir a ser reunidas em livros. Foi
da fala dos personagens, e, para introduzi-las, o
o que aconteceu com escritores como Carlos Drummond
narrador utiliza alguns sinais de pontuação, alia-
de Andrade ou Rubem Braga, autores cujas crônicas, de
dos ao emprego de alguns verbos de elocução
fortes marcas literárias, passaram do jornal ao livro.
(dizer, perguntar, responder, indagar, exclamar,
ordenar etc.).
Recepção da crônica §§ Indireto – ocorre quando o narrador, em vez de

As crônicas são procuradas por um público varia- retratar as falas de forma direta, reproduz com
do, especialmente as jornalísticas. A menos que sejam as suas próprias palavras, colocando-se na con-
crônicas produzidas, como dito anteriormente, em pu- dição de intermediário frente à ocorrência.
blicações especializadas.
68
§§ Indireto livre – as formas direta e indireta se Mudança na pontuação
fundem por meio de um processo em que o nar- das frases:
rador insere discretamente a fala ou os pensa-
mentos do personagem em sua fala. Frases interrogativas, exclamativas e impe-
rativas no discurso direto passam para frases declara-
discurso direto discurso indireto tivas no discurso indireto.
Emprego de 1 pessoa
a
Emprego de 3a pessoa
Verbos no: Verbos no:
• pretérito imperfeito Mudança dos advérbios
do indicativo
• pretérito imperfeito
e adjuntos adverbiais:
• presente do indicativo do subjuntivo
• pretérito perfeito • pretérito mais-que- Este, esta e isto no discurso direto passam
do indicativo -perfeito
• imperativo (simples ou composto) para aquele, aquela, aquilo no discurso indireto.
Pronomes demonstrativos Pronomes demonstrativos Amanhã no discurso direto passa para no dia
(maior proximidade) (menor proximidade) seguinte no discurso indireto.
Ontem no discurso direto passa para no dia
Regras para passagem anterior no discurso indireto.
Hoje e agora no discurso direto passam para
do discurso direto para naquele dia e naquele momento no discurso indi-
discurso indireto reto.
Aqui, aí, cá no discurso direto passam para ali
Mudança das pessoas e lá no discurso indireto.

do discurso:
Mudança de
Os pronomes eu, me, mim, comigo no discur- tempos verbais:
so direto passa para ele, ela, se, si, consigo, o, a, lhe
no discurso indireto. Imperativo no discurso direto passa para pre-
Os pronomes meu, meus, minha, minhas, térito imperfeito do subjuntivo no discurso indi-
nosso, nossos, nossa, nossas no discurso direto pas- reto.
sam para seu, seus, sua e suas no discurso indireto. Presente do indicativo no discurso direto passa
Os pronomes nós, nos, conosco no discurso di- para pretérito imperfeito do indicativo no discurso in-
reto passam para eles, elas, os, as, lhes no discurso direto.
indireto. Pretérito perfeito do indicativo no discurso
A 1.ª pessoa no discurso direto passa para a direto passa para pretérito mais-que-perfeito do
3.ª pessoa no discurso indireto. indicativo no discurso indireto.
Futuro do presente do indicativo no discur-
so direto passa para futuro do pretérito do indicati-
vo no discurso indireto.
Presente do subjuntivo no discurso direto
passa para pretérito imperfeito do subjuntivo no
discurso indireto.
Futuro do subjuntivo no discurso direto passa
para pretérito imperfeito do subjuntivo no discurso
indireto.

69
Textos em verso, em prosa e crônicas
Textos em verso
Muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos gêneros literários para construir questões de interpretação
de textos. Ou seja, as questões não abordam necessariamente um conhecimento profundo sobre a obra (seu
enredo), mas exigem do candidato um trabalho mais acurado com as questões estruturais e também com a com-
preensão do conteúdo de algum poema ou trecho de livro. Nessa primeira aula, daremos ênfase às características
dos textos em verso (os poemas).

O poema
O poema é um gênero textual de cunho bastante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias ou
sentimentos, mas que articula combinações de palavras que, na maioria dos casos, constituem sentidos variados.
Essas combinações de palavras costumam ser distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado de vários
elementos que conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, o ritmo (ele-
mentos sonoros), entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de fortes marcas denotativas) muitas
vezes imprime dificuldades de interpretação.

Textos em prosa
Denominamos prosa um texto construído prioritariamente com parágrafos (se escrito em versos, teremos
um texto poético), que apresenta maior extensão que um poema, por exemplo.
§§ Romance: entende-se por romance uma composição textual longa, em prosa, que desenvolve algum tipo
de enredo, linear ou fragmentado, que costuma apresentar volume significativo de informações ao leitor.
Não há regras pré-determinadas para a composição das partes de um romance, mas o final, por exemplo,
costuma ser uma espécie de enfraquecimento dos vários elementos que foram sendo “amarrados” na his-
tória. No romance não costuma haver clímax ao final da narrativa. Na prosa brasileira são conhecidas como
romances obras como Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Vidas secas, Capitães da areia,
Iracema, Til. Ou seja, textos narrativos de maior extensão, com enredo variado, que apresentam algum tipo
de “amarração” em sua estrutura.
§§ Novela: entende-se por novela uma composição textual em prosa de menor extensão do que o romance,
mas costumeiramente maior que um conto. Em relação ao romance, podemos dizer que a novela apresenta
maior economia de recursos narrativos. Já em comparação ao conto, pode-se dizer que a novela possui um
maior desenvolvimento tanto de enredo, quanto de personagens. Dessa maneira, podemos concluir que a
novela seria uma forma intermediária entre o conto e o romance. Em geral, trata-se de uma narrativa em
que as ações giram em torno de um único personagem (o romance costuma apresentar maior número de
tramas e linhas narrativas). Não é um gênero muito praticado entre os prosadores brasileiros, embora tenha-
mos, mais contemporaneamente, grandes obras nesse estilo, como A hora da estrela, de Clarice Lispector;
Um copo de cólera, de Raduan Nassar; ou O invasor, de Marçal Aquino. Na Europa, esse gênero deu origem
a grandes clássicos, como A metamorfose, de Kafka; Morte em Veneza, de Thomas Mann; e A morte de Ivan
Ilitch, de Tolstói.

70
§§ Conto: entende-se por conto uma composição
textual em prosa mais curta que a novela ou o
Crônicas
romance. Por possuir um espaço de desenvol- A crônica é um gênero que transita entre a lite-
vimento menor, o conto costuma apresentar ratura e o jornalismo. É conduzido a partir da observa-
uma estrutura bastante fechada, em que o en- ção subjetiva de fatos cotidianos que são relatados ao
redo se desenvolve com maior velocidade, sem leitor. Há, por parte do cronista, um desejo de oferecer
desdobramento de conflitos secundários (como não apenas um relato de um acontecimento, mas uma
habitualmente acontece com o romance). Ca- reflexão/interpretação sobre o ocorrido. Nesse sentido,
racteriza-se por deixar várias questões a cargo a crônica acaba por revelar ao leitor elementos que es-
da interpretação do leitor, e também por possuir tão por trás das aparências ou que não são percebidos
um clímax mais próximo de seu fim. Trata-se de pelo senso comum. Trata-se de um gênero marcada-
um gênero muito trabalhado por prosadores mente opinativo, em que a subjetividade do escritor
brasileiros, pois seus processos de ficcionalidade vem à tona.
costumam alcançar tanto elementos mais “ma-
teriais”, quanto elementos mais fantasiosos (os
contos fantásticos, por exemplo). Há autores que
desenvolveram a totalidade de suas obras em
contos, como é o caso do escritor Murilo Rubião.
Outros grandes contistas brasileiros são Macha-
do de Assis, Mário de Andrade, Clarice Lispector
e Guimarães Rosa.
§§ Drama: entende-se por drama uma composição
textual em prosa que realiza uma figuração/re-
presentação de ações ou histórias. Habitualmen-
te, são textos para serem encenados em peças
(no teatro). Sua estrutura pode ser dividida em
capítulos denominados “atos” (1º ato, 2º ato
etc.), e apresenta dimensões variadas, que levam
em conta o tempo de apresentação da obra ao
público. Muito se discute a respeito das diferen-
ças que podem existir entre o texto dramático
escrito e aquilo que é representado em um palco.
A ideia geral seria que se seguisse o mais fiel-
mente possível o texto que foi produzido pelo
autor, no entanto, os diretores de peças têm a
liberdade de realizar modificações variadas no
enredo ou nas composições cenográficas. Não é
dos gêneros mais trabalhados pelos prosadores
brasileiros, embora existam produções de grande
qualidade que se tornaram famosas por virarem
filmes. É o caso das peças Lisbela e o prisionei-
ro, de Osman Lins, O auto da compadecida, de
Ariano Suassuna, ou Eles não usam black-tie, de
Gianfrancesco Guarnieri.

71
Leitura de imagens
Quadrinho e tirinhas
As histórias em quadrinhos são um conjunto narrativo (entendido como uma forma de arte sequencial grá-
fica) que mescla linguagem verbal (texto) e linguagem não verbal (imagem). É um gênero bastante popular entre
crianças e adolescentes, e tem se tornado cada vez mais popular também entre os adultos, especialmente pela
capacidade que as histórias possuem de representar uma quantidade significativa de situações sociais.
As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras veiculadas
em revistas e jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem
grande espaço), o tipo mais comum de quadrinho que encontramos são as “tiras”.

As tiras
São entendidas como tiras os segmentos de história em quadrinhos publicados em jornais ou revistas num
curto espaço de página, habitualmente na horizontal (atualmente, há também formatos verticais ou com duas ou
mais tiras). É um gênero textual que surgiu nos Estados Unidos para dar conta da falta de espaço que havia nos
jornais para a publicação de cruzadas e outros passatempos. O nome "tira” (ou “tirinha", como a conhecemos no
Brasil) remete ao formato do texto, que parece um "recorte" horizontal de jornal.
Trata-se de um gênero textual que mais comumente apresenta temática humorística, mas também encon-
traremos (especialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem
reflexões existenciais). Vejamos alguns exemplos:

(Tirinha de humor – “Níquel Náusea” de Fernando Gonsales)

Mais recentemente, as tiras (e os quadrinhos como um todo) têm sido objeto de inúmeras pesquisas sobre
comunicação em cursos de graduação e pós-graduação. Encontram-se com facilidade artigos e outras publicações
destinados aos estudos deste gênero. Por esse motivo, os quadrinhos tem sido muito explorados no vestibular.

Charges e cartuns
Charges e cartuns são elementos comunicativos que se assemelham aos quadrinhos por trabalharem com
os campos de comunicação verbal (texto) e não verbal (imagem), mas, ao mesmo tempo, se diferenciam por não
constituírem um processo narrativo. Tanto a charge, quanto o cartum, focalizam situações de comunicação especí-
ficas, geralmente focalizadas em um único quadro.

72
A charge atemporais, que seriam reconhecidas por qualquer pes-
soa, independentemente do contexto abordado.
Charge é um termo de origem francesa que sig- Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhan-
nifica “carga”. Recebe esse nome por conta da “carga” do com as linguagens verbal e não verbal, não depende
satírica que sua informação comporta. A função da de conhecimento de mundo mais específico, pois abor-
charge é relatar costumes humanos, satirizando da situações mais amplas. Vejamos alguns exemplos:
situações que são parte de um contexto cultural,
político, econômico e social bastante específico.
Por essa razão, para que consigamos entender a charge,
é necessário que conheçamos os “alvos” que elas pro-
curam atingir; em geral, pessoas ligadas à vida pública,
como políticos, artistas, atletas, entre outros.
(Novamente um trabalho de Laerte. É possível notar que o tema do car-
O fato de a charge tratar de contextos muito espe- tum tem caráter mais universal. Neste caso, percebemos um processo de
cíficos faz com que ela possua um caráter mais perecível, proletarização por conta da redução contínua de salários, algo que pode
acontecer em qualquer lugar do mundo, a qualquer tempo.)
pois, fora de seu contexto de origem, ela provavelmen-
te perderá parte de força comunicativa; no entanto, por
conta mesmo da relação contextual, funciona como um Imagens
valoroso elemento de registro histórico.
Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhan- Podemos entender por imagem qualquer tenta-
do com as linguagens verbal e não verbal, precisa estar tiva de representação, reprodução ou imitação da for-
em consonância com os conhecimentos de mundo do ma de uma pessoa ou de um objeto, cujo objetivo é
interlocutor, uma vez que o entendimento da mensa- comunicar algo a partir de alguma intencionalidade. É
gem só será efetivado se houver compreensão de con- um processo que pode ser prioritariamente visual, ou
textos determinados. pode também mesclar linguagem verbal e não verbal.
O conceito de imagem abarca todo e qualquer objeto
que possa ser percebido, tanto visualmente, quanto es-
teticamente.
Historicamente, tivemos duas fortes teorias filo-
sóficas que tentaram dar conta da “ideia” de imagem.
A primeira foi concebida por Platão, que considerava a
imagem, como sendo uma projeção que aparecia em
(Charge de Laerte Coutinho cuja compreensão depende de conhecimento nossa mente. Mais adiante, Aristóteles considerou a
histórico sobre os processos de colonização em território brasileiro.)
imagem como sendo um movimento de aquisição pe-
los sentidos, a representação mental de um objeto real.
O cartum Embora seja uma controvérsia bastante antiga, ela dura
até os dias de hoje, com acepções positivas, pois con-
O cartum é conhecido por ser uma espécie de tribui para um entendimento mais amplo e preciso de
anedota gráfica, que, assim como a charge, mescla lin- um conceito que envolve domínios ligados à arte, ao
guagem verbal e não verbal para atingir seus objetivos. registro fotográfico, à pintura, ao desenho, à gravura ou
A diferença crucial entre a charge e o cartum reside no qualquer outra forma visual de expressão da ideia (pro-
fato de que sua finalidade discursiva é a de satirizar pagandas, placas, infográficos, entre outros elementos).
costumes humanos, valendo-se de personagens No momento contemporâneo, há um grande vo-
que representam pessoas comuns, sem que haja lume de imagens circulando em nossa sociedade, que
a preocupação com um contexto específico, atu- chegam até nossos olhos por meio de diversos estímu-
al ou momentâneo. los visuais: anúncios publicitários, cartazes, ou qualquer
Em relação à charge, pode-se dizer que o cartum outro material impresso; os memes de internet, trans-
missões televisivas, obras artísticas, imagens arquitetô-
tem um caráter mais universal, pois aborda situações
nicas, e até mesmo representações sagradas.

73
Linguagem visual e seus
processos de análise
Realizar a análise de um estímulo visual requer
bastante atenção ao seu conjunto. Se na análise discur-
siva precisamos estar atentos a outros fatores para além
do texto, como quem é o autor, o gênero selecionado,
a data da publicação ou o período em que um trabalho
foi realizado; para a análise visual devemos, também,
considerar tudo que compõe a imagem: se o tipo de tra-
ço remete a algum período, se é colorida ou em preto e
branco, se sua composição é simples ou mais complexa,
suas marcas de autoria, entre outros fatores.

74
U.T.I. - Sala
1. (Fuvest 2019) Considere os textos para responder à questão.

I. A tônica é que os pequenos jogadores da equipe de futebol Javalis Selvagens estão tranquilos
e até confortáveis, bem cuidados na caverna pela numerosa equipe internacional que tenta retirá-
-los dali, e que têm muita vontade de voltar a comer seus pratos favoritos quando voltarem para
casa.
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/07/internacional/1530941588_246806.html. Adaptado.

II. Bem, minha vida mudou muito nos últimos dois anos. O mundo que explorei mudou muito. Eu
vi muitas paisagens diferentes durante as turnês, e é realmente inspirador ver o quão grande é o
mundo. Eu quero explorar e experimentar diferentes partes da natureza, mas eu não gosto do de-
serto, sinto muito pelas plantas! Ou talvez eu goste disso… te deixa com sede de olhar para ele…
http://portalaurorabr.com/2018/09/16/eu_sou_feminista_porque_sou_mulher_diz_aurora_em_entrevista_ao_independent/

III.

a) Quanto ao sentido, a palavra “bem”, destacada nos três textos, desempenha a mesma função
em cada um deles? Justifique.
b) Reescreva o trecho “Eu quero explorar e experimentar diferentes partes da natureza, mas eu
não gosto do deserto, sinto muito pelas plantas!”, empregando o discurso indireto e fazendo as
adaptações necessárias. Comece o período com “Ela disse que”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do ensaio “A transitoriedade”, de Sigmund Freud (1856-1939), para responder à(s)
questão(ões) a seguir.
Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma rica paisagem num dia de verão, em companhia de um
poeta jovem, mas já famoso. O poeta admirava a beleza do cenário que nos rodeava, porém não se
alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela beleza estava condenada à
extinção, pois desapareceria no inverno, e assim também toda a beleza humana e tudo de belo e
nobre que os homens criaram ou poderiam criar. Tudo o mais que, de outro modo, ele teria amado
e admirado, lhe parecia despojado de valor pela transitoriedade que era o destino de tudo.

75
Sabemos que tal preocupação com a fragilidade do que é belo e perfeito pode dar origem a duas
diferentes tendências na psique. Uma conduz ao doloroso cansaço do mundo mostrado pelo jovem
poeta; a outra, à rebelião contra o fato constatado. Não, não é possível que todas essas maravilhas
da natureza e da arte, do nosso mundo de sentimentos e do mundo lá fora, venham realmente a se
desfazer. Seria uma insensatez e uma blasfêmia acreditar nisso. Essas coisas têm de poder subsis-
tir de alguma forma, subtraídas às influências destruidoras.
Ocorre que essa exigência de imortalidade é tão claramente um produto de nossos desejos que não
pode reivindicar valor de realidade. Também o que é doloroso pode ser verdadeiro. Eu não pude me
decidir a refutar a transitoriedade universal, nem obter uma exceção para o belo e o perfeito. Mas
contestei a visão do poeta pessimista, de que a transitoriedade do belo implica sua desvalorização.

Pelo contrário, significa maior valorização! Valor de transitoriedade é valor de raridade no tempo.
A limitação da possibilidade da fruição aumenta a sua preciosidade. É incompreensível, afirmei,
que a ideia da transitoriedade do belo deva perturbar a alegria que ele nos proporciona. Quanto
à beleza da natureza, ela sempre volta depois que é destruída pelo inverno, e esse retorno bem
pode ser considerado eterno, em relação ao nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a beleza do
rosto e do corpo humanos no curso de nossa vida, mas essa brevidade lhes acrescenta mais um
encanto. Se existir uma flor que floresça apenas uma noite, ela não nos parecerá menos formosa
por isso. Tampouco posso compreender por que a beleza e a perfeição de uma obra de arte ou de
uma realização intelectual deveriam ser depreciadas por sua limitação no tempo. Talvez chegue
o dia em que os quadros e estátuas que hoje admiramos se reduzam a pó, ou que nos suceda uma
raça de homens que não mais entenda as obras de nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha
uma era geológica em que os seres vivos deixem de existir sobre a Terra; mas se o valor de tudo
quanto é belo e perfeito é determinado somente por seu significado para a nossa vida emocional,
não precisa sobreviver a ela, e portanto independe da duração absoluta.
(Introdução ao narcisismo, 2010. Adaptado.)

2. (Unesp 2019)
a) Explique sucintamente a diferença entre a visão de Freud e a visão do jovem poeta sobre a
transitoriedade do belo.
b) Transcreva do segundo parágrafo uma oração em que a ocorrência de vírgula indica a supressão
de um verbo. Identifique o verbo suprimido nessa oração.

3. (Ufu 2018) Não sei – respondeu dona Carochinha – mas tenho notado que muitos dos persona-
gens das minhas histórias já andam aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro delas. Que-
rem novidade. Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Aladino queixa-se
de que sua lâmpada maravilhosa estaì enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espetar o
dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás e
quer ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix. Branca de Neve vive falando em tingir os cabe-
los de preto e botar rouge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para contê-los.
Mas o pior eì que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo.
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. 33. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. p. 11.

a) Explique como se dá o processo de intertextualidade no texto de Monteiro Lobato.


b) Transcreva um exemplo de sequência textual narrativa e um exemplo de sequência textual des-
critiva, retiradas do texto.

4. (Ufu 2018) TEXTO I

Enciclopédia

Hécate ou Hécata, em gr. Hekáté. Mit gr.


Divindade lunar e marinha, de tríplice
forma (muitas vezes com três cabeças e

76
três corpos). Era uma deusa órfica,
parece que originária da Trácia. Enviava
aos homens os terrores noturnos, os fantasmas
e os espectros. Os romanos a veneravam
como deusa da magia infernal.
CESAR, Ana Cristina. Enciclopédia. In: Destino: poesia. Organização de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2016. p.35.

TEXTO II
I

Enquanto leio meus seios estão a descoberto. É difícil


concentrar-me ao ver seus bicos. Então rabisco as folhas deste
álbum. Poética quebrada pelo meio.

II
Enquanto leio meus textos se fazem descobertos. É difícil
escondê-los no meio dessas letras. Então me nutro das tetas dos
poetas pensados no meu seio.
CESAR, Ana Cristina. Sem título. In: Destino: poesia. Organização de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2016. p.39.

a) Explique, em um parágrafo, de que maneira a função metalinguística se presentifica no texto I.


b) A respeito do texto II, explique, em um parágrafo, a relação que se estabelece entre seios e
textos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Para responder à questão, leia o soneto de Raimundo Correia (1859-1911).

Esbraseia o Ocidente na agonia


O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania


Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
(Poesia completa e prosa, 1961.)

5. (Unesp 2018)
a) Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata?
b) A primeira estrofe do soneto é composta por três períodos simples em ordem indireta (“Esbra-
seia o Ocidente na agonia / O sol”; “Aves em bandos destacados, / Por céus de ouro e de púrpura
raiados, / Fogem”; e “Fecha-se a pálpebra do dia”). Reescreva esses três períodos em ordem
direta.

77
U.T.I. - E.O. Poderia parecer que esse tipo de hibridiza-
ção entre tecnologia e biologia é coisa de
um futuro distante. Ledo engano. Como no
caso do celular, está acontecendo agora. Es-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: tamos redefinindo a espécie humana através
Leia o trecho inicial do artigo “Artifícios da da interação – na maior parte ainda externa
inteligência”, do físico brasileiro Marcelo – com tecnologias que ampliam nossa capa-
Gleiser (1959- ), para responder à questão. cidade.

Considere a seguinte situação: você acorda Sem nossos aparelhos digitais – celulares,
atrasado para o trabalho e, na pressa, esque- tabletes, laptops – já não somos os mesmos.
ce o celular em casa. Só quando engavetado Criamos personalidades virtuais, ativas ape-
no tráfego ou amassado no metrô você se dá nas na internet, outros eus que interagem
conta. E agora é tarde para voltar. Olhando em redes sociais com selfies arranjados para
em volta, você vê pessoas com celular em impressionar; criações remotas, onipresen-
punho conversando, mandando mensagens, tes. Cientistas e engenheiros usam computa-
navegando na internet. Aos poucos, você vai dores para ampliar sua habilidade cerebral,
sendo possuído por uma sensação de perda, enfrentando problemas que, há apenas algu-
de desconexão. Sem o seu celular, você não mas décadas, eram considerados impossíveis.
é mais você. Como resultado, a cada dia surgem questões
que antes nem podíamos contemplar.
A junção do humano com a máquina é co- (Folha de S.Paulo, 01.02.2015. Adaptado.)
nhecida como “transumanismo”. Tema de
vários livros e filmes de ficção científica,
hoje é um tópico essencial na pesquisa de 1. (Unesp 2018)
muitos cientistas e filósofos. A questão que a) Para o físico Marcelo Gleiser, o que dis-
nos interessa aqui é até que ponto essa jun- tingue as tecnologias transumanas da-
ção pode ocorrer e o que isso significa para o quelas apenas corretivas? Justifique sua
futuro da nossa espécie. resposta.
b) Cite dois termos empregados em sentido
Será que, ao inventarmos tecnologias que figurado no primeiro parágrafo do artigo.
nos permitam ampliar nossas capacidades
físicas e mentais, ou mesmo máquinas pen- 2. (Fuvest 2019) Meu caro amigo eu bem que-
santes, estaremos decretando nosso próprio ria lhe escrever
fim? Será esse nosso destino evolucionário, Mas o correio andou arisco
criar uma nova espécie além do humano? Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
É bom começar distinguindo tecnologias Aqui na terra tão jogando futebol
transumanas daquelas que são apenas corre- Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
tivas, como óculos ou aparelhos para surdez. Uns dias chove, noutros dias bate sol
Tecnologias corretivas não têm como função Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa
ampliar nossa capacidade cognitiva: só regu- aqui tá preta
larizam alguma deficiência existente. A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crian-
A diferença ocorre quando uma tecnologia ças
não apenas corrige uma deficiência como O Francis aproveita pra também mandar
leva seu portador a um novo patamar, além lembranças
da capacidade normal da espécie humana. A todo pessoal
Por exemplo, braços robóticos que permi- Adeus
tem que uma pessoa levante 300 quilos, ou Meu caro amigo. Chico Buarque e Francis Hime, 1976.
óculos com lentes que dotam o usuário de
visão no infravermelho. No caso de atletas
com deficiência física, a questão se torna a) Levando em conta o período histórico em
bem interessante: a partir de que ponto uma que a letra da música foi composta, justifi-
prótese como uma perna artificial de fibra de que o uso do plural no terceiro verso.
carbono cria condições além da capacidade
humana? Nesse caso, será que é justo que b) A letra da canção apresenta características
esses atletas compitam com humanos sem de qual gênero discursivo? Aponte duas des-
próteses? sas características.

78
3. (Unicamp 2019) O xeque-mate – do persa
shâh mât: o rei está morto - ocupa uma fun- Não consigo imaginar que alguém possa
ção controversa nas leis do jogo de xadrez. aprender sozinho, sem modelos, a prática
Trata-se de uma expressão que designa o profundamente artificial da leitura lenta.
lance final - é quando um dos reis não tem Daí a internet pressupor não apenas os li-
mais qualquer possibilidade de movimento. vros, mas também aqueles que ensinam a ler
De saída, e nisso consiste o primeiro traço de livros – ou seja, professores em carne e osso.
ambivalência da expressão, a rigor, o rei não
morre. Pode-se dizer até que o rei agoniza (Adaptado de “Carlo Ginzburg: a internet é um instrumento
- mas de seu destino quase nada sabemos. potencialmente democrático”. Disponível em http://
www.fronteiras.com/artigos/carlo-ginzburg-ainternet-
Em resumo, o xeque-mate é exatamente, nao-apenas-remete-aos-livros-como-tambem-pressupoe-
negando o que enuncia a expressão, o lance livros-1427135419. Acessado em 02/09/2018.)
anterior ao que podemos chamar de morte.
Diferentemente do senso comum, que vê a) De que argumentos o autor se vale para
grandeza naquele que luta até o último ins- refutar a afirmação de que a internet é
tante – a saber, até a morte –, o jogador de um instrumento democrático?
xadrez deve ter a medida de seu esforço. Sa- b) Explique por que a internet pressupõe
ber abandonar uma partida no momento cer- “professores em carne e osso” e livros.
to, portanto, é uma demonstração de domí-
nio da própria derrota. A morte, por jamais 5. (Uerj 2017) Rio 40 graus
tornar-se concreta, fica sendo pura potência. Cidade maravilha
Talvez seja este caráter inacabado – o jogo Purgatório da beleza e do caos
acaba sempre antes de acabar - que concede,
afinal, ao jogo de xadrez, na forma de rito, a Capital do sangue quente do Brasil
possibilidade de um eterno recomeçar. Capital do sangue quente
(Adaptado de Victor da Rosa, “Xeque-mate”. Disponível Do melhor e do pior do Brasil
em http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/
xequemate.html. Acessado em 04/09/2018.) Cidade sangue quente
Maravilha mutante
a) Victor da Rosa afirma que há uma am-
bivalência na expressão “xeque-mate”. O rio é uma cidade de cidades misturadas
Explique-a. O rio é uma cidade de cidades camufladas
Com governos misturados, camuflados, para-
b) Explique, com dois argumentos, por que
lelos
a posição do autor quanto à grandeza do
Sorrateiros ocultando comandos
jogo de xadrez contraria o senso comum.
(...)
FERNANDA ABREU / FAUSTO FAWCETT / LAUFER
4. (Unicamp 2019) Alguém já escreveu que a ABREU, F. LA 2 be sample. EMI, 1992.
internet é um instrumento democrático. To-
O rio é uma cidade de cidades misturadas
mada ao pé da letra, essa afirmação é falsa.
O rio é uma cidade de cidades camufladas
Eu gostaria de corrigi-la, acrescentando: a
(v. 9-10)
internet é um instrumento potencialmen-
te democrático. Para fazer uma pesquisa Nos versos acima, a fragmentação da cidade
navegando na web, precisamos saber como é explorada por meio de dois recursos lin-
dominar os instrumentos do conhecimento: guísticos. Identifique um desses recursos.
em outras palavras, precisamos dispor de um Em seguida, relacione-o com essa fragmen-
privilégio cultural que é ligado ao privilégio tação.
social. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A CIDADE
As escolas precisam da internet, mas a in-
ternet precisa de uma escola onde o ensi- Destinava-se a uma cidade maior, mas o
no real acontece. A internet não apenas faz trem permaneceu indefinidamente na ante-
referência aos livros, mas pressupõe livros. penúltima estação.
A leitura fragmentada em palavras e frases Cariba acreditou que a demora poderia ser
isoladas do contexto integral sempre foi atribuída a algum 1comboio de carga des-
parte da leitura de cada um, mas o livro é carrilado na linha, acidente comum naquele
trecho da ferrovia. Como se fizesse excessivo
o instrumento que nos ensina a dominar a
o atraso e ninguém o procurasse para lhe ex-
extraordinária velocidade da internet – para
plicar o que estava ocorrendo, pensou numa
ser capaz de usá-la, você precisa aprender a
“ler devagar”.

79
provável desconsideração à sua pessoa, em – Alguém fez hoje alguma pergunta?
virtude de ser o único passageiro do trem. – 6Não. Ainda é você a única pessoa que faz
Chamou o funcionário que examinara as perguntas nesta cidade.
passagens e quis saber se constituía motivo MURILO RUBIÃO. Obra completa. São Paulo:
para tanta negligência o fato de ir vazia a Companhia das Letras, 2010.
composição.
§§
1
comboio – trem
Não recebeu uma resposta direta do empre-
§§
3
valise – mala de mão
gado da estrada, que se limitou a apontar
§§
4
espadaúdo – de ombros largos
o morro, onde se dispunham, sem simetria,
dezenas de casinhas brancas.
– Belas mulheres? – indagou o viajante. 6. (Uerj 2017) Leia os trechos abaixo, que
– Casas vazias. apresentam, respectivamente, um fragmen-
Percebeu logo que tinha pela frente um cre- to do texto e sua reescritura:
tino. 2Apanhou as malas e se dispôs a subir
as íngremes ladeiras que o conduziriam ao 1. Apanhou as malas e se dispôs a subir as
povoado. íngremes ladeiras que o conduziriam ao
(...) povoado. (ref. 2)
Durante todo o percurso, desde as vias se- 2. Apanhou as malas e se dispôs a subir as
cundárias à avenida principal, os moradores íngremes ladeiras que o conduziam ao
do lugar observaram Cariba com desconfian- povoado.
ça. Talvez estranhassem as 3valises de couro
de camelo que carregava ou o seu paletó xa- Explique a diferença de sentido entre as
drez, as calças de veludo azul. Mesmo sen- duas construções. Justifique, ainda, a opção
do o seu traje usual nas constantes viagens do autor pela primeira formulação, tendo em
que fazia, achou prudente desfazer qualquer vista o desenrolar da narrativa.
mal-entendido provocado pela sua presença
entre eles: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
– Que cidade é esta? – perguntou, esforçan- Um estudo sobre contestações do povo dirigi-
do-se para dar às palavras o máximo de cor- das ao governo na primeira década do século
dialidade. XX, registradas em uma coluna de jornal, re-
Nem chegou a indagar pelas mulheres, con- vela a atitude do cidadão em momentos não
forme pretendia. Pegaram-no com violência críticos, em seu cotidiano de habitante da
pelos braços e o foram levando, aos trancos, cidade do Rio de Janeiro. A conclusão do es-
para a delegacia de polícia: tudo é que quase só pessoas de algum modo
– É o homem procurado – disseram ao dele- relacionadas com a burocracia do Estado se
gado, um sargento 4espadaúdo e rude. queixavam, quer os próprios funcionários e
(...) operários, quer as vítimas dos funcionários,
O sargento chegara a uma conclusão, entre- especialmente da polícia e dos fiscais. Re-
tanto divagava: clamavam funcionários, artesãos, pequenos
– O telegrama da Chefia de Polícia não es- comerciantes, uma ou outra prostituta.
clarece nada sobre a nacionalidade do delin-
quente, sua aparência, idade e quais os cri- Mas as queixas não revelavam oposição ao Es-
mes que cometeu. Diz tratar-se de elemento tado. O conteúdo das reclamações girava em
altamente perigoso, identificável pelo mau torno de problemas elementares, como se-
hábito de fazer perguntas e que estaria hoje gurança individual, limpeza pública, trans-
neste lugar. porte, arruamento. Permanece, no entanto,
(...) o fato de que entre as reivindicações não se
5
Cinco meses após a sua detenção, ele não colocava a de participação nas decisões, a de
mais espera sair da cadeia. Das suas grades, ser ouvido ou representado. O Estado apa-
observa os homens que passam na rua. Mal o rece como algo a que se recorre, como algo
encaram, amedrontados, apressam o passo. necessário e útil, mas que permanece fora
Pressente, às vezes, que irão perguntar qual- do controle, externo ao cidadão. Ele não é
quer coisa aos companheiros e fica à esprei- visto como produto de concerto político, pelo
ta, ansioso que isso aconteça. Logo se de- menos não de um concerto em que se inclua
sengana. Abrem a boca, arrependem-se, e se a população. É uma visão antes de súdito que
afastam rapidamente. de cidadão, de quem se coloca como objeto
Caminha, dentro da noite, de um lado da ação do Estado e não de quem se julga no
direito de a influenciar.
para outro. E, ao avistar o guarda, cumprin-
do sua ronda noturna, a examinar se as celas
estão em ordem, corre para as grades inter-
nas, impelido por uma débil esperança:

80
Como explicar esse comportamento políti- Por essa praia, essa saia, pelas mulheres da-
co da população do Rio de Janeiro? De um qui
lado, a indiferença pela participação, a au- O amor malfeito depressa, fazer a barba e
sência de visão do governo como responsa- partir
bilidade coletiva, de visão da política como Pelo domingo que é lindo, novela, missa e
esfera pública de ação, como campo em que gibi
os cidadãos se podem reconhecer como cole- Deus lhe pague
tividade, sem excluir a aceitação do papel do
Estado e certa noção dos limites deste papel Pela cachaça de graça que a gente tem que
e de alguns direitos do cidadão. De outro, 1o engolir
contraste de um comportamento participa- Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que
tivo em outras esferas de ação, como a reli- tossir
gião, a assistência mútua e as grandes festas Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem
em que a população parecia reconhecer-se que cair
como comunidade. Deus lhe pague

Seria a cidade a responsável pelo fenômeno? Por mais um dia, agonia, pra suportar e as-
Neste caso, como caracterizá-la, como distin- sistir
gui-la de outras? Entramos aqui na vasta e Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
rica literatura sobre o fenômeno urbano, em E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
particular sobre a cultura urbana. Deus lhe pague
JOSÉ MURILO DE CARVALHO Adaptado de Os
bestializados: o Rio de Janeiro e a República que Pela mulher carpideira pra nos louvar e cus-
não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. pir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e co-
brir
7. (Uerj 2017) o contraste de um comporta- E pela paz derradeira que enfim vai nos re-
mento participativo em outras esferas de dimir
ação, como a religião, a assistência mútua e Deus lhe pague
as grandes festas em que a população pare- www.chicobuarque.com.br.
cia reconhecer-se como comunidade. (ref.1)

Nesse fragmento, o autor emprega duas ve- 8. (Unesp 2017) Considere as definições dos
zes a palavra como, estabelecendo relações seguintes conceitos:
coesivas distintas em cada uma de suas ocor-
rências. 1. Autonomia: direito de um indivíduo to-
mar decisões livremente; independência
Aponte o tipo de relação estabelecida, res- moral ou intelectual; capacidade de gover-
pectivamente, em cada emprego. Em segui- nar-se pelos próprios meios.
da, reescreva o trecho sublinhado, substi- 2. Heteronomia: sujeição de um indivíduo a
tuindo como por uma palavra ou expressão uma instância externa ou à vontade de ou-
de sentido equivalente. trem; ausência de autonomia.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Qual dos conceitos mostra-se mais adequado
Para responder à(s) questão(ões) a seguir, para descrever a existência retratada pela le-
leia a letra da canção “Deus lhe pague”, do tra da canção? Justifique sua resposta, com
compositor Chico Buarque (1944- ), compos- base no texto.
ta em 1971.
Considerando o contexto histórico-social em
Por esse pão pra comer, por esse chão pra que a canção foi composta, a quem ou a que
dormir se refere o pronome “lhe” em “Deus lhe pa-
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir gue”?
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague 9. (Unesp 2017) “Deus lhe pague”: pedido a
Deus para que abençoe alguém por algo bom
Pelo prazer de chorar e pelo “estamos aí” que esse alguém praticou.
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir Carlos Alberto de M. Rocha e Carlos Eduardo
Um crime pra comentar e um samba pra dis- P. de M. Rocha. Dicionário de locuções e
expressões da língua portuguesa, 2011.
trair
Deus lhe pague

81
Considerando a definição da expressão “Deus 1
0. (Pucrj 2016)
lhe pague”, é correto afirmar que o composi- a) Explique, com suas próprias palavras, o
tor se apropriou ironicamente dessa expres- conceito de “comunidade imaginada”,
são em sua canção? Justifique sua resposta, que, segundo Benedict Anderson, está
valendo-se de três versos da letra da canção. implicado na definição de “nação”.
b) Mantendo o sentido das frases abaixo,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: reescreva-as sem usar a palavra mesmo.
Faça as modificações necessárias.
Benedict Anderson (1991) define a nação i) Há identificação, mesmo sem laços pesso-
como uma comunidade política imaginada, ais.
porque há uma espécie de ficção no vínculo ii) Há, mesmo, identificação sem laços pes-
entre seus membros, que, em sua maioria, soais.
nunca estabelecerão qualquer contato, mas
cujo imaginário é de uma relação horizon-
tal compartilhada. Há identificação, mesmo
sem laços pessoais. Anderson (1991) faz
uma análise das origens dessa imaginação
comunitária e considera indiretamente a
consolidação do Estado moderno o fato de-
sencadeador do surgimento do imaginário
nacional. [...]

Apesar de ser apenas uma entre muitas pos-


sibilidades de se imaginar uma comunidade
política, a nação se consolidou na História
como se não fosse uma construção social,
mas um elemento natural de vínculo en-
tre os indivíduos. Essa solidez só foi possí-
vel porque o Estado-nação nasceu com um
imaginário de eternidade, constantemente
reproduzido por discursos de identidade na-
cional que sustentam a dimensão imaginada
da comunidade política (Balibar, 2004a).

Natio era a deusa da origem na Roma Antiga,


onde a palavra era usada para se referir a
grupos unidos por laços culturais, tradições
e costumes, mas sem organização política
(Habermas, 1998). A nação, nesse sentido, é
pré-política. Na era moderna, porém, o Esta-
do territorial, de fronteiras bem definidas e
administração centralizada, tornou-se a es-
trutura política que dá forma a uma memó-
ria supostamente atemporal. Na medida em
que nação e Estado se uniram como o prin-
cipal modelo de organização política [...], o
sentido de nação se ampliou. 1Ela não sig-
nificava mais apenas um grupo com origens
culturais comuns, mas também um conjunto
de indivíduos sujeito às mesmas regulamen-
tações do Estado. A partir da Revolução Fran-
cesa, a nação, como define Habermas, passou
a ser a escora da soberania e também a base
para a definição dos deveres e direitos dos
indivíduos do Estado: a cidadania.
Disponível em: <http://www.maxwell.vrac.
puc-rio.br/19264/19264_3.PDF>. p. 24-27.
Acesso em: 23 jul. 2015. Adaptado.

82
0 2 Redação

U.T.I.
© Pexels/Pixabay.com

L C
ENTRE FRASES
Acervo
Charlatanismo religioso tecostal Peter Popoff, alemão que emigrou para os EUA
O Código Penal determina, em seu art. 171, que e lá fez fama por sua capacidade aparentemente mila-
é crime obter vantagem ilícita, em detrimento alheio, grosa para falar com Deus. Em seu programa semanal
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante ar- de televisão na década de 1980, ele indicava os en-
tifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, o que dereços e as doenças de pessoas no público presente
configura a figura do estelionato. O art. 283 informa e, em seguida, "curava-os". Segundo denúncias, Popoff
que é crime “inculcar ou anunciar cura por meio secreto faturava cerca de quatro milhões de dólares por ano ao
ou infalível”, na qual configurará charlatanismo quan- longo da década de 1980. Em 1987, descobriram que
do alguém anuncia que sabe curar doença da pessoa Popoff usava um fone de ouvido no palco e sua esposa
através de um método completamente secreto e que transmitia as informações sobre os membros da audiên-
não revelará ao público, além de vender produtos mi- cia desavisados, que ela recolhia antes da apresentação
lagrosos, mesmo não os sendo, cobrar dízimo em troca do marido para as alegadas "curas".
de espaço no céu, dentre outros – ludibriando, pois, os Agora surge o escândalo do nosso João de Deus.
adquirentes. Independentemente das acusações sobre abusos se-
Provavelmente estes artigos do Código Penal xuais, há muito a ser esclarecido. Como ele conseguiu
surgiram a partir da ação de religiosos (ou pseudo-reli-
seu patrimônio constituído de fazendas e de pelo me-
giosos) que se aproveitam da credulidade, do desespero
nos R$35 milhões em caixa, que ele movimentou antes
e da massificação de informações emanadas por admi-
de receber ordem de prisão? E sobre as denúncias de
radores (ou seus asseclas), induzindo grandes massas
comerciantes da cidade de Abadiania que alegam só
de pessoas a buscarem suas curas, deixando doações e
poder vender produtos se previamente autorizados pelo
comprando produtos alegadamente milagrosos.
medium? Ou sobre a venda de produtos "milagrosos"
Um caso intrigante foi o do americano Jim Jones
na área do seu templo? Qual o verdadeiro papel repre-
que resolveu fundar nos EUA, em 1954, a sua própria
sentado pelos fiéis seguidores/guarda-costas que o pro-
igreja chamada de “O Templo dos Povos” Em 1963,
tegem, acompanham e, segundo testemunhas, sabem
mudou-se para o Brasil onde tentou expandir a seita,
exatamente do ocorrido no quarto onde as mulheres e
sem sucesso. Retornando aos Estados Unidos, construiu
adolescentes sofriam abusos?
um templo para “salvar” seus fiéis seguidores da guerra
https://d.blogs.odiario.com/bahr-baridades/735821/
nuclear. Em seguida, construiu a Jonestown, na Guiana charlatanismo-religioso (17.08.2018)
Inglesa, onde pregava a ideia de que ele e seus seguido-
res iriam morrer juntos e se mudar para uma vida mais
feliz em outro planeta. Ao surgirem diversas acusações
contra Jones de fraudes, ameaças físicas, tortura psico-
lógica e sequestros de crianças, o governo americano
enviou um congressista e alguns repórteres da NBC
para investigar o local, que foram hostilizados devido
a um desentendimento sobre desertores da seita. Na
confusão, eles foram alvejados por tiros antes que pu-
dessem partir de volta aos Estados Unidos, e o congres-
sista junto com os repórteres foram mortos. Jim Jones
ordenou então que seus seguidores se envenenassem,
o que causou o suicídio coletivo de mais de 900 pessoas
em Jonestown.
Outro caso emblemático foi o do pregador pen-

85
Falsos profetas: relembre líderes nua encontrada na casa de um padre e coleção de por-
espirituais metidos em escândalos nografia infantil, entre outros relatos.
Abuso sexual, pedofilia e corrupção são alguns A partir da revelação dos episódios ocorridos nos
dos crimes dos quais são acusados “homens sagrados” Estados Unidos, surgiram pelo globo incontáveis acusa-
que teriam se aproveitado da fé alheia ções de práticas de abuso sexual cometidas por sacer-
A série de polêmicas recentes envolvendo o mé- dotes católicos. Em consequência dos escândalos, neste
dium João de Deus – acusado de centenas de abusos ano, 34 bispos chilenos chegaram a pedir renúncia ao
sexuais a mulheres que buscavam atendimento no cen- papa Francisco. Em várias ocasiões, o líder supremo do
tro espírita mantido por ele, a cerca de 100km da capi- catolicismo “implorou”aos fiéis por perdão pelos casos
tal federal – não é, infelizmente, um caso isolado. Ou- de abuso e chegou a admitir um “fracasso da Igreja”
tros líderes espirituais e religiosos já se viram envolvidos contra esses crimes.
em escândalos de toda ordem, desde supostos gurus a
padres e pastores. Todos tiveram de responder por seus Corrupção
crimes perante a justiça dos homens. Ainda há quem pense que a proximidade de líde-
Como esquecer, por exemplo, os casos de pedo- res religiosos com o “sagrado” os torna puros e impe-
filia revelados pelo jornal Washington Post envolvendo cáveis. No entanto, esse argumento tem sido quebrado
a Igreja Católica nos Estados Unidos? Ou o guru espiri- pelos próprios “homens de fé”. Crimes como corrupção,
tual Sri Prem Baba (foto em destaque), de 59 anos, que lavagem de dinheiro e caixa 2 deixaram de fazer parte
foi acusado de abuso sexual? De acordo com relatos de apenas do mundo político e foram integrados aos hábi-
duas seguidoras do seu grupo – as quais passavam por tos de religiosos brasileiros – que movimentam grandes
dificuldades no casamento –, Prem Baba teria utilizado quantias de dinheiro vindas dos dízimos e doações de
sua posição para manter relações sexuais com elas. Ele fiéis.
negou os abusos, alegando que as denúncias eram re- Em 2007, a Igreja Apostólica Renascer em Cris-
sultado de “relações amorosas que chegaram ao fim”. to foi alvo de um escândalo internacional. Os bispos
Estevâm e Sônia Hernandes foram presos pela Polícia
Abuso, pedofilia e a Igreja Católica Federal dos Estados Unidos (o FBI) em Miami, enquanto
Crimes sexuais não são um fato isolado da reli- embarcavam para São Paulo (SP). Os dois foram pegos
gião espírita. A Igreja Católica teve o nome manchado com US$ 56 mil em dinheiro vivo. Eles declararam às
por episódios do gênero. Histórias assustadoras foram autoridades alfandegárias que traziam US$ 10 mil – o
divulgadas pela mídia internacional, como em uma re- limite imposto pela lei norte-americana.
portagem do jornal The Boston Globe. De acordo com a Na época, o Ministério Público Federal chegou
denúncia, padres cometeram abuso sexual contra cen- a pedir o bloqueio dos bens da Igreja Renascer e do
tenas de menores nos Estados Unidos. casal, entendendo que a comunidade se comportava
Os relatos são de mais de 1 mil crianças que te- como uma organização criminosa envolvida em práti-
riam sido abusadas sexualmente ao longo de 70 anos cas de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade
por cerca de 300 padres de seis dioceses da Pensilvânia, ideológica e estelionato. A Justiça brasileira decretou a
nos EUA. Segundo o relatório da Suprema Corte estadu- prisão dos religiosos, mas eles conseguiram um habeas
nidense, os atos aconteciam enquanto líderes religiosos corpus que garantiu, inclusive, o direito de embarcarem
acobertavam os abusos. de volta aos Estados Unidos.
O caso teve grande repercussão e chegou a virar
um filme, intitulado Spotlight. As histórias desmembra- Crimes na capital
das se parecem mais com contos de terror: pedofilia A prisão de bispos e padres em Planaltina de
disfarçada de “exame de câncer”; padres que recorriam Goiás, cidade no Entorno do Distrito Federal, causou
aos superiores afirmando terem abusado de crianças e surpresa aos fiéis da Igreja Nossa Senhora Imaculada
eram “perdoados” ao confessarem os atos; gravidezes Conceição. Durante a Operação Caifás foram encontra-
após as relações sexuais com os párocos; uma menor dos R$ 70 mil no fundo falso de um armário na casa

86
do monsenhor Epitácio Cardozo Pereira. O dinheiro, de O advogado criminalista Euro Bento levantou al-
acordo com os investigadores, teria sido desviado de gumas questões sobre a legalidade do que ocorre no lar
dízimos pagos por fiéis da Igreja Católica. de Inri Cristo. “Seria preciso um inquérito policial para
Dom José Ronaldo Ribeiro, bispo de Formosa avaliar até que ponto essas mulheres são livres e se ele
(GO) preso pela força-tarefa, é cidadão honorário de engana as pessoas que doam dinheiro com promessas
Brasília. Ele recebeu o título da Câmara Legislativa em de cura ou de salvação – isso seria charlatanismo, e há
2002, por seu trabalho como pároco na cidade de So- pena prevista em lei”, afirmou.
bradinho (DF). O religioso também recebeu o prêmio de
amigo da Academia Nacional de Polícia, do Departa- Osho, o guru do politi-
mento de Polícia Federal, em 2005. camente incorreto
Segundo investigações do Ministério Público de Bhagwan Shree Rajneesh, conhecido como Osho,
Goiás (MPGO), dom José Ronaldo fazia parte de uma foi um guru indiano. Durante sua vida, ele foi visto como
associação criminosa que atuava desviando recursos um místico e polêmico líder religioso. No final dos anos
de igrejas católicas do Entorno do DF, inclusive nos 1970 e início da década de 1980, havia tomado as
municípios goianos de Formosa e Planaltina de Goiás. manchetes de jornais e revistas internacionais com sua
O prejuízo estimado foi de mais de R$ 2 milhões. Os doutrina, que misturava elementos das principais reli-
fundos teriam sido utilizados, conforme apontam inter- giões orientais, do misticismo e da filosofia ocidental,
ceptações telefônicas, na compra de fazenda de gado e técnicas de psicoterapia e meditação.
casas lotéricas. Tudo para fins particulares. Em seus discursos, fazia piadas sobre o papa
O pastor da Casa da Bênção e ex-deputado dis- católico e sobre Mahatma Gandhi, além de defender
trital, Júnior Brunelli, foi protagonista de um vídeo icô- a liberdade sexual. Era conhecido por colecionar carros
nico conhecido como “Oração da Propina” – revelado Rolls-Royce, relógios caros e joias.
na Operação Caixa de Pandora. Ele virou réu na inves- Mesmo com as polêmicas que envolviam o seu
tigação sobre desvios milionários durante a gestão do nome, Osho reuniu muitos discípulos. Seus seguidores o
ex-governador do DF José Roberto Arruda (PR). No en- apresentavam como um grande contestador e liberta-
tanto, Brunelli foi preso por outro motivo: ficou 10 dias dor. Seu ensinamento enfatizava a busca de liberdade
na cadeia, em 2012, pela Operação Hofini, suspeito de pessoal e apresentava uma atitude mordaz em relação
ter desviado R$ 1,7 milhão em emendas parlamentares à tradição e à autoridade estabelecida.
destinadas a idosos da Associação de Assistência Social Segundo relatos dos próprios seguidores, Osho
Monte das Oliveiras (AMO). sempre foi uma figura polêmica. Em boa parte, por-
que raramente procurava apaziguar ou evitar conflitos.
O curioso caso de Inri Cristo Membros do seu grupo chegaram a ser acusados de,
Mesmo não se tratando de um crime propria- deliberadamente, causar uma intoxicação com salmo-
mente dito, a história curiosa de Inri Cristo e suas segui- nela na comunidade de Condado de Wasco, no Oregon
doras chama atenção. Ele é famoso, não recusa convites (EUA), após alegadas tentativas para obter vantagens
para aparecer em público e se cerca de mulheres que nas eleições locais.
largaram tudo para servi-lo. Vestindo uma túnica branca Nos Estados Unidos, ele respondeu por 35 acu-
com uma coroa de espinhos, apresenta-se como a reen- sações e foi condenado a 10 anos de prisão com sursis
carnação de Jesus Cristo. – dispensa do cumprimento da pena.
https://www.metropoles.com/brasil/falsos-profetas-lideres-
A forma como o líder religioso controla suas religiosos-envolvidos-em-escandalos-criminais (15.12.2018)
seguidoras é peculiar: Inri diz como elas devem se ali-
mentar, vestir, agir, pensar e até a maneira de se limpar
depois de ir ao banheiro – o uso de papel higiênico na
casa mantida pelo guru é vetado, devendo-se utilizar
apenas água purificada após idas ao sanitário. As segui-
doras dividem casa com ele, no Gama (DF).

87
Proposta A investigação da Delegacia de Crimes contra
a Economia e Proteção ao Consumidor (De-
con) aponta a participação de pastores evan-
TEXTO I gélicos no golpe. Os suspeitos frequentavam
cultos e encontros cristãos para conquistar a
confiança de fiéis e ofertar viagens que aca-
bavam não acontecendo. A divulgação dos
pacotes de viagem também eram feitos nas
redes sociais e propagandas na televisão.

O grupo montou diversas empresas em no-


mes de laranja para lesar os fiéis. O cabeça
do grupo criminoso já havia sido preso em
2015 por aplicar o mesmo golpe.
https://www.gazetadopovo.com.br/curitiba/
operacao-policial-mira-pastores-que-vendiam-
pacotes-falsos-de-viagem/ (19.06.2019)

TEXTO III

Um grupo de voluntários, comerciantes e


frequentadores da Casa Dom Inácio de Loyo-
la realiza nesta quinta-feira (13) uma mani-
festação em apoio ao médium João de Deus e
Induzir alguém ao erro e obter vantagem à instituição criada por ele em Abadiânia, no
sobre a situação é crime, de acordo com o interior de Goiás, para funcionar como uma
artigo 171 do Código Penal Brasileiro. espécie de hospital espiritual. O grupo car-
rega cartazes com dizeres como "Unidos pela
Nesse contexto, a 15ª Câmara de Direito Cri- casa", "Médium João estamos com você" e
minal do Tribunal de Justiça de São Paulo "Gratidão".
manteve a condenação de homem que se No dia 08/12/2018, 13 mulheres relataram
passou por curandeiro e enganou uma se- terem sido vítimas de abuso sexual durante
nhora ao dizer que seus problemas de saú- atendimentos individuais feitos pelo mé-
de seriam curados. O estelionatário cobrou dium na Casa Dom Inácio. Desde então, de-
grande quantia em dinheiro e vaticinou que, zenas de outras mulheres passaram a fazer
caso a entrega não fosse concluída, a vítima relatos semelhantes. A situação levou o Mi-
faleceria em poucos dias. nistério Público de Goiás a criar uma força-
https://www.facebook.com/cnj.oficial/photos/a.191159914 -tarefa para receber as denúncias de abuso e
290110/2801311609941581/?type=3&theater (23.05.2019) investigar os casos.
Nesta quarta (12), o Ministério Público pro-
tocolou na Justiça um pedido de prisão pre-
TEXTO II ventiva de João de Deus. O pedido ocorre
poucas horas ele visitar a casa e manifestar
Um grupo que vendia pacotes de viagens o desejo à equipe de retomar os atendimen-
para fiéis que queriam viajar ao Oriente tos no local.
Médio para conhecer a Terra Santa – região Questionados se o protesto ocorria em de-
entre Israel, Cisjordânia e Jordânia – é alvo fesa do médium, alguns participantes ti-
de operação policial nesta quarta-feira (19) tubeavam e contestavam: "É em defesa da
em diversos bairros de Curitiba e Sarandi, no Casa Dom Inácio". Outros, porém, diziam pa-
Noroeste do Estado. O prejuízo pode chegar a lavras de apoio a João de Deus. "Queremos
R$ 4 milhões. Entre os suspeitos, estão pas- justiça!", gritou Jacilda Soares, que afirma
tores de igrejas evangélicas. atuar como guia na casa desde a década de
1980. "Sou uma mulher assim como outras
Além da Polícia Civil do Paraná, também par- aqui que recebeu só amor do médium João",
ticipam da operação as polícias de São Paulo afirma. "Essa casa é de cura, é um gran-
e Santa Catarina. Os mandados também são de pronto-socorro espiritual. Estamos todos
cumpridos no estado de São Paulo, na capital unidos pelo médium João", disse a médium
e Piracicaba. Além do Paraná, as vítimas são Elisângela Paranhos.
de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Roraima https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/12/
e Pará. fieis-fazem-ato-em-apoio-joao-de-deus-medium-
acusado-de-abuso-sexual.shtml (12.12.2019)

88
TEXTO IV

A venda de artefatos religiosos configura-


ria, a princípio, liberdade religiosa, pois,
por mais que não haja efeito médico algum,
pode haver efeitos religiosos na pessoa, que
acredita sinceramente que aquele artefato
é milagroso por dádiva divina. Outrossim,
pode a pessoa acreditar que doando o seu
dinheiro à Igreja estará fazendo um bem,
tendo, pois, um lugar no céu após a morte.

No entanto, o caso também pode ser enten-


dido como estelionato, já que há o princípio
de “obter vantagem ilícita, em detrimento
alheio, induzindo ou mantendo alguém em
erro, mediante artifício, ardil ou qualquer
outro meio fraudulento”. Assim, qual prin-
cípio deveria prevalecer – e, portanto, ser
aplicado – neste caso? A proteção ao patri-
mônio particular (a qual o estelionato viola)
e à saúde pública (a qual o charlatanismo
viola)? Ou a liberdade religiosa?
Ainda que haja todo um conceito religioso
à frente da venda dos artefatos milagrosos,
de preces em troca de dízimo, dentre outros,
por trás há a intenção líderes religiosos em
se beneficiarem das vendas para auferirem
generosos lucros. Há vários e vários líderes
extremamente ricos, com dinheiros recebi-
dos pelos fiéis em troca de graças, artefatos
milagrosos, dentre outros. Isso é ludibriar o
outro.
https://canalcienciascriminais.com.br/
estelionato-religioso/ (24.09.2015)

A partir da leitura dos textos motivadores


seguintes e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redi-
ja um texto dissertativo-argumentativo em
modalidade escrita formal da língua portu-
guesa sobre o tema O PROBLEMA DO ABUSO
DA FÉ RELIGIOSA NO BRASIL, apresentando
proposta de intervenção que respeite os di-
reitos humanos. Selecione, organize e rela-
cione, de forma coerente e coesa, argumen-
tos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

89
90
0 2 Estudo da língua inglesa

U.T.I.
© Pexels/Pixabay.com

L C
BETWEEN
ENGLISH AND
PORTUGUESE
U.T.I. - Sala
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES.

INTO THE WOODS


BECAUSE OF EXTRAORDINARILY LOW BIRTHRATES, EUROPE WILL LOSE 41 MILLION PEOPLE BY
2030.
(By Stefan Theil)

Germans are getting used to a new kind of immigrant. In 1998, a pack of wolves crossed the
shallow Neisse River in the Polish-German border. In the empty landscape of Eastern Saxony,
speckled with abandoned strip mines and declining villages, the wolves found plenty of deer and
rarely encountered humans. They multiplied so quickly that a second pack has since split off, co-
lonizing a second-growth pine forest 30 kilometers further west. Soon, says local wildlife biologist
Gesa Kluth, a third pack will likely form, possibly heading northward in the direction of Berlin.
Wolves returning to the heart of Europe? A hundred years ago, a burgeoning, land-hungry po-
pulation killed off the last of Germany’s wolves. Today, it’s the local humans whose numbers are
under threat. Wolf-country villages like Boxberg and Weisswasser are emptying out, thanks to the
region’s ultralow birthrate and continued rural flight. Nearby Hoyerswerda is Germany’s fastest-
-shrinking town, losing 25,000 of its 70,000 residents in the last 15 years.
Such numbers are a harbinger of the future. Home to 22 of the world’s 25 lowest-birthrate coun-
tries, Europe will lose 41 million people by 2030 even with continued immigration, according to
the latest U.N. Population Division report. The biggest decline will hit rural Europe. As Italians,
Spaniards, Germans and others produce barely half the children needed to maintain the status
quo - and rural flight continues to suck people into Europe’s suburbs and cities - the country-side
will lose close to a third of its population, say both the United Nations and the EU. “It’s a triple
time bomb”, says University of Lisbon demographer Nuno da Costa. “Too few children, too many
old people and too many of the remaining young people still leaving the village.”
(Newsweek, July 4, 2005.)

1. (Espm) We can infer from the text that:


a) In the last 15 years the population rate has declined all over Europe.
b) Immigration has helped solve population growth problems in Europe.
c) Birth rate has started growing in Europe’s big cities.
d) In the future some rural areas in Europe will experience extremely low population rates.
e) The UN has advised European countries to change their demographic policies.

2. (Espm) “a burgeoning, land-hungry population killed off the last of Germany’s wolves”, in the
second paragraph, most likely refers to:
a) Farmers interested in commercializing wild animals.
b) An expanding population interested in land use.
c) Biologists fighting against the extermination of endangered species.
d) People having to kill animals for survival.
e Empty landscapes.

3. (Espm) The triple time bomb mentioned by Nuno da Costa most likely refers to:
a) Lack of schools, lack of facilities to attend the elderly, lack of jobs for the youngsters.
b) Low marriage rate, high death rate, only the elderly stay in the countryside.
c) Low birthrate, aging people, rural exodus.
d) Couples that do not want to have children, elderly who are living longer, youngsters staying in the
villages because there are no jobs in the big cities.
e) High mortality rate among children, low mortality rate among the elderly, rural depopulation.

93
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.

Driverless automobiles - The car that parks itself

CARS that need no driver are just around the corner according to researchers who have been tes-
ting vehicles bristling with aerials and cameras on public roads in America. However, researchers
do not make cars, so it will be up to firms that do to bring the technology to market. And car-
makers are a conservative bunch. Still, slowly and steadily the autonomous car will arrive, with
the help of an increasing number of automated driving aids. A Swedish carmaker has recently
demonstrated one such feature: a car that really does park itself.
Some cars already have systems that assist with parking, but these are not completely autono-
mous. They can identify an empty parallel-parking space and steer into it while the driver uses
the brake. The Swedish system, however, lets the driver get out and use a smartphone application
to instruct the vehicle to park. The car then 1trundles off, manoeuvres into a parking place and
sends a message to the driver to inform him where it is. The driver can collect the car in person or
use his phone to call it back to where he dropped it off. Autonomous parking could thus be provi-
ded at places like shopping centers and airports, which are controlled areas in which automated
vehicles can be managed more easily than on open highways. In the past, designs for doing this
have relied on car parks being fitted with buried guide wires that a vehicle can follow to an empty
bay. That, though, creates 2a chicken-and-egg problem: car-park operators will not invest in such
infrastructure until there is a sufficient number of suitably equipped cars on the road. Drivers,
conversely, will not want to buy self-parking cars if there is nowhere to use them.
This means, as a safety engineer working on the project observes, that for autonomous parking
to work most of the technology will have to be in the car itself. The test car, which looks like a
normal car, therefore uses on-board GPS mapping, cameras with image-recognition software, and
radar sensors to find its own way around a car park and avoid pedestrians and non-autonomous
vehicles. The same engineer says the system is five to ten years from commercial deployment. If
it proves a success then infrastructure might adapt to it, for instance by packing cars into tighter
spaces. If there is no one in them there is no need to make room for their doors to open.
Driverless cars would also need to communicate with one another, to enhance safety. That, too,
is coming. 3A number of carmakers are developing wireless networking systems through which
vehicles can exchange data, such as their speed, their steering angle and even their weight, to
forewarn anti-collision systems and safety devices if an accident looks likely.
In the USA, for example, a carmaker recently tested a brake light that can provide an early war-
ning to other motorists. If the brakes are applied hard in an emergency, a signal is broadcast. This
illuminates a warning light in the dashboard of suitably equipped following vehicles, even if they
are out of sight around a bend or not immediately behind the vehicle doing the braking.
The American company has been testing this system as part of a collaborative research project
with several European carmakers. 4They have put a fleet of 150 experimental vehicles on the roa-
ds. When they tested a group of these, the Americans found the technology let drivers brake much
earlier, helping avoid collisions. A driverless car would be able to react even faster.
Another member of the research group has been testing driverless cars on roads around Munich—
including belting down some of Germany’s high-speed autobahns. 5The ordinary-looking models
use a variety of self-contained guidance systems. These include cameras mounted on the upper
windscreen, which can identify road markings, signs and various obstacles likely to be encounte-
red on roads.
The German cars also use a radar, to gauge how far the vehicle is from other cars and potential
obstacles, and a lidar, which works like a radar but at optical frequencies. The lidar employs laser
beams to scan the road ahead and builds up from the reflections a three-dimensional image of
what this looks like. The image is processed by a computer in the vehicle, which also collects and
compares data from a high-accuracy GPS unit. A series of ultrasonic sonars similar to those used
in vehicles to provide parking assistance are placed around the car to add to the virtual picture.
And just to make sure, a set of accelerometers provide an inertial navigation system that double-
-checks the vehicle’s position on the road.
6
Although these cars can be switched to an autonomous driving mode, they are still required to have
someone in the driving seat who can take over in the event of any difficulty. Some cars can steer
themselves, slow down, brake and accelerate, even changing lanes to overtake slower vehicles.
From the print edition: Science and Technology Jun 29th 2013

94
4. (PUCRJ) The author uses the phrasal verb “trundles off” (ref. 1) that could be replaced by
a) rolls fast.
b) stops rolling.
c) rolls slowly.
d) does not roll.
e) does not start.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.

How Exercise Can Calm Anxiety

In an eye-opening demonstration of nature’s ingenuity, researchers at an American University


recently discovered that exercise creates vibrant new brain cells — and then shuts them down
when they shouldn’t be in action.
For some time, scientists studying exercise have been puzzled by physical activity’s two seemingly
incompatible effects on the brain. On the one hand, exercise is known to prompt the creation of
new and very excitable brain cells. At the same time, exercise can induce an overall pattern of calm
in certain parts of the brain.
Most of us probably don’t realize that neurons are born with certain predispositions. Some, often
the younger ones, are by nature easily excited. They fire with almost any provocation, which is
laudable if you wish to speed thinking and memory formation. 1But that feature is less desirable
during times of everyday stress. If a stressor does not involve a life-or-death decision and require
immediate physical action, then having lots of excitable neurons firing all at once can be counter-
productive, inducing anxiety.
Studies in animals have shown that physical exercise creates excitable neurons in abundance,
especially in the hippocampus, a portion of the brain known to be involved in thinking and emo-
tional responses. But exercise also has been found to reduce anxiety in both people and animals.
How can an activity simultaneously create ideal neurological conditions for anxiety and leave
practitioners with a deep-rooted calm, the Princeton researchers wondered?
So they gathered adult mice, injected them with a substance that marks newborn cells in the
brain, and for six weeks, allowed half of them to run at will on little wheels, 2while the others sat
quietly in their cages.
Afterward, the scientists determined each group’s baseline nervousness. 3Given access to cages
with open, well-lighted areas, as well as shadowy corners, the running mice were more willing to
cautiously explore and spend time in open areas, an indication that they were more confident and
less anxious than the sedentary animals.
The researchers also checked the brains of some of the runners and the sedentary mice to determi-
ne how many and what varieties of new neurons they contained. As expected, the runners’ brains
teemed with many new, excitable neurons. The sedentary mice’s brains also contained similar,
volatile newborn cells, but not in such profusion.
The runners’ brains, however, also had a notable number of new neurons specifically designed to
release the neurotransmitter GABA, which inhibits brain activity, keeping other neurons from
firing easily. In effect, these are nanny neurons, designed to shush and quiet activity in the brain.
In the runners’ brains, there were large new populations of these cells in a portion of the hip-
pocampus, the ventral region, associated with the processing of emotions. The rest of the hippo-
campus, the dorsal region, is more involved with thinking and memory. What role these nanny
neurons were playing in the animals’ brains and subsequent behavior was not altogether clear.
So the scientists next gently placed the remaining mice in ice-cold water for five minutes. Mice do
not enjoy cold water. 4They find immersion stressful and anxiety-inducing, although it is not life-
-threatening. Then the scientists checked these animals’ brains. They were looking for markers,
known as immediate early genes, that indicate a neuron has recently fired.
They found them, in profusion. In both the physically fit and the sedentary mice, large numbers
of the excitable cells had fired in response to the cold bath. Emotionally, the animals had become
fired up by the stress. But with the runners, it didn’t last long. 5Their brains, unlike those of the
sedentary animals, showed evidence that the shushing neurons also had been activated in large
numbers, releasing GABA, calming the excitable neurons’ activity and presumably keeping unne-
cessary anxiety at bay.
In effect, the runners’ brains had responded to the relatively minor stress of a cold bath with a
quick rush of worry and a concomitant, overarching calm.

95
What all of this suggests is that the hippocampus of runners is vastly different from that of se-
dentary animals. Not only are there more excitatory neurons and more excitatory synapses, but
the inhibitory neurons are more likely to become activated, presumably to dampen the excitatory
neurons, in response to stress.
It’s important to note that this study examined long-term training responses. The runners’ wheels
had been locked for 24 hours before their cold bath, so they would gain no acute calming effect
from exercise. Instead, the difference in stress response between the runners and the sedentary
animals reflected fundamental remodeling of their brains.
Of course, as we all know, mice are not men or women. But other studies show that physical exerci-
se reduces anxiety in humans, which suggests that similar remodeling takes place in the brains of
people who work out. It won’t be a huge stretch to suggest that the hippocampus of active people
6
might be less susceptible to certain undesirable aspects of stress than those of sedentary people.
By Gretchen Reynolds
Adapted from: http://well.blogs.nytimes.com/2013/07/03/how-exercise-can-calm-anxiety/?src=me
Retrieved on 03/07/2013

5. (PUCRJ) At the end of the text (ref. 6), “might” suggests


a) certainty.
b) obligation.
c) quality.
d) possibility.
e) ability.

96
U.T.I. - E.O.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES.

Cholera attacks the intestines, causing nausea and severe diarrhea that has been likened to a
hemorrhage. It can kill within hours. The epidemic has appeared and reappeared across the globe
in many forms since at least the ninth century. But the last time it struck in South America was
1895. The Pan-American Health Organization warns that the new strain, known as El Tor, is likely
to kill 40.000 Latin Americans and infect another 6 million by 1995.
El Tor’s path is impossible to predict. Borne by human travelers and cargoes of raw fish and produ-
ce, cholera can show up as a surprise visitor almost anywhere. Last week four people fell ill with
cholera in New Jersey - victims of contaminated shellfish from Peru. But in general, developed
countries are susceptible only to isolated outbreaks. It is the hot, humid, sewerless slums of Latin
America that are now most vulnerable to epidemic.
Newsweek - 1991

1. (Fuvest) Quais os meios de propagação da doença mencionados no texto?

2. (Fuvest) Qual a advertência feita pela Organização Pan-americana de Saúde?

3. (Fuvest) De acordo com o texto, de que forma são afetados pela doença os países desenvolvidos?
E os da América Latina?

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES.

BLACK PLAGUE IN HOLLYWOOD

We take for granted today that attractive speech is an essential part of any actor’s equipment. In
motion pictures this was not always so.
When sound movies arrived in the late 1920s, a whole generation of motion picture actors was
wiped out with a sweep of the scythe, as if a black plague had swept through Hollywood.
There had been no need for the stars of silent pictures to speak well. After all, their fans could not
hear them. Sound caught these cinematic dinosaurs unprepared. One promising star, for the first
time hearing her recorded voice, took an overdose of sleeping pills. Corinne Griffith, dream girl of
a generation of motion picture goers, retired permanently after reading Time’s unkind comment:
“Pretty Corinne Griffith talks through her nose”.
Just before sound tracks and motion picture film were wedded, John Gilbert, successor of Rudolph
Valentino as the Casanova of the silver screen, signed a four-year contract at a million dollars a
year. In his first picture under the new arrangement, Gilbert’s thin, reedy tenor evoked snickers
of derision from the same moviegoers who had cheered his passionate lovemaking only a year
before. The car picture canceled out the eye picture, and brought a great career to and end.
Speech can change your life.
Dorothy Sarnoff

4. (Fuvest) Qual foi o comentário do Time e o que fez Corinne Griffith após lê-lo?

5. (Fuvest) Qual a mudança significativa que ocorreu em Hollywood com o advento dos filmes sonoros?

6. (Fuvest) Qual o significado da frase “the car picture canceled out the eye picture”?

7. (Fac. Albert Einstein - Medicina)

97
Na tirinha acima, o personagem da direita
a) está arrependido da infração cometida.
b) está se aconselhando com um psiquiatra.
c) ficou frustrado com o resultado da aplicação
financeira da infração cometida.
d) culpa as vozes em sua cabeça pela infração.

8. (Fac. Albert Einstein - Medicina 2016) Pro-


cesso de produção de “nuggets” mais saudá-
veis:
1. A worker feeds chickens at Kee Song Bro-
thers’ drugfree poultry farm in Yong Peng.
2. A researcher counts Lactobacillus colonies
forming in a Petri dish. The Growing Generational Divide
3. A researcher shows Petri dishes contai- Disponível em: http://www.nytimes.com/2015/05/08/
opinion/the-growing-generationaldivide.html?ref=opinion
ning Lactobacillus colonies forming. Acessado em 10/09/2015. Adaptado para fins educacionais.
4. A researcher shows Lactobacillus fermen-
ted powder to be mixed with chicken feed. By SILAS HOUSE
Escolha a alternativa que apresenta a ordem
BEREA, Ky. - I WAS always with older folks
correta das figuras que ilustram o processo
when I was very young. They called me “Little
descrito: Man” and told me I was “an old soul.” I worked
in the garden with my grandparents, learned
how to count money with Old Man Hoskins at
the local store, and overheard the tales of my
ancient neighbors. But it was the stories of my
fierce aunt, Sis, that were my favorite.
Unfortunately, it seems there are fewer oppor-
tunities for different generations to interact
now. The 2010 United States census shows
that Appalachia, where I live, has some of the
lowest levels of age segregation in the nation.
Yet even here I notice a shift away from the
intergenerational activity I enjoyed as a child
in the 1980s.
a) 1a - 2b - 3c - 4d Read the text “The growing generational divi-
de” and write a paragraph in Portuguese com-
b) 1c - 2a - 3b - 4d
paring what the author’s and your childhood
c) 1d - 2c - 3b - 4a were like. Use standard written language.
d) 1c - 2d - 3b - 4a
1
0. (Fac. Albert Einstein - Medicin 2016)
9. (Fac. Albert Einstein - Medicina 2016)

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Olhando o gráfico acima você diria que ele
a) não mostra apenas os números de casos de Gabarito
ebola confirmados. 7. C 8. D 10. A 11. D
b) representa um ano de dados sobre casos de
ebola.
c) representa o número total de casos confir-
mados de ebola nos três países.
d) mostra que todos os casos de ebola estão
estabilizados nos três países em agosto de
2015.

1
1. (Enem 2ª aplicação 2016) New vaccine
could fight nicotine addiction

Cigarette smokers who are having trouble


quitting because of nicotine’s addictive po-
wer may some day be able to receive a novel
antibody-producing vaccine to help them
kick the habit.
The average cigarette contains about di-
fferent chemicals that — when burned and
inhaled — cause the serious health proble-
ms associated with smoking. But it is the
nicotine in cigarettes that, like other addic-
tive substances, stimulates rewards centers
in the brain and hooks smokers to the plea-
surable but dangerous routine.
Ronald Crystal, who chairs the department
of genetic medicine at Weill-Cornell Medical
College in New York, where researchers are
developing a nicotine vaccine, said the idea
is to stimulate the smoker’s immune system
to produce antibodies or immune proteins to
destroy the nicotine molecule before it rea-
ches the brain.
BERMAN, J. Disponível em: www.voanews.
com. Acesso em: 2 jul. 2012.

Muitas pessoas tentam parar de fumar, mas


fracassam e sucumbem ao vício. Na tentati-
va de ajudar os fumantes, pesquisadores da
Weill-Cornell Medical College estão desen-
volvendo uma vacina que
a) diminua o risco de o fumante se tornar de-
pendente da nicotina.
b) seja produzida a partir de moléculas de nico-
tina.
c) substitua a sensação de prazer oferecida
pelo cigarro.
d) ative a produção de anticorpos para comba-
ter a nicotina.
e) controle os estímulos cerebrais do hábito de
fumar.

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