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GUIA PARA AS PESSOAS QUE SOFREM

UMA PERDA EM TEMPOS DO


CORONAVIRUS
(COVID-19)
(Original as propostas foram elaboradas por especialistas em luto e perdas)

Desenho 1: Sempre contigo (Mothú 2019)


GUIA LUTO COVID19

ÌNDICE
1. NTRODUÇÃO....................................................................................................................3
2. LUTO EM ISOLAMENTO....................................................................................................4

PESOAS QUE ACABAM DE PERDER UM ENTE QUERIDO...........................................................4

2.1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA AS PESSOAS QUE PERDERAM UM ENTE


QUERIDO....................................................................................................................4
2.2. ORIENTAÇÕES PARA OS RITUAIS FUNEBRES...............................................................5
OS RITUAIS DE DESPEDIDA.........................................................................................6
OS RITUAIS SOCIAIS DE DESPEDIDA À DISTÂNCIA.......................................................7
2.3. ORIENTAÇÕES DE AUTOCUIDADO PARA AS PESSOAS EM LUTO.................................8
PARTE FISICA-SOMÁTICA...........................................................................................9
PARTE EMOCIONAL-RELACIONAL............................................................................10
PARTE COGNITIVA-MENTAL.....................................................................................11
PARTE ESPIRITUAL....................................................................................................11
2.4. COMO ACOMPANHAR UMA PESSOA EM LUTO GARANTINDO AS MEDIDAS DE
SEGURANÇA DO COVID-19.......................................................................................12
NÃO DIGA...........................................................................................................13
PODE DIZER........................................................................................................14
2.5. ORIENTAÇÕES PARA ACOMPANHAR CRIANÇAS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA......14
2.6. ORIENTAÇÕES PARA ACOMPANHAR OS ADOLESCENTES.........................................17
2.7. 2.6.ORIENTAÇÕES PARA GRÁVIDAS QUE PERDERAM UM ENTE QUERIDO...............21
3. ORIENTAÇÕES PARA PESSOAS QUE ESTAVAM EM LUTO ANTES DO INICIO DO
ISOLAMENTO POR COVID-19..........................................................................................22
4. SITUAÇÕES ESPECIAIS DO CORONAVIRUS: FAMILIARES COM PESSOAS EM
UNIDADES/EQUIPAS DE CUIDADOS PALIATIVOS DOMICILIÁRIOS E
HOSPITALARES................................................................................................................24
4.1. ORIENTAÇÕES PARA PESSOAS QUE DEVIDO AO ESTADO DE EMERGÊNCIA NACIONAL
NÃO PODEM ACOMPANHAR OU DESPERDIR-SE DO SEU ENTE QUERIDO NO FINAL
DA SUA VIDA, NO HOSIPTAL OU NO DOMICILIO.......................................................26
5. ORIENTAÇÕES PARA ALIVIAR O STRESS, O BURNOUT, A FADIGA POR COMPAIXÃO E O
LUTO DOS PROFISSIONAIS (de saúde, das forças de segurança, dos serviços sociais, das
funerárias etc) ................................................................................................................27
5.1. ORIENTAÇÕES PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE ACOMPANHAM DOENTES EM
SITUAÇÃO GRAVE, FIM DE VIDA E SUCESSO NA CRISE COVID-19 ............................29
A. QUANDO O DOENTE ENTRA EM SITUAÇÃO DOS ULTIMOS DIAS........................29
B. QUANDO O DOENTE MORRE.............................................................................30
5.2. MÁS NOTICIAS TRANSMITIDAS PELO TELEFONE......................................................31
5.3. MODELO DE CARTA DE CONDULÊNCIAS...................................................................33
6. PARA FINALIZAR..............................................................................................................34
7. QUEM ELABOROU ESTE DOCUMENTO...........................................................................35
8. QUEM TRADUZIU ESTE DOCUMENTO…………………………………………………………………………36
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..........................................................................................36

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1. INTRODUÇÃO
A atual situação excecional, fez-nos mudar a nossa forma de viver e experienciar o
mundo, com consequências impensáveis e relevantes, causando mudanças em todas as esferas
da nossa vida, na nossa maneira de morrer e de nos despedirmos dos nossos mortos. Mudaram
as nossas rotinas, hábitos, costumes, formas de pensar, de nos relacionarmos, o que nos leva a
promover estratégias de adaptação.

Atualmente, muitas pessoas estão a morrer e / ou morrerão do coronavírus, mas muitos


outros irão morrer pelo curso natural da sua vida. A dimensão social das nossas despedidas foi
eliminada, de forma justificada, para evitar consequências maiores. Os atos em torno das perdas
tão significativas para os enlutados, como dispor de apoio social nestes momentos tão difíceis
ou ser capaz de desenvolver normalmente os seus rituais na comunidade (cerimónias religiosas
ou rituais familiares...) são muito importantes para que o processo de luto seja normal e não se
transforme num luto complicado. Contudo, ao ser decretado o Estado de Emergência Nacional
e as exigências da saúde pública atuais, a expressão que valida a dor e o sentimento de perda
da pessoa que sofre, foram bastante limitados, pelo que poderá existir uma dificuldade
acrescida ao processo de luto normal.

Por esse motivo, este grupo de psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas
especializados em perda e luto, desenvolveu uma série de propostas que esperamos virem a
ajudar na gestão dos processos de luto, nestes tempos difíceis de isolamento e incerteza. Assim,
propomos outras formas de colmatar essa necessidade de partilhar e expressar a dor com outras
pessoas e, ao mesmo tempo, permitirmos honrar a memória dos nossos entes queridos
falecidos.

Desenho 2: Incerteza (Mothú 2020)

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2. LUTO EM ISOLAMENTO
PESSOAS QUE ACABAM DE PERDER UM ENTE QUERIDO
Se você está em luto e começou a ler estas linhas, a primeira coisa que queremos
transmitir-lhe, é que lamentamos muito a sua perda e esperamos que este documento o(a)
possa ajudar a ultrapassar o seu luto.

Perder alguém é uma experiência que precisa de ser partilhada, acompanhada,


sustentada por abraços, olhares compassivos, palavras de carinho, silêncios respeitosos, ... Tudo
isso faz com que não nos sintamos sozinhos diante da dor.

Como enlutado, é normal que precise de saber que a sua dor tem impacto sobre os
outros; geralmente as pessoas que sofreram uma perda valorizam a presença e a companhia
das pessoas significativas. O apoio emocional recebido nesses primeiros momentos é crucial e
pode dificultar ou favorecer o processo de luto subsequente. Não obstante, para além das
circunstâncias da morte, a personalidade e o sistema de coping também desempenham um
papel importante, uma vez que podem ser fatores de proteção / risco e indicadores da
capacidade de adaptação dos enlutados à sua perda.

2.1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA AS PESSOAS QUE


PERDERAM UM ENTE QUERIDO
Nesses momentos, pode estar a experienciar uma grande variedade de emoções
(tristeza, raiva, culpa, desamparo), inclusive achar que isto não está a acontecer consigo,
gerando um estado de confusão e de descrença. Algumas pessoas relatam sentir-se física e
psicologicamente exaustas pela situação particular que estamos a enfrentar e por todo o tempo
necessário de cuidados acrescidos. A frustração, raiva e culpa são emoções que se podem
apresentar muito nos dias de hoje e talvez por algum tempo mais. Para além da perda de seu
familiar/ amigo, devemos adicionar as circunstâncias especiais da sua morte: não sendo possível
cuidar dele, acompanhá-lo e despedir-se, como teria gostado nos seus últimos momentos, faz
com que se sintam sintomas de desregulação física e psicológica, associada a esta situação
traumática (taquicardia, palpitações, sensação de aperto no peito, sensação de nó na garganta
ou estômago, dores de cabeça, secura no boca, tonturas, irritabilidade, alterações de humor,
impaciência, dificuldade de concentração, desempenho reduzido, aumento do consumo de
tabaco, álcool etc.). É normal que esteja zangado com o mundo e, especialmente que tenha
muitas perguntas (porquê?) e suposições sobre o que aconteceu (e se houvesse...)

- Porque é que este vírus apareceu?

- Poderia ter sido evitado com medidas mais drásticas?

- Como é que não percebi antes o que estava a acontecer ...

- E se o tivéssemos trazido para casa nestes dias…

- Ele terá sofrido...

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É normal que tenha todas estas perguntas e muito mais. Todos nós encarámos a China
como estando muito longe e nunca pensámos que poderia chegar a Portugal. É por isso que
ainda estamos a processar que o vírus é real, que é uma pandemia global e que estamos em
estado de alerta. Não seja tão duro(a) consigo mesmo(a), as circunstâncias atuais estão além do
controlo de todos, analise esta situação a partir do seu coração, com compaixão e compreensão,
pois não necessita de adicionar mais dor à sua dor. Às vezes, não são as respostas a essas
perguntas que nos irão serenar, mas a aceitação de que, embora seja uma realidade dolorosa e
traumática, somente através de um caminho constante e paciente para a aceitação, o nosso
coração dorido encontrará o conforto e sairemos mais fortes. Sabemos que agora é difícil ver e
sentir isto, é por isso que propomos que conheça algumas propostas de autocuidado que podem
ajudá-lo(a) nas primeiras etapas do seu processo de luto.

2.2. ORIENTAÇÕES PARA RITUAIS FÚNEBRES


Algumas agências funerárias estão a permitir a realização do velório, mantendo a
distância de segurança e com um máximo de pessoas por sala; mas se as restrições forem mais
severas (no caso de pessoas que morreram devido ao COVID-19, o velório não é permitido, os
familiares/amigos aguardam no exterior e não podem acompanhar o falecido. Provavelmente
não poderá despedir-se como gostaria ou como é a tradição, mas isso não significa que não pode
fazer rituais ou expressar esse último adeus com o amor que definitivamente está a sentir.

Talvez a equipa da agência funerária o(a) possa ajudar a transmitir as expressões que
pessoalmente teria gostado. Por exemplo, suponha que faleceu um dos cônjuges de um casal
de idosos, quão difícil é não poder dizer adeus ao amor de toda a sua vida!..., mas não devemos
isolar o enlutado. Talvez um(a) filho(a) ou um agente funerário possa ser o elo para se realizar
no local uma homenagem: ler uma carta, incluir um objeto no caixão, colocar a música favorita
de ambos... e se fosse possível transmiti-lo em tempo real, por videochamada ou fazer uma
gravação. Proteger através do isolamento os nossos idosos não significa isolá-los ainda mais
emocionalmente, vamos ser mãos, olhos, voz, permitir-lhes que sejam protagonistas, mesmo à
distância. Com isso também queremos reconhecer o valor do trabalho das agências funerárias.
Obrigada.

Da mesma forma, as agências funerárias estão a oferecer aconselhamento e apoio


psicológico aos seus clientes. Descubra esse serviço, ele pode ser de grande ajuda por esses
momentos.

Desenho 3: Descansa no meu ombro (Mothú 2020)

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Os rituais de despedida são atos simbólicos que nos ajudam a expressar os nossos
sentimentos perante uma perda, a colocar um pouco de ordem no nosso caótico estado
emocional, a estabelecer uma ordem simbólica para os acontecimentos vitais e que nos
permitem a construção social de significados partilhados. Abrem a porta para a tomada de
consciência do processo de luto.

Alguns desses rituais podem ser mais ou menos alargados no tempo, não será o mesmo
escrever uma carta, que criar um diário ou um altar permanente. A questão é que tipo de ações,
que ao terem uma carga simbólica e emocional, te permitem conectar com a tua dor, te ajudam
a ir integrando o que aconteceu e como o estás a viver.

Tendo em conta a situação de isolamento, recolhemos estas sugestões para ti e para a


tua família, podes selecionar ou criar o que se ajuste mais às tuas necessidades.

OS RITUAIS DE DESPEDIDA
- Talvez nestes primeiros momentos não lhe apeteça partilhar socialmente esta experiência,
apenas estar com os mais chegados e desta forma resguardar-se num espaço mais intimo. Se é
assim, está no seu direito de o fazer, mas deverá comunicar a quem está à sua volta que este é
o seu desejo. Não obstante, permita que as pessoas que lhe querem bem estejam disponíveis
para si, deixe que o(a) cuidem na medida do possível.

- É uma situação excecional. Penso que mais à frente, se necessitar, organizar uma cerimónia
ou um ritual que teria gostado de realizar naquele momento. Trata-se de encontrar o tempo
para tal.

-Preparar algo escrito para quando reunir com todos os seus familiares/amigos poder fazer uma
homenagem presencial, tal como teria gostado. Ou pode gravar um vídeo e partilhar com as
pessoas que considera significativas, através das redes sociais, WhatsApp, etc.

- Utilize as técnicas da narrativa terapêutica. Pode escrever uma carta, dirigida ao seu ente
querido que faleceu contando-lhe como se sente com toda a situação, ou escrevendo a uma das
suas emoções (Carta para a minha tristeza, raiva, etc.), a Deus, à Vida, a outras pessoas. Outra
opção é escrever poemas e mensagens cujo conteúdo seja algo que diria a essa pessoa, como
se estivesse aqui, lembranças positivas, sentimentos de agradecimento, desculpas etc. Ou
recolha textos escritos por outros autores com os quais se sente identificado(a). Também pode
fazer um diário em que expresse tudo o que está a sentir todos os dias. O que contamos e
expressamos existe e ajuda-nos a tomar consciência da realidade da perda e confronta-nos
durante o processo.

- Faça desenhos que permitam expressar de uma maneira simbólica o seu sentimento, quando
as palavras ficam presas.

- Pode destinar um canto de uma sala, mais silencioso ou íntimo, como o canto da memória.
Coloque uma foto da pessoa falecida ou um objeto que simbolize o relacionamento com essa
pessoa. Decore esse canto como quiser: flores, velas, música, poltrona confortável, etc. Sempre
que quiser (você e as pessoas que moram consigo) podem ir para o canto para ficar em silêncio,
orar, expressar o que sentem, conversar dizendo-lhe como se sente agora que ela morreu, como
você acha que a sua vida será a partir de agora, lembre-se dos momentos que partilharam, do

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que gostou e do que não gostou, explique por que tiveram que se despedir desta maneira,
explique como gostaria de ter feito o funeral e o enterro, etc.

- Se se sentir bem agora, use fotos ou vídeos que possam ajudá-lo(a) a conectar com memórias.
Algumas pessoas acham útil recolher vários documentos e num audiovisual, criar álbuns ou
minidocumentários honrando a vida partilhada. Cada pessoa tem a sua maneira de elaborar e
enfrentar os seus processos de luto e tem o seu próprio tempo para isso.

- Construa uma caixa de memórias, para guardar as lembranças da pessoa que morreu. Decore-
a ao seu gosto. Esta atividade sugerida pode ser realizada com outros membros da família com
quem coabita (por exemplo, filhos).

- Pendure na sua varanda, janela ou porta algum objeto / cartaz / sinal que o(a) lembre quem
morreu ou que simbolize a sua partida. Sugerimos que faça uma bandeira tibetana
(https://budismopetropolis.wordpress.com/2016/06/06/o-significado-das-bandeiras-de-
oracoes/) com pano ou pedaços de papel e corda, e em cada faixa você pode escrever uma
mensagem para o falecido. Pode realizar esta atividade com toda a família e amigos que o
desejarem.

OS RITUAIS SOCIAIS DE DESPEDIDA À DISTÂNCIA


- Promova uma reunião prévia: qualquer que seja o ritual que decida fazer, é importante que
previamente cada um partilhe o que necessita, uma vez que as necessidades podem ser
diferentes. É importante que seja possível um acordo entre todos, devendo existir flexibilidade.
Dada a situação de isolamento em que nos encontramos, esta reunião pode ser realizada por
pessoas que residem juntas e / ou através de telefonema ou videochamada, com familiares que
não podem estar presentes. O objetivo é fazer algo simples, onde todos se sintam à vontade,
onde cada pessoa possa expressar o que gostaria de fazer numa possível cerimónia virtual
(incluindo crianças, idosos e pessoas com deficiência mental).

- Organize uma cerimónia ou reunião virtual: proponha uma reunião virtual usando uma
plataforma on-line (Skype, Zoom etc.) que permite ligar-se a várias pessoas e desenvolver um
ritual, onde cada um possa participar com um objeto ou frase que representem a pessoa falecida
e existir assim um espaço de partilha. Construa uma cerimónia para si e para a sua família. Se é
crente, talvez um padre ou um guia espiritual da sua comunidade possa ajudá-lo(a) a fazer essa
cerimónia à distância (videochamada, gravação para a família). Pode escolher uma peça musical,
decorar com desenhos das crianças, fotos, poesia, escreva um texto onde as memórias e os
sentimentos sejam expressos e dirigidos à pessoa falecida, acenda uma vela enquanto diz
algumas palavras ao seu ente querido ausente. Faça um minuto de silêncio para expressar amor,
perdão e gratidão.

- Publique no seu mural / rede social e escreva, como uma homenagem, sobre o legado da vida
que lhe deixou. E assim, partilhando-o, os seus contatos terão a oportunidade de poder
expressar suas condolências e apoio, acompanhá-lo(a) através de palavras, música e imagens.

- Realize uma atividade simbólica conjunta e coordenada. Libertação de balões


(biodegradáveis) que poderão conter mensagens, num horário a combinar com os seus
familiares/amigos, que queiram participar desta homenagem. Partilhar este momento através
das janelas, varandas, telhados, etc.

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- Partilhe memórias e momentos especiais, resolva assuntos pendentes: talvez possa pedir aos
seus amigos e familiares que partilhem um momento especial, uma história para o(a) ajudar a
conhecer melhor a pessoa falecida. Também pode enviar uma foto do falecido para o WhatsApp
ou redes sociais.

- Construção de uma página (web, Facebook) ou grupo do WhatsApp etc., onde familiares,
amigos e conhecidos podem expressar suas condolências e prestar homenagem ao falecido.

É importante incluir crianças, idosos e pessoas com deficiência nos rituais, explicando
naturalmente, de acordo com a idade e condição, o que será efetuado e como podem participar.
Toda a pessoa precisa de se sentir amada e de dar amor, ser cuidada e cuidar, sentir-se seguro(a)
e dar segurança, sentir-se validada, reforçada, compreendida, respeitada e acompanhada nos
seus processos de vida; portanto, também precisará de devolver reciprocamente o que lhe é
dado. Permita que todos os membros da família, sem exclusão, se sintam integrados e
sustentados nestes tempos difíceis. Construa redes em vez de paredes. (Mais adiante poderá
encontrar algumas orientações especificas).

2.3. ORIENTAÇÕES DE AUTOCUIDADO PARA PESSOAS EM LUTO

Uma pessoa enlutada é um


“equilibrista emocional”, a vida
obriga-a a atravessar um fio
conectando duas distâncias, dois
momentos vitais diferentes: o
momento da morte e o momento
em que se sente que pode
aguentar-se face ao elevado
impacto da situação, onde é capaz
de se lembrar do seu ente querido
falecido sem a intensidade das
emoções a sufocá-lo(a) e a
paralisar, sem o medo de olhar
para o espaço de baixo dos seus
pés e acreditar que pode cair em
sem nunca mais se levantar.

Desenho 4: Caminha movendo-te (Mothú 2020)

Para que aprenda a equilibrar-se no seu processo de luto, convidamo-lo(a) a “balançar-


se”, realizando a confrontação e executando as tarefas de conexão e desconexão da sua dor
por momentos. Se dum lado colocarmos apenas tarefas de confrontação e conexão de dor
(analisar de modo contínuo as circunstâncias da morte, escutar repetidamente a música
preferida da pessoa que morreu, ver as suas fotos e / ou vídeos, escrever-lhe, conversar com ela
etc.), o nosso equilíbrio seria afetado, e cairíamos no abismo. Se por outro lado colocarmos
apenas tarefas de confronto e desconexão (trabalho, estudo, limpeza, desporto compulsivo,

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compras, consumo de álcool, drogas ou outras substâncias tóxicas, festejando, sem falar sobre
o que aconteceu, tentando não pensar nem chorar, etc.), também acabaríamos por cair.

O processo de luto não é um caminho fácil ou rápido, um bom equilibrista caminha


balançando a carga emocional; a grande maioria das vezes, os seus passos são inseguros e
precisa de voltar atrás para seguir em frente, o seu corpo está com medo, a sua mente está
dividida entre "eu não posso" e "eu tenho de ser forte e continuar. " Não é fácil, mas é possível,
só precisa de se dedicar o tempo necessário (o seu tempo) para equilibrar suas próprias cargas
(emoções).

Uma vez que tal seja interiorizado, a primeira regra de autocuidado em pessoas
enlutadas que lhe propomos para se equilibrar, será o cuidar de quatro aspetos importantes em
cada pessoa: parte física-somática, parte emocional-relacional, parte cognitivo-mental e a sua
parte espiritual. 1

Parte física – somática


Se o corpo não é tratado, tudo o mais falha. O seu corpo é a casa das suas emoções, dos
seus pensamentos, o que governa as suas ações. Portanto, propomos o seguinte para cuidar de
si a este nível:

- Alimente-se e hidrate-se, não muito, nem muito pouco, coisas boas e saudáveis. Se
tem menos apetite, ingira ao longo do dia pequenas quantidades de alimentos. Evite comer
obsessivamente, em qualquer caso. Não se alimentar bem, aumenta a irritabilidade e reduz a
energia.

- Dormir bem é necessário para restaurar o equilíbrio do corpo. Descanse mantendo um


horário, na medida do possível, tente não o alterar face ao que era antes do isolamento, relaxe
antes de ir para a cama, tome um banho quente, uma infusão ou ouça uma música suave.
Algumas horas antes de ir dormir desligue-se, da TV ou de outras tecnologias e das notícias do
dia.

- Escute o seu corpo: se precisar de desacelerar e de descansar, faça-o. As experiências


traumáticas que vivemos fazem-nos consumir muita energia, permita-se o tempo necessário
para recuperar parte dela.

- Faça exercício físico, isso ajuda a descansar. Agora, procure um espaço em casa: na sua
varanda, na sua sala de estar, no corredor. Pode pesquisar propostas de exercícios ou de
alongamento na internet, adequando-as à sua condição física e idade, mas que incluam
movimentos dos braços e dos músculos peitorais.

- Faça alguma atividade física criativa: cozinhar, cuidar de uma planta, artesanato.

- Pare de fumar ou fume menos.

- Se o seu nível de energia estiver muito baixo, faça pequenas massagens.

- Não se abandone, tome banho, escove os dentes, troque de roupa para se manter
apresentável.

- Apanhe sol sempre que possível, vá à janela, sente-se na varanda ou suba ao terraço,
dadas as condições atuais.

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Parte emocional – relacional


Aqui estão o conjunto de sentimentos que a perda produz, além de todos os que esta
situação de isolamento pelo Covid-19, causa. Algumas coisas que podem ajudá-lo:

- É normal que surjam emoções e sentimentos de solidão, tristeza, raiva etc. Pode ser
reconfortante partilhar como se sente, seja com as pessoas que o(a) acompanham ou com
outras pessoas através de conversas telefónicas, mensagens ou redes sociais (por exemplo, o
WhatsApp). Embora não estejam fisicamente presentes, certamente os seus familiares/ amigos
estão disponíveis.

- Se quer ficar sozinho, tente respeitar esse sentimento, mas sem se isolar
completamente. Sim, você precisa de momentos de recolhimento, explique-os às pessoas com
quem habita. Encontre um lugar em casa onde possa ficar sozinho(a) e tente digerir calmamente
esses sentimentos.

- Círculos de segurança: faça uma lista das pessoas com quem se sente mais confortável
(comunique via Skype, WhatsApp, telefonemas etc.). Pode ter diferentes listas de contatos para
distintos estados de ânimo, porque cada pessoa das suas listas tem caraterísticas diferentes e
estão lá para o(a) ajudar. Reconforte-se com eles em momentos de desanimo ou preocupação
ou anime-se com a sua alegria.

- Provavelmente receberá telefonemas de pessoas próximas para transmitirem as suas


condolências. Para isso, pode contar com as pessoas que o(a) acompanham para o(a) ajudar a
organizar as chamadas ou a escolher a hora do dia que considerar mais apropriada para as
receber.

- Para si, o mais importante é a perda de seu ente querido, e espera-se que possam
surgir sentimentos de solidão, de desamparo, mal-entendidos, ... gerados pela falta de atenção
ao seu redor. Pense que não se trata de falta de apreciação ou indiferença em relação a si, mas
que a atenção das pessoas está focada na situação crítica pela qual estão a passar. Todos nos
sentimos impotentes e chocados com este estado alerta da saúde.

- Se precisar de ver ou conversar com um familiar ou amigo, peça à pessoa que o(a)
acompanha para facilitar esse contato, por telefone, via correio ou através das redes social
(Skype, Face time ou outros media) ... Não espere que eles entrem em contato consigo; está
legitimado(a) e tem o direito de solicitar esse suporte.

- Escreva sobre como se sente. Pode ser reconfortante expressar a sua dor ou a sua
solidão ao escrever ou ao gravar a sua voz.

- Use os grupos de suporte que operam nas redes sociais. Poderão ajudá-lo a sentir-se
menos isolado(a).

- Faça da sua casa um espaço aconchegante durante esses dias de isolamento.

- Peça ajuda, se necessário. Lembre-se de que a sua família e amigos vão querer ajudá-
lo(a), embora eles não saibam como fazê-lo. Dê-lhes a oportunidade de fazerem isso e diga-lhes
o que é que precisa. Comunique também com eles com videochamadas, Skype ou WhatsApp.

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- Se precisar de ajuda durante o estado de emergência nacional, entre em contato com


o seu Centro de Saúde, serviços sociais e polícia local.

Parte cognitiva – mental


Quando somos dominados por emoções, é difícil pensar, concentramo-nos .... Ficamos
confusos. Para cuidar desta parte, lembre-se:

- Não se esforce demais no nível intelectual, as nossas capacidades diminuem porque


o nosso cérebro é sequestrado a nível emocional. Porque exige que um caracol corra como uma
lebre? Neste momento, respeite o seu "modo de caracol".

- Evite tudo o que contamine a sua mente, imagens, demasiada informação sobre o que
está a acontecer (covid-19), ruídos e experiências que lhe causam dano (violência, negativismo,
estridência). Rodeie-se de coisas, sons, imagens que considera benéficas para si.

- Defina objetivos a curto prazo: tanto para o seu luto, como para a situação de incerteza
em que nos encontramos, tente viver o dia-a-dia com objetivos simples que o(a) ajudarão a ter
uma estrutura e coerência. Nesta situação de isolamento, mantenha uma rotina diária com
horários referentes às atividades de casa, exercício físico, horário da TV, descanso, etc.

- Não tome decisões importantes até que o luto progrida e toda esta incerteza social e
económica causada pelo vírus melhore.

- O que fazer com as recordações? Reserve um tempo para decidir o que gostaria de
fazer com os objetos que pertenciam à pessoa falecida. Por enquanto, eles são a parte física que
resta dela, coisas que você pode tocar, cheirar, beijar, abraçar, ... e que o ajudam a conectar-se
fisicamente com a sua memória e a poder canalizar as suas emoções para viver o agora (tristeza,
saudade, ...). Permita-se conectar com as emoções que surgem neste momento.

- Ler livros sobre luto, assistir a filmes, séries e/ou documentários pode ajudá-lo(a) a
entender e a normalizar o seu processo e a situação atual.

Parte espiritual
A espiritualidade é uma dimensão humana universal. Há pessoas que são religiosas e
pessoas que não são, mas somos todos espirituais, mesmo que não desejemos reconhecê-lo, e
por esse motivo é necessário cuidar desta dimensão.

- Crie um espaço especial, um lugar para colocar as suas lembranças, que simbolize o
espaço destinado a não esquecer. Decore ao seu gosto: flores, velas, livros, fotos. Um canto
onde "eu me permito sentir e expressar as minhas emoções".

- Faça uma prática de silêncio diariamente, isso ajudará a se tornar mais consciente de
si mesmo, das suas emoções e aliviará sintomas como angústia, medo etc.

- Encontre coisas que o nutrem espiritualmente: música, literatura, pintura, ...

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- Faça alguma atividade que melhore sua criatividade artística. Desenho, música,
dança, … Isso ajudará a expressar as suas emoções, irá mantê-lo(a) entretido, dará sentido ao
seu processo de luto.

Desenho 5: O meu coração nas tuas mãos 1 (Mothú 2020)

2.4. Como acompanhar uma pessoa em luto garantindo as


medidas de segurança do Covid-19
Se nestes dias de isolamento, devido à declaração do Estado Emergência Nacional,
morre alguém que você ama ou conhece e não pode acompanhar fisicamente a família, pode
optar por algumas das propostas descritas:

Pode sentir-se triste, zangado, desamparado por não poder estar presente. São
sentimentos normais diante da situação declarada, mesmo que a necessidade de acompanhar
e estar presente seja muito reconfortante nestes momentos dolorosos. Mas é importante que
consiga transmitir os seus sentimentos aos enlutados.

Participar de alguma maneira na despedida da pessoa que morreu e no


acompanhamento dos principais enlutados ajudará a:

- Expressar pensamentos e emoções e também a nossa dor pela perda.

- Sentir-se próximo da pessoa falecida e de seus familiares.

- Partilhar memórias, tudo o que a pessoa que morreu deixou nas nossas vidas.

- Mostrar o nosso apoio.

Pode manter o contato telefónico ou por outros meios com os enlutados para lhes
expressar que gostaria de os acompanhar neste momento. As pessoas em luto raramente têm
a iniciativa de ligar, pode enviar uma mensagem por WhatsApp, para perceber a sua

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disponibilidade para falar e se, nos primeiros momentos, sentir que se a pessoa não está à
vontade, não está recetiva, respeite o seu momento.

Pode enviar uma mensagem escrita ou um vídeo curto, sozinho(a) ou com outras
pessoas amigas íntimas. Não é um discurso elaborado; apenas uma frase, um silêncio, mostrar
a sua disponibilidade ou o seu carinho é suficiente. Frases como:

• “Não precisas de me responder se não estiveres com vontade, só quero saber como estás e
que saibas que estou disponível se quiseres conversar "

• "Eu só quero que tu saibas que estou aqui para ti.", ...

• “Gostaria de estar a acompanhar-te, mas mesmo que não esteja a acompanhar fisicamente
tenho-te presente no meu pensamento”

• "Se precisares de falar, podes ligar-me a qualquer hora"

• "Ligo de volta se quiseres conversar, também podemos partilhar em silêncio"

• "Faremos uma pequena cerimónia em casa para te acompanhar na tua dor"

• "Sinto muito pelo que estás a passar."

Desenho 6: Não maltrates nunca a minha fragilidade (Mothú 2020)

Às vezes somos nós que não podemos falar com a pessoa que está a sofrer ou temos
medo de o(a) magoar e / ou achamos difícil apoiar a sua dor. Quando for capaz de conversar
com a pessoa, pratique uma escuta ativa e empática, facilita o seu alívio, permitindo que
expresse como se sente e as coisas que sente falta do seu familiar. Evite usar frases feitas, que
apenas servem para desvalorizar a dor.

• NÃO DIGA: seja forte. Anime-se. Faça isso por seus filhos ou outras pessoas
importantes. Distraia-se que ficará bem. Não chore mais pois está a torturar-se, não o deixas
descansar. A vida continua. É a lei da vida. Resigna-te. Foi a vontade de Deus. Agora ele não sofre
mais. O primeiro ano é o pior, então você verá. Eles são jovens, terão outro filho novamente.

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• PODE DIZER: “Gostaria muito de poder dizer algo que alivie a tua dor, mas não consigo
encontrar palavras. Quero que saibas que estou aqui e que penso em ti com muita frequência.”

Avalie se a pessoa enlutada está a realizar algumas estratégias de autocuidado, como:


comer, fazer a sua higiene pessoal, tomar a medicação habitual... e se perceber que não é esse
o caso, pode sempre ajudar nas refeições, sugerir alguma mudança, informar alguém próximo a
ela (dadas as condições atuais).

Ao nível de grupo, bairro ou comunidade, podem, entre todos, criar um documento ou


livro virtual de condolências (alguém para recolher as mensagens, formatá-las e enviar pelos
meios que considerar mais adequados, por exemplo, e-mails, mensagens telefónicas etc.) e fazê-
lo chegar à família. Pode ser uma boa lembrança e uma maneira de estar com eles.

Também pode fazer um ritual em casa, individualmente ou acompanhado pelas


pessoas com quem mora agora. Pode lembrar-se da pessoa falecida, ver alguma foto, acender
uma vela, escrever uma carta, orar ou outra cerimónia simbólica que pareça apropriada. Neste
documento, encontrará algumas sugestões na seção sobre rituais de despedida.

Se há crianças em casa que desejam participar, elas podem desenhar ou escrever, se


desejarem, alguma mensagem que podem enviar para a pessoa ou família em luto. Elas também
podem colaborar nos rituais que você decidir fazer em casa. (Veja seção específica).

Seja compreensivo(a), a situação é difícil e a família também pode estar sobrecarregada


em alguns momentos ou talvez seja difícil entrar em contato.

É importante também prestar atenção às pessoas que não são reconhecidas como
enlutados como casais separados, cuidadores...porque eles também precisam do
reconhecimento de sua dor.

2.5. ORIENTAÇÕES PARA ACOMPANHAR CRIANÇAS E PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA
• As pessoas mais próximas serão as mais adequadas para comunicar as más notícias. Explique
abertamente o que aconteceu.

• Não use eufemismos ("ele foi embora", "ele está a dormir", ...). Diga que ele está morto e que
não poderá voltar a vê-lo. Esteja atento à sua reação emocional, acolha-a, valide-a.

• Explique que membro da sua família ficou muito, muito, muito, muito doente, para que
quando alguém ficar doente, não se pense que vai morrer.

• Não esconda os sentimentos na sua presença e responda às suas perguntas de uma maneira
simples e adaptada à sua idade. Podem chorar juntos, para que saiba o que é normal quando
um ente querido morre, mas atenção para não se desequilibrar de modo a poder continuar a
apoiá-los.

• Em função da idade, da capacidade de processamento de informações e das reações, elas irão


processar o momento de forma diferente. Depois de algum tempo, elas poderão adaptar-se à
nova circunstância.

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GUIA LUTO COVID19

• Crianças e pessoas com deficiência não precisam de ser excluídas da realidade que está a ser
vivida, precisam de ser incluídas, autorizadas, validadas, ouvidas, cuidadas, acompanhadas.
Desta forma, estamos a ajudá-las a sustentar e superar situações difíceis na sua vida. "Não existe
ambiente pior do que aquele que não acompanha e incapacita". O que é apropriado é que elas
sejam informadas e que escolham participar ou não e de que maneira.

• Esteja disponível para responder às suas perguntas, é muito possível que perguntem se a
pessoa que morreu tem fome, sono ou sede. Se não sabe o que responder e / ou não sabe a
resposta, não a engane, não ofereça uma realidade inventada, responda honestamente dizendo
que "neste momento não sei "ou “isso é muito difícil responder agora". Lembre-se de que todas
as pessoas, independentemente da sua idade, precisam de se sentir seguras e cuidadas,
especialmente numa situação de perigo e impacto emocional significativo.

• Explique porque neste momento não tem tanto contato com outras pessoas importantes ou
porque não foi possível despedir-se do seu familiar. Diga que os seus amigos, professores e
família, o amam muito, mas agora existem pequenos bichinhos que podem transmitir-se, e por
isso temos que lavar as mãos e precisamos de encontrar uma maneira de poder transmitir amor
sem estar presente / em contato constantemente, como por exemplo: mandando beijos
voadores, pintando uns traços iniciais de um desenho e a outra pessoa irá continuar esse
desenho, fazer videochamadas com colegas etc. Trata-se de tornar a sua rotina o mais variável
possível.

• Permita que expresse os seus sentimentos e as suas emoções: raiva, tristeza, desamparo, etc.
Após os primeiros momentos do impacto e a sua expressão inicial, ofereça outras alternativas
que ajudem a criança a canalizar a sua dor, por exemplo: fazer um desenho, escrever uma carta,
explicar por escrito como se sente, uma história sobre o que aconteceu, etc. Ou que a criança
diga o que quer.

• Como os adultos, as crianças têm as suas necessidades, as suas estratégias e os seus horários.
Não lhes imponha outros. Em caso de dúvida, é melhor perguntar e esclarecer: "quando me
dizes que tens um nó no estômago, como é isso para ti? ","Podes explicar / desenhar a tua
raiva?”.

• Não devemos interromper a sua expressão com frases como: "Tu precisas de ser forte", "não
chores", "não há problema em ficares com raiva assim” ...É importante validarmos a sua emoção
e expressão de sentimentos: "para mim também está a ser difícil", "é normal chorar / ficarmos
com raiva / medo, eu também chorei / fiquei com raiva / com medo de descobrir ", etc.

• Dispense-lhe mais tempo: faça companhia e dê carinho, aumente as manifestações de afeto,


ouça-a, "Estou aqui por ti", "choramos e nos abraçamos”.

• Garanta o cuidado e o afeto. Se os pais estão muito perturbados e não podem assumir as suas
responsabilidades, eles precisam de pedir ajuda profissional. Durante esse tempo é importante
encontrar uma pessoa significativa que garanta a atenção e o cuidado necessários enquanto os
pais recuperam emocionalmente.

• Mantenha uma rotina diária (dentro do possível) para lhe dar maior segurança, ajudando a
recuperar hábitos e a promover maior sentido de controlo da situação (comida, sono, atividades,
escola, etc.)

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GUIA LUTO COVID19

• Evite o contato com imagens ou mensagens do que aconteceu através dos meios de
comunicação. Se isso não for possível, devem ser acompanhados por um adulto que possa ouvir
as suas dúvidas, preocupações e emoções quando forem confrontados com a notícia.

• Às vezes, elas podem acreditar que são


culpadas de tudo ou parte do que aconteceu.
Podem imaginar que algo que disseram ou
pensaram pode ter causado a morte do seu
ente querido. É importante que lhes
permitamos expressar e dizer porque e como
acham que são responsáveis pelo que
aconteceu. Desta forma, podemos
acompanhar a expressão da sua culpa,
explorando a sua fantasia, as suas
verdadeiras preocupações e ajudando-as a
entender a realidade. Precisa de pensar que
elas podem não nos dizer que se sentem
culpadas e por isso, podemos explorar a
razão por que acham que o ente querido
faleceu.

• É importante ter consciência de como se


comenta os acontecimentos na frente das
crianças. Não se deve incentivar algumas
ideias, como exemplo de vingança, como
forma de resolver o problema, pois não é útil Desenho 7: Com as tuas asas (Mothú 2019)
para regular os sentimentos.

• É normal que nos primeiros momentos regridam, fazendo coisas que já tinham ultrapassado,
tais como: não querer dormir sozinho e / ou com a luz acesa, fazer xixi ou cocó, chupar o dedo,
voltar a gatinhar, mostrar medo de estranhos etc.

• Também é normal que algumas crianças, face ao impacto inicial, retomem a rotina como se
nada se tivesse passado. Inclusive não querer falar sobre isso. Nestes casos, você pode dizer por
exemplo: "Quando quiseres conversar sobre o que aconteceu, eu estarei aqui.”

• Outras, por outro lado, mostrarão uma preocupação contínua pelo que aconteceu, chegando
mesmo a manifestações excessivas e obsessivas. Nestes casos, por exemplo: facilitar a expressão
do medo e preocupação, acompanhar a emoção e depois usar outras técnicas que as ajude a
regular e a adaptar (relaxamento, meditação, atividades de distração etc.)

• Mudanças no seu comportamento e do estado de humor: mostram irritabilidade,


agressividade, tristeza, desinteresse por coisas ou situações que lhes agradem (brincar, ir à
escola etc.), exigindo mais atenção e carinho, tendo pesadelos ou problemas com o sono, medo
de escuridão etc.

• Em situações de stress e impacto emocional, é normal ter reações e sintomas físicos como:
perda de apetite, náuseas e / ou vómitos, comer demais, dores de estômago ou de cabeça,
cansaço, ... "enjoos".

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GUIA LUTO COVID19

• Nestes primeiros momentos, o nosso trabalho como adultos é observar e acompanhar as


necessidades emocionais da criança. Murray Bowen (psiquiatra americano) disse:

"Eu nunca vi crianças traumatizada pela exposição à morte, o que eu vi são crianças
traumatizadas pela ansiedade dos sobreviventes ".

• Favorecer as despedidas, de acordo com cada idade e a situação.

• Existem vários recursos para abordar o conceito de perda e morte e o processo de luto para
crianças: livros, vídeos do YouTube, filmes, jogos, ...encorajamos a que explore estas
possibilidades de modo a obter conselhos o mais apropriados para cada idade e cada situação.

• Se percebermos que os sintomas persistem, podemos solicitar aconselhamento e / ou


intervenção psicológica especializada.

2.6. Orientações para acompanhar os adolescentes


A adolescência é um período de desenvolvimento que possui características peculiares
e únicas para cada pessoa.

Adaptar-se à situação especial que estamos a viver, devido à presença do vírus Covid-
19, é difícil para todos, é normal que custe a todos nós, incluindo os adolescentes. Mais ainda,
se adicionarmos uma perda familiar a estes momentos. É normal que, durante este período,
surjam momentos de desânimo, de ansiedade, de necessidade de estarem sozinhos no seu
quarto .... É importante acompanhá-los, respeitando as emoções que vão apresentando a cada
momento. Devemos ouvi-los sem julgamento, sem avaliar os seus sentimentos.

Ainda assim, nestes tempos excecionais, onde se podem sentir mais isolados ou
excluídos do que o normal, é aconselhável ter em conta certas orientações relativas aos
adolescentes, muitas vezes considerados "os grandes esquecidos".

- A diferença entre as expressões emocionais do adolescente em relação às expressões


do adulto é a intensidade com que são experienciadas e vivenciadas as circunstâncias a que
estamos expostos. Eles geralmente mostram muita raiva, então a sua comunicação é “mais
forte”, mais agressiva e, geralmente, os adultos, acham difícil aguentar essas expressões. Alguns
mostrarão visivelmente a sua emoção ao transformá-la em uma raiva deslocada, direcionada a
alguém específico, o mundo, a vida, Deus, ...Outros reprimem essa expressão, manifestando
uma raiva retraída, interiorizada em relação a si mesmo ou para com os outros. Discuta isso com
eles, permitindo-lhes aliviar toda a sua dor, proponha-lhes a prática de exercício físico como
cardiofitness, onde podem descarregar a sua raiva, o seu desamparo e frustração.

- Mantê-los sempre informados, se possível pelos próprios pais ou pessoas próximas,


da situação e da evolução em relação aos seus familiares. Explique-lhes como estão, possíveis
desfechos e / ou evolução, porque não podem visitá-los, e / ou em caso de morte, acompanhar
ou velar. Vá do essencial aos detalhes. Inclua-os nas tomadas de decisões.

- É importante que os adolescentes saibam como manter contato com as pessoas que
amam e com as que não podem ver por causa da situação atual, bem como as que estão
hospitalizados ou em isolamento. Tem de os ajudar a encontrar uma forma de irem mantendo
contato com estas pessoas, para que possam sentir-se mais seguros.

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- Para um adolescente, é muito difícil imaginar a vida sem aquela pessoa que acaba de
perder. O adolescente tem que enfrentar a perda do ente querido, enquanto enfrenta todas as
mudanças, dificuldades e conflitos típicos da idade e as circunstâncias atuais do isolamento.

- É possível que muitas perguntas sejam feitas sobre toda essa situação tão confusa,
sentem raiva, frustração, desamparo ..., portanto, é importante acompanhá-los e transmitir-
lhes que está ali para eles, mesmo que não tenha respostas para todas as suas perguntas.
Partilhar os nossos sentimentos com eles, fará com que se aproximem emocionalmente e
permitirá encontrar outras formas de tranquilidade.

- Tenha em conta a opinião deles, eles sentem que não os têm em consideração. Inclua-
os nas atividades que implementa para estarem em contato com os familiares. Da mesma forma,
também nos rituais que decidir realizar se a morte acontecer. Nesses casos, eles podem ser uma
ajuda valiosa na colaboração com o uso das novas tecnologias ou usarem as suas capacidades
em informática (vídeos, músicas, álbuns digitais). Será uma oportunidade para terem um papel
ativo, sentirem-se úteis e recordarem-se desses momentos com amor e orgulho, porque eles
facilitaram a última despedida, esse acompanhamento ou esse ritual partilhado à distância com
os outros membros da família. Deixe-os também saber da vossa gratidão e apreço pelo seu
trabalho.

- Não esconder o que sentimos, não se esconda para chorar (a menos que seja um choro
desregulado). Promover neles a expressão de emoções e o uso de recursos expressivos que eles
tenham para o fazer: música, escrita, desenho, vídeos .... Respeite os seus tempos e não fique
muito perto (para não os sobrecarregar), nem muito longe deles (para não se sentirem
abandonados).

- Também esteja preparado(a) para que minimizem a dor, mostrando que essa relação
para eles não importava e essa perda não os afeta. Expressarão isto com frases como: "Bah, se
eu não o visse tanto assim!”, ele não era tão importante. Seja paciente, é a sua maneira de se
protegerem da dor.

- Promova diálogos familiares abertos, onde todos expressam os seus sentimentos


perante a situação, sem julgamentos ou desqualificações. Tratá-los da maneira que gostaríamos
que eles nos tratassem na idade deles, falando sobre a nossa experiência na idade deles, sem os
sobrecarregar com demasiados exemplos vossos.

- Pode ser um momento para questionarem as crenças religiosas ou culturais que


partilham com a sua família e podem ser críticos ou céticos quanto a isso. Também são colocadas
perguntas sobre a vida, o que acontece após a morte. A morte assusta-os ao sentirem que
perderam a sensação de segurança. Por esse motivo, é importante dar-lhes um espaço dentro
dos rituais que são celebrados na família e torná-los participantes em tudo o que eles queiram.
Respeitando os seus caminhos e os seus tempos, assim como a disponibilidade e o desejo de
participar nos rituais familiares. Se os consultarem e validarem as suas ideias e contribuições a
esse respeito, eles sentir-se-ão incluídos e serão mais participativos (por exemplo, pedindo-lhes
que vos ajudem a fazer um vídeo com imagens e música do vosso familiar falecido).

- O adolescente pode ter muito medo de esquecer e, portanto, é importante reforçá-lo


como manter o seu ente querido ao longo da sua vida. Por exemplo: criando um vídeo ou um
livro de memórias com a história de vida do avô, onde toda a família pode participar.

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GUIA LUTO COVID19

- Tente manter uma rotina diária, não deixe que eles se abandonem, ou vos
abandonem. Dê-lhe alguma responsabilidade dentro de casa. Isso dá-lhes segurança e uma certa
ordem e faz com que se sintam úteis.

- Eles podem mostrar-se apáticos, pensando que a vida não tem sentido e sem paixão
por coisas que costumavam entusiasmá-los. É um bom momento, para que possam procurar
coisas novas para se entusiasmar, existem muitas plataformas, sites etc. onde se ensinam e
praticam uma multiplicidade de atividades.

- Evite que fiquem obcecados com o assunto e sejam superexpostos a imagens e / ou


mensagens do que aconteceu através dos meios de comunicação e redes sociais. Proponha
momentos de "modo de avião”, para desconectar por um tempo de tudo.

- Em alguns momentos, eles podem ficar zangados ou culpados pelo que aconteceu,
valide o seu mundo emocional, diga-lhes que todas as emoções são legítimas. Permita que se
expressem, deixe-os desabafar, explore com eles essas emoções, as suas preocupações reais,
vamos ajudando-os a entender a realidade do acontecimento.

- Como adultos, os adolescentes necessitam de ter os seus momentos e espaços


íntimos para se conectarem e desconectarem com a sua dor (equilibrista emocional), podendo
parecer que não estão a sofre. Na realidade, este comportamento poderá significar que se
sentem incapazes de tolerar a dor, necessitando de desconetar-se e de realizar estratégias de
evitamento para conseguirem sobreviver à situação.

- É importante respeitar os seus momentos e os seus silêncios, porque eles nem sempre
querem falar da morte. Muitas vezes escondem a sua dor porque se sentem preocupados com
a sua família e querem protegê-la ("Evito falar sobre o avô porque a mãe está muito doente, eu
vejo-a chorar ... "). Simplesmente informe que estará aqui quando quiserem falar ou perguntar
algo. No entanto, esteja atento a esse comportamento super protetor e também aos
comportamentos que são o oposto, de despreocupação e irresponsabilidade.

- Evite comentários inapropriados, e que alimentem a sua raiva, vingança, medo e


vitimização. Além disso, evite frases como: "agora tu deves ser forte" não chores, tu já és homem
/ mulher "" Tens de ser forte por causa dos teus irmãos ... "

- Necessidade de reciprocidade: temos de ter em consideração que, após a perda, o


adolescente sente-se diferente e não o deseja ser. O grupo de pares, que seria o seu apoio, não
funciona porque não passaram pelo mesmo. Por este motivo, irá evitar tudo o que possa
demonstrar dor e tristeza perante os amigos, na tentativa de continuar a ser mais um entre
todos os do grupo. Disfarçando-se com a máscara do luto, eles "maquilham-se" para as outras
pessoas, fazendo-se passar por fortes.

- Normalmente recusam-se a falar com adultos, sentem-se vulneráveis e preferem


partilhar o seu mundo emocional com o seu círculo de amigos mais próximos. Se insistir,
afastam-se ainda mais. Portanto, seja permissivo(a) e compreensivo(a) com essa necessidade
de contato com os amigos. Nestes momentos, para ele são um apoio muito importante. Não
corte esta via de expressão e de encontro (à distância) porque é muito necessária. Nem os julgue
se nesse contato com os seus colegas, eles se mostram despreocupados. Nestas idades, o que
querem é pertencer ao grupo, ser mais um. Além disso, eles têm maior capacidade de entrar e
sair da dor rapidamente.

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GUIA LUTO COVID19

- Podem demonstrar comportamentos inadequados ou consumo de certas


substâncias, incluindo comportamentos de risco "a vida é efémera e não vale o esforço" ou
ideação suicida. Corrija e preste atenção a esses comportamentos. Se vir que sozinho(a) não
consegue pode procurar ajuda on-line ou por telefone, nos recursos que nestes dias, se têm
disponibilizado para os cidadãos.

- Entrar em contato com seu tutor ou professores para explicar a situação e entre todos
acertarem como realizar as tarefas escolares durante esses dias sem excessiva pressão.

- Estes momentos, apesar de tudo, são momentos para se aproveitar a oportunidade


de estarem juntos e se conhecerem melhor. Conheça os seus pontos de vista, opiniões,
interesses, etc. Faça um esforço para entrar no seu mundo e lembre-se de que os adolescentes
ouvem depois de ser ouvidos. Propicie momentos em que lembram com amor, e talvez humor,
aquela pessoa que acabou de vos deixar e prestem homenagem partilhando memórias desse
ente querido com os vossos filhos. Desta forma, também o ajudam com os medos que
costumam ter e, que são: o medo de esquecer o falecido, o medo de esquecer o seu tom de voz,
o seu cheiro, um gesto. Partilhar os ajudará.

- Use recursos como livros, filmes, curtas-metragens, ... sobre a morte e a perda de um
ente querido que pode ajudá-los a entender e integrar o que aconteceu e a aprender estratégias
alternativas.

- Que a vossa atitude em relação à morte durante esses dias, para eles, seja harmoniosa,
embora seja uma aprendizagem difícil. "Não é o que nos acontece, mas a atitude que
escolhemos ter em relação ao que nos acontece”

Desenho 8: Estou aqui (Mothú 2019)

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2.7. Orientações para grávidas que perderam um ente querido


Se estiver grávida ou tiver dado à luz recentemente e sofreu uma perda, possivelmente
sente-se sobrecarregada com a situação, na qual, para além de tudo, deve proteger e cuidar do
seu bebé. Nestes momentos, as emoções podem intensificar-se, prolongar-se, podendo afetar
a sua saúde e a saúde da criança, pelo que, propomos uma série de sugestões que, podem ser
de grande ajuda no seu caso.
Se chorar, não se sinta culpada. A raiva, a
tristeza são emoções válidas e
necessárias, quem sabe é o medo que sai
de si. Deixe que flua, chorar faz com que
se senta bem e aliviada, o importante é
que lide com a intensidade das emoções
para não perturbar o seu estado, que
aprenda regular as emoções para não
transmitir angústia para o bebé.
Propomos algumas estratégias para
ajudá-la a gerir a sua emoção:

a) Exercícios respiratórios para Grávida:


A velocidade e profundidade das nossas
inspirações são capazes de influenciar as
nossas emoções, o stress e a atenção.
Respirar é um comportamento
automático, mas podemos intervir
voluntariamente para a adequar.
Desenho 9: A espera (Mothú 2020)

Siga esta orientação: inspire contando até 1 e expire contando até 2. Repita esta ação
duas vezes para depois respirar dobrando os tempos: inspirar contando até 2 e expirar contando
até 4, depois dobramos os tempos novamente, inspiramos contando até 4 e expirar contando
até 8. Chegamos até onde formos capazes. Em seguida, concentre-se na parte do corpo que
mais sente, fique com essa sensação e descreva-a com uma palavra. Por último, associe a essa
palavra, uma imagem relaxante com a sensação de alívio que experimentou. Guarde esta
imagem para a recordar mais tarde, noutro momento em que se volte a sentir o mesmo peso
da tristeza.

b) Praticar ioga para grávidas. Se já praticou anteriormente, pode entrar em contato com o seu
centro ou professor ou procure um especialista que conduza sessões através das redes sociais.

c) Praticar Grounding (enraizamento), é uma técnica muito interessante e fácil de praticar. Está
relacionada com a postura e o tipo de respiração que é realizada para estar em equilíbrio.

Válido para tempo de isolamento. Consiste em:

Passo 1: Ficamos de pé de forma relaxadas. Se preferir, tire os sapatos.

Passo 2: Levamos a nossa atenção para os pés e as pernas

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Etapa 3: Levamos toda a nossa atenção para a sensação de contato de nossos pés com o chão
ou com a sola do sapato, como ela adere.

Etapa 4: Sentimos o peso do corpo que se apoia na perna e no pé

Passo 5: Agora imaginamos que surgem raízes dos nossos pés, elas entram no chão, na terra, e
vão ficando mais profundas, expandindo-se cada vez mais.

Etapa 6: Sentimos como essas raízes nos fortalecem e nos mantêm ancorados à terra.

Passo 7: Respiramos profundamente e conectamo-nos com a sensação de força e solidez que


estamos a viver.

Além destas propostas, lembre-se de que, em termos gerais, deve cuidar da sua dieta, seguir
uma rotina diária de autocuidado, procurar ajuda quando precisar e não se isolar
emocionalmente. Reúna-se virtualmente com o seu grupo de amigos, familiares ou outras
grávidas, conte-lhes o que aconteceu e deixe-se cuidar, para que também possa fazê-lo.

3. RECOMENDAÇÕES PARA AS PESSOAS QUE ESTÃO EM LUTO


ANTES DO INÍCIO DO ISOLAMENTO SOCIAL POR COVID 19
Muitas pessoas que estão submersas no processo de luto prévio à situação de Pandemia, de
repente, encontram-se privadas do seu grupo de apoio, do seu terapeuta ou das suas rotinas e
até de si próprio por estar em luto. Este é um fator de risco a ter em conta e que pode fazer com
que abrande, se agudize ou se tornar crónico o processo de luto prévio. Este é o motivo pelo
qual consideramos importante prevenir estas situações e seguir o acompanhamento a estes
enlutados.

Se este é o seu caso, fazemos chegar uma série de recomendações com o objetivo de o
ajudar e permitir que continue a seguir o seu caminho do luto:

• Durante estes dias de isolamento necessário, evite o isolamento excessivo. É possível


que tenha necessidade de se isolar e relacionar-se consigo próprio lhe pareça difícil,
mas deverá manter um equilíbrio, entre os momentos em que necessita de estar só
com a sua dor, e momentos em que necessita compartilhar, embora não saiba como. É
importante para a melhor elaboração do seu luto e pela situação de isolamento que
vivemos, manter o contacto, na medida do possível, com algum amigo / familiar,
companheiro ou conhecido.

• Manter a adesão à terapêutica. Se padece de um acompanhamento profissional para


o seu luto, mantenha o contacto com o mesmo pelos meios indicados, apesar de
parecer um pouco mais difícil e preferir-se o contacto presencial.

• No caso de, por diversas circunstâncias, não possa contar com ninguém que o oiça e
necessita de falar do seu luto ou da angústia que sente nestes dias, existem recursos
telefónicos, online, etc que foram criados devido à situação de isolamento, e aos quais
poderá recorrer.

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GUIA LUTO COVID19

• Faça uma lista de pessoas que poderia chamar. Pense em amigos, familiares, ... com os
quais se sente confortável porque o sabem escutar e se sente compreendido dado que
validam a sua dor. Não estamos sós nesta crise de saúde pública e social, podemo-nos
sentir acompanhados, inclusive no distanciamento.

• Nestes momentos de isolamento, onde a convivência poderá ser mais complicada, é


importante dedicar uns momentos do dia a estar só, em silêncio, e permitir um diálogo
profundo connosco próprios, com as nossas recordações, pensamentos, emoções,
circunstâncias de vida... Nesses momentos, torne-se no seu melhor amigo, escutando-
se com amor e paciência. Reforçar a conexão consigo mesmo diminui a sensação de
solidão imposta transformando-a numa solidão desejada e curativa.

• Em contrapartida, se a sua casa se converteu numa prisão para si, onde as recordações
do ente querido a perseguem continuamente e já não pode recorrer às coisas que a
ajudavam no processo do luto, como sendo: sair e passear, ir aos encontros com o seu
grupo do luto ou a qualquer atividade física, artística, espiritual/religiosa, de lazer, etc;
propomos que se recorde das coisas que gostava de fazer antes da perda, o que são
novidades para si e lhe apeteça descobri-las pela primeira vez. Experimente a fazê-las,
seja só ou acompanhado das pessoas que estão a seu lado. Coisas como: cozinhar, fazer
exercício físico (dança, yoga, tai-chi, alongamentos, etc), desenhar, trabalhos manuais,
cozer, ouvir ou aprender música, aprender a utilizar novas tecnologias, relembrar ou
aprender um novo idioma.... Qualquer coisa que o ajude a focar a atenção, permitindo
descansar a mente de pensamentos improdutivos, mantendo-se intelectual e
fisicamente mais ativo.

• Se se encontra num momento do luto em que seja possível, poderá fazer uma caixa
com as recordações mais significativas do seu ente querido ou elaborar um álbum com
todas as fotografias que não tem organizadas. Este tempo de isolamento pode ser uma
oportunidade para elaborar tarefas do luto que por falta de tempo ou por outros
motivos estavam a ficar pendentes. Sempre e quando sentir necessidade e entenda o
benefício, deverá fazê-las.

• Cuide da sua saúde psico-emocional. Evite toda a sobrecarga de informação acerca da


Covid-19, pois poderá gerar muita ansiedade e medos desnecessários. Informe-se
pontualmente e apenas de fontes oficiais. Evite filmes violentos, informação negativa,
etc. Tudo isto poderá debilitar e dificultar o seu processo de luto.

• Nestes dias de restrição da liberdade de movimento das pessoas, onde não poderá ir
ao cemitério honrar o seu ente querido, poderá procurar um canto da casa e convertê-
lo no seu lugar de homenagem (embora talvez já tenha esse lugar em casa). Decorá-lo
como mais gosta, poderá colocar flores de papel, velas, objetos que o simbolizem, que
o ajudem a conectar-se com ele/ela, e onde poderá recorrer sempre que precisar, só
ou compartilhando esse momento com a família que tem a seu lado.

• Sabemos que são dias muito complicados onde a gestão de emoções e a regulação
corporal colocam-no à prova. Tenha em conta e reforce o percurso que já decorreu do
caminho do seu luto. Encorajamo-lo a que, apesar da situação de emergência em que

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GUIA LUTO COVID19

vivemos, utilize todos os meios ou sugestões que estão nas suas mãos para que possa
prosseguir por eles, para voltar a encarar a vida acompanhado do amor do seu ente
querido. Todos carregamos uma luz interna ao nascer e que nos guia e nos dá calor nos
momentos difíceis; às vezes parece ténue e invisível, mas se nos permitirmos avivá-la,
continuará lá para nós e para os outros.

Desenho 10: Luz (Mothú, 2020)

4. SITUAÇÕES ESPECIAIS NO CORONAVIRUS: FAMILIARES


COM PESSOAS EM UNIDADES/EQUIPAS DE CUIDADOS
PALITATIVOS DOMICILIÁRIOS E HOSPITALARES
Se a situação de ter um familiar com uma doença avançada ou em final de vida é uma
situação muito stressante devido à intensidade das emoções, viver assim num estado de alarme
global é muito mais; por isso queremos que saiba que:

SE ESTÁ EM CASA
É possível que tenha medo que os serviços domiciliários não continuem; ou que algum
dos membros da equipa médica poderá estar infetado com o vírus e que possa contagiá-lo ou à
sua família, duvidas sobre se poderá continuar a cuidar do seu familiar ou se complicará a sua
situação clinica e o que fará caso isso aconteça. São inúmeros os pensamentos e emoções que
poderão assombrar neste momento.

É importante que saiba que as equipas médicas cumprem as medidas restritas para
evitar que isto aconteça, que pode igualmente executar as diretrizes gerais em sua casa, como
por exemplo, manter a distância de segurança, lavar as mãos, limpar com um produto

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GUIA LUTO COVID19

desinfetante, além de todas as indicadas como: fazer compras no supermercado e seguir o


protocolo de entrada em casa.

Em princípio, não está previsto cancelar nenhum serviço que requeira uma atenção
urgente como cuidar da situação em que o seu familiar se encontra.

A recomendação geral é que, se está no domicílio, como medida protetora, não recorra
ao hospital, ligar primeiro para aos serviços paliativos domiciliários para colocar qualquer dúvida
ou questão.

Cuide-se! Procure um espaço e tempo para si. Sabemos que é difícil neste momento,
porque as medidas recomendam o menor número de cuidadores por paciente para poder evitar
possíveis contágios. Pratique o aqui e agora, centrando-se nas pequenas coisas do dia-a-dia, as
que são importantes no momento para poder gerar um ambiente mais saudável e equilibrado
tanto quanto possível. Manter as rotinas e permitirmo-nos tempos de descanso e de lazer
dentro de casa, ajudar-nos-á a ocuparmo-nos e a afastar as preocupações. Algumas coisas que
podem fazer: ler, ver uma série ou filme, realizar passatempos, praticar um pouco de exercício
(alongamento, dança, etc), permitir-se um banho mais prolongado, não fazer nada durante um
momento, para estar consigo mesmo, etc.

SE O TEU FAMILIAR ESTÁ NO HOSPITAL


Siga as recomendações indicadas pela equipe, tente entrar e sair o menos possível da
sala enquanto cuida dele (a) (se ainda for permitido o acompanhamento hospitalar) e restringir
o mínimo de visitas possível. Poderá realizar turnos de auxílio e cuidado, apesar de o ideal ser o
menor numero de pessoas por sala melhor.

Nas situações anteriores, é importante fomentar apoio social e familiar através de


chamadas telefónicas, mensagens, videochamadas, etc. Desta forma, você e o seu familiar
podem continuar a comunicar com as restantes pessoas significativas, sentindo-se conectados
e apoiados nestes momentos tao difíceis.

ASSISTÊNCIA PSICO-SOCIAL
Tanto a nível domiciliário como hospitalar (sujeito à idiossincrasia de cada hospital, entidade
e concelho, dado que nem todos disponibilizam estas opções):

• Se o seu familiar é um paciente inscrito nos serviços de oncologia e/ou cuidados


paliativos existem equipas de apoio psicossocial para o acompanhar nestes momentos
difíceis. Consulte o chefe de serviço ou o seu médico de referência hospitalar / domicílio
se necessitar de assistência.

• Se o seu familiar se encontra hospitalizado em qualquer outro serviço hospitalar


solicite uma consulta intercalar com a unidade de saúde mental do hospital, poderá
contar com profissionais de psicologia e psiquiatria que poderão atendê-lo nestes
momentos.

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GUIA LUTO COVID19

• Igualmente, se o seu familiar se encontra em casa poderá contatar os serviços sociais


do seu concelho, ou do Centro de saúde da sua zona de residência. Poderá contar com
o seu médico e enfermeiro habitual, mas também com um enfermeiro gestor de casos
e um assistente social. Eles poderão informá-lo dos recursos existentes e encaminharão
para os especialistas se for necessário, entre eles os de Saúde Mental.

• Outras opções serão contatar o centro nacional de emergência, que conta neste
momento com apoio psicológico telefónico, como profissionais especializados.

• Contatar associações que oferecem serviço de apoio psicossocial.

• Também poderá contatar com algum psicólogo no setor privado, terapeuta da dor ou
alguma plataforma que ofereça assistência psicológica especializada (atualmente
existem muitas iniciativas que circulam nas redes sociais, muitas delas gratuitas).

4.1. ORIENTAÇÕES PARA PESSOAS, QUE DEVIDO AO ESTADO DE


EMERGÊNCIA, NÃO PODEM ACOMPANHAR OU DESPEDIR-SE DO
SEU ENTE QUERIDO EM FINAL DE VIDA, NO HOSPITAL OU
DOMICÍLIO.
Devido às restrições, impostas pelo estado de emergência, é possível que se encontre
preso na sua cidade e que não seja possível realizar uma viagem para poder estar com o seu
familiar, talvez o próprio hospital ou residência tenha determinado a norma de apenas um
acompanhante por paciente ou que não são permitidos cuidados, e / ou tenha uma situação
familiar / profissional incompatível com o acompanhamento do seu familiar com doença
avançada.

Dizer-lhe que, mesmo que não possa estar perto fisicamente, poderá sempre dar o seu
apoio ao seu familiar ou ao cuidador principal. O que poderá fazer:

• Realizar chamadas e / ou videochamadas para facilitar o apoio ou gerar o contato


com o seu familiar por forma a que ambos se sintam acompanhados. Devido ao
isolamento em que se encontra a pessoa, esse contato ou mensagem pode ser
passado ao auxiliar ou a quem seja responsável pelo seu cuidado, para que seja uma
ponte entre este e a sua família. Inclusive para os profissionais de saúde, este gesto
poderá ser uma forma de gerir a situação traumática que podem estar a vivenciar,
pelo pouco que o que poderão fazer, será muito na dimensão emocional / espiritual.
Podemos aprender pela situação que vive a Itália, pelo movimento que foi posto em
marcha: “Direito à despedida”, onde se possibilita a comunicação com os doentes e
a sua família mediante videochamadas onde poderão despedir-se ou gravar a
despedida e enviar aos seus familiares posteriormente.
https://www.infopico.com/2020/03/18/el-derecho-a-decir-adios-la-donacion-que-
conmuevea-italia/

• Enviar áudios ou vídeos à sua família, fazendo-lhe sentir a vossa presença e afeto.
Isto ajudará a desconectar do ambiente hospitalar e conectar com situações mais

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GUIA LUTO COVID19

amáveis. Também facilitará que os filhos, pessoas com deficiência e maiores a nosso
cargo possam estar conscientes da realidade e ajudar na sua compreensão e
integração posterior no luto.
• Caso o seu familiar já esteja com muita medicação e o nível de consciência seja
diminuto, deve saber que o tato e a audição são os últimos estímulos que deixamos
de sentir pelo que poderá sempre, através do familiar que o acompanha e/ ou da
equipa de profissionais de saúde, enviar um áudio transmitindo o seu amor ou as
coisas que são importantes para si.

Desenho 11: Não te rendas (Mothú 2020)

5. ORIENTAÇÕES PARA ALIVIAR O STRESS, O BURNOUT, A


FADIGA POR COMPAIXÃO E O LUTO NOS PROFISSIONAIS (da
Saúde, das Forças De Segurança, dos Serviços Sociais, das
Funerárias, Etc.)
Colegas e amigos obrigada!
Gostaríamos de lhe devolver um pouco de todo o esforço e implicação diária nestes dias
tão difíceis, por isso temos preparadas estas diretrizes de autocuidado para si e para os seus.

És humano, os profissionais implicados em situações de grande impacto e


vulnerabilidade como aqueles que estamos a vivenciar agora não são imunes às sequelas
psicológicas.
Ao stress normal da nossa profissão, há que adicionar o esforço pessoal de
autorregulação para poder estar e dar o melhor de nós nestes dias, a sobredemanda assistencial
(em algumas zonas do país roçando o colapso), a falta de recursos materiais e humanos, a
gravidade da situação, a solidão e o isolamento de alguns dos nossos pacientes, assim como a
morte de muitos deles.

Estas situações podem produzir num primeiro momento, respostas de stress


agudo, que afetam diversos níveis e se caracterizam por:
a) Nível fisiológico: náuseas, fadiga, tremores, tonturas, dores de cabeça, taquicardia...
b) Nível emocional: ansiedade, medo, irritabilidade, choque emocional...
c) Nível cognitivo: Hipe vigilância, pensamentos intrusivos, confusão...

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GUIA LUTO COVID19

d) Nível comportamental: incapacidade de descansar, ou comer, ou alimentação


compulsiva, fala acelerada, gritos...

Estas respostas são normais, mas com o tempo podem converter-se em respostas
de stress pós-traumático. Para prevenir e / ou parar a sintomatologia que poderá estar sentindo
agora e que se pode desenvolver, propomos:

• Uma vez terminado o turno, proporcionar uma reunião de equipa (defusing e / ou


debriefing) onde se podem partilhar as situações ocorridas, os sentimentos e
emoções sentidas, coisas a melhorar e a felicitar. Esta reunião vai favorecer a
renovação emocional e a coesão do grupo.

• Apoiar-se nos seus companheiros, nos seus amigos e familiares. É normal que
sobre proteja estes últimos para não os “contaminar”, mas lembre-se que “sozinha
é apenas uma gota, mas juntos serão o oceano”.

• Se faz alguma prática de meditação, tente praticar no início e no fim do dia ou talvez
poderá incorporar alguma prática de relaxamento com respiração. Recomendamos
que pratique na sua vida diária.

• Comece o dia com um discurso interno e externo positivo e otimista, sem deixar
de ser realista com a situação. Termine-o agradecendo o recebido e o dado por sua
parte no dia de hoje, cultive a compaixão, a atitude bondosa e compreensiva a si
mesmo e aos outros.

• Console-se e console os outros, permita-se momentos de conexão com a dor e


deixe fluir a carga emocional que poderá estar a sentir nestes momentos. Perceba
a sua necessidade e dê-lhe resposta na medida do possível para que se sinta capaz
de regular-se, de controlar a situação e solucionar aquilo que depende diretamente
de si.

• Utilize os profissionais de saúde mental que estão disponíveis para si, se assim o
considerar.

• Cuide e cuida-se, alimente-se bem, descanse o suficiente, faça algum desporto,


desconecte das notícias e do trabalho por algum tempo, compartilhe momentos
relaxados com a família e amigos, procure um espaço para si onde poderá estar só
se precisar.

• Procure o seu sentido de humor, na medida do possível, poder ser uma boa
estratégia para libertar emoções e tensões.

• Quando um paciente ou pessoa conhecida falece, poderá utilizar aqueles rituais e


conselhos vários que partilhamos neste guia e ajustá-los às suas necessidades como
profissional, mas sobretudo, como pessoa, se lhe apetece e assim o sente, escrever
uma carta de condolência (neste guia apresentamos um modelo) e ou realize uma
chamada para valorizar as suas necessidades e partilhar o que sente, esta medida
pode ser levada a cabo de forma individual ou no seu serviço. As famílias agradecem.

• Finalmente, propomos algumas diretrizes a utilizar na sua prática profissional, tanto


em ambiente hospitalar ou de cuidados de saúde, com o objetivo que dispor de uma

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GUIA LUTO COVID19

ferramenta útil que o ajude a seguir o seu trabalho da forma mais humana possível
e reduzir as suas respostas de stress. Assim como um modelo de carta de
condolência para aqueles profissionais / serviços / unidades que o desejem podem
mostrar desde o respeito e o afeto ao apoio e consolo às famílias.

5.1. ORIENTAÇÕES PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE


ACOMPANHAM DOENTES EM SITUAÇÃO GRAVE, FIM DE VIDA E
SUCESSO NA CRISE COVID-19.
Este último parágrafo pensamos que poderá ajudar tanto os pacientes como as
famílias, como os profissionais de saúde, reduzindo a incerteza e melhorando a sua resposta
psico-emocional e física antes das situações as que estão expostas nestes dias.

É de grande importância o trabalho dos profissionais de saúde nos momentos tanto


para facilitar o paciente que poderá partir tranquilo e de alguma forma acompanhado, como
para que os familiares poderão passar por estes momentos sentindo que acompanharam e
expressaram os seus sentimentos ao familiar nos seus últimos dias de vida. Para eles seguem
abaixo algumas diretrizes para que, na medida do possível, poderão ser utilizadas pelos
profissionais de saúde que se encontram nestas situações.

A. QUANDO O DOENTE ENTRA EM SITUAÇÃO DE ÚLTIMOS DIAS


• Chamar os familiares. Quando se comunica a informação pelo telefone temos de ter em
conta certas recomendações:

o Identificarmo-nos
o Dar informação clara e progressiva
o Procurar um momento que possamos dedicar ao telefonema
o Fazê-lo num local com pouco ruido e onde possamos dar a informação com o máximo
de tranquilidade.
o Dar à pessoa a possibilidade de fazer as perguntas e de obter as respostas de que
precisa. Se não soubermos responder a alguma questão devemos dizê-lo e se
entendermos poder vir a esclarecer alguma questão mais tarde, devemos comunicá-lo
à pessoa. Esta atitude propiciará tranquilidade.

• Informação fundamental a dar aos familiares

o Situação clínica da pessoa, a evolução do seu estado, eventuais medidas de sedação e


prognóstico;
o Ponderar a possibilidade de visitar a pessoa e, nesse caso, preparar as condições em que
poderá ser feita essa visita. Informar de que este pode ser o último momento em que
estarão em contacto com o seu familiar, devendo por isso preparar-se o encontro. Os
assuntos a abordar, o que pode trazer-se à pessoa e outros aspetos pertinentes podem
ser discutidos previamente. Devem salvaguardar-se todas as medidas de segurança
considerando o perigo de contágio;

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GUIA LUTO COVID19

o Informar a família da qualidade dos cuidados médicos à disposição do seu familiar, e do


empenhamento da equipe hospitalar;
o Se for possível e desejada a realização da visita, pode oferecer-se à família a presença
de um membro da equipe hospitalar, podendo também ser ponderada mediante as
condições, a presença de um Psicólogo. Recomenda-se de novo a preparação da família
para a situação clínica em que encontrarão o seu familiar, prevenindo reações
emocionais resultantes do choque ou da surpresa;
o Transmitir à família que o seu familiar conhece as razões que determinam a imposição
da medida de afastamento familiar;
o Informar acerca do caráter restritivo aplicado à visita presencial e das possibilidades
alternativas de comunicação facultadas pela instituição. Pode ainda fazer-se chegar à
pessoa objetos ou recordações de significado;
o Se estiver comprometida a capacidade de comunicar da pessoa por agravamento da sua
condição, deve procurar-se junto da equipe, uma atualização acerca do modo como a
pessoa pode agora comunicar e, transmitir à família esses elementos, para que possa
deles fazer uso durante a visita.

• Informação a transmitir à pessoa doente

o Informar previamente a pessoa da presença dos seus familiares e das suas


preocupações;
o Auxiliar na transmissão de mensagens entre a pessoa e os seus familiares. Se for caso
disso oferecer os meios à disposição para facilitar a comunicação no encontro;
o Facilitar à pessoa a elaboração de perguntas e a expressão das suas necessidades.

Trata-se afinal de exercer a posição de mediador e transmissor de informação para que


ambas as partes se sintam acompanhadas e esclarecidas evitando zonas de incerteza,
sentimentos de abandono e solidão. O acompanhamento do encontro entre o doente e os seus
familiares favorece o bem-estar e oferece segurança.

B. QUANDO A MORTE OCORRE

- Avisar a família do sucedido através de contacto telefónico. Informar acerca de como


deverá proceder e das condições previstas para o acompanhamento do familiar falecido;

- Preparar, de acordo com as decisões clínicas, um espaço restrito e regulado em


protocolo, para a eventuais despedidas ou para a prestação de cuidados psicológicos aos
familiares em sofrimento. Atualmente as empresas funerárias ocupam-se de grande parte do
processo e nos hospitais, não é permitida por razões de segurança, a presença dos familiares.
Há muitas restrições à presença da família mesmo durante a celebração fúnebre especialmente
se a morte ocorreu devido à Covid-19. Nestes casos não é permitido aos familiares o
acompanhamento ou a despedida presencial nem a participação nos rituais funerários habituais.
São medidas externas consideradas necessárias nos tempos que correm.

- Informar os familiares de que não é permitido estabelecer contacto com o seu familiar
falecido ou com qualquer material contaminado. Se por razão maior, a presença de um familiar

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GUIA LUTO COVID19

for indispensável no Hospital, deve disponibilizar-se material de proteção individual e instruir-


se a pessoa para os comportamentos adequados em espaço de risco biológico.

- Informar os familiares de que podem, através do operador funerário, requisitar a


colocação de objetos de significado junto do falecido, obtendo assim uma forma de
continuidade diferida, mas representativa da celebração do amor e da cumplicidade entre
familiares;

- Oferecer a disponibilidade para apoio psicológico;

- Enviar carta de condolências e/ou efetuar contacto telefónico posterior, dando conta
do respeito e do afeto sentidos pela Equipe ao mesmo tempo que se oferece o
acompanhamento nas necessidades que venham a surgir. Desta forma estreitam-se os laços
entre as partes e releva-se o sentimento de humanidade;

- Lembrar que os companheiros de quarto do doente falecido podem ter sido


testemunhas envolvidas e ter até criado laços afetivos importantes a ponto de ser adequado o
reconhecimento da sua dor ou sofrimento. Devem ser auscultadas e deve ser oferecido apoio
psicológico se for caso disso;

- Na sucessão de emoções ligadas ao acontecimento, pode-nos ser útil, por um instante,


realizar um pequeno ato de despedida, uma pequena homenagem ao doente que
acompanhámos e a quem nos dedicámos durante algum tempo. Trata-se de honrar com a
despedida, o semelhante, como se fossemos nós mesmos, reconectando-nos com o outro,
facilitando o trânsito das emoções e a nossa reconciliação com o plano espiritual.

O objetivo destas recomendações é permitir, nas circunstâncias que se vivem, que os


familiares se sintam acompanhados, esclarecidos e, de alguma forma, com o sentimento de que
estiveram próximos do seu familiar. A atitude do profissional de saúde é muito importante.
Algumas palavras de conforto, um olhar compreensivo, um gesto simples pode fazer com que o
familiar em sofrimento se sinta acolhido e ouvido nos tempos difíceis que atravessa. Desta forma
criam-se alternativas de bem-estar psico-emocional, evitam-se respostas críticas ou patológicas
e previne-se a sintomatologia traumática.

5.2. MÁS NOTÍCIAS TRANSMITIDAS POR TELEFONE


Em geral seria o Médico ou o profissional com formação adequada a comunicar as Más
Notícias, muitas das vezes de modo presencial, prestando-se a oferecer o apoio emocional
necessário, com recurso se fosse preciso, ao toque e ao físico para mitigar o súbito aflorar do
sofrimento. Nesta crise sanitária, a Má Notícia será transmitida telefonicamente. Seguem-se
algumas indicações que orientam a comunicação por meio telefónico:

O que se deve dizer ao familiar de um doente que faleceu?

- Deve-se ser proactivo respondendo às perguntas que nos colocam evitando os termos técnicos
já que o seu uso aumenta a distância com o familiar. Deve usar-se uma linguagem simples que
possa ser entendida por todos.

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GUIA LUTO COVID19

Antes de realizar a chamada aconselha-se um momento de pausa para respirar e refletir,


procurando concentrar-se na tarefa a executar, esperando realizar uma comunicação presente
e ativa com o familiar.

Observem-se três passos na realização da chamada:

- Início da chamada: Ter em conta o Tom de Voz que desejavelmente será Amável, de
Proximidade, com Discurso Pausado sem acelerar no débito de palavras. Devemos apresentar-
nos: Qual a nossa função, equipe a que pertencemos, o Nome e outros eventuais elementos de
ligação ao doente. Considerar a possibilidade de ter que repetir a informação mais do que uma
vez, reformulando eventualmente, atendendo ao estado emocional que se desenrola e que é
resultado da Má Notícia. Pode haver Choque, Confusão ou outro impacto maior. Deve-se ter
também a perceção da reação da pessoa à notícia, considerar a idade do interlocutor, eventual
doença ou particular fragilidade. Pode pedir-se à pessoa que se sente, perguntar se está
acompanhada, tentar prevenir um impacto doloroso ou desencadeador de uma crise
secundária.

- Comunicar a Má Notícia: Ao comunicar a Má Notícia devemos ser claros, deve ser dito o nome
da pessoa que faleceu e o parentesco que há entre aquele e a pessoa com quem se está a falar.

“... Dª Luísa peço-lhe que se sente por favor, tenho uma notícia muito desagradável para lhe
comunicar. O Sr. Jorge, seu pai, nas últimas horas piorou muito o seu estado saúde e não resistiu,
faleceu. Lamento muito ter que lhe dar esta notícia tão triste.”

É importante comunicar ao familiar como faleceu a pessoa: Se esteve acompanhada, se houve


alguma restrição protocolar, dar conta de que não houve sofrimento já que se ajustou a
medicação de modo a propiciar o bem-estar possível, comunicar que eventualmente houve
atenção e acompanhamento dentro das restrições do momento. A informação mais importante
que se pode transmitir aos familiares é a de que o seu familiar não sofreu.

“... Joana o seu familiar faleceu serenamente, não houve sofrimento, a medicação ajudou a que
o momento decorresse tranquilamente.”

Daremos tempo, pausas na comunicação, silêncios, permitindo a expressão emocional, o


desabafo. Haverá tempo também para a resposta a eventuais dúvidas. Acolhe-se e valida-se a
reação emocional.

- Fim da chamada. Pode ainda oferecer-se esclarecimentos complementares do tipo técnico ou


prático. A disponibilidade do Psicólogo para acompanhamento no tempo próximo como
coadjuvante na gestão da reação emocional, na acomodação do evento e na reconexão com a
vida pode ser uma medida útil.

Finalmente como profissionais podemos fazer uma pausa de minutos para respirar, refletir, ou
procurar um colega com quem partilhar sentimentos, regular emoções para poder continuar
profissionalmente.

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GUIA LUTO COVID19

5.3. MODELO DE CARTA DE CONDOLÊNCIAS

Hospital/Unidade/Equipa................................Data.............................................

Família de ..................................................................

Estimada família:

Neste momento particularmente triste marcado pela perda do vosso ente querido
(Nome da pessoa) e na dificuldade de expressar as palavras certas que possam aliviar a vossa
dor, queremos transmitir as nossas condolências.

A Equipe que acompanhou o (Nome da pessoa) tem consciência da difícil situação a que
estamos sujeitos pela razão da crise pandémica que todos vivemos e do seu impacto na vida de
cada um. Queremos agradecer a vossa compreensão e colaboração no seguimento das nossas
recomendações que são afinal imposições do momento crítico que atravessamos.

As condições de isolamento impostas pela crise, impedem o normal acompanhamento


aos familiares doentes e limitam as manifestações de conforto e carinho entre familiares e
amigos no sofrimento. Relembramos que podem realizar noutra altura as celebrações, os rituais
ou as despedidas julgadas importantes de modo honrar o vosso familiar.

Até que seja possível realizar uma celebração mais ampla, podem criar-se momentos de
homenagem mais simples, um lugar com uma fotografia, uma vela acesa em memória da
pessoa, música em sua honra, um trecho de leitura partilhado com pessoas próximas pode
ajudar-vos a suavizar a dor da perda.

Também a criação de grupo de pessoas próximas nas redes sociais onde se possam
trocar fotos, memórias, histórias ou recordações pode ser uma ajuda importante na expressão
das emoções, no aligeirar do sofrimento através da partilha acompanhada de sentimentos
comuns.

É normal que alguns de nós sintam o desejo de recato e de reserva, vivendo por algum
tempo, discretamente e em reflexão pessoal a perda do seu familiar. Isso não faz mal. Não há
prazo para a resolução das feridas emocionais, há sempre tempo para fazer o Luto.

É certo de que quando for já menos intensa a dor da perda chegará o momento da
compreensão do valor que teve o vosso acompanhamento e o cuidado que dedicaram ao
(Nome) e isso, quase sempre nos pacifica.

A Equipe estará disponível para o apoio necessário que venham a necessitar no futuro
próximo.

Enviamos sinceros cumprimentos.

Assinatura(s)

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GUIA LUTO COVID19

6. PARA FINALIZAR…
Queremos valorizar todas as pessoas que neste momento procuram manter a coesão
social, encorajando, apoiando e participando de diversas formas, fazendo lembrar o valor da
humanidade que pode sempre ser solidária e preservar o sentimento do outro, apesar do
cenário de crise. Deixamos o escrito que se segue.

“Mãos! Tão importantes são as nossas Mãos nestes dias!

Mãos que temos que regularmente lavar, desinfetar.

Mãos que temos que cobrir com luvas, para não transmitirmos,
para não infetarmos ninguém com esse Vírus que de repente
entrou nas nossas casas e nos apartou da família, dos amigos e
dos conhecidos.

Mãos que curam e cuidam, que assistem, que repartem, que


empurram macas, conduzem Ambulâncias, carros da Polícia e
camiões de carga.

Mãos que repõem, que pesam, que atendem e cosem as batas e


as máscaras.

Mãos que limpam e desinfetam e que nos arrancam a comida da


terra.

Mãos que atendem telefones para ouvir lamentos e usam


computadores para organizar o caos.

Mãos de luvas que acenam um último adeus,

E, ao entardecer, Mãos que aplaudem todas ao mesmo tempo,


aqueles que na frente da batalha oferecem as suas Mãos e, mais
que isso.

Mãos que se convertem em instrumentos de comunicação com


os nossos vizinhos dando sinais de que não estamos sós, que nos
Desenho 13: Meu coração nas tuas apoiamos e que resistiremos.
mãos 2 (Mothú 2020)
Mãos que aplaudem uma contra a outra criando uma onda de
gratidão que percorre ruas e cidades.

Diz-se que os aplausos são os novos abraços. É assim que os


sentimos também. Aplaudamo-nos, pois, muito e tenhamos a
esperança de que com as nossas Mãos, possamos criar um
Mundo melhor.”

(Glória Plaza Medina)

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GUIA LUTO COVID19

7. QUEM ELABOROU ESTE DOCUMENTO


Somos vários profissionais, especialistas em luto e perda que nos unimos neste projeto, para
orientar e dar respostas a muitas pessoas que nestes tempos difíceis perderam um ente querido
e também esperamos que seja útil para os profissionais de saúde.

Eva Alarcón Carmen Esther Cabrera Nélida García


Psicóloga de Serviços Sociais Assistente Social especializada em luto. Psicóloga Clinica.
Comunitários. Instituto Mestre em Intervenção em Trauma, Antropóloga Social e Cultural.
Provincial de Bem-estar Social. Perda e Luto (IPIR-UB). Terapeuta Rede Mestre em Intervenção em
Conselho de Córdoba. IPIR- Luto (Ilha de la Palma). Col. nº 572. Trauma, Perda e Luto (IPIR-UB).
Psicóloga Clinica. Mestre em Col. M-26883- (Madrid -
Intervenção em Trauma, Perda Alemanha)
e Luto (IPIR-UB). Col. S-3879.

E-mail: E-mail: E-mail:


evaalarcon74@hotmail.com cecabreram@gmail.com nelida.garciamena@gmail.com

María Montejo Gloria Plaza Pilar Prieto


Psicóloga Clinica. Psicóloga especialista em luto. Enfermeira especialista em
Psico-oncóloga. Associação Mestre em Intervenção em Trauma, Cuidados Paliativos. Enfermeira da
Espanhola contra o Cancro JP Perda e Luto (IPIR-UB.) Equipa de Suporte
Zamora. Col. R-00772 Hospitalar de Cuidados Paliativos
Mestre em Intervenção em do Hospital Puerta de Hierro
Trauma, Perda e Luto (IPIR-UB). (Majadahonda – Madrid).
Col. CL-3963 Mestre em Intervenção em
Trauma, Perda e Luto (IPIR-UB.)
Col. nº38248
E-mail: E-mail: E-mail:
maria.montejo@aecc.es gloriapsicoduelo@gmail.com pilarprietovicente@gmail.com
Instagram: @duelorioja
http://www.facebook.com/duelolarioja

Pilar Rey Montse Robles Nuria Vega


Assistente social. Terapeuta Enfermeira especialista em luto. Coordenadora deste guia
familiar. Especialista em luto, Mestre em Intervenção em Trauma, Psicóloga Clinica. Tanatóloga.
perda e processos de Perda e Luto (IPIR-UB). Especialista em processos
enfermagem. Responsável assistencial do Serviço de oncológicos e final de vida, perda
Mestre em Intervenção em Suporte ao Dol de Ponent. (Lleida). e luto.
Trauma, Perda e Luto (IPIR-UB). Col. nº 3253 Mestre em Cuidados de Final de
Col. nº 1034. Vida e Tanatologia (ULL).
(Ourense) Mestre em Intervenção em
Trauma, Perda e Luto (IPIR-UB).
Co-fundadora do Grupo de Luto
Pulseiras Brancas de Gran Canaria.
Col. P-1135

E-mail: E-mail: E-mail:


pilar.rey@centrocalma.es montse@suportaldol.org gampulserasblancas@gmail.com/
www.suportaldol.org psicothanatos@icloud.com

AGRADECEMOS de coração a colaboração de:

Paqui Santana por ceder-nos os seus Desenhos (Mothú 2019/2020).

Alba Payás por tanto.

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8. QUEM TRADUZIU ESTE DOCUMENTO


Somos vários profissionais, da área da psicologia, enfermagem e medicina, que nos unimos para
traduzir este documento para português para dar resposta a quem perde um ente querido e
também esperamos que seja útil para os profissionais de saúde.

Helena Salazar coordenadora da tradução


Psicóloga Clínica e da Saúde
Mestre em Cuidados Paliativos
Pós-graduação Intervenção em Luto
Pós-Graduação em Psicoterapia na Associação Portuguesa de Terapia Cognitiva Comportamental
Mail: salazar.lena@gmail.com
Ordem Psicólogos Portugueses 6474
Cátia Freire José Duarte
Psicóloga Clínica Psicólogo Clínico
Mestre em Psicologia Clinica e do Aconselhamento Mestre em Perturbações do Pensamento, da
Pós-graduação em Neuropsicologia da Infância à Idade Comunicação e da Linguagem
Adulta Pós-graduação em Perturbações da Personalidade
Email: catiafreire68@hotmail.com Email: josefduartepsi@gmail.com
Ordem Psicólogos Portugueses 22014 Ordem Psicólogos Portugueses 20453
Sílvia Ramos Susana Corte-Real
Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria Medicina Geral e Familiar
Mestre em Cuidados Paliativos Mestre em Cuidados Paliativos
Doutor em Enfermagem Pós-graduação em Cuidados Paliativos Pediátricos
Email: silvia_ramos1@sapo.pt Email: scortereal@gmail.com
Ordem dos Enfermeiros 09982 Ordem dos Médicos 44089

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

• Cortina, M. “Apuntes del Curso “Los niños y la muerte” (2019).


• Cunill, M., Clavero, P.J. “La celebración de una vida”. alfinlibros.com. (2008)
• De la Herrán Gascón, A., Cortina Selva, M. “La muerte y su didáctica”. Ed. Universitaria,
S.A. (2006)
• De Vicente, A. “Enséñame a decir adiós”. Ed. Gesfomedia (2008)
• Esquerda, M., Agustí A. “El niño ante la muerte. Cómo acompañar a chicos y adolescentes
que han perdido un ser querido”. Ed. Milenio. (2012)
• Fernández Millán, J.M. “Apoyo Psicológico en situaciones de emergencia”. Ed. Pirámide.
(2010).
• Fundación Mario Losantos del Campo. “Hablemos de duelo. Manual práctico para abordar
la muerte con niños y adolescentes.” (2016).
• Hospital Universitario de La Paz. Unidad de Cuidados Paliativos y Salud Mental. “Protocolo
de Atención a Pacientes en Situación de Gravedad o Últimos Días y Éxitus en la Crisis del
COVID-19”. (2020)
• Institut IPIR. Apuntes Máster de Intervención en Trauma, Pérdida y Duelo. (2015-2017).
• Institut IPIR. Facilitar grupos de duelo, sesiones cerradas. (2017)
• Nevado, M., González, J. “Acompañar en el duelo. De la ausencia de significado al
significado de la ausencia. Ed. Desclée de Brouwer. (2017).
• Payás Puigarnau, A. El Mensaje de las lágrimas. Una guía para superar la pérdida de un ser
querido. Ed. Paidós, (2014).
• Payás Puigarnau, A. “Las tareas del duelo. Psicoterapia del duelo desde un modelo
integrativo-relacional”. Paidós (2010)

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