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helkein_filosofia
Há, entretanto, um outro tipo de falha que não é nem uma questão de crenças falsas
sobre o bem, resultante de uma educação inadequada ou distorcida, nem uma questão de
simples imaturidade. Considere o caso de um indivíduo que aprendeu o suficiente para
saber o que é o bem, no sentido de que se essa questão e outras relacionadas sobre por
que o bem é o que é são postas a ele, por ele próprio ou por outros ele dá respostas
corretas, compreendendo e realmente querendo dizer o que diz. Isso implica que sua
instrução intelectual deve ter sido suficiente para informá-lo adequadamente e que suas
paixões e hábitos foram pelo menos bons o suficiente para dar-lhe esse grau de
instrução intelectual. No entanto, de vez em quando, em vez de fazer o que o bem e o
seu bem exigem, o indivíduo cede a impulsos passionais e faz o que é contrário ao seu
bem e ao bem. Tal indivíduo não é corrompido. A pessoa corrompida deliberadamente e
em princípio propõe-se fazer aquilo que é contrário ao seu bem e ao bem, porque fez
juízos falsos sobre em que consistem o seu bem e o bem em geral. Esse tipo de
indivíduo falha de um outro modo; suas paixões ainda não estão sob controle racional
porque, de uma forma ou de outra, seu conhecimento do que é bom não é conduzido de
forma a atuar sobre elas. Ele é incontinente, acrático. O tipo de pessoa que não sofre
de akrasía, mas que controla bem suas paixões que, de outra forma, resultariam em
situações de colapso acrático, a pessoa continente encrática, não é o mesmo que a
pessoa virtuosa, assim como o acrático não deve ser identificado com o
corrompido. A pessoa encrática sabe o que é bom e racional fazer e o faz, mas suas
paixões ainda não foram completamente transformadas, de modo que seus
prazeres e dores são os mesmos da pessoa completamente virtuosa. De modo que a
pessoa encrática faz o que a pessoa racional e virtuosa faz, mas suas motivações
não são as mesmas da pessoa completamente virtuosa. É apesar de suas paixões,
pelo menos em algum grau, que faz o que faz ao julgar e agir corretamente, apesar
de se formado para resultar em proáiresis, desejo racional.
Proáiresis: desejo racional
Pessoa encrática: difere da virtuosa pela natureza de sua motivação.
Pessoa acrática: difere da corrompida pela falta de continência e melhor juízo do
Bem.
O fracasso de todas as revoluções desde 1789 teve por causa, segundo percebia
Buonarroti, a falta de líderes fortes preparados previamente para dar poder ao
“governo revolucionário dos sábios”. Ele repisou a idéia de Babeuf de delegar
autoridade imediatamente a “comissários gerais” (commisaires généraux)
treinados em “seminários” revolucionários e insistiu na necessidade de uma
“autoridade provisória encarregada de completar a revolução e de governar até
que as instituições populares entrem em plena atividade”.
Buonarroti defendia que o regime revolucionário não se submetesse às eleições
populares enquanto as mudanças revolucionárias iniciais estivessem sendo
realizadas; deveria, isto sim, ter três funções: (1) “dirigir toda a força da nação
contra os inimigos internos e externos”; (2) “criar e estabelecer as instituições
mediante as quais o povo será imperceptivelmente levado a exercer real
soberania”; e (3) “preparar a Constituição popular que consumaria e encerraria a
revolução”.
O objetivo final da revolução era o retorno rousseuniano do homem ao seu estado
“natural” de liberdade, no qual a “vontade geral” prevalece. Assim, o poder
revolucionário deve ser de imediato confiado a uma “inamovível vontade forte,
constante e esclarecida”, a qual “deve dirigir a emancipação e preparar a
liberdade. A experiência demonstrou” que os privilegiados são “péssimos
dirigentes de revoluções populares” e que “os povos são incapazes tanto de se
regenerar por si próprios quanto de apontar aqueles deveriam guiar a
regeneração”.
Buonarroti propiciou um mandato para a existência permanente de uma dura da
elite revolucionária e uma licença implícita para que uma polícia secreta exercesse
vigilância sobre o futuro. Na versão retrospectiva da conspiração de Babeuf, o
“diretório secreto” tomou a decisão de que “uma que a revolução esteja completa,
que não cesse o seu trabalho e que vigie a conduta da nova assembleia”.
James H. Billington – A Fé Revolucionária p.301-302