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Aulas 25 e 26

O Malandro e O Caipira Literatura


grupo maleo-polinésico, possuía uma literatura digna
AS Atividades de Sala de nota e escrita em caracteres derivados do velho al-
fabeto hindu.
A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos so-
1. Leia o texto abaixo, extraído de “O homem que sa- bre a tal língua malaia e não tive dúvidas em consultar
bia javanês”, de Lima Barreto: XPGHOHV&RSLHLRDOIDEHWRDVXDSURQXQFLDomRÀJX
rada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e masti-
gando letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos;
de quando em quando consultava as minhas notas;
entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia
para guardá-los bem na memória e habituar a mão a
escrevê-los.”
a) A malandragem brasileira é um dos assuntos pre-
diletos de Afonso Henriques de Lima Barreto. Em
que esfera da sociedade ela ocorre no conto acima?

b) Note-se que, apesar de ser uma história corrupta,


Castelo não teme em contá-la a seu conhecido.
Que outra faceta da cultura brasileira explicaria tal
audácia?
“Precisa-se de um professor de língua javanesa.
Cartas, etc.” Ora, disse cá comigo, está ali uma colo-
cação que não terá muitos concorrentes; se eu capis-
casse quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e
andei pelas ruas, sempre a imaginar-me professor de
javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem
encontros desagradáveis com os “cadáveres”. Insen-
sivelmente dirigi-me à Biblioteca Nacional. Não sabia
bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o cha-
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péu ao porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acu-


GLXPHSHGLUD*UDQGH(QF\FORSpGLHOHWUD-DÀPGH
consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa.
'LWRHIHLWR)LTXHLVDEHQGRDRÀPGHDOJXQVPLQXWRV
que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda,
colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do

Lit 289
2. TriVWH ÀP GH 3ROLFDUSR 4XDUHVPD (1915) é o livro b) para investigar os pensamentos da personagem, o
mais conhecido de Lima Barreto. Segue-se um excerto narrador empregou o discurso indireto-livre. Quais
SUy[LPRGRÀQDOGRHQUHGR são as marcas formais (estruturais) que comprovam
“Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? seu uso?
E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda
ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e
querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua feli-
cidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a
sua virilidade também; e, agora que estava na velhice,
como ela o recompensava, como ela o premiava, como
ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixara de
ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brin-
cara, não pandegara, não amara — todo esse lado da
existência que parece fugir um pouco à sua tristeza
necessária, ele não vira, ele não provara, ele não ex-
perimentara. Desde dezoito anos que o tal patriotismo 3. 5HFRUGDo}HV GR HVFULYmR ,VDtDV &DPLQKD (1909)é o
OKHDEVRUYLDHSRUHOHÀ]HUDDWROLFHGHHVWXGDULQXWLOL primeiro livro de Lima Barreto e um dos mais contun-
dades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois dentes em relação ao preconceito racial que sofreu em
que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade vida. Segue um trecho:
saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O impor-
Cri-me fora de minha sociedade, fora do agrupa-
tante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se
mento a que tacitamente eu concedia alguma coisa e
das suas coisas de tupi, do folclore, das suas tentativas
que em troca me dava também alguma coisa.
agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satis-
Não sei bem o que cri; mas achei tão cerrado o ci-
fação? Nenhuma! Nenhuma!
poal, tão intrincada a trama contra a qual me fui de-
2 WXSL HQFRQWURX D LQFUHGXOLGDGH JHUDO R ULVR D
bater, que a representação da minha personalidade na
PRIDRHVFiUQLRHOHYRXRjORXFXUD8PDGHFHSomR
minha consciência se fez outra, ou antes, esfacelou-se
(DDJULFXOWXUD"1DGD$VWHUUDVQmRHUDPIHUD]HVHHOD
a que tinha construído. Fiquei como um grande paque-
QmRHUDIiFLOFRPRGL]LDPRVOLYURV2XWUDGHFHSomR
te moderno cujos tubos da caldeira se houvessem rom-
( TXDQGR R VHX SDWULRWLVPR VH À]HUD FRPEDWHQWH R
pido e deixado fugir o vapor que movia suas máquinas.
TXHDFKDUD"'HFHSo}HV2QGHHVWDYDDGRoXUDGHQRVVD
JHQWH" 3RLV HOH QmR D YLX FRPEDWHU FRPR IHUDV" 3RLV
QmRDYLDPDWDUSULVLRQHLURVLQ~PHURV"2XWUDGHFHS
omR$VXDYLGDHUDXPDGHFHSomRXPDVpULHPHOKRU
XPHQFDGHDPHQWRGHGHFHSo}HV
$SiWULDTXHTXLVHUDWHUHUDXPPLWRHUDXPIDQ
WDVPDFULDGRSRUHOHQRVLOrQFLRGRVHXJDELQHWHµ
a) O termo “epifania” tem sido usado em literatura
para indicar momentos de iluminação ou reconheci-
mento de uma verdade ou de visão nítida da reali-
dade por parte de um personagem. Podemos dizer
que acima ocorre uma epifania. Explique por quê.

(Lima Barreto em uma de suas últimas fotos)


a) $ÀVLRQRPLDGH/LPD%DUUHWRQRÀQDOGDYLGDUHIRU
ça ou se distancia das primeiras impressões presen-
tes em sua obra de estreia?

290 Lit
b) H[SOLTXHDDOHJRULDXVDGDSRU,VDtDV&DPLQKDQRÀ Aproveitando-se do grande sucesso do livro 8UXSrV
nal do texto. (1918), a empresa acima fez um inteligente reclame de
seu produto para “amarelão”. Embora a conversa re-
vele uma certa simpatia do autor pelo caipira paulista,
não é bem o que se percebia no seu primeiro livro. O
TXHVLJQLÀFDDPHWiIRUDXVDGDQRWtWXOR"

4. Considere a imagem abaixo:

6. Leia o trecho:
Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no
mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza,
em companhia da mulher, muito magra e feia e de vá-
ULRVÀOKLQKRVSiOLGRVHWULVWHV
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enor-
mes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa ne-
nhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos
de brejaúva, mas não tinha ideia de plantar um pé de
couve atras da casa. Perto um ribeirão, onde ele pes-
(Caipira picando fumo, 1893, Almeida Júnior)
cava de vez em quando uns lambaris e um ou outro
bagre. E assim ia vivendo.
O grande pintor de Itu foi um dos primeiros artistas
a retratar o caipira, antes mesmo de Monteiro Lobato. Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis
Pode-se dizer que a pintura acima é idealizada? QHP URXSDV QHP QDGD TXH VLJQLÀFDVVH FRPRGLGDGH
Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas,
a espingardinha de carregar pela boca, muito ordiná-
ria, e só.
Todos que passavam por ali murmuravam:
– Que grandíssimo preguiçoso!

Como se caracteriza a linguagem de Monteiro Lo-


bato?
5. Veja o anúncio abaixo:
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rém, não me confortava naquele tempo, porque sen-
TO Tarefa Obrigatória tia na baixeza do tratamento todo o desconhecimen-
to das minhas qualidades, o julgamento anterior da
minha personalidade que não queriam ouvir, sentir e
Aula 25
examinar. O que mais me feriu, foi que ele partisse de
um funcionário, de um representante do governo, da
1. Como podemos caracterizar a personagem Policar-
administração que devia ter tão perfeitamente, como
po Quaresma? Baseie sua resposta no trecho que se
eu, a consciência jurídica dos meus direitos ao Brasil e
segue:
como tal merecia dele um tratamento respeitoso.
Era onde estava bem. No meio de soldados, de ca-
Em 5HFRUGDo}HV GR HVFULYmR ,VDtDV &DPLQKD, o
nhões, de veteranos, de papelada inçada de quilos de
narrador faz comentários que interrompem o relato
pólvora, de nomes de fuzis e termos técnicos de arti-
para tecer comentários. Como se chama esse recurso?
lharia, aspirava diariamente aquele hálito de guerra,
Como o narrador conseguiu se proteger do preconceito
de bravura, de vitória, de triunfo, que é bem o hálito
racial que sofreu em toda a sua vida?
da Pátria.
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estu- 3. Leia o trecho:
dou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua histó-
“Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agen-
ULDQDVXDJHRJUDÀDQDVXDOLWHUDWXUDHQDVXDSROtWL
te do Correio pudera apenas informar que acudia ao
ca. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais
nome de Raimundo Flamel, pois assim era subscrita a
e animais que o Brasil continha; sabia o valor do ouro,
correspondência que recebia. E era grande. Quase dia-
dos diamantes exportados por Minas, as guerras holan-
riamente, o carteiro lá ia a um dos extremos da cida-
desas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso
de, onde morava o desconhecido, sopesando um maço
de todos os rios. Defendia com azedume e paixão a
alentado de cartas vindas do mundo inteiro, grossas re-
proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios
vistas em línguas arrevesadas, livros, pacotes... Quan-
do mundo. Para isso ia até ao crime de amputar alguns
do Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa
quilômetros ao Nilo e era com este rival do “seu” rio
do novo habitante, todos na venda perguntaram-lhe
que ele mais implicava. Ai de quem o citasse na sua
que trabalho lhe tinha sido determinado. — Vou fazer
IUHQWH(PJHUDOFDOPRHGHOLFDGRRPDMRUÀFDYDDJL
um forno, disse o preto, na sala de jantar.”
tado e malcriado, quando se discutia a extensão do
O célebre conto $QRYD&DOLIyUQLD, de Lima Barreto,
Amazonas em face da do Nilo.
faz uma interessante referência intertextual no nome
de seu personagem principal. Pesquise essa referên-
2. Considere o excerto abaixo:
cia.
Não tenho pejo em confessar hoje que quando me
ouvi tratado assim, as lágrimas me vieram aos olhos.
Eu saíra do colégio, vivera sempre num ambiente arti- Aula 26
ÀFLDOGHFRQVLGHUDomRGHUHVSHLWRGHDWHQo}HVFRPL
go; a minha sensibilidade, portanto, estava cultivada e 1. Fale sobre as críticas tecidas por Monteiro Lobato
tinha uma delicadeza extrema que se ajuntava ao meu ao caipira do Vale do Paraíba, inspirando-se na gravura
orgulho de inteligente e estudioso, para me dar não sei abaixo:
que exaltada representação de mm mesmo, espécie de
homem diferente do que era na realidade, ente supe-
rior e digno a quem um epíteto daqueles feria como
uma bofetada. Hoje, agora, depois não sei de quantos
pontapés destes e outros mais brutais, sou outro, in-
sensível e cínico, mais forte talvez; aos meus olhos,
porém, muito diminuído de mim próprio, do meu pri-
mitivo ideal, caído dos meus sonhos, sujo, imperfei-
to, deformado, mutilado e lodoso. Não sei a que me
compare, não sei mesmo se poderia ter sido inteiriço
DWpDRÀPGDYLGDPDVFKRURDJRUDFKRURKRMHTXDQ
do me lembro que uma palavra desprezível dessas não
me torna a fazer chorar. Entretanto, isso tudo é uma
questão de semântica: amanhã, dentro de um século,
QmRWHUiPDLVVLJQLÀFDomRLQMXULRVD(VVDUHÁH[mRSR

292 Lit
2. Que tipos de preconceitos estão implícitos na char-
ge abaixo: AC Atividades Complementares

1. Em 2 YLROHLUR, pintura feita por Almeida Júnior


em 1899, que aspecto da vida interiorana parece ter
atraído o pintor de Itu?

O caipira ganhou um smartphone num sorteio.


Quando perguntaram a ele o que faria com o prêmio,
UHVSRQGHX´2IRQHHXYRXÀFiSUDPLPHRHVPDUWH
vou dá pra minha irmã passá nas zunha...”

3. No poema “Juca Mulato” (1917 ), de Menotti del


Picchia, há um traço que não aparece no retrato do
caipira feito por Monteiro Lobato. De que se trata?
Cansado ele? E por quê? Não fora essa jornada
a mesma luta, palmo a palmo, com a enxada
Anotações:
a suster, no café, as invasões da aninga?
E, como de costume, um cálice de pinga,
um cigarro de palha, uma jantinha à toa,
XPROKDUGLULJLGRjÀOKDGDSDWURD"

Juca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada..


Uns alqueires de chão; o cabo de uma enxada;
um cavalo pigarço; uma pinga da boa;
o cafezal verdoengo; o sol quente e inclemente...

Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente,


o olhar indiferente,
GDÀOKDGDSDWURD
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Lit 293
Aulas 27 e 28
Os Anjos de Augusto Literatura
A Poesia Escatológica de Augusto dos Anjos

Tendo em vista que o quadro acima foi realizado


AS Atividades de Sala SRXFRDSyVR5HQDVFLPHQWRTXHUHÁH[mRSRGHPRVID
zer entre arte, ciência, homem, Deus e natureza?

1. Veja o quadro abaixo de Vincent van Gogh:

3. Tendo em mente a questão anterior, leia o poema


que se segue para responder à questão:
BUDISMO MODERNO
(&DYHLUDFRPFLJDUURDFHVR, 1885/1886)
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Que epítetos (apelidos) recebem quadros como este
Minha singularíssima pessoa.
DFLPDQDKLVWyULDGDDUWH"4XHÀQDOLGDGHWDLVTXDGURV
possuem? Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!


Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca dextra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida


Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

2. Considere a imagem abaixo:


0DVRDJUHJDGRDEVWUDWRGDVVDXGDGHV
)LTXHEDWHQGRQDVSHUSpWXDVJUDGHV
'R~OWLPRYHUVRTXHHXÀ]HUQRPXQGR
Paraíba, 1909
Publicado no livro (X (1912).
a) Pela interlocução do poema, qual parece ser o ce-
nário desse texto?

($/LomRGH$QDWRPLDGR'U7XOS, 1632, Rembrandt Harmenszoon


van Rijn)

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LL
b) Que visão o eu lírico apresenta da existência? 4. Leia o poema:
Psicologia de um vencido

(XÀOKRGRFDUERQRHGRDPRQtDFR
0RQVWURGHHVFXULGmRHUXWLOkQFLD
6RIURGHVGHDHSLJrQHVHGDLQIkQFLD
$LQÁXrQFLDPiGRVVLJQRVGR]RGtDFR

3URIXQGLVVLPDPHQWHKLSRFRQGUtDFR
c) Como o eu lírico pretende permanecer após sua
morte? (VWHDPELHQWHPHFDXVDUHSXJQkQFLD
6REHPHjERFDXPDkQVLDDQiORJDjkQVLD
4XHVHHVFDSDGDERFDGHXPFDUGtDFR

-iRYHUPH³HVWHRSHUiULRGDVUXtQDV³
4XHRVDQJXHSRGUHGDVFDUQLÀFLQDV
&RPHHjYLGDHPJHUDOGHFODUDJXHUUD

$QGDDHVSUHLWDUPHXVROKRVSDUDURrORV
(KiGHGHL[DUPHDSHQDVRVFDEHORV
d) Veja a imagem abaixo: 1DIULDOGDGHLQRUJkQLFDGDWHUUD

Augusto dos Anjos ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1998.

a) Augusto dos Anjos não fez sucesso em sua época,


muito por conta do horror escatológico de seus ver-
É uma ilustração de Gustave Doré para 7KHUDYHQ, VRV2SRHPDDFLPDMXVWLÀFDHVVDDÀUPDomR"([
GH(GJDU$OODQ3RHTXHVHUHIHUHHVSHFLÀFDPHQWHDR plique.
verso:
´$QGP\VRXOIURPRXWWKDWVKDGRZWKDWOLHVÁRDWLQJ
RQWKHÁRRU6KDOOEHOLIWHGQHYHUPRUHµ
Qual verso faz uma intertextualidade visual com o
poema do célebre gótico americano?
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b) Retire do texto imagens tipicamente expressionis-
tas.

c) Qual expressão do texto revela com maior intensi-


dade o caráter materialista do poeta, em termos
ÀORVyÀFRV"-XVWLÀTXH

Jack the Ripper’s Bedroom por Walter Sickert)

Monólogo de uma Sombra

“Sou uma Sombra! Venho de outras eras,


Do cosmopolitismo das moneras...
5. Considere as telas abaixo, do pintor inglês Walter
Sickert (1860-1942), que muitos acreditam ser a real Pólipo de recônditas reentrâncias,
identidade de Jack, o estripador: Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!

A simbiose das coisas me equilibra.


Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas
E a morbidez dos seres ilusórios!
(...)
(Walter Sickert e sua pintura 3HUVXDVmR Como um pouco de saliva quotidiana
Mostro meu nojo à Natureza Humana.
A podridão me serve de Evangelho...
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques
É com certeza meu irmão mais velho!
(...)

Os trechos acima, presentes no nefasto poema “Mo-


nólogo de uma sombra”, lembram as pinturas de Wal-
ter Sickert? De que forma?

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LL
7. Veja as duas imagens:

6. A tela abaixo , de Vincent van Gogh, foi inspirada


numa gravura de Gustave Doré feita na prisão de New-
gate, em Londres:

(2VFRPHGRUHVGHEDWDWDV, 1885, Van Gogh)

($IDQWiVWLFDIiEULFDGHFKRFRODWH 2005)

“Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito


bons;
(Exercícios de prisioneiros, 1890)
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são
a) Que simbologias existenciais podem ser extraídas
muito bons;
do exercício imposto aos prisioneiros por seus car-
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
cereiros?
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são
os imprescindíveis.”
Bertolt Brecht , em 0mH&RUDJHPHVHXVÀOKRV
a) Compare os dois textos visuais, apontando seme-
lhanças ou diferenças.

b) b)encontre no quadro um pequeno símbolo de liber-


dade e beleza.

b) A citação do dramaturgo Brecht se aplica às ima-


gens? Por quê?
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8. 9HUVRVtQWLPRV é o mais popular de todos os poemas c) Qual traço da humanidade o eu lírico mais ataca?
de A.A.. Saboreie-o antes de ser questionado:
Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável


Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

d) TXHÀORVRÀDDSUHVHQWDVHXVUHÁH[RVQDVHJXQGDHV
Acostuma-te à lama que te espera!
trofe?
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

e) em que aspecto tal poema ainda pode ser conside-


rado tradicional?
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
a) Quem seriam os interlocutores de tal poema?

TO Tarefa Obrigatória

Aula 27
Leia o soneto abaixo para responder às três ques-
b) Que elemento do texto é considerado moderno para tões:
os padrões da época?
Solitário
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia


Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

298 Lit
LL
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -

Levando apenas na tumbal carcaça


O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!

1. O eu lírico começa seu texto com um símile e termi-


na com uma metáfora. Aponte as expressões exatas
HPTXHVHORFDOL]DPWDLVÀJXUDVH[SOLFDQGRDVXJHVWmR
ou efeito que elas proporcionam.

2. “Fazia frio e o frio que fazia”. Nesse verso, ocorre


XPDÀJXUDGHOLQJXDJHPVRQRUD4XDOpHOD"4XHHIHL
WRH[SUHVVLYRRSRHWDGHVHMRXVXJHULUFRPWDOÀJXUD"

AC Atividades Complementares
3. Por que o poema adquire um ar de acusação?
Aula 28
1. Considere o poema abaixo:
Para responder às questões propostas, é mister ler
o soneto que se segue, curioso aluno: Vozes da morte

Vandalismo Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,

0HXFRUDomRWHPFDWHGUDLVLPHQVDV Tamarindo de minha desventura,

7HPSORVGHSULVFDVHORQJtQTXDVGDWDV Tu, com o envelhecimento da nervura,

2QGHXPQXPHGHDPRUHPVHUHQDWDV Eu, com o envelhecimento dos tecidos!

&DQWDDDOHOXLDYLUJLQDOGDVFUHQoDV
Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!

1DRJLYDI~OJLGDHQDVFROXQDWDV E a podridão, meu velho! E essa futura

Vertem lustrais irradiações intensas Ultrafatalidade de ossatura,

Cintilações de lâmpadas suspensas A que nos acharemos reduzidos!

(DVDPHWLVWDVHRVÁRU}HVHDVSUDWDV
Não morrerão, porém, tuas sementes!

Como os velhos Templários medievais E assim, para o Futuro, em diferentes

Entrei um dia nessas catedrais Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,

E nesses templos claros e risonhos …


Na multiplicidade dos teus ramos,

E erguendo os gládios e brandindo as hastas, Pelo muito que em vida nos amamos,

No desespero dos iconoclastas 'HSRLVGDPRUWHLQGDWHUHPRVÀOKRV

Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

1. Quem é a vítima do vandalismo, segundo o eu lírico?

2. Pesquise a expressão “nume de amor”, conferindo-


2EM2021AP3

OKHXPVLJQLÀFDGR

3. Quem eram os cavaleiros templários?

(o tamarindo do Engenho do Pau d’Arco, sob cuja sombra estudou


Augusto dos Anjos)

Lit
LL 299
4XHÀJXUDGHOLQJXDJHPFRQIHUHSURIXQGRKXPDQLV O EGO (outra denominação estrutural psíquica),
mo ao texto? tem como base o princípio da realidade. Essa realida-
de é adquirida através do meio sociocultural, onde o
2. ego, ao assimilar esse meio, começa a se esforçar para
TEXTO 1 satisfazer os desejos do ID de forma realista e social-
mente adequadas.
O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Ego, o que pode-se chamar como o princípio de rea-
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
lidade, pondera sobre os custos e benefícios de uma
Na bruta ardência orgânica da sede,
ação, antes de decidir agir sobre desistir ou ceder aos
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. impulsos.

“Vou mandar levantar outra parede...” O SUPEREGO


— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho A terceira e última estrutura é o superego que, con-
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, ceitualmente, é o aspecto da personalidade que man-
Circularmente sobre a minha rede! tém todos os nossos padrões morais. Padrões esses que
também são constituídos e mediados pela realidade do
meio de convivência do indivíduo, ou seja, dentro de
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
um campo histórico-cultural.
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Essas regras de conduta moral -valores e juízos- são
Que ventre produziu tão feio parto?! internalizadas. E, com o amadurecimento do sujeito,
tornam-se norteadoras da conduta e/ou do comporta-
A Consciência Humana é este morcego! mento. Em outras palavras, é a nossa bússola, o senso
metanarrativo que passa a nos dizer o que está certo e
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
o que está errado.
Imperceptivelmente em nosso quarto!

Neste contexto, o superego fornece-nos diretrizes


TEXTO II para fazer julgamentos. Além disso, de acordo com
“De acordo com os estudos da teoria psicanalítica Freud, o superego começa a ser internalizado por volta
da Segunda Tópica de Freud, ou seja, sua construção dos cinco anos.”
WHyULFDÀQDODSHUVRQDOLGDGHpFRPSRVWDSRUWUrVHOH Releia o poema “O morcego” e procure relacioná-lo
mentos. Estes três elementos da personalidade são co- a alguma das estruturas da psique acima. Com qual o
nhecidos como: PRUFHJRPDLVVHLGHQWLÀFD"

a. Id
b. Ego Indicações do Professor:

c. Superego • Leia A Última QuimeraGH$QD0LUDQGDELRJUDÀDUR


manceada de Augusto dos Anjos.
Tais elementos trabalham juntos para criar com-
portamentos humanos complexos. Compreendendo um
conceito, compreendendo os outros dois. Vamos, en-
tão, desenvolver a diferença entre id, ego e superego.
Anotações:

O ID
O ID é impulsionado pelo princípio do prazer, que
WUDEDOKDGLJDPRVDVVLPSDUDDJUDWLÀFDomRLPHGLDWD
de todos os desejos. Também trabalha em virtude das
vontades e necessidades de ordem primária, ou seja,
SDUDRDWHQGLPHQWRGDVQHFHVVLGDGHVÀVLROyJLFDV

O EGO

300 Lit
LL
Aulas 29 e 30

A Revolução Artística do Século XX Literatura


As Vanguardas

´3LQWRDVFRLVDVFRPRDVLPDJLQRHQmRFRPRDV 10.Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas,


YHMRµ as academias de toda natureza, e combater o mo-
(Pablo Picasso) ralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e
utilitária.
AS Atividades de Sala 11.Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo
trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantare-
mos as marés multicores e polifônicas das revolu-
1. Leia, abaixo, trechos do Manifesto Futurista (1909, ções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante
publicado no jornal /H)LJDUR e escrito por Filippo Tom- fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incen-
maso Marinetti): diados por violentas luas elétricas; as estações es-
ganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da
RÀFLQDVSHQGXUDGDVjVQXYHQVSHORVÀRVFRQWRUFLGRV
energia e do destemor.
de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginas-
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos
tas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol
essenciais de nossa poesia.
com um luzir de facas; os piróscafos[2] aventurosos
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pen-
que farejam o horizonte, as locomotivas de largo
sativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o
peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes
movimento agressivo, a insônia febril, o passo de
cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante
corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma
4. 1yVDÀUPDPRVTXHDPDJQLÀFrQFLDGRPXQGRHQUL bandeira, e parece aplaudir como uma multidão en-
queceu-se de uma beleza nova: a beleza da veloci- tusiasta.
dade. Um automóvel de corrida com seu cofre en-
É da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso
feitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes
manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com
de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que
o qual fundamos hoje o «futurismo», porque queremos
correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória
libertar este país de sua fétida gangrena de professo-
de Samotrácia.
res, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. Já
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura
é tempo de a Itália deixar de ser um mercado de bel-
o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lan-
chiores. Nós queremos libertá-la dos inúmeros museus
çada também numa corrida sobre o circuito da sua
que a cobrem toda de inúmeros cemitérios.
órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto
HPXQLÀFrQFLDSDUDDXPHQWDURHQWXVLiVWLFRIHUYRU
dos elementos primordiais.
7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma
obra que não tenha um caráter agressivo pode ser
uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como
um violento assalto contra as forças desconhecidas,
para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.
8. Nós estamos no promontório extremo dos sécu-
los!... Por que haveríamos de olhar para trás, se
queremos arrombar as misteriosas portas do Impos-
sível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós
2EM2021AP3

já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a


(Filippo Marinetti)
eterna velocidade onipresente.
a) Baseando-se na leitura do Manifesto Futurista,
9. 1yVTXHUHPRVJORULÀFDUDJXHUUD~QLFDKLJLHQHGR
como você o caracteriza?
mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto des-
truidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se b) Na sua opinião, ele está certo?
morre e o desprezo pela mulher.

Lit 301
2. Veja as imagens e diga qual é a que apresenta uma e)
QtWLGD IUDJPHQWDomR GD UHDOLGDGH MXVWLÀFDQGR VXD
conclusão.
a)

Violino e cântaro, Georges Braque

Retrato de Madame Matisse (1905), Matisse


3. O capítulo abaixo foi extraído de 0HPyULDV VHQWL
b) PHQWDLV GH -RmR 0LUDPDU (1924), de Oswald de An-
drade:
GARE* DO INFINITO
Papai estava doente na cama e vinha um carro e um
KRPHPHRFDUURÀFDYDHVSHUDQGRQRMDUGLP
Levaram-me para uma casa velha que fazia doces
e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma
ÀJXHLUDQDMDQHOD
No desabar do jantar noturno a voz toda preta de
mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou
meu pai.
Gare*: garagem, estação de trens, terminal fer-
Tarde de Domingo na Ilha de Grand Jatte ,George Seurat
roviário.
c)
a) Que sentido metafórico está sugerido no título?

b) A linguagem foi criada propositalmente com desvios


Nosferatu, 1922, F. W. Murnau gramaticais e estilísticos. Que efeito o autor pre-
d) tendia com tais desvios?

'LQDPLVPRGHXPDXWRPyYHO,1912, Luigi Russolo

302 Lit
c) Qual parágrafo mais apresenta cortes abruptos nas b) Como deve ser a produção artística, segundo
imagens, as quais parecem superpostas? Tristam Tzara?

d) Que sentido teria a expressão “a voz toda preta de


mamãe”? TO Tarefa Obrigatória

Aula 29

1. Contemple o quadro abaixo:

4. Leia o poema abaixo, de Tristam Tzara (pseudônimo


de Samuel Rosenstock ,Romênia 1896 – França 1963):
Para fazer um poema dadaísta

Para fazer um poema dadaísta


Pegue um jornal. (Guernica, Pablo Picasso, 1937)
Pegue a tesoura. De que maneira tal obra se diferencia da arte aca-
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você dêmica ou tradicional?
deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo. 2. Leia o poema abaixo:

Recorte em seguida com atenção algumas palavras HÍPICA


que formam 6DOWRVUHFRUGV
esse artigo e meta-as num saco. &DYDORVGD3HQKD
Agite suavemente. &RUUHPMyTXHLVGH+LJLHQySROLV
Tire em seguida cada pedaço um após o outro. 2VPDJQDWDV
Copie conscienciosamente na ordem em que elas $VPHQLQDV
são tiradas do saco. (DRUTXHVWUDWRFD
O poema se parecerá com você. &Ki
(HLORXPHVFULWRULQÀQLWDPHQWHRULJLQDOHGHXPD QDVDODGHFRFNWDLOV
sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido 2VZDOGGH$QGUDGH
do público.

Acima temos um típico poema cubista. Explique


a) Que tom predomina no poema acima? por que ele pode ser assim considerado.

3. Segue-se abaixo um trecho de “Ode triunfal”, do he-


terônimo Álvaro de Campos, de Fernando Pessoa:
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da
2EM2021AP3

fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza dis-
to,
3DUD D EHOH]D GLVWR WRWDOPHQWH GHVFRQKHFLGD GRV

Lit 303
DQWLJRV 2. Leia abaixo um capítulo de Memórias sentimentais
de João Miramar (1924):
ÐURGDVyHQJUHQDJHQVUUUUUUUHWHUQR O Pensieroso
)RUWHHVSDVPRUHWLGRGRVPDTXLQLVPRVHPI~ULD “Jardim desencanto
(PI~ULDIRUDHGHQWURGHPLP O dever e processões com pálios
3RUWRGRVRVPHXVQHUYRVGLVVHFDGRVIRUD E cônegos
3RUWRGDVDVSDSLODVIRUDGHWXGRFRPTXHHXVLQWR Lá fora
7HQKRRVOiELRVVHFRVyJUDQGHVUXtGRVPRGHUQRV E um circo vago e sem mistérios
'HYRVRXYLUGHPDVLDGDPHQWHGHSHUWR Urbanos apitando noites cheias
(DUGHPHDFDEHoDGHYRVTXHUHUFDQWDUFRPXP Mamãe chamava-me e conduzia-me para dentro do
H[FHVVR oratório de mãos grudadas.
'HH[SUHVVmRGHWRGDVDVPLQKDVVHQVDo}HV – O anjo do Senhor anunciou à Maria que estava para
ser a mãe de Deus.
&RP XP H[FHVVRFRQWHPSRUkQHR GH YyVyPiTXL
QDV Vacilava o morrão do azeite bojudo em cima do
copo. Um manequim esquecido avermelhava.

– Senhor convosco, bendita sois entre as mulheres,
as mulheres não tem pernas, são como o manequim de
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se ex-
mamãe até embaixo. Para que nas pernas, amém.”
prime!
a) O que é motivo de deboche no capítulo acima?
Ser completo como uma máquina!
b) A linguagem fragmentada, entrecortada, sobrepos-
Poder ir na vida triunfante como um automóvel úl- ta teve qual intenção?
timo-modelo!
3RGHU DR PHQRV SHQHWUDUPH ÀVLFDPHQWH GH WXGR 3.
isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-
-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
'HVWDÁRUDHVWXSHQGDQHJUDDUWLÀFLDOHLQVDFLiYHO
a) Que relação o eu lírico estabelece com a moderni-
GDGH"(XIyULFDRXGLVIyULFD"-XVWLÀTXH
b) Por que o poema acima pode ser chamado apolo-
gético?

(Aula 30)
1. Veja os quadros abaixo:

Hannah Hoch (Gota, Alemanha, 1 de Novembro


de 1889 — Berlim, Alemanha, 31 de Maio de 1978) foi
umas das mais importantes representantes do Dadaís-
mo, além de precursora do processo de colagem. Não
VmRSRXFRVVHXVWUDEDOKRVTXHUHÁHWHPDLGHLDGHTXH
as mulheres não são aceitas da mesma forma que os
homens e criticam com ironia a indústria da beleza.
a) Por que podemos dizer que as imagens presentes na
obra acima são incoerentes?
b) Considerando o quadro como um todo, que aspecto
Baseando-se nos dois quadros acima, quais são suas GDPRGHUQLGDGHSRGHHVWDUUHÁHWLGRQHOH"
características essenciais?

304 Lit
a) Além do fato óbvio de o poema possuir sete estro-
AC Atividades Complementares fes, que outra razão explicaria o título?
b) Encontre uma estrofe que faça intertextualidade
religiosa.
1. Leia abaixo o célebre “Poema de sete faces”, de c) (PTXDOYHUVRWHPRVXPDUHÁH[mRPHWDOLQJXtVWLFD"
Carlos Drummond de Andrade, presente em sua obra Transcreva-o.
Alguma poesia, de 1930: G  3HUQDVEUDQFDVSUHWDVDPDUHODV
Poema de Sete Faces O verso acima propositalmente não apresenta vír-
gulas, nesse caso exigidas pela gramática normativa.
4XDQGRQDVFLXPDQMRWRUWR Que efeito o poeta pretendeu ao suprimir as vírgulas?
'HVVHVTXHYLYHPQDVRPEUD
'LVVH9DL&DUORV6HUJDXFKH QDYLGD
Indicações do Professor:
• $VVLVWDDRÀOPH´0HLDQRLWHHP3DULVµGH:RRG\$OOHQ
$VFDVDVHVSLDPRVKRPHQV 2011
4XHFRUUHPDWUiVGHPXOKHUHV • Assista “Caçadores de obras-primas”, de George Cloo-
$WDUGHWDOYH]IRVVHD]XO ney. 2014

1mRKRXYHVVHWDQWRVGHVHMRV

2ERQGHSDVVDFKHLRGHSHUQDV Anotações:
3HUQDVEUDQFDVSUHWDVDPDUHODV
3DUDTXHWDQWDSHUQDPHX'HXVSHUJXQWDPHXFR
UDomR
3RUpPPHXVROKRV
1mRSHUJXQWDPQDGD

O homem atrás do bigode


É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode

Meu Deus, por que me abandonaste


Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundo


Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração
2EM2021AP3

Eu não devia te dizer


0DVHVVDOXD
0DVHVVHFRQKDTXH
%RWDPDJHQWHFRPRYLGRFRPRRGLDER
*gauche: esquerdo, em francês; por ext., contrários à ordem,
rebelde, revolucionário, contestador.

Lit 305
Aulas 31 e 32

O Sonho e O Pesadelo: Literatura


Surrealismo e Expressionismo

AS Atividades de Sala

2. A imagem abaixo foi criada por Renè Magritte ( 1898


1. Leia o poema abaixo:
ȩ (PERUDVHXFULDGRUIRVVHFRQWUiULRDGDUVHQ
O Pastor Pianista
tidos a sua obra, que interpretações possíveis ela su-
gere?
6ROWDUDPRVSLDQRVQDSODQtFLHGHVHUWD
2QGHDVVRPEUDVGRVSiVVDURVYrPEHEHU
(XVRXRSDVWRUSLDQLVWD
9HMRDRORQJHFRPDOHJULDPHXVSLDQRV
5HFRUWDUHPRVYXOWRVPRQXPHQWDLV
&RQWUDDOXD

$FRPSDQKDGRSHODVURVDVPLJUDGRUDV
$SDVFHQWRRVSLDQRVTXHJULWDP
(WUDQVPLWHPRDQWLJRFODPRUGRKRPHP
4XHUHFODPDQGRDFRQWHPSODomR
(Golconde, 1953)
6RQKDHSURYRFDDKDUPRQLD
7UDEDOKDPHVPRjIRUoD

(SHORYHQWRQDVIROKDJHQV
3HORSODQHWDSHORDQGDUGDVPXOKHUHV
3HORDPRUHVHXVFRQWUDVWHV
&RPXQLFDVHFRPRVGHXVHV
0XULOR0HQGHV
a) 2TXHVmRLPDJHQVRQtULFDV"2SRHPDDFLPDDSUH
VHQWDDOJXPD"7UDQVFUHYDR V YHUVR V HPTXHHODV 3. Veja a imagem:
RFRUUHP

b) ´$SDVFHQWR RV SLDQRV TXH JULWDPµ 4XH ÀJXUD GH


OLQJXDJHPRFRUUHQHVVHYHUVR"

(Sem esperança, 1945, Frida Kahlo)

306 Lit
Que efeitos são produzidos no espectador por essa e complemento. Outra curiosidade a respeito do mé-
imagem surreal? todo é que agrega mais de um autor. Cada um deles
intervém da maneira que desejar, porém, dobrando o
papel para que os demais colaboradores não tenham
conhecimento do que foi escrito.

O título do jogo provém do primeiro dos cadáveres


requintados conhecidos: ‘O cadáver requintado beberá
/ o vinho novo’.”

4. Leia o poema abaixo, de Paul Eluard (1895-1952):


A única
(ODWLQKDQDWUDQTXLOLGDGHGRVHXFRUSR
8PDSHTXHQDERODGHQHYHYHUPHOKD
(XWLQKDQRVRPEURV
8PDVRPEUDGRVLOrQFLRXPDVRPEUDURVD
&XEUDFRPVXDDXUpROD
6XDVPmRVHDUFRVHFDQWRUHVGyFHLV
(OHVTXHEUDUDPDOX]
(ODFRQWRXRVPLQXWRVVHPDGRUPHFHU
a) Quais são as expressões que colaboram para o estra-
nhamento no poema?

b) Como os pronomes sugerem um drama passional?

5.
“Cadáver elegante é um jogo coletivo surrealista
Man Ray, Yves Tanguy, Joan Miró e Max Morise. Le Cadavre exquis
inventado por volta de 1925 na França. (O cadáver requintado), 1926-27. Tinta, lápis, crayin colorido sobre
No início do século XX, o movimento surrealista papel, 37 x 23 cm.
IUDQFrV LQDXJXURX R PpWRGR GR TXH ÀFRX FRQKHFLGR Procure fazer um “cadáver requintado ou saboro-
2EM2021AP3

em português como cadáver requintado, elegante ou so”.


esquisito, (do francês cadavre exquis, i.e., cadáver de-
licioso) que subvertia o discurso literário convencional.
O cadáver saboroso tinha como propósito colocar na
mesma frase palavras inusitadas e utilizar da seguinte
estrutura frásica: artigo, substantivo, adjetivo, verbo

Lit 307
Volta de novo a noite e um mortal lamenta-se
E com ele sofre um outro.

Arrepiada sob estrelas de outono,


A cabeça mais baixa a cada ano.

Quais dois elementos recorrentes aparecem nos


6. Leia os três poemas abaixo, de Georg Trakl (1887- três textos?
1914):

7. Considere as imagens abaixo:


RONDEL
Foi-se o dourado dos dias,
Cor marrom e azul da tarde:
'RFHVÁDXWDVYmVGRSDVWRU
Cor marrom e azul da tarde
Foi-se o dourado dos dias.

MEU CORAÇÃO AO CREPÚSCULO


No crepúsculo ouve-se o grito dos morcegos.
Dois cavalos saltam no gramado.
O ácer vermelho sussurra.
Ao andarilho surge no caminho a pequena taberna.
Maravilhoso o sabor de vinho novo e nozes.
0DUDYLOKRVRFDPEDOHDUErEDGRQDÁRUHVWDFUHSXV
cular.
3HORVJDOKRVQHJURVUHVVRDPVLQRVDÁLWRV
No rosto pinga orvalho.

OLHANDO UM VELHO ÁLBUM


Sempre voltas, melancolia,
Mansidão da alma solitária.
3RUÀPDUGHXPGLDGRXUDGR

Com humildade curva-se à dor o paciente


Ressoando harmonia e suave loucura.
Olha! Já escurece.

308 Lit
2. Qual continente está chorando? Haveria uma razão
histórica para tal choro?

3. De que continente está nascendo o “homem novo”?


Que implicações o pintor sugeriu com isso?
Aula 32
Considere o poema abaixo:
Meu piano azul

´(X DFUHGLWR TXH RV ÀOPHV GR IXWXUR XVDUmR FDGD


YH] PDLV HVVHV ¶kQJXORV GH FkPHUD· RX FRPR SUHÀUR Tenho em casa um piano azul
chamá-los, esses ‘ângulos dramáticos’. Eles auxiliam o E não conheço uma só nota.
SHQVDPHQWRFLQHPDWRJUiÀFRµ (OHÀFDQRHVFXURjSRUWDGRSRUmR
F.W. Murnau
Desde que o mundo decaiu.
7DLVLPDJHQVIRUDPH[WUDtGDVGHLPSRUWDQWHVÀOPHV
Tocado a quatro mãos-estelares
do cinema expressionista alemão, tais como 2JDELQH
WHGRGRXWRU&DOLJDUL (1920) e 1RVIHUDWX (1922). Des- – A mulher-lua cantava no barco –
creva tais imagens, de modo a explicar por que elas Hoje os ratos dançam sobre as teclas.
são chamadas de expressionistas. O teclado está quebrado…
Eu choro pelos mortos azuis.
Ah anjo amado
– eu comi do pão azedo –
Enquanto ainda estou viva
Eu lhe peço – embora seja proibido –
Abra pra mim as portas do céu.

Else Lasker-Schüler (1869–1945) foi uma poeta ale-


TO Tarefa Obrigatória mã e judia. Viveu em Berlim até a chegada de Hitler ao
poder, em 1933.
Foi perseguida e atacada por ser judia e fugiu de
Aula 31
%HUOLPSDUD=XULTXHHPRQGHÀFRXSRUXPFXUWR
Veja a imagem abaixo: período. Em 1934 viajou para a Palestina e em 1937 se
estabeleceu em Jerusalém. Foi durante seus últimos
anos de vida em Jerusalém que ela escreveu seu livro
de poesia mais famoso, “Meu piano azul”, de 1943. O
poema homônimo, escrito em 1937, fala sobre seu exí-
lio e a proibição imposta pelo regime nazista à publi-
cação de suas obras.
2EM2021AP3

c) (Criança geopolítica assistindo o nascimento do ho-


mem novo, 1943, Salvador Dalí)
1. 7HQGRHPPHQWHRWH[WRELRJUiÀFRDFLPDDQDOLVHR
1. A imagem acima é eufórica (positiva, alegre) ou dis- SRHPD4XHVLJQLÀFDGRVHHVFRQGHSRUWUiVGRVGRLV
IyULFD QHJDWLYDUXLP "-XVWLÀTXH primeiros versos?

Lit 309
2. Há uma poderosa metáfora no verso:
+RMHRVUDWRVGDQoDPVREUHDVWHFODV
Quais os sentidos possíveis de tal metáfora?

3. Por que podemos dizer que se trata de um poema


expressionista?

AC Atividades Complementares

1. Considere a letra abaixo, cantada pelos Beatles:


Picture yourself in a boat on a river
With tangerine trees and marmalade skies
Somebody calls you, you answer quite slowly
A girl with kaleidoscope eyes Com quais vanguardas artísticas a letra acima mais
se relaciona? Por quê?
&HOORSKDQHÁRZHUVRI\HOORZDQGJUHHQ
Towering over your head
Look for the girl with the sun in her eyes Indicações do Professor:
And she’s gone • $VVLVWDDRÀOPHVXUUHDO´8P&mR$QGDOX]µ /XLV%XxXHO
Lucy in the sky with diamonds Salvador Dalí, 1929).
Lucy in the sky with diamonds • $VVLWDDRÀOPH´$2ULJHPµ &KULVWRSKHU1RODQ 

Lucy in the sky with diamonds • Visite o site: http://Www.culturapara.art.br/Opoema/


Georgtrakl/Georgtrakl.htm
Ah...
Follow her down to a bridge by a fountain
Where rocking horse people eat marshmallow pies
Anotações:
(YHU\RQHVPLOHVDV\RXGULIWSDVWWKHÁRZHUV
That grow so incredibly high
Newspaper taxis appear on the shore
Waiting to take you away
Climb in the back with your head in the clouds
And you’re gone
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Ah...
Picture yourself on a train in a station
With plasticine porters with looking glass ties
Suddenly someone is there at the turnstile
The girl with the kaleidoscope eyes
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Ah...

310 Lit
Aulas 33 e 34

Os heterônimos de Fernando Pessoa: Literatura


Alberto Caeiro e Ricardo Reis

AS Atividades de Sala

1. Leia o poema abaixo, do heterônimo Alberto Caei-


ro:
b) Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me
DA MINHA ALDEIA
FRQVLGHUDUUHLGRHVSDoRLQÀQLWR
William Shakespeare, em +DPOHW
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver
Como a frase acima, do atormentado príncipe da
no Universo...
Dinamarca, pode ser relacionada ao poema de Alberto
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra Caeiro, o pastor de rebanhos?
terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena


Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar
para longe
2. Considere o poema abaixo:
de todo o céu,
Quando Vier a Primavera
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os
nossos olhos
nos podem dar, Quando vier a Primavera,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza Se eu já estiver morto,
é ver. $VÁRUHVÁRULUmRGDPHVPDPDQHLUD
E as árvores não serão menos verdes que na Prima-
vera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme


Ao pensar que a minha morte não tem importância
nenhuma

Se soubesse que amanhã morria


E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de ama-
2EM2021AP3

nhã.
a) qual é a oposição básica que o poema acima apre-
senta? Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir se-
não no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gos-

Lit 311
tasse. Isso exige um estudo profundo,
Por isso, se morrer agora, morro contente, Uma aprendizagem de desaprender
Porque tudo é real e tudo está certo. E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as frei-
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. ras eternas
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. (DVÁRUHVDVSHQLWHQWHVFRQYLFWDVGHXPVyGLD
Não tenho preferências para quando já não puder 0DVRQGHDÀQDODVHVWUHODVQmRVmRVHQmRHVWUHODV
ter preferências. 1HPDVÁRUHVVHQmRÁRUHV
O que for, quando for, é que será o que é. 6HQGRSRULVVRTXHOKHVFKDPDPRVHVWUHODVHÁRUHV
(Poemas inconjuntos, Alberto Caeiro)
a) O eu lírico acima pode ser considerado narcisista? a) É possível dizer que o eu lírico defende uma desme-
taforização da realidade?

b) O eu lírico valoriza a imaginação?

b) FRPRRHXOtULFRHQWHQGHRSHQVDPHQWRHDÀORVRÀD"

3. Veja a imagem abaixo:

4. Analise os textos abaixo:

O que nós vemos das coisas são as coisas.


Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,


Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
1DGDÀFDGHQDGD1DGDVRPRV
Nem ver quando se pensa.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pesa
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vesti-
da!), Da úmida terra imposta.

312 Lit
/HLVIHLWDVHVWiWXDVDOWDVRGHVÀQGDV
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, porque não elas?
O que fazemos é o que somos. Nada
Nos cria, nos governa e nos acaba.
Somos contos contando contos, cadáveres
Adiados que procriam. 6. Veja a ode abaixo:
a) Em que os textos acima se assemelham? Quando, Lídia, vier o nosso Outono
Com o Inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o Estio, de quem somos mortos,
6HQmRSDUDRTXHÀFDGRTXHSDVVD³
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.

b) RTXDGURGRWH[WR,pFODVVLÀFDGRFRPR´PHPHQWR
PRULµ2TXHVLJQLÀFDLVVR"

4XDO VLJQLÀFDGR DVVXPHP DV IROKDV GH RXWRQR QR


5. 2HVWRLFLVPRIRLXPDÀORVRÀDGHVHQYROYLGDQD$QWLJD poema acima?
Grécia por Zeno de Cítio, a partir dos ensinamentos de
Sócrates. Leia o poema abaixo e aponte nele algum
elemento estoico:
Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.

TO Tarefa Obrigatória
2EM2021AP3

Aula 33

1. Leia o poema abaixo, de Alberto Caeiro:


2VSRHWDVPtVWLFRVVmRÀOyVRIRVGRHQWHV

Lit 313
(RVÀOyVRIRVVmRKRPHQVGRLGRV Amar é a eterna inocência,
3RUTXHRVSRHWDVPtVWLFRVGL]HPTXHDVÁRUHVVHQ E a única inocência não pensar...
tem
E dizem que as pedras têm alma TEXTO II
E que os rios têm êxtases ao luar. Estranhamento ou RVWUDQHQLH ƶƹƺƸƨƵƭƵưƭ IRLXP
termo utilizado pelo formalista russo Viktor Chklovski
0DVDVÁRUHVVHVHQWLVVHPQmRHUDPÁRUHV em seu trabalho “Iskusstvo kak priem” (“A Arte como
processo”) ou (“A Arte com procedimento”), publicado
Eram gente;
pela primeira vez em Poetika (1917). (...)
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas,
3DUD&KNORYVNLDRFRQWUiULR´$ÀQDOLGDGHGDDUWH
não eram pedras;
é dar uma sensação do objeto como visão e não como
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
reconhecimento; o processo da arte é o processo de
Os rios seriam homens doentes. singularização RVWUDQHQLH - (estranhamento) dos obje-
tos e o processo que consiste em obscurecer a forma,
a) 4XHÀJXUDGHOLQJXDJHPRHXOtULFRUHQHJDQRSRH HPDXPHQWDUDGLÀFXOGDGHHDGXUDomRGDSHUFHSomR
ma acima? 2DWRGHSHUFHSomRHPDUWHpXPÀPHPVLHGHYHVHU
b) Por que ele defende essa ideia? prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do obje-
to, aquilo que já se ‘tornou’ não interessa à arte.” (...)
2. Considere os textos abaixo: A tradução do termo RVWUDQHQLH, para o português
O Meu Olhar ou para o inglês tem sido escolhida como singulariza-
ção ou desfamiliarização (defamiliarization) e estra-
nhamento (estrangement).
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Como o poema de Alberto Caeiro comprova o con-
Olhando para a direita e para a esquerda,
ceito acima? Cite versos que corroborem sua resposta.
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento 3. Qual das imagens abaixo mais se liga à poesia do
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, KHWHU{QLPR$OEHUWR&DHLUR"-XVWLÀTXH

E eu sei dar por isso muito bem... a)

Sei ter o pasmo essencial


Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,


Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ... b)

O Mundo não se fez para pensarmos nele


(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

(XQmRWHQKRÀORVRÀDWHQKRVHQWLGRV
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...

314 Lit
c) Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

3HUHQHÁXLDLQWHUPLQiYHOKRUD
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

a) DTXDOÀORVRÀDJUHJDVHOLJDRSRHPDDFLPD"&RP
prove com um verso do texto.
b) qual classe de palavras é fundamental no poema
para valorizar o momento presente? Tais palavras
são enfatizadas, repetidas. Como se chama essa
ÀJXUDGHOLQJXDJHP"
d)

2. Contemple o quadro abaixo, sagaz aluna(o):

e)

$SRORFRURDGRSHOD9LWyULD, de Noel Coypel (1628-1707)

Por que podemos dizer que o assunto do quadro aci-


ma, pintado no distante século XVII, ecoa na poesia do
Aula 34 heterônimo Ricardo Reis?

1. Considere o poema abaixo, de Ricardo Reis: 3. Leia o poema abaixo:


Não só vinho, mas nele o olvido, deito
Uns, com os olhos postos no passado, Na taça: serei ledo, porque a dita
9HHPRTXHQmRYHHPRXWURVÀWRV É ignara. Quem, lembrando
2EM2021AP3

Os mesmos olhos no futuro, veem Ou prevendo, sorrira?


O que não pode ver-se. Dos brutos, não a vida, senão a alma,
Consigamos, pensando; recolhidos
Porque tão longe ir pôr o que está perto — No impalpável destino
A segurança nossa? Este é o dia,

Lit 315
Que não espera nem lembra. b) ao contrário de Tomás Antônio Gonzaga, o eu lírico
Com mão mortal elevo à mortal boca de Ricardo Reis parece valorizar algo que permane-
ce na correnteza brutal da vida. O que é?
Em frágil taça o passageiro vinho,
Baços os olhos feitos
Para deixar de ver. Indicações do Professor:
• Leia os heterônimos de Fernando Pessoa no livro Ficções
a) Como se caracteriza a linguagem do poema acima, do interlúdio, Companhia das letras, 1998.
pertencente ao heterônimo Ricardo Reis? • $VVLVWDDRGRFXPHQWiULR´)HUQDQGR3HVVRDRSRHWDÀQ
b) 2TXHpXPKLSpUEDWR"([HPSOLÀTXHFRPYHUVRVGR gidor” , no youtube.
poema.

AC Atividades Complementares Anotações:

1. Nos dois poemas a seguir, Tomás Antônio Gonzaga e


5LFDUGR 5HLV UHÁHWHP GH PDQHLUD GLIHUHQWH VREUH D
SDVVDJHPGRWHPSRGHODH[WUDLQGRXPD´ÀORVRÀDGH
vida”. Leia-os com atenção:
LIRA 14 (Parte I)

0LQKDEHOD0DUtOLDWXGRSDVVD
DVRUWHGHVWHPXQGRpPDOVHJXUD
VHYHPGHSRLVGRVPDOHVDYHQWXUD
YHPGHSRLVGRVSUD]HUHVDGHVJUDoD

4XHKDYHPRVGHHVSHUDU0DUtOLDEHOD"
TXHYmRSDVVDQGRRVÁRUHVFHQWHVGLDV"
$VJOyULDVTXHYrPWDUGHMiYrPIULDV
HSRGHHQÀPPXGDUVHDQRVVDHVWUHOD
$KQmRPLQKD0DUtOLD
$SURYHLWHVHRWHPSRDQWHVTXHIDoD
RHVWUDJRGHURXEDUDRFRUSRDVIRUoDVHDRVHPEODQ
WHDJUDoD
(TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA,” Marília de Dirceu”)

4XDQGR/tGLDYLHURQRVVRRXWRQR
&RPRLQYHUQRTXHKiQHOHUHVHUYHPRV
8PSHQVDPHQWRQmRSDUDDIXWXUD
3ULPDYHUDTXHpGHRXWUHP
1HPSDUDRHVWLRGHTXHPVRPRVPRUWRV
6HQmRSDUDRTXHÀFDGRTXHSDVVD
2DPDUHORDWXDOTXHDVIROKDVYLYHP
(DVWRUQDGLIHUHQWHV
(RICARDO REIS, “Odes”)
a) (PTXHFRQVLVWHD´ÀORVRÀDGHYLGDµTXHDSDVVD
gem do tempo sugere ao eu lírico do poema de To-
más Antônio Gonzaga?

316 Lit
Aulas 35 e 36

A Modernidade de Walt Whitman e Álvaro de Campos Literatura


Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qual-
quer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a von-
tade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser so-
zinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de compa-
nhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
AS Atividades de Sala
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
3HTXHQDYHUGDGHRQGHRFpXVHUHÁHWH
1. Considere o texto abaixo: Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
LISBON REVISITED Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me
(1923) sinta.

Não: não quero nada Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tar-
do...
Já disse que não quero nada.
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar
Não me venham com conclusões!
sozinho!
A única conclusão é morrer. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática,
Não me tragam estéticas! 1944 (imp. 1993).

Não me falem em moral! a) Como se chama o tipo de verso empregado no poe-


ma acima?
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me en-
ÀOHLUHPFRQTXLVWDV
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)

Das ciências, das artes, da civilização moderna!
2EM2021AP3

4XHPDOÀ]HXDRVGHXVHVWRGRV"
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da
técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.

Lit
LL 317
b) 'HÀQDRSHUÀOGRHXOtULFRGRSRHPDDFLPD Percebo que não ajo com orgulho mas elevado que
RQtYHORQGHSODQWRPLQKDFDVDDÀQDO

Existo como sou, isso me basta,


VHQLQJXpPPDLVQRPXQGRHVWiFLHQWHÀFRFRQWHQ
WHHVHFDGDXPHWRGRVHVWmRFLHQWHVÀFRFRQWHQWH

Meu pedestal é encaixado e entalhado em granito.


Dou risada do que você chama de decomposição,
sei da amplidão do tempo.
Sou poeta do corpo,
e sou o poeta da alma...
2. Veja a imagem abaixo: Walt Whitman

Walt Whitman é considerado o “pai do verso livre”,


WHQGRYLYLGRQRV(8$QRVpFXOR;,;&RPRYFGHÀQLULDR
SHUÀOGRHXOtULFRDFLPD"

4. Segue-se abaixo um soneto de Álvaro de Campos:


3RGHPRVGL]HUTXHDFKDUJHDFLPDUHÁHWHRSHQVD AH, UM SONETO...
mento da poesia futurista de Augusto de Campos? Por Meu coração é um almirante louco
quê? 4XHDEDQGRQRXDSURÀVVmRGRPDU
E que a vai relembrando pouco a pouco
Em casa a passear a passear...

No movimento (eu mesmo me desloco


Nesta cadeira, só de o imaginar)
2PDUDEDQGRQDGRÀFDHPIRFR
Nos músculos cansados de parar.

3. Leia o poema abaixo: Há saudades nas pernas e nos braços.


E sei que sou imortal, há saudades no cérebro por fora.
sei que minha órbita não pode ser medida pelo com- Há grandes raivas feitas de cansaços.
passo do carpinteiro,
Sei que não apagarei como espirais de luz que crian- Mas — esta é boa! — era do coração
ças fazem à noite com graveto aceso.
Que eu falava... e onde diabo estou eu agora
Sei que sou sublime,
Com almirante em vez de sensação?...
1mRWRUWXURPHXHVStULWRSDUDTXHVHMXVWLÀTXHRX
a) Quanto à forma do poema, podemos dizer que se
seja compreendido,
trata de um típico poema modernista? Por quê?
Vejo que as leis elementares nunca se desculpam,

318 Lit
LL
ject won;
Exult, O shores, and ring, O bells!
But I, with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

b) O que explica a confusão percebida pelo eu lírico na a) As metáforas empregadas pelo poeta pertencem a
última estrofe? que campo semântico?

b) A que faz referência a metáfora “ship”?


5. Por ocasião da morte do presidente Abraham Lin-
coln, Walt Whitman compôs aquele que talvez seja o
seu mais conhecido poema, abaixo transcrito:
O Captain! my Captain! our fearful trip is done;
The ship has weathered every rack, the prize we
sought is won;
The port is near, the bells I hear, the people all
exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim
and daring:
But O heart! heart! heart! TO Tarefa Obrigatória
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Aula 35
Fallen cold and dead.
O Captain! my Captain! rise up and hear the bells; 1. Veja a imagem abaixo:
For you bouquets and ribboned wreaths—for you the
shores a-crowding;
For you they call, the swaying mass, their eager fa-
ces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head;
It is some dream that on the deck,
You’ve fallen cold and dead.
My Captain does not answer, his lips are pale and
2EM2021AP3

still;
My father does not feel my arm, he has no pulse
nor will; (“Arquitetura”, 1939, de Tullio Crali)
The ship is anchored safe and sound, its voyage clo- Como a pintura acima se aproxima da poesia do he-
sed and done; terônimo Álvaro de Campos?
From fearful trip, the victor ship, comes in with ob-

Lit
LL 319
2. Leia o poema abaixo: Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
POEMA EM LINHA RETA E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Como posso eu falar com os meus superiores sem
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em titubear?
tudo. Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 3. Que crítica o eu lírico faz à sociedade?
Indesculpavelmente sujo,
4. 4XHÀJXUDGHOLQJXDJHPpDPSODPHQWHXVDGDSHOR
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para
eu lírico para criticar a sociedade?
tomar banho,
Aula 36
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tape-
1. 9HMDDEDL[RDOJXPDVIUDVHVGRÀOyVRIR$UWKXU6FKR
tes das etiquetas,
penhauer (1788-1860):
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e ar-
“A vida é um processo constante de morte.”
rogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
´&DVDU VLJQLÀFD UHGX]LU SHOD PHWDGH RV GLUHLWRV H
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ri-
dobrar os deveres.”
dículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
“Perdemos três quartos de nós mesmos tentando
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços
ser como as outras pessoas.”
de fretes,
(X TXH WHQKR IHLWR YHUJRQKDV ÀQDQFHLUDV SHGLGR
emprestado sem pagar, “Religião é a obra-prima da arte do adestramento
animal, porque treina as pessoas sobre como elas de-
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho
vem pensar.”
agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
“A vida balança como um pêndulo para trás e para
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coi-
a frente entre a dor e o tédio.”
sas ridículas,
(XYHULÀFRTXHQmRWHQKRSDUQLVWRWXGRQHVWHPXQ
do.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxova-
lho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes —
na vida...
Os pensamentos acima encontram eco em alguma
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana parte da poesia do heterônimo Álvaro de Campos? Jus-
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; WLÀTXH
Que contasse, não uma violência, mas uma cobar-
dia! 2. Segue-se abaixo um excerto do poema “Tabacaria”:

Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam. Fiz de mim o que não soube

Quem há neste largo mundo que me confesse que (RTXHSRGLDID]HUGHPLPQmRRÀ]


uma vez foi vil? O dominó que vesti era errado.
Ó príncipes, meus irmãos, Conheceram-me logo por quem não era e não des-
Arre, estou farto de semideuses! menti, e perdi-me.

Onde é que há gente no mundo? Quando quis tirar a máscara,

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra? Estava pegada à cara.

Poderão as mulheres não os terem amado, Quando a tirei e me vi ao espelho,

320 Lit
LL
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não Meu coração tem pouca alegria,
tinha tirado. E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Horror fechado da tabacaria!
Como um cão tolerado pela gerência Desde ontem a cidade mudou.
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou su- Mas ao menos a ele alguém o via.
blime.
(OHHUDÀ[RHXRTXHYRX
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Que condição social o eu lírico aponta como a gran-
Desde ontem a cidade mudou.
de causa da destruição do “eu”? Álvaro de Campos
a) ,GHQWLÀTXH GXDV PDUFDV IRUPDLV TXH QR SRHPD
3. Outro trecho de “Tabacaria” pode ser lido abaixo:
contribuem para criar a ideia de monotonia.
0DV R'RQRGD7DEDFDULD FKHJRX j SRUWD H ÀFRX j b) Do ponto de vista do “eu lírico”, que fato quebra
porta. essa monotonia?
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo. Anotações:
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os ver-
sos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a
tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.

Um dos sentidos da palavra “escatológico” pode


ser aplicado ao trecho acima. Qual sentido seria esse?
-XVWLÀTXH

AC Atividades Complementares

1. Leia o poema abaixo:


Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.


Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
2EM2021AP3

Ele era o dono da tabacaria.


Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Lit
LL 321
Aulas 37 e 38

Fernando Pessoa Ortônimo Literatura

b) Que nome damos a tal situação, como a que ocorre


no poema acima, em que ele analisa a si mesmo?

2. Leia, com atenção, o soneto abaixo:


Abismo de ser muitos! Noite Minha!
Abismo de ser muitos! Noite Minha!
AS Atividades de Sala Encruzilhada do meu vasto ser!
Quem quero que seja eu? Quem, no entrever
“QUEM TEM ALMA, NÃO TEM CALMA” Do que fui, treva anónima e mesquinha?

1. Considere o poema abaixo:


Como o último estandarte da rainha
AUTOPSICOGRAFIA
&RPTXHPRLPSpULRÀQGRVHSHUGHX
2SRHWDpXPÀQJLGRU
Descem dos astros mudos do atro céu,
Finge tão completamente
Poesia, as razões de quanto fui ou tinha.
4XHFKHJDDÀQJLUTXHpGRU
A dor que deveras sente.
Nos rumores da treva do que foi
Recuam na derrota a murmurar
E os que leem o que escreve,
As hostes sem (...) e sem herói
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Do meu destino feito a ignorar,
Mas só a que eles não têm.
E, como à última rainha, dói
No meu peito um segredo por achar.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
O poema acima parece apontar para o principal fe-
Esse comboio de corda
nômeno literário que caracteriza a obra de Fernando
Que se chama coração. Pessoa. Aponte-o, comprovando com versos extraídos
do texto.
a) Que processo literário é analisado no poema acima?

322 Lit
3. Considere a imagem abaixo:

5. Considere o poema abaixo:


Há uma música do povo,
Nem sei dizer se é um fado —
Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado...

Ouvindo-a sou quem seria


Se desejar fosse ser...
+iDOJXPDMXVWLÀFDWLYDSDUDTXHVHUHSUHVHQWH)HU É uma simples melodia
nando Pessoa com a imagem acima? Das que se aprendem a viver...

E ouço-a embalado e sozinho...


É essa mesma que eu quis...
Perdi a fé e o caminho...
Quem não fui é que é feliz.

Mas é tão consoladora


A vaga e triste canção...
4. Leia o texto: Que a minha alma já não chora
Eu amo tudo o que foi, Nem eu tenho coração...
Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é, Sou uma emoção estrangeira,
A dor que já me não dói, Um erro de sonho ido...
A antiga e errônea fé, Canto de qualquer maneira
O ontem que dor deixou, E acabo com um sentido!
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou a) Que efeitos tem a música sobre o eu lírico?
E hoje é já outro dia.

a) A que temática tipicamente portuguesa se relaciona


o poema acima?

b) O que é o fado?

b) A que fato pode fazer referência o verso “a antiga


2EM2021AP3

e errônea fé”?

Lit 323
6. Leia o poema abaixo: São lágrimas de Portugal!
D. SEBASTIÃO Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
REI DE PORTUGAL 4XDQWRVÀOKRVHPYmRUH]DUDP
4XDQWDVQRLYDVÀFDUDPSRUFDVDU
Louco, sim, louco, porque quis grandeza Para que fosses nosso, ó mar!
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza; Valeu a pena? Tudo vale a pena
Por isso onde o areal está Se a alma não é pequena.
Ficou meu ser que houve, não o que há. Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Minha loucura, outros que me a tomem Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Com o que nela ia. Mas nele é que espelhou o céu.
Sem loucura, que é o homem (Mensagem, “Mar português”)
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria? O primeiro texto é uma estrofe retirada do famoso
episódio de Velho de Restelo, na obra máxima de Ca-
a) de que “loucura” se fala no poema acima? mões. Tal episódio, como é sabido, deixa uma questão
por muito tempo não respondida. Até nascer Fernando
Pessoa. Em sua visão, como o poeta de Lisboa satisfez
o questionamento do Velho de Restelo?

b) segundo o eu lírico de Dom Sebastião, o que é o


homem desprovido da loucura?
8. Segue-se abaixo um dos últimos poemas de 0HQVD
JHP (1934):
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
'HÀQHFRPSHUÀOHVHU
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
7. Compare os dois textos abaixo: Brilho sem luz e sem arder
—”A que novos desastres determinas Como o que o fogo-fátuo encerra.
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas Ninguém sabe que coisa quer.
Debaixo dalgum nome preminente? Ninguém conhece que alma tem,
Que promessas de reinos, e de minas Nem o que é mal nem o que é bem.
D’ouro, que lhe farás tão facilmente? (Que ânsia distante perto chora?)
Que famas lhe prometerás? que histórias? Tudo é incerto e derradeiro.
Que triunfos, que palmas, que vitórias? Tudo é disperso, nada é inteiro.
(Os lusíadas, canto IV, estrofe 97) Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Valete, Fratres.
MAR PORTUGUÊS
a) a metáfora usada acima pelo eu lírico passa que
Ó mar salgado, quanto do teu sal
ideia de Portugal?

324 Lit
b) O “mostrengo” é uma referência a uma famosa per-
sonagem de Os lusíadas, que surge no canto V. De
quem se trata e o que ele representa?

b) que sentidos podem ser interprestados no verso “É


a hora!”?

TO Tarefa Obrigatória

Aula 37
Considere o poema abaixo:
CHUVA OBLÍQUA
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto
LQÀQLWR
( D FRU GDV ÁRUHV p WUDQVSDUHQWH GH DV YHODV GH
9. Leia o texto: grandes navios
ANTEMANHÃ Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
2PRVWUHQJRTXHHVWiQRÀPGRPDU Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
Veio das trevas a procurar O porto que sonho é sombrio e pálido
A madrugada do novo dia, E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Do novo dia sem acabar; Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E disse: «Quem é que dorme a lembrar E os navios que saem do porto são estas árvores ao
Que desvendou o Segundo Mundo, sol...
Nem o Terceiro quer desvendar?» Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abai-
xo...
E o som na treva de ele rodar O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Faz mau o sono, triste o sonhar, Que se levanta e se ergue como um muro,
Rodou e foi-se o mostrengo servo E os navios passam por dentro dos troncos das ár-
vores
Que seu senhor veio aqui buscar.
Com uma horizontalidade vertical,
Que veio aqui seu senhor chamar —
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a
Chamar Aquele que está dormindo
uma dentro...
E foi outrora Senhor do Mar.
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
a) Os dois últimos versos fazem referência a um fenô-
meno cultural e místico muito conhecido em Portu- E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá
gal. De que se trata? estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a
arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que
2EM2021AP3

passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta pai-
sagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...

Lit 325
1. A que campo semântico pertencem as metáforas Gira, a entreter a razão,
HPSUHJDGDVQRWH[WR"-XVWLÀTXHFRPDOJXPYHUVR Esse comboio de corda
2. A qual das vanguardas estudadas em aulas anterio- Que se chama coração.
res esse poema mais se liga? Cite um verso que com-
1. A palavra título indica que:
prove sua resposta.
a) o texto apresentará a visão do eu lírico sobre os
3. 4XDLV GXDV ÀJXUDV GH OLQJXDJHP RFRUUHP QR YHUVR outros com quem convive.
abaixo: b) o poema tecerá considerações sobre a subjetivida-
“Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio” de do próprio eu lírico.
c) o texto discutirá a formação do leitor.
Aula38
d) o poema dialogará com os leitores em potencial.
Considere o poema:
e) o poema tecerá considerações sobre o amor.
O DOS CASTELOS
2. Do poema de Fernando Pessoa entende-se que
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
a) RSRHWDQmRpGLJQRGHFRQÀDQoD
'H2ULHQWHD2FLGHQWHMD]ÀWDQGR
b) DDUWHpXPDH[SUHVVmRGHGRUPHVPRTXDQGRÀF
E toldam-lhe românticos cabelos
tícia.
Olhos gregos, lembrando. c) DHPRomRTXHXPSRHPDH[SULPHpÀFWtFLD
O cotovelo esquerdo é recuado; d) nem tudo o que se sente é verdade.
O direito é em ângulo disposto. e) o poeta sofre muito para escrever.
Aquele diz Itália onde é pousado;
3. A leitura de Mensagem, de Fernando Pessoa, permi-
Este diz Inglaterra onde, afastado, WHDLGHQWLÀFDomRGHFHUWDVOLQKDVGHIRUoDTXHJXLDP
A mão sustenta, em que se apoia o rosto. e, até certo ponto, singularizam o espírito do homem
Fita, com olhar esfíngico e fatal, português, dando-lhe marca muito especial. Dentre as
O Ocidente, futuro do passado. alternativas a seguir, em qual se enquadraria melhor
essa ideia?
2URVWRFRPTXHÀWDp3RUWXJDO
(Mensagem, “Brasão”)
a) Preocupação com os destinos de Portugal do século
vinte.
1. 4XHÀJXUDGHOLQJXDJHPpHVVHQFLDOQDFRQVWUXomR b) Preocupação com a história político-social de Por-
do poema acima? tugal.
c) Recorrência de certas constantes culturais portu-
2. Pensando na resposta da pergunta anterior, que mo- guesas, como o messianismo.
WLYRV KLVWyULFRV H JHRJUiÀFRV MXVWLÀFDP 3RUWXJDO VHU
d) Reordenação da história portuguesa desde Dom Se-
visto como o rosto da Europa?
bastião.
e) A marca da religião católica na alma portuguesa
3. A expressão “olhar esfíngico e fatal” é uma alusão
como força determinante….
a qual mito grego. Pesquise-o e explique-o sucinta-
mente. Indicações do Professor:
• Leia poemas do livro Mensagem (1934), única obra de
AC Atividades Complementares Fernando Pessoa publicada em vida.
• Assista ao “Filme do Desassossego”, de João Botelho.
$XWRSVLFRJUDÀD
Portugal, 2010.
2SRHWDpXPÀQJLGRU
Finge tão completamente
4XHFKHJDDÀQJLUTXHpGRU
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda

326 Lit
Respostas

Aulas 25 e 26

1. A cultura musical sertaneja, em que as “modas de viola” repre-


sentavam o cotidiano árduo dos trabalhadores rurais.

Aulas 27 e 28

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2. O Morcego, enquanto metáfora no poema, se liga à ideia freu-
diano do superego, por conta do dever , da ordem, da moral,
conceitos ligados à consciência explicitada no próprio poema.

Aulas 29 e 30

1. a) as estrofes não têm coerência entre si. As sete mostram


cenas absolutamente independentes, autônomas, desligadas,
formando juntas um texto fragmentado ou cubista.
b) Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco
A estrofe acima é uma referência a uma das últimas frases ditas
por Cristo ao morrer na cruz, segundo os evangelhos do Novo
Testamento cristão.
c) Seria uma rima, não seria uma solução;
d) Sugerir a velocidade do bonde.

Aulas 31 e 32

1. As imagens psicodélicas e oníricas aproximam a letra da ten-


GrQFLDVXUUHDO2H[FHVVRGHFRUHVQRHQWDQWRVRIUHLQÁXrQFLD
expressionista.

Aulas 33 e 34

1. a) refere-se à necessidade premente de aproveitar o tempo,


haja vista a efemeridade inelutável da existência.
b) a sabedoria, a experiência, simbolizadas na expressão “o
amarelo atual que as folhas vivem, e que as torna diferentes”.

Aulas 35 e 36

1. a) o uso das mesmas rimas terminadas em “-ia” e “-ou” ; a


repetição do verso: “Desde ontem a cidade mudou”
b) a morte de Alves, o dono da tabacaria.

Aulas 37 e 38

1. b
2. c
3. c
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