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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Educação Infantil em tempo de pandemia: Da Base Nacional Comum Curricular a


Pedagogia da Escuta

Bárbara Cristina Gomes Lima

Pólo: Itaguaí

RIO DE JANEIRO
2022
Educação Infantil em tempo de pandemia: Da Base Nacional Comum Curricular a
Pedagogia da Escuta

Por:
Bárbara Cristina Gomes Lima
Matrícula:
19112080090

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à FACULDADE DE
EDUCAÇÃO da UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO como
requisito parcial à obtenção do GRAU DE
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA, na
modalidade EAD.

RIO DE JANEIRO
2022
Educação Infantil em tempo de pandemia: Da Base Nacional Comum Curricular a
Pedagogia da Escuta

Por:
Bárbara Cristina Gomes Lima

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado aos professores
............................................e
..................................................................

_________________________________
Professor Orientador

________________________________
Professor Examinador

RIO DE JANEIRO
2022
Uma homenagem às voltas que a minha
vida deu e que me trouxeram até aqui. Com
carinho para meu marido e meus filhos que
me auxiliaram nessa jornada.
RESUMO

Esta pesquisa tem como tema, a Educação Infantil na Pandemia, e como assunto a
Educação Infantil. Objetiva analisar como as escolas de Educação Infantil que
trabalham seguindo a abordagem da Pedagogia da Escrita, criada por Loris Malaguzzi
em escolas municipais da região de Reggio Emilia, na Itália, deram prosseguimento às
atividades durante a pandemia. A Pedagogia da Escuta coloca a criança como
protagonista do processo de aprendizagem, a observação sensível do professor e a
documentação pedagógica como etapas fundamentais do processo. A BNCC, Base
Nacional Comum Curricular, preconiza os campos de experiência e os Direitos de
Aprendizagem, que envolvem a participação ativa da criança e do professor. Importante
lembrar que a BNCC teve a abordagem malaguzziana como uma de suas principais
fontes. Com essas informações, esta pesquisa pretende identificar: i) Os elementos da
abordagem pedagógica criada por Loris Malaguzzi no trabalho dessas escolas; ii) As
atividades e a ações promovidas no campo pedagógico dessas escolas, durante o período
da pandemia; iii) As estratégias definidas para que os vínculos afetivos preconizados
pela abordagem fossem mantidos. A metodologia desta pesquisa será utilizando a
pesquisa de campo, através de questionários enviados a duas escolas de educação
infantil que declaram utilizar inspiração em Reggio Emila. A abordagem qualitativa será
utilizada nessa pesquisa. A parte teórica será fundamentada em autores como Maria
Alice Proença (2018), Carla Rinaldi (2020), nas pesquisas de Paulo Fochi (2020) e em
documentos norteadores. Essa escolha aconteceu pela preocupação com a preservação
dos direitos de aprendizagem das crianças da Educação Infantil e por uma curiosidade
de como ocorreram esses processos.

Palavras chave: Educação Infantil. Pandemia. Reggio Emilia.


SUMÁRIO

RESUMO--------------------------------------------------------------------------------------------

1.JUSTIFICATIVA---------------------------------------------------------------------------------

2. OBJETIVOS--------------------------------------------------------------------------------------

3. METODOLOGIA---------------------------------------------------------------------------------

4. INTRODUÇÂO----------------------------------------------------------------------------------

5.CAPÍTULO UM-----------------------------------------------------------------------------------

6.CAPÍTULO DOIS---------------------------------------------------------------------------------

7.CAPÍTULO TRÊS---------------------------------------------------------------------------------

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS---------------------------------------------------------
JUSTIFICATIVA
A Pedagogia da Escuta, termo popularizado por Loris Malaguzzi, é uma
abordagem acolhedora e enriquecedora para propor uma prática educativa interessante,
cujo papel do professor é agir por meio do amor e do respeito, possibilitando a criança
se expressar livremente na sala de aula. “Em sala de aula”. Partindo dessa informação, a
pesquisa tentará descobrir como uma escola que adota, dentre outras, essa abordagem,
está realizando o trabalho em tempos de pandemia1
A Educação Infantil deve ser guiada, dentre outros documentos, pela Base
Nacional Comum Curricular – BNCC, que preconiza as interações e brincadeiras.
Inclusive é grande a inspiração da BNCC e seus campos de experiência na experiência
italiana de Reggio Emilia, a Pedagogia da Escuta.
Diferente das outras etapas da Educação, a Educação Infantil tem princípios
norteadores que parecem não se moldarem a atividades remotas. Além disso, existe a
questão das desigualdades sociais que impedem que todos tenham o mesmo acesso as
atividades remotas. Como pensar uma Educação Infantil na realidade da pandemia, que
pense em formas diferenciadas de manter os vínculos com a criança perdendo o mínimo
possível das ideias da Pedagogia da Escuta e da obrigatória BNCC.
Uma preocupação constante dos educadores da Educação Infantil é fazer com
que os responsáveis dos alunos compreendam a importância dessa etapa para o pleno
desenvolvimento das crianças. Essa é uma das inquietações que nos trouxeram a essa
pesquisa. Como o trabalho online vem sendo realizado pelas famílias? As escolas
receberam as devolutivas adequadas para as atividades propostas? Afinal, a Educação
Infantil foi levada tão a sério pelas famílias quanto seriam levadas outras etapas de
ensino? Os direitos de aprendizagem das crianças estão preservados e valorizados? A
aprendizagem na pandemia, ainda mais do que fora dela, deixou clara a necessidade de
uma cooperação de pais, escolas e professores para o sucesso dessa empreitada.
No poema “As cem linguagens” (MALAGUZZI, 1999), o pedagogo italiano
versa sobre o papel da escola e da sociedade, além de afirmar que as crianças possuem
diversas formas de expressão como o canto, a pintura, a dança, além da escrita e da
oralidade. A criança fala pelo olhar, pelo gesto, na observação curiosa do mundo a sua
volta e nas brincadeiras. A criança tem múltiplas linguagens e desenvolvem seus

1
Pandemia da Covid-19 iniciada no fim de 2019 na China e que rapidamente se espalhou pelo mundo,
inclusive no Brasil.
saberes. Nesse sentido, parece muito difícil o trabalho na Educação Infantil realizado
longe da escola e do olhar observador do professor, mas as escolas tentaram, e essa a
motivação deste trabalho, entender como escolas que trabalham metodologias que
dispensam apostilas, livros didáticos e as famosas “folhinhas”, continuaram seus
trabalhos sem perder a essência da inspiração de Reggio Emilia e obedecendo ao que
preconizam os documentos legais, a BNCC e o DCNEI, as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Tendo como embasamento as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e a BNCC, Fochi (2020) destaca ideias
do que ele considerar importantes no currículo para a Educação Infantil no contexto
pandêmico e fora dele:

1- Primeira deve estar direcionado para o desenvolvimento


integral da criança e dialogar com a função sócio política
pedagógica do desenvolvimento da criança em detrimento a
instrução, a transmissão de conhecimentos. Olhar a criança
como a unidade de inteireza de vida. 2- O segundo ponto é
referente ao direito da criança ao conhecimento sócio histórico,
e isso, não pode ser realizado de qualquer jeito, pelas vias da
transmissão e sim pela articulação dos saberes e das
experiências das crianças com o patrimônio que a humanidade
sistematizou. É preciso criar condições para que a criança
possa acessar esse conhecimento, mas que ela possa fazer isso
de tal forma que ela articule esses os seus saberes e sua
experiência com este patrimônio e não ao contrário. 3- terceiro:
reconhecer que a vida cotidiana é curricular, e isso não se pode
abrir mão. (FOCHI, 2020, 2:10:00).

Fochi (2020) alerta para o caminho mais fácil por parte das escolas que é o envio
de trabalhos escritos e palpáveis para as crianças nesse período, para de certa forma, até
mesmo ceder a pressão dos pais que não entendem completamente qual é a real função
da Educação Infantil, tendo ainda muitos familiares que acreditam que a alfabetização
deva ser iniciada ainda nesta etapa. Tanto a BNCC, quanto as DCNEI, tem as interações
e brincadeiras como eixo curricular. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 05/2009), em seu Artigo 4º, definem a
criança como um

sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e


práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL,
2009, p. 37).
A BNCC (2017) nos fornece mais embasamento teórico a cerca do que se
esperar de uma criança da Educação Infantil, e a relação desses documentos com a
abordagem da Escuta ativa da criança:

As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de


seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas
potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo
tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um
risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das
crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado
das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a
emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a
instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para
que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e
na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo
repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com
o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do
espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar,
engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas
e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas,
alongar-se etc.

Tendo em vista as questões levantadas acima e as devidas explicações, o tema


para esse TCC é: como as escolas de educação infantil, pautadas pelas brincadeiras e
interações, e a escuta atenta das crianças, sujeitas de múltiplas linguagens, realizaram
seu trabalho de aprendizagem durante o período de escolhas fechadas pela pandemia.
OBJETIVOS

Objetivo Geral

Analisar como duas escolas de educação infantil, que trabalham com conceitos da
Pedagogia da Escuta, em consonância com a BNCC, mantiveram os vínculos com os
alunos, e como conduziram seu trabalho pedagógico perdendo o mínimo possível do
que preconiza essa abordagem, frente às limitações impostas pela pandemia de Covid19
nos anos 2020/2021

Objetivos Específicos

a) Identificar elementos da abordagem pedagógica criada por Loris


Malaguzzi no trabalho dessas escolas;
b) Descrever as atividades e a ações promovidas no campo pedagógico
dessas escolas, durante o período da pandemia;
c) Descrever as estratégias definidas para que os vínculos afetivos
preconizados pela abordagem fossem mantidos.

Assim, ao longo desse trabalho de pesquisa, o foco da investigação estará


diretamente ligado ao seguinte problema: De que forma as crianças da educação
infantil, estudantes de escolas - especialmente as adeptas a Pedagogia da Escuta –
tiveram seus direitos de aprendizagem assegurados?

Dessa maneira ao longo do trabalho a pesquisa irá confirmar ou não seguintes


hipóteses: i) essas escolas conseguiram ou não manter um vinculo afetivos com seus
alunos; ii) as escolas conseguiram fugir do excesso do uso de livros e folhas como
forma de suprir a ausência física na escola mesmo com uma possível pressão para
“mostrarem serviço”; iii) houve uma boa aceitação por parte das famílias ao trabalho
realizado pelas escolas durante esse período.
METODOLOGIA

Segundo TOZONI-REIS (2010), as pesquisas em educação são essencialmente


qualitativas. A abordagem qualitativa será utilizada nessa pesquisa, pois se caracteriza
pela possibilidade de interpretação dos dados coletados.
O tipo de pesquisa utilizada será a de Campo. De acordo com TOZONI-REIS
(2010), a pesquisa de campo se caracteriza pela ida do pesquisador, no caso ao espaço
educacional, para a coleta de dados. Porém, algumas escolas não tem aberto seus
espaços para pessoas de fora, especialmente pela questão da pandemia. Dessa forma,
essa pesquisa será realizada através de entrevista estruturada feita por questionário
enviado por email e pela observação das redes sociais das escolas. Serão pesquisadas
duas escolas diferentes para a elaboração desta pesquisa. É importante salientar, que as
escolas com a abordagem da Pedagogia da Escuta, também conhecida como abordagem
Reggio Emilia, trabalham com suas redes sociais como forma de amostragem de
documentação pedagógica para a comunidade escolar. Os trabalhos são publicados
como hipóteses das descobertas das crianças, de pesquisa dos professores e alvo de
observação das famílias (BARACHO,2011). E este foi um dos elementos incorporados
pelos documentos oficiais norteadores da Educação Infantil no Brasil, a BNCC e as
Diretrizes Curriculares, o uso dos registros pedagógicos como um “diário” das
atividades realizadas e das conquistas das crianças como cidadãs e sujeito de direitos
(DCNEI,2010)
Esta monografia também buscará embasamento em pesquisas bibliográficas
recentes dos anos 2020/2021 para enriquecer as descobertas feitas com a pesquisa de
campo, já que este é um assunto relativamente novo. Porém, já são encontrados diversos
artigos e vídeos de teóricos importantes sobre o tema.
INTRODUÇÃO

Essa monografia tem como tema Educação Infantil na pandemia. Trata-se de


trabalhar como as escolas de educação infantil que se dizem seguidores da Pedagogia da
Escuta, inspiradas pela produção de Reggio Emilia conduziram as atividades para as
crianças durante a pandemia da Covid-19, em quase dois anos de escolas fechadas.

A pesquisa tem como problema a análise de como os direitos de aprendizagem


das crianças foram respeitados, se a educação infantil de maneira geral preconiza a
afetividade de acordo com os estudos de Wallon(1986) , a escuta das “cem linguagens
da criança” Malaguzzi(1999) e a criança como protagonista do seu próprio
conhecimento Rinaldi (2020)
A Pedagogia da Escuta, termo popularizado por Loris Malaguzzi, é uma
abordagem acolhedora e enriquecedora para propor uma prática educativa interessante,
cujo papel do professor é agir por meio do amor e do respeito, possibilitando a criança
se expressar livremente na sala de aula. “Em sala de aula”. Partindo dessa informação, a
pesquisa tentará descobrir como uma escola que adota, dentre outras, essa abordagem,
está realizando o trabalho em tempos de pandemia.
A Educação Infantil deve ser guiada, dentre outros documentos, pela Base
Nacional Comum Curricular – BNCC, que preconiza as interações e brincadeiras.
Inclusive é grande a inspiração da BNCC e seus campos de experiência na experiência
italiana de Reggio Emilia, a Pedagogia da Escuta.
Diferente das outras etapas da Educação, a Educação Infantil tem princípios
norteadores que parecem não se moldarem a atividades remotas. Além disso, existe a
questão das desigualdades sociais que impedem que todos tenham o mesmo acesso as
atividades remotas. Como pensar uma Educação Infantil na realidade da pandemia, que
pense em formas diferenciadas de manter os vínculos com a criança perdendo o mínimo
possível das ideias da Pedagogia da Escuta e da obrigatória BNCC.
Uma preocupação constante dos educadores da Educação Infantil é fazer com
que os responsáveis dos alunos compreendam a importância dessa etapa para o pleno
desenvolvimento das crianças. Essa é uma das inquietações que nos trouxeram a essa
pesquisa. Como o trabalho online vem sendo realizado pelas famílias? As escolas
receberam as devolutivas adequadas para as atividades propostas? Afinal, a Educação
Infantil foi levada tão a sério pelas famílias quanto seriam levadas outras etapas de
ensino? Os direitos de aprendizagem das crianças estão preservados e valorizados? A
aprendizagem na pandemia, ainda mais do que fora dela, deixou clara a necessidade de
uma cooperação de pais, escolas e professores para o sucesso dessa empreitada.
No poema “As cem linguagens” (MALAGUZZI, 1999), o pedagogo italiano
versa sobre o papel da escola e da sociedade, além de afirmar que as crianças possuem
diversas formas de expressão como o canto, a pintura, a dança, além da escrita e da
oralidade. A criança fala pelo olhar, pelo gesto, na observação curiosa do mundo a sua
volta e nas brincadeiras. A criança tem múltiplas linguagens e desenvolvem seus
saberes. Nesse sentido, parece muito difícil o trabalho na Educação Infantil realizado
longe da escola e do olhar observador do professor, mas as escolas tentaram, e essa a
motivação deste trabalho, entender como escolas que trabalham metodologias que
dispensam apostilas, livros didáticos e as famosas “folhinhas”, continuaram seus
trabalhos sem perder a essência da inspiração de Reggio Emilia e obedecendo o que
preconizam os documentos legais, a BNCC e o DCNEI, as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Tendo como embasamento as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e a BNCC, Fochi (2020) destaca ideias
do que ele considerar importantes no currículo para a Educação Infantil no contexto
pandêmico e fora dele:

1- Primeira deve estar direcionado para o desenvolvimento


integral da criança e dialogar com a função sócio política
pedagógica do desenvolvimento da criança em detrimento a
instrução, a transmissão de conhecimentos. Olhar a criança
como a unidade de inteireza de vida. 2- O segundo ponto é
referente ao direito da criança ao conhecimento sócio histórico,
e isso, não pode ser realizado de qualquer jeito, pelas vias da
transmissão e sim pela articulação dos saberes e das
experiências das crianças com o patrimônio que a humanidade
sistematizou. É preciso criar condições para que a criança
possa acessar esse conhecimento, mas que ela possa fazer isso
de tal forma que ela articule esses os seus saberes e sua
experiência com este patrimônio e não ao contrário. 3- terceiro:
reconhecer que a vida cotidiana é curricular, e isso não se pode
abrir mão. (FOCHI, 2020, 2:10:00).

Fochi (2020) alerta para o caminho mais fácil por parte das escolas que é o envio
de trabalhos escritos e palpáveis para as crianças nesse período, para de certa forma, até
mesmo ceder a pressão dos pais que não entendem completamente qual é a real função
da Educação Infantil, tendo ainda muitos familiares que acreditam que a alfabetização
deva ser iniciada ainda nesta etapa. Tanto a BNCC, quanto as DCNEI, tem as interações
e brincadeiras como eixo curricular. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 05/2009), em seu Artigo 4º, definem a
criança como um

sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e


práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL,
2009, p. 37).

A BNCC (2017) nos fornece mais embasamento teórico a cerca do que se


esperar de uma criança da Educação Infantil, e a relação desses documentos com a
abordagem da Escuta ativa da criança:

As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de


seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas
potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo
tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um
risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das
crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado
das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a
emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a
instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para
que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e
na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo
repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com
o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do
espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar,
engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas
e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas,
alongar-se etc.

Tendo em vista as questões levantadas acima e as devidas explicações, o tema


para esse TCC é: como as escolas de educação infantil, pautadas pelas brincadeiras e
interações, e a escuta atenta das crianças, sujeitas de múltiplas linguagens, realizaram
seu trabalho de aprendizagem durante o período de escolhas fechadas pela pandemia.

Essa pesquisa tem por objetivo geral analisar como duas escolas de educação
infantil, que trabalham com conceitos da Pedagogia da Escuta, através ou não da
BNCC, mantiveram os vínculos com os alunos, e como conduziram seu trabalho
pedagógico perdendo o mínimo possível do que preconiza essa abordagem, frente às
limitações impostas pela pandemia de Covid19 nos anos 2020/2021 e como objetivos
específicos

a) Identificar elementos da abordagem pedagógica criada por Loris


Malaguzzi no trabalho dessas escolas;
b) Descrever as atividades e a ações promovidas no campo pedagógico
dessas escolas, durante o período da pandemia;
c) Descrever as estratégias definidas para que os vínculos afetivos
preconizados pela abordagem fossem mantidos.

Assim, ao longo desse trabalho de pesquisa, o foco da investigação estará


diretamente ligado ao seguinte problema: De que forma as crianças da educação
infantil, estudantes de escolas - especialmente as adeptas a Pedagogia da Escuta –
tiveram seus direitos de aprendizagem assegurados?

Dessa maneira ao longo do trabalho a pesquisa irá confirmar ou não seguintes


hipóteses: i) essas escolas conseguiram ou não manter um vinculo afetivos com seus
alunos; ii) as escolas conseguiram fugir do excesso do uso de livros e folhas como
forma de suprir a ausência física na escola mesmo com uma possível pressão para
“mostrarem serviço”; iii) houve uma boa aceitação por parte das famílias ao trabalho
realizado pelas escolas durante esse período.

A metodologia de pesquisa utilizada será qualitativa como são as pesquisas no


campo da Educação. O tipo de pesquisa utilizada será a de Campo. De acordo com
TOZONI-REIS (2010), a pesquisa de campo se caracteriza pela ida do pesquisador, no
caso ao espaço educacional, para a coleta de dados. Porém, algumas escolas não tem
aberto seus espaços para pessoas de fora, especialmente pela questão da pandemia.
Dessa forma, essa pesquisa será realizada através de entrevista estruturada feita por
questionário enviado por email e pela observação das redes sociais das escolas. Serão
pesquisadas três escolas diferentes para a elaboração desta pesquisa. É importante
salientar, que as escolas com a abordagem da Pedagogia da Escuta, também conhecida
como abordagem Reggio Emilia, trabalham com suas redes sociais como forma de
amostragem de documentação pedagógica para a comunidade escolar. Os trabalhos são
publicados como hipóteses das descobertas das crianças, de pesquisa dos professores e
alvo de observação das famílias (BARACHO,2011). E este foi um dos elementos
incorporados pelos documentos oficiais norteadores da Educação Infantil no Brasil, a
BNCC e as Diretrizes Curriculares, o uso dos registros pedagógicos como um “diário”
das atividades realizadas e das conquistas das crianças como cidadãs e sujeito de
direitos (DCNEI,2010)
Esta monografia também buscará embasamento em pesquisas bibliográficas
recentes dos anos 2020/2021 para enriquecer as descobertas feitas com a pesquisa de
campo, já que este é um assunto relativamente novo. Porém, já são encontrados diversos
artigos e vídeos de teóricos importantes sobre o tema.

No primeiro capítulo realizou-se um levantamento dos principais conceitos


envolvidos nesta pesquisa tendo em vista um melhor entendimento da justificativa da
pesquisa.

No segundo capítulo foi trabalhado o levantamento dos dados obtidos com as


pesquisas e questionários enviados as escolas consultadas, assim como a apresentação
de algumas atividades publicadas nas redes sociais dessas escolas.

No terceiro capítulo desenvolve-se um apanhado do que foi feito nessas escolas


para manter os vínculos com os estudantes e debater se foram suficientes para respeitar
os direitos das crianças da educação infantil, promovendo alguma forma de afeto e
protagonismo mesmo que a distância.
1 – EaD na Educação Infantil? É possível?

A priori, todas as escolas de Educação Infantil tem inspiração na abordagem


malaguzziana, tendo em vista eu todas devem seguir a base Nacional Curricular, que
tem elementos dessa abordagem em sua construção. Sendo assim, todas as escolas
deveriam ter elementos desta abordagem, e sim, identificamos ao menos na teoria
muitas dessas práticas. Porém, muito se perde no processo, até porque, o método de
Reggio Emilia é típico de Reggio Emilia, só funciona inteiramente em Reggio Emilia,
especialmente pelo contexto histórico. O que temos são inspirações.(FOCHI) Dentro do
que preconiza os mais modernos documentos que norteiam a Educação Infantil, dentro
dos preceitos de Loris Malaguzzi, não, é impossível EaD nesta fase. O pedagogo e
doutor em Educação Paulo Fochi, inclusive foi um dos consultores e redatores da
BNCC para a Educação Infantil, realizou diversas lives e entrevistas no período
pandêmico e em todas foi enfático ao dizer que não existe ensino remoto para a
Educação Infantil. Baseado em diversos documentos que regem esta fase do ensino,
como a BNCC, os DCNEI’s, e bebendo na fonte de Reggio Emilia, Fochi(2020),
criticou a lógica neoliberalista em querer apressar, acelerar uma “retomada” de
atividades, cuja a intencionalidade não fosse pedagógica, e sim de manter os alunos
pagando mensalidade. Preocupação justificável quando pensamentos nas obrigações
financeiras dessas instituições, porém segundo Fochi, faltou um “carinho” com o que
realmente importa, o desenvolvimento integral das crianças. Paulo Freire (1996) já dizia
que ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica, entender que estamos
condicionados a aceitar a economia como um “destino que não se pode evitar”, e não
como realidade imposta por aqueles que detêm o poder econômico:

“O discurso da globalização que fala em ética esconde, porém,


que a sua é a ética do mercado e não a ética universal do ser
humano, pela qual devemos lutar bravamente se optarmos, na
verdade, por um mundo de gente.” FREIRE (1996)

Ao analisarmos a obra de Paulo Freire, encontramos elementos parecidos com a


proposta pedagógica de Reggio Emilia, colocando as crianças como sujeitos de direitos,
entre eles à palavra e a participação. A criança produtora de cultura, com a prática
educativa voltada para “o olhar e a escuta sensível para as crianças e suas leituras de
mundo” (SILVA,2017). Em 1990, no Congresso Educacional de Reggio Emilia,
estiveram presentes educadores de todo mundo, incluindo Freire, que foi o primeiro
palestrante.

“Bom amigo Malaguzzi,


Menino eterno, pede-me, antes de eu retornar ao Brasil, que
escreva algumas palavras dedicadas à meninas e aos meninos
italianos. Não sei se saberia dizer algo de novo a um tal pedido.
O que poderia dizer ainda aos meninos e às meninas deste final
de século? Primeira coisa, aquilo que posso dizer em função de
minha longa experiência nesse mundo, é que devemos fazê-lo
sempre mais bonito. É baseando-me em minha experiência que
torno a dizer, não deixemos morrer a voz dos meninos e das
meninas que estão crescendo.”
(Paulo Freire, abril, 1990. (FREIRE apud FARIA: SILVA,
2013)

O que se observou, especialmente nas escolas particulares adeptas da chamada


pedagogia tradicional, foi justamente uma cobrança que não deveria caber as crianças
dessa modalidade. E esta é infelizmente uma realidade que vem desde antes da
pandemia, pressionadas por pais e pela competição de mercado que diz que as melhoras
escolas são aquelas que alfabetizam primeiro. Uma competição que não faz bem a quem
realmente deveria se beneficiar, os alunos. Crianças pequenas se viram tomadas por
folhas de pintar, de pontilhados, de recortar e colar, atividades que deveriam ter ficado
no passado, especialmente quando temos segundo a BNCC, as interações e as
brincadeiras como eixo dos currículos da educação infantil. Esta afirma que toda a
Educação Infantil deve se apoiar nos direitos de aprendizagem que são: conviver,
brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Não existe interação significativa
no formato online. Importante ressaltar que essa fase da educação não deve ser vista
como um preparatório para o Ensino Fundamental.

“Escola de educação Infantil não é um espaço de ensino, é um


espaço de educação. Não tem função acadêmica e sim o
desenvolvimento integral das crianças, que se dá por meio de
interação, e não dá pra fazer isso online.” FOCHI (2022).
A infância anda em ritmo diferente ao imposto pelo neoliberalismo. Anda em
ritmo contrário a vida frenética imposta pelo capital e pelas demandas sociais.
Certamente os mais prejudicados pelo fechamento das escolas foram às famílias mais
pobres, foram as mães que precisavam dos espaços para deixar seus filhos e irem ao
trabalho. Por mais que a educação infantil tenha deixado de ser assistencialista, muitas
famílias a utiliza como rede de apoio e não como um espaço para desenvolver
habilidades e competências. Apesar de este trabalho ter o foco na questão pedagógica, a
questão social é um fato que não pode ser ignorado quando pensarmos na questão da
Educação Infantil em tempos de pandemia. As desigualdades sociais ficaram ainda mais
expostas com a pandemia. A questão dos aparelhos adequados, da disponibilização da
internet, das plataformas educacionais adequadas, o treinamento dos profissionais da
educação, todos foram fatores que aumentaram as disparidades entre o ensino público e
o privado. Saviani(2021) fala sobre como o ensino remoto, sem aparelhagem, internet e
formação adequada, seria uma falácia:

A expressão ensino remoto passou a ser usada como alternativa


à educação a distância (EAD). Isso, porque a EAD já tem
existência estabelecida, coexistindo com a educação presencial
como uma modalidade distinta, oferecida regularmente.
Diferentemente, o “ensino” remoto é posto como um substituto
excepcionalmente adotado neste período de pandemia, em que
a educação presencial se encontra interditada. (SAVIANI, 2020
p.38)

Ainda na questão da educação infantil, de modo geral, o trabalho foi mais social
quando olhamos para a rede pública, conforme exposto mais adiante. Apesar da pressão
da maior parte da rede particular, o afastamento se manteve. Rinaldi(2014) aponta que a
educação infantil malaguzziana, deve seguir as crianças e não os planos. Deve seguir a
autonomia infantil ainda que a ação do professor deva ser planejada e baseada nos
documentos oficiais. Como será que ocorreu na pandemia, seguimos as crianças ou os
planos?
2 – A experiência de uma escola privada

A escola particular que escolhida para realizar a pesquisa, foi a Bendita Escola
de Educação Infantil. Fica localizada em Pedra de Guaratiba, zona oeste da cidade do
Rio de Janeiro. Segundo o site da escola, ela se propõe para além das práticas
educativas, uma construção de memórias, pautada em uma educação
Sociointeracionista, utilizando a Pedagogia de Projetos para obter práticas significativas
considerando as diversas linguagens das crianças. Entendendo a infância como um
momento repleto de particularidades e significâncias, acreditando na importância de
uma educação humanista que respeite a individualidade da criança. Utiliza o repertório
teórico de nomes como Loris Malaguzzi, Jean Piaget, Paulo Freire, Maria Montessouri e
Emmi Pikler.

2.1 - Sobre a atuação da Bendita Escola durante o isolamento social


Abaixo segue transcrito o depoimento na íntegra de Kissy Guimarães, gestora da
Bendita Escola.
“Em 13 de Março de 2020 a Bendita Escola interrompeu o atendimento
presencial, cumprindo determinação da Prefeitura do Rio de Janeiro, em função da
pandemia de COVID-19. O isolamento social, e a retirada brusca da vida no coletivo,
nos colocou frente ao desafio de ressignificar a nossa atuação no sentido de que
pudéssemos dar continuidade aos vínculos afetivos e relações já estabelecidas entre as
crianças e seus educadores. Diante de uma enxurrada de exemplos em que, a fim de
manter suas relações contratuais, escolas e sistemas de ensino sobrecarregaram crianças
e jovens de atividades remotas e maçantes. Crianças, jovens e famílias agora tiveram
que aprender a lidar com uma nova rotina em que estar em frente à tela era pressuposto
para quem quisesse dar continuidade ao “aprendizado”.
Na Bendita Escola, nossa atuação foi pautada sobre a reflexão coletiva “o que
estamos dispostos a fazer, sobretudo, com a certeza de que iremos nos orgulhar
futuramente por não termos aberto mão de convicções e ideias?”. Os referenciais
curriculares que norteiam a Educação Infantil preconizam que os eixos estruturantes do
segmento são as brincadeiras e interações, e que não se podem compreender as
aprendizagens significativas à primeira infância sem considerar que a vida cotidiana
promove tais situações. A partir dessa perspectiva, o ensino a distância não responderia
às nossas convicções. No entanto, nosso planejamento visava ampliar as possibilidades
de encontro entre crianças e famílias, compreendendo que o cotidiano é por si só um
importante promotor de experiências que desdobram em aprendizagens, inclusive nos
próprios contextos das casas e das rotinas familiares.
Uma preocupação foi formar e informar adultos para o melhor convívio com
bebês e crianças em isolamento social. Para tanto, enviamos uma carta aberta para os
responsáveis e realizamos rodas de conversa online entre educadores e especialistas em
saúde.”

1. Carta aberta aos pais e mães da Bendita Escola.


“Vimos por meio desta dar-lhes ciência quanto ao posicionamento da Bendita Escola
em relação aos últimos debates que envolvem orientações às famílias com atividades
escolares destinadas as crianças em idade pré-escolar.
A Educação Infantil é uma modalidade da Educação Básica cujo o objetivo é de
ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades das crianças,
diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar
à educação familiar. No entanto estamos vivendo uma pandemia que,
momentaneamente, nos impossibilita o convívio social no ambiente escolar.
Neste momento o interesse maior de todos nós, pais e educadores, é pela
manutenção da VIDA. Não temos urgência em preparar nossas crianças para o futuro
acadêmico, e sim em ajudá-las a compreender que somos seres naturais e que devemos
cuidar dos nossos corpos como manifestação única e potente da natureza. E para isso,
neste contexto de isolamento social, contamos com a compreensão de cada um de
vocês, mães e pais, para o que é realmente necessário.
Não se preocupem em buscar atividades direcionadas ou dicas de "como manter
sua criança ocupada". APENAS VIVAM!
Acolham suas crianças. Permitam que elas desfrutem de suas companhias,
estejam disponíveis. Compartilhem experiências que lhes permitam protagonizar os
cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se) e os cuidados com a casa e
com os alimentos. Destinem tempo de qualidade às brincadeiras. Plantem sementes e
acompanhem juntos o desenvolvimento das plantas. Permitam-lhe, sobretudo, o direito
de escolha.
Chegará o tempo em que estaremos juntos novamente, e então poderemos
constatar que a qualidade dos momentos compartilhados por vocês e suas crianças,
durante a quarentena, contribuiu com o repertório de experiências a serem relatadas,
revividas ou apenas refletidas em crescimento não apenas de suas crianças, MAS
PRINCIPALMENTE DE VOCÊS: MÃES E PAIS.
Encarem essa quarentena como uma oportunidade de viverem intensamente a
infância de seus filhos. E tenham certeza de que tudo ficará bem!”

2. Encontros online para rodas de conversas com educadores e profissionais


da saúde:
Sobre vínculo afetivo, cuidado privilegiado, motricidade livre a partir do olhar
sensibilizado pela Abordagem Pikler.
Sobre alimentação saudável no contexto da casa, com uma nutricionista.

Garantir o contato do bebê e da criança na natureza:

- Bendita de Portas Abertas – considerando a importância de que as crianças


pudessem retomar a vida nos espaços naturais, em contato com a natureza, abrimos o
quintal da escola para uma família por dia. A Coordenação Pedagógica organizava
contextos investigativos considerando a faixa etária para receber a criança / família que
estariam na escola. Dentro do espaço escolar, não era estabelecido nenhum tipo de
contato físico entre família e escola. Ao final da permanência dos participantes
brinquedos, materiais e espaços eram sanitizados, e a agenda era aberta para outras
famílias interessadas.
Ampliar as experimentações e descobertas a partir das brincadeiras em
casa:

Bendita em casa – envios semanais de roteiros e materiais que propiciassem


pesquisas, experiências sensoriais, criações estéticas, grafismo, linguagens, além de
livros de literatura infantil. Os desdobramentos eram partilhados em encontros remotos,
em tempo adequado à faixa etária (conforme a orientação da SBP sobre o tempo de uso
de tela na infância), nos quais as crianças podiam dialogar entre elas com a mediação da
educadora.
3 – A experiência na rede municipal de ensino da cidade do Rio de
Janeiro.

Não sendo possível pesquisar exclusivamente em uma escola, esta pesquisa


procurou se basear nas Orientações Curriculares para a Educação Infantil da cidade do
Rio de Janeiro, no Manual para profissionais da Educação Infantil do Rio de Janeiro –
lançado em 2021- e em relato de experiência de uma professora de educação infantil da
rede municipal.

3.1 – O que dizem os documentos municipais cariocas.

Os documentos institucionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de


Janeiro tem objetivos que dialogam com os Campos de Experiência, presentes na
BNCC e na abordagem de Reggio Emilio. Ambos constam em sua bibliografia,
juntamente com as DCNEI. A primeira infância carioca tem bebês, crianças bem
pequenas e crianças pequenas como foco. A educação infantil deixou de fazer parte da
Secretária de Assistência Social em 2003, tardiamente, deixando de ter cunho
assistencialista e passando para a educação básica como escrito na Constituição Federal
de 1988, sendo agora responsabilidade da Secretaria de Educação. Reconhecendo que as
crianças são sujeitos de direitos e competentes. O currículo carioca desde o início
aponta que os sujeitos da primeira infância devem ser o foco do trabalho pedagógico,
são os protagonistas, são os agentes de interesse, curiosidade, observação e respeito aos
seus direitos. Por sua vez, os adultos devem ter uma escuta sensível, acolhendo as
crianças em suas singularidades e potencialidades. Devem entender que segundo Fochi
(2018), os bebês tem agência, iniciativa, desejo e observam as relações das pessoas e do
mundo a sua volta.
Em consonância com a abordagem malaguzziana e as diferentes linguagens da
criança, o currículo carioca defende que os pequenos são produtoras de cultura. Elas dão
outros usos a objetos, outras vidas e outros significados e é papel do professor de
educação infantil assegurar interações e brincadeiras que sejam diversas, de qualidade e
criativas. Atividades que possam ampliar a narrativa que os sujeitos da primeira infância
constroem a sua volta, tendo a criança sempre como o centro do planejamento e do
currículo, tendo em vista que “o currículo é movimento, é acontecimento.” (SME-RJ-
2020)
3.2 – Então veio a pandemia.

Segundo o relato da professora Ana, inicialmente todos pensavam que seriam


apenas alguns dias. Conforme os dias foram se estendendo por semanas, o contato da
escola com as famílias se dava basicamente por meio do aplicativo de mensagens
Whatsapp. No início as informações eram escassas, incluindo as que as escolas
recebiam da Secretaria Municipal de Educação, e as primeiras medidas de busca dos
alunos veio por parte da escola com a criação dos grupos das turmas no aplicativo.
Algumas escolas também criaram páginas em redes sociais como o Facebook e o
Instagram para dar os informes para as famílias. Ana fala que em sua escola o retorno
foi muito positivo e que poucos não retornavam o contato. Quando foram tentar
descobrir o que estava acontecendo para não terem uma resposta dessas famílias,
deparavam-se com a dura realidade das desigualdades sociais que foram especialmente
cruéis com as famílias mais pobres durante a pandemia. Algumas famílias não tinham
celular ou tinham apenas um para atender a todos os seus membros.
A maior preocupação era a manutenção dos vínculos entre a escola, os
funcionários e as famílias. O grupo familiar
Considerações finais

Vários artigos consultados para este trabalho, falavam da importância do uso e


da apropriação por escolas, famílias e professores, de novas tecnologias digitais em
momentos de afastamento escolar. Durante a pandemia, realmente este era o meio mais
fácil de contato entre as partes. Porém observo que isto se deu principalmente para a
manutenção de vínculos no caso das escolas de Educação Infantil. Infelizmente muitas
escolas que pregam a educação tradicional, mesmo que regidas pela BNCC, ainda
trabalham a alfabetização como foco da educação infantil, uma visão deturpada do
objetivo dessa etapa. Logo, muitas atividades foram enviadas em apostilas e pdf’s, para
serem feitas em casa. Isso aconteceu principalmente em escolas particulares, quando
além da proposta pedagógica ultrapassada em diversos pontos, existe a pressão dos
familiares, para dar a impressão de que algo estava sendo feito. Existe um longo
caminho para se percorrer na Educação Infantil nesse sentido, um caminho de
conscientização das famílias e também para escolas e professores, sobre o que
realmente deve ser o trabalho para as crianças dessa idade. No Brasil, particularmente
acredito que será um caminho árduo, visto o conservadorismo em geral que vemos em
nossa sociedade nos últimos anos. Conservadorismo este que vem atacando educadores
e escolas tão ferozmente em todas as etapas da educação. Como já visto anteriormente,
a modalidade online não cabe na educação infantil, principalmente sob uma perspectiva
da escuta ativa, do acolhimento, das “cem linguagens” da criança. A criança como
protagonista de seus processos.
Tive como pesquisadora, muito dificuldade em encontrar uma escola que
realmente seguiu, o mais próximo possível, a abordagem da Pedagogia da Escuta

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Educação Infantil e os Campos de Experiência: Reflexões conceituais entre Brasil e
Itália. Revista Humanidades e Inovação, Palmas, volume 6, n.15, p.(241-256), outubro,
2019. Disponível em:
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em: 08/09/2021

BARACHO, Nayara Vicari de Paiva. A documentação na abordagem de Reggio


Emilia para a Educação Infantil e suas contribuições para as práticas pedagógicas:
um olhar e as possibilidades em um contexto brasileiro / Nayara Vicari de Paiva
Baracho; orientação Marieta Lúcia Machado Nicolau. São Paulo: s.n., 2011.

BRASIL.. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.

CNE/CEB. Parecer nº 5, de 28 de abril de 2020. Reorganização do Calendário


Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de
cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-
19. Brasília: MEC/CNE, 2020. Disponível em: . Acesso em 15 jun. 2022.

CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO (Rio de Janeiro). Deliberação nº 39 de


02/04/2020. Orienta as instituições do Sistema Municipal de Ensino do Rio de Janeiro
sobre a realizaçaõ de atividades escolares em regime especial domiciliar, em caráter
excepcional, no perıó do em que permanecerem em isolamento social fixado pelas
autoridades municipais e pela comunidade médico-cientıf́ ica, em razaõ da necessidade
de prevençaõ e combate ao COVID-19 - Coronavıŕ us. Disponı́vel em:
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=392540. Acesso em 13 ago. 2022.

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FOCHI, P. Vamos falar sobre a BNCC? O que são campos de experiência? Lunetas,
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FOCHI, P. (15 de Jun de 2020). 1 Live ( 2:10:00). Plenária Virtual: Questões para
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Publicado no canal do Fórum Gaúcho de Educação Infantil:
https://www.youtube.com/watch?v=Q2KkWdjEZjs Acesso em: 08/09/2021.

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