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045036-2
Ementa:
1
Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor Rua Paraguassu, 478 - Juvevê -
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EGRÉGIO CONSELHO SUPERIOR,
1. Relatório
2
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relação de consumo entre o locador/proprietário do imóvel e a imobiliária como
fornecedora de serviços, na condição de intermediária, mandatária ou substituta
do proprietário. Já na relação contratual entre imobiliária e locador, não ocorre
relação de consumo, porque regida por legislação específica, a Lei 8245/91,
publicada posteriormente ao Código de Defesa do Consumidor, e por não fazer
referência à aplicação deste, já que no artigo 79 chama à colação
subsidiariamente o Código Civil e o Código de Processo Civil.
O Conselho Superior do Ministério Público, por seu turno, pela sua
conspícua relatora, converteu a promoção de arquivamento em diligência para
fins de solicitar a este CAOPCON que “emita parecer sobre os fatos em
estudo”.
É o relatório.
2. Do fundamento do arquivamento
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Justiça, já que o indicativo jurisprudencial majoritário acostado como
fundamento, e outros que se extrai dos Tribunais regionais é no sentido da
inocorrência de relação de consumo, de consequência a não acatar a incidência
do Código de Defesa do Consumidor.
O Promotor foi movido, por certo, pelo ânimo de racionalidade na
atuação, eis que uma incursão judicial para a busca da prestação jurisdicional
esbarraria, por certo ante a concretude jurisprudencial, numa negativa.
Veja-se, inclusive, que, ainda que reputemos equivocada 1, a Min.
Laurita Vaz, no REsp 605.295/MG, entendeu não haver legitimidade do
Ministério Público em face de apenas uma imobiliária, na busca da defesa de
direito do consumidor2.
A considerar esses aspectos, a promoção de arquivamento não é
desarrazoada e ateve-se com o acerto in procedendo, sob a luz da pragmática
operacional.
O acatamento e homologação por parte do Egrégio Conselho
Superior do Ministério Público do arquivamento intentado, não seria
desconforme, diante de majoritário entendimento pretorial de não incidência do
Código de Defesa do Consumidor.
1
No nosso entendimento o que legitima o Ministério Público a promover ACP é a identificação de lesão a
direitos coletivos (sentido amplo), não importando se causado por um, dois ou vários fornecedores. Fosse
como entende a ministra, uma única empresa que poluísse um rio, não mereceria a tutela supraindividual
do Ministério Público.
2
LOCAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROPOSTA EM FACE DE APENAS UMA
ADMINISTRADORA DE IMÓVEL. CLÁUSULA CONTRATUAL ABUSIVA. ILEGITIMIDADE
ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. DIREITO INDIVIDUAL PRIVADO. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE. 1. Nos termos do art. 129, inciso III, da
Constituição Federal e do art. 25, inciso IV, letra a, da Lei n.º 8.625/1993, possui o Ministério Público,
como função institucional, a defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e
homogêneos. 2. No caso dos autos, a falta de configuração de interesse coletivo afasta a legitimidade ativa
ad causam do Ministério Público para ajuizar ação civil pública objetivando a declaração de nulidade de
cláusulas abusivas constantes de contratos de locação realizados com apenas uma administradora do ramo
imobiliário. 3. É pacífica e remansosa a jurisprudência, nesta Corte, no sentido de que o Código de Defesa
do Consumidor não é aplicável aos contratos locatícios, que são reguladas por legislação própria.
Precedentes 4. Recurso especial desprovido. (STJ: REsp 605.295/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2009, DJe 02/08/2010)
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3.1. Da doutrina
3.2. Da jurisprudência
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STJ: AgRg no AREsp 101.712/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
03/11/2015, DJe 06/11/2015; AgRg no AREsp 41.062/GO, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2013, DJe 13/05/2013; REsp 605.295/MG, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2009, DJe 02/08/2010.
6
STJ: REsp 509.304/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 16/05/2013, DJe 23/05/2013.
7
TJPR - 1ª Turma Recursal: Processo nº 0003700-26.2014.8.16.0178/0 - Curitiba - Rel.: Fernanda de
Quadros Jorgensen Geronasso - J. 03.02.2016; Processo nº 0016220-69.2015.8.16.0182/0 - Curitiba -
Rel.: Fernando Swain Ganem - J. 08.04.2016; Processo nº 0026652-59.2012.8.16.0019/1 - Ponta Grossa -
Rel.: Leo Henrique Furtado Araújo - J. 06.11.2015; Processo nº 0012481-90.2014.8.16.0031/0 -
Guarapuava – Rel. Ana Paula Kaled Accioly Rodirgues da Costa - J. 22.04.2015
8
TJPR - 11ª Câm.Cível: AC - 1456068-0 - Curitiba - Rel.: Dalla Vecchia - Unânime - J. 03.02.2016; AI -
1270023-9 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - Rel.: Rui Bacellar Filho -
Unânime - J. 11.02.2015; AC - 1161499-2 - Curitiba - Rel.: Francisco Cardozo Oliveira - Unânime - J.
19.11.2014; AC - 1132295-9 - Curitiba - Rel.: Ruy Muggiati – Unânime - J. 09.07.2014; AC - 1086541-5 -
Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - Rel.: Renato Lopes de Paiva - Unânime - J.
26.03.2014 e 12ª Câm.Cível - AC – 1197122-9 - Rel.: Rosana Amara Girardi Fachin - J. 24.03.2014
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Em via transversa, há 4 julgados das Turmas Recursais 9 admitindo
a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor nos contratos de locação,
pois reconhecem existir relação de consumo entre imobiliária (representante do
locador) e locatário, todavia, não foram localizados nenhum julgado neste
sentido nas Câmaras Cíveis, nos últimos 04 anos.
comerciante que teve o olho atingido por estilhaços de uma garrafa de cerveja que explodiu enquanto
manuseava-a.
11
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor, 6a. ed., Atlas, SP, p. 48. Ensina o
autor que … “o que se tem em mira no parágrafo único do art. 2° do Código do Consumidor é a
universalidade, conjunto de consumidores de produtos e serviços, ou mesmo grupo, classe ou categoria
deles, e desde que relacionados a determinado produto ou serviço. Tal perspectiva é extremamente
relevante e realista, porquanto é natural que se previna, por exemplo, o consumo de produtos ou serviços
perigosos ou então nocivos, beneficiando-se, assim, abstratamente, as referidas universalidades categorias
de potenciais consumidores.”
12
MIRAGEM, Bruno. “Curso de Direito do Consumidor”, p. 87-88
13
Art. 29: “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas”.
9
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4.2. O locatário como consumidor equiparado por extensão
14
TJPR: 11ª C.Cível - AI - 1470783-4 - Araucária - Rel.: Dalla Vecchia - Unânime - J. 30.03.2016
15
STJ: REsp 509.304/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 16/05/2013, DJe 23/05/2013
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firme nesse sentido, como Rizzatto Nunes 16 que, por pertinente vale
transcrever:
16
NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 10a. Ed., SP, Saraiva, 2015, p. 132.
17
NUNES, Rizzatto. op cit, p. 132.
18
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos. “Código Brasileiro de Defesa do Consumidor:
Comentado pelos autores do anteprojeto”/Ada Pellegrini Grinover… [et al], 10a. ed, Rio de Janeiro ,
Forense, 2011, Vol. I, p. 272.
19
Refere-se ao artigo 29 do CDC, anoto.
20
VENOSA, Sílvio de Salvo. “Lei do Inquilinato Comentada”, p. 27.
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Assim, urge demonstrar que a postura inadequada dos Tribunais
(Superior e Regionais) precisa mudar, em sua maioria, no sentido de que há a
figura do locatário como consumidor equiparado pela coexistência de
obrigações entre imobiliária e locador, aqui de mesma natureza (agora pelo
artigo 2°, caput do CDC), pela simples razão de que é compulsório aplicar o
dispositivo inserido no artigo 29 do CDC. Por força deste comando legislativo, o
julgador necessariamente deve aplicar a legislação consumerista nas relações
locatícias. Quando o proprietário se socorre da prestação de serviços de uma
imobiliária (esta na condição de fornecedora no conceito do CDC, artigo 3°, e
parágrafos)21 está inserindo-se numa relação de consumo, presentes que se
fazem os elementos subjetivos (consumidor e fornecedor, respectivamente), e
de outro, o produto, ou bem economicamente considerado, o imóvel posto em
locação, elemento esse objetivamente tutelado.
Pois bem, essa relação jurídica e fática extrapola os limites das
partes envolvidas para “projetar-se” a terceiros que estão predispostos ou, nos
termos da lei, “expostos” a essa prática ou a essas cláusulas, que são, em
especial e principalmente os locatários, os interessados em tomar a posse do
imóvel mediante uma contraprestação mensal, o aluguel. E é verdadeira a
assertiva, pois, hipotética e contrariamente, inexistindo essa relação fática e
jurídica entre locador (consumidor) e fornecedor (imobiliária), não há relação de
21
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço
é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.(negritei). Embora a imobiliária ou administradora imobiliária possa exercer esse papel de
intermediária, ou contratada, fornecedora de serviços, o que se verifica na prática é o exercício com certa
autonomia. Tanto que ela toma decisões “técnicas” digamos assim, que não são objeto de discussão com o
contratante/proprietário. Age a imobiliária, muitas vezes de forma a impor multas abusivas disfarçadas de
abono pelo não pagamento à vista; impõe taxas abusivas para carrear documentos em favor do consumidor
visando a locação; exige documentos não permitidos como prova de idoneidade econômica do pretenso
locatário, à exemplo da declaração de I.R.; apresenta contrato de adesão com cláusulas adrede preparadas
e toma decisão de notificar por atraso e ingressar com despejo, quase sempre sem discutir com o locador;
apresenta contrato de fiança em modelo pronto e analisa autonomamente as condições do fiador; analisa e
decide por si a natureza da fiança a ser exigida. Segundo VENOSA, Sílvio S. Contratos… op. cit, p. 27,
muitas dessas abusividades só são sanáveis pela aplicação do Código de Defesa do Consumidor, pela
insuficiência mesma das normas protetivas da Lei do Inquilinato.
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consumo da relação “subjacente”, qual seja aquela interligada à relação
anterior, da qual guarda dependência, salvo exceções 22. Em síntese, não
havendo relação de consumo adjacente, não há relação de consumo
subjacente.
E o que pretende o Código de Defesa do Consumidor com o
“mandamento”23 do artigo 29 (no sentido de obrigatoriedade ao julgador, pois se
trata de lei de ordem pública e interesse social) é o de oferecer proteção ao
vulnerável que sofrerá as consequências de práticas impositivas no contrato a
ser entabulado, cuja possibilidade de negociação será reduzidíssima, até
porque as exigências à formalização de um contrato de locação residencial são
demasiadas, tendo que o pretenso locatário provar segurança econômica que,
muitas das vezes, não alcança, pois se as tivesse evidentes, poderia até
alcançar a condição de um proprietário de imóvel e não apenas de
inquilino/locatário.
Dada a dificuldade de alcançar a almejada casa própria, a procura
por locação é acentuada, configurando-se uma desproporcional demanda, o
locatário é um dos que detém maior grau de vulnerabilidade nas relações 24.
Ademais, as práticas contratuais de massa, como ocorre no
segmento locatício de imóveis, prevalece como técnica de contratação pós-
moderna o chamado “contrato de adesão”. Por este, as cláusulas são pré-
estabelecidas, às quais não se dá possibilidade de negociação ou modificação.
Resta ao consumidor, o vulnerável, o exposto, a prerrogativa única de
contratar25 ou não. Por tais situações, acentua-se a desigualdade do
consumidor/locatário, ante o fornecedor/imobiliária.
22
Em situações de excepcionalidade, em que o locador preencha as condições agora de fornecedor, no
conceito do artigo 3° do CDC, no mercado de produtos ou serviços com habitualidade, profissionalidade e
objetivo de lucro e contrate diretamente com o locatário, ou mesmo por intermédio de uma imobiliária que
lhe preste serviços.
23
Para utilizar a expressão de Cláudia Lima Marques, “Contratos no Código de Defesa do Consumidor”,
op cit, p. 651
24
A realidade fática, portanto, e na busca do exercício do direito fundamental à moradia, cerca de 17% dos
brasileiros, em levantado de 2010, utiliza-se do contrato de aluguel. Veja-se a respeito
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-09-21/casa-propria-ja-nao-e-so-sonho-75-no-brasil-sao-donos-
do-imovel-onde-vivem.html
25
Como dizem os doutrinadores, nessa condição opera-se o chamado opt in ou o opt out.
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A locação no contexto de uma relação de natureza consumerista
entre proprietário e sua contratada prestadora de serviços, a administradora de
imóveis, visa na esmagadora maioria a busca, a prospecção para a
perfectibilização de um contrato de aluguel, com pessoas que detenham
características de locatários, por uma série de motivações, dentre as quais a
necessidade de habitabilidade ou moradia digna.
“Por isso, entendemos que se deve partir do termo coligação contratual, para
retratar o gênero das situações em que duas ou mais diferentes relações
contratuais se encontram vinculadas, ligadas, promovendo alguma eficácia
paracontratual, ou seja, alguma eficácia ao lado daquela que se desenvolve
internamente ao contrato. Esta eficácia paracontratual, por sua vez, se justifica
pelo reconhecimento duma operação econômica unificada que se sobrepõe
àquela decorrente de cada um dos contratos que se encontram coligados”.
26
LEONARDO, Rodrigo Xavier. “Os contratos coligados”, extraído de
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/e.pdf, com acesso em 29.05.16, p. 08
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Logo, o contrato subsequente está umbilicalmente ligado, conexo,
com o antecedente. Daí que a característica do contrato anterior projeta-se para
o segundo, ou seja, o seu caráter de contrato de consumo “contamina” a
relação subjacente. Ou como disse o mestre Xavier, gera eficácia
paracontratual.
A mestre em contratos nas relações de consumo, Cláudia Lima
Marques27, ensina que tais situações são, por força do artigo 29 do CDC,
relações de consumo “incidentais”. Acerca deste destacado tema:
27
MARQUES, Cláudia Lima. “Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das
relações contratuais”. 7a. ed, rev. atual.e ampl. São Paulo, RT, 2014, p. 112
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de “contratos relacionais”, referindo-se à teoria contratual relacional inaugurada
por Lan Macneil, em 2000.28
Das exaurientes lições, depreende-se que a relação locatícia por
imobiliária é fenômeno “intenso” para a vida moderna, de caráter e fim
eminentemente “social”, pois inserida no mercado de massa, cujo locatário
necessariamente será alcançado mediante práticas publicitárias, ofertas de
massa, por intermédio da mídia, de característica impessoal do mercado, e,
mais, pela utilização de contratos pré-elaborados, de adesão do consumidor.
Dentro de tal contexto a Política Nacional das Relações de Consumo busca a
dignidade, a melhoria da qualidade de vida e a proteção dos interesses
econômicos do consumidor. O locatário é exposto e como tal equiparado a
consumidor, para efeito de tutela, normatizada no artigo 29 do CDC.
E o contrato de locação materializado, guarda inter-relação
(contrato relacional ou conexo, ou simbiótico), com caráter de interdependência
com o contrato de prestação de serviço entre locador e imobiliária. Por tal fato,
insere-se na diretiva principal do Código de Defesa do Consumidor, em seu
artigo 4°, à vista do elemento maior, erigido a princípio norteador de todo o
sistema, a vulnerabilidade29.
30
BOLZAN, Fabrício. “Direito do Consumidor Esquematizado”. 2ª. ed., Saraiva, São Paulo, 2013, pp.
34/35. Ensina o autor que o “amparo constitucional” do Direito do Consumidor lhe dá conotação
“imperativa”. Acrescenta, ainda, que como direito fundamental, extrai-se o caráter de “eficácia horizontal
dos direitos”, referindo-se ao Direito do Consumidor.
31
Daí decorre o que ensina BENJAMIN. Antônio Herman, CDC com. Pelos autores… op. cit. 272, que
nas relações de consumo em que são expostos os protagonistas (aqui os locatários), o conceito do artigo 29
leva a que … “ o implementador – aí se incluindo o juiz e Ministério Público – não deve esperar o
exaurimento da relação de consumo para, só então, atuar. Exatamente porque estamos diante de atividades
que trazem um enorme potencial danoso, de caráter coletivo ou difuso, é mais econômico e justo evitar
que o gravame venha a se materializar”.
32
SCHERAIBER, Ciro Expedito. Crimes contra as relações de consumo – uma proposta de
sistematização. In Revista Jurídica do Ministério Público do Paraná – Araucária. Curitiba, a.1, vol. 1,
1998, abril, p. 451. Referi que em quádruplo aspecto, ainda, a Constituição refere-se expressamente ao
consumidor: quer seja como direito e garantia fundamental (artigo 5°, inciso XXXII); quer seja como
princípio da ordem econômica (artigo 170, inciso V); quer na previsão da competência legislativa sobre
dano ao consumidor (artigo 24, inciso VIII); quer no aspecto tributário, quanto à informação dos impostos
incidentes no preço dos produtos (artigo 150, §5º); além de estabelecer o comando do Ato das Disposições
Constituições Transitórias (artigo 48 do ADCT).
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leis especiais posteriores, evitando a necessidade de súmulas para todos os
contratos de consumo.”
33
Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e
interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII; 170, inciso V, ambos da Constituição Federal e art.
48, de suas Disposições Transitórias.
34
MARQUES, Cláudia Lima. “Contratos no Código de Defesa do Consumidor”, op cit, p. 407-670.
“Parece-me, pois, que o intérprete e o aplicador da lei, em especial do CDC, devem ter em conta esta
valoração constitucional e sua hierarquia implícita: para as pessoas físicas, o direito do consumidor é um
direito fundamental, sendo que o cidadão pode exigir proteção do Estado para os seus novos direitos
subjetivos tutelares. Trata-se de um privilégio, uma garantia, uma liberdade de origem constitucional, um
direito fundamental básico. Para todos os demais agentes econômicos, especialmente para as pessoas
jurídicas, o direito do consumidor é apenas um sistema limitador da livre iniciativa do caput do art. 170 à
CF/1988, sistema orientador da ordem econômica constitucional brasileira. Isto não é pouco, pois, como
afirmou o STF (RE 351750), o “princípio da defesa do consumidor se aplica a todo o capítulo
constitucional da atividade econômica”, afastando normas, mesmo de tratados internacionais, como a
Convenção de Varsóvia, “quando implicarem retrocesso social ou vilipência aos direitos assegurados ao
Código de Defesa do Consumidor”. E complementa a autora: “No campo do direito privado, há
reconhecida superioridade hierárquica para as normas de ordem pública, uma vez que tais normas
positivam os valores básicos da sociedade e tendem a prevalecer sobre as outras normas de direito
privado, na sua maioria disponíveis e de interesse prevalentemente individual”(grifei).
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7. Em relação à lei do inquilinato (nº 8.245/91) mais nova que o CDC
8. Conclusão
É o parecer.
GMC / NRMV
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