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Unidade II
3 O ENFERMEIRO, A COMUNICAÇÃO, A CRIANÇA E A FAMÍLIA
Muitas vezes, compreender e interpretar o que está no contexto da história da vida da criança e de
sua família dependerá da observação, da influência intuitiva, da atenção, da valorização e do interesse
do enfermeiro, além do envolvimento de todos os sentidos possíveis (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Observação
Como já verificamos, a criança passa por diversas etapas do desenvolvimento, que envolvem a
maturação, experiências e estímulos adequados. A comunicação da criança deve ser interpretada de
acordo com cada fase. E essa não é uma tarefa fácil.
Observação
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Unidade II
Por exemplo, uma criança, durante uma entrevista, diz ao enfermeiro: “Adoro brincar com meus
amigos. Quando brincamos o tempo passa tão rápido que nem percebo.” Essa fala pode indicar que a
criança está feliz, que tem amigos e que gosta de brincar.
A velocidade de desenvolvimento da fala varia de uma criança para outra, estando diretamente
ligada à competência neurológica e ao desenvolvimento cognitivo. A comunicação verbal pode ser
usada tanto na interação com a criança que já tenha esse desenvolvimento, como na comunicação
entre o enfermeiro e o cuidador (pai, mãe ou pessoa significativa da criança).
O enfermeiro deve levar em consideração, durante a comunicação verbal com a criança, que elas
nascem com mecanismos e capacidade de desenvolvimento das habilidades da fala e da linguagem.
Entretanto, elas não falam espontaneamente.
Essa linguagem ocorre quando a escolha das palavras utilizadas pode modificar a percepção da
realidade da outra pessoa, conhecida como linguagem esquiva. Ela indica que o interlocutor está querendo
diminuir, aumentar ou esconder o que realmente ela significa, podendo ser utilizada adequadamente,
porém indicando desvio da intenção.
Podemos exemplificar uma linguagem esquiva quando, para dizermos que alguém morreu, usamos
o termo: “Passou para outra”, evitando o termo “morreu”. O uso do termo amenizado não muda o
significado da realidade, mas pode ser interpretado como medo do seu significado.
O uso da linguagem esquiva, quando percebida, permite que o enfermeiro auxilie a família ou a
criança em relação a esse sentimento. Pode representar medo, vergonha, embaraço ou distanciamento,
por exemplo.
Outro tipo de linguagem utilizada na comunicação verbal é a linguagem distanciadora, que pode
ser utilizada pelos pais, por exemplo, para esconder algo cujo enfrentamento dessa situação lhe traga
dor. Refere‑se a seu problema como se fosse de outra pessoa, usando palavras como meu primo, minha
amiga, entre outros.
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A comunicação não verbal, ou a paralinguagem, deve ser observada durante a entrevista juntamente
com a comunicação verbal. Trata‑se da linguagem corporal (inclui os gestos, movimentos, expressões
faciais, posturas e/ou reações) e do uso da voz (entonação, velocidade, pausas, volume e ênfase no
discurso). Ela revela importantes informações referentes a sentimentos e preocupações.
Da mesma forma que pode ser usada pelo enfermeiro para complementar suas impressões sobre a
família e a criança, pode também inversamente ser usada pela criança e/ou família para acatar orientações,
serem receptivos para ampliar o vínculo ou até mesmo para tornar a comunicação ineficiente.
Para melhorar a compreensão do significado da linguagem corporal, é interessante analisar o uso da voz:
• Fala pausada: pode significar insegurança, falta de informação, necessidade de organização da ideia.
Se um enfermeiro, com pouco tempo e apressado, adota uma linguagem paraverbal para se
comunicar, falando rápido, e sendo muito sucinto em suas orientações, transmitirá a impressão de que
está com essa falta de tempo, e o cuidador da criança, interpretando essa linguagem paraverbal, poderá
se intimidar e não expor suas dúvidas, devido à essa impressão.
A comunicação abstrata pode ser verificada por meio das brincadeiras, expressão artística, símbolos
e escolha das roupas, por exemplo.
Conhecer seus sentimentos e reações, e tentar identificar os das pessoas com o qual estabelece o
intercâmbio, são fatores facilitadores da comunicação bem‑sucedida, e, portanto, os preconceitos e os
julgamentos devem ser evitados, pois interferem em todos os aspectos da comunicação com a criança.
O enfermeiro deve evitar as tendências de aprovar ou desaprovar as afirmações de outras pessoas, que
podem inibir as reações positivas dessa comunicação.
É importante que os profissionais da saúde sejam capazes de se comunicar não apenas com as
crianças de todas as idades, assim como os adultos significativos em suas vidas (BRASIL, 2012c).
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Unidade II
Saiba mais
Segundo Hockenberry e Wilson (2014, p. 91‑104), para que o enfermeiro consiga obter as informações
que deseja durante a entrevista, deve adotar algumas atitudes junto à criança que favorecerão seu
propósito, sendo:
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Unidade II
Saiba mais
Os lactentes atendem à comunicação não verbal do adulto, pois acalmam‑se quando aconchegados
no colo e ou acariciados; o som da voz serve para amenizar a tensão. A partir do 3º mês, estabelecem
o elo mãe‑filho, em que a mãe (pessoa de vínculo) é a ponte entre o mundo e a criança, e, portanto,
pessoas estranhas são ameaçadoras.
Observação
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Se o enfermeiro tenta explicar ao pré‑escolar o que irá acontecer com ele usando como exemplo o
que aconteceu com outra criança, não surte efeito. Os procedimentos devem ser explicados de maneira
que o pré‑escolar possa tocar ou ver os objetos que entrarão em contato com ele, como algodão,
estetoscópio, termômetro, gazes, esfigmomanômetro, entre outros.
Nessa fase, não possuem linguagem suficiente, mas se comunicam totalmente com o cuidador
de maneiras claras, podendo adotar comportamentos que mostrem seu descontentamento, como
empurrando ou evitando aquilo que não gostam ou que desperte medo e insegurança.
Para se comunicar com crianças pré‑escolares, o enfermeiro deve utilizar sentenças curtas, palavras
familiares e descrições para explicações concretas.
Os pré‑escolares podem não compreender expressões como “morrer de rir”, “mãos atadas”, “afogado
de tristeza”, “transparente de fome”, entre outras. Eles tendem a interpretar de acordo com o significado
da palavra e de acordo com o seu vocabulário.
Além de não compreenderem frases, também não distinguem a fantasia da realidade: o enfermeiro,
pensando em ajudar a criança, ao usar a expressão “será como uma picada de mosquito” antes de fazer
uma medicação intramuscular, poderá causar pânico na criança, pois ela pode imaginar/fantasiar que
será mesmo picada por um mosquito.
Escolar: crianças entre 5 e 8 anos confiam menos no que veem e mais no que sabem, quando se
trata de novos problemas. Necessitam de explicações e razões para tudo, porém precisam da verificação.
Nessa idade, desejam saber como, por que, onde e qual é a intenção e o objetivo do funcionamento de
um determinado objeto, ou seja, desejaram saber o que será feito com elas.
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Unidade II
Dessa forma, se houver interação nos procedimentos que se pretende realizar com ela, e o enfermeiro
explicar da melhor forma, melhores serão os resultados e o entusiasmo para colaborar com o que é
preciso, seja para a realização de um exame, para dar informações, para receber medicamentos, entre
tantos outros.
É importante salientar que nessa fase existe uma preocupação intensa da criança em relação à
integridade do seu corpo. Portanto, o enfermeiro deve atentar‑se a questões que envolvam possibilidade
de lesão no corpo (cirurgias, punções), e estabelecer uma comunicação adequada à idade, orientando a
criança antes de submetê‑la ao procedimento.
Já as crianças maiores de 8 anos compreendem um pouco melhor, e, portanto, torna‑se mais fácil
estabelecer uma comunicação mais efetiva.
É sabido que quando as tensões e os problemas aumentam, o adolescente tende a agir com um
comportamento de criança, nas expectativas mais familiares, porém, pode se comportar com maturidade,
e esta flutuação é esperada nesta fase.
Usam linguagem e cultura próprias da socialização com outros adolescentes, que não deverão
ser questionadas ou reprovadas, mesmo na linguagem paraverbal, pois essas ações implicarão na
impossibilidade de manter uma comunicação efetiva com o adolescente. Manter uma abordagem
profissional levando em consideração o pensamento do adolescente, embora isso nem sempre seja
fácil, pode facilitar o processo de comunicação necessário para estabelecer as prioridades de atenção
à saúde do adolescente.
A entrevista da criança não deve obedecer a formatos rígidos e preconcebidos, já que se trata de um
grupo heterogêneo de indivíduos, com características próprias. Entre essas diversidades, encontram‑se:
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as relacionadas à faixa etária, inclusive considerando cada fase etária, o gênero, o meio familiar
(adolescentes que moram com suas famílias ou não), escolaridade, entre outras.
Quando o adolescente se opõe ao contato com o enfermeiro, ele utilizará monossílabos e não haverá
efetividade na comunicação.
Exemplo de aplicação
Alguns temas são importantes na vida do adolescente e estão em evidência. Com a transformação
física do corpo, as ações hormonais e a importante autoafirmação (pessoal e social), o enfermeiro deverá
atentar‑se para os medos e dúvidas que estarão pairando sobre o adolescente: a sexualidade, a imagem
corporal demandada pela sociedade e desejada por ele, o início das atividades sexuais, o relacionamento
com os pais e a aceitação no grupo.
Você acha que o enfermeiro deveria entrevistar o adolescente sozinho, sem a presença dos pais?
Seria bom? É possível?
Faz parte das políticas de atenção à saúde do adolescente realizar a vigilância à saúde no
desenvolvimento de adolescentes e jovens, identificando fatores de risco e de proteção às doenças e
agravos, identificando as desarmonias do crescimento, os distúrbios nutricionais e comportamentais, as
incapacidades funcionais, as doenças crônicas e a cobertura vacinal, o uso abusivo de álcool e outras
drogas e a exposição às violências e aos acidentes, encaminhando o adolescente, quando necessário,
para os serviços de referência e para a rede de proteção social. Quanto ao atendimento do adolescente,
é seu direito ter privacidade no momento do atendimento, ser garantida a confidencialidade e o sigilo,
consentir ou recusar o atendimento, atendimento à saúde sem autorização e desacompanhado dos pais
e a informação sobre seu estado de saúde (BRASIL, 2013c).
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Em termos ideais, devem existir dois momentos na consulta: o adolescente sozinho e com os
familiares/acompanhantes. Entrevistar o adolescente sozinho oferece a oportunidade de estimulá‑lo
a expor sua percepção sobre o que está acontecendo com ele, e que, de forma progressiva, torne‑se
responsável pela própria saúde e pela condução de sua vida. Além disso, esse espaço permite que o
adolescente/jovem aborde alguns aspectos sigilosos que o estejam preocupando. A entrevista com a
família é fundamental para o entendimento da dinâmica e estrutura familiar e para a elucidação de
detalhes importantes (BRASIL, 2013c).
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Lembrete
O brinquedo satisfaz a necessidade afetiva da criança, atua como válvula de escape para suas emoções,
desenvolve domínio sobre si e o ambiente; permite‑lhe testar sua realidade, lidar com seus medos, obter
prazer, dominar ansiedades específicas que não podem ser resolvidas na realidade, expressar‑se, fazendo
inclusive críticas, e perseguir e alcançar um objetivo, estimulando a autoestima.
A brincadeira é a melhor maneira de a criança se comunicar e se relacionar com outras crianças, pois
é brincando que se aprende sobre o mundo que a cerca, procurando integrar‑se a ele. Com a brincadeira,
a criança aprende a se conhecer melhor e a aceitar a existência do outro, podendo organizar suas
relações emocionais e estabelecer suas relações sociais.
A ação de brincar e o interesse da criança pelo brinquedo evoluem conforme a maturação de seu
sistema nervoso e do desenvolvimento intelectual e socioafetivo (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Saiba mais
É importante lembrar que quando o enfermeiro estiver atendendo uma consulta de puericultura, em
uma Unidade Básica de Saúde, deve‑se verificar se a criança está comparecendo às consultas mediante
as recomendações do calendário de consulta do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012c). A tabela a seguir
demonstra essas recomendações:
IDADE
Número de Dias Meses Anos
consultas
Até 15 1 2 4 6 9 12 18 24 3 4 5 6
1º ano: sete
2º ano: duas
3º ano: uma
4º ano: uma
5º ano: uma
6º ano: uma
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4.1 Entrevista
O processo mais comum usado para a comunicação dos pais na prática profissional do enfermeiro
é a entrevista. Diferente da conversa social, a entrevista é uma forma específica de comunicação
(HOCKENBERRY; WILSON, 2014) que permite focalizar o entrevistado (pai, mãe ou responsável) para
identificar se existe algum tipo de dificuldade que possa interferir na atenção aos cuidados desejados e
se necessitam de ajuda para tal, e também para obter informações importantes da história de vida da
criança e da própria família.
Para uma entrevista, além de identificar o nível de compreensão da criança e dos pais, deve‑se
atentar para o fato de que a maioria das informações da criança é obtida diretamente com a pessoa
de vínculo com a criança, ou seja, o cuidador, a pessoa significativa (pais, avós etc.). As informações
verbais dadas pelo cuidador geralmente são confiáveis, porém é importante que o enfermeiro
também observe o comportamento não verbal adotado durante a entrevista, possibilitando indicar
o tipo de abordagem que deve ser utilizada, além de estabelecer um índice de confiança nas
respostas obtidas.
Alguns fatores poderão favorecer a comunicação com os pais/pessoa de vínculo de forma eficiente.
Eles devem ser estimulados a falar e o enfermeiro deve estar disponível para escutar, direcionando o
foco da entrevista. Sempre que possível, deve‑se evitar usar questões que exponham e/ou coloquem o
cuidado do responsável em xeque, podendo levá‑lo a esconder fatos importantes.
Algumas perguntas podem ajudar a estabelecer uma comunicação melhor entre o profissional da
saúde e a família da criança (BLANK, 2003):
Inicialmente, antes de realizar a entrevista, tenha em mãos o prontuário da criança, leia e informe‑se
sobre os registros anteriores, conhecendo as informações e problemas pertinentes à criança.
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Dessa forma, os registros da consulta devem ser realizados em impressos próprios e arquivados no
prontuário da criança. Se o atendimento estiver sendo feito na atenção básica de saúde, na puericultura,
além do prontuário, as informações deverão ser registradas no Cartão da Criança (BRASIL, 2002). Toda
criança com até 6 anos deve possuir um cartão da criança, que deverá ser entregue à sua mãe na
maternidade (cadernetas específicas ao gênero).
Observação
O enfermeiro deve considerar o aspecto geral da criança antes de iniciar o exame físico detalhado.
Essa impressão já deve ser obtida durante as avaliações anteriores, e ser observada durante a entrevista.
Impressões subjetivas sobre o estado nutricional, a postura, o desenvolvimento, o comportamento, a
personalidade, interações com os pais e com pessoas presentes, e as fácies representadas pela criança
(dor, medo) devem servir de apoio para o enredo que se seguirá na entrevista.
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O enfermeiro deverá investigar sobre a queixa principal, saber se existe alguma doença atual e
depois prosseguir com a verificação da história da criança propriamente dita.
A história da criança contempla os dados do nascimento, em que se verifica sobre a saúde da mãe ao
nascer, a evolução, o trabalho de parto e sobre o parto e as condições do recém‑nascido imediatamente
após o parto, tais como o Ápgar, peso, idade gestacional, doenças congênitas etc.
Deve‑se investigar a história alimentar até a atual e verificar se houve doenças, acidentes ou
qualquer tipo de intercorrência de saúde durante a história de desenvolvimento da criança.
Deve‑se indagar se a criança é alérgica. Se sim, por qual componente conhecido e se faz uso de
medicamentos (ou fez uso) para tratar da alergia.
O enfermeiro deve verificar se a criança usa ou usou qualquer tipo de medicamento por tempo
prolongado e o motivo. Em casos positivos, o enfermeiro deverá descrever o tipo do medicamento
e a dosagem.
A imunização atual da criança deve ser checada, pedindo e conferindo os registros da carteira de
imunização da criança (BRASIL, 2012c).
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Com relação à família, podemos citar algumas das situações de vulnerabilidade mais importantes
(BRASIL, 2012c):
• Internações/intercorrências.
• Mãe com menos de 18 anos de idade e com baixa escolaridade (menos de oito anos de estudo).
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• Gestação gemelar.
• Malformação congênita.
• Ausência de pré‑natal.
A avaliação da família também deve ser prevista. Nela, o enfermeiro deverá verificar a estrutura
familiar, tais como: a composição familiar e do ambiente domiciliar, a renda familiar, a ocupação e as
escolaridades dos membros da família, as tradições culturais e religiosas e, como ocorre o relacionamento
familiar, além da investigação da história clínica familiar (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
A sequência do exame físico em crianças, assim como no adulto, deve ser céfalo‑caudal, pois
favorece a orientação geral para cada área do corpo e evita omissão de partes do exame. Porém,
em determinados momentos, diferentemente do que ocorre no exame físico de adulto, essa
sequência poderá ser alterada de acordo com a necessidade e com o comportamento da criança.
O enfermeiro deverá alterar a sequência do exame, sempre que julgar necessário, de forma a
favorecer a qualidade da avaliação. Para tal, deverá atentar‑se para os principais critérios da
avaliação, para a idade cronológica e as características do desenvolvimento do processo de
pensamento de cada fase etária.
Lembrete
Condutas adotadas pelo enfermeiro durante o exame físico que, para um adulto, são normais, podem
ser estressantes para a criança, desencadeando irritabilidade, choros e ações de recusa, que além de
dificultarem o exame, podem alterar algumas medições.
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Unidade II
Observação
Algumas condutas do enfermeiro perante a criança são importantes para que o exame físico seja
bem‑sucedido. Os procedimentos devem ser o mais agradáveis possível, favorecendo a permanência e a
participação dos pais/pessoa significativa, disponibilizando tempo para brincar e interagir com a criança.
Lembrete
É importante que o enfermeiro perceba o momento em que a criança está preparada para iniciar
o exame. Alguns sinais como a conversa espontânea com o enfermeiro, a aceitação para o uso dos
equipamentos como o estetoscópio, por exemplo, e, principalmente, na permissão ao toque físico
e aceitação para sair do colo do acompanhante são positivas em relação à receptividade da criança
ao enfermeiro.
Nos casos em que não ocorra a interação imediata da criança, o enfermeiro deverá concentrar‑se
no exame, elogiando a criança, para estabelecer confiança, utilizando estórias engraçadas e fantoches
para conversar.
Os materiais e equipamentos necessários para a realização do exame físico, que o enfermeiro deve
deixar planejados e preparados antes de realizar o exame, são:
• Estetoscópio pediátrico.
• Bolas de algodão.
• Régua antropométrica.
• Otoscópio.
• Oftalmoscópio.
• Termômetro digital.
• Lanterna delicada.
Na imagem a seguir, encontram‑se alguns exemplos dos materiais necessários para o exame físico
da criança:
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Unidade II
Uma sequência pré‑determinada para o exame também é divergente, devido às diferentes fases
etárias do desenvolvimento. Uma sequência que pode ser adotada durante a avaliação em crianças
lactentes e pré‑escolares que poderá ajudar o enfermeiro no sucesso do exame desejado é a seguinte
(HOCKENBERRY; WILSON, 2014; BRASIL, 2002; BRASIL, 2012c):
• Se pretender realizar o teste para verificar o reflexo de Moro, também deixar para o final.
• A avaliação da genitália deve ser realizada ao final, quando se tratar de adolescentes e crianças na
idade escolar.
Para a realização do exame físico utilizam‑se técnicas básicas, como inspeção, palpação, percussão
e ausculta, assim definidas:
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Medidas fisiológicas são fundamentais na avaliação do estado físico das funções vitais, sendo:
temperatura, pulso, respiração, pressão arterial e, considerado como o 5º sinal vital, a dor.
O enfermeiro deve considerar que, diferentemente do que ocorre no exame físico dos adultos, as
medidas fisiológicas da criança devem ser comparadas aos valores normais de acordo com a faixa etária.
Dessa forma, o enfermeiro deve ter em mãos as referências dessas medidas, seja por meio de tabelas ou
de gráficos de referências, para verificar os valores de normalidade recomendados.
Uma outra questão importante é que não deve considerar leituras isoladas para a tomada de decisão clínica.
Observação
Como já estudado, a composição física da criança depende da fase etária e que se encontra, além de
componentes genéticos e de sensibilizações a que foi exposta. Dessa forma, é de se esperar que verificar
a pressão arterial (PA )de uma criança exige tamanhos de manguitos e equipamentos diferentes do que
os usados em adultos.
Acrômio Acrômio
40% da
circunferência
no ponto médio Fossa cubral
Olecrânio Olecrânio
A B C
Para entender melhor como definir o manguito apropriado, idealize uma medida de distância entre
o acrômio e o alécrano, para exemplificar. Veja:
Como não há manguitos com 8 cm de largura no mercado, a largura do manguito a ser escolhido
é de 9 cm.
Circunferência máxima do
Manguito Largura (cm) Comprimento (cm) braço (cm)
Recém‑nascidos 4 8 10
Lactentes 6 12 15
Crianças 9 18 22
Então, você aprendeu que um manguito de tamanho apropriado é essencial para a medida correta da
pressão arterial (PA) em crianças e que, dependendo da sua idade e tamanho, o tamanho do manguito
apropriado poderá variar. Portanto, se o manguito de tamanho ideal para a criança não estiver disponível,
escolha sempre o imediatamente maior e nunca um menor, pois um manguito pequeno pode resultar
em uma PA artificialmente elevada e acarretar uma conduta inadequada.
Como no adulto, a PA deve ser medida e registrada pelo menos duas vezes em cada ocasião.
A seguir, veja a técnica da aferição da PA em crianças (BRASIL, 2012c B; BOWDEN; GREENBERG,
2005; HOCKENBERRY; WILSON, 2014):
• A escolha do local do exame: deve ser calmo e com temperatura agradável, o que contribui para
o relaxamento do paciente.
• Pergunte ao paciente ou ao responsável se a criança está com a bexiga cheia (em caso afirmativo,
o paciente deverá urinar antes da medida), se praticou exercícios físicos intensos ou se ingeriu
bebida com cafeína ou alimentos até 30 minutos antes da medida da PA.
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Unidade II
• Posição para a medida da PA: a partir da idade pré‑escolar, a criança deverá estar sentada.
Lactentes podem estar deitados na posição supina.
• Coloque o manguito adequado, deixando espaço na fossa cubital para o estetoscópio e não
obstruindo a axila, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial.
• Palpe o pulso radial e infle o manguito até 20 mmHg acima do desaparecimento do pulso.
• Coloque a campânula do estetoscópio sobre a fossa cubital sem realizar pressão excessiva.
• Espere cerca de 5 minutos antes de realizar nova medida em outra posição (em decúbito ou ortostatismo).
Agora que você aprendeu a técnica para verificação da PA em crianças, deverá aprender como avaliar
o resultado da PA encontrada. Como deve ter suspeitado, existem valores de referências para a PA, de
acordo com a idade, gênero e percentis de altura para a idade. Dessa forma, o enfermeiro deverá ter em
um arquivo os valores de referências para a PA em crianças, para poder interpretar o valor da verificação.
Quanto menor for a criança, menores serão os valores de PA mínima e máxima. Existem vários
instrumentos desenvolvidos com essas referências, podendo ser em forma de gráficos, com percentis,
tabelas, quadros, entre outros.
Veja a seguir um exemplo de tabela para consultar a referência da PA, de acordo com o gênero,
recomendado pelo Ministério da Saúde (2012).
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Idade Percentil PA‑ Sistólica (mm Hg) PA‑ Diastólica (mm Hg)
Anos PA Percentil de altura Percentil de altura
5 10 25 50 75 90 95 5 10 25 50 75 90 95
90 97 97 98 100 101 102 103 52 52 53 54 55 55 56
1 95 100 101 102 104 105 106 107 56 57 57 58 59 59 60
99 108 108 109 111 112 113 114 64 64 65 65 66 67 67
90 98 99 100 101 103 104 105 57 58 58 59 60 61 61
2 95 102 103 104 105 107 108 109 61 62 62 63 64 65 65
99 109 110 111 112 114 115 116 69 69 70 70 71 72 72
90 100 100 102 103 104 106 106 61 62 62 63 64 64 65
3 95 104 104 105 107 108 109 110 65 66 66 67 68 68 69
99 111 111 113 114 115 116 117 73 73 74 74 75 76 76
90 101 102 103 104 106 107 108 64 64 65 66 67 67 68
4 95 105 106 107 108 110 111 112 68 68 69 70 71 71 72
99 112 113 114 115 117 118 119 76 76 76 77 78 79 79
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Unidade II
Os locais para verificar a PA são: parte superior do braço, parte inferior do braço e antebraço, coxa,
panturrilha ou tornozelo (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Artéria
braquial Artéria
poplítea
Artéria
radial
Artéria
dorsal do
pé Artéria
tibial do pé
É comum que as instituições de saúde não disponham desses equipamentos, e que, dessa forma,
muitas vezes a verificação da PA em crianças seja negligenciada.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Quanto menor a idade cronológica da criança, maiores serão as referências de valores para a FC.
É comum observar as arritmias sinusais em que a FC aumenta com a inspiração e diminui com a
expiração, principalmente em crianças menores.
• Menores de 2 anos: deve ser realizada por meio da ausculta apical, usando‑se o estetoscópio.
• Lavar as mãos.
• Colocar o estetoscópio.
• Identificar o pulso, palpar a parede do tórax para identificar o ponto de pulso máximo (PIM):
• Retirar o estetoscópio.
• Lavar as mãos.
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Unidade II
Após a verificação da FC, ela deverá ser comparada com a tabela de referência adotada pela
instituição, como a ilustrada a seguir.
As regiões indicadas para a verificação da presença de pulso em crianças são: apical, carotídea,
braquial, radial, pedioso, poplíteo, femoral, tibial posterior e temporal (OLIVEIRA, 2005).
Frequência respiratória
É preciso avaliar a coloração da criança, a profundidade das respirações, a presença dos batimentos da
asa de nariz, roncos, retrações e de qual tipo, o uso dos músculos acessórios e ritmo das respirações, a posição
que a criança assume ao respirar (exemplos: sentada, reta ou inclinada para a frente), agitação e ansiedade.
Da mesma forma que a FC, quanto menor a idade cronológica da criança, maiores serão as referências
de valores para a FR.
Ao se verificar sinais de fadiga respiratória, sofrimento respiratório e/ou apneia, são necessárias
intervenções imediatas.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Durante a avaliação, o enfermeiro deve se atentar aos movimentos respiratórios da criança durante
um minuto.
Observar a profundidade e o padrão das respirações, se, durante o exame, há ocorrência de ansiedade
e/ou irritabilidade e se a criança se encontra em uma posição de conforto.
Quanto mais nova for a criança, menor será a FR. De acordo com o Ministério da Saúde
(BRASIL, 2012c), seguem as referências de FC para crianças em relação à faixa etária:
Temperatura
A temperatura corporal da criança deve ser mantida dentro dos padrões de normalidade para atender
às funções metabólicas, inclusive a basal.
• Deixar a criança esperando para ser atendida em um local extremamente quente poderá resultar
em hipertermia.
• Axilar: 36 °C a 37 °C.
A hipertermia é considerada uma das causas de maior procura clínica e está associada, em geral, a
infecções. Existem também outras associações de causas não infecciosas, como doenças inflamatórias,
neoplásicas e/ou neurológicas.
Lembrete
O enfermeiro deve identificar os fatores externos e investigar a história da criança para identificar a
causa da hipertermia.
106
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
De acordo com a hipertermia apresentada, ela é classificada como (BRASIL, 2012c; OLIVEIRA, 2005):
Observação
• Termômetro digital.
• Bolas de algodão.
• Álcool 70%.
• Lave as mãos.
• Coloque o termômetro sob a axila da criança (pode deixá‑la mais confortável no colo da mãe/
cuidador, se neonato, lactente ou infante).
• Lave as mãos.
• Registre no prontuário.
107
Unidade II
Dor
A dor não escolhe idade, gênero ou raça. Até algum tempo atrás, os próprios médicos acreditavam
que as crianças não eram capazes de sentir dor, no entanto, estudos mais recentes têm demonstrado
que desde o nascimento já temos desenvolvimento neurológico suficiente para sentirmos dor, mesmo
se prematuros.
Existem algumas doenças de início na infância que causam com dor, como anemia falciforme, alguns
tipos de câncer, algumas doenças reumatologias, cefaleias e também as dores específicas de cada idade,
como as cólicas do recém‑nascido, as infecções de garganta ou de ouvido, o nascimento dos dentinhos,
os traumas na fase escolar e até a dor do próprio crescimento, que é responsável por até 15% das dores
nessa fase (SBED, [s.d.].).
O fato de os neonatos não verbalizarem a dor que sentem agravava a crença que se tinha, até
meados dos anos de 1970, de que o recém‑nascido (RN) era incapaz de sentir dor, em virtude da
imaturidade neurológica, das vias nervosas não totalmente mielinizadas ou da ausência de função
cortical suficientemente integrada para interpretar ou recordar as experiências dolorosas. Entretanto,
descobriu‑se que a mielinização incompleta é compensada pelo distanciamento interneuronal menor,
que aumenta a velocidade média de condução nervosa. O RN apresenta todos os componentes
anatômicos, funcionais e neuroquímicos necessários para a recepção e para a transmissão do estímulo
doloroso (LEMOS et al., 2010). Ou seja, o recém‑nascido é capaz de sentir dor, ainda quando gerado, na
condição de feto.
Assim sendo, nenhum profissional da saúde deve negligenciar a dor em nenhuma criança desde
seu nascimento, pois é sabido que, embora não tenham o desenvolvimento e a maturidade (de acordo
com a fase em que se encontra) para pedir verbalmente que a dor seja amenizada, não quer dizer que
a sensação da dor não exista.
A dor da criança não pode ser subtratada ou relegada a segundo plano. Além da dor física que
algumas doenças possam causar, é importante lembrar que exames e procedimentos dolorosos também
são necessários em certas circunstâncias e que, além da dor, podem desencadear o medo e a ansiedade,
que também devem ser vistos como uma ameaça à criança.
Dessa forma, pensando que algumas doenças – como a enterocolite, traumas e fraturas, doenças
oncológicas, diversos tipos de pós‑operatórios e diversos procedimentos invasivos, como intubação,
ventilação pulmonar mecânica, punções venosas e arteriais, redução de fraturas etc. –, além de dolorosas,
causam medo, ansiedade e estresse e, portanto, devem ser evitadas e tratadas com analgesia e sedação
sempre que necessário e possível (OLIVEIRA, 2005).
A criança tem o direito de ter sua dor adequadamente tratada (BRASIL, 1995), o enfermeiro deverá
estar sempre atento, para amenizar esses sofrimentos e solicitar, quando despercebido pela equipe,
terapias para tratamento da dor, como no caso das sedações e da analgesia.
108
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Observação
É muito importante fazer o diagnóstico e valorizar a queixa ou os sinais sugestivos de dor, uma vez
que nas faixas etárias menores a avaliação objetiva torna‑se dificultada pelo fato de a criança não saber
se comunicar (SBED, [s.d.].).
Lembrete
Então surge um grande desafio para o enfermeiro e sua equipe: se qualquer criança, independentemente
da idade, pode sentir dor física desde o seu nascimento, como fazemos para identificá‑la e monitorá‑la?
O toque, o aconchego e o ambiente acolhedor devem fazer parte das unidades do ambiente e da
rotina de atendimento, e cabe aos enfermeiros promovê‑los, buscando capacitar sua equipe para que,
no momento oportuno, possam implementar estratégias não farmacológicas do manejo da dor, a fim
de contribuir para o bem‑estar do RN (PERENCIN; RIBEIRO, 2011).
Para identificar a dor, sabendo que ela é subjetiva, o enfermeiro pode utilizar ferramentas muito
úteis, denominadas de escalas da avaliação da dor. Ao escolher a escala que será utilizada, deve‑se
verificar se a escala de dor é validada e a idade da criança, pois devem ser aplicadas de acordo com as
diferentes idades, desde o nascimento. Os profissionais envolvidos nos cuidados com as crianças devem
ser capazes de aplicar tais instrumentos, a fim de diagnosticar com maior precisão a intensidade da dor,
levando ao tratamento adequado (SBED, [s.d.].).
Nas crianças maiores, a partir de três anos, a melhor maneira de acessar a dor é perguntando
à criança sobre a sua intensidade, duração e evolução do tempo. Maiores de 8 anos conseguem
classificar sua dor em uma escala de números, cores ou faces, com ótima precisão (OLIVEIRA, 2005). Nos
recém‑nascidos, prematuros e lactentes, usam‑se escalas que avaliam os sinais de dor e desenvolvidas
para algumas situações específicas, como para uso em pós‑operatórios, procedimentos que levam à
dor aguda, entre outros.
As escalas de dor, indicadas para serem aplicadas de acordo com a faixa etária e com a realidade, são
exemplificadas a seguir:
109
Unidade II
Pontos
Detalhes
0 1
Fronte saliente Não Sim
Fenda palpebral estreitada Não Sim Considerar a presença de dor quando 3 ou mais
destes detalhes aparecerem consistentemente
Sulco nasolabial aprofundado Não Sim durante a avaliação.
Boca aberta Não Sim
Boca estirada (horizontal/vertical) Não Sim Máximo: 8 pontos.
Relaxadas ou imobilizadas 0
Pernas
Fletidas ou estendidas 1
Dormindo ou acordada calma 0
Consciência
Desconfortável 1
110
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Quadro 4 – Escala de dor CRIES (Crying, Requires of oxigen for saturation above 95%,
Increase vital sings, Expression, Sleep): pós‑operatório do recém‑nascido
Detalhes Pontos
Ausente ou normal 0
Choro Choro agudo consolável 1
Choro agudo inconsolável 2
Nenhum 0
A escala vai de 0 a 10.
Exigência de O2 Menos que 30% de FiO2 1
A escala deve ser aplicada
Mais que 30% de FiO2 2 em intervalos de 2 horas
Sem aumento 0 nas primeiras 24 horas de
Aumento da FC pós‑operatório e a cada 4 horas
Até 20% de aumento 1 por mais 1 ou 2 dias.
e da PA
Mais de 20% de aumento 2 Deve‑se considerar um score igual
Normal, relaxada 0 ou maior de 5 como indicativo de
necessidade de analgesia.
Expressão facial Caretas eventuais 1
Crispada, contraída 2
Normal 0
Sono na última Acordada frequentemente 1
hora
Acordada 2
Fonte: Oliveira (2005, p. 581).
Detalhes Pontos
> ou = 36 semanas 0
32 a 35 semanas e 6 dias 1
Idade gestacional
28 a 31 semanas e 6 dias 2
> 28 semanas 3
Acordado e ativo, olhos abertos e com 0
movimentos faciais
Estado de alerta Acordado, mas quieto, olhos abertos e sem 1
observado por 15 movimentos faciais
segundos antes A escala vai de 0 a 21 pontos.
Dormindo e ativo, olhos fechados e com
do procedimento 2 Scores acima de 5 mostram dor
movimentos faciais
leve e acima de 12 apontam a
Dormindo e quieto, olhos fechados e sem presença de dor moderada ou
3
movimentos faciais intensa.
Aumento de 0 a 4 bpm 0
Aumento da FC Aumento de 5 a 14 bpm 1
após o início do
procedimento Aumento de 15 a 24 bpm 2
Aumento > 25 bpm 3
Queda de 0% a 2,4% 0
Queda da Queda de 2,5% a 4,9% 1
saturimetria após
o procedimento Queda de 5% a 7,4% 2
Queda de 7,6% ou mais 3
111
Unidade II
Ausente 0
Mínimo 1 *Imediatamente após o
Testa franzida*
Moderado 2 procedimento, observar durante
30 segundos os três sinais
Máximo 3 faciais:
Ausente 0 Máximo: se sinal está presente
Mínimo 1 por mais de 70% desse tempo.
Olhos espremidos*
Moderado 2 Moderado: se presente entre 40
a 69% do tempo.
Máximo 3
Mínimo: se se entre 10 a 39%
Ausente 0 do tempo.
Mínimo 1 Ausente: por menos de 9% do
Sulco nasolabial* tempo de observação.
Moderado 2
Máximo 3
Para a utilização da escala de Escala de Dor PIPP (Premature Infant Pain Profile), indicada para o
uso em pós‑operatório e procedimentos do recém‑nascido, é importante que a idade gestacional seja
estimada, e que a FC e a saturimetria de base sejam verificadas antes do início do procedimento para
que se possa ter referências. Imediatamente após o início do procedimento, o enfermeiro deve voltar a
anotar a FC e a saturimetria para pontuar (OLIVEIRA, 2005).
Detalhes Pontos
Não 1
Choro Fraco ou silencioso 2
Histérico 3
Sorrindo 0
Facial Tranquilo 1
Crispado ou tenso 2
Fala de outras coisas 0
A escala vai de 4 a 3.
Verbal Não fala ou apresenta outras queixas 1
Queixa, dor 2
Relaxado, posição neutra 0
Tronco Movimento de incômodo 2
Tenso, tremor 2
Em pé ou imobilizado 2
Ferida Nenhum gesto 0
Protege, toca ou segura 2
Quieta ou com movimentos leves 1
Perna Esperneia, pedala 2
Em pé ou imobilizada 2
112
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Saiba mais
A pele da criança deverá ser avaliada com relação a textura, coloração, temperatura, umidade, turgor,
cicatrizes e lesões (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Coloração
A pele da criança deve estar sempre corada. As mudanças da coloração da pele mais comuns são
(BOWDEN; GREENBERG, 2005; BRASIL, 2012a; BRASIL, 2013b):
• Cianose: tom azulado podendo representar hipotermia, redução de hemoglobina, falência da bomba
cardíaca, hemoglobina desoxigenada. Pode‑se classificar a cianose em localizada ou periférica, e
generalizada ou central. A primeira, também conhecida como acrocianose, aparece nas regiões
plantares e palmares. É um sinal benigno e comum no período neonatal, não representando doença
sistêmica grave. A cianose central, envolvendo a mucosa oral, é observada quando a concentração de
hemoglobina reduzida excede 5 g/dL, condição comum durante a hipoxemia grave. A cianose central,
113
Unidade II
quando presente, deve ser sempre investigada, procurando‑se afastar cardiopatias congênitas,
hipertensão pulmonar e afecções graves do parênquima pulmonar.
• Equimose: são áreas grandes e difusas, geralmente azuis ou negras, causadas por hemorragias sob
a pele, resultantes de traumatismos.
• Eritema: pode ser resultado do aumento do fluxo sanguíneo, inflamação local, alergias.
Comum no recém‑nascido.
Perfusão periférica
Para avaliar a perfusão periférica, ou seja, avaliar se os tecidos estão sendo perfundidos
adequadamente, pressiona‑se a porção distal do dedo mínimo ou polegar, avaliando a perfusão
periférica dos tecidos. O tempo de enchimento capilar adequado deve ser entre dois e três segundos.
Se o tempo for maior que dois segundos, significa que os tecidos não estão sendo perfundidos
adequadamente (OLIVEIRA, 2005).
Observação
Palidez cutânea, sudorese, pele fria, pulso rápido e respiração rápida são
sinais clínicos precoces de choque.
Textura
A textura da pele da criança deve ser lisa, levemente seca. Não é esperado encontrar em uma criança
uma pele áspera, seca ou rugosa. Essas alterações podem ocorrer devido a banhos frequentes, exposição
ao frio e até mesmo em caso de hipovitaminose A.
114
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Turgor tecidual
O enfermeiro deve verificar a elasticidade da pele, pois, dentre outras características, indica o estado
de hidratação da criança. Turgor tecidual diminuído tende a aparecer na desidratação.
Para verificar o turgor, prenda o abdome entre o polegar e o indicador, a prega deverá desaparecer
depois de solta.
Observação
Estruturas acessórias
A avaliação das estruturas acessórias da pele pode ser feita enquanto a pele, o couro cabeludo ou os
membros estão sendo inspecionados.
O couro cabeludo deve ser verificado, observando a integridade e a limpeza, inclusive dos cabelos. Os
cabelos devem ser brilhantes, variando de acordo com a genética. Cabelos viscosos, quebradiços, opacos,
despigmentados e secos podem indicar sinal de desnutrição.
• Presença de pediculose pode indicar cuidados deficientes com a higiene – assim como infestações
em escolas e creches – e devem ser investigados.
• Lesões como traumas, infecções secundárias (miíases, pústulas) devem ser investigadas.
As unhas geralmente são róseas, convexas, macias e firmes, ou seja, não são quebradiças.
115
Unidade II
As unhas devem ser inspecionadas em relação à integridade (formato, textura) e à limpeza; cuidados,
como aparar as unhas, devem ser observados. Unhas quebradiças podem indicar alguma hipovitaminose.
Unhas curtas e mal aparadas podem indicar o hábito da criança de roer unhas.
É importante que, ao final do exame, o enfermeiro saiba elencar os problemas e propor melhorias na
saúde da criança, assim como elogiar o cuidador em relação aos bons cuidados.
Observação
O recém‑nascido tem uma pele rósea, com vasos proeminentes em abdome, que gradativamente
tornam‑se menos visíveis à medida que vai adquirindo quantidades progressivas de queratina. A pele
apresenta‑se cada vez mais espessa, opaca e descamativa. Dentre essas características destacam‑se
(BRASIL, 2012a):
• Lanugo ou lanugem: comum encontrar em RN pré‑termo. Trata‑se de uma lanugem fina e longa
abundante. No RN a termo é ausente ou escasso, podendo estar presente apenas nos ombros.
Figura 58 – Lanugem
116
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
• Milium sebáceo: está presente em 40% dos RN. Manifesta‑se por pequenos pontos brancos
(menores que 1 mm) localizados na base do nariz, queixo e fronte, devido à distensão e obstrução das
glândulas sebáceas, decorrentes da ação do estrógeno materno. Desaparecem em poucas semanas.
• Eritema tóxico: geralmente aparece nos primeiros dias de vida sob a forma de lesões eritematosas
multiformes (pápulas, máculas e até algumas vesículas), esparsas ou confluentes. Possui causa
desconhecida e pode ser desencadeado por estímulos mecânicos de atrito ou pressão na pele.
Regride espontaneamente, muitas vezes em poucas horas.
• Impetigo: infecção piogênica, mais comumente causada por Staphylococcus aureus. Inicia‑se com
lesões eritematosas puntiformes que se pustulizam ou tornam‑se bolhas (impetigo bolhoso). As
lesões se propagam por inoculação e, quando se rompem, formam crostas amarelo‑acastanhadas.
É contagioso, e o tratamento pode ser tópico com soluções antissépticas e cremes antibióticos,
chegando, nos casos mais graves, a ser necessária antibioticoterapia sistêmica.
• Máculas vasculares: são manchas de cor salmão que desaparecem à pressão e estão presentes
principalmente na nuca, pálpebra superior e fronte. Não possuem importância clínica ou estética.
As máculas da face desaparecem em alguns meses, já as da nuca podem persistir por mais tempo.
• Hemangiomas: são formas vasculares mais extensas e elevadas que podem ter significado
patológico. Por exemplo, quando localizadas em segmento cefálico e face, com coloração vinhosa,
podem estar associadas a angiomas das leptomeninges (síndrome de Sturge‑Weber), estando
relacionadas a convulsões e hemiplegias.
117
Unidade II
• Icterícia fisiológica: síndrome caracterizada pela cor amarelada da pele decorrente de sua
impregnação por bilirrubina, porém é achada comumente, especialmente nas crianças com idades
entre 48 e 120 horas de vida. Para melhor detecção, o exame deve ser feito sob luz natural.
Deve‑se descrever a intensidade da coloração amarelada detectada e sua distribuição nos
diferentes segmentos do corpo, haja vista a icterícia evoluir no sentido crânio‑caudal. A icterícia
sempre deve ter sua causa investigada se detectada nas primeiras 24 horas de vida ou quando
apresentar‑se de forma intensa.
4.2.2.2 Linfonodos
O sistema de drenagem linfática do corpo é extenso, e, portanto, os linfonodos devem ser avaliados
de acordo com a parte do corpo da criança que está sendo examinada.
Palpe os linfonodos com as polpas dos dedos, procurando nas áreas de presença. Os linfonodos não
são palpáveis, logo, quando são, podem indicar sinal de infecção/inflamação próxima a essa região que
está sendo palpada (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Uma criança com amigdalite, por exemplo, provavelmente terá linfonodos do pescoço
palpáveis. Os gânglios das infecções bacterianas, por exemplo, aparecem na região do pescoço,
próximos ao local em que está instalada a infecção. É fácil localizá‑los. São dolorosos e a área ao
redor fica quente e avermelhada. Já uma criança com apendicite, provavelmente terá linfonodos
inguinais palpáveis.
Para verificar os linfonodos da cabeça e do pescoço, incline suavemente a cabeça da criança para
cima, sem tencionar o músculo esternocleidomastoídeo. Essa manobra facilita a identificação, quando
presentes, dos linfonodos submentonianos, submaxilares, tonsilares e cervicais.
Os nodos inguinais devem ser avaliados com a criança na posição dorsal, e os subclaviculares e
axilares devem ser verificados com os braços levemente abduzidos.
Saiba mais
118
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Todas as áreas com concentração de linfonodos palpáveis devem ser examinadas com o intuito
de verificar se a linfadenopatia é generalizada. Os linfonodos palpáveis devem ser medidos para
comparações futuras (MATOS et al., 2010).
A figura a seguir demonstra a localização das cadeias de linfonodos superficiais e profundos. As setas
vermelhas indicam o sentido da drenagem da linfa:
Aurícula
posterior
Subclavicular Occipital
Axiliar Pré-auricular
Cervical Maxilar
superficial
Epitroclear Bucinador
Cervical Submentoniano
posterior (sublingual)
Submandibular
Nodos inguinais
superficiais Tonsilar
(superior e lateral) Nodos cervicais
profundos superiores
Nodos inguinais
superficiais Nodos Supraclavicular
(inferior e medial) subinguinais Subclavicular
profundos
O exame físico da cabeça deve ser iniciado pela observação do enfermeiro em relação ao formato e
à simetria. A cabeça deve ser arredondada, e deformidades devem ser investigadas.
Para entender melhor a importância da calota craniana durante o crescimento do cérebro da criança
(até os dois anos aproximadamente), deve‑se saber que a calota craniana do RN possui suturas, fontanelas
que permitem que o crescimento do cérebro da criança ocorra sem sofrer pressões da estrutura óssea
craniana e que também protege a estrutura cerebral de impactos externos.
As suturas – frontal, coronal (direita e esquerda), sagital, lambdoide (direita e esquerda) – e as fontanelas
– anterior ou bregmática e a lambida, lambdoide ou posterior – estão demostradas na figura a seguir:
119
Unidade II
Sutura frontal
Fontanela
anterior
Osso frontal
Sutura
coronal
Sutura
sagital
Osso
parietal
Sutura
Fontanela lambdoide
posterior Osso occipital
Na palpação das suturas cranianas, em RN, são comuns as sobreposições das bordas dos ossos do
crânio (cavalgamentos), especialmente no parto normal, as quais desaparecem em poucos dias, bem
como as disjunções de suturas, sem qualquer expressão patológica. Por outro lado, quando ocorre a
fusão intrauterina das suturas, denomina‑se craniossinostose. O osso consolidado exerce pressão contra
o cérebro, que continua crescendo. Trata‑se de uma situação patológica e pode requerer tratamento
cirúrgico (BRASIL, 2012a).
Alguns RN podem apresentar a bossa serossanguínea, que representa edema das partes moles
na área da apresentação, que não respeita o limite dos ossos do crânio, é depressível e regride nos
primeiros dias pós‑parto. O céfalo‑hematoma pode ser observado quando há rompimento de vaso
120
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O controle da cabeça deve iniciar a partir do 3º mês de vida, ou seja, nessa idade a criança já
consegue sustentar a coluna cervical. Trata‑se de um importante marco sobre o desenvolvimento da
criança. Avaliar a postura da cabeça em crianças maiores é fundamental, pois se essa característica não
ocorrer, pode significar atraso do desenvolvimento. Porém, quando um RN é colocado em decúbito
ventral, ele deve conseguir girar a cabeça para os lados, roçando o nariz no lençol.
Estimular a criança a fazer caretas pode ajudar a verificar simetrias de movimentos faciais.
Em relação ao pescoço, é esperado que seja curto e com pregas durante o primeiro mês de vida e
mais alongados posteriormente.
121
Unidade II
4.2.2.4 Olhos
Observação
Conjuntiva bulbar e córnea: devem ser de cor transparente e demonstrar umidade por meio do brilho.
A opacidade da córnea pode representar traumatismos, lesões ou cicatrizes, devendo ser investigada.
Pupilas: fotorreagentes, isocóricas, redondas e simétricas. Utilize uma pequena lanterna para fazer
o exame da fotorreação pupilar.
O neonato, desde o nascimento, deve conseguir fixar os olhos em um ponto de luz. Crianças que com 4
meses de idade ainda não consigam, devem ser avaliadas por um especialista para identificar o problema.
Algumas alterações oculares podem ser verificadas durante o exame físico, tais como (BRASIL, 2012a):
122
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para fazer a inspeção das estruturas internas do olho, o enfermeiro deve utilizar o oftalmoscópio,
permitindo avaliar a importante presença do reflexo vermelho uniforme e brilhante, demonstrando as
artérias, a mácula e a fóvea central.
É importante que logo ao nascer seja realizado o teste do olhinho – reflexo vermelho de fundo de
olho – a fim de detectar qualquer alteração que possa causar obstrução no eixo visual e uma possível
cegueira. O diagnóstico precoce possibilita o tratamento adequado.
Saiba mais
123
Unidade II
4.2.2.5 Ouvidos
Sabendo que todo lobo externo é denominado de orelha, pavilhão auditivo ou aurícula, o enfermeiro
deve prosseguir o exame físico examinando a implantação das orelhas, medindo o alinhamento e altura
da implantação (linha imaginária da órbita externa do olho até o occipúcio craniano). O topo do pavilhão
deverá passar pela linha imaginária (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Observação
A higiene das orelhas deve ser avaliada, e, caso estejam sujas, o enfermeiro deve orientar quanto à
limpeza adequada e como realizá‑la da forma correta. Pode haver presença de cerume (cera produzida
pelas glândulas ceruminosas na porção mais externa do canal auditivo), em maior ou menor quantidade.
Orientar a mãe/cuidador para remover o excesso apenas na parte externa do ouvido, evitando usar hastes
flexíveis para a remoção no conduto auditivo, pois pode haver perfuração do tímpano. O enfermeiro deve
saber identificar a presença do cerume e diferenciá‑lo das secreções purulentas (fétidas, de coloração
amarelada), que são um dos sinais das otites.
Achados anormais em relação à avaliação das estruturas externas das orelhas são: malformações
(ausência de pavilhão auricular), orelhas em desnível, protrusão em relação ao couro cabeludo,
tamanho desproporcionalmente menor (microtia) ou maior (macrotia); presença de secreção e/ou odor
desagradável; presença de lesões e de corpos estranhos (VASCONCELOS; PEREIRA; OLIVEIRA, 1999).
A inspeção das estruturas internas do ouvido permitem visualizar a membrana timpânica por meio
da luz, uma lente de aumento e um espéculo.
Material para o exame: otoscópio (com diferentes tamanhos de espéculos), álcool 70% e bolas
de algodão.
Verifique se o espéculo está adequado ao tamanho do canal (nunca usar espéculos com diâmetros
maiores que o do canal auditivo da criança).
Posicione a criança adequadamente (sentada ou deitada / lateral). A criança deve ser contida caso
não colabore, seja ela RN ou lactente.
124
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O otoscópio deve ser introduzido até a parte cartilaginosa (em torno de 1,2 cm). Em caso de lactentes
pequenos e RN, deve‑se ter muito cuidado para introduzi‑lo, pois suas estruturas são ainda muito
frágeis, cartilaginosas e flexíveis.
Ao introduzir o espéculo no canal externo, já inicie a observação das características das paredes do
canal e da membrana timpânica, que em condições saudáveis têm a coloração rosa ou cinza perolada
e translúcida. Tímpanos com eritema acentuado (inclusive do conduto) ou opaco, com presença de
secreções ou de corpos estranhos não são condições saudáveis, podendo ser sinais de infecção ou
de presença de corpo estranho. É comum verificar a presença de grãos (milho, feijão), que também
podem levar à inflamação e à infecção (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
De acordo com a Lei Federal nº 12.303, de 2 de agosto de 2010, é obrigatória a realização gratuita
do exame de emissões otoacústicas evocadas em todos os hospitais e maternidades para as crianças
nascidas em suas dependências (BRASIL, 2010).
125
Unidade II
Também no sentido de detectar alterações auditivas, o profissional que atender crianças na atenção
básica deverá orientar as mães/pessoas significativas a acompanhar os marcos do desenvolvimento de
seus filhos até os 12 meses de vida, de acordo com a Caderneta de Saúde da Criança (BRASIL, 2002).
A Triagem Auditiva Neonatal (TAN) tem por finalidade a identificação o mais precocemente possível
da deficiência auditiva nos neonatos e lactentes. Consiste no teste e reteste, com medidas fisiológicas
e eletrofisiológicas da audição, com o objetivo de encaminhá‑los para diagnóstico dessa deficiência e
realização de intervenções adequadas à criança e sua família. No caso de deficiência auditiva permanente,
o diagnóstico funcional e a intervenção iniciados antes dos seis meses de vida da criança possibilitam,
em geral, melhores resultados para o desenvolvimento das funções auditiva, da linguagem, da fala, do
processo de aprendizagem e, consequentemente, quando adulta, a criança alcança melhor inclusão no
mercado de trabalho e melhor qualidade de vida (BRASIL, 2012b).
Saiba mais
• Permanência na UTI por mais de cinco dias em situação que envolva: circulação extracorpórea,
ventilação assistida, exposição a medicamentos ototóxicos e diuréticos de alça, hiperbilirrubinemia
com níveis de exsanguineotransfusão e infecções intrauterinas (tais como: citomegalovirose,
herpes, rubéola, sífilis e toxoplasmose).
• Anomalias craniofaciais.
126
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
4.2.2.6 Nariz
Localizado no meio da face, abaixo dos olhos e acima dos lábios, o nariz deve ser verificado
quanto a posição e alinhamento: iniciar no ponto central dos olhos em direção ao entalhe do
lábio superior.
O vestíbulo anterior do nariz poderá ser avaliado, empurrando a ponta do nariz para cima. Observe
se há presença de secreções, bem como a coloração e aspecto.
É importante observar se há batimento de aletas (asas) nasais que, associadas com as condições do
padrão respiratório, podem significar insuficiência respiratória.
Os lábios devem ter uma textura macia, úmida e com aparência roseada. A coloração dos lábios em
uma criança saudável deve ser corada. Quando ocorre diminuição da oferta de oxigênio, a coloração
perilabial pode se tornar azulada (BRASIL, 2012b; HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
A figura a seguir demonstra as estruturas internas da boca que devem ser investigadas durante o
exame físico:
Palato duro
Palato mole
Úvula
Arco palatoglóssico
Arco palatofaríngeo Amígdala palatina
Orofaringe
Língua
127
Unidade II
As estruturas internas da boca poderão ser visualizadas pedindo para a criança abrir
bem a boca e movimentar a língua em diferentes posições. Quando se tratar de lactentes
e infantes, o enfermeiro deve deixar para o final do exame físico a verificação da boca/
garganta e dos dentes. Esse procedimento pode estimular o choro e, muitas vezes, atrapalhar
o restante do exame.
O auxílio de uma espátula para verificação das estruturas internas da boca é indicado em
casos nos quais a criança não colabore, porém, o enfermeiro deverá tentar não usar, inicialmente.
Esse exame pode estimular o vômito, portanto, deve ser realizado de forma rápida e objetiva para
evitar que a criança vomite, expondo‑a ao risco da broncoaspiração. A espátula desencadeia esse
estímulo dependendo da posição em que for introduzida. Se precisar usar, apoie‑a na lateral da
língua, evitando ao máximo esse reflexo.
Visualize a parte posterior da boca, verificando úvula, palato e orofaringe, que devem
se apresentar róseos, íntegros e úmidos. Essas estruturas, quando na presença de sinais
inflamatórios (vermelhidão, edema e dor), lesões e secreções, poderão indicar inflamação da
garganta e/ou infecção.
128
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Examine as bochechas internas, que devem se apresentar íntegras e sem lesões. A monilíase
oral (infecção fúngica causada geralmente por Candida parapsilosis e/ou Candida albicans) pode
ser observada geralmente em RN durante os primeiros meses de vida, frequentemente associada
à dermatite perineal. Em recém‑nascidos a termo, é um processo autolimitado (CAMPOS;
MENEZES; PONE, 2004).
Saiba mais
Os palatos devem ser íntegros, corados e úmidos. Deve‑se avaliar a forma do palato, se
normal ou em ogiva, e sua integridade. Da mesma forma, descrita sobre os lábios, podem
existir alterações palatinas, denominadas de fendas palatinas, ou palatosquise, que também
exigem correções cirúrgicas. Fenda palatina pode ocorrer de forma isolada ou associada a lábio
leporino (queilosquise).
No palato pode‑se ainda encontrar as pérolas de Epstein, que são pequenas formações esbranquiçadas
junto à rafe mediana compostas de restos celulares e sem repercussões clínicas. Avaliando‑se o palato
mole, pode‑se detectar ainda úvula bífida e tumores (BRASIL, 2012b).
As gengivas devem estar coradas, sem lesões ou edemas aparentes. Verifique se há erupções de
dentes e, caso haja, como estão em relação à higienização e integridade, ou seja, ausência de cáries
(HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
O enfermeiro deve ensinar a criança a escovar os dentes (se adequado à idade) e orientar o
cuidador a fazer a inspeção para a verificação das condições da higiene bucal da criança. Nos casos
de neonatos e lactentes, o cuidador deve fazer a limpeza da boca usando o dedo, envolvido com
uma gaze umedecida com água, trocando‑a até o aparecimento da gaze sem resíduos. Já para as
crianças maiores, deverá realizar a escovação dos dentes, com escovas adequadas ao tamanho da
criança e substituídas mensalmente ou sempre que necessário.
Desde o nascimento deve ser constituído o hábito de higienizar a cavidade bucal da criança,
orientando o cuidador e estimulando a criança nesse sentido.
129
Unidade II
Observação
Os limites imaginários do tórax devem ser relembrados, pois subdividem a caixa torácica, de acordo
com a área: anterior, lateral direita (e esquerda) e posterior, conforme demonstrado na figura a seguir:
B
Linha axilar posterior (vertical a
partir da prega axilar posterior)
Linha escapular
Linha vertebral
C
O formato da caixa torácica da criança do período neonatal até o final do período de lactente
é redondo, quase circular, em que o diâmetro anteroposterior é igual ao diâmetro transversal ou
lateral. Conforme a criança cresce, o tórax aumenta mais na direção transversal, tornando o diâmetro
anteroposterior menor (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Algumas características do exame físico do tórax em recém‑nascidos devem ser consideradas, pois,
além de apresentarem o tórax no formato cilíndrico, como comentado, possuem o perímetro torácico (PT)
menor que o perímetro cefálico (PC) até os dois anos de idade, quando essas medidas se igualam. Após
os dois anos de idade, o PT começa a ficar maior que o PC. Geralmente, os recém‑nascidos possuem o PT
aproximadamente 2 cm menor que o PC. Se observada alguma assimetria torácica, pode estar associada
131
Unidade II
à malformação cardíaca, pulmonar, da coluna e do arcabouço costal. Observa‑se também que o apêndice
xifoide é frequentemente saliente e os mamilos e as glândulas mamárias crescem com a idade gestacional
e, em RN a termo, medem, à palpação, cerca de 1 cm. Pode ocorrer hipertrofia bilateral das glândulas
mamárias decorrente de estímulo estrogênico materno (BRASIL, 2012b; HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
Figura 69 – Mamas
• M1 – mama infantil.
132
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
4.2.2.9.9 Pulmões
A inspeção dos pulmões envolve primeiro a observação dos movimentos respiratórios. Verifique
a frequência (número por minuto), o ritmo (regular, irregular, periódico ou ausente), a profundidade
(superficial ou profundo), a qualidade (sem esforço, com esforço) e depois faça a ausculta, para identificar
as características predominantes e os locais das alterações, se existirem.
Traqueia
Primeira costela Esterno (manúbrio)
Esterno
(processo xifoide)
Lembrete
133
Unidade II
Se a criança colaborar e entender, peça para que ela inspire profundamente durante a ausculta, pois
favorecerá o exame.
Observação
Sons respiratórios ausentes ou diminuídos são anormais e devem ser mais bem investigados.
Líquidos, ar ou massas sólidas no espaço pleural podem causar interferências na ausculta, pois
interferem na expansão dos alvéolos.
Observação
O gemido expiratório resulta do fechamento parcial da glote durante a expiração para prevenir
o colapso alveolar nas situações de perda de volume pulmonar, ocorre em situações de sofrimento
respiratório. É uma característica peculiar, sendo um dos sinais de fadiga pulmonar, indicando falência
da musculatura respiratória (OLIVEIRA, 2005).
As retrações torácicas decorrem do deslocamento para dentro da caixa torácica, a cada respiração,
entre as costelas (intercostal), nas últimas costelas inferiores (subcostal) e na margem superior
(supraesternal) e inferior do esterno (xifoide). São observadas com frequência no período neonatal,
em particular no RN prematuro, devido à alta complacência da caixa torácica (caixa mais maleável).
As retrações aparecem quando os pulmões se apresentam com complacência baixa (“mais duro”) ou
quando há obstrução de vias aéreas superiores ou alterações estruturais do tórax (BRASIL, 2013b).
A ausência de sons pode significar atelectasias. Podem ser evidenciados estertores, sibilos e/ou
roncos, igualmente como verificado no exame físico do adulto.
Para realizar o exame e ter uma ausculta efetiva, certifique‑se de que a criança esteja calma e que
não esteja chorando, falando ou rindo. O ambiente esteja propício, aquecido e silencioso. Certifique‑se
de que o estetoscópio deverá estar previamente aquecido para evitar o choque do frio com a pele da
criança, o que desencadeará o choro. Use uma abordagem simétrica e comparativa entre os hemitórax
direito e esquerdo.
A palpação, a percussão e a ausculta devem ser feitas em toda a área de extensão do parênquima
pulmonar. A percussão deve revelar o som claro pulmonar característico, exceto na área de projeção do
fígado, em que o som pode ser submaciço ou maciço.
Em recém‑nascidos, se por um lado a ausculta do murmúrio vesicular pode ser facilitada pela
pequena espessura da parede torácica, por outro, a respiração superficial pode dificultá‑la. Estertores
finos ou crepitantes são comuns logo após o nascimento, assim como roncos de transmissão,
decorrentes de obstrução nasal.
135
Unidade II
Observação
4.2.2.10.10 Coração
O coração fica situado na cavidade torácica, entre os pulmões, e no mediastino, acima do diafragma.
Para o exame físico do coração, coloque a criança na posição sentada ou em semifowler. Ao observar
a área cardíaca, pode haver pulsação visível em crianças com paredes torácicas finas.
Verifique a presença de todos os pulsos – carotídeo, apical, braquial, radial, femoral (principalmente),
poplíteo, tibial posterior e pedioso dorsal – e as características da pulsação – pulso forte, fraco, ausente,
presente, rítmico e arrítmico.
136
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ponto de Erb
O ictus cordis (pulsação do coração) em geral não é visível, e a palpação do precórdio é pouco
perceptível. No RN, a posição horizontalizada do coração faz com que o ictus, quando palpável,
encontre‑se no quarto espaço intercostal esquerdo, lateralmente, à esquerda da linha hemiclavicular.
Dessa forma, o impulso apical em crianças menores de 7 anos é encontrado imediatamente à linha
hemiclavicular esquerda, no 4º espaço intercostal, e à linha hemiclavicular esquerda, no 5º espaço
intercostal em maiores de 7 anos.
O deslocamento do ictus pode indicar doença: se deslocado para a direita, por exemplo, pode ser
decorrente de pneumotórax hipertensivo à esquerda. A detecção de frêmito é sempre sugestiva de
cardiopatia, principalmente se associado a sopro. Em crianças maiores, se for mais intenso na borda
esternal esquerda alta, sugere estenose pulmonar e estenose de artérias pulmonares; na borda esternal
esquerda baixa, comunicação intraventricular; na borda esternal direita alta, estenose aórtica; na
fúrcula esternal, estenose aórtica, persistência do canal arterial ou coarctação da aorta. Em RN essa
diferenciação é difícil (BRASIL, 2013b).
A ausculta cardíaca deve ser sistematizada e realizada com a criança calma e repetida várias vezes,
avaliando‑se as bulhas nos focos em que são normalmente mais audíveis.
Observação
Os sons cardíacos são encontrados de acordo com a localização anatômica das valvas cardíacas, que
estão descritas no quadro a seguir:
137
Unidade II
Lembrete
Outra categoria importante dos sons cardíacos são os sopros que são produzidos por vibrações
dentro das câmaras cardíacas ou nas artérias principais, provenientes do fluxo de sangue para trás e
para adiante. Os sopros são classificados como:
No RN a termo, o sopro sistólico acontece no nível do terceiro ou quarto espaço intercostal, ao longo
da borda esternal esquerda, nas primeiras 48 horas de vida. Quando é um achado isolado, sem outros
sinais associados, como taquicardia, taquipneia ou cianose, costuma não ter repercussão clínica e, em
geral, desaparece nos primeiros três meses de vida. Por outro lado, a ausência de sopros não afasta
cardiopatia, já que em cerca de 20% das cardiopatias congênitas graves não se auscultam sopros de
imediato (BRASIL, 2013b).
138
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
4.2.2.11 Abdome
Observação
Avalie o umbigo quanto à localização, higiene e características. Geralmente são achatados e fazem
ligeira protrusão em relação à pele abdominal.
Uma atenção especial deve ser desprendida na avaliação da região umbilical quando se tratar
de recém‑nascidos. O enfermeiro deverá inspecionar as condições do coto umbilical. Inicialmente
gelatinoso, ele seca progressivamente, mumificando‑se perto do 3º ou 4º dia de vida, e costuma
desprender‑se do corpo em torno do 6º ao 15º dia. Habitualmente, o cordão umbilical apresenta duas
artérias e uma veia. A presença de artéria umbilical única pode estar associada a anomalias renais
ou a problemas genéticos, principalmente trissomia do cromossomo 18. É importante pesquisar a
presença de secreções na base do coto umbilical ou de eritema da pele ao redor da implantação
umbilical (BRASIL, 2013b).
Secreção purulenta na base do coto, com edema e hiperemia da parede abdominal, sobretudo
se formar um triângulo na parte superior do umbigo, indica onfalite, infecção de alto risco para
a criança.
A higiene da região umbilical com álcool a 70% é um importante fator de proteção contra infecção.
Esta orientação deve ser dada à mãe ainda na maternidade.
139
Unidade II
• Gastrosquise: pode ser definida como um defeito total na espessura da parede abdominal,
de localização paraumbilical, associada à evisceração do intestino fetal (em alguns casos, o
fígado também pode fazer parte da evisceração). Diferentemente da onfalocele, a gastrosquise
geralmente não está associada a outras malformações fora do trato gastrointestinal. Entretanto,
têm sido observados alguns casos associados à Síndrome de Smith‑Lemli‑Opitz. Má‑rotação
intestinal, atresias e estenoses estão presentes em 25% dos casos. A gastrosquise é chamada
simples quando se tratar de um defeito isolado, e complexa quando associada a alguma
anomalia citada (ALVES et al., 2016).
Inicie a palpação do abdome da criança superficialmente, usando uma das mãos, palpando todo o
abdome, buscando áreas de sensibilidade, presença de lesões superficiais e cistos.
Depois, faça a palpação profunda para investigar os grandes órgãos do abdome, iniciando pelos
quadrantes inferiores e depois os superiores. O abdome deve estar normotenso.
Lembrete
140
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
As hérnias são muito comuns em lactentes e podem ser palpadas (BOWDEN; GREENBERG, 2005;
HOCKENBERRY; WILSON, 2014). A seguir, tipos de hérnia:
• Hérnia inguinal: mais comum em meninos (protusão do peritônio através da parede abdominal no
canal inguinal); massa palpável na região escrotal.
• Hérnia femoral: mais comum em meninas (massa palpável na região da superfície anterior da coxa).
• Hérnia umbilical: pode ser palpada na região periumbilical e evidenciada durante o choro, em RN
e lactentes.
Hérnia
umbilical
Veia femoral
Hérnia inguinal
O fígado das crianças, diferentemente do dos adultos, pode ser palpável até 2 cm abaixo da borda
costal direita em lactentes menores, e o baço não é palpável em nenhuma idade.
Faça a ausculta verificando a peristalse (ruídos intestinais) e registrando a frequência por minuto.
É importante lembrar que os neonatos e lactentes possuem peristaltismo acelerado, e, portanto, a
frequência das evacuações será maior nesses períodos etários.
141
Unidade II
Depois de iniciar a amamentação, o RN passa das fezes meconiais para um tipo de fezes denominadas
de fezes de transição, que se assemelham à coloração do abacate, quando amassado, pois são
amarelo‑esverdeadas, com grumos. Veja demonstração das fezes de transição na foto a seguir:
Após a introdução de novos alimentos, além do leite materno, as fezes da criança apresentam
características mais próximas às de adultos.
É importante que o enfermeiro conheça sobre essas características para que se atente a possíveis
alterações quanto a coloração, consistência, frequência e presença de parasitas, como lombrigas e outros
vermes. Deve‑se conhecer também os hábitos alimentares da criança.
A avaliação da genitália da criança segue do exame abdominal, enquanto a criança ainda está em
decúbito dorsal.
Recém‑nascidos (RN)
A primeira diurese costuma ocorrer na sala de parto ou nas primeiras 48 horas. Em mais de 90% dos
casos ocorre nas primeiras 24 horas. Eventualmente, observam‑se manchas avermelhadas nas fraldas
devido à presença de uratos na urina e não têm repercussão clínica.
142
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Genitália masculina do RN
A bolsa escrotal é rugosa no RN a termo. Sua palpação permite verificar a presença dos
testículos, assim como sua sensibilidade, tamanho e consistência. Os testículos migram da
cavidade abdominal para o escroto através do canal inguinal durante o final da gestação,
sendo que no RN a termo os testículos são habitualmente encontrados dentro da bolsa
escrotal. A não palpação dos testículos na bolsa pode significar criptorquidia.
Verificar se existe suspeita de genitália externa ambígua, devendo ser investigado por
meio de exames complementares (ultrassonografia e genótipo).
Genitália feminina do RN
O tamanho dos grandes lábios depende do depósito de gordura e da idade gestacional da criança.
Nas crianças a termo, os grandes lábios chegam a recobrir totalmente os pequenos lábios.
Pode ser comum a presença de tecido himenal, que desaparecerá em semanas após o nascimento.
Verificar se existe suspeita de genitália externa ambígua, devendo ser investigado por meio de exames
complementares (ultrassonografia e genótipo).
Puberdade
Lembrete
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3 3
4 4
5 5
144
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Órgão genital masculino: crescimento peniano e da bolsa escrotal, de acordo com a figura:
2) 10‑13,5 anos: crescimento da bolsa escrotal e dos testículos, sem aumento do pênis.
3) 10,5‑15 anos: ocorre também aumento do pênis, inicialmente em toda a sua extensão.
4) 11,5‑16 anos: aumento do diâmetro do pênis e da glande, crescimento dos testículos e do escroto,
cuja pele escurece.
O enfermeiro deve saber avaliar o atraso puberal, seguindo o esquema sugerido pelo Ministério da Saúde:
Acompanhamento da velocidade de
Dosagem de gonadotrofinas, crescimento anual e, se menor que
LH e FSH 5cm/ano, considerar riscos
145
Unidade II
Deve‑se verificar a firmeza das nádegas, a região anal e o ânus quanto a presença das pregas glúteas e do
reflexo anal. Habitualmente, faz‑se apenas a inspeção, podendo‑se verificar, por palpação delicada, o tônus
anal. Em recém‑nascidos, o ânus costuma distar cerca de 1 cm da borda inferior da vulva ou da implantação do
escroto. Não se recomenda, de rotina, toque ou introdução de sonda retal para verificação de sua permeabilidade.
A urina de uma criança hidratada deve ser de coloração clara e transparente. A urina fica turva como
consequência da alteração de qualquer partícula na amostra, como bactérias, cristais e células epiteliais.
O odor característico da urina pode ser alterado de acordo com reações metabólicas do organismo. Odores
diferenciados denunciam reações fora do normal. A densidade urinária da criança é em torno de 1.010 e 1.015
até os dois anos de idade, e o volume urinário de 2 a 4 mL/kg/hora. Urina com concentração em excesso pode
denunciar carga de solutos aumentada, como em casos de desidratação (BRASIL, 2013b).
O dorso da criança deve ser avaliado, lembrando que o recém‑nascido tem a curvatura dorsal em
forma de C, a partir das curvas torácicas e pélvicas. De acordo com os períodos etários, surgem as
mudanças em relação ao tônus muscular da coluna cervical (que dá sustentação à cabeça) e da coluna
vertebral, alterando gradativamente a postura típica da curva em S dobrada.
Curvas acentuadas na postura são anormais. Examine a coluna, se possível com a criança de pé
e ereta. Com a coluna exposta, observe a região posterior, verificando se há assimetria dos ombros e
quadris. Com a criança inclinada para frente, de modo que as costas estejam paralelas ao chão, observe
de lado, notando assimetria ou proeminência gradil costal.
Observe a mobilidade da coluna cervical, pois rigidez de nuca pode significar sinais de meningite.
Um RN normal, a termo, apresenta hipertonia em flexão dos membros. Quando em decúbito dorsal,
apresenta os membros superiores fletidos e os inferiores semifletidos, cabeça lateralizada e mãos
cerradas (veja a figura a seguir). O tônus muscular depende da idade gestacional; quanto mais próximo
do termo, maior o tônus flexor. O trofismo pode ser averiguado pela palpação do músculo peitoral.
Devido ao tônus flexor, quando se faz uma leve extensão do braço, o músculo peitoral apresenta‑se
fácil à palpação. Considera‑se a espessura em torno de 1 cm como trofismo adequado (BRASIL, 2013b).
146
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Verifique a coloração e a temperatura de cada membro, que devem ser iguais, embora os pés possam
ser mais quentes que as mãos.
A simetria e a adequação da movimentação dos membros devem ser bem avaliadas. Atenção
especial deve ser dada à movimentação dos membros superiores, que pode estar comprometida por
lesões traumáticas do parto.
No exame dos pés, específicos para os RN, deve‑se estar atento a seu posicionamento. Não é
infrequente a detecção de pés tortos. É necessário diferenciar o pé torto posicional, decorrente da
posição intrauterina, do pé torto congênito, que em 50% dos casos é bilateral e simétrico, não é redutível
por manobras e necessita de tratamento ortopédico.
• Pé varo: há torção do pé fazendo com que sua face plantar fique voltada medialmente.
A forma dos ossos deve ser verificada também em relação às pernas, que podem apresentar‑se arqueadas
(figura A) ou com o joelho varo (figura B), que é o arqueamento lateral da tíbia, representados na figura a seguir:
>2"
>3"
B B
147
Unidade II
Para avaliar a luxação congênita do quadril no RN, realiza‑se a Manobra de Ortolani. Nessa
avaliação, a criança é colocada em decúbito dorsal, segurando‑se os membros inferiores com os
joelhos dobrados, e quadris fletidos a 90º e aduzidos (juntos à linha média). A partir dessa posição,
faz‑se a abdução das coxas com leve pressão nos joelhos. A manobra deve ser repetida várias vezes,
simultaneamente, para os dois lados dos quadris ou fixando‑se um lado e testando‑se o outro,
aplicando‑se diferentes pressões. Quando existe instabilidade coxo‑femural, a Manobra de Ortolani faz
com que a cabeça do fêmur se encaixe no fundo do acetábulo e esse deslocamento é percebido nas
mãos como um “click” (Ortolani positivo). Identificam‑se três fatores de risco para luxação congênita do
quadril: gênero feminino, crianças com história familiar de displasia congênita do quadril e parto com
apresentação pélvica (BRASIL, 2012a).
O exame físico neurológico da criança volta‑se para o comportamento, a função motora, sensorial e
cerebelar, assim como os reflexos e nervos cranianos.
O exame físico neurológico da criança deve ser realizado considerando‑se as características próprias
da idade integradas à sua evolução clínica e à história materna. O exame, de preferência, também
deve ser conduzido em um ambiente tranquilo, aquecido, iluminado, respeitando o estado de saúde da
criança, evitando manipulações excessivas, principalmente nas que são mais imaturas ou que estejam
muito doentes.
Estar atento para algumas condições que podem influenciar o exame neurológico, como sepse,
distúrbio metabólico ou cardiorrespiratório, uso de medicações como sedativos, hipnóticos e analgésicos.
Antes de realizar o exame neurológico propriamente dito, é essencial realizar a avaliação global da
criança e do seu estado comportamental.
Resumo
A avaliação das estruturas acessórias da pele pode ser feita enquanto a pele, o
couro cabeludo ou membros estão sendo inspecionados.
152
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Exercícios
Questão 1. (CESPE, 2013) Os cuidados com a pele de recém‑nascidos, lactentes e crianças devem
buscar preservar a integridade cutânea, prevenir toxicidade e evitar exposições químicas prejudiciais à
pele. A respeito de cuidados com a pele de recém‑nascidos, assinale a alternativa correta:
A) O banho deve ser realizado rotineiramente, como método preventivo de infecções, sendo
recomendado logo após o nascimento.
B) Como método preventivo de infecção, deve‑se utilizar clorexidina no coto umbilical nos primeiros
dez dias de vida ou até o coto umbilical cair.
C) Após as evacuações, deve‑se limpar a região perianal do recém‑nascido com lenços umedecidos.
D) As fitas usadas na fixação dos acessos venosos na criança devem ser as mesmas usadas em
adultos, para não haver risco de soltura.
Análise da alternativa
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o banho diário deve ser de imersão, com sabonete neutro, utilizando‑se de banheira e
de toalhas individuais, preferencialmente na mesma hora do dia, com água tratada e morna (36,5 °C a
37 °C). Deve ser evitado o uso de talcos e soluções antissépticas.
B) Alternativa correta.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Justificativa: os métodos preventivos de infecção com antissépticos, tais como álcool ou clorexidina
no coto umbilical reduzem as infecções e, consequentemente, a mortalidade infantil.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a higiene genital deve ser feita em toda troca de fraldas (no mínimo de 5 a 6 vezes
ao dia), removendo os resíduos de fezes com papel higiênico, algodão ou lenços umedecidos e limpeza
suave da pele e genitais com fralda umedecida em água morna. Pode ser utilizada pomada de óxido de
zinco na região da fralda para prevenção de assadura.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: as fitas adesivas hipoalérgicas devem ser usadas na fixação dos acessos venosos na criança.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. (VUNESP, 2007) A criança que, quando colocada de bruços, levanta a cabeça e os ombros,
segue com os olhos nas pessoas e objetos que estão perto, gosta de olhar para as mãos e colocá‑las
na boca, segundo a Caderneta de Saúde da Criança, de 2007, do Ministério da Saúde, apresenta
desenvolvimento neuropsicomotor compatível à idade de:
A) 1 a 2 meses.
B) 2 a 4 meses.
C) 4 a 6 meses.
D) 6 a 9 meses.
E) 9 a 12 meses.
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