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Licenciatura em Ciências Sociais

Igualdade, Exclusão Social e Cidadania – Apontamentos tendo por base apontamentos de colegas de
anos anteriores – 2020/2021
Ana Pereira – Aluna n.º 1800094

TEMA 1
Viver e Trabalhar num mundo Desigual

1. Texto 1 – Introdução ao estudo das desigualdades (P. Abrantes):


• O que é a desigualdade?
➢ Desigualdade
➔ Falamos de desigualdade quando uma pessoa ou um grupo de pessoas têm mais recursos, oportunidades,
influência e/ou liberdade do que outras.
➔ Associarmos desigualdades ao facto de existirem pessoas com muitos bens e rendimentos, enquanto outros
têm poucos. Isso revela a importância da propriedade e dos recursos económicos nas nossas sociedades
(materialistas e capitalistas).
➔ Contexto Social
✓ Em diversos contextos sociais, o facto de algumas pessoas serem consideradas mais fortes fisicamente,
mais sábias ou com poderes divinos, por exemplo, tem-lhes conferido igualmente grandes privilégios e
um poder significativo sobre as outras.
✓ O sistema de castas na Índia tem uma origem milenar e continua a existir (de forma menos intensa). É
possivelmente o sistema mais complexo e duradouro de imposição de desigualdades à nascença sendo
um exemplo de um modelo ancestral de desigualdades, baseado em categoriais religiosas.
➔ Assim, as desigualdades podem refletir-se em diversas dimensões da nossa vida, sejam a quantidade e
qualidade dos bens que cada pessoa possui ou pode utilizar, as condições em que vive, as atividades a que cada
um está obrigado ou que está proibido de desempenhar, a possibilidade de escolher os seus parceiros sexuais,
etc.
➔ Algumas pessoas tendem a justificar essas desigualdades pela diversidade natural que existe em qualquer
população. O facto de umas pessoas serem mais fortes fisicamente do que outras, mais velhas, mais inteligentes
ou mais bonitas, explicaria as desigualdades existentes na sociedade.

• Como se produzem as desigualdades na vida social?


➢ Em nenhuma outra espécie se observam desigualdades tão grandes como entre os seres humanos. As desigualdades
mais fortes e duradoras ligadas aos complexos mecanismos de dominação e apropriação. O processo para contrariar
a dominação é a emancipação e a apropriação é a expropriação, acontecem geralmente em períodos revolucionários
através de movimentos sociais, sindicatos, opinião pública, etc.
➢ Importa notar que a apropriação e a dominação nem sempre ocorrem em simultâneo. Certos indivíduos ou grupos
podem ser particularmente incisivos na apropriação dos recursos, sem necessariamente dominarem, enquanto outros
se distinguem por dominar outros indivíduos ou grupos, sem mover grandes processos diretos de apropriação.
Contudo, se os processos foram longos no tempo, existe uma tendência para que a dominação leve à apropriação ou
que a apropriação leve à dominação.

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➢ A dimensão e a profundidade das desigualdades, sobretudo em algumas regiões do mundo, só podem ser
compreendidas se atendemos a que a apropriação e a dominação podem, em algumas circunstâncias, ser a base de
processos de exclusão e de exploração.
➔ Exclusão
✓ diz respeito ao processo através do qual os indivíduos ou grupos dominantes não permitem o acesso de
outros indivíduos ou grupos a certos recursos ou oportunidades.
✓ O mecanismo que contraria este processo designa-se inclusão.
✓ É conhecido que, em muitas sociedades, os direitos e deveres de cada grupo variavam notavelmente. Os
casos mais extremos eram, possivelmente, as populações conquistadas e que eram convertidas em
escravos dos povos conquistadores, como um mero objeto, não tendo sequer direitos sobre a própria
vida.
➔ Exploração
✓ diz respeito a processos através dos quais os indivíduos ou grupos dominantes apropriam-se de uma
parte dos recursos gerados pelo trabalho de outros.
✓ É o caso, por exemplo, de alguém que contrata trabalhadores para lavrar o seu terreno, mas que lhes
paga apenas metade do valor que obtém com a venda dos produtos agrícolas, obtendo lucros avultados
a partir do restante valor.
➢ O que parece ocorrer nos países com desigualdades mais extremas – ou seja, como mecanismos de exploração e
exclusão mais incisivos – é que os rendimentos muito baixos não permitem à maioria da população sair de círculos
de pobreza e privação, investir na sua educação ou alentar esperanças de melhorar as suas condições de vida através
de atividades produtivas e legais.
➢ Assim, as empresas dependem quase somente da procura externa e os próprios lucros, frequentemente milionários,
dos grupos mais poderosos acabam por sair do país, sendo guardados, investidos ou gastos (em atividades de
consumo), em qualquer dos casos, no estrangeiro.

• Tipos de Poder
➢ Podemos dizer que as desigualdades dizem respeito ao facto de alguns indivíduos e grupos terem mais poder do que
outros (incluindo poder político, económico, cultural, etc.). Alias, a possibilidade de gerar mecanismos de
apropriação e dominação depende do modo como o poder se encontra distribuído dentro de uma população.
➢ O sociólogo inglês W. G. Runcinam chegou a uma teoria geral do poder, baseado em três tipos fundamentais:
coercivos, ideológicos e económicos:
➔ Poder Coercivo
✓ É aquele que permite a apropriação e a dominação através da força.
O exemplo mais simples é o poder exercido, numa pequena comunidade, pelos indivíduos com maior
força física e que, desta forma, podem desafiar e submeter os restantes, obtendo desta forma mais
privilégios e direitos.

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➔ poder ideológico ou poder simbólico
✓ diz respeito à produção e transmissão de ideias que justificam que certas pessoas (ou grupos) tenham
maior poder do que outras (religião).
➔ Poder Económico
✓ diz respeito à capacidade aquisitiva no mercado. Os mercados constituem, precisamente, um meio
regulado de apropriação, assente no intercâmbio, seja pela troca direta de bens e serviços, seja através
da utilização de uma moeda. Idealmente, o poder económico estaria dependente da capacidade
produtiva de cada indivíduo ou família.
✓ Idealmente, o poder económico estaria dependente da capacidade produtiva de cada indivíduo ou
família, pelo que não apresentaria grandes variações. No entanto, precisamente devido a processos de
apropriação, dominação, exploração e exclusão, certos indivíduos ou grupos apresentam-se no mercado
numa posição de enorme vantagem relativamente a outros e os próprios mecanismos de mercado
tendem a fazer com que essa posição permita mais vantagens, num processo de acumulação crescente
(ou de privação crescente, se virmos do ponto de vista dos mais desfavorecidos).
➢ Monopólio da violência legítima:
Giddens defendeu que o poder coercivo não deixou de existir, mas foi concentrado no estado e nos seus agentes,
através da produção de leis, de corpos de manutenção da ordem e de instâncias judiciais.
➢ Autoridade:
conceito desenvolvido por Max Weber precisamente para dar conta do poder que é considerado legítimo, numa
determinada sociedade e tempo histórico. Segundo este pensador alemão, a autoridade poderia resultar das
tradições de um povo, do carisma de alguns indivíduos ou ainda dos sistemas legais-burocráticos em vigor em certa
sociedade.

• Estruturas, ação e transformação


➢ Para entender o conceito de estrutura social, é útil começar por uma metáfora:
➔ Imaginemos que a sociedade é um edifício com vários andares, sendo que as casas de baixo são pequenas e
com pouca luz, enquanto as casas de cima são espaçosas e luminosas.
➔ O facto de nascermos num piso de baixo ou de cima não depende de nós. No entanto, na medida em que o
edifício tenha vias de acesso entre pisos, é possível trabalharmos no sentido de, um dia, ocuparmos uma casa
num piso melhor.
➔ Por seu lado, o facto de o edifício já estar construído desde que nascemos também não significa que não tenha
sido construído por seres humanos e que, caso nos juntemos, não possamos operar certas transformações no
edifício, de forma, por exemplo, a reduzir as desigualdades entre umas habitações e outras.
✓ Estruturas sociais:
o são propriedades duradouras da vida social que condicionam e afetam as nossas vidas.
✓ Mobilidade social:

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o é a possibilidade de alterarmos a nossa posição individual na estrutura social.
✓ Transformação social:
o é o processo através do qual, coletivamente, podemos mudar certos aspetos da estrutura
social.
2. Texto 2 – Pobreza, exclusão Social e Segurança Social (Giddens/Cap. 12):
• Pobreza
➢ Os Sociólogos e investigadores têm favorecido duas abordagens diferentes sobre a pobreza:
➔ Pobreza Absoluta - está enraizado na ideia de subsistência - as condições básicas que permitem sustentar uma
existência física saudável.
1) Diz-se que pessoas que carecem de requisitos fundamentais para a existência humana - tal como comida
suficiente, abrigo e roupa - vivem em situação de pobreza.
2) Considera-se que o conceito de pobreza absoluta é universalmente aplicável.
3) Pode afirmar- se que qualquer indivíduo, em qualquer parte do mundo, vive na pobreza se estiver abaixo
deste padrão universal.
➔ Pobreza relativa - relaciona a pobreza com o padrão de vida geral prevalecente numa determinada sociedade.
1) Os defensores do conceito de pobreza relativa afirmam que a pobreza é culturalmente definida e não deve
ser medida de acordo com um padrão de privação universal.
2) É errado assumir que as necessidades humanas são idênticas em todo o lado - de facto, elas diferem entre
sociedades e no seio destas.
➢ As Explicações da Pobreza podem ser agrupadas em duas categorias principais:
➔ Culpabilização da vítima: as teorias que consideram os indivíduos pobres responsáveis pela sua própria
pobreza;
➔ Culpabilização do sistema: e as teorias que consideram a pobreza como produzida e reproduzida pelas forças
estruturais da sociedade.
➢ Abordagens de Explicação da Pobreza:
a) De acordo com Lewis, existe uma cultura da pobreza entre muitas pessoas pobres, a pobreza não é o
resultado de inadequações individuais, mas de uma atmosfera social e cultural mais lata na qual as crianças
pobres são socializadas.
A cultura da pobreza é transmitida entre gerações porque os jovens desde cedo não vêm razão para aspirar
a algo mais. Em vez disso, resignam-se a uma vida de empobrecimento.
b) A segunda abordagem para explica que as forças estruturais de uma sociedade - fatores como a classe, o
género, a etnia, a posição ocupacional, a escolaridade e outros - moldam a forma como os recursos são
distribuídos.
i. Defende-se que a falta de ambição entre os pobres muitas vezes tomada como “cultura da
dependência”; é, de facto, uma consequência das suas situações condicionadas e não uma causa
das mesmas.

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ii. Defendem que a redução da pobreza não consiste apenas numa questão de mudança das
conceções individuais, mas requer medidas políticas destinadas a distribuir de forma mais
uniforme os rendimentos e os recursos pela sociedade.
• Exclusão Social
➢ Este termo, foi introduzida por sociólogos para se referirem a novas fontes de desigualdade.
➢ Exclusão social: formas pelas quais os indivíduos podem ser afastados do pleno envolvimento na sociedade. É um
conceito mais amplo do que o de subclasse, e tem a vantagem de incluir processos - mecanismos de exclusão. É
também uma questão diferente da pobreza em si. Foca a atenção num conjunto mais amplo de fatores que impedem
que indivíduos ou grupos tenham oportunidades que estão abertas à maioria da população.
➢ A exclusão e inclusão podem ser vistas em termos económicos, políticos ou sociais.
➔ Exclusão económica:
✓ Os indivíduos e comunidades podem viver a exclusão da economia tanto em termos da produção como
do consumo.
1) Do lado da produção, o emprego e a participação no mercado de trabalho são centrais para a
inclusão.
2) Em termos de padrões de consumo, isto é, em termos daquilo que as pessoas compram, consumem
ou usam nas suas vidas diárias.
➔ Exclusão política:
✓ a participação política ativa, considerada uma pedra angular dos estados democráticos liberais, pode
estar fora do alcance dos socialmente excluídos, que podem não ter os recursos, a informação e as
oportunidades necessárias para participar no processo político
➔ Exclusão social:
✓ A exclusão pode também ser vivida no domínio da vida social e comunitária.
1) As áreas que sofrem de um elevado grau de exclusão social podem ter instalações comunitárias
limitadas, como parques, campos desportivos, centros culturais e teatros.
2) Os níveis de participação cívica são frequentemente baixos.
3) Para além disso, indivíduos e - famílias excluídas podem ter menos oportunidades de lazer, de viajar
e de desenvolver atividades fora de casa.
4) A exclusão social pode também significar uma rede social limitada ou fraca, levando ao isolamento
e ao contacto mínimo com outros
➢ Afinal, a palavra “exclusão” implica que alguém ou alguma coisa está a ser afastada de outra. Mas a exclusão social
não é apenas o resultado da exclusão de pessoas - pode também resultar de pessoas que se excluem a si mesmas de
aspetos centrais da sociedade.
1) Os indivíduos podem optar por desistir dos estudos, recusar uma oportunidade de emprego e
tornar-se economicamente inativos ou abster-se de votar em eleições políticas.

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2) Ao considerarmos o fenómeno de exclusão social devemos estar conscientes, por um lado, da
interação entre a ação e a responsabilidade humana e, por outro, do papel desempenhado pelas
forças sociais na moldagem das situações em que as pessoas se encontram.

• A Segurança social e a reforma do estado-providência


➢ Estado-providência- estados em que o governo desempenha um papel central na redução de desigualdades entre a
população através da provisão ou subsídio de certos bens e serviços.
➢ O objetivo do previdência- é contrariar os efeitos negativos do mercado em pessoas que por alguma razão lutam
para satisfazer as suas necessidades básicas. Incluem normalmente: educação, saúde, habitação, rendimento,
incapacidade, desemprego e pensões.
➢ Modos de disponibilização dos benefícios:
➔ Benefícios universais:
✓ em que a previdência é cedida a qualquer individuo como direito pessoal, independentemente dos seus
rendimentos e estatuto económico;
➔ Avaliação dos meios:
✓ em que os candidatos á segurança social são elegidos de acordo com algumas características, muitas
vezes o rendimento.

• Teorias do Estado-Providência
➢ Marshall: direitos de cidadania
➔ Marshall traçou a evolução da previdência social na Grã-Bretanha e identificou 3 estádios:
✓ Séc. XVIII – direitos civis: incluíam importantes liberdades pessoais como a liberdade de expressão,
pensamento ou de religião, o direito á propriedade, e o direito a um tratamento legal justo;
✓ Séc. XIX – direitos políticos: o direito ao voto, o direito a assumir cargos políticos, e a participar no
processo político;
✓ Séc. XX – direitos sociais: direito á segurança social e económica através da educação, saúde, alojamento,
pensões e outros serviços.
➢ Esping-Andersen: os três mundos da segurança social
➔ Andersen apresentou uma tipologia tripartida de regimes de previdência, e ainda definiu um nível de segurança
social não comercializável: o grau de independência do mercado dos serviços da previdência social. Num
sistema de ausência elevada de comercialização, a previdência é fornecida publicamente e não está de forma
alguma ligada ao rendimento ou aos recursos económicos da pessoa.
➔ Esping-Andersen identificou 3 tipos de sistemas de previdência:
✓ Social-democrata: estão fora da esfera do mercado e são subsidiados pelo estado e disponibilizados a
todos os cidadãos (benefícios universais).
✓ Conservador-corporatista:

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1) fora da esfera do mercado, mas não são universais.
2) O montante de benefícios depende da posição na sociedade.
3) Regime dirigido não para eliminar desigualdades, mas para manter a estabilidade social,
famílias fortes e lealdade ao estado.
✓ Liberal:
1) a segurança social está dentro da esfera do mercado.
2) Há benefícios disponíveis para os necessitados, de acordo com a avaliação dos seus meios, mas
estes tornam-se estigmatizados porque espera-se que a população adquira a sua própria
segurança social no mercado. Ex: EUA.

3. Texto “Direitos Iguais, Vidas Desiguais” – Silva, F.; Vieira, M.; Cabaço, S.
• Os portugueses e a desigualdade: perceções, indicadores e comparação internacional
➢ Indicadores e atitudes sobre a desigualdade
➔ Portugal destaca-se no panorama internacional pelos elevados níveis de desigualdade na distribuição do
rendimento e este facto tem reflexo na grande saliência que os inquiridos conferem a este problema.
➔ A Crise Financeira de 2011 veio reforçar as desigualdades
➔ acresce que entre os maiores defeitos apontados ao funcionamento da democracia conta-se o seu output em
termos de desigualdades sociais (10%), que, na opinião dos inquiridos, é apenas superado pela ineficácia dos
governos (11%) e pela desconfiança dos políticos (19%). Também nas temáticas que mais preocupam os
portugueses, as questões sócio-económicas ganham uma dianteira inequívoca (desemprego, pobreza, exclusão
social), sendo de esperar que esta tendência se veja agravada nos próximos anos, até porque 70% dos inquiridos
afirmam já ter visto a sua qualidade de vida diminuída em razão da crise.
➔ A opinião dos Portugueses, sobre a desigualdade, varia significativamente de grupo para grupo, sendo que
estas opiniões são igualmente sensíveis ao tipo concreto de desigualdade que esta em questão, isto é, nem
todas as formas de desigualdade são consideradas igualmente problemáticas e a posição relativa de cada grupo
na Sociedade portuguesa determina igualmente em boa medida a respetiva perceção deste problema – quanto
maior a distância entre ricos e pobres for percecionada como sendo muito significativa (sobretudo, se for
considerada ilegítima), maior relevo será conferido a esse problema.
➢ A desigualdade vista do meio
➔ Os inquiridos portugueses olham para a desigualdade sócio-económica do ponto de vista da «classe média»,
em que se localizam subjetivamente, e, talvez fruto das dificuldades que sobre eles impendem, 70% partilham
da opinião de que é a «classe média» o grupo que mais dificuldades enfrenta em resultado da crise económica
e financeira. Apesar disto, os inquiridos portugueses, em contraste com os seus congéneres britânicos, não
deixam de demonstrar uma empatia e solidariedade muito expressivas para com a situação dos mais pobres
(82%), sendo ao mesmo tempo bastante céticos quanto às dificuldades sentidas pelos mais ricos (61%) na

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presente conjuntura. Esta última opinião é mais comum entre pessoas de esquerda, que não costumam ir à
igreja e que são contra a privatização de empresas públicas.
➢ Desigualdade sócio-económica: a sua natureza política
➔ A desigualdade sócio-económica é um problema eminentemente político, não só porque é sempre a partir de
uma certa posição ideológica e de uma visão do tipo de sociedade em que queremos viver que a desigualdade
é constituída ou não como um problema e mais ainda como um problema passível de correção pela intervenção
estatal.
✓ Noutros termos, é a partir de uma certa conceção de justiça distributiva, da sociedade em que se quer
viver, e da relação ideal entre o Estado, a economia e a sociedade que a desigualdade é constituída
enquanto problema passível de resolução, ou, pelo menos, de correção parcial, e já não enquanto mera
fatalidade.
✓ Em segundo lugar, porque o combate à desigualdade socioeconómica exige a intervenção do Estado, a
instituição política por excelência. Entre as funções do Estado de direito democrático, e para além das
decorrentes da proteção dos direitos, liberdades e garantias, contam-se assim as suas funções sociais,
que ganharam crescente expressão no decurso do último século e meio.
➢ Comparação com a Inglaterra
➔ As atitudes dos inquiridos britânicos sobre a pobreza e a desigualdade são muito diferentes das dos inquiridos
portugueses. Em Inglaterra prevalece a perceção de que existem oportunidades para que todos possam subir
na vida e que a desigualdade existente reflete essa estrutura de oportunidades – isto é, uns ganharão mais
porque fazem por isso, ao passo que outros ganharão menos em grande parte por falta de empenho em fazerem
uso dessas oportunidades e, portanto, por responsabilidade própria. Em Portugal, pelo contrário, a pobreza e
a desigualdade são vistas como refletindo não tanto uma hierarquia de mérito individual quanto uma estrutura
desigual de oportunidades, que deslegitima os lugares cimeiros na escala do rendimento e se constitui como
um entrave sério a trajetórias de mobilidade social ascendente pelo trabalho e esforço.

• Os portugueses e a ação redistributiva do Estado


➢ Estado redistributivo: salários e impostos
➔ A ideologia política tem um grande papel na clivagem das desigualdades.
➔ Uma das formas mais óbvias de desigualdade sócio-económica é a desigualdade salarial. As disparidades
salariais, quando muito significativas e tornadas públicas, são usualmente motivo de sentimentos de injustiça
relativa e, por vezes, até de indignação – sobretudo se acompanhada pela perceção de que os salários mais
elevados não são merecidos, mas antes de uma estrutura de oportunidades fortemente enviesada, que reforça
as desigualdades e impede a mobilidade dos sectores tradicionalmente excluídos.
➔ Quando questionada sobre as disparidades salariais, uma larga maioria dos inquiridos portugueses (61%)
mostrou-se contrária à existência de grandes diferenças salariais. Esta opinião revelou-se mais comum entre
indivíduos de esquerda, que não costumam ir à igreja, que são a favor da manutenção de empresas públicas e

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que consideram que o Estado deve ser o único responsável no sector da saúde. Finalmente, uma maioria clara
dos inquiridos portugueses (56%) acha que os impostos em Portugal estão demasiado altos, na medida em que
desincentivam o talento.
➢ Comparação com a Inglaterra
➔ Comparando os resultados obtidos em Portugal com os apurados no Reino Unido, verifica-se uma grande
semelhança quanto aos valores médios da discordância face às disparidades salariais. Se em Inglaterra existem
indícios de que esta é uma atitude nova, desenvolvida em resposta aos escândalos com os rendimentos e bónus
dos trabalhadores do sector financeiro, em Portugal a impossibilidade de comparação entre os períodos antes
e depois da eclosão da crise impede-nos de chegar a uma conclusão definitiva quanto ao carácter mais ou
menos estrutural da nossa relativa intolerância face às diferenças salariais.

• Os portugueses perante os direitos sociais


➢ Os inquiridos portugueses perante os direitos sociais
➔ Esta secção analisou as atitudes dos inquiridos portugueses sobre quais os mais importantes direitos sociais.
Constitucionalizados na sequência da nossa transição para a democracia, estes direitos serviram de princípio
regulador ao Estado-Providência subsequentemente estabelecido em Portugal. Quando questionados sobre a
ordenação dos direitos, uma larga maioria indicou, à cabeça, o direito à saúde (77%), seguido, a grande
distância, do direito à habitação (43%). Só depois surgiram os direitos à educação (38%) e à segurança social
(33%) nos terceiro e quarto lugares, respetivamente.
➔ Em Suma os Direitos mais importantes para os Portugueses são:
✓ A Saúde;
✓ Segurança Social;
✓ Habitação
➢ Incerteza quanto à garantia dos direitos sociais
➔ Quando questionados sobre o nível de garantia destes direitos no nosso país, os inquiridos mostraram-se muito
céticos quanto à efetividade destes direitos: apenas 9% acreditam que o direito à habitação está totalmente
garantido, um valor bastante inferior, mas não muito diferente, na insatisfação que revela, do referente ao
direito à saúde, a que os inquiridos atribuem a maior importância (com apenas 19% dos inquiri- dos a dizerem-
se seguros de este direito estar totalmente garantido). Esta diferença significativa entre, por um lado, a
importância atribuída aos direitos sociais e, por outro, o grau percebido da sua garantia parece sugerir uma
apreensão generalizada quanto à capacidade de o Estado social satisfazer as suas promessas, com destaque
para a proteção dos cidadãos face aos riscos sociais, para o combate à pobreza, para o controlo da desigualdade
e para a garantia de uma maior igualdade efetiva de oportunidades (isto apesar da avaliação bem mais positiva
da efetividade do direito à educação, que importa aqui assinalar). Sendo que os portugueses colocam a garantia
de um nível condigno de vida no topo das exigências que fazem à democracia, esta avaliação claramente

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negativa do desempenho das suas funções sociais pode vir a ter repercussões na legitimidade que atribuem ao
próprio regime democrático.

4. Texto “Desigualdades, Redistribuição e o Impacto do Desemprego” – Carmo, R. e Cantante, F. 2015


➢ A sociedade portuguesa é uma das mais desiguais da União Europeia ao nível da distribuição do rendimento
disponível.
➢ As políticas de redistribuição monetária têm representado um esforço relevante e relativamente efetivo para a
diminuição dos níveis de desigualdade económica.
➢ Políticas públicas como o rendimento social de inserção ou o complemento solidário para idosos permitiram elevar
os recursos económicos dos indivíduos e famílias mais pobres—e, por essa via, contribuíram para diminuir as
disparidades económicas.
➢ Contudo, o cariz estrutural e persistente das desigualdades económicas na sociedade portuguesa, fenómeno
imbricado com a desigualdade de recursos escolares e qualificacionais, tem funcionado como um fator de pressão
sobre a ação redistributiva do estado, de tendencial polarização das condições de vida e de entrave às possibilidades
de mobilidade social de boa parte da população portuguesa.
➢ A este padrão de desigualdade persistente na sociedade portuguesa vêm somar- se outros mecanismos, ainda difíceis
de discernir de forma pormenorizada, que derivam da profunda crise económico-financeira que atualmente se abate
sobre Portugal e parte da Europa.
➢ O desemprego pode estar a transformar-se numa variável estrutural que afeta outras dimensões económicas e
sociais, como é o caso das desigualdades de rendimento.
➢ Na verdade, algo de muito particular está a acontecer na Europa, que se repercute na reconfiguração dos processos
habituais de produção de desigualdades e que pressiona decisivamente os sistemas vigentes de proteção social e de
redistribuição.
➢ Em suma os dados disponíveis ainda não nos podem dizer muito mais, mas trata-se de uma problemática
fundamental para o futuro do nosso país (e também da Europa), que carece a prazo de análises mais robustas e
aprofundadas.

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