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Farsa de Inês Pereira - 10º. Ano - Rafael
Farsa de Inês Pereira - 10º. Ano - Rafael
Tendo como mote um ditado popular, “mais vale asno que me leve que
cavalo que me derrube”, Gil Vicente escreveu esta comédia de costumes retratando
o comportamento amoral da degradante sociedade da época.
Resumo
Inês Pereira é uma moça bonita e solteira que se vê obrigada a passar o dia
agarrada às tarefas domésticas. Inês queixa-se por e vê no casamento a única
forma de se livrar desta vida. Ela idealiza o noivo como sendo um moço bem-
educado, cavalheiro, que soubesse cantar e dançar, enfim, que fosse um fidalgo
capaz de lhe dar uma vida feliz.
Um dia, Lianor Vaz, a casamenteira, vai a casa de Inês dizendo que havia sido
atacada por um clérigo, mas que conseguira escapar. Lianor, porém, foi a casa da
moça para relatar que Pero Marques, um camponês, quer casar-se com Inês. A
moça, então, lê a carta que Pêro escreveu com suas intenções de casamento, mas
ela não se conforma com a rusticidade do moço e concorda em recebê-lo só para se
rir na sua cara.
Lianor vai então buscar Pêro e, enquanto isso, a mãe de Inês aconselha-a a
receber bem o pretendente. Quando o moço chega, ele comporta-se de modo
ridículo e demonstra não ter nenhum estatuto social. Vendo-se à sós com Pero, Inês
desencoraja-o quanto ao casamento e o moço vai embora. Nisto, ela informa a mãe
que havia contratado dois judeus casamenteiros para encontrar um noivo que
tivesse boas maneiras.
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Entra em cena Latão e Vidal, os dois judeus casamenteiros, que vieram
oferecer Brás da Mata, um escudeiro. Armado o encontro entre os dois jovens, Brás
da Mata decide ir a casa de Inês acompanhado de seu criado, o Moço, e os dois
combinam contar uma série de mentiras para enganar a moça e conseguirem dar o
“golpe do baú”. Já na casa de Inês, Brás da Mata age conforme ela queria: trata-a de
modo distinto com belas palavras… Pede-a em casamento, mas a mãe diz que a
moça não deve fazê-lo, ao que os judeus contra-argumentam elogiando Brás de
todas as formas.
Os dois acabam por casar e a mãe presenteia os noivos com a casa. A sós
com Brás da Mata, Inês começa a cantar de felicidade, mas ele se irrita e manda que
ela fique quieta. Brás começa, então, a impor uma série de regras e exige que a
moça fique trancada o dia inteiro em casa, proibindo-a até mesmo de olhar pela
janela e de ir à missa. Pouco tempo depois, Brás informa ao Moço que partiria para
a guerra, ordenando que ele vigiasse Inês e que ela deveria ficar trancada à chave
dentro de casa. Trancada em casa e não fazendo nada além de costurar, Inês
lamenta a sua sorte e deseja a morte do marido para que pudesse mudar seu
destino.
Passado algum tempo, o Moço aparece com uma carta do irmão de Inês
onde ele informa que Brás havia morrido covardemente tentando fugir do combate.
Feliz, Inês despede o Moço, que vai embora lamentando seu azar. Então, sabendo
que Inês havia ficado viúva, Lianor Vaz retorna oferecendo novamente Pêro Marques
como novo marido. Dessa vez Inês aceita e os dois se casam.
Com a ampla liberdade que o marido lhe dava, Inês parecia levar a vida que
sempre desejou. Um dia, chega em sua casa um Ermitão a pedir esmola e Inês vai
atendê-lo. Porém, este é um falso padre. Inês reconhece o moço, que havia sido um
antigo namorado seu. Ele diz que só havia se tornado ermitão porque ela o havia
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abandonado e começa a se insinuar para Inês, acariciando-a e pedindo um encontro
entre os dois. Ela aceita e os dois marcam um encontro.
No dia marcado, Inês pede a Pêro Marques que a levasse à ermida dizendo
que era por devoção religiosa. O marido consente e os dois partem de imediato.
Para atravessar um rio que havia no meio do caminho, Pêro Marques carrega a
mulher nas costas e ela vai cantando uma canção alusiva à infidelidade dela ao
marido e à mansidão dele. Pero segue cantando o refrão, terminando como um tolo
enganado
O asno (de pouca aparência) é o Pêro Marques que fez de tudo para ficar
com Inês e no fim é traído.
O Cavalo (que pareciam ter boas aparências) engana Inês com a sua falsa
aparência e acaba por tratá-la mal assim que casam.
Lista de personagens
Inês Pereira: moça bonita e solteira, que para se livrar dos afazeres domésticos
sonhava em se casar com um fidalgo.
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Lianor Vaz: casamenteira que só respeita a opinião pública quando lhe convém.
Pêro Marques: camponês rico, porém, ignorante e sem nenhum traquejo social.
Brás da Mata (Escudeiro): escudeiro pobre que mal tinha dinheiro para se sustentar.
Moço (Fernando): criado de Brás da Mata, é humilde e se deixa explorar pelo patrão,
sempre acreditando nas mentiras que ele conta.
Ermitão: falso monge que declara ter se tornado ermitão por desilusão amorosa e
que se encontra com Inês como amante.
A representação do quotidiano
a condição da mulher - a casa era o espaço de onde ela saía apenas para ir a
missa e onde realizava a sua rotina de mulher, que passava por tarefas como coser
ou bordar ou associadas a maternidade; em sociedade, o comportamento da mulher
deveria ser discreto e reservado, pois as ousadias eram próprias de mulheres de
moral duvidosa, e manifestar submissão e dependência da figura masculina.
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casamentos ou de encontros amorosos, que envolviam também elementos do clero;
o Fidalgo menor (CORRESPONDE NA FARSA A BRÁS DA MATA), figura com
dificuldades económicas que procurava adquirir algum prestígio social através das
aparências enganadoras ou por meio do envolvimento da guerra; os
judeus(CORRESPONDEM NA FARSA A LATÃO E VIDAL), classe associada ao
materialismo e as atividades lucrativas; os elementos do clero, classe associada a
práticas e a comportamentos amorais (NÃO CUMPRIAM OS VOTOS DE
CASTIDADE E ENVOLVIAM-SE COM MULHERES).
A crítica
Tendo como plano de fundo a sociedade do século XVI, a crítica assenta sobretudo
em personagens-tipo que representam classes sociais, profissionais ou mesmo
mentalidades: