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Causa e Efeito - A eterna confusão

Rubem Myrrha (*)

A confusão que o ser humano faz entre causa e efeito é um dos maiores problemas que tenho
encontrado na gestão das organizações. O interessante é que, teoricamente, este conceito é facilmente
entendido porém, na hora de praticar, a grande maioria das pessoas se perde entre o meio e o fim, as
causas e o efeito.

Outro dia, dando aula em uma organização pública da área judiciária, propus um exercício. Solicitei que
cada aluno escrevesse em uma folha de papel quais seriam, na visão deles, os quatro principais
problemas da organização. Como eram vinte e cinco alunos, obtive muitas respostas, cem respostas,
mas pouquíssimos problemas. Três! Isto mesmo, três míseros problemas em cem respostas! A
esmagadora maioria (97) não eram problemas, eram no máximo possíveis causas de eventuais
problemas. E o pior é que eu havia acabado de dar, naquele exato momento, uma aula sobre causa-
efeito, meio-fim. Achava que todo mundo tinha entendido, tudo parecia tão claro, mas na hora H, na
hora da verdade, muito poucos de fato sabiam distinguir entre as causas e os problemas.

O problema está SEMPRE NOS FINS, nunca nos meios, nos métodos, nos processos. Problema é o
resultado indesejável de um processo e nunca o próprio processo. Os problemas daquela organização
poderiam ser: "prazo excessivo para julgamento dos litígios", "demora na entrega de certidões
negativas", "fila grande para obter informações", etc. Mas a maioria dos alunos relacionou como
problemas coisas como: "falta de pessoal", "insatisfação com salário", "sistema de informática
ineficiente", "nepotismo", "excesso de burocracia", "instalações físicas inadequadas" e outros.

Ora meus amigos, nada disso é problema. Falta de pessoa só pode ser problema se a empresa for uma
locadora de mão-de-obra. Falta de computador só pode ser problema em uma empresa que venda
equipamentos de informática. Para identificarmos claramente os problemas temos que, inicialmente,
definir quais são os produtos ou serviços desta organização. E aí, definir os problemas em cima desses
produtos ou serviços. Eles só poderão ser do tipo: "alto custo dos produtos"; "elevado prazo de
entrega"; "baixa qualidade do serviço"; "número excessivo de erros", etc. Se não definirmos
corretamente os problemas, corremos o risco de estarmos administrando o remédio errado.

Não podemos ter pessoas que somente saibam "como fazer", precisamos também, e muito, de pessoas
que saibam "o que fazer". E, pela minha experiência, é muito mais fácil encontrarmos pessoas do
primeiro tipo que do segundo. As pessoas que focalizam os meios tendem a encaixar os problemas em
suas técnicas e não o contrário. A questão deles é muito mais "que problemas posso atacar com as
técnicas que eu conheço" do que "quais os problemas que realmente têm que ser resolvidos"?

Jacques Loeb foi perguntado uma vez se era neurologista, químico, físico, psicólogo ou filósofo e
respondeu apenas "Eu resolvo problemas". Vamos povoar nossas organizações de "resolvedores de
problemas", que saibam identificar e distinguir problemas de causas, meios de fins e certamente
ganharemos muito em produtividade e competência.

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