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Egielen Fernanda Meira Silva

TÉCICAS DE AESTESIA PERIEURAL O DIAGÓSTICO DE


CLAUDICAÇÃO EQUIA

São Paulo
2009
Faculdades Metropolitanas Unidas
Egielen Fernanda Meira Silva

TÉCICAS DE AESTESIA PERIEURAL O DIAGÓSTICO DE


CLAUDICAÇÃO EQUIA

Monografia apresentada para


conclusão do curso de Medicina
Veterinária das Faculdades
Metropolitanas Unidas FMU, sob
orientação do professor Ms. João
Francisco de Azevedo Mattos.

São Paulo
2009
Faculdades Metropolitanas Unidas
Egielen Fernanda Meira Silva

TÉCICAS DE AESTESIA PERIEURAL O DIAGÓSTICO DE


CLAUDICAÇÃO EQUIA

Monografia apresentada para


conclusão do curso de Medicina
Veterinária das Faculdades
Metropolitanas Unidas FMU, sob
orientação do professor Ms. João
Francisco de Azevedo Mattos.

Prof. Ms. João Francisco de Azevedo Mattos


FMU - Orientador

M.V. Luis Spolidoro


FMU - Residente

M.V. Rafael Lemos


FMU - Residente

São Paulo
2009
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus pais que me


incentivaram e proporcionaram todo o esforço
necessário para a realização do curso, e ao querido
professor Eduardo Lopes Eziliano, in memorian,
onde pela força ainda em vida tanto me incentivou a
prosseguir no mundo da veterinária equina como
mestre e amigo.
AGRADECIMETOS

Agradeço primeiramente a Deus pela vida e estrutura que só ele poderia ter proporcionado.
À toda minha família, pela paciência, força e base que me oferecem, sempre lutando e se
sacrificando para verem o meu melhor.
Ao professor João Francisco de Azevedo Mattos que me aceitou como orientador, me
passando informações importantes para este trabalho, pelos ensinamentos e disponibilidade.
À minha irmã que Deus não poderia ter me dado melhor e mais amiga, pelo amor e
cumplicidade que existe entre nós.
Aos residentes do hospital veterinário da FMU e principalmente amigos, Luiz e Rafael pelo
conhecimento transmitido, pela experiência e apoio, além de conselhos e ajuda fundamental
para a realização desse trabalho, e maiormente pela amizade construída que espero levar por
todo o tempo.
Aos companheiros de estágio e também amigos Fernando e Thiago, onde passamos por tantas
coisas não somente no decorrer da realização do estágio obrigatório, mas também no decorrer
dos anos da faculdade.
Às minhas grandes companheiras que estiveram do meu lado em tantas situações durante o
curso, Marcela e Érika, obrigada pelo acolhimento, por estarem presentes em tantos
momentos, por simplesmente eu saber que vocês estavam lá.
Às minhas amigas do coração Lilian, Carolina, Mariana, Nathália e Mathis pela compreensão,
por rirem e chorarem comigo, por me acolherem de forma tão especial e principalmente pela
felicidade insuperável de ter vocês como amigas.
Ao meu amigo Thiago Cescon, que sempre esteve presente comigo e com a minha família,
pelas broncas e risadas, pois é fato de que algumas pessoas realmente só passam pelas nossas
vidas, mas alguns realmente merecem ficar.
Ao meu amigo Luiz Cardoso, ou melhor, ao meu irmão, que tem sido um dos melhores
ouvidos e gerador de grandes conselhos, por participar de momentos fundamentais na minha
vida sem ser um simples espectador e sim estando sempre com o braço aberto a todo
momento.
Ao meu querido chefe, “tio”, amigo e padrinho no mundo da veterinária equina, M.V. Dácio
de Castro Dias, por ter me recebido durante muito tempo como estagiária, pela paciência e
disponibilidade que me proporcionou grande parte de todo meu aprendizado na área sempre
oferecendo todas as informações possíveis e permitindo minha atuação no campo, e com
certeza pela amizade e carinho no qual estarão guardados e sempre serão mantidos.
Ao Francisco, meu amigo querido que sempre está presente procurando arrancar diversas
risadas e fazendo dias difíceis ficarem mais alegres.
À minha prima e amiga Kenia pela compreensão da ausência durante o curso e realização
desse trabalho e mesmo assim sempre ser aquela que sabe estar presente a qualquer momento.
Ao Eduardo querido, pela paciência e companhia durante estágios, tempestades de todos os
modos, e simplesmente por estar por perto.
Aos amigos de pelos, patas e focinhos.
“Nenhum homem realmente produtivo
pensa como se estivesse escrevendo uma
dissertação.” (Albert Einstein)
RESUMO

Neste trabalho foram abordadas as técnicas utilizadas para a realização dos

bloqueios anestésicos perineurais para fins de diagnóstico de claudicação equina. O

bloqueio anestésico tem como uma de suas finalidades auxiliar na avaliação de

enfermidades do aparelho locomotor dos eqüinos através da analgesia, promovendo

a dessensibilização de uma região específica, conseguindo com que o animal pare

de claudicar após o bloqueio apontando a(s) região(ões) envolvidas e responsáveis

pela claudicação. Descreveu-se também a farmacologia dos agentes anestésicos

locais mais utilizados para o procedimento, a localização das estruturas anatômicas

nervosas envolvidas no processo, e as possíveis complicações decorrentes.

Palavras chaves: Bloqueio Perineural, Claudicação, Equinos, Anestesia.


ABSTRACT

The present work deals with the techniques used to achieve the perineural anesthetic

blocks for diagnosis of equine lameness. The anesthesia has one of its purposes to

assist in the evaluation of diseases of the locomotor system of equine through

analgesia, promoting desensitization of a particular region, making the animal stop

limping after pointing to the block region (s ) involved and responsible for the

lameness. It also described the pharmacology of local anesthetic agents commonly

used for the procedure, the location of the anatomical structures involved in the

nerve, and possible complications.

Key words: Perineural block, Lameness, Equine, Anesthesia.


SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................. 07
ABSTRACT.............................................................................................................. 08
SUMÁRIO................................................................................................................ 09
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10
1 AGENTES ANESTÉSICOS.................................................................................. 12
1.1 Principais drogas utilizadas............................................................................... 13
1.2 Associação com vasoconstritores...................................................................... 15
1.3 Associação com hialuronidase.......................................................................... 15
1.4 Combinação de anestésicos locais................................................................... 15
2 PREPARAÇÃO E PROCEDIMENTOS GERAIS................................................. 16
3 AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE APÓS O BLOQUEIO PERINEURAL.......... 18
4 ANESTESIA PERINEURAL DO MEMBRO TORÁCICO..................................... 19
4.1 Bloqueio de nervo digital palmar........................................................................ 19
4.2 Bloqueio de campo da quartela (bloqueio em anel da quartela)....................... 21
4.3 Bloqueio do nervo digital palmar na base dos ossos sesamóides
proximais (Bloqueio sesamóideo abaxial) .............................................................. 22
4.4 Bloqueio dos nervos palmares inferiores e metacárpicos palmares (Bloqueio
baixo em quatro pontos).......................................................................................... 24
4.5 Bloqueio dos nervos palmares superiores e metacárpicos palmares (Bloqueio
alto em quatro pontos)............................................................................................. 26
4.6 Bloqueio do nervo palmar lateral ao nível da articulação intercápica................ 28
4.7 Bloqueio dos nervos mediano, ulnar e musculocutâneo................................... 30
4.7.1 Nervo mediano................................................................................................ 30
4.7.2 Nervo ulnar..................................................................................................... 31
4.7.3 Nervo musculocutâneo................................................................................... 32
5 ANESTESIA PERINEURAL DO MEMBRO PÉLVICO........................................ 35
5.1 Bloqueio dos nervos metatársicos dorsais lateral e medial............................... 35
5.2 Bloqueio do nervo tibial...................................................................................... 37
5.3 Bloqueio dos nervos fibulares ou peroneais superficial e profundo...................39
6 COMPLICAÇÕES DA ANESTESIA PERINEURAL............................................ 42
7 CONCLUSÃO....................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 44
10

INTRODUÇÃO

O cavalo sem anormalidades no andamento deve mover-se de forma


balanceada, com todos os movimentos do membro em equilíbrio. Se a claudicação
está presente, é trabalho do examinador identificar a anormalidade da marcha, a
localização e a provável causa e recomendar o tratamento apropriado. A avaliação
da claudicação requer capacidade para visualizar anormalidades da marcha,
habilidade na aplicação de técnicas que localize as anomalias do local específico, e
na obtenção e interpretação apropriada das imagens do local (HINCHCLIFF et al.,
2004).
Uma anamnese completa de um cavalo apresentando na avaliação
anormalidades no andamento ajuda a restringir a lista de diagnósticos diferenciais,
determina o efeito prévio do tratamento ou o protocolo de ferrageamento e pode
limitar o foco para o exame (HINCHCLIFF et al., 2004). Apesar do grande avanço na
medicina esportiva equina passada duas décadas, a analgesia de diagnóstico
provavelmente se mantém como uma das ferramentas mais valiosas na clínica
equina para identificação da claudicação. Além do mais, a analgesia de diagnóstico
pode ser interpretado no local, com resultado claro e imediato (ROSS & DYSON,
2003).
Nos casos em que o veterinário identificou o membro claudicante e, após a
manipulação, não está seguro da região exata afetada, ou suspeita de várias áreas
doloridas do membro, a anestesia perineural e os bloqueios de campo podem ser
úteis. Mesmo quando foi identificada uma região suspeita, muitas vezes é útil
anestesiar esta região para que se tenha certeza de que a claudicação provém
somente dela. É comum encontrarmos várias regiões causadoras de claudicação ou
descobrirmos que outros membros podem estar contribuindo para o quadro. Nestes
casos, a anestesia local permitirá que se interprete com qual porcentagem cada
região contribui para a claudicação (STASHAK, 2006).
Em inúmeras ocasiões, procedimentos cirúrgicos podem ser realizados
facilmente através da utilização de bloqueios anestésicos locais. Em outras
situações os bloqueios anestésicos são fundamentais para fins de diagnóstico ou
mesmo para fins de analgesia em casos de transporte, cobertura ou apenas para
alívio da dor. Adicionalmente, estes procedimentos não requerem equipamentos e
podem ser viabilizados com baixo custo, bastando apenas que o profissional
11

conheça a farmacologia dos anestésicos locais e a anatomia local, particularmente


com relação ao suprimento nervoso e estruturas que possam ser danificadas por
injeção indevida (LUNA, 1998).
12

1 AGENTES ANESTÉSICOS

Anestésicos locais são drogas que, quando aplicadas localmente no tecido


nervoso (terminações ou fibras), causam bloqueio reversível da condução do
impulso nervoso (ADAMS, 2003). É importante lembrar que a grande vantagem dos
anestésicos locais é seu efeito reversível; após seu emprego há recuperação
completa da função nervosa sem que se evidencie dano estrutural nas células ou
fibras nervosas (SPINOSA et al., 2006).
Os anestésicos locais inibem a geração e propagação (condução) dos
impulsos nervosos por bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem na
membrana nervosa (ADAMS, 2003). A hipótese mais proeminente é de que o
anestésico entre na membrana de lipoproteína e ligue-se ao sítio receptor no canal
de sódio para impedir ou evitar o movimento do íon sódio. As correntes geradas pelo
sódio reduzem-se, porque a droga inibe as mudanças de conformação do canal, e
portanto os canais ligados à droga deixam de abrir. Em menor extensão, o
movimento pelo canal é evitado também por causa do bloqueio físico da ligação da
droga no poro condutor de íon (ADAMS, 2003).
Segundo BROSSI (1996), essas soluções se dissociam para liberar o agente
ativo em meios neutros ou alcalinos não sendo igualmente eficazes em meios ácidos
(ex.: abscessos). O cátion do anestésico local se liga ao receptor aniônico da fibra
nervosa, bloqueando os canais se sódio; não ocorrendo a entrada deste, a
despolarização não acontece; por isso este tipo de bloqueio é chamado de não
despolarizante.
Todos os anestésicos locais são de bases fracas, normalmente sob a forma
de cloridrato, com pKa maior que 7,4, daí o fato destes não exercerem efeito
adequado em regiões inflamadas, em que o pH local é baixo, dificultando a sua
difusão. A lidocaína e a bupivacaína estão entre os anestésicos mais comumente
utilizados para bloqueio anestésico em eqüinos (LUNA, 1998).
Diferentes compartimentos competem pela droga no local de deposição dos
agentes anestésicos locais, bem como: o tecido nervoso, a gordura, os vasos
sanguineos e linfáticos. Sendo assim, o que sobra no tecido nervoso para a ação
principal é uma pequena parte. Para garantir boa qualidade de bloqueio é
fundamental que se controle a absorção a partir de seu local de aplicação. Os
fatores de maior importância relacionados à absorção dos anestésicos locais são: o
13

local de injeção, a dose, presença de vasoconstritor e características farmacológicas


do agente (CARVALHO, 1994).

1.1 Principais drogas utilizadas

Lidocaína

A lidocaína é um anestésico local do tipo amida aprovado (solução a 2%, 20


mg/ml) para uso em cavalos (BERTONE & HORSPOOL, 2004).
O cloridrato de lidocaína é uma solução a 2% empregada em bloqueios
nervosos e infiltrações locais. Sua utilização é bem tolerada e nunca foram
observadas reações adversas sérias. No entanto, dadas as suas propriedades
irritantes sobre os tecidos, é comum observarmos a formação de edema e celulite
nos locais injetados após o emprego de quantidades maiores deste agente. Estes
quadros são transitórios e podem ser bem resolvidos, se após o uso do anestésico
forem empregadas bandagens com soluções anti-inflamatórias; por vezes, esta
conduta é associada à prescrição de drogas anti-inflamatórias não esteroidais, em
dose única (por exemplo, 2 g de fenilbutazona sódica) e hidroterapia local (BROSSI,
1996).
A dose máxima permitida é de 7 mg/kg, quando associada com vasoconstritor
aumenta para 9 mg/kg. Seu período de ação varia de 60 a 120 minutos (SPINOSA
et al., 2006).

Mepivacaína

O cloridrato de mepivacaína é o anestésico de escolha para as infiltrações


intra-articulares e perineurais, por ser pouco irritante, de rápido início de ação e por
ter ao mesmo tempo um bom período de ação (BROSSI, 1996).
Em seu perfil de atividade é semelhante à lidocaína, possui aparecimento
rápido de efeito (5 a 10 minutos). Possui duração um pouco mais longa que a
lidocaína (120 a 180 minutos) e é administrada em doses semelhantes a esta. A
preparação mais comumente usada é a solução a 2% para anestesia infiltrativa,
anestesia intra-articular, bloqueios de nervos periféricos e anestesia epidural
(DOHERTY & VALVERDE, 2008).
14

Bupivacaína

Segundo MASSONE (2008), é uma amida derivada da xilidina, encontrada no


comércio sob a forma de cloridrato. É altamente lipossolúvel, três a quatro vezes
mais potente que a lidocaína, não produz vasodilatação, a adrenalina melhora pouco
seu tempo de ação e após uso contínuo, obtêm-se baixas concentrações
plasmáticas.
É um anestésico local potente de aparecimento variável do efeito (10 a 30
minutos, dependendo da via de administração), de longa duração de ação (180 a
480 minutos), é disponível em solução aquosa em várias concentrações (0,25 a
0,75%), onde a formulação a 0,5% é a mais comumente usada em anestesia
infiltrativa, intra-articular e bloqueios de nervos periféricos em equinos (DOHERTY &
VALVERDE, 2008).
A bupivacaína é capaz de bloquear rapidamente os canais de sódio durante a
sístole; no entanto, dissocia-se do canal de sódio muito mais lentamente durante a
diástole. A bupivacaína dissocia-se tão lentamente que a duração da diástole em
frequencias cardíacas fisiológicas é insuficiente para recuperação completa de todos
os canais de sódio e os bloqueios desses canais ficam acumulados. Devido a este
mecanismo indireto de ação ela é relativamente mais cardiotóxica do que a lidocaína
ou a mepivacaína; a toxicidade cardíaca aumentada provavelmente resulta de ações
diretas no coração e indiretas no sistema nervoso central (BARASH ET al., 1993).
Doses para bloqueios de nervos periféricos e anestesia epidural caudal em
geral são entre 0,05 a 0,08 mg/kg (isto é, 5 a 8 mL de solução a 0,5% em equino
adulto de médio porte) (DOHERTY & VALVERDE, 2008).

Ropivacaína

É um anestésico local potente, com variável tempo de aparecimento de efeito


(entre 10 e 30 minutos, dependendo da via de administração) e duração de ação
longa (de 180 a 480 minutos). A recomendação das doses são semelhantes àquelas
recomendadas para a bupivacaína (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
A potência da ropivacaína é similar à da bupivacaína, porém proporciona
maior duração da ação após anestesia infiltrativa e menor cardiotoxidade.
15

Apresenta-se em concentrações de 0,2%, 0,75% e 1% para anestesia infiltrativa e


perineural (LUNA, 1998).

1.2 Associação com vasoconstritores

Os vasoconstritores (adrenalina) podem ser utilizados na concentração de


1:200.000 (0,1 mL de uma solução milesimal de adrenalina comercialmente
disponível adicionado à 20 mL do anestésico local) com o intuito de prolongar a
duração da anestesia (DAY & SKARDA, 1991).
Essa associação permite o aumento do período da anestesia por causar
vasoconstrição local, absorção mais lenta do anestésico, tornando possível que se
eleve discretamente a dose máxima permitida (MASSONE, 2008).
Deve-se chamar atenção que não se deve utilizar anestésicos locais
associados à vasoconstritores em extremidades, devido ao risco de isquemia local e
necrose tissular (LUNA, 1998).

1.3 Associação com hialuronidase

Segundo DOHERTY & VALVERDE (2006), essa enzima pode ser adicionada
à solução de anestésico local para quebrar o ácido hialurônico, onde este funciona
como “cimento” do tecido mesenquimal. Na teoria isso pode melhorar a difusão do
anestésico local.

1.4 Combinação de anestésicos locais

Na teoria, diz-se ser vantagem a combinação de um anestésico local de


atuação rápida e curta duração de ação com outro agente anestésico de atuação
lenta e longa duração de ação, porém atualmente não há evidência sugerindo que
essa prática seja benéfica clinicamente (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
16

2 PREPARAÇÃO E PROCEDIMENTOS GERAIS

Antes de realizar o bloqueio, deve-se reavaliar a claudicação primeiramente e


verificar a sensibilidade na região onde serão bloqueados os nervos, o animal pode
permancer durante a avaliação com os olhos cobertos, com a intenção de evitar que
responda antecipadamente ao toque (GIBSON & STASHAK, 1989).
Sempre que possível, os cavalos não devem ser sedados para analgesia de
diagnóstico, pois o risco de lesões, enquanto trabalhava-se nos membros traseiros é
alto. A utilização do cachimbo é um excelente método de contenção facilitando e
tornando o procedimento seguro. Contudo, a sedação pode ser necessária em
cavalos “intratáveis”. Detomidina (1 mg/kg intravenosa) é ideal e pode ser revertida.
Alternativamente a acepromazina (5 mg por cavalo intravenosa) pode ser usada. O
uso de alfa2-agonistas não é recomendado pois o cavalo pode reagir violentamente
quando a agulha é inserida. Em adição, essas drogas possuem 2 outros efeitos
onde podem tornar a avaliação da claudicação confusa: elas induzem alguma
analgesia e ataxia (AUER & STICK, 1999).
Já DOHERTY & VALVERDE (2008), dizem nos casos de equino indócil a
sedação pode ser necessária e realizada com cloridrato de xilasina via intravenosa
na dose de 0,4 mg/kg ou acepromazina a 0,04 mg/kg também pela via intravenosa.
Se existir a preocupação de que a sedação possa ser prejudicial para a avaliação
da claudicação, o eqüino pode ser examinado após a dissipação dos efeitos do
sedativo, mas esse procedimento pode confundir os resultados da anestesia
regional, pois o anestésico local pode se difundir e dessensibilizar estruturas que
não deveriam ser anestesiadas.
Deve-se ter o cuidado de tratar a área de aplicação do anestésico como um
campo cirúrgico, afim de reduzir as chances de irritação e formar uma barreira
contra a infecção. O local da injeção deve ser tricotomizado e então limpo com uma
solução antisséptica (GAYNOR & HUBBELL, 1991).
Segundo SPEIRS (1999), não é necessária uma preparação tão cuidadosa,
onde o procedimento consiste em métodos usuais que incluem simplesmente a
limpeza da região com uma compressa umedecida em álcool a 70% ou tricotomia
do local e após isso friccioná-lo com uma compressa umedecida em álcool a 70%. A
identificação do local requer palpação, portanto as mãos devem estas enluvadas ou
pelos menos lavadas com antisséptico (SPEIRS, 1999).
17

O bloqueio anestésico perineural deve ser iniciado na porção distal do


membro, com progressão proximal até ser determinada a região sede da dor pois se
realizado em uma região proximal do membro deve mascarar o efeito de injeções
distais já que todas as estruturas distais ao local da(s) primeira(s) injeção(ões)
estará(ao) já dessensibilizadas. Outra razão é que estatisticamente a maioria das
lesões ocorre nas porções distais do membro e haverá importante ganho de tempo
no exame caso o diagnóstico do local da dor seja realizado já nos primeiros
bloqueios (FEITOSA, 2004).
18

3 AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE APÓS O BLOQUEIO PERINEURAL

Para garantia de um bom resultado o bloqueio deve ser realizado


sistematicamente, iniciando-se pela porção mais distal até a proximal. Deve-se
utilizar o volume de anestésico local adequado para cada região afim de, evitar
difusão do mesmo em outros nervos (GIBSON & STASHAK, 1989).
Nem sempre as soluções anestésicas são colocadas onde se deseja.
Portanto, deve ser assegurado que o anestésico dessensibilizou a região desejada,
distal ao local de injeção, antes que os resultados dos testes possam ser avaliados.
A confirmação depende da observação de dessensibilização cutânea na região
inervada pelo(s) nervo(s) sensorial(is) que está(ao) sendo bloqueado(s). É comum a
utilização de uma agulha hipodérmica para testar se há sensibilidade cutânea.
Porém, existem duas desvantagens: é um teste não confiável para sensação
profunda, e seu uso repetido causa ressentimento no paciente. É preferível usar-se
um objeto rombo, como uma caneta esferográfica, aplicando-se uma pressão
delicada inicialmente e, a seguir, uma pressão firme à pele até que a obtenção da
dessensibilização seja evidente. Alguns clínicos usam alicate de cascos para
apertar o casco ou uma prega de pele (SPEIRS, 1999).
Além disso, pode ser útil realizar uma comparação da resposta do membro
oposto para esta avaliação (GAYNOR & HUBBEL, 1991). As pinça hemostáticas
são ideais, pois elas atenuam e mostram uma indução consistente e apropriada da
dor. Entretanto, pinças são úteis somente em avaliações superficiais ou
sensibilidade de pele (ROSS & DYSON, 2003).
Numerosas são as razões para não se conseguir a anestesia, bem como:
volume e colocação inadequada do anestésico, presença de fibras nervosas
aberrantes, presença de tecido fibroso, origem múltipla da dor, lesão não associada
com a região injetada (SPEIRS, 1999).
19

4 ANESTESIA PERINEURAL DE MEMBRO TORÁCICO

4.1 Bloqueio de nervo digital palmar

Esses nervos são bloqueados mais frequentemente que quaisquer outros e a


anestesia é feita na região média da quartela. Se o bloqueio é realizado em posição
demasiadamente proximal, os outros ramos do nervo digital palmar podem ser
bloqueados inadvertidamente (SPEIRS, 1999).
Os nervos digitais palmares medial e lateral são responsáveis pela inervação
distal do membro e emitem fibras sensoriais para o terços caudal do pé do equino
(FEITOSA, 2004).
Os nervos digitais palmares medial e lateral são localizados imediatamente
palmar às respectivas artéria e veia e encontram-se ao longo da superfície dorsal do
tendão flexor digital superficial proximalmente à articulação metacárpico falangeana
e ao longo do tendão flexor digital profundo distal à articulação da quartela
(STASHAK, 2006).
A injeção é realizada usualmente com a mão do animal elevada. Alguns
preferem permanecer com as suas costas voltadas para a parte posterior do animal,
enquanto seguram o casco do equino entre seus joelhos. Outros preferem segurar a
quartela com uma mão enquanto injetam com a outra mão, assumindo uma posição
lateral ou frontal em relação ao membro (STASHAK, 2006).
Com o membro seguro, o bloqueio do nervo digital palmar é realizado através
da inserção da agulha diretamente através do feixe neurovascular palpável, cerca
de 1 cm acima da cartilagem do pé (MOYER et al., 2007).
Segundo STASHAK (2006), os nevos digitais palmares são anestesiados em
posição imediatamente distal às cartilagens da falange distal, onde os bloqueios dos
nervos neste local diminuem as chances de anestesia também dos ramos dorsais
dos nervos digitais palmares. É inserida uma agulha calibre 25 de 1,58 cm no tecido
subcutâneo no qual é injetado perineuralmente cerca de 1 a 1,5 mL de solução
anestésica local. Deve-se ter cuidado para não atingir a bainha digital que se
encontra profunda ao nervo.
GAYNOR & RUBBEL (1991), dizem que este bloqueio pode ser realizado
com uma agulha 25 X 2.2 mm e são injetados 4 mL de anestésico local.
20

Após 5 a 10 minutos, é realizada a avaliação do bloqueio testando-se a pele


e a sensibilidade profunda entre os bulbos e o talão. Caso não haja sensibilidade de
pele, o examinador pode assegurar que as estruturas significativas estão
dessensibilizadas. Essas estruturas são: osso navicular (osso sesamóide distal);
bursa do navicular (bursa podotroclear); ligamentos retos, oblíquos e cruzados
distais (ligamentos sesamóides distais); tendões flexores digitais superficial e
profundo distais e bainhas; coxim digital; cório da ranilha; cório da sola; aspecto
palmar das articulações falangeanas (todas articulações do casco em alguns
casos); terço palmar e superfície solear da falange distal (STASHAK, 2006).

Figura 1. Bloqueio do nervo digital palmar. Figura 2. Procedimento do bloqueio do


Fonte: MOYER et al., 2007. nervo digital palmar.
Fonte: MOYER et al., 2007.

Ainda segundo STASHAK (2006), uma vez realizado o bloqueio o animal


deve ser exercitado de modo similar àquela que levaram aos sinais de claudicação.
21

Nos casos de síndrome do navicular haverá mudança da claudicação para o


membro anterior contralateral. No geral, outras condições que afetem essa região
são unilaterais, como fraturas em asa da falange distal, abscessos subsoleares,
osteíte podal e broca, e assim claudicação será consideravelmente reduzida ou
eliminada.
Pode ocorrer respostas errôneas, como falso positivo por difusão ascendente
ou dorsal da solução anestésica, dessensibilizando todas as estruturas do casco,
artropatia interfalangeana proximal, lesões altas da quartela; e falso negativo por
injeção intrassinovial ou vascular (erros técnicos), má qualidade da solução
anestésica, abscessos, cavalos neurectomizados, inervação acessória a partir de
ramos dorsais do nervo digital (BROSSI, 2006).
Quando o bloqueio do nervo digital palmar é negativo onde o equino
continuou com a claudicação, devemos seguir com outros bloqueios como:
anestesia nervosa digital proximal, anestesia sinovial metacarpofalangeana,
anestesia sinovial interfalangeana proximal (BROSSI, 2006).

4.2 Bloqueio de campo da quartela (bloqueio em anel da quartela)

Alguns clínicos realizam o bloqueio em semi anel da quartela como técnica


de analgesia após obterem uma resposta negativa do bloqueio do nervo digital
palmar anestesiando os ramos dorsais destes nervos (MOYER et al., 2007).
Após os nervos digitais palmares terem sido anestesiados, são depositados
10 mL de anestésico local subcutaneamente ao redor da metade dorsal da quartela,
utilizando uma agulha calibre 25 e 1,59 cm (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
Pelo motivo do ramo dorsal do nervo digital contribuir pouco na sensibilidade
profunda no pé, o bloqueio em semi-anel da quartela é realizado somente para
melhorar a claudicação que não foi melhorada pelo bloqueio do nervo digital palmar
(MOYER et al., 2007).
Esse bloqueio pode ser realizado com o membro em posição de sustentação
do peso corpóreo ou enquanto a mão está suspensa do solo. Estes nervos suprem
todas as estruturas profundas distais ao bloqueio e essa técnica também anestesia
alguns ramos terminais dos nervos metacárpicos palmares medial e lateral
(STASHAK, 2006).
22

A anestesia dos nervos digitais palmares já terá causado a dessensibilização


de todo o pé, com exceção da porção dorsal da faixa coronária da lâmina dorsal
(DOHERTY & VALVERDE, 2008).

FIGURA 3. Bloqueio em anel da quartela. Figura 4. Procedimento do bloqueio em anel


Fonte: MOYER et al., 2007. da quartela.
Fonte: MOYER et al., 2007

4.3 Bloqueio do nervo digital palmar na base dos ossos sesamóides proximais
(bloqueio sesamóideo abaxial)

Os nervos palmares se dividem na altura dos ossos sesamóides proximais


em nervos digitais dorsal e palmar. Os nervos digitais dorsais são responsáveis pela
inervação sensorial de dois terços craniais do pé. Esses ramos podem exibir
variação anatômica de cavalo para cavalo (FEITOSA, 2004).
A artéria digital, a veia digital e o nervo digital palmar são facilmente palpados
na superfície abaxial do osso sesamóide proximal. Eleva-se o membro pelo boleto,
23

segurando-o com a palma da mão permitindo a identificação da veia, artéria e nervo


digital. Isola-se o nervo digital palmar rolando-o para longe da artéria e veia com o
dedão ou o dedo indicador. Uma agulha calibre 25 de 1,58 cm é usada para injetar 2
a 3 mL de anestésico perineural. A anestesia destes nervos dessensibiliza todas as
estruturas profundas distais a ele. O bloqueio é testado 5 a 10 minutos após a
injeção (STASHAK, 2006).
Segundo BROSSI (1996), as formações dessensibilizadas são: todas as
dessensibilizadas pelo bloqueio anterior, o córion da sola e córion lamelar,
articulações interfalangeanas proximal e distal, porção digital dos tendões flexores,
ligamentos anulares proximal e distal, ligamentos sesamóides distais, quartela,
tendão extensor digital comum e porção do músculo interósseo (nos 2/3 distais da
quartela).
Já as formações parcialmente dessensibilizadas são: ossos sesamóides
proximais, ligamentos colaterais da articulação metacarpofalangeana, porção distal
do ligamento palmar (ou intersesamóideo), porção distal do ligamento anular palmar
e sinovia digital.
Ainda segundo BROSSI (1996), podem ocorrer respostas errôneas como
falsos positivos por difusão ascendente da solução anestésica e anestésico injetado
na sinovia digital, podendo dessenssibilizar as lesões tendinosas metacarpianas.
Além da ocorrência também de falsos negativos por injeção intrasinovial ou vascular
(erros técnicos), má qualidade da solução anestésica, absessos, cavalos
neurectomizados e inervação acessória a partir de ramos dorsais do nervo digital. A
conduta após resultado negativo desse bloqueio deve ser a realização de anestesia
nervosa metacarpiana distal e anestesia sinovial metacarpofalangeana.
24

Figura 5. Bloqueio sesamóideo abaxial. Figura 6. Procedimento do bloqueio


Fonte: MOYER et al., 2007. sesamóide abaxial.
Fonte: MOYER et al., 2007.

4.4 Bloqueio dos nervos palmares inferiores e matacárpicos palmares


(bloqueio baixo em quatro pontos)

O próximo passo na localização da claudicação que não respondeu aos


bloqueios nervosos anteriores é bloquear os nervos palmares e nervos
metacárpicos palmares na altura da parte mais distal do segundo e quarto ossos
metacárpicos (STASHAK, 2006).
O trajeto dos nervos palmares lateral e medial passa distalmente entre o
tendão flexor profundo e os ligamentos suspensórios, colocando-se adjacente a
borda do tendão (SPEIRS, 1999). Como estes assumem a relação veia-artéria-
nervo, eles estão localizados intimamente ao tendão flexor digital profundo e
passam sobre sua extremidade dorsal (STASHAK, 1999).
25

Para anestesiar o nervo lateral, deve-se inserir a agulha pelo aspecto lateral e
dirigida horizontal ou obliquamente. A agulha deve penetrar mais profundamente
que a fáscia subcutânea, ou o anestésico será visto como uma bolha subcutânea e
o bloqueio do nervo não terá sucesso (SPEIRS, 1999).
Segundo STASHAK (1999), esses nervos são relativamente profundos e na
maioria das vezes podem ser alcançados com uma agulha calibre 25 de 1,58 cm e
depositando-se cerca de 3 mL de anestésico local. É aconselhado depositar poucas
quantidades de anestésico local conforme a agulha vai sendo retirada (STASHAK,
2006).
A anestesia do nervo medial geralmente é realizada de modo semelhante
mas pelo lado medial. Após depositar a solução adjacente ao nervo lateral, a agulha
é então passada medialmente, dorsal ao tendão flexor digital profundo, de modo
que sua ponta fique adjacente ao nervo medial (SPEIRS, 1999).
A realização sozinha desse bloqueio não dessensibiliza completamente a
articulação do boleto. Dois nervos adicionais inervam as estruturas profundas do
boleto, sendo eles os metacárpicos palmares medial e lateral (STASHAK, 2006).
Os nervos metacárpicos lateral e medial emergem debaixo das extremidades
distais dos ossos metacárpicos pequenos. As injeções são realizadas com o
membro elevado ou sustentando o peso depositando-se a solução anestésica
imediatamente abaixo das extremidades distais desses ossos (SPEIRS, 1999).
Esses bloqueios dessensibilizam todas as estruturas profundas distais aos
locais da injeção. Alguma sensação ao dorso da região do boleto pode ser fornecida
pelos nervos antebraquiais cutâneos mediais que pouco, provavelmente, afetará a
capacidade em reduzir ou eliminar a claudicação, mas interferirá nos testes
cutâneos para verificar se a anestesia efetivamente bloqueou a sensação (SPEIRS,
1999).
A avaliação dos resultados deste bloqueio é realizada do mesmo modo que
os citados para os bloqueio precedentes (digital palmar, sesamóideo abaxial), sendo
que devemos incluir o teste de flexão da articulação metacarpofalangeana, caso
antes da realização do bloqueio ele tenha sido positivo (BROSSI, 1996).
26

Figura 7. Bloqueio baixo em quatro pontos. Figura 8. Procedimento do bloqueio baixo


Fonte: MOYER et al., 2007. em quatro pontos.
Fonte: MOYER et al., 2007.

4.5 Bloqueio dos nervos palmares superiores e metacárpicos palmares


(bloqueio alto em quatro pontos)

Essa anestesia dessensibiliza os nervos palmar e metacarpal palmar


responsáveis pela inervação das estruturas profundas da região do metacarpo
(FEITOSA, 2004).
Podemos conseguir a anestesia regional metacárpica palmar proximal
através do bloqueio alto do nervo palmar realizado abaixo do nível do carpo e acima
dos ramos comunicantes dos nervos palmares na fossa entre o tendão flexor digital
profundo e o ligamento suspensor do boleto. Os nervos apresentam passagem
sobre uma fáscia espessa, palmar à veia e à artéria, e repousam contra as
27

superfícies dorsal, lateral e medial do tendão flexor digital profundo (STASHAK,


2006).
Para anestesiar cada nervo palmar deposita-se de 3 a 5 mL de anestésico
local através de uma agulha calibre 25 e 1,29 cm (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
A injeção é realizada com o membro elevado ou sustentando o peso do
animal, assegurando-se que o anestésico é introduzido abaixo da fáscia. A
ocorrência de formação de uma bolha subcutânea indica que a solução anestésica
localizou-se superficialmente à fáscia. A injeção pode ser realizada tantos nos
aspectos medial e lateral, quanto apenas no aspecto medial, como descrito. Quando
usa-se apenas uma única injeção, injeta-se o anestésico primeiramente sobre o
nervo lateral e, então, a agulha é dirigida medialmente entre o ligamento
suspensório e o tendão flexor digital profundo, de modo que a solução possa ser
depositada sobre o nervo palmar medial. Para realização desse método é
necessária uma agulha de 36 mm, realizar aspiração para evitar injeção na artéria
palmar (SPEIRS, 1999).
Os nervos metacárpicos lateral e medial são anestesiados ligeiramente
abaixo da articulação carpometacárpica onde os nervos situam-se entre a superfície
palmar do 3º metacarpo e a superfície axial do 2º ou 4º metacarpos (MOYER et al.,
2007). Deposita-se cerca de 5 mL do anestésico local com uma agulha de calibre 20
a 22 e 3,28 cm (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
Estes quatro bloqueio nervosos irão anestesiar de forma efetiva as estruturas
profundas do metacarpo, com exceção da porção proximal do ligamento suspensor.
Os cavalos que demonstrarem melhora após realização desse bloqueio devem ser
examinados radiograficamente (STASHAK, 2006).
Segundo DOHERTY & VALVERDE (2008), uma complicação do bloqueio alto
em quatro pontos é a anestesia das articulações intercarpiana e carpometacarpiana,
devido à inadvertida penetração da bolsa externa disto palmar da articulação
carpometacárpica.
Outra causa é a extremidade da agulha posicionada intradérmica, dentro de
um tendão flexor, no músculo interósseo ou na espessura do retináculo dos flexores
(BROSSI, 1996).
28

Figura 9. Bloqueio alto em quatro pontos. Figura 10. Procedimento do bloqueio alto
Fonte: MOYER et al., 2007. em quatro pontos.
Fonte: Arquivo pessoal.

4.6 Bloqueio do nervo palmar lateral no nível da articulação intercárpica

O nervo palmar lateral tem origem a uma distância variável proximal ao carpo
e representa uma continuação do nervo mediano mais o ramo palmar do nervo
ulnar. O nervo palmar lateral corre em uma direção dorsolateral distal ao osso
cárpico acessório e ao longo da face palmar distal do ligamento metacárpico
acessório. Na extremidade distal do osso metacárpico quarto, ocorre a perda do
ramo profundo do nervo palmar lateral, o qual destaca ramos para a origem do
ligamento suspensor e divide em nervos metacárpicos palmares lateral e medial
(STASHAK, 2006).
O local da injeção é um sulco longitudinal na fáscia onde pode ser palpado
sobre o aspecto medial do osso cárpico acessório, palmar a inserção do retináculo
flexor que forma a borda medial palmar do canal do carpo (MOYER et al., 2007).
29

O procedimento é realizado geralmente com o cavalo sustentando o peso


sobre o membro onde uma agulha calibre 25 de 1,59 cm é inserida no terço distal
da depressão em sentido mediolateral. Deve-se injetar de 1,5 a 2 mL de anestésico
local no momento em que a agulha encostar na região medial do osso acessório do
carpo (DOHERTY & VALVERDE, 2008).

Figura 11. Bloqueio do nervo palmar lateral Figura 12. Procedimento do bloqueio do
no nível da articulação intercárpica. nervo palmar lateral no nível da articulação
Fonte: MOYER et al., 2007. intercárpica.
Fonte: MOYER et al., 2007.

Segundo Doherty & Valverde (2008), essa técnica de anestesia do nervo


palmar lateral evita que ocorra deposição indevida de solução anestésica no interior
da bainha sinovial do carpo.
Se esse bloqueio é usado juntamente com o bloqueio alto do nervo palmar
medial imediatamente distal ao carpo, ocorrerá dessensibilização das estruturas
30

profundas e superficiais distais a ele, incluindo a porção final dos ossos


metacárpicos 2º e 4º e a origem do ligamento suspensor (STASHAK, 2006).

4.7 Bloqueio dos nervos mediano, ulnar e musculocutâneo

O carpo e o aspecto distal do membro podem ser dessensibilizados através


da anestesia dos nervos mediano, ulnal e musculocutâneo medial. Embora esses
nervos sejam anestesiados para efeitos diagnósticos, eles são mais
comumentemente anestesiados para dessensibilização da porção distal do membro
para cirurgias (MOYER et al., 2007).
A anestesia perineural é usada para bloqueios mais frequentemente até o
nível do carpo, acima desta região utiliza-se a anestesia intrasinovial. Porém a mão
inteira pode ser anestesiada através do bloqueio destes nervos que pode ser usado
na localização de claudicação no ombro e no cotovelo quando outros bloqueios
falharem, porém na maioria dos casos o examinador deve ser capaz de localizar a
claudicação sem o uso desse procedimento (STASHAK, 2006).

4.7.1 Nervo mediano

O nervo mediano é anestesiado na região caudomedial do radio, logo abaixo


da articulação do cotovelo, onde a extremidade ventral do músculo peitoral
superficial posterior se insere no rádio (MOYER et al., 2007).
Uma agulha calibre 20 e com 5,08 a 6,35 cm é inserida neste local e inclinada
em ângulo proximal lateral até uma profundidade de 2,5 a 4 cm através da fáscia
próxima à superfície caudal do rádio depositando-se um volume de 10 mL de
anestésico local (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
Deve-se manter a agulha o mais próximo possível do rádio para evitar a
punção da artéria e veia medianas, que passam caudalmente ao nervo (STASHAK,
2006).
A realização isolada da anestesia do nervo mediano dessensibiliza
parcialmente o carpo, a porção distal do antebraço e as estruturas inervadas pelos
nervos palmares medial e lateral (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
31

Figura 13. Procedimento do bloqueio do nervo Figura 14. Bloqueio do nervo mediano.
mediano. Fonte: MOYER et al., 2007.
Fonte: MOYER et al., 2007.

4.7.2 Nervo ulnar

A anestesia do nervo ulnar é realizada cerca de 10 cm acima do osso


acessório do carpo, onde ele passa aproximadamente 0,5 a 1 cm abaixo da
superfície da pele sob a fáscia superficial, na reentrância entre os músculos flexor
ulnar do carpo e ulnar lateral (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
É inserida uma agulha calibre 20 de 3,8 cm pela pele e pela fáscia. Apesar de
a profundidade desse nervo ser variável, em geral, é em torno de 1 a 1,5 cm abaixo
da superfície da pele. O examinador pode bloquear com êxito, superficial e
profundamente essa região, utilizando pelo menos 10 mL de anestésico local
(STASHAK, 2006).
Anestesiando-se o nervo ulnar, dessensibilizamos a pele da face lateral do
membro torácico, distal ao local da injeção, até o boleto. A claudicação causada por
lesões do osso acessório do carpo e estruturas adjacentes, o segundo e quarto
ossos metacárpicos e seus ligamentos interósseos, e o ligamento suspensório, é
parcialmente amenizada anestesiando o nervo ulnar (MOYER et al., 2007).
32

A anestesia simultânea de ambos os nervos, mediano e ulnar, dessensibiliza


mais estruturas distais aos bloqueios que possam estar relacionadas com a
claudicação (MOYER et al., 2007).

Figura 15. Procedimento do bloqueio do nervo ulnar. Figura 16. Bloqueio do nervo ulnar.
Fonte: MOYER et al., 2007. Fonte: MOYER et al., 2007.

4.7.3 Nervo musculocutâneo medial

Os dois ramos do nervo musculocutâneo medial são bloqueados no aspecto


medial do membro anterior no meio do caminho entre o cotovelo e o carpo,
imediatamente cranial à veia cefálica e imediatamente cranial à veia cefálica
acessória. Geralmente o nervo está localizado imediatamente abaixo da pele, mas
pode ocorrer variação do seu posicionamento. É melhor realizar o bloqueio de
ambos tecidos subcutâneos cranial e medial à veia cefálica. Deve-se inserir uma
agulha calibre 22 de 2,5 cm depositando-se 5 mL de anestésico local (STASHAK,
2006).
Alternativamente, o nervo musculocutâneo pode ser bloqueado
imediatamente acima da região dorsal da articulação do cotovelo, no qual é passível
de ser palpado quando cruza o lacertus fibrosus (aponeurose bicipital) (DOHERTY
& VALVERDE, 2008).
33

Segundo MOYER et al. (2007), o nervo musculocutâneo medial não é


necessária como parte do exame de claudicação pelo fato deste nervo inervar
somente a pele.

Figura 17. Procedimento do bloqueio do nervo musculocutâneo medial.


Fonte: MOYER et al., 2007.

De acordo do BROSSI (1996), a anestesia destes 3 nervos proporciona a


dessensibilização de todas as estruturas do membro (carpo, metacarpo e dígito)
bem como: formações dessensibilizadas pela anestesia dos 4 pontos altos,
articulação do carpo, exceto seu aspecto dorso lateral que é inervado pelo nervo
radial; ligamentos interósseos; ligamento colateral medial e ligamento palmar
comum; articulação do carpo, ossos metacarpianos II, III e IV, extremidade distal do
rádio; porção antebraquial distal dos músculos antebraquiais, caudal e dorsal;
ligamentos acessórios dos tendões flexores digitais superficial (Brida Radial) e do
profundo (Brida Cárpica); canal carpiano, osso acessório do carpo e seus
ligamentos.
As formações parcialmente dessensibilizadas são a face dorsolateral do
carpo; ligamento colateral lateral; cápsula articular dorsal; parte média do rádio e
parte média dos músculos antebraquiais. Já as não dessensibilizadas são aquelas
situadas acima do terço proximal do antebraço (BROSSI, 1996).
Podemos ter respostas errôneas como falsos positivos por difusão
ascendente de solução anestésica pelos interstícios musculares ou por via linfática
e insensibilização de elementos situados proximalmente, bem como falsos
negativos por injeção intravascular (especialmente com o nervo mediano), injeção
34

intra-muscular (muito comum com os nervos mediano e nervo ulnar) e injeção intra-
sinovial no canal carpiano no momento da realização da anestesia do nervo
mediano, mais distalmente (BROSSI, 1996).

Figura 18. Bloqueio dos nervos mediano, ulnar e musculocutâneo.


Fonte: MOYER et al., 2007.
35

5 Anestesia perineural do membro pélvico

Se após a observação e manipulação a claudicação se isolar em um membro


posterior, pode-se utilizar a anestesia perineural para localização da área dolorida.
Como de certa forma, a neuroanatomia do membro abaixo do tarso é similar àquela
do anterior abaixo do carpo, as técnicas de anestesia perineural também são
similares. Porém, como os nervos metatársicos dorsais lateral e medial, originados
do nervo fibular profundo, passam sobre as superfícies dorsolateral e dorsomedial
do osso metatársico terceiro e dígitos, recomenda-se a injeção adicional de
anestésico local dorsalmente, a partir do bloqueio nervoso digital plantar na quartela
e sesamóides proximais (abaxial) e para os bloqueios alto e baixo de quatro pontos
plantares (STASHAK, 2006).
Utiliza-se mais frequentemente injeções intra-sinoviais de várias articulações
e bursas para anestesia local proximal (acima) ao metatarso. Entretanto, a
anestesia perineural de nervos tibial e peroneal pode ser usada para dessensibilizar
a região társica. A contenção adequada e o posicionamento corpóreo são de grande
importância para o trabalho no membro posterior, deve ser aplicado o cachimbo
onde o auxiliar que se encontra segurando o cavalo deve encontrar-se do mesmo
lado que o veterinário. Na maioria dos casos, a melhor opção é a realização do
procedimento em pé, próximo ao cavalo e com o membro do equino no solo
(STASHAK, 2006).

5.1 Bloqueio dos nervos metatársicos dorsais lateral e medial

O nervo metatársico dorsolateral passa distalmente, dorsal à artéria


metatarsiana dorsal, que se localiza na fossa entre os ossos terceiro e quarto
metatarsianos, e depois corre distalmente para a região dorsolateral da quartela e
do boleto. Sua inervação estende-se até o cório laminar. O nervo metatársico dorsal
medial emerge na região metatársica proximal, por baixo da borda medial do tendão
extensor digital longo. Corre distalmente entre o tendão e o segundo metatarsiano,
terminando ao aspecto medial do membro, como ocorre com seu correspondente
lateral, na face lateral do membro (SPEIRS, 1999).
Esses nervos devem ser bloqueados no nível desejado, juntamente com os
outros bloqueios (nervos metatársicos plantares medial e lateral e nervos plantares),
36

afim de que todas as estruturas profundas na porção distal do membro sejam


anestesiadas, constituindo assim bloqueios de seis pontos altos ou baixos. Não é
comum anestesiar os nervos que fornecem inervação superficial, entretanto, caso
haja necessidade, eles podem ser melhores anestesiados com um bloqueio em
anel, estendendo-se ao redor dos aspectos medial, dorsal e lateral do membro
(SPEIRS, 1999).
- Nervo metatársico dorsolateral: O nervo lateral é bloqueado no me
metatarso proximal injetando-se 5 mL de anestésico local subcutaneamente, a meio
caminho entre a junção dos ossos terceiro e quarto metatarsiano e a borda do
tendão extensor lateral. O ponto de referência mais distalmente é o tendão extensor
longo dos dedos. Ao nível do boleto, deposita-se subcutaneamente o anestésico na
aspecto dorsolateral da articulação. Na região média da quartela, o nervo localiza-se
imediatamente lateral ao ramo extensor do ligamento suspensório. A escolha do
local de injeção depende da altura onde a anestesia é desejada.
- Nervo metatársico dorsomedial: O nervo medial corre na borda medial do
tendão extensor longo, obliquamente, sobre o aspecto medial do metatarso, para
terminarde uma maneira semelhante ao nervo lateral. Na porção proximal do
metatarso, é realizado o bloqueio injetando-se o anestésico local adjacente ao
tendão extensor digital longo. No metatarso distal, o local é no aspecto medial do
terceiro metatarsiano, a região média da quartela é imediatamente medial ao
ligamento suspensório (SPEIRS, 1999).
Como mencionado anteriormente, a dessensibilização é limitada às
estruturas mais profundas, distais ao nível da injeção. Isso pode resolver o problema
da claudicação, porém é impossível realizar a avaliação da anestesia devida à
presença da inervação superficial das regiões dorsal, dorsolateral e dorsomedial.
Sendo assim, o teste de efetividade do bloqueio é limitado aos aspectos caudais do
membro. Para uma dessensibilização completa é necessário um bloqueio em anel,
no entanto isso é raramente necessário (SPEIRS, 1999).
37

Figura 19. Bloqueio dos nervos metatársicos


lateral e medial.
Fonte: MOYER et al., 2007.

5.2 Bloqueio do nervo tibial

O nervo tibial pode ser bloqueado juntamente com os nervos peroneais


profundo e superficial para diagnóstico de claudicação do jarrete e estruturas distais
a ele (STASHAK, 2006).
Esse nervo é anestesiado aproximadamente 10 cm acima da região do
boleto, na face medial do membro, onde pode ser realizada a palpação do nervo na
superfície caudal do músculo tibial caudal, cranial ao tendão do calcâneo. Neste
nível é mais fácil palpar o feixe neurovascular contendo o nervo enquanto o membro
é flexionado (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
O nervo passa muito próximo da extremidade caudal do tendão flexor
profundo quando o cavalo encontra-se sustentando o peso corpóreo e pode ser
38

palpado pressionando-se firmemente o dedão no membro cranial ao tendão de


Aquiles, ele é sentido como uma estrutura de cerca de 6 mm de diâmetro
imediatamente caudal ao tendão flexor profundo (STASHAK, 2006).
Na maioria dos casos usa-se o cachimbo na contenção do animal, mas
dependendo do temperamento do cavalo, a tranquilização pode ser necessária. O
bloqueio pode ser realizado em duas posições, uma de pé, lateralmente ao membro
a ser bloqueado e outra também em pé, junto a face lateral do membro oposto ao
que será bloqueado (STASHAK, 2006).
É realizada a preparação de uma área localizada aproximadamente 10 cm
acima do jarrete, uma agulha calibre 25 de 1,58 cm é direcionada através da pele
sobre o nervo e 1,5 a 2 mL de solução anestésica intradérmica e subcutânea é
injetada, no qual isso facilita a passagem de uma agulha calibre 20 de 3,8 cm pela
pele, onde assim que a agulha penetra a fáscia envolvendo o nervo, 15 a 20 mL de
solução anestésica local são injetados; deve-se movimentar a agulha superficial e
profundamente e caudal e em posição cranial até que a região seja infundida
adequadamente (STASHAK, 2006).

Figura 21. Procedimento do bloqueio do nervo tibial.


Fonte: MOYER et al., 2007.
39

Após a anestesia do nervo tibial a observação da melhora da claudicação indica a


região metatarsiana ou o ligamento suspensório como origem da dor, contanto que
tenham sido eliminadas as estruturas distais do membro como fonte da dor através
do bloqueio baixo do nervo plantar (DOHERTY & VALVERDE, 2008).

5.3 Bloqueio dos nervos fibulares ou peroneais superficial e profundo

É comum realizar o bloqueio dos nervos peroneais profundo e superficial


juntamente com o nervo tibial para o diagnóstico de claudicação de tarso ou como
bloqueio de seleção para descobrir se a dor que está gerando a claudicação é
proximal ou distal ao jarrete (STASHAK, 2006).
Geralmente, a anestesia dos nervos fibulares são realizadas na borda lateral
do membro, cerca de 10 cm acima do boleto, em uma depressão formada pelos
músculos extensores digitais longo e lateral (DOHERTY & VALVERDE, 2008).
O nervo peroneal profundo passa próximo à tíbia, perto da extremidade
lateral do músculo tibial cranial. O nervo peroneal superficial passa sutilmente em
posição caudal a mais superficial ao septo dos dois músculos extensores. Identifica-
se a fossa entre esses dois músculos e prepara-se o local para a injeção.
Geralmente usa-se o cachimbo para contenção do animal (STASHAK, 2006).

Figura 22. Procedimento do bloqueio dos nervos peroneais


superficial e profundo.
Fonte: MOYER et al., 2007.
40

Ainda segundo STASHAK (2006), inseri-se uma agulha calibre 25 de 1,58 cm


através da pele na fossa entre os dois músculos e injeta-se de 1,5 a 2 mL de
solução anestésica local intradérmica e subcutaneamente para facilitar a passagem
de uma agulha maior, onde após isso utiliza-se uma agulha calibre 20 de 3,8 cm
atravessando pela vesícula intradérmica em uma direção levemente caudal. É
inserida até que a ponta da agulha esteja próxima à extremidade lateral do músculo
tibial cranial.
Após depositar de 10 a 15 mL de anestésico local neste ponto afim de
anestesiar o nervo fibular profundo, deposita-se mais solução anestésica local (10 a
15 mL) em plano superficial, em três ou quatro pontos, a fim de anestesiar o nervo
fibular superficial à medida que a agulha é retirada (MOYER et al., 2007).

Figura 23. Bloqueio dos nervos tibial e peroneais superficial


e profundo.
Fonte: MOYER et al., 2007.
41

O bloqueio do nervo tibial e dos nervos fibulares superficial e profundo acima


do boleto anestesia toda a porção distal do membro. Quando esses nervos estão
dessensibilizados, o cavalo pode puxar o membro (DOHERTY & VALVERDE,
2008).
42

6 Complicações da anestesia perineural

A solução de anestésico local usado para anestesia regional é detectável


sistematicamente e poderia criar um problema para o proprietário e/ou treinador se
o cavalo for testado (MOYER et al.,2007).
Em equinos que retraem o membro subitamente, a possibilidade de quebra
de agulha aumenta quando os nervos palmares medial e lateral estão sendo
bloqueados com uma única injeção, não sendo recomendado este método por esta
razão (SPEIRS, 1999).
Os anestésicos locais são soluções ácidas e por esse motivo podem causar
irritação nos tecidos e formação de edemas (GAYNOR & HUBLELL, 1991).
Há a ocorrência frequente da punção de artérias e veias medianas devido à
sua intimidade com o nervo mediano. Embora isso não seja grave há necessidade
que se faça um leve recuo da agulha antes de injetar a solução anestésica.
Ocasionalmente, haverá alguma perda do controle motor dos músculos na porção
proximal do membro, sendo isso perturbador para o cavalo aconselha-se manter o
equino confinado até que cesse o efeito da anestesia (SPEIRS, 1999).
Ainda segundo SPEIRS (1999), as principais complicações do bloqueio nos
nervos metatársicos dorsais lateral e medial são a impossibilidade de se avaliar
completamente a efetividade da anestesia e a variação da resposta, relacionada ao
número de injeções necessárias.
43

7 Conclusão

Uma vez que os cavalos são animais propensos a inúmeros tipo de afecções
e injúrias nos membros, devido a sua conformação em conjunto com o trabalho
realizado frequentemente, o bloqueio perineural torna-se um procedimento de
extrema importância no auxílio do diagnóstico de claudicação equina.
Em momentos onde mesmo a origem de algumas claudicações serem claras
durante o exame físico, mas as condições não sejam evidentes, utiliza-se o bloqueio
perineural para auxílio no diagnóstico juntamente com a compreensão clínica dos
resultados.
A anestesia perineural além de importante ferramenta no diagnóstico da
claudicação, também é de fácil utilização a campo, necessitando de pouco material
e sendo de baixo custo. A realização deste procedimento torna-se facilitada
proporcionando economia ao proprietário, onde elimina-se a solicitação de muitos
exames complementares, e quando há necessidade de realizá-los, estes já são
direcionados para a região específica, bem como o tratamento.
Conclui-se que o bloqueio perineural consiste em uma ferramenta de grande
valor da clínica veterinária promovendo auxílio e eficácia para que melhores
resultados sejam obtidos no dia a dia da clínica equina, recompensando nossos
esforços, correspondendo as expectativas dos proprietários e a saúde dos nossos
pacientes.
44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADAMS, H.R. Farmacologia e Terapêutica em Veterinária. 8.ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2003.

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