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AFECÇÕES DE CASCO EM BOVINOS DE LEITE

As afecções podais são um dos principais problemas que afetam rebanhos de bovinos
leiteiros no Brasil, sendo responsáveis por 90% das causas de claudicação, é uma grande
preocupação dos produtores, pois atingem o sistema locomotor dos animais, afetando
principalmente cascos posteriores, levando a dificuldades de locomoção e consequentemente
de alimentação, acarretando em prejuízos econômicos consideráveis devido ao descarte de
leite, atraso na concepção, perda na produção e custo de tratamento dos acometidos. Uma
vaca com problemas de locomoção, a depender da lesão, pode deixar de produzir até 5 litros
de leite de por dia, com queda de 5% na taxa de concepção. Em casos mais graves, pode
chegar a uma perda de 30 litros de leite por dia, e queda de 50% a 100% na taxa de
concepção.
Os problemas de casco são multifatoriais, podendo ser ocasionada por fatores
genéticos, sendo importante buscar por animais com bons aprumos para reprodução.
Casqueamento e manejo sanitário inadequado, já que esses processos preventivos, quando
ausentes ou mal realizados, podem acarretar o aparecimento de problemas podais. Nutrição,
que caso não seja realizada de forma adequada, afeta funcionalidade metabolica, podendo
comprometer o sistema locomotor. Ambiente e instalações, o piso das propriedades pode
levar a deformidades nos casos, comprometendo a pisada, ambientes muito úmidos podem
levar ao amolecimento dos cascos, predispondo a traumatismos ou até a quadros de
apodrecimento, entre outras situações que podem aumentar a ocorrencia de afecções podais.
Tudo devendo ser observado com atenção, já que a alta incidência de doenças de casco está
diretamente ligada a ausência ou baixa assistência técnica nas propriedades.
As lesões possuem classificação quanto ao seu local de manifestação: doenças na sola
do casco, como hematoma de sola, úlcera de sola, doença da linha branca e dupla sola;
doenças de talão e regiões periféricas do casco, como a erosão do talão e dermatite digital;
doenças no tecido interdigital, como gabarro, podridão do casco e dermatite interdigital, e
outras doenças, como fissuras ou rachaduras nos cascos e laminite. Dentre as alterações
podemos observar feridas, desgastes, crescimento excessivo das unhas, bicheiras e mais
algumas outras formas de lesões que podem dar origem ou ser sintomas de patologias mais
graves. Esses aspectos geram estresse nos animais acometidos, que mudam sua alimentação e
locomoção, diminuindo ingestão de alimentos, consequentemente, reduzindo seu peso, sua
produção de leite e afetando sua vida reprodutiva.
Como descrito anteriormente, as enfermidades podais são diversas e de acordo com
sua incidência podemos citar como as principais a Laminite, Doença da linha branca, Erosão
de Talão, Úlceras de Sola e Dermatite digital e interdigital.

Laminite
A Laminite é considerada a principal causadora de claudicação na espécie bovina,
estima-se que 60% das lesões podais em bovinos estão associados a ela. Tem origem
multifatorial, sendo um processo inflamatório que pode ser classificado em agudo, crônico ou
subclínico. Suas principais causas estão ligadas a ingestão excessiva de grãos, ou seja, dietas
com níveis elevados de carboidratos e baixos de fibras, com as condições do ambiente,
instalações, sanidade, superlotação e umidade, porém em certos casos, sua causa primária não
é determinada.
Seu acometimento se dá em estruturas sensíveis da parede do casco do animal,
resultando em sua claudicação e deformidade permanente do seu casco. As manifestações
clínicas se diferenciam entre a fase aguda e cronica, na aguda temos pulsação aumentada das
artérias digitais, o calor e a dor evidenciada pela pinça. Na crônica possui alterações
características em seu digito e um andar específico. Suas complicações são as úlceras de sola,
a erosão de talão, doença da linha branca, hemorragia de sola e fissuras.
Diagnóstico é realizado a partir dos sintomas e anamnese, juntamente com radiografias
com intervalos semanais para acompanhamento clínico.
O tratamento deve ser realizado o mais rápido possível, pois é responsável pelo alívio
da dor e impede o agravamento da laminite. É usado analgésicos como o Flunixin-meglumine
e anti-inflamatórios como o Fenilbutazon, e se necessário alteração da alimentação,
instalações e melhoria do manejo.
Sua prevenção se baseia na adoção de medidas que evitem a acidose láctica, o uso de
produtos alcalinizantes na ração, piso de qualidade e boa higienização do ambiente.

Erosão de Talão
A Erosão de Talão se dá por fatores como a ambiência que se encontra o animal, a
presença de pedras e de um chão desnivelado e a umidade aumentada, que afeta diretamente
os cascos, levando à destruição das regiões, que quando não tratada leva a doença, ocorrendo
dor e claudicação e uma dificuldade em sua locomoção, sua ocorrência também está
relacionada à baixa qualidade dos tecidos córneos, secundária a Laminite e infecções
bacterianas secundárias. É comum a ocorrência de fissuras e sulcos, com uma coloração
escura.
Seu tratamento se baseia na remoção dos tecidos lesionados, por casqueamento
regular. Sua prevenção se dá por casqueamento regular, tratamento tópico, manejo dos locais
de acesso dos animais, mantendo o solo liso e livre de possíveis agressores e o uso de
medicamentos homeopáticos preventivos no tratamento de outras doenças de casco que
influenciam na redução das inflamações do casco, malformações, previnem e tratam, com
redução de edema, dor e claudicação.

Doença da Linha Branca


A Doença da Linha Branca, também associada à laminite, acontece ao longo da linha
branca do casco, ocorrendo uma separação da sola e da parede da borda da sola dos animais,
que começam com pequenas fissuras que se tornam lesões com áreas necrosadas, torna o
casco menos resistente a danos físicos, infecções e cortes, aumentando ainda mais as chances
de lesão. O cório é infectado à partir das fissuras, levando a formação de abcessos na subsola.
Em casos graves, as articulações dos animais podem ser afetadas.
O diagnóstico é feito a partir da anamnese e manifestações clínicas, sendo as mais
comuns, claudicação, dor e acúmulo de pus abaixo da sola do casco.
Para alívio de dor é realizada limpeza e casqueamento, além de antibióticos, anti-
inflamatórios e bandagens para evitar a contaminação. Por se tratar de uma infecção, além do
uso de antibioticos é importante focar na imunidade, que é o principal fator de melhoria do
seu quadro clínico.
O uso de medicamentos homeopáticos preventivos no tratamento de doenças de casco
que influenciam na redução das inflamações do casco, malformações, previne e trata, com
redução de edema, dor e claudicação.

Úlcera de Sola
A úlcera de sola é uma inflamação do córion, com uma lesão localizada e
caracterizada por uma ferida na sola, geralmente nos pés posteriores e na úngula lateral. Suas
causas estão relacionadas a pisos de má qualidade, laminite subclínica, falta de cuidado com
os cascos e maus aprumos.
O diagnóstico é feito a partir dos sintomas, que consistem, no inicio em uma pequena
hemorragia na parte interna da união da sola com o talão, e com sua evolução, claudicação, o
pé afetado em abdução (para fora) e ferida na sola, a vaca também pode ficar deitada a maior
parte do tempo devido a dor.
O tratamento se dá principalmente com o corte curativo do casco para descomprimir a
lesão, uso de taco na sola do casco saudavel de 3 a 4 semanas, para retirar o peso do animal
sobre a ferida, limpeza da ferida e uso de antibioticos tópicos.

Dermatite Digital e Interdigital

A dermatite digital é uma ferida superficial circunscrita, geralmente na pele plantar da


quartela entre os talões e em contato com a coroa, podendo também se localizar na pele
plantar dorsal. É causada por bactérias, podendo ser contagiosa, falta de higiene e umidade
são os principais fatores que propiciam seu aparecimento.

Os animais afetados apresentam claudicação de leve a grave, de acordo com a


gravidade da lesão, as feridas são muito dolorosas e provocam hemorragias.

A dermatite interdigital é uma inflamação superficial na pele do espaço interdigital,


também causada por bactérias, devido a falta de higiene e umidade. Como sintomas também
apresenta claudicação de leve a grave, pode haver deformações da córneas dos talões,
aumentando a dor e claudicação. As lesões fazem com que a pele fique espessa, inchada e
com crostas.

A instalação da bactéria em ambos os casos, se dá quando há uma porta de entrada,


como uma ferida pré-existente. É comum, que em épocas chuvosas, o barro do piquete seque
e forme placas secas e rígidas ou quando há um uso incorreto de cascalhos, pedras ou
calçamento rígido e pontiagudo em áreas de acumulo de barro, como em beiradas de cochos,
bebedouros e corredores de passagem, podendo lesionar os animais e levar ao aparecimento
dessas lesões no rebanho.

Como tratamento, segue o mesmo padrão das outras lesões, o corte curativo dos
cascos, limpeza das feridas e com a aplicação local de tetraciclina. Além do manejo ambiental
para evitar o aparecimento de lesões.

A Prevenção mais eficaz em todas as afecções citadas é o uso de pedilúvio, molhando


o casco pelo menos uma vez ao dia. O pedilúvio é uma instalação onde é colocado soluções
com o objetivo de melhorar a saúde dos cascos, possui baixo custo e fácil implantação.
Contudo, aderir a práticas preventivas e curativas podem trazer excelentes resultados.
Outros cuidados podem prevenir as doenças de cascos são fornecer manejo nutricional
equilibrado e balanceado, ambiente higienizado, com piso seco, limpo e livre de pedras ou
outros objetos que possam ferir o animal, e realizar regularmente o casqueamento preventivo.

Conclusão
As afecções de casco em bovinos de leite são frequentes em animais de produção no
Brasil e acarretam prejuízos econômicos, causando perdas significativas e por essa razão
sempre devemos estar atentos a elas.
Baseado em trabalhos, pesquisas e estudos fica claro que a Laminite é a principal
enfermidade podal existente e deve ser tratada rapidamente, pois é causa primária das demais
afecções existentes e o conhecimento sobre isso é o primeiro passo para a sua prevenção.
O Diagnóstico dessas afecções é baseado na forma clínica, por meio da anamnese e
histórico do paciente, juntamente com o exame físico de inspeção dos dígitos e manifestações
clínicas. Essas manifestações são variantes, vão desde sutil claudicação, manqueira, relutância
na locomoção, até a total incapacidade de permanecer em estação. Sendo assim, nunca se
limitar a sinais específicos, pois suas causas são multifatoriais.
O Tratamento deve se iniciar rapidamente após o diagnóstico, isolando o animal
acometido, levando-o a um local seco, sem oferta de concentrado e com forragem e água de
boa qualidade. Associando ao tratamento com antibióticos e anti-inflamatórios específicos a
cada caso que serão eficazes para combater os microrganismos causadores dessas
enfermidades no casco.
E mais importante, é que ocorra a prevenção e controle sobre essas afecções, para isso
o Médico veterinário deve realizar o acompanhamento dos animais, evitando um diagnóstico
tardio, auxiliando no manejo necessário, casqueamento regular, atenção nos fatores de risco e
auxílio na dieta, adequando-a quando necessário.

GRUPO 3

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