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RESUMO
O novo coronavírus se espalhou rapidamente pelo mundo, atingindo os setores econômicos, especialmente o
aéreo, de forma antes não vivenciada. O setor de recursos humanos é acionado durante choques econômicos para
reorganizar as equipes de funcionários nas áreas de transporte aéreo e aeroportos, principalmente durante o
contexto da pandemia do COVID-19, em que a movimentação de passageiros foi reduzida consideravelmente. O
artigo possui o objetivo de avaliar o impacto da pandemia na esfera trabalhista e o tempo esperado de
normalização na visão daqueles inseridos no setor aéreo. Através de modelagem econométrica, se analisou a
correlação entre a perspectiva futura do setor e fatores como escolaridade, área de atuação, medidas trabalhistas,
redução de jornada, demissões e medo de voar. Os resultados indicam que medidas trabalhistas e demissões
estão correlacionados positivamente com a perspectiva de recuperação do setor e que para os otimistas, a
retomada acontecerá em outubro de 2020.
ABSTRACT
The new coronavirus has spread promptly across the world, reaching economic sectors, especially the air, in a
way that has not been experienced before. The human resources sector is triggered during economic shocks to
reorganize the staff in the areas of air transport and airports, especially during the context of COVID-19, in
which the movement of passengers has been reduced considerably. The article aims to assess the impact of the
pandemic on the labor sector and the expected time for normalization in the view of those in the airline industry.
Through econometric modeling, the correlation between the future perspective of the sector and factors such as
education, work’s area, labor measures, reduced working hours, dismissals and fear of flying were analyzed. The
results indicate that labor measures and lay-offs are positively correlated with the prospect of a recovery in the
sector and for optimists, this will happen in october 2020.
1. INTRODUÇÃO
Em 2020 a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) resultou em decréscimos da
movimentação de passageiros, reduções essas jamais presenciadas pela aviação civil (IATA,
2020c). O mercado aéreo global apresentou uma queda, em junho de 2020, de 86,5% no
índice de passageiros pagantes por quilômetro voado (RPK), em relação ao mesmo período no
ano anterior (IATA, 2020d). Esse cenário advém, principalmente, de medidas de
distanciamento social e proibição de viagens para passageiros com sintomas do novo
coronavírus propostas pela OMS (WHO, 2020), com posterior fechamento de fronteiras,
restrições de viagens e parada da frota de aeronaves das companhias aéreas.
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 COVID-19 e a Aviação Civil
O modo aéreo possibilita que indivíduos se desloquem para outros continentes em algumas
horas. Em tempos de pandemia, esse fator contribui para a rápida velocidade na disseminação
dos patogênicos, sendo capaz de estimular surtos de doenças em poucas semanas (Nikolaou;
Dimitriou, 2020). Da mesma forma, voos domésticos permitem a transmissão local e/ou
comunitária, seja por passageiros que tiveram contato com pessoas doentes vindas ou não de
outros países.
20.500.000
15.500.000
10.500.000
5.500.000
500.000
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
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O tema sobre a disseminação da COVID-19 por via aérea é um tema de grande preocupação
para o setor aéreo. Bogoch et al. (2020) correlacionaram 50 destinos internacionais como
possíveis potenciais de futuro de transmissão. Por ter sido elaborado no início da pandemia, o
propósito do estudo é alertar e indicar a capacidade de países em controlar ameaças de
doenças infectocontagiosas, com bases em indicadores de saúde e sociopolíticas. Lau et al.
(2020) indicaram que número de passageiros e de rotas de voo são relevantes para a
transmissão do patogênico. Portanto, os aeroportos caracterizam-se por ser um sistema
indispensável para ao controle da disseminação do vírus. Vale ainda ressaltar que o controle
dos funcionários é outro fator preocupante no contágio a doenças, sendo assim, é relevante a
organização da área de recursos humanos em períodos de crises.
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Lee e Warner (2005), epidemias, mortalidade e o setor econômico são interligados à medida
que viagens aéreas facilitam a transmissão de doenças no mundo, impactando como
consequência, os setores de serviços e o mercado de trabalho.
Além do mais, o setor aéreo, vinculado ao setor de transportes e turismo, vem resistindo a
uma grave crise financeira, sendo essencial a reorganização da estrutura dos aeroportos no
sentido de mitigar o balanço negativo enfrentado. O desafio no momento relaciona-se ao
enfrentamento da pandemia sem prejudicar grandiosamente o fluxo de caixa das empresas, e
assim, evitar falências. Para vencer crises, são necessárias ações conjuntas das operadoras e
companhias aéreas na elaboração de protocolos com regras claras, padronização das medidas
adotadas e estabelecimento de comunicação para reconquistar a confiança no setor.
Alguns estudos evidenciam impactos nos setores de gestão de recursos humanos após choques
econômicos. Segundo Yu et al. (2013), em períodos de crise econômica, os aeroportos são
forçados a reduzir as despesas com pessoal a fim de equilibrar os gastos com a redução de
receitas. A diminuição na movimentação de passageiros e os baixos fatores de carga
produzem ineficiência para os terminais (Pels et al., 2003). Para Lee e Warner (2006), a
economia pode ser impactada em surtos de doenças infectocontagiosas devido à alta taxa de
mortalidade, a qual reflete na demanda de trabalhadores, suprimento de bens e serviços e
assim, proporciona choques de fornecimentos.
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A base de dados deste estudo foi obtida por meio de um questionário, aplicado de modo
online. A plataforma ficou aberta aos respondentes em abril e maio de 2020. O questionário
teve por finalidade analisar o perfil do trabalhador, os setores profissionais mais afetados pela
pandemia e as perspectivas futuras de retomada do setor aéreo no país. No total foram 108
dados coletados.
Em relação ao tratamento estatístico dos dados coletados, 64,81% trabalhadores são do gênero
masculino e 35,19% do gênero feminino. Além disso, entre os entrevistados, 52,78% são pós-
graduados (Figura 2).
13% 5%
Médio
29% Pós Graduado/Mestre/Doutor
53%
Superior Completo
Superior Incompleto
O questionário alcançou 36 cidades no país, em que São Paulo/SP obteve o maior número de
entrevistados, seguido de São José dos Campos/SP, Recife/PE e Brasília/DF. Há 12 setores
profissionais abrangidos, com o setor de Engenharia possuindo supremacia entre os
entrevistados (Figura 3).
Turismo
Tripulação
Tráfego
Segurança
Regulação
Planejamento
Operação
Fiscalização/Manutenção/Compliance
Ensino/Educação
Engenharia
Comercial/Comunicação
Aeronáutica
0 5 10 15 20 25 30
Figura 3: Setor de trabalho dos entrevistados.
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Ao analisar as estatísticas descritivas das variáveis numéricas, conforme Tabela 1, tem-se que
o grupo de entrevistados possui uma média de idade de 36 anos, sendo que trabalham há cerca
de 11 anos no setor.
45
Tempo de atuação no setor
40
35
30
aéreo (anos)
25
20
15
10
5
0
0 1 2 3 4 5
A partir da base de dados da pesquisa, foram selecionadas as variáveis que melhor se ajustam
ao modelo. Desse modo, a base de dados considerada foi composta por sete fatores que
explanam as variáveis do modelo econométrico, a saber:
• Perspectiva futura: variável numérica que revela a perspectiva futura para o setor
aéreo brasileiro, em que 1 é a pior situação e 5 é a melhor esperada;
• Escolaridade: variável dummy para identificar o nível de escolaridade do trabalhador
(sendo 1 para nível superior e 0 para outros);
• Setores de trabalho: variável dummy para classificar a forma de prestação dos serviços
dos trabalhadores dos setores de aeroportos e companhias aéreas (sendo 1 para os
funcionários diretos e 0 para indiretos);
• Medidas alternativas de trabalho: Identificação da situação dos trabalhadores quanto
às possibilidades postas à disposição das empresas pelas medidas provisórias MP 927
e 936 de 2020, como redução de jornada de trabalho, suspensões de contratos e
demissões. Fator avaliado através de variável dummy (sendo 1 para aqueles que
estavam sob as medidas e 0 para os que não estavam);
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A análise das correlações entre as variáveis pode ser observada na Tabela 2. A perspectiva
futura da aviação está positivamente correlacionada com a escolaridade, medidas alternativas
de trabalho e demissões, e negativamente com o setor de trabalho, redução de jornada e medo
de voar no futuro.
O modelo econométrico foi utilizado para estabelecer uma relação causal entre as avaliações
das perspectivas futuras e os demais fatores. Aplicou-se regressão linear através dos mínimos
quadrados ordinários, com a variável dependente e variáveis independentes lineares (lin_lin).
A Equação 1 apresenta o modelo econométrico utilizado:
𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜 = 𝛽0 + 𝛽1 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑙𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 + 𝛽2 ∗ 𝑆𝑒𝑡𝑜𝑟 + 𝛽3 ∗ 𝑀𝑒𝑑𝑖𝑑𝑎𝑀𝑃 + 𝛽4
∗ 𝑅𝑒𝑑𝑢çã𝑜𝐽𝑜𝑟𝑛𝑎𝑑𝑎 + 𝛽5 ∗ 𝐷𝑒𝑚𝑖𝑠𝑠õ𝑒𝑠 + 𝛽6 ∗ 𝑀𝑒𝑑𝑜 + 𝑢 (1)
Onde:
β0 é o intercepto, que expressa o efeito médio sobre a variável dependente de todas as
variáveis excluídas do modelo;
β1 a β6 são denominados coeficientes parciais de regressão;
u é o termo do erro estocástico.
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O p-valor deve possui valor menor ou igual a 0,10 para que a hipótese nula do teste seja
rejeitada e o teste-t deve possuir módulo maior que 1,96 para uma significância de 5%. Todas
as variáveis possuíram significância estatística, com destaque para o setor de trabalho,
medidas alternativas e medo do transporte aéreo pós pandemia.
O medo em voar também pode indicar baixa perspectiva de demanda por voos pós pandemia.
Acredita-se que muitos passageiros deixarão de voar para evitar contato com pessoas vindas
de diferentes locais, o que acarretaria na proliferação do vírus. Por isso, é ratificada a
necessidade de se conquistar a confiança dos viajantes através de medidas de segurança e
comodidade.
Medidas alternativas para funcionários do setor aéreo revelam uma correlação positiva com a
perspectiva futura da aviação, uma vez que a aplicação de diferentes caminhos para superar
crises são vistos como promissores. Ações como realocação de setores, teletrabalho, redução
da jornada, licença não remunerada e férias antecipadas são reconhecidas como necessárias
para conter despesas e reorganizar financeiramente as empresas. Nesse contexto, as demissões
também estão positivamente correlacionadas com as perspectivas futuras, visto que as
empresas poderão realocar os recursos financeiros para adotar medidas de segurança e
estimular a reação do mercado. Pode-se interpretar que os trabalhadores esperam que com a
redução de mão de obra, as empresas consigam minimizar a crise, permitindo posteriormente
as recontratações.
Adicionalmente, com o intuito de obter a previsão por parte dos entrevistados sobre o tempo
em dias que se acredita que o transporte aéreo será normalizado, obteve-se uma segunda
regressão linear, onde o tempo esperado de normalização do transporte aéreo se comportou
como variável dependente e as avaliações das perspectivas futuras como variável
independente (Tabela 4).
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esperado, uma vez que aqueles que esperam retorno mais rápido revelam uma perspectiva
melhor para o futuro da área. Valores de 1 a 5 (expressados pelos entrevistados), média das
notas dos trabalhadores que atuam indiretamente no setor e média das notas daqueles que
atuam diretamente, ou seja, companhias aéreas e aeroportos, foram usados na Equação 2 com
o objetivo de identificar qual período de tempo corresponde aos valores supracitados (Tabela
5).
A análise da Tabela 5 indica que o período para a retomada padrão do setor é igual a 172 dias
para os trabalhadores que possuem a melhor perspectiva (nota 5). Em contrapartida, os mais
pessimistas (nota 1) convergem para 276 dias até a normalização. O período entre 171 e 275
dias correspondem aqueles com votos intermediários. Por fim, a média dos trabalhadores
indiretos e a média dos trabalhadores que atuam diretamente no setor resultaram em,
respectivamente, 185 e 236 dias. Foi feita a transformação em termos de mês e ano,
considerando a data das pesquisas, que estavam bem no início da pandemia em abril de 2020
e talvez por isso ainda um certo otimismo dos respondentes. Fazendo-se um teste de hipóteses
para amostras independentes relativas a trabalhadores diretos e indiretos, percebe-se que com
relação à avaliação das expectativas futuras, aceita-se a hipótese nula de igualdades das notas
médias ao nível de significância de 5%, enquanto com relação ao período de tempo esperado
para normalização, rejeita-se a hipótese de igualdade ao nível de 5%, expressando assim, os
trabalhadores indiretos expectativas mais otimistas de prazos mais curtos.
4. CONCLUSÃO
O setor de recursos humanos é essencial para gerenciar a esfera trabalhista e permitir a
readequação das empresas durante choques econômicos. Devido à pandemia do novo
coronavírus, muitos setores foram atingidos, em especial o aéreo. A demanda de passageiros
reduziu-se significantemente desde o surto da doença, atrelada a fatores como fechamento de
fronteiras, medidas de isolamento social e aversão ao uso do transporte pelos usuários como
forma de evitar contaminação.
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Da mesma forma, redução de jornada de trabalho possui efeito antagônico à retomada do setor
na ótica dos funcionários, visto que medidas como essa corroboram para o fato de que as
empresas estão passando por dificuldades financeiras. O medo em voar acarreta na baixa
perspectiva por voos pós pandemia, sendo necessário reconquistar a confiança dos viajantes
por meio de medidas de segurança e comodidade. Em contraste, medidas trabalhistas e
demissões estão correlacionados positivamente com a perspectiva de retomada do setor, uma
vez que a crise demanda ações para minimizar os custos, mesmo que seja necessário atingir o
mercado de trabalho.
Além disso, através de outro modelo de regressão linear, foi possível prever o tempo esperado
de normalização do setor aéreo de acordo com as notas de perspectiva futura propostas pelos
entrevistados. Os resultados indicam que para os otimistas, a retomada seria em outubro de
2020, enquanto para os pessimistas somente em fevereiro de 2021. É esperado que os
passageiros retornem ao transporte aéreo paulatinamente, permitindo o reaquecimento do
setor e posteriormente a realocação e recontratação dos funcionários afetados pela pandemia
do novo coronavírus.
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