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História Pública Origens e Disseminação No Brasil
História Pública Origens e Disseminação No Brasil
Nicolas Theodoridis1
O que realmente significa História Pública? Qual ou quais aplicabilidades ela está
inserida no contexto atual? Para que serve? Estes e outros tantos questionamentos fazem parte
do universo conceitual da História Pública. Uma das possíveis definições conceituais a respeito
deste novo campo foi proposto por Sayer (2015:07), em que o autor a classifica como sendo o
de “comunicação da História para amplas audiências” ou ainda o “engajamento do público na
prática e na produção do conhecimento histórico”.
Nascida na década de 70 na Inglaterra “ganhou espaço no Canadá, Austrália, Itália,
África do Sul e Estados Unidos. Na Europa, emergiu como prática do uso público da história
com fins político-ideológicos, influenciados pela busca de justiça social” (ALMEIDA E
ROVAI, 2011:07) e “abriu oportunidades de emprego para historiadores públicos em arenas
mais verdadeiramente públicas” (SHOPES, 2016:77). De início, segundo salienta Smith (2018,
p. 293), história pública “significava simplesmente qualquer trabalho histórico feito fora de uma
instituição de Ensino, não importando o quão diferente ele fosse”, embora o autor faça uma
crítica a respeito do “surgimento e do crescimento da história pública nos Estados Unidos é que
as universidades inventaram uma distinção entre história “acadêmica” e “pública” à medida que
foram introduzindo novos programas” (2018:294).
O modelo de “Public History” que vem sendo utilizado no mundo, de maneira geral,
partiu dos Estados Unidos, a partir da University of California, Santa Bárbara, e teve, como
prerrogativa basilar, buscar “uma ideia de história pública voltada à incorporação do historiador
no mercado de trabalho e à inserção da história na cultura das mídias” (SANTHIAGO, 2016:25
e 27). Com isso, poderíamos entender “a história pública como uma prática eminentemente
voltada àquela “divulgação histórica” e, de fato, a produção de materiais para circulação e
consumo de uma audiência mais ampla do que nossos pares acadêmicos (...)” (MAUAD,
ALMEIDA E SANTHIAGO, 2016:11).
Shopes (2016:73) também analisou a respeito da gênese da História Pública nos Estados
Unidos na Universidade de Santa Bárbara informando que o Programa de Pós-Graduação em
Estudos de História Pública foi criado em 1976 e de que dois anos após, surgiu o periódico The
Public Historian, vindo a proliferar depois de uma década, mais outros 75 cursos com a mesma
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- Doutorando na Universidade Salgado de Oliveira – Universo
perspectiva. Em 1980 foi criado o Conselho Nacional de História Pública e em 1985, foi
aprovado “a primeira versão de seu código de ética e conduta profissional”.
Com este espaço consolidado nos países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e
Austrália, a História Pública possibilita ir além da divulgação de um conhecimento organizado
e sistematizado pela ciência e “aponta possibilidades para a construção e a difusão do
conhecimento histórico de maneira dialógica (entre acadêmicos e não acadêmicos) ”,
ultrapassando a simples ideia vigente na academia de acesso e publicização do que seria a
história (ALMEIDA, 2016:47). Smith (2018:94) aponta um cabedal de áreas em que os
historiadores que se utilizam da história pública poderiam atuar fora da academia tais como;
Nesta mesma linha de raciocínio, Santhiago (2011:97) colocou que “a história oral é
provavelmente o ramo de conhecimento histórico que mais e melhor se associou à história
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- Efetivada no transcurso do evento “História Oral: Um lugar de interseções” realizado na Universidade Federal
de Minas Gerais em 2012 e promovido pelo Núcleo de História Oral da mesma entidade.
pública”, isso devido ao modus operandi da História Oral, que se utiliza das entrevistas com
lideranças e integrantes de movimentos sociais, possibilitando “mapear, por meio de trajetórias
de vida e dos estudos temáticos, as representações e práticas desses “sujeitos coletivos” –
referentes ao trabalho de base, aos debates partidários, a organização interna e as estratégias de
ação” (ALMEIDA, 2016:47).
A preocupação precípua da utilização da História Oral nos movimentos sociais visa
aprender as suas mudanças e demandas, pois segundo Almeida (2016:53), os “movimentos
sociais são os principais responsáveis por reivindicações públicas construídas em diferentes
campos de disputas. As atuações dos movimentos sociais expressam aspectos da busca pela
cidadania”.
Ferreira ainda salienta que, com este manancial de opções a sua disposição, o professor
divulga, difunde e ainda, “estabelece a produção de um conhecimento histórico escolar”, onde,
por sua vez, os alunos também terão reconhecidas suas vozes, tornando a dinâmica da sala de
aula “múltipla, multifacetada, polifônica”, com os “parâmetros que delineiam uma educação
interativa, dialógica” (2016:34).
O diálogo faz parte da didática da história escolar com o conhecimento histórico
acadêmico (WANDERLEY, 2018:103) e o estabelecimento de reflexões, exaradas na sala de
aula, faz com que “se desenvolvam práticas de história pública com intensa atividade
intelectual” (PENNA E FERREIRA, 2018:114), pois segundo Andrade e Andrade (2016:177),
este tipo de “conhecimento produzido na universidade não tem primado pela busca do diálogo
e pelo reconhecimento à especificidade e à diferença”.
Este diálogo da “história escolar enseja uma prática social em permanente articulação
com outras práticas” (ANDRADE E ANDRADE, 2016:180) e, além disso, “valorizar e buscar
diálogos entre historiadores e áreas distintas. Afinal, a produção e significação do conhecimento
histórico configura um eixo fundamental da história pública (...)”.
Carvalho (2016:171-172) também se debruçou sobre o assunto onde ele afirma que “a
Internet tornou possível que os seus usuários deixassem seus tradicionais papéis de
consumidores de conteúdos e se tornassem produtores” (...). “É neste momento que teve início
o fenômeno dos blogs, que surgiram redes sociais como o Orkut e o Facebook, além de
plataformas colaborativas como Youtube (...)”. Tornamo-nos “sujeitos-autores desta nova
Internet”, onde produzimos e disponibilizamos os materiais efetuados.
Considerações finais
Chegamos ao final deste pequeno esboço a respeito do surgimento da História Pública
no Mundo e, posteriormente, no Brasil com suas diferentes ramificações e utilizações.
Bibliografia
ALMEIDA, Junielle Rabêlo. Práticas de História Pública. O movimento social e o trabalho de
história oral. In: MAUAD, Ana Maria e ALMEIDA, Juniele Rabêlo de e SANTHIAGO,
Ricardo. História Pública no Brasil. Sentidos e Itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Onde fica a autoridade do historiador no universo digital?.
MAUAD, Ana Maria, SANTHIAGO, Ricardo e BORGES, Viviane Trindade (orgs.). Que
história pública queremos? What public history do we want?. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
FERREIRA, Rodrigo de Almeida. Qual a relação entre história pública e o ensino de História?.
In: MAUAD, Ana Maria, SANTHIAGO, Ricardo e BORGES, Viviane Trindade (orgs.). Que
história pública queremos? What public history do we want?. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
MAUAD, Ana Maria. O passado em Imagens. Artes Visuais e história pública. In: MAUAD,
Ana Maria e ALMEIDA, Juniele Rabêlo de e SANTHIAGO, Ricardo. História Pública no
Brasil. Sentidos e Itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
ORIÁ, Ricardo. História Pública e Monumentos. A narrativa visual do passado nacional. In:
ALMEIDA, Junielle Rabêlo de e MENESES, Sônia (orgs.). História Pública em Debate.
Patrimônio, educação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
SMITH, Richard Cândida. História pública, por que não?. MAUAD, Ana Maria,
SANTHIAGO, Ricardo e BORGES, Viviane Trindade (orgs.). Que história pública queremos?
What public history do we want?. São Paulo: Letra e Voz, 2018.