O documento discute a visão de Aristóteles sobre a distinção entre a esfera privada da família e a esfera pública da pólis. Na visão de Aristóteles, a família se ocupa das necessidades básicas de sobrevivência, enquanto a pólis permite que os cidadãos participem de uma "boa vida" além de suas vidas privadas. Para ter liberdade na esfera política, os homens livres precisam dominar suas necessidades através da dominação sobre os escravos.
O documento discute a visão de Aristóteles sobre a distinção entre a esfera privada da família e a esfera pública da pólis. Na visão de Aristóteles, a família se ocupa das necessidades básicas de sobrevivência, enquanto a pólis permite que os cidadãos participem de uma "boa vida" além de suas vidas privadas. Para ter liberdade na esfera política, os homens livres precisam dominar suas necessidades através da dominação sobre os escravos.
O documento discute a visão de Aristóteles sobre a distinção entre a esfera privada da família e a esfera pública da pólis. Na visão de Aristóteles, a família se ocupa das necessidades básicas de sobrevivência, enquanto a pólis permite que os cidadãos participem de uma "boa vida" além de suas vidas privadas. Para ter liberdade na esfera política, os homens livres precisam dominar suas necessidades através da dominação sobre os escravos.
«[Em Aristóteles] a própria ideia de governação, assim como a distinção entre
governantes e governados, é algo que pertence a um domínio que precede a esfera política, e aquilo que distingue esta última do domínio «económico”» da família é que a polis se baseia num princípio de igualdade e desconhece qualquer diferenciação entre governantes e governados. Nesta distinção entre o que hoje chamaríamos a esfera privada e pública, Aristóteles limita-se a verbalizar uma opinião corrente entre os gregos, segundo a qual «cada cidadão pertence a duas ordens da existência», já que «a polis dá a cada indivíduo […] para além da sua vida privada, uma espécie de segunda vida, a sua bio politikos (o último Aristóteles chamou-lhe a “boa vida”» […]. Ambas as ordens constituíam formas de viver em conjunto, mas só a comunidade familiar é que se ocupava da continuidade da vida enquanto tal e tratava das necessidades físicas relacionadas com a preservação da vida individual e a garantia da sobrevivência da espécie. Em nítida oposição à abordagem moderna, o tratar da preservação da vida, tanto individual como da espécie, pertencia exclusivamente à esfera privada da família, enquanto que na polis o homem era visto como […] personalidade individual, diríamos nós actualmente. Enquanto seres vivos, preocupados com a preservação da vida, os homens são confrontados com a necessidade e por ela conduzidos. A necessidade deve ser domada antes de se dar início à «boa vida» da esfera política […]. Assim, a liberdade da «vida boa» assenta na dominação da necessidade. O domar da necessidade tem pois como objectivo o controlo das necessidades vitais que coarctam os homens e os mantêm sobre o seu poder. Mas tal dominação só pode ser obtida através do controlo e da violência exercida sobre os demais, que na qualidade de escravos aliviam os homens livres da coerção da necessidade. O homem livre, o cidadão de uma polis, não é constrangido pelas necessidades físicas da vida nem sujeito à dominação instituída por outros homens. É necessário que ele não seja um escravo; mas isso não basta, é preciso que seja também proprietário de escravos, que impere sobre eles. A liberdade da esfera política começa depois de todas as necessidades elementares da pura sobrevivência terem sido domadas através de um processo de governação; de forma que, se a dominação e a sujeição, o comando e a obediência, o governar e o seu governado são condições prévias à fundação da esfera política, isso deve-se precisamente ao facto de não constituírem o seu conteúdo».
Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro, Oito Exercícios sobre o
pensamento Político, Lisboa, Relógio de Água, 2006, pp. 130-131.
Democracia, Direitos Fundamentais, Paradigmas: Justiça, Segurança e Liberdade : Democracia – história do constitucionalismo e formação do Estado – Estado de Direito Democrático – Estado Social – Direitos Fundamentais
Democracia e Jurisdição Constitucional: a Constituição enquanto fundamento democrático e os limites da Jurisdição Constitucional como mecanismo legitimador de sua atuação