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Fascismo, a outra face da modernidade

Por Pedro Henrique Lourenço Guimarães

Walter Benjamim viveu e engendrou sua produção acadêmica em um período


conturbado da história da Europa e do mundo, se aqui nos cabe uma referência a Eric
Hobsbaw, a era dos extremos. Uma época de crise das democracias ocidentais,
recessão do capital, radicalismos ideológicos e ascensão de regimes totalitários à
esquerda e direita. Particularmente suas Teses Sobre o Conceito de História são
redigidas no contexto da marcha do nazismo sobre a combalida república de Weimar.
E Benjamim soube, com esmero e perspicácia, captar os sentimentos políticos de sua
época. Inclusive sofrendo uma dura perseguição por parte dos nazistas devido sua
origem judaica, não obstante a preocupação com um combate a ideologia nazifascista
estará no escopo de seu pensamento e obra.

Dentro de uma visão positivista e otimista da História, se deparar com um fenômeno


nefasto e tão destrutivo que abalou as, a priori na época, sólidas bases da civilização
ocidental é estarrecedor. Partindo do princípio de que estaríamos, teoricamente,
caminhando para uma época de prosperidade e avanço tecnológico é um tanto
embaraçoso o grande retrocesso humano surgido no século do fascismo e do
nazismo. O século XX experimentou o colapso dos valores humanistas e
progressistas, do ponto de vista de uma evolução da sociedade ocidental, que mudou
toda uma era.

A crise desponta-se ao final do século XIX, a corrida imperialista das grandes


potências e sua paz armada engendra o barril de pólvora que irá detonar nas
primeiras décadas do século XX. Não obstante não podemos dissociar o imperialismo
e a rivalidade das potências do capitalismo. O capital financeiro dita as regras das
invasões e partilhas da Ásia e África, tanto quanto impulsiona o conflito bélico entre
as nações imperialistas. A faísca que detona o edifício é a primeira grande guerra.
Uma guerra da nacionalismos irracionais utilizados como fator de mobilização e isso
irá acirrar o ódio, vários conflitos étnicos por exemplo, e intensificar a barbárie. O
progresso tecnológico imaginado era realmente estarrecedor, só que ele não trouxe
uma era de paz e prosperidade esperada. Foi ao contrário utilizado para requintar
com crueldade a barbárie.
Temos após isso o que Eric Hobsbaw chamará de “Queda do Liberalismo” o colapso
do sistema capitalista que acompanha essa crise civilizatória do século passado. Daí
nasce uma ideologia que nega a fé no sistema estritamente liberal e democrático,
sendo também refratário a alternativa socialista. O fascismo surge como uma
resposta radical ao colapso civilizatório. O fascismo é um produto de toda
irracionalidade, preconceito e ódios, o que não é algo novo, sendo tudo isso aliado
aos avanços tecnológicos e políticos da modernidade. O nazismo possuí uma origem
semelhante, pois as teorias racistas no qual se fundou, e o que diferem do fascismo
notadamente italiano, não datam da década 20, época do surgimento do partido.

Dito isso, se conclui que o fascismo não é um acidente histórico, ele é um fenômeno
surgido de uma profunda crise social, política e econômica. Crise essa que é gerada
justamente pelas consequências de um próprio sistema capitalista selvagem e
desmedido. As crises que adornaram o berço do fascismo estão diretamente
associadas ao sistema econômico capitalista e suas implicações sobre a política e
sociedade. Cabe ao historiador perceber as modificações históricas que implicaram
e implicam no surgimento da ideologia fascista. E o século XX demonstra a ilusão de
especular estimativas de progresso ao analisar a história das sociedades.
Bibliografia:
• HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX (1914 – 1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
• Löwy, Michel. O Anjo da História de Walter Benjamin, Estudos Avançados,
vol.16 no.45, São Paulo May/Aug. 2002

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