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Marta Leal

AMOR DE PERDIÇÃO

Novela passional – amor cego e obstinado, (longe do amor idealizado) que precisa de obstáculos
como incentivo (porque depois de realizado conduz ao aborrecimento) A mulher é vítima do sedutor ou
é a mulher fatal que só traz consigo a desgraça. O homem é galanteador, sedutor, egoísta, mas não é
mau.

NOTAS:
• Camilo Castelo Branco conquistou fama com a novela passional Amor de Perdição.
• Bem ao gosto romântico, a característica principal da novela passional é o seu pendor trágico.
• As personagens estão sempre em luta contra terríveis obstáculos para alcançar a felicidade no
amor.
• Normalmente, essa busca é frustrante. Mesmo quando os amantes ficam juntos, isso é
conseguido à custa de muito sofrimento.
• Os direitos do coração, frequentemente, vão de encontro aos valores sociais e morais.
• Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava preso na
cadeia da Relação, no Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério.
• Como o drama de Romeu e Julieta, a obra focaliza dois apaixonados que têm como obstáculo
para a realização amorosa a rivalidade entre as famílias.

Resumo Geral:
A ação passa-se em Portugal, no século XIX. O narrador diz contar factos ocorridos com seu tio Simão.
Residentes em Viseu, duas famílias nobres, os Albuquerques e os Botelhos, odeiam-se por causa de um
litígio em que o corregedor Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses dos
primeiros. Simão é um dos cinco filhos do corregedor.

Devido ao seu temperamento explosivo, Simão envolve-se em confusões. Seu pai manda -o estudar para
Coimbra, mas ele envolve-se em novas confusões e é preso. Liberto, volta para Viseu e apaixona-se por
Teresa Albuquerque, sua vizinha.

A partir daí, opera-se uma rápida transformação no rapaz. Simão regenera-se, torna-se estudioso, passa
a ter como valor maior o amor, e todos os seus princípios são dele decorrentes. Os pais descobrem o
namoro.

O corregedor manda o filho para Coimbra. Para Teresa restam duas opções: casar-se com o primo
Baltasar ou ir para o convento. Proibidos de se encontrar, os jovens trocam correspondência, ajudados
por uma mendiga e por Mariana, filha do ferreiro João da Cruz. Mariana encarna o amor romântico
abnegado.

Mariana apaixona-se por Simão, embora saiba que esse amor jamais poderá ser correspondido, seja
pelo facto de Teresa dominar o coração do rapaz, seja pela diferença social: ela era de condição
humilde, filha de um ferreiro. Mesmo assim, ama a tal ponto de encontrar felicidade na felicidade do
amado.

Depois de ameaças e atentados, Teresa rejeita o casamento. Por isso será enviada para o convento de
Monchique, no Porto.
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Simão resolve raptá-la, acaba por matar o seu rival e entrega-se à polícia. João da Cruz oferece-se para
ajudá-lo a fugir, mas ele não aceita, pois é o típico herói romântico.

Matou por amor à Teresa, portanto assume seu ato e faz questão de pagar. Enquanto Simão vai para a
cadeia, sua amada vai para o convento. Mariana, por sua vez, procura estar sempre ao lado de Simão,
ajudando-o em todas as ocasiões. Condenado à forca, a sentença é comutada e Simão é degredado para
a Índia.

Quando ele parte, Teresa, moribunda, pede que a coloquem no mirante do convento, para ver o navio
que levará seu amado para longe. Após acenar dizendo adeus, morre. Seu amor exagerado leva-a à
perdição.

Durante a viagem, Mariana, que acompanha Simão, mostra-lhe a última carta de Teresa. Ele fica
sabendo da sua morte, tem uma febre inexplicável e morre. Seu amor exagerado leva-o à perdição. Na
manhã seguinte, seu corpo é lançado ao mar. Mariana não suporta a perda e atira-se ao mar,
suicidando-se abraçada ao cadáver de Simão. Seu amor exagerado leva-a à perdição.

Resumos dos capítulos estudados

INTRODUÇÃO

Aspetos fundamentais:

• Apresentação do início do processo criativo;

o Ida do autor, Camilo Castelo Branco, para a cadeia onde se encontrou também seu tio
Simão Botelho, e o encontrar dos registos da prisão deste.

• Apresentação das fontes;

• Apresentação do herói: Simão Botelho – vitimização do herói;

o Filiação
o Exploração sobre a inocência e a força dos dezoito anos
▪ Como poderiam as pessoas terminar o futuro de um rapaz de 18 anos prendendo-o?

o “Amou, perdeu-se e morreu amando” - apresentação da estrutura da obra

• Interpelação à “sua leitora”

o A sua leitora era uma mulher sensível e piedosa. Camilo descreve esta mulher como
alguém que iria chorar “se lhe dissessem que o pobre moço perdera a honra,
reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por amor da primeira mulher que o
despertou de inocentes desejos”.

o Camilo considera que se Simão tivesse sido julgado por uma mulher elas teriam sido
muito compreensivas.
• A forma como esta história inspira no narrador “amargura, respeito” e “ódio”.
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• A forma como o narrador se assume em simultâneo, participante e não participante desta


história.

o Pronomes pessoais que revela uma sensação de proximidade entre a história de Camilo
(que também sofreu por amor, havia sido preso por se relacionar com uma mulher
casada) e de Simão.

CAPÍTULO I

Aspetos fundamentais:

• Apresentação dos pais de Simão Botelho;

o Domingos Botelho Mesquita e Meneses;

▪ Fidalgo de linhagem de Trás-os-Montes;


Em suma:
▪ Juiz de fora de Cascais;
▪ Casado com D. Rita Teresa Castelo Branco; Domingos Botelho não era muito
dotado, nem rico, nem bonito, mas
▪ Bacharel provinciano;
pelo humor contruiu uma boa
▪ Provinciano; relação com a rainha, que o
▪ Enamorado, malsucedido; beneficia dando-lhe uma pensão.
▪ Extremamente feio;
▪ Sem dotes físicos;
A grande razão por trás da
▪ em fortuna;
aproximação de Domingos Botelho
▪ Sem grandes dotes de espírito; era a consequente aproximação à
▪ Alcunha de Brocas; sua amada, D. Rita Teresa Castelo
▪ Excelente flautista; Branco, dama da corte, que apesar
▪ Chegado à rainha D. Maria I; de não pertencer à nobreza, por ser
▪ Frequentava o paço e recebia uma pensão próxima desta é considerada
nobreza.
da rainha.

o D. Rita Teresa Castelo Branco;

▪ Dama da corte;
▪ O casamento não lhe traz felicidade;
▪ Vive com saudade do paço;
▪ Teve cinco filhos: Manuel, Simão, Maria; Ana; Rita.

• Domingos e Rita vão para Trás-os-Montes, seguindo a vontade de Domingos (1874);

• Provincialismo evidente e desajuste de D.Rita;

o Descrição da chegada
o Descrição da casa
o Descrição da relação de D. Rita com as gentes e com o marido.

Nota: De Vila Real passaram para Lamego e depois Viseu onde se vão estabelecer durante um longo
período de tempo;
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• Apresentação de Simão

o Tinha um “génio sanguinário” – ou seja estava sempre envolvido em lutas, violência;


o Não dava valor à linhagem;
o O seu pai gostava que este vivesse dentro das regras.

CAPÍTULO IV

• Tadeu impõe o casamento de Baltasar e Teresa;

• Teresa recusa casar com Baltasar e é ameaçada de clausura;

• Inicialmente, Teresa não informou Simão, nas suas cartas, do sucedido, pois tinha medo do que
poderia acontecer, ela conhece bem Simão e sabe que este poderia perder o controlo se
soubesse;

• Simão vai a Viseu para se encontrar com Teresa;

• Baltasar sugere que Tadeu espere pela vinda de Simão a Viseu.

• O narrador mostra a sua adesão à personagem de Teresa. Esta foge ao convencionalismo da


personagem feminina romântica.
“A mulher do romance quase nunca é trivial, e esta de que falam os meus apontamentos era
distintíssima.”

• Teresa está consciente do seu compromisso amoroso e da sua dignidade, mas vai reger-se por
princípios diferentes daqueles que lhe impõe a educação tradicional burguesa.

• Tadeu assume uma postura de tirano, simbolizando a sociedade repressiva.

• Realce para a oposição entre a atitude de relativa serenidade de Teresa e a violência e a


determinação obstinada do pai.

• Teresa mostra-se forte moralmente, nada parece abalar a sua resistência. Tal como Simão, na
impossibilidade de consumar o seu amor, deixa que o amor a consuma. “Teresa ergueu-se sem
lágrimas e entrou serenamente no seu quarto.”

• Baltasar é o rival que convém a Simão, em termos novelísticos, pois realça o prestígio de Simão:
presumido, cínico, arrogante, vaidoso, sem brios – anti-herói.

• Baltasar opõe-se à ideia de clausura com o objetivo de criar uma emboscada a Simão.

• Depois de receber a carta de Teresa, Simão revela-se impulsivo (o que Teresa tinha já previsto),
animado por sentimentos contraditórios. Conflito interior explorado pelo narrador através de
focalização interna e exploração do espaço psicológico de Simão.

• Simão está ainda preocupado com o facto de poder ter sido difamado. Mais uma vez a honra
toma poder de Simão.
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• O arrieiro é mais uma personagem funcional. Fará a ligação com o ferrador João da Cruz, com
quem Simão contará numa ida escondida a Viseu.

• O capítulo termina com a antecipação do encontro. Simão está à espera.

CAPÍTULO X

• Teresa é transferida para Monchique;

• Acrescenta-se ainda um cómico de situação que acentua a crítica ao clero;

o Vemos que os membros do clero que frequentava aquele convento não vivia sob as
regras do clero, não respeitava o seu voto, eles levam uma vida leviana, profana. Por
exemplo, o padre capelão fala com Mariana com desejo e de manda-lhe piropos, a
freira ao ver tal atrocidade em vez de defender Mariana, fica com ciúmes desta. O que
evidencia que aquela freira e aquele padre capelão mantinham relações mais íntimas
entre eles.

• Mariana visita Teresa e leva-lhe uma carta: este encontro põe em evidência a mulher
apaixonada que é Mariana, mas também o seu sentido de abnegação. “Se eu fosse como ela”
“Não lhe bastava ser fidalga e rica: e além de tudo, linda como nunca vi outra! E o coração da
pobre moça, (…) chorava.” Caracterização de Mariana - nobreza de caráter;

• Caracterização de João da Cruz- um homem humilde que adora Simão e que o aconselha
sempre, é também o mais responsável, mais coerente.

• Simão vai ao convento; Deseja ir sozinho assumindo os perigos e as consequências dos seus
atos; afirma-se como herói romântico; “Lutar sozinho”; “fazer o que a honra e o coração me
aconselharem”

• Confusão de Simão/ desorientação;

• A escrita desta carta é dominada pelo romantismo (pág 188):

o Efusão lírica introspetiva;

o Adiamento do encontro para o plano metafísico – depois da morte (ou seja estes
amantes adiam o seu primeiro encontro para depois da morte).

o Metáforas associadas à paixão excessiva;

o Dominado pela ideia de morte: frio, sepultura, sangue, ossos, agonia, rancor, inferno,
esposo do céu, outro mundo, trevas, abismo.

• Simão morre porque se recusa a compactuar com a ordem estabelecida e a renegar-se a si


mesmo.

• A morte – é o meio e o fim absoluto que persegue Simão e que irá contagiar todos os que o
rodeiam;
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• Mariana continua a desempenhar a sua função de coro, anunciando a desgraça: “evidência


antecipada do vaticínio”;

• Simão intercepta Teresa; o narrador escolhe apenas os elementos fundamentais para descrever
a situação. Faz uma descrição seletiva dos factos, sem se arrastar em pormenores. Ritmo
rápido.

• Simão quer ver Teresa e por isso vai ao convento e fica à espera de frente a este, enquanto
esperava pensava em Teresa, Mariana, Tadeu e Baltasar, para além disso o tempo que passa
apenas aumenta a sua sede de vingança. (expressões que mostram a passagem do tempo “Era
uma hora” – “ Às quatro e um quarto”)

• Oposição entre a natureza e o estado emocional das personagens:

o Natureza inspirada por Deus – calma;


o Estado de alma – agitação e desespero;

• Baltasar defende a educação baseada na submissão e na obediência, mostra-se frio face à


tristeza de Tadeu, este culpa Tadeu por ter sido demasiado compreensivo com ela, Tadeu diz
que foi suave pois esta era a sua única filha;

• Teresa assume o seu destino, preferindo ser considerada má filha, mas não mentirosa;

• Simão mata Baltasar (“perdeu-se”) e não oferece resistência – rende-se/assume a sua perdição;
o O facto de assumir a responsabilidade é também uma característica do herói
romântico, para além disso apesar de João da Cruz ter dito que se iria dar como
culpado Simão não aceitou;

o Uma das grandes razões para este não ter aceitado é porque este queria ser punido,
diz que o sofrimento é o melhor caminho.

• Mais uma vez são postas a descoberto algumas falhas do sistema judicial isto porque quando
Simão se dá como culpado meirinho geral diz para este fugir por ser filho do corregedor.

• Este é o capítulo mais dramático e marca o meio da narrativa. (perdeu-se)

• A partir daqui os dois apaixonados afastam-se definitivamente e o ritmo narrativo torna-se


mais lento.

• A coragem e a nobreza moral vão ser os principais traços de Simão que o definirão como ser de
exceção – conquista o leitor mesmo sendo um assassino.

• Simão e Teresa afastam-se no espaço físico. Os espaços amplos vão ser substituídos pelas
respetivas celas.

CAPÍTULO XIX

• Súplica vã de Teresa para que Simão não aceite o degredo e cumpra o mesmo período na
cadeia (10 anos)
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• Simão recebe a intimação para partir para o degredo.

• O narrador reflete sobre a importância e valor da verdade; desgraça e amor: reflexão romântica
que termina na valorização do “leitor inteligente”;

• Afirma que traz “factos e não teses” – querendo passar, neste momento, a imagem de um
narrador imparcial que na verdade não é;

• Alteração do perfil de Simão:

o “ânsia de viver era a sua; não era já ânsia de amar.”

o Esta frase demonstra que a diferença entre os dois personagens se acentuou, pois
Simão não era capaz de morrer por amor, enquanto que Teresa era, a frase acima
nunca poderia sair da boca de

• Teresa sabe que está a exigir demais de Simão. Sabe que o perderá.

• É mais evidente a doença e o estado débil de Teresa. Mesmo que Simão escolhesse ficar, o
narrador mostra como ela não poderia suportar ou vencer esses dez anos;

• Ao longo de toda a obra as cartas tiveram a função de:

o Construir uma pausa narrativa;


o Assegurar a comunicação entre os dois protagonistas;
o Comunicar decisões;
o Pôr o outro ao corrente e levá-lo a tomar decisões.
o Exprimir sentimentos.

• Teresa incapaz de resistir assume a sua morte e a desistência perante o amor, perante a vida e
chega a desejar que ele viva para a chorar.

• Estas despedidas terminam a intensa história de amor;

• Teresa quer que Simão viva, mas em sofrimento;

• Mariana quer que Simão viva feliz, mesmo que não faça parte dessa felicidade;

• Simão está dominado, consumido pelo sofrimento. Deseja, enlouquecido, que saibam, pelo
menos da morte um do outro.

Notas:
1. O facto de este não ter aceitado “os dez anos de ferros em que lhe quiseram minorar a
pena”, mostra que este era extremamente egocêntrico, ou seja que só se interessa pelo
que ele pensa e não o que os outros aconselham, pois seria contra a honra dele;

2. O narrador assume-se como uma personagem, apesar de não participar na história?


Ao assumir-se com discurso na 1ª pessoas, ao interpelar o leitor e ao dirigir-se a Simão
como um interlocutor dá-se a intrusão na história “como se de uma personagem se
tratasse” é caracterizado, assim, como um narrador interno.
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CONCLUSÃO

• Simão já vai no degredo lê a carta que Teresa escreveu;

• Começa pela última carta: É uma carta de despedida; é como se ela falasse do sepulcro: “É já o
meu espírito que te fala (…)” – Teresa sabia que assim que visse Simão a ir-se em bora
morreria.

• Teresa culpa Simão de lhe roubar a esperança, mas não lhe quer acrescentar remorsos;

• Teresa condena Simão à morte e à dor, numa efusão lírica;

• “Tu nunca hás de amar, não, meu esposo?”

• “Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão!”

o Visão metafísica do amor;

o Antevisão do final de Simão;

• Simão, quando descobre que a Teresa morreu, morre de amor, de febre maligna; Mariana já
não consegue chorar continua tranquila;

• A morte de Simão era já prevista por Teresa na sua carta “Tu morrerás de saudade, se o clima
do desterro não matar ainda antes de sucumbires à dor do espírito”

• Há três anos, Simão, e já entendia os teus anelos de glória, e imaginava-os como obra minha, se
me tu dizias, como disseste muitas vezes, que não serias nada sem o estímulo do meu amor” –
Há três anos ainda eram crianças e sabiam que não seriam nada sem o seu amor;

• A nau parte e o narrador marca o avançar do tempo de forma lenta para fazer aumentar a
expectativa do leitor e o sofrimento do Simão – exploração do tempo psicológico.

• Simão entra em delírio e diz a Mariana que ela se juntará a Simão e Teresa e que serão “irmãos
no céu”;

• Simão tem uma morte rápida tal como Teresa. Apesar da rapidez há elementos que anunciam a
morte:
o apagar a luz – símbolo e vida;
o escuridão – sem sensações visuais táteis e auditivas

• Mariana atira-se ao mar, esta personagem aceita que nuca será amada pelo seu amado, mas
assim morre com ele.

• O suicídio de Mariana é a concretização do amor de Mariana ocorre quando se atira ao mar,


abraça-o e por fim o beija (ele estava já morto);

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