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SUL - UNIJUI
CURSO DE PSICOLOGIA
SANTA ROSA
2016
PEDRO HENRIQUE PEREIRA VIEIRA DA ROSA
SANTA ROSA
2016
PEDRO HENRIQUE PEREIRA VIEIRA DA ROSA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profª. Dr. Marcele Teixeira Homrich Ravasio
________________________________________
Profº. Dr. Gustavo Héctor Brun
Jacques Lacan
A PSICOSE E SUA CONSTITUIÇÃO ESTRUTURAL
RESUMO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................8
1 DIAGNÓSTICO ESTRUTURAL ............................................................................. 11
1.1 DIAGNÓSTICO FENOMENOLÓGICO ............................................................... 11
1.2 DIAGNÓSTICO ESTRUTURAL .......................................................................... 14
2 A ESTRUTURA DO SUJEITO PSÍQUICO............................................................. 20
2.1 O ACOLHIMENTO MATERNO E A ALIENAÇÃO AO DESEJO DO OUTRO...... 20
2.2 TRÍADE EDIPIANA: A NOMEAÇÃO DA FIGURA PATERNA ............................. 26
3 A ESTRUTURA PSICÓTICA ................................................................................. 34
3.1 FORACLUSÃO.................................................................................................... 36
3.2 A SUSTENTAÇÃO DO SUJEITO PSICÓTICO - A METÁFORA DELIRANTE.... 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50
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INTRODUÇÃO
1 DIAGNÓSTICO ESTRUTURAL
Tendo então este trecho de Jöel Dor como referência de um ponto de partida
no esclarecimento de um diagnóstico estrutural baseado na fala e no discurso
proposto pelo paciente, é imprescindível alentar de antemão, que, de acordo com
Freud (2006) é de suma importância o esclarecimento da noção de que o
diagnóstico estrutural na clínica da escuta se faz junto ao caminhar e ao
desenvolvimento do tratamento. O diagnóstico estrutural, se confirma à medida em
que o terapeuta avança em seus encontros com o paciente, o que, para Freud e
suas orientações quanto aos métodos psicanalíticos, se apresenta de maneira
paradoxal, uma vez que o mover do tarapeuta em direção da cura se dá através do
estudo da estrutura, este sucesso se fará decorrente da confirmação que só virá
após algum tempo de tratamento e de conhecimento de caso.
A ação da clinica psicanalítica sobre tudo, não deve ancorar-se apenas na
identificação do diagnóstico da estrutura do sujeito, como seu grande e principal
objetivo, uma vez que a interpretação de um psicólogo analista deva ser ímpar
quanto ao levantamento diagnóstico. Se assim não for, as alusões aos procederes
médicos em seus derivados campos de atuação determinariam, da mesma forma, a
clínica analítica. O diagnóstico estrutural não assume, pragmaticamente, uma
posição de conclusão, vedando o manejo do tratamento ou enquadrando o sujeito
dentro de um perfil estrutural sem qualquer possibilidade de novo posicionamento
diagnóstico, pelo contrário, o proceder na clínica da escuta, se faz de maneira a
estar sempre aberto às novas significações trazidas pelo sujeito.
Segundo o autor Joël Dor, entender este padrão concerne um pilar fundamental no
entendimento da psicanálise estrutural como um todo.
É inerente, portanto, à prática clínica procurar, ainda que sem o mesmo cunho
investigativo da conduta da medicina fenomenológica, a relação causal dos sintomas
especificamente percebidos com a identificação de um diagnóstico que faça luz a
origem e à organização destes sintomas.
O sintoma, de acordo com Freud (2006), é posto como uma evidencia do eu,
é uma ação pré-determinada ligada ao processo primário, que parte, portanto do
inconsciente. É através do sintoma que o sujeito se faz ser, se revela ao outro e
transborda-se de si mesmo. É a vazão dos significantes mais primitivos do eu,
aludindo ao inconsciente que, puramente pulsional, exterioriza-se para fora do
corpo. Um sintoma, de qual natureza fenomenológica for, seja de inscrição positiva
no corpo, na fala, no sonho ou no chiste, carrega consigo uma infinitude de
significantes condensados e ressignificados. Para Freud, o sintoma revela o sujeito e
faz retornar à este, as vicissitudes de um inconsciente movido pelo princípio do
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Jerusalinwski (2002), o sujeito, neste primeiro momento de sua existência, ainda não
é, de fato, sujeito, mas sim um corpo orgânico vazio de forças psíquicas e
mnêmicas. Aqui a criança encontra-se como um agente biológico carente de um
acolhimento real, onde suas necessidades suprir-se-ão através de uma ação de
outrem que lhe sustente de suas carências fisiológicas.
Esta demanda da criança para com este segundo agente de ação, revela o
início do processo de constituição daquilo que virá a ser o eu, determinado pelas
forças das relações deste sujeito com o Outro e suas consequências. A mãe
inicialmente atribui, portanto, a sua demanda e seu investimento libidinal ao bebê,
acolhendo-o, segundo a sua própria demanda de significação.
Neste movimento, ela supõe sujeito bebê, supõe nele um desejo que não
necessariamente coincidiria com o dela. A mão sustenta uma suposição de
sujeito desde muito cedo, ainda que as reações do recém-nascido são
reflexas, carecendo de qualquer intencionalidade, ela está a super um desejo
no bebê. (JERUSALINSKI, 2002, p.137)
O objeto da pulsão é aquilo que ou pelo qual a pulsão pode alcançar sua
meta, a satisfação. O objeto é o mais variável na pulsão: não esta enlaçado
originalmente a ela, senão que é a ela coordenado somente como uma
consequência de sua aptidão para possibilitar a satisfação (FREUD, 2006, p.
118)
A pulsão parte do corpo e a ele retorna, mas não sem ter uma representação
psíquica que a represente, bem como, um objeto que possibilite esta busca por
satisfação. E é no movimento de busca por satisfação que caracteriza-se a sua
perpétua insatisfação, ou seja, é a noção e a marca da falta e ausência que
constituem a noção de pulsão. Satisfazer-se, baixar a tensão e marcar-se pela falta
compõem o circuito pulsional, que far-se-á de acordo com a relação do Outro ao
suprir esta demanda pulsional do bebê, marcando-o mnímica e erogenamente.
É, portanto, a relação com o Outro, bem como sua demanda e seu desejo
significante que ditará o modelo de alienação do bebê para com este, ou seja, o
acolhimento materno e a relação inicial entre a mãe e o bebê marcam as primeiras
noções de satisfação, falta, desejo e vínculo, atribuídas todas, psiquicamente, aos
traços mnêmicos oriundos desta relação. O sujeito, em sua jornada para tornar-se
tal, requer ser demandado, acolhido e posto às mãos do desejo do Outro, que
inaugura seu corpo e seu desejo por satisfação, guiado pela falta que este mesmo
Outro lhe proporciona.
(...) esta relação fusional é suscitada pela posição particular que a criança
mantém junto a mãe, buscando identificar-se com o que supõe ser o objeto
de seu desejo. Esta identificação, pela qual o desejo da criança se faz desejo
do desejo da mãe, é amplamente facilitada, e até induzida pela relação de
imediação da criança com a mãe, a começar pelos primeiros cuidados e a
satisfação das necessidades. Em outras palavras, a proximidade dessas
trocas coloca a criança em situação de se fazer objeto do que é suposto faltar
à mãe. Este objeto suscetível de preencher a falta do outro é, exatamente, o
falo. A criança depara-se, assim, com a problemática fálica em sua relação
com a mãe, ao querer constituir-se ela mesma como falo materno. (DÖR,
1989, p. 81)
Ser o falo é estar, segundo ao autor, a mercê do gozo do Outro, é pôr-se tal
qual aquilo que falta a mãe, encarnado a preenchê-la em sua demanda desejante.
Dor (1991) afirma, com ressalva, que a interação dinâmica do desejo da mãe e a
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criança não é, entretanto coerente senão face à falta. A mãe pressentida como
faltante sempre pode imaginariamente ser preenchida pelo objeto de desejo que lhe
falta, ora, justo que, imaginariamente, também pode a criança identificar-se com
tanto ou até mais facilidade ao objeto que falta ao Outro. O autor ainda nos
apresenta em sua leitura as obras lacanianas, a eminência de não assimilar esta
relação dualística à simbiose funcional entre ambas as partes, uma vez que a
alienação do primeiro tempo, mesmo que componente angular dos processos
constituintes da estrutura, ainda é uma posição de assujeitamento e enlaçamento
prisional frente ao desejo do Outro.
Posto que, mesmo este Outro atuando como uma matriz linguística
fundamental na instauração da erotização do corpo imaginário da criança -
fundamental para a constituição psíquica do sujeito advir - é aqui acentuada a
ressalva da importância de um fator de cisão nesta dualidade fusional. Um agente
deve ser nomeado que desloque este sujeito a uma posição de dono do próprio
desejo, sendo, portanto, fálico e não mais o falo.
(...) O pai a que nos referimos permanece, sob certos aspectos, excluído da
acepção comum que dele fazemos, de saída e cotidianamente, enquanto
agenda da paternidade comum. Também não se trata de buscar apreender
sua incidência na perspectiva de uma evolução histórica que permaneceria,
ela também, estranha ao contexto no qual esta noção é operatória em
psicanálise. Contra toda expectativa, até mesmo contra toda ideia recebida, a
noção de pai intervém no campo conceitual da psicanálise como um operador
simbólico a-histórico. (DÖR, 1991, p. 13)
O mesmo autor ainda traz outra referência que serve de base para o
entendimento inicial do que decorreremos acerca da função paterna na constituição
do sujeito e do modo de ação ao qual esta mesma opera no sujeito:
Se a criança não é tudo para a mãe – como prova se interesse pelo pai – não
poderia, consequentemente, ser o objeto que preenche a sua falta. Assim, a
mãe revela-se tanto mais desprovida do falo no espaço imaginário da relação
de indistinção fusional, porque o pai se mostra como um polo de atração que
mobiliza seu desejo. Essas duas ocorrências significantes bastam, por um
tempo, para sustentar a encarnação do pai imaginário, falo rival da criança
junto ao Outro. Somente esta figura do pai pode vetorizar uma série de
deslocamentos decisivos na lógica desejante da criança, doravante presa à
questão, “ser ou não ser” o falo. (DÖR, 1989, p. 13)
Tanto em seu modo de ser quanto no discurso que adota com ela, é
importante que a mãe se dedique a fazer a criança entender o papel
desempenhado pela mãe acerca de seu próprio desejo. O que esta em jogo é
uma prescrição simbólica que consiste em lhe garantir, sem equívoco ou
ambiguidade, que é dele, seu homem, que ela espera obter o objeto que lhe
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(...) Por mais desconfortável que seja, esta descoberta só pode mobilizar a
criança para pressentir o Pai real ao uma luz cada vez mais imaginária, é,
pois essencialmente na qualidade de Pai imaginário que a criança vai
perceber daí por diante este intruso que detêm o direito, que priva, interdita e
frustra: ou seja, a três formas de investimento que contribuem para mediatizar
a relação fusional da criança com a mãe. (DÖR, 1991, p. 48)
Por ser suposto opor a mãe a possibilidade de ser satisfeita pelo único objeto
de desejo que é seu filho, o pai sobrevêm, inevitavelmente, como um intruso
privador no investimento psíquico da criança. Além disso, impedindo-a de tê-
la toda para si, o pai, descoberto como um que tem direito a mãe, manifesta-
se então à criança como interditor. A privação punida ao interdito só pode,
enfim, suscitar na criança a representação de um pai frustrador que lhe
impõem ser confrontado com a falta imaginária desse objeto real que é a mãe
e da qual ela necessita. (DOR, 1991, pg. 48)
Não seria necessária outra prova mais convincente do que lembrar que a
edificação do Pai simbólico a partir do Pai real constitui a próprio dinâmica
que regula o curso da dialética edipiana e, com ela, todas as consequências
psíquicas que dela dependem. (DÖR, 1991, p. 43)
O pai não é um objeto real, então o que é ele? (...) O pai é uma metáfora.
Uma metáfora? O que é isso?... É um significante que vem no lugar de outro
significante. (...) O pai é um significante que substitui outro significante. E é
este o motor, e o único motor essencial do pai enquanto interventor no
complexo de Edípo. (LACAN, 1988, p.359)
3 A ESTRUTURA PSICÓTICA
(...) A aposta neurótica é que haja “ao menos um” que saiba lidar com a
Demanda do Outro, então o saber vai ter um sujeito suposto, e a
problemática de defesa vai ser se jogar na relação (dívida, geralmente) de
cada sujeito com o “ao menos um” que sabe. É nesta relação que o sujeito se
constitui e obtém uma significação. (CALLIGARIS, 2013, pg. 18)
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3.1 FORACLUSÃO
Uma vez que não haja a ação fundamental do corte fusional, a alienação
frente ao desejo materno, eminente à falha simbólica, organiza um modelo de
construção subjetiva singular, onde toda a construção e organização dos registros
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psíquicos funda-se tal qual a esta ausência do significante central, posto que, deste
modo, a relação com o Outro é de total dependência, vetorizando as construções
simbólicas a um saber universalmente próprio do sujeito, que configura-se cativo às
demandas imaginárias do desejo do Outro. O constituir-se do psicótico, ausente do
referencial paterno, se dá através desta falha, desta negativa funcional que não
desloca-o para a posição de faltante, falicamente desejante.
Lacan definiu a foraclusão como uma falha, uma ausência no nível do Outro:
a ausência de um significante, o Nome-do-Pai, e de seu efeito metafórico.
Esse acidente, diz ele, confere a psicose “sua condição essencial como
estrutura que separa a neurose”. (...) É a hipótese pela qual Lacan designa a
causalidade significante da psicose. Esse ponto tem importância no que
tange à questão do diagnóstico. Se a foraclusão não faz parte do fenômeno,
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(...) Na neurose, existe algo universal, esta amarragem fixa que chamamos
de função paterna, sendo do ponto de vista da significação que esta
amarragem central distribui o universo fálico. Na psicose não há isto. Um
universal positivo próprio da psicose é extremamente problemático, porque,
se não existe uma amarragem central para todos, seguramente nem
podemos imaginar que exista uma significação que seja a mesma para todo o
sujeito psicótico. Quando falamos que o psicótico tem que ter uma
significação, apesar de parecer circular numa metonímia e não ter uma
amarragem metafótica do mesmo tipo que o neurótico, o certo é que não
existirá uma significação que seja a mesma – por exemplo, a fálica – para
todos os psicóticos. Nem outra que não a fálica porque se houvesse uma
significação que fosse a mesma para todo sujeito psicótico, não haveria
psicóticos, pois seriam neuróticos. Se houvesse uma significação para todos,
isto implicaria uma amarragem que, por ser comum, seria central.
(CALLIGARIS, 2013, pg. 38)
O pai deve ser posto a ação de pai, no que tange a função simbólica já
referenciada, tal qual se faz presente este agente no discurso materno, quer dizer,
segundo Dor (1989), é através da nomeação discursiva da mãe, imaginariamente
orientada a criança como o Outro, que se dará, ou não, a presença do terceiro
elemento na relação fusional. O pai deve ser devidamente nomeado pelo
ordenamento das referencias do Outro para a criança, possibilitando assim, o
advento desta função paterna, que irá constituir o sujeito enquanto sujeito de fato. A
foraclusão passa, a priori, pela falha, então, no próprio discurso materno, que, ao
enunciar-se como mãe psicotizante, prende a criança ao seu desejo, e não
possibilitando a primordial ação instauradora da subjetividade simbólica.
Posto que, pensar o discurso do sujeito psicótico e todo o seu modo de
posicionar-se frente a um saber não suposto, mas sim totalitário, requer, dos modos
de investimento da libido, uma conduta unicamente vetada à falta que compete à
formação simbólica das ordens normativas de relação com o Outro. Ou seja, a
injunção da foraclusão, posiciona este sujeito a um saber que é dele próprio, um
saber que não passa pela significação central do pai, dono de um suposto saber. O
saber do foracluído é sustentado pelas próprias significações do sujeito,
descentralizadas e universais quanto aos seus valores, é um saber no todo, advindo
do próprio sujeito.
O sujeito psicótico (...) não dispõem desta referência. Ele erra num
saber metonímico, embora nessa errância tenha q se produzir algum
efeito metafórico, se é que o psicótico tem alguma significação. Mas,
de qualquer forma, quando um sujeito psicótico encontra a
necessidade ou, mais propriamente, um injunção a referir-se a uma
metáfora paterna que não esta simbolizada por ele, que então é uma
referência impossível, o que acontece é que um tal lugar organizador
volta para ele, mas não volta no Simbólico, porque nesse simbólico
não há essa função, então volta no Real. (...) Um delírio é isso: o
trabalho de constituir uma metáfora paterna, então, uma filiação e a
sua relativa significação, lidando com uma função paterna não
simbolizada, mas sim no Real. (CALLIGARIS, 2013, pg. 26)
mesmo que não lhe seria garantida por uma filiação simbólica.
(CALLIGARIS, 2013, pg. 27)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CORIAT, Elsa. Psicanálise e clínica com bebês. Rio de Janeiro. Editora Artes
Ofícios. 1995.
DOR, Joel. Estruturas e clínica psicanalítica. 1. ed. Rio de Janeiro. Taurus Timbre,
1991.
DOR, Joel. O Pai e sua função em Psicanálise. 23. ed. Rio de Janeiro. Jorge
Zahar Editor, 1991.