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O REMÉDIO É BRINCAR 

Quantas crianças de hoje, quando os pais lhes perguntam se querem brincar (em casa,
na rua) ou ir até um shopping center, optam pela segunda alternativa? A julgar pelo número
elevado de crianças em shoppings, principalmente nos fins de semana, inúmeras delas
preferem circular por um lugar inteiramente pautado pelos valores da sociedade de consumo
(todo fechado, com iluminação artificial) a se entregar a outro modo, menos previsível e mais
inventivo, de gastar (investir?) o tempo. Sem contar aquelas cujos pais nem mesmo cogitaram
a primeira opção...

Quem associa lazer e tempo livre ao verbo consumir talvez reveja algumas de suas
crenças e posturas ao ver o documentário brasileiro Tarja Branca: a revolução que faltava, que
faz uma defesa eloquente da brincadeira – lúdica, descompromissada, criativa – não apenas na
infância, mas também na vida adulta. Dezenas de entrevistados (entre eles os músicos Antonio
Nóbrega e Wandi Doratiotto, e os escritores Braulio Tavares, colunista de Carta Fundamental,
e Marcelino Freire) lembram, em seus depoimentos ao filme, o que a vida cotidiana perde ao
se esquecer do que todos sabíamos muito bem quando éramos crianças.

 Uma das perguntas-chave do documentário: saberão disso também as crianças de


hoje, boa parte delas vivendo em centros urbanos voltados para o trabalho e o consumo?
Dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Maria Farinha Filmes (a mesma de Criança, a Alma
do Negócio e Muito Além do Peso), Tarja Branca, cujo título refere-se a uma divertida
“medicina psicolúdica”, proposta em um dos depoimentos – sugere, ao apresentar visões
diversas sobre o tema, que a educação contemporânea se apropriou da brincadeira, sobretudo
na escola, como um “conteúdo programático”. Tirou-lhe, portanto, o que havia de mais
essencial, o improviso e a falta de regras, para cercá-la de planejamento e cuidados.

  Como resultado dessa política, teríamos uma geração de crianças, especialmente das
classes média e alta, que não foi devidamente apresentada ao universo brincante, ou à
“linguagem do espontâneo, da alma”, como resume um dos entrevistados. Pais e professores
tendem a extrair do filme reflexões sobre como se comportam em relação ao tema com seus fi
lhos e alunos, mas a provocação de Rhoden pode despertar interesse também entre o público
que não se encaixa em nenhum desses papéis, ao fazer um diagnóstico da sociedade de
consumo, intolerante, em sua lógica perversa, com a cultura do ócio ou com o “ficar sem fazer
nada”.  Sérgio Rizzo (Adaptado de: cartafundamental.com.br)

1- Um aspecto importante da atividade de brincar considerado pelo autor é: 


A) ocorrer em um parque 
B) obedecer a um programa 
C) prezar pela espontaneidade 
D) manter papéis de pai e professor 
E) submeter-se a regras pedagógicas

2- De acordo com o autor, o documentário mencionado pode contribuir para: 


A) desfazer associação entre consumo e lazer 
B) reforçar crenças pedagógicas contemporâneas 
C) desautorizar a visão dos artistas sobre o tema 
D) culpar os professores pela indisciplina fora da escola 
E) responsabilizar os pais por fi lhos excessivamente mimados
3- Na visão do autor, o filme “Tarja Branca” apresenta reflexões principalmente para: 
A) recreadores de festas infantis 
B) pais e professores 
C) pesquisadores interessados em regular as brincadeiras 
D) músicos saudosos de sua própria infância 
E) diretores de cinema vanguardistas

4- Na primeira frase do texto, o comentário entre parênteses sugere a seguinte crítica: 


A) os pais não levam em consideração a opinião de seus filhos 
B) as crianças pouco estudiosas não sabem responder a perguntas fáceis 
C) os shoppings não são locais adequados para as crianças brincarem 
D) as meninas se interessam mais facilmente por roupas e sapatos 
E) os meninos já não gostam mais tanto de futebol como gerações anteriores

5- Uma crítica à educação contemporânea feita pelo autor pode ser sintetizada pela seguinte
frase: 
A) Pedagogos são coniventes com a violência entre alunos. 
B) A escola planeja excessivamente o ato de brincar. 
C) As famílias prejudicam a imposição natural de regras. 
D) A medicalização das crianças é uma prática recorrente. 
E) As crianças de classe média têm menos limite em suas brincadeiras

Leia:
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(MELO, João Cabral de. In: Poesias Completas. Rio de Janeiro, José Olympio, 1979)

6- Nos versos“E se encorpando em tela, entre todos,


se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo…”
tem-se exemplo de

a) eufemismo
b) antítese
c) aliteração
d) silepse
e) sinestesia

7- Assinale a alternativa correta quanto à função sintática do termo destacado: A aldeia era
povoada “de indígenas”:

a) agente da passiva
b) complemento nominal
c) adjunto adverbial
d) objeto indireto
e) objeto direto

Aprenda a chamar a polícia

Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando
sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves
ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como
minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei
muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente.
Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram-me se o
ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que
não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que
fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: — Oi, eu liguei há
pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão
com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro
fez um estrago danado no cara! Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco
carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos
direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em
flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando
que aquela era a casa do Comandante da Polícia. No meio do tumulto, um tenente se
aproximou de mim e disse: — Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão. Eu respondi:
— Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível.

Luis Fernando Veríssimo


8- Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui

a) na organização da mensagem a partir de critérios estéticos que objetivam envolver os


leitores na narrativa.
b) no retrato das distintas condutas assumidas pelo referente em situações diversas.
c) no intento de se escrever uma crônica tendo como objeto referenciado a própria crônica.
d) no uso de interjeições que destacam, no texto, o ato comunicacional.
e) no registro de uma experiência pessoal, sob uma visão parcial dos fatos.

TVs espiãs vigiaram 11 milhões de famílias nos EUA


Aparelho de TV espião monitorou 11 milhões de famílias
   Há vários anos, as televisões da marca Vizio são as mais vendidas nos Estados Unidos.
E com razão: aliam excelente qualidade de imagem (vivem ganhando prêmios da imprensa
especializada) com preços incrivelmente baixos: compra-se uma Vizio gigantesca, de 65
polegadas e com resolução 4K, por apenas US$ 850 ─ metade do que custam as outras marcas.
    Mas havia um porém: secretamente, as Vizio monitoravam tudo o que as pessoas assistiam.
A televisão usava uma técnica chamada automated content recognition (ACR) para identificar
o que estava exibindo ─ ela comparava as sequências de pixels a uma base de dados mantida
pelo fabricante. Dessa forma, conseguia saber não apenas qual canal ou programa de tv estava
sendo visto, mas também rastreava outras fontes de conteúdo, como DVDs, Blu-ray e vídeos
da internet.
   Essas informações eram registradas num dossiê, que identificava detalhadamente os
hábitos de cada família, e oferecidas a anunciantes ─ que poderiam usá-las para exibir
propagandas direcionadas. Tudo na surdina, e sem o consentimento do usuário. Segundo o
governo dos EUA, 11 milhões de famílias foram monitoradas.
   Isso acontecia desde 2014, mas só veio à tona quando a fabricante de TVs foi vendida
para a chinesa Le Eco, no segundo semestre do ano passado, e um documento acabou
revelando a prática ─ a Vizio pretendia criar uma empresa à parte só para explorar os dados
coletados. Ela foi multada em US$ 2,2 milhões pelo governo americano, pediu desculpas a seus
consumidores e informou que o monitoramento pode ser desabilitado (deve-se acessar o
menu de configurações da TV e desligar o item Smart Interactivity).
Adaptado de (http://super.abril.com.br/blog/rebit/tvs-espias-vigiaram-11-milhoes-de-familias-
nos-eua/)

9- No trecho “metade do que custam as outras marcas”, a expressão sublinhada é:


a) sujeito
b) objeto direto
c) objeto indireto
d) predicativo do sujeito
e) adjunto adverbial

10- Sobre o último parágrafo, pode-se afirmar que:


a) “Isso” não é sujeito do verbo “acontecer”.
b) “à tona” é um objeto indireto.
c) “os dados coletados” é um objeto direto.
d) “desculpas” é sujeito do verbo “pedir”.
e) “que o monitoramento pode ser desabilitado” é complemento nominal.

GABARITO
1. C
2. A
3. B
4. C
5. B
6. C
7. A
8. E
9. A
10. C

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