Psicologia da Educação I Discente: Ana Clara Pereira de Marco Fernandes Data de entrega: 01/10/2021
Resenha Critica
A resenha critica será do texto BEATÓN, Guillermo Arias. A Psicologia
Educacional e o sistema de educação em Cuba. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), vol. 13, N. 1, Jan/Jun de 2009. Pag.155-164. O artigo “A Psicologia Educacional e o sistema de educação em Cuba”, foi publicado em 2009, por Guillermo Arias Beatón, um Psicólogo com doutorado em Ciências Pedagógicas pelo Instituto Central de Ciências Pedagógicas de Cuba (1987) e mestrado em psicodrama e processos grupais (2009), atualmente, Professor Titular da Faculdade de Psicologia da Universidad de Havana, foi professor adjunto do Instituto Pedagógico Enrique José Varona. O tema proposto por Beatón é fazer uma analise do papel da Psicologia Educacional no desenvolvimento e organização do Sistema Nacional de Educação em Cuba. Destacar a evolução do pensamento filosófico, psicológico e pedagógico e realizar um debate de como aplicar as teorias para melhoria do sistema educacional do povo cubano. O autor expressa orgulho de ser cubano, falando com inequívoco apreço da “nossa identidade como povo, nossa nacionalidade”, e mostra uma posição ideologicamente favorável ao projeto “social e revolucionário cubano”, ao menos no que tange à Educação, avaliando-o como importante para o “combate ao colonialismo cultural”. Considera-se parte desse movimento anticolonialista e emancipatório consistente em um “trabalho coletivo, interdisciplinar e comprometido social e culturalmente” para “o desenvolvimento e a organização do Sistema Educativo Nacional de Cuba”, e valoriza as “conquistas educacionais do nosso povo”. É com esse olhar, eminentemente positivo, que o autor avalia o papel, segundo ele próprio bastante significativo, que a Psicologia da Educação tem desempenhado há mais de quatro décadas na Educação cubana.
Para Beatón, a Educação deve se dar do ponto de vista cultural ou
nacional, mas enriquecida pelo conhecimento e pela cultura de outros povos e pensadores do mundo, o que é uma posição de abertura para o diálogo e para a interculturalidade, mas com primazia da identidade nacional, condizente com o pensamento que ele adota de que “tudo o que nos chega, antes de integrá-lo ao nosso conhecimento, deve ser considerado em suas vantagens e desvantagens”, mediante uma “crítica científica sistemática”. Mais que uma crítica propriamente científica, o grande critério de sua análise seria, portanto, o a compatibilidade para com a sua visão sobre a “consciência nacional” cubana, o que poderia melhor promover os ideais progressistas em que ele mesmo acredita. Justamente por isso, segundo o próprio autor diz em seu artigo, “não será difícil observar as semelhanças que existem entre este referencial teórico e o conteúdo do pensamento progressista cubano de todos os tempos”.
Beatón esclarece quais são os seus principais ideais progressistas: a
necessidade de uma educação para todos e que contribua para o processo de formação e desenvolvimento humano; que as pessoas podem e devem se apropriar dos conteúdos da educação, como condição de promover o seu desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento sustentado de um projeto social e cultural revolucionário; que o conhecimento é uma dinâmica entre o sensorial, o empírico e o racional; a necessidade de educar no amor e para o amor; a necessidade de ver o todo na sua dinâmica e indeterminação com as partes; a necessidade de utilizar vários métodos no processo de construção do conhecimento e no processo de educação; a necessidade tanto do papel ativo do educador como da escola; que o educador organize e direcione o seu trabalho para a criação ativa da escola e a redescoberta do conhecimento; a relação entre teoria e prática, vale dizer, a aplicação prática do teórico e o debate crítico sistemático de teorias, práticas e seus resultados; a luta contra o colonialismo cultural da Europa e dos Estados Unidos, e qualquer outro tipo de hegemonia, imposição e criação de ídolos; o desenvolvimento dos povos da região latino-americana; a necessidade de constante aprimoramento na elaboração, na participação, na efetivação e na avaliação das políticas públicas sobre Educação, para que seja cada vez mais inclusiva, integral e eficaz; e o trabalho de superação da mentalidade de colonizado e de promoção da consciência de independência e autonomia, de crítica e autocrítica, orientado pelo respeito mútuo, tolerância, compreensão, solidariedade e troca crítica de conhecimentos. Para Beatón, a psicologia educacional cubana tem presença sistemática no Ministério da Educação, nos Departamentos das Faculdades de Psicologia e das Universidades Pedagógicas, nos Centros e Departamentos das Universidades em geral e houve, para o desenvolvimento de políticas públicas no período revolucionário, não só a colaboração ampla da categoria dos psicólogos, psicopedagogos, pedagogos, como também a estreita relação neste trabalho com políticos, outros profissionais, cientistas, como sociólogos, linguistas, médicos, matemáticos, biólogos, químicos, entre outros, sempre com a presença essencial de pesquisas e debates profissionais e científicos, experiências práticas e reflexão crítica. Esse não deixa de ser um discurso que busca se valer das ferramentas ideológicas da legitimação e da unificação. Para Beatón, a despeito de, desde o final dos séculos 19 e 20, o capitalismo ter promovido a educação para todos, sua preocupação consistia simplesmente em assegurar uma mão de obra suficientemente qualificada para manter a produção e o desenvolvimento econômico de interesse do próprio capitalismo, mas nunca houve realmente preocupação em se resolver o problema de todos aprenderem e se desenvolverem nos níveis que uma boa educação produz. O dado de que um praticamente um terço das crianças em idade escolar não aprendem a ler e a escrever nos sistemas educacionais, que, segundo Beatón, é aceitável para os fins pretendidos pelo capitalismo, para o autor é algo humanamente imperdoável e cientificamente inaceitável. Beatón acredita que a Psicologia deve desempenhar um papel mais ativo e destacado com o compromisso social e cultural do país e, sobretudo comprometido com o ser humano, seus problemas e dificuldades de desenvolvimento, e, por isso, defende que a Psicologia e os psicólogos, conjuntamente com as demais ciências relacionadas à Educação, devem promover e participar do debate científico e técnico como base para a elaboração das políticas públicas de Educação, e influenciar ainda mais no aprimoramento dessas políticas, para que haja uma Educação de qualidade, para todos, que garanta uma aprendizagem eficiente em todos os escolares e, com ela, o desenvolvimento integral do ser humano. Essa crença do autor não é exclusiva dele, mas seria compartilhada por muitos e, com isso, a psicologia educacional cubana teria estado presente, de maneira significativa, no desenvolvimento massivo e produtivo da educação inicial e pré-escolar desde os primórdios, na concretização da aprendizagem da leitura e da escrita, espanhol, matemática, formação de valores, formação de professores e educadores em geral, no trabalho com as famílias e o que se relaciona com o vínculo essencial da casa com a escola e trabalho da mídia de massa como parte importante da sociedade, para se obter uma melhor educação para as crianças, adolescentes e jovens. A Psicologia da Educação, em Cuba, segundo Beatón, tem tido uma participação maior em projetos e programas macroestruturais e na definição, execução e controle de políticas públicas, na formação continuada de professores e docentes, no assessoramento de programas educacionais em geral. O autor acredita que os cubanos são um referencial positivo no que tange ao atendimento específico a crianças com idade escolar com problemas, mas que ainda se faz necessário aos cubanos avançar mais no aspecto da atenção individualizada de estudantes com problemas ou dificuldades, por especialistas e profissionais que apoiam o trabalho do professor e dos professores em escolas gerais, técnicas e profissionais e até mesmo nas universidades. A atenção mais individualizada, para Beatón, faz parte da eficácia que o sistema educacional, social e cultural deve ter, para evitar esses problemas ou corrigi-los.
Beatón declara que em Cuba foram feitas conquistas, no entanto, muito
mais poderia ser alcançado. Em razão disso, a Psicologia Educacional cubana não pode simplesmente se orgulhar de seus sucessos, mas se deve trabalhar por resultados superiores, em diálogo com a Psicologia Educacional de países irmãos da América Latina, e deve haver uma colaboração como um todo nos estudos e análises críticas que se fazem para a melhoria dos sistemas educacionais. Seu sonho, como ele mesmo conclui, é de que a América Latina e o mundo, por meio do esforço científico crítico conjunto de seus cientistas, profissionais da pedagogia, psicologia, psicopedagogia e outras ciências, tenham conhecimentos suficientes para projetar melhores sistemas educacionais, mesmo que não sejam perfeitos, mas que sejam aqueles que se fazem necessários para solucionar os problemas atuais.
É interessante notar que a visão de Béaton sobre a Psicologia
Educacional se coaduna com praticamente todas as atribuições que o Conselho Federal de Psicologia – CFP, no Brasil, elenca como papel do psicólogo educacional, o que torna a leitura de seu artigo algo bastante atual e relevante para todos na área, que busquem conhecer e desempenhar melhor essas atribuições. Por exemplo, são muito afinadas com o discurso de Béaton sobre a independência, a autonomia, e o desenvolvimento pleno por meio da educação integral, as atribuições previstas pelo CFP para o psicólogo educacional a respeito de: colaborar na “consecução crítica e reflexiva dos papéis” dos educadores; “prevenir, identificar e problemas psicossociais que possam bloquear, na escola, o desenvolvimento de potencialidades, a auto- realização e a cidadania consciente”; desenvolver programas de orientação profissional, visando um “melhor aproveitamento, e desenvolvimento do potencial humano, fundamentados no conhecimento psicológico e numa visão crítica do trabalho e das relações do mercado de trabalho”. Por todo o exposto, uma leitura crítica do artigo de Béaton pode ser bastante esclarecedora e exemplificadora sobre como deve ser a atuação de um psicólogo educacional em um país latino-americano.
REFERÊNCIA
BEATÓN, Guillermo Arias. A Psicologia Educacional e o sistema de
educação em Cuba. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), vol. 13, N. 1, Jan/Jun de 2009. Pag.155- 164.