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CESUPI - FACULDADE DE ILHÉUS

ANA CLARA PEREIRA DE MARCO FERNANDES

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISINADO BÁSICO II

Ilhéus – Bahia
2021
ANA CLARA PEREIRA DE MARCO FERNANDES
ANTONIO FERNANDES
CLÁUDIA BORGES
MÁRCIA DE JESUS
MAYANA OLIVEIRA
VIVIANA VASCONCEL

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISINADO BÁSICO II

Relatório final de estágio apresentado à


Faculdade de Ilhéus para obtenção do segundo
crédito da matéria de Estágio Supervisionado
Básico II do curso de Psicologia.
Orientado pelo prof. Me. Paulo Tadeu Ferreira
Teixeira

Ilhéus – Bahia
2021
Identificação do campo de Estágio

a) Identificação e apresentação da Empresa

Nome: Hospital Dia Vida Nova


Endereço: Rua G, n 115
Bairro: Jardim Atlântico I
Cidade: Ilhéus-BA
CEP: 45655-048

O campo de estágio é o Hospital Dia Vida Nova, este hospital está localizado
no município de Ilhéus, onde são oferecidos atendimentos a pacientes com
Transtornos por uso de Substâncias (TUS). A equipe é formada por Psiquiatras,
Psicólogos, Nutricionista, equipe de Enfermagem, Farmácia, Serviço Social,
Conselheiro Terapeuta, Profissional de Educação Física, Terapeuta Ocupacional. O
atendimento ao público é realizado por meio de internação voluntária e involuntária.
Os pacientes ficam internados até nove meses, de acordo com a adesão ao
tratamento.
Os pacientes ficam todo o tempo recluso no hospital, saindo apenas quando
necessário, em casos específicos como: realização de exames, comparecimento a
fórum, entre outras demandas, devidamente acompanhados de um funcionário da
instituição. Os internos tem direito a visita familiar, geralmente realizada aos
domingos, dia conhecido com “dia da família”. Os mesmos passam por consultas
com psiquiatras e quando necessário são submetidos a tratamento medicamentoso,
e sempre são acompanhados pelas psicólogas. Participam de oficinas, palestras,
atividades de lazer.

b) Identificação do Estágio

Área onde foi realizado o estágio: Hospital Dia Vida Nova


Data de início: 16/08/2021
Data de término: 06/12/2021
Duração em horas: 72 horas
Nome do supervisor de campo: Professor Me. Paulo Tadeu Ferreira Teixeira
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................5

2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES..........................................................................6

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................15

3.1 Reforma Psiquiátrica no Brasil......................................................................15

3.2 O CAPS Ad e a rede de atenção psicossocial (RAPS)................................18

3.3 O Hospital Dia e o contexto dos transtornos por uso de substâncias.....20

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................22

REFERÊNCIAS..........................................................................................................24
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1 INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado básico II foi realizado de forma híbrida do dia


16/08/2021 até o dia 06/12/2021. Inicialmente foi realizada a apresentação do
campo escolhido, no caso o Hospital Dia Vida Nova, que presta atendimento a
pacientes com TUS (Transtorno por uso de substâncias). O hospital Vida Nova
recebe pacientes homens de variadas idades, graus de escolaridade, nível
socioeconômico e tempo de dependência química. O hospital é composto por uma
equipe multidisciplinar, composta por: psiquiatra, T.O (terapeuta ocupacional),
assistente social, enfermeira e técnicos de enfermagem, terapeuta de narcóticos
anônimos (NA), monitores, educador físico, nutricionista e três psicólogas, sendo
uma delas Renata que é a nossa anfitriã.
A internação pode ser custeada de forma particular ou através de planos de
saúde que são aceitos na instituição. O paciente pode ser internado de forma
voluntária, onde o mesmo aceita ficar recluso para o tratamento ou de forma
involuntária, onde esse paciente é levado pela família sem seu consentimento, neste
caso o paciente só permanecerá no hospital até três meses, caso não queira ou não
se adeque ao tratamento tem o direito de retornar ao seu lar. Os pacientes realizam
atividades diárias de psicoeducação, praticam atividade física, recebem atendimento
médico e psicológico, e quando necessário realizam exames em outras clínicas ou
hospitais especializados.
Por conta da pandemia de COVID-19, as atividades do estágio iniciaram de
forma remota pelas plataformas digitais Microsoft Teams e Google Meet, com o
avanço da vacinação tivemos a oportunidade de estar em campo por duas vezes de
forma presencial, para a prática de atividades. Foram realizadas apresentações
dialogadas e dinâmicas abordando temáticas relevantes para os internos. Essas
atividades serão descritas ao decorrer deste relatório.
Este estágio tem como objetivo apresentar ao estagiário, como é a atuação
do psicólogo no serviço de saúde mental e sua importância para a sociedade, na
promoção e prevenção a saúde. O psicólogo que atua na área de saúde mental ou
com pacientes com TUS é de fundamental importância, para que o indivíduo nessas
condições tenha um amparo de qualidade e que o guie para a resolução de suas
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inquietações e/ou aflições, além do apoio a família que é essencial para o sucesso
do tratamento.

2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES

No dia 06/09/ 2021 foi iniciado o estágio Supervisionado Básico II tendo como
supervisor o professor mestre Paulo Teixeira. Este encontro acontece de forma
remota pela plataforma digital Microsoft Teams, todas segundas às nove horas da
manhã. Nesta data o professor fez uma breve apresentação do campo de estágio
que é o Hospital Dia Vida Nova e sobre o Transtorno por uso de substância (TUS).
Ainda nesta manhã recebemos o psicólogo Edgar Felipe que é especialista
em saúde mental e dependência química, pela UFBA e tem 14 anos de atuação na
psicologia. Edgar contou sua vasta experiência como psicólogo, demonstrando sua
paixão pela área de saúde mental. Ele relata que seu primeiro contato com saúde
mental foi em 2004 ainda como estagiário, no extinto Hospital São Judas, que ficava
localizado na cidade de Itabuna, nesse estágio ele cita que 60% a 70% dos
pacientes eram usuários de substâncias psicoativas e não pessoas com doença
mental.
Em 2009, assumiu o CAPS da cidade de Uruçuca, onde percebeu que ainda
se usava o modelo manicomial. Em seis meses de trabalho tornou-se coordenador.
Seu diferencial era o trabalho realizado em conjunto com a família em grupos
terapêuticos e multidisciplinar. Entre 2010/2011 trabalhou em uma comunidade
terapêutica, onde realizou um trabalho diferenciado com atividades motivacionais,
onde os terapeutas eram ex- residentes.
Essa comunidade era localizada em uma fazenda próxima a Uruçuca, com o
aumento da demanda, mudou-se para o atual endereço localizado em Ilhéus, onde
se transformou no Hospital Dia Vida Nova. Em 2014 o hospital fez parceria com a
Unimed, ampliando a possibilidade de internações. Edgar assume a coordenação da
parte administrativa 2019 e também a coordenação da ala feminina do hospital DIA,
que devido à demanda tornou-se referência em todo o país, porém devido à
pandemia de COVID-19 essa ala teve sua atividade encerrada em novembro de
2020. Hoje Edgar Felipe é coordenador do CAPS Ad3 em Vitória da Conquista, onde
continua levando seu trabalho de excelência àqueles que necessitam.
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Na segunda feira seguinte, dia 13/09 do ano corrente a supervisão teve início
com a correção do esboço do projeto que seria enviado para a instituição do estágio.
Neste projeto consta a introdução, objetivo geral e específico do estágio, um breve
referencial teórico, cronograma de apresentação com os temas que seriam
abordados por cada grupo e a conclusão.
Ocorreu também a apresentação dos grupos que haviam sido estabelecidos
anteriormente. O grupo I composto por Ana Clara Fernandes, Danielle Souza,
Guilherme Rocha, Marília Ramos e Marilene Souza; grupo II composto por Diovana
Gracielly de Deus Souza, Gabrielle Pereira da Silva, Kelly Miranda Mançano,
Mariana Santos dos Reis, Thaís Feitosa Salles da Silva, Vanessa Gomes de Aquino.
Os textos de apresentação foram grupo I Reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re)
visão escrito por Alice Hirdes em 2008, este artigo faz uma contextualização sobre a
reforma psiquiátrica brasileira, através da revisão dos marcos políticos, teóricos e
práticos, a partir da análise dissertações, teses, artigos, livros sobre a temática e
documentos oficiais. Os resultados apontaram que houve avanços na reforma
psiquiátrica, porém ainda existem inúmeros desafios, principalmente, no que tange a
capacitação dos gestores.
O outro artigo, para o grupo II tem como título Vínculos e Redes Sociais de
Indivíduos Dependentes de Substâncias Psicoativas Sob Tratamento em CAPS AD
escrito por Jacqueline de Souza, Luciane Prado Kantorski, Fernanda Barreto Mielke
publicado em 2006, onde as autoras fazem um estudo qualitativo com indivíduos
com TUS para saber quais as redes sociais e quais são os vínculos dessas pessoas.
Com os resultados as autoras perceberam um grande desfalque na rede de suporte
desses indivíduos, dificultando a reabilitação psicossocial dos mesmos.
Após as discussões dos textos, fomos apresentados à psicóloga Renata, que
ficou responsável por nos apresentar o hospital e a logística do local. Em sua
apresentação Renata contou que é uma ex- aluna da Faculdade de Ilhéus e relatou
como depois de realizar um estágio no hospital Dia se apaixonou pela área e por
competência se tornou uma das psicólogas da instituição.
Depois dessa apresentação, foi aberto um momento para perguntas, onde
nós estagiários tivemos a oportunidade de tirarmos dúvidas sobre o trabalho do
psicólogo com pacientes com TUS, o fluxo de atendimento, faixa etária dos
pacientes, duração do tratamento, visita familiar, regime de trabalho, equipe
multidisciplinar, como prossegue o tratamento após a alta. Após ter sanado às
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dúvidas, nos despedimos e Renata se predispôs a sanar outras dúvidas a qualquer


momento caso elas surgissem.
No dia 20/09/2021 no primeiro momento do estágio, ocorreu à entrega do
projeto final já corrigido. Também houve uma breve explicação sobre o que seria a
apresentação remota para os pacientes do hospital. O primeiro grupo a apresentar
foi o grupo I composto por Ana Clara, Danielle, Guilherme, Marília e Marilene com a
temática do setembro amarelo, já que setembro é considerado o mês de combate ao
suicídio.
O encontro foi realizado na plataforma digital Google Meet, com o auxílio da
psicóloga Renata. Como nesse dia foi o primeiro contato que tivemos com os
pacientes, antes da exposição do tema houve a apresentação dos discentes e dos
internos, que nesse dia compareceram aproximadamente 10. Depois foi realizada
uma dinâmica breve com balões, onde cada um teria 15 segundos para responder
uma questão “impossível” caso não soubessem responder deveriam estourar o
balão, daí foi realizada uma reflexão de que é preciso tempo para que possamos
solucionar questões que achamos impossíveis de serem resolvidas. Em seguida foi
dado início a abordagem da temática com apresentação de slides.
O setembro amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio,
iniciada em 2015. O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde
2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Durante todo
o mês, a sociedade se une para debater saúde mental e para relembrar
a importância de saber reconhecer sinais de comportamento depressivo ou suicida
em familiares e amigos. Para a reflexão do tema foi passada a música “Mais uma
vez” de Renato Russo, nesta etapa foi abordado também sobre os sentimentos que
surgem quando uma pessoa pensa em praticar o ato de suicídio, os motivos que
intensificam o suicídio como bullying, depressão, solidão entre outros. Para finalizar
trouxemos maneiras de como prevenir o suicídio.
Após a explanação foi realizada uma dinâmica, onde os pacientes deveriam
expor através de um desenho o que haviam compreendido do tema e cada um teve
a oportunidade de falar um pouco sobre o que tinham desenhado. E por fim, foi
declamado um poema relacionado ao tema, que os internos gostaram bastante.
Encerrada a apresentação para os internos, o professor teceu comentários sobre as
apresentações individuais, apontando onde cada um poderia melhorar. Daí deu-se
por encerrada a supervisão.
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Já no dia 27/09/2021 começamos o dia debatendo um pouco sobre como


havíamos nos sentido em relação à apresentação anterior. Também foi exposto o
que seria abordado sobre a temática do dia, que foi realizada pelo grupo II composto
por Diovana Gracielly, Gabrielle, Kelly, Mariana, Thaís, Vanessa.
O tema proposto pelo grupo II foi qualidade de vida e neste dia haviam 8
pacientes. As discentes iniciaram a apresentação realizando uma dinâmica de “isso
ou aquilo”, seguindo realizou-se uma “chuva de ideias" onde os pacientes colocaram
em pauta o que eles entendiam sobre a temática. A partir disto as colegas
realizaram a exposição do tema onde foi exposta a definição do tema, que diz que
qualidade de vida indica o nível das condições básicas e suplementares do ser
humano. Estas condições envolvem desde o bem-estar físico, mental, psicológico e
emocional, os relacionamentos sociais, como família e amigos, e também a saúde, a
educação e outros parâmetros que afetam a vida humana.
Foi abordada após a definição a correlação que a qualidade de vida tem com
outros conceitos, como qualidade de vida e saúde, atividade física, alimentação
saudável, entre outros. Além de dicas de como manter e/ou aumentar a qualidade
de vida, como por exemplo, manter uma alimentação saudável, praticar atividade
física, manutenção do sono, eliminar maus hábitos. Ao final da explanação, foi
proposta a elaboração de um diário, onde os internos deveriam colocar suas praticas
de bons hábitos. E por fim, como de costume o professor realizou comentários
acerca das apresentações, tanto individual como no coletivo, encerrando a
supervisão.
Dia 04/10/2021 ao iniciar a supervisão ocorreu um bate papo com o feedback
de como as discentes se sentiram diante das dificuldades da realização das práticas,
mesmo com as intercorrências do modelo remoto. Também foi apresentado ao
supervisor qual a proposta da apresentação do dia, que tem como tema Autoestima
e autocuidado.
Neste dia havia entre 8 a 12 pacientes, que colaboraram com o inicio da
abordagem da temática. A exposição do tema se deu primeiramente com a definição
do que são Autoestima e autocuidado. Autoestima é uma avaliação positiva ou
negativa que uma pessoa faz de si mesma em algum grau a partir de emoções,
ações, crenças, comportamentos ou qualquer outro tipo de conhecimento de si
próprio e autocuidado é tudo aquilo que você faz para si mesma, com o intuito de ter
melhor qualidade de vida. Isso pode incluir desde ir ao salão até praticar atividades
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físicas e tirar um tempo para você. Isto é, são todas as ações que te causam
satisfação e que, ao mesmo tempo, cuidam de você: do corpo à mente.
Logo após foram apresentadas dicas de como eles poderiam elevar a
autoestima e de como promover o autocuidado como as duas temáticas estão
interligadas, quando a pessoa pratica o autocuidado consequentemente eleva a
autoestima. Então algumas formas de praticar o autocuidado é primeiramente
obsevar suas necessidades, como manter-se bem cuidado, praticar atividade física,
respeitar os sentimentos, praticar a espiritualidade, exercitar o amor próprio, etc.
Elaboramos uma caixa com frases motivacionais, para que eles tivessem
acesso sempre que se percebessem com baixa autoestima. Os internos tiveram a
oportunidade também colocar suas frases na caixa e cada um pôde ler a sua, caso
quisessem. Ao final foi declamada uma poesia para a reflexão do tema. Mais uma
vez, após a despedida dos pacientes o professor solicitou que fizéssemos uma
análise das apresentações e nos deu um feedback de como havia sido.
No dia 11/10 deste ano não houve encontro remoto, mas foi realizado um
fichamento do capítulo 8 do livro Psicologia da Saúde, escrito por Richard O. Straub
que tem como nome do capitulo “Abuso de Substâncias” que trata sobre o uso de
substâncias que alteram o humor, pensamento e comportamento, porém o uso
abusivo das mesmas trazem efeitos negativos para o organismo. Além disso,
relatam as causas e efeitos desse uso, e também maneiras de como prevenir o
vicio. Um ponto muito importante deste capítulo é que o autor demonstra os
mecanismos de ação das drogas e porque as pessoas se tornam dependentes.
Ainda no capítulo o autor trata dos modelos de dependência, o uso abusivo
de álcool e o perfil dos alcoolistas. A pesquisa realizada demonstrou que o consumo
de álcool se inicia ainda na adolescência, outros parâmetros também foram
analisados como, por exemplo, a etnia, cultura e gênero. Por fim, o autor traz tipos
de tratamento e maneiras de prevenção. No dia 13/10 o grupo II realizou a prática
presencialmente abordando o tema Estresse, ansiedade e outras patologias.
Embora dia 18/10/2021 tenha sido uma segunda feira não houve encontro
digital, a prática ocorreu de forma presencial na quarta feira dia 20/10 por ser mais
viável para o estabelecimento. O tema proposto para esse encontro foi Perspectiva
de futuro. Na chegada ao campo podemos conhecer Renata, que nos recebeu de
forma acolhedora, relatou um pouco do funcionamento do hospital, tirou dúvidas e
mostrou as dependências do local. Conhecemos a enfermeira, a recepcionista que
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cuida da parte administrativa, as cozinheiras e a psicóloga Kátia que estava


presente neste dia.
Em seguida fomos para o salão onde aconteceu a apresentação e contamos
com a presença de aproximadamente 15 pessoas. De início nos apresentamos para
os participantes, após demos sequência com a exposição do tema perspectiva de
futuro que é a antecipação, no presente, de metas futuras, que se refere ao grau e
ao modo pelo qual o futuro cronológico de um indivíduo é integrado ao espaço de
vida presente por meio de processos motivacionais, seja estas metas relativamente
próximas ou mais distantes.
Foi realizada a dinâmica da árvore, onde os pacientes deveriam escrever
suas perspectivas para o futuro e colar na árvore fazendo uma alusão a frase “o que
plantamos colhemos”, depois realizamos outra dinâmica do “eu real” X “eu ideal”
onde os mesmos deveriam escrever como se veem no presente e como gostariam
de se ver no futuro. Por fim, foi passamos uma música inspiradora para reflexão. Os
internos se sentiram inspirados e ocorreu declamação de poemas e cantoria de rap.
Nós despedimos dos internos ainda com muita animação. Por último encontramos
Renata para passarmos um feedback de como havia sido a apresentação e nossa
percepção sobre o engajamento dos pacientes.
No dia 25/10/2021 voltamos à forma remota pela plataforma digital Microsoft
Teams. De início o professor solicitou que cada grupo descrevesse sua experiência
das práticas presenciais. Em seguida ocorreu um breve relato do que seria a
apresentação do dia que teve como tema Mercado de trabalho.
Entramos na plataforma de encontro, e participaram desta reunião 8 a 12
internos. O grupo II iniciou a prática questionando os participantes qual sua
profissão?, para dar início a discussão do tema que é a relação entre quem procura
emprego e quem oferece emprego, um tema bem pertinente para os pacientes do
Hospital visto que eles passam ao menos noventa dias afastados do seu ambiente
de trabalho ou para aqueles que não tem emprego podem perder a oportunidade de
encontrar algo.
Muitos deles por conta da adicção acabam perdendo seus empregos e assim
se entregam ao vicio, por acreditarem que não terão mais oportunidade no mercado
de trabalho,porém podemos perceber que isto é um mito, pois um fator importante
que eles não desistam de procurar e se atualizar assim que estiverem aptos a voltar
para a sociedade. Muitos se sentiram a vontade para relatar suas experiências e
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compartilhar suas expectativas futuras. Como ocorre a cada final de prática o


professor passou um feedback de como havia sido as apresentações do dia.
No dia 01/11/2021 a supervisão começou com a explanação de como seria a
apresentação do dia, realizada pelo grupo I com tema Habilidades sociais. O
professor abordou um pouco de dois assuntos habilidades sociais e relação familiar
exibindo os vídeos no YouTube. E deixou um artigo que tem como titulo “Rede social
de usuários de álcool, sob tratamento, em um serviço de saúde mental” escrito por
Jacqueline de Souza e colaboradores.
Logo após encontramos os pacientes, que neste dia foram apenas três, pois
muitos ainda estavam chegando de outra atividade. De início foi abordados à
definição do tema Habilidades Sociais que são requisitos que podemos desenvolver
e adotar para se conectar e interagir com as pessoas a nossa volta. Ou seja, são
competências que temos para interagir com os outros, expressando nossos desejos
e opiniões, sem causar mal-estar. Em seguida falamos um pouco dos tipos de
habilidades sociais que são habilidade de comunicação, civilidade, enfrentamento,
empatia, trabalho e positividade.
Seria realizada uma dinâmica de "telefone sem fio", porém como nesse dia
havia poucos participantes não ocorreu. Foram passadas dicas de como aprender a
ter habilidades sociais. Também foi realizada uma dinâmica do pirulito com uma
reflexão sobre o tema, onde eles puderem perceber que para abrir o pirulito
precisariam um do outro, praticando assim, suas habilidades sociais. Ao término
ocorreu mais uma vez o feedback do supervisor sobre as apresentações, que nesse
dia por motivos técnicos foram um pouco conturbadas.
Dia 08/11/2021 o encontro começou com um bate papo sobre a abordagem
do tema, que foi relação familiar no tratamento de TUS. O professor repassou o
cronograma de atividades e abriu espaço pra dúvidas sobre o relatório, foram
passados dois vídeos, ambos no Youtube, um sobre rede de apoio e outro sobre
saúde do homem, temas que serão abordados nos próximos dias.
Passamos então para a plataforma digital Google Meet, para darmos início à
prática, e contamos com a presença de mais ou menos 10 participantes. O grupo II
deu início à temática fazendo uma pergunta aos internos sobre como eles definem
família, muitos internos participaram baseando-se em suas experiências pessoais.
Então foi explanado para eles o que é família, que é a união de duas ou mais
pessoas que tem ligações biológicas, ancestrais, legais ou afetivas que, geralmente,
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vivem ou viveram na mesma casa. Em seguida eles escreveram o que para eles era
a família e cada um teve a oportunidade de falar um pouco do que havia escrito ou
desenhado.
Daí foi abordado à importância da família para o tratamento do TUS, onde se
percebe que a família é um suporte e apoio muito importante em seu
restabelecimento e recuperação, pois é nela que eles conseguem encontrar
conforto, confiança e motivação para seguir em frente no seu tratamento. A família
nesse processo é o caminho para o equilíbrio e sustentação do adicto em seu
processo de recuperação.
Percebemos que todos se amparam muito em suas famílias e tem apreensão
de decepcioná-las, porém pretendem progredir no tratamento para que ao fim
retornem ao seio familiar. Ao fim, houve mais uma vez os comentários do professor
e as impressões das discentes que realizaram a apresentação.
Já que dia 15/11/2021 é feriado, a prática foi realizada no dia 17/11/2021 de
forma presencial com a temática Rede de Apoio. Mais uma vez, ao chegarmos nos
reunimos com Renata, que neste dia estava recebendo uma nova psicóloga diarista
Katiane, que irá trabalhar diariamente fazendo acolhimento com os pacientes que
necessitarem. Então, podemos mais uma vez presenciar a dinâmica da instituição
dessa vez com a contratação de uma nova funcionária. Após esse encontro, os
pacientes foram convidados ao salão, neste dia compareceram aproximadamente
15.
Iniciamos a apresentação falando um pouco sobre o que é rede de apoio que
são um conjunto de organizações ou entidades que trabalham de maneira
sincronizada para colaborar com alguma causa. Rede de apoio é constituída por
laços e vínculos de segurança e confiança, seja com pessoas ou com instituições.
Montamos então um grande cartaz, onde colamos alguns exemplos de redes de
apoio como CAPS ad, Centro de Recuperação, Hospital Dia, UPA, Ambulatório, A.A
(Alcoólicos Anônimos), N.A (Narcóticos Anônimos), Amor Exigente, família, amigos,
líderes religiosos, entre outros.
Ao fim da explanação, solicitamos que eles escrevessem ou desenhassem
sua própria rede de apoio, todos realizaram a tarefa e quem desejou pôde falar um
pouco sobre sua rede e o porquê daquela escolha. Após, foi declamado um poema
baseado no tema. Foi distribuído no fim, um caderninho com todos os poemas que
já haviam sido declamados e um espaço para que eles escrevessem suas ideias,
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perspectivas de futuro, pensamentos ou até mesmo suas aflições. Todos ficaram


bem animados e contentes com o presente.
Na manhã do dia 22/11/2021 não ocorreu encontro virtual, pois o grupo II
realizou a prática de forma presencial com tema saúde do homem, em virtude do
novembro azul. O grupo I teve esse momento para a elaboração do relatório final
que deve ser entregue no dia 06/12/2021.
O último encontro ocorreu dia 29/11/2021 um pouco mais tarde, as 9h:50min
da manhã. De inicio o supervisor solicitou um feedback das práticas anteriores que
ocorreram de forma presencial. Logo após, fomos para a plataforma Google Meet
onde ocorrem os encontros com os pacientes, que eram 10 a12 pessoas. Renata
relatou que havia três psicólogos de Eunápolis, que estavam conhecendo o
funcionamento da instituição para que aplicassem a mesma dinâmica na filial da
cidade de Eunápolis que estava deixando de ser Centro de Recuperação para se
tornar Hospital Dia.
O tema escolhido para esse dia foi Entendendo as Emoções. Então
começamos questionando os convidados a falarem o que eles entendiam sobre o
que é emoção, a partir disso deram-se inicio a explanação do tema. Primeiramente
falando que emoção um sentimento que não podemos conter e resulta na maioria
das vezes em alguma forma de expressão que pode causar efeitos físicos no nosso
corpo. Após foi realizada uma dinâmica, onde os participantes deveriam fazer um
flashback do dia anterior e solicitamos que colocassem no papel quais emoções eles
haviam sentido, de acordo com uma legenda de cores.
Depois disso, cada um falou um pouco de suas emoções e como se sentiam.
Enfim, foi explanado um pouco mais do tema, onde foram abordados as emoções
básicas e como elas agiam no nosso organismo, além de dicas de como conter
emoções indesejadas ou promover boas emoções. Após isso, foi passado um trecho
do filme Divertidamente, que fala das emoções e foi trabalhado com eles um pouco
de suas emoções. Ao final, por ser o último dia de estágio fizemos uma despedida
bastante emocionada tanto da parte dos pacientes quanto da parte dos discentes.
Por fim, como de costume fizemos um feedback com o professor sobre a
apresentação. Também nos despedimos dos colegas e cada um pode falar um
pouco da sua vivência, expectativa, sentimentos, aprendizados e alegria pela
finalização do estágio sem muitas intercorrências ou complicações. Foram passadas
as coordenadas da entrega do relatório e também da realização da avaliação
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regimental de estágio, que foi realizada no dia 06/12/2021. Assim, foi encerrada a
reunião.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Reforma Psiquiátrica no Brasil

Desde que foi inaugurado o Hospício Pedro II, em 1852, no Rio de Janeiro,
até a década de 1960, a assistência psiquiátrica no Brasil se constituía por sua
oferta exclusiva e compulsória de internação em hospitais psiquiátricos públicos. Em
1964 com o golpe militar, a psiquiatria alcançou um modelo assistencial de massa,
com o início da mercantilização da loucura, criado em 1967, através da celebração
dos convênios com o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A psiquiatria
tornou-se um negócio lucrativo e, para defendê-lo, criou-se um grupo poderoso que
até hoje atua, impedindo qualquer tentativa de mudança (YASUI, 2010).
No ano de 1978, foi dado o primeiro passo para movimento social pelos
direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil. Neste mesmo ano surgiu o Movimento
dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), composto por trabalhadores
integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas,
membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de
internações psiquiátricas. Este movimento contribuiu para o estabelecimento da
Reforma Psiquiátrica no Brasil por meio da inserção da estratégia de
desinstitucionalização no âmbito das políticas públicas nacionais, proposta de
influência da democracia italiana de Franco Basaglia (MARINHO, 2011).
Em 1979, o precursor do movimento de Psiquiatria Democrática na Itália, o
psiquiatra italiano Franco Basaglia desembarcou no Brasil. Ele era um grande crítico
do poder dominador que a psiquiatria pode exercer sobre a população, Basaglia
visitava o país pela terceira vez para um ciclo de conferências. A passagem do
psiquiatra pelo Brasil teve forte repercussão e foi noticiada em grandes meios de
comunicação, estimulando obras marcantes como: Nos porões da loucura de Hiram
Firmino, e o premiado curta Em nome da Razão de Helvécio Ratton. Mesmo sem
apoio financeiro ainda em 1979, o MTSM organizou o I Congresso de Saúde Mental
em São Paulo. Aproximou-se da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
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Coletiva (Abrasco) que representou uma estratégia de ampliação da articulação do


movimento com o campo mais geral da saúde (AMARANTE, 2018).
Na década de 1980, a Previdência Social (PS) passou por uma crise financeira,
a partir disso, foram propostas algumas reformulações na assistência médica, e
muitos participantes do MTSM foram envolvidos nestes processos, o resultado
dessas mudanças políticas foi à convocação da 8ª Conferência Nacional de Saúde,
movimento sanitário, que contou com a sociedade civil e não apenas com técnicos e
burocratas, tornando a expressão Reforma Sanitária “lema nacional”. Surgiu então, o
plano de reorientação da Assistência psiquiátrica, assim como outros modelos de
gestão compartilhada e a constituição dos Sistemas Unificados e Descentralizados
de Saúde (SUDS), que deu origem ao Sistema Único de Saúde (SUS) (AMARANTE,
2018; BRAGA, 2018).
Segundo Silveira (2014) em um contexto de crescimento dos processos
democráticos na saúde, a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986,
determina a realização de conferências temáticas no País, entre elas, as da área de
saúde mental. Deste modo, foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Saúde
Mental, em 1987. Na conferência, ficou evidenciada a precisão de uma nova
legislação e inversão do modelo hospitalocêntrico. No rumo à ampliação da
participação em saúde mental, no mesmo período, realizou-se o II Congresso
Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, cujo lema foi: Por uma sociedade
sem manicômios.
Neste período, é importante lembrar o surgimento do primeiro CAPS no Brasil,
em São Paulo, e o início de um processo de intervenção, em 1989, da Secretaria
Municipal de Saúde de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde
Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. Foram também implantados
no município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24
horas, foram criadas cooperativas, residências para egressos do hospital e
associações. Ainda em 1989, o deputado Paulo Delgado (PT/MG) deu entrada no
Congresso Nacional o Projeto de Lei, que propôs a regulamentação dos direitos da
pessoa com transtornos mentais e o desmonte dos manicômios no país (BRASIL,
Ministério da Saúde, 2005).
Em 1992, o Brasil assina a Declaração de Caracas, firmando a reestruturação da
assistência em saúde mental assegurando direitos dos usuários e regulamentando
os Centros de Assistência Psicossocial pela portaria 224/92. Várias portarias foram
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criadas, pela pressão política, elas determinavam: inserção de equipes


multiprofissionais, espaços para recreação, terapias complementares na internação,
parâmetros de adequação das acomodações, restrição do tempo de internação há
60 dias, criação de NAPS e ambulatórios de saúde mental com assistência voltada à
reinserção social (BRAGA, 2018).
Ainda na década de 90, ocorreu a II Conferência Nacional de Saúde Mental,
onde passou a vigorar no país as primeiras normas federais regulando a
implantação de serviços de atenção diária, criadas a partir das experiências dos
primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e
classificação dos hospitais psiquiátricos. No ano 2000, por meio da portaria
106/2000, foi criado o serviço substitutivo, que são as residências terapêuticas, onde
pacientes psiquiátricos desospitalizados se abrigavam, caso não pudessem voltar
para suas residências. Com o avanço dos serviços substitutivos e a lentidão da
tramitação do projeto de lei de reforma psiquiátrica, as manifestações sociais e dos
profissionais de saúde aumentaram (BRASIL, 2005; BARROSO, 2011).
Após 12 anos de tramitação, em 6 de abril de 2001 foi promulgada a Lei Federal
10.216, também conhecida como Lei Paulo Delgado, que estabeleceu novas
diretrizes para políticas de saúde mental, ao prever a substituição progressiva dos
manicômios no país por uma rede complexa de serviços que compreendem o
cuidado em liberdade como elemento fundamentalmente terapêutico. Dessa forma,
estabeleceu-se, entre outras garantias, que a pessoa com transtorno mental, “sem
qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual,
religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e
gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno (…)”, deve ser “tratada com
humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando
alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade
[art. 2º, § II]” (CFP, 2020).
Apesar da Reforma Psiquiátrica brasileira ter sido um processo de transformação
do modelo de cuidados psiquiátricos, onde a sua lógica passou a ser na construção
de saberes e práticas em serviços comunitários de saúde mental, alguns obstáculos
podem ser salientados. Um deles é a má distribuição da cobertura dos serviços de
saúde mental no país e a deficiência na qualidade e na humanização da assistência.
Para que a Reforma Psiquiátrica siga e alcance novos espaços, os discursos devem
ser colocados em prática, e devem estar de acordo com o novo método, para que o
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foco seja a existência/sofrimento da pessoa, respeitando o direito as diferenças e


reconhecendo a cidadania. Nesse sentido, a rede de atenção em saúde mental deve
ser constituída na interdisciplinaridade e em um projeto terapêutico individualizado,
voltado para a assistência humanizada, com preceitos técnicos e éticos adequados
(MARINHO, 2011).
O dia 18 de Maio é marcado para que a sociedade reflita sobre a violência
institucional da psiquiatria e a exclusão das pessoas em sofrimento psíquico.
Considera-se que o objetivo obteve sucesso já que, desde então, são realizadas
atividades políticas, científicas, culturais e sociais não apenas no dia 18, mas todo o
mês de maio é celebrado o Mês da Luta Antimanicomial (AMARANTE, 2018).
A Reforma Psiquiátrica brasileira é um campo diverso composto por diferentes
dimensões. Foi um processo que deixou marcas ao longo da sua história. Não é
possível entendê-la sem citar suas origens, como movimento social, como uma
articulação de atores da sociedade civil que apresentaram suas demandas e
necessidades, assumindo seu lugar de interlocutor, cobrando do Estado à
materialização de seus direitos. São ações que presumem verbalização e afirmação
de interesses, disputas, articulações, conflitos, negociações, propostas de novos
pactos sociais. Ações que creem na possibilidade da construção de uma nova
sociedade (YASUI, 2010).

3.2 O CAPS Ad e a rede de atenção psicossocial (RAPS)

A saúde mental deve ser compreendida como uma questão complexa, que
precisa de trabalho em rede para que se atenda às recomendações da Declaração
de Caracas de 1990. A Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) é o grande marco da
reorientação teórico-prática da loucura no Brasil. A RPB nasceu no interior do
processo de conscientização sanitária que vem, desde os primeiros anos do
movimento de Luta Antimanicomial até os dias atuais (LIMA, 2019).
Para fortalecer um modelo de atenção aberto, que garantisse a livre circulação
dos pacientes em saúde mental entre serviços e a comunidade, o Ministério da
Saúde criou a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) através da Portaria nº 3.088,
de 23 de dezembro de 2011. A RAPS determina os pontos de atenção para o
atendimento de pessoas com problemas mentais e com necessidades decorrentes
do uso de crack, álcool e outras drogas, e integra o Sistema Único de Saúde (SUS),
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composta por serviços e equipamentos diversos que devem ser integrados e


articulados entre si (VIEIRA, 2020).
As RAPS passam por desafios que podem ser assim falado: atenção à crise,
principalmente pela falta de dispositivos substitutivos que funcionam 24 horas por
dia; aproximação entre Atenção Básica (AB) e os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS); a criação de laços entre os usuários e entre estes e a cidade; integração
dos setores de educação, justiça, assistência social, direitos humanos na luta pela
cidadania; constância do cuidado em território; e a postura centralizadora que o
CAPS assumiu como organizador da atenção em nível territorial sendo que esse
papel deve ser assumido pela Atenção Primária à Saúde (APS) como ordenadora da
rede e coordenadora do cuidado (LIMA, 2019).
Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) tem diferentes categorias que
englobam vários tipos de pessoas e faixas etárias. Os pontos de atenção mais
importantes da RAPS são: serviços de saúde de caráter aberto e comunitário
constituídos por equipe multiprofissional que atua sob a ótica interdisciplinar e
realiza prioritariamente atendimento às pessoas com transtornos mentais graves e
persistentes, e às pessoas com sofrimento ou transtorno mental em geral, que inclui
pessoas com usuárias de crack, álcool e outras drogas, em situações de crise ou
nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar. Os
CAPS têm papel fundamental na RAPS, tanto na atenção direta desejando que o
usuário volte para a comunidade e tenha autonomia, organizando o trabalho em
conjunto com as Equipes de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde,
articulando e ativando os recursos existentes em outras redes, assim como nos
territórios (SESAB).
De acordo com Lacerda (2017) o consumo de drogas é um fenômeno que existe
desde o surgimento da humanidade. Apesar disso, as drogas fazem parte do nosso
cotidiano e também de cerimônias religiosas e manifestações culturais, e podem
provocar sensações e consequências não esperadas e/ou desejadas quando
usadas em excesso. O uso de substâncias psicoativas excede as dinâmicas sociais
e pode causar ou ser ocasionado por problemas familiares, sociais, psicológicos e
de saúde. Com o crescimento do uso de drogas, o Estado vem tentando controlar e
reprimir a produção e uso de substâncias ilícitas.
Quando o consumo excessivo de drogas começou a ser visto como um
problema, surgiram medidas para enfrentar essa nova situação, às vezes
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criminalizando, às vezes proibindo o uso determinadas substâncias, guiadas pelo


viés da saúde pública e criando legislações e espaços de cuidado. A partir dessa
necessidade o CAPS AD chega voltado não apenas para o tratamento dos usuários
em relação ao uso de drogas, mas visando sua reinserção familiar, social e
comunitária. O cuidado aos usuários é prestado visando à atuação no próprio
território de cobertura e estendendo o processo de cuidado a família e a questões de
âmbito social (LACERDA, 2017).
Os CAPS são instituições que visam acolher pacientes com transtornos mentais,
estimular sua integração cultural, social e familiar, apoiar suas iniciativas por busca
de autonomia e oferecer atendimento médico e psicológico. Devem funcionar como
articuladores estratégicos da rede de atenção à saúde mental, promovendo vida
comunitária e autonomia dos usuários. Esses serviços devem contar com
planejamento terapêutico individualizado de evolução contínua, possibilitando
intervenções precoces, além de apoio de práticas de atenção comunitária e de leitos
psiquiátricos em hospitais gerais. É importante lembrar que a multidisciplinaridade
nesses serviços é inevitável, para que os atendimentos possam ser mais
humanizados, tendo em vista a liberdade e autonomia das pessoas e não a
reprodução de discursos (LARENTIS, 2012).
Conhecer o perfil das pessoas atendidas nos CAPSad permite que as
intervenções sejam focadas na realidade e nas demandas da população atendida. A
atenção psicossocial realizada nos CAPSad deve ser avaliada de modo contínuo no
processo de pensar as práticas e recriá-las, com a finalidade de aprimorar as ações,
desenvolvendo as atividades clínicas em busca de atender às necessidades
(TREVISAN, 2019).

3.3 O Hospital Dia e o contexto dos transtornos por uso de substâncias

O começo do consumo de substâncias pode ocorrer por diversos motivos como:


hedonismo, curiosidade, alívio da dor e sofrimento que, geralmente, persistem após
a dependência, e também, o desejo de vivenciar novas experiências. As
experiências por consequência do consumo de substâncias podem causar
autodestruição, e também alterações comportamentais como: violência, indiferença,
isolamento e desprezo. O uso excessivo dessas substâncias pode causar
dependência química, consequência da relação patológica entre um indivíduo e uma
21

substância psicoativa. À utilização de drogas psicotrópicas também é outro


problema, assim como à existência de outras doenças psiquiátricas em dependentes
de drogas (SCHEFFER, 2009).
O vício ou dependência em substâncias psicoativas é um distúrbio
neuropsiquiátrico caracterizado por um desejo recorrente de continuar usando a
droga, apesar das consequências prejudiciais. Por isso, a dependência de
substâncias está relacionada a fatores biológicos, sociais e psicológicos, das quais
as repercussões negativas na saúde e na família do usuário não o impedem de
continuar o uso, gerando o uso continuo e certa tolerância, abstinência e
comportamento compulsivo de consumo da droga. Dentre essas substâncias
destacamos o álcool, psicofármacos, cocaína, crack e maconha (SCHLINDWEIN-
ZANINI, 2019).
É importante que o tratamento seja o individualizado como um todo, para que
sejam identificados os sintomas, os motivos que levam ao abuso de dependência,
questões familiares e psíquicas. Para que sejam desenvolvidas estratégias para
diminuir a disponibilidade de drogas, promover e cultivar propostas de apoio social
quebrando estigmas e desenvolvendo o autocontrole para que o indivíduo consiga a
abstinência e, nos casos onde a abstinência não obtém sucesso, desenvolver um
possível substituto com efeitos menos ofensivos (SILVA et. al, 2018).
No panorama do movimento da Reforma Psiquiátrica, o Programa Hospital-Dia
foi implementado a partir desse movimento, compreendendo o usuário como
cidadão, dando outro aspecto ao sofrimento psíquico por meio de uma clínica que,
em uma dimensão transdisciplinar, leva também em consideração as questões
éticas, sociais, culturais e políticas que ultrapassam a prática psiquiátrica e a
medicalização. O Programa Hospital-Dia, dentro do Sistema Único de Saúde, é uma
das propostas para outro agenciamento social da loucura, diferente do modelo da
cultura manicomial com práticas em saúde que podem levar à condição de exclusão
e de estigma social (GUARESCHI et. al, 2008).
O Hospital-dia (HD) é o regime de assistência que está entre a internação e o
atendimento ambulatorial. Para a realização de procedimentos clínicos, cirúrgicos,
diagnósticos e terapêuticos, o Hospital-dia é mais indicado quando a permanência
do paciente na unidade é requerida por um período máximo de 12 horas. O Hospital
Dia Psiquiátrico é um serviço de reabilitação e suporte psicoemocional para pessoas
com limitações funcionais decorrentes dos transtornos mentais, pessoas com
22

Transtornos por Uso de Substâncias (TUS), bem como dificuldades de reinserção e


readaptação ao ambiente sociofamiliar (SUPLEMENTAR, 2021, np).
O Hospital Dia Vida Nova está localizado no município de Ilhéus-BA, foi
fundado em 2011 para fins terapêuticos. Tem como missão promover atendimento
hospitalar qualificado por meio de um atendimento humanizado, com profissionais
que mantém o compromisso de fazer do Vida Nova uma referência na área de
saúde mental. São realizadas Internações voluntárias e involuntárias, tem uma
metodologia multidisciplinar e integrada, a equipe busca o acolhimento humanizado
como prioridade no processo terapêutico, buscando dos pacientes a confiabilidade
mútua que é imprescindível para o tratamento (NOVA, 2021).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar das dificuldades impostas pelo ambiente virtual, o estágio nos agrega
conhecimento e uma visão ampliada da importância do psicólogo dentro de Unidade
de Saúde Mental. O psicólogo dentro dos estabelecimentos de saúde tem papel
fundamental na realização da educação, promoção e prevenção em saúde,
principalmente, quando se trata de saúde mental, onde muitos se sentem
estigmatizados e culturalmente são excluídos da sociedade.
Em nosso município, encontramos psicólogos em unidades especializadas
em saúde mental, por exemplo, os CAPS, hospitais, porém ainda não encontramos
psicólogos em Unidades Básicas de Saúde. Durante o estágio, as leituras dos textos
e as práticas, compreendemos que é de fundamental importância a atuação direta
do psicólogo, juntamente com a equipe multiprofissional, no dia-a-dia dos
estabelecimentos de Saúde para a promoção e prevenção em saúde.
Estagiar em uma instituição de saúde mental e interagir com adictos, nos traz
um grande aproveitamento e aprendizado, já que processo de recuperação e
reinserção na sociedade é bastante complexo. As dificuldades encontradas muitas
vezes foi o ambiente virtual, como por exemplo, as dificuldades de internet e
interação com os pacientes, problemas que estão fora do nosso alcance, mas nos
adequamos a é essa realidade e demos continuidade de maneira satisfatória.
Como o estágio foi realizado de forma híbrida, os encontros feitos pela
plataforma Teams e Google Meet, foram bastante proveitosos e agregaram
23

conhecimentos não vistos antes. A prática e a atuação em campo foram de


fundamental importância para nossa aprendizagem, estar em contato com o público
e dentro da instituição observando o dia-a-dia de como é a dinâmica dentro do
estabelecimento, nos trouxe ainda mais bagagem para os próximos estágios.
24

REFERÊNCIAS

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