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INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

Elaine Pizato
Hudson Andrey Correa da Costa
Paula Emely Cabral Torres
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Reitor Prof. José Pio Martins
Pró-Reitor Prof. Carlos Longo
Coordenação Geral de EAD Prof. Everton Renaud
Coordenação de Metodologia e Tecnologia Profa. Roberta Galon Silva
Autoria Profa. Elaine Pizato
Prof. Hudson Andrey Correa da Costa
Profa. Paula Emely Cabral Torres
Parecer Técnico Profa. Solange Fernandes
Supervisão Editorial Felipe Guedes Antunes
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Sumário

CAPÍTULO 1 - O QUE É SERVIÇO SOCIAL? 7

Objetivos do capítulo 13

Tópicos de estudo 13

Contextualizando o cenário 14

1.1 Serviço Social: afinal do que se trata? 14


1.1.1 Significado sócio-histórico da profissão no Brasil 14
1.1.2 Trajetória histórica dos profissionais de Serviço Social 17
1.1.3 Funções do assistente social 21

1.2 Perfil profissional do Assistente social e instituições 22


1.2.1 Requisitos e prerrogativas para um Assistente Social 23
1.2.2 Principais características do Assistente Social no Brasil 24
1.2.3 Distribuição dos profissionais nos Estados 25
1.2.4 Instituições empregadoras de assistentes sociais no Brasil 26

1.3 Serviço Social, assistência social e assistencialismo 28


1.3.1 Serviço Social: curso que forma Assistente Social 28
1.3.2 Assistência Social: política pública 29
1.3.3 Assistencialismo: prática voluntária e subalterna 31

1.4 Fatores relacionados à profissão 31


1.4.1 Piso e média salarial 31
1.4.2 Carga horária 32

Proposta de atividade 33

Recapitulando 33

Referências 33
CAPÍTULO 2 – LEGISLAÇÕES, ENTIDADES E PROJETO
PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL 35

Objetivos do capítulo 36

Tópicos de estudo 36

Contextualizando o cenário 36

2.1 Legislação e Código de Ética do Assistente Social 37


2.1.1 Lei n. 3252/1957 e Decreto 994/1962 37
2.1.2 A construção de uma ética profissional: de 1947 a 1993 39
2.1.3 Os diversos códigos de ética e suas principais diferenças 41
2.1.4 Competências e atribuições privativas da/o assistente social 44

2.2. Projeto Ético-Político do Serviço Social 45


2.2.1 A Liberdade como valor ético central 46
2.2.2 A democracia como valor a ser defendido 47
2.2.3 A justiça social como valor a ser alcançado 48
2.2.4 Qual a sociedade que queremos construir? 49

2.3 Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS)


e Executiva Nacional de Estudantes em Serviço Social (ENESSO) 50
2.3.1 A criação da ABEPSS e o projeto de formação profissional 51
2.3.2 Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social 53
2.3.3 Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS/ENESSO) 54
2.3.4 Encontros de estudantes (locais, regionais e nacional) 55

2.4 Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e


Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) 56
2.4.1 CFESS: uma autarquia a serviço da profissão 56
2.4.2 CRESS: orientação e fiscalização do exercício profissional 57
2.4.3 Anuidades e assembleia da categoria 58
2.4.4 Sindicatos dos Assistentes Sociais e atuação nos Estados 58

Proposta de atividade 59

Recapitulando 59

Referências 60
CAPÍTULO 3 - ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS
DO SERVIÇO SOCIAL 63

Objetivos do capítulo 64

Tópicos de estudo 64

Contextualizando o cenário 64

3.1 Serviço Social no setor público 64


3.1.1 Atuação profissional em prefeituras e os serviços diretos à população 65
3.1.2 Atuação profissional nos setores estaduais 66
3.1.3 Atuação profissional em autarquias e fundações estatais 67

3.2 Serviço Social no setor privado 68


3.2.1 Atuação profissional em empresas 69
3.2.2 Atuação dos assistentes sociais em instituições financeiras 71
3.2.3 Atuação do assistente social como consultor e assessor 71
3.2.4 O Assistente Social e o exercício do magistério 73

3.3 Serviço Social no Terceiro Setor 74


3.3.1 Atuação em organizações não governamentais 74
3.3.2 Atuação em fundações beneficentes e clubes sociais 75
3.3.3. Atuação em entidades filantrópicas 77

3.4 Serviço Social e múltiplos espaços socioinstitucionais 78


3.4.1. Serviço Social e meio ambiente 78
3.4.2. Serviço Social e clubes esportivos 81
3.4.3. Serviço Social e movimentos sociais 82

Proposta de atividade 83

Recapitulando 83

Referências 84

CAPÍTULO 4 - O SERVIÇO SOCIAL NA ATUALIDADE 86

Objetivos do capítulo 87

Tópicos de estudo 87

Contextualizando o cenário 87
4.1 Panorama da profissão: atuação e desafios 88
4.1.1 Serviço Social: 80 anos de atuação no Brasil 88
4.1.2 Informatização dos instrumentos e ferramentas de trabalho 91
4.1.3 Desafios dos trabalhos em equipes multidisciplinares 92

4.2 Serviço Social: avanços e conquistas 94


4.2.1 A produção teórica-científica e o reconhecimento mundial 96
4.2.2 Congressos brasileiros de assistentes sociais 97
4.2.3 Reivindicações atuais da categoria profissional 98

4.3 Desafios contemporâneos 100


4.3.1 Serviço Social e Direitos Humanos 100
4.3.2 Articulações das redes de proteção (notificações obrigatórias) 102
4.3.3 Trabalho com processos migratórios 103
4.3.4 Residência multiprofissional em Serviço Social
(saúde e assistência social) 105

4.4 O Serviço Social chega ao novo milênio 106


4.4.1 Transformações societárias do século XXI 106
4.4.2 Atualizações no processo de formação profissional 108
4.4.3 Exigência de um novo perfil profissional e o mercado de trabalho 108

Proposta de atividade 110

Recapitulando 111

Referências 111
INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

CAPÍTULO 1 - O QUE É SERVIÇO SOCIAL?


Hudson Andrey Correa da Costa

7
Compreenda seu livro: Metodologia
Caro aluno,

A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o


desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunicação
bidirecional entre os atores educacionais.

O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendizagem que busca direcionar
a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da contextualização teórica-prática e das atividades
individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos:

• valorizar suas experiências;


• incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento;
• estimular a pesquisa;
• oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados.

Compreenda seu livro: Percurso


Com base nessa metodologia, o livro apresenta os itens descritos abaixo. Navegue no recurso para conhecê-los.

1. Objetivos do capítulo
Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessidades de
aprendizagem do seu curso.

2. Tópicos que serão estudados


Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo.

3. Contextualizando o cenário
Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto,
relacionando teoria e prática.

4. Pergunta norteadora
Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário
apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica.

5. Pausa para refletir

São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo.

6. Boxes
São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um
contexto, dicas, curiosidades etc.

7. Proposta de atividade
Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e sistematize o que aprendeu no capítulo.

8. Recapitulando
É o fechamento do capítulo. Visa sintetizar o que foi abordado, retomando os objetivos do capítulo, a pergunta
norteadora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo.

8
9. Referências bibliográficas
São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencionadas nos boxes, adequadas ao Projeto
Pedagógico do curso.

Boxes
Navegue no recurso abaixo para conhecer os boxes de conteúdo utilizados.

Afirmação
Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo.

Assista
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o
conteúdo estudado.

Biografia
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo
abordado.

Contexto
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e
cultural do assunto.

Curiosidade
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado.

9
Dica
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o
conteúdo trabalhado.

Esclarecimento
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada.

Exemplo
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática.

Apresentação da disciplina
A disciplina de Introdução ao Serviço Social perpassa pela gênese dessa profissão, apontando suas características
até a realidade contemporâneas. Assim, esse primeiro contato com os fundamentos da profissão proporcionará a
você, estudante, os conhecimentos teóricos-metodológicos, ético-político e técnico- operativo para entender o
Serviço Social desde sua origem no Brasil.

Para tanto, iremos compreender as dimensões históricas para sua construção, assim como as exigências
profissionais que levaram às atuais mudanças no perfil profissional com relação a sua gênese no Brasil. Traremos,
também, reflexões sobre os diversos espaços ocupacionais, bem como as legislações específicas normatizadas
pelas entidades representativas do Serviço Social no Brasil.

Assim, convidamos você, aluno, a mergulhar nas bases históricas, teóricas e metodológicas do Serviço Social,
refletindo sobre suas peculiaridades e sua importância no cenário contemporâneo, principalmente, nas políticas
sociais. É por meio destas políticas que a profissão vem historicamente atuando na ampliação dos canais de acesso
aos serviços e bens socialmente produzidos, lutando pela garantia de direitos e pela ampliação da cidadania.

Desejamos que essa jornada na graduação seja repleta de conquistas através do compromisso com uma formação
crítica, desenvolvendo saberes nas dimensões teórico, histórico, interventiva, investigativa, ético e política.

Bons estudos!

A autoria

Elaine Pizato

A Professora Elaine Pizato é Mestra em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE,
Campus de Toledo. Especialista em Gestão Social: Políticas Públicas, Redes e Defesa de Direitos, pela Universidade
Norte do Paraná – UNOPAR, Polo de São Lourenço do Oeste (SC). Graduada em Serviço Social pela Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus de Toledo.

Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/6333557061969793>.

10
Aos meus professores e à Unioeste Campus de Toledo; aos familiares e amigos.

Hudson Andrey Correa da Costa

O Professor Hudson Andrey Correa da Costa é Mestre em Serviço Social e Sustentabilidade pela Universidade
Federal do Amazonas – UFAM. É especialista em Gestão e Planejamento em Políticas Públicas pelo Centro
Universitário do Norte- UNINORTE. Graduado em Serviço Social pela Faculdade Salesiana Dom Bosco, é docente do
Curso de Serviço Social, com experiência nas áreas de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do
Serviço Social, Pesquisa Social e Políticas Sociais. Atua tanto nos cursos de graduação como nos cursos de pós-
graduação, orientando alunos em trabalhos de conclusão de curso e dando oficinas da prática profissional em
projetos de extensão universitária.

Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/5199532147631888>.

11
Dedico a todas as pessoas que, por meio da educação, procuram criar um mundo mais justo e fraterno, e que, mesmo
cansadas, nunca param de sonhar por dias melhores.

Paula Emely Cabral Torres Santos

A Professora Paula Emely Cabral Torres Santos é especialista em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça
pela Universidade Federal do Espírito Santos (UFES) e Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal
Fluminense (UFF).

Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/7158300139517796>.

12
Aos meus eternos professores, pois foi através do conhecimento compartilhado com seriedade, carinho e dedicação
que pude me tornar a profissional que sou. Ao meu marido, que sempre dedicou seu tempo para contribuir com o meu
crescimento pessoal e profissional.

Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Compreender as bases do surgimento da profissão de Serviço Social;
• Entender qual é o objeto de trabalho do Serviço Social;
• Reconhecer as atribuições e o perfil profissional da/o Assistente Social.

Tópicos de estudo
• Serviço Social: afinal do que se trata?
• Significado sócio histórico da profissão no Brasil
• Trajetória histórica dos profissionais de Serviço Social
• Funções do Assistente Social
• Perfil profissional do Assistente Social e instituições
• Requisitos e prerrogativas para um Assistente Social
• Principais características do Assistente Social no Brasil
• Distribuição dos profissionais nos Estados
• Instituições empregadoras de assistentes sociais no Brasil
• Serviço Social, Assistência Social e Assistencialismo
• Serviço Social: curso que forma Assistente Social
• Assistência Social: política pública

13
• Assistencialismo: prática voluntária
• Fatores relacionados à profissão
• Piso e média salarial
• Carga horária

Contextualizando o cenário
O Serviço Social, por se inscrever nas relações sociais da sociedade, exige posicionamentos que garantam a luta e
defesa dos direitos legalmente estabelecidos pelas legislações sociais. Para tanto, esses posicionamentos devem
incluir as lutas por inclusão, ampliação e manutenção dos direitos humanos, sociais, culturais, ambientais, sexuais,
reprodutivos, entre outros.

Nesse contexto, o profissional de Serviço Social é essencial em diversos espaços ocupacionais, uma vez que ele
pode exercer uma postura interventiva quanto às questões sociais. Portanto, essa profissão exige conhecimentos
teóricos e metodológicos aprofundados para que seja possível desempenhar as atividades inerentes a ela.

Dito isso, quais os fundamentos sócio-históricos do Serviço Social no Brasil e qual seu significado social?

1.1 Serviço Social: afinal do que se trata?


A reorganização do Capitalismo, ou seja, o aparecimento das empresas transnacionais e a divisão internacional do
trabalho, bem como a intervenção dos Estados Nacionais na expansão, manutenção e reprodução social da força
de trabalho, fez com que as expressões da “questão social” se intensificassem.

Assim, com a organização política da classe trabalhadora, o Estado é forçado a reconhecer a questão social dentro
da relação capital e trabalho e, a partir disso, legitima o Serviço Social como uma profissão socialmente necessária.

O Serviço Social, então, se desenvolve e se legitima a partir da intervenção do Estado frente às expressões da
questão social da sociedade capitalista. Nesse contexto, políticas sociais surgem para diminuir as desigualdades
que decorrem desse sistema e servem de base para a atuação do assistente social.

Dito isso, nos próximos tópicos entenderemos como se deu esse processo histórico de formação do serviço social,
dando ênfase para sua gênese no contexto brasileiro.

1.1.1 Significado sócio-histórico da profissão no Brasil

O entendimento social e histórico do Serviço Social perpassa por diversas concepções e entendimentos que vão
desde a evolução da caridade até as modernas relações de produção e reprodução social da sociedade capitalista.

Primeiramente, para entendermos a origem da concepção do Serviço Social, em uma perspectiva endógena (de
dentro da profissão), é preciso compreender o pensamento social da Igreja Católica, que profissionalizou a
caridade a partir das encíclicas papais. Essas encíclicas - RerumNovarum (1891) e Quadragésimo Anno (1931) – se
baseavam no contexto social do capitalismo, mas abordavam a questão social e a luta contra a desigualdade a
partir do viés da justiça e da caridade cristã. Dessa forma, o discurso social continha forte apelo à transformação
moral das pessoas, o que influenciou a formação profissional das primeiras assistentes sociais caracterizou, assim,
a primeira fase do Serviço Social no Brasil (IAMAMOTO, 2005).

14
Fonte: © Casimiro PT / / Shutterstock (adaptado)

Já a visão exógena do Serviço Social (de fora da profissão) se dá no contexto de expansão do capitalismo:
Capitalismo Monopolista. Tal fase se caracteriza pelo reconhecimento social da profissão mediante a busca
incessante por sua legitimidade social, técnica e cientifica. Esse contexto influenciou a formação dos assistentes
sociais no Brasil, aproximando-se da teoria positivista e apresentando forte apelo às metodologias específicas com
ênfase no tecnicismo estadunidense.

A teoria positivista se preocupava em moldar o comportamento dos indivíduos aos valores, comportamentos e à
moral estabelecida pela sociedade capitalista, entendendo que sua condição de vida se devia a sua própria
incapacidade de gerir e fortalecer sua sobrevivência na sociedade. Assim, essa corrente culpava o indivíduo por
seus problemas sociais.

Pode-se dizer, portanto, que a profissionalização dos agentes de Serviço Social, nos Estados Unidos e no Brasil, se
dá no contexto de intervenção estatal diante do enfretamento da questão social, entendidas pelo positivismo
como problemáticas sociais. Os problemas sociais, então, começam a ser diagnosticados e intervenções
realizadas com ênfase, exclusivamente, no metodologismo e no tecnicismo como resposta à desigualdade social e
às demais contradições inerentes às sociedades capitalistas.

O Serviço Social, neste contexto, é imperativo ao identificar, diagnosticar e tratar os problemas individuais,
atuando numa perspectiva moralizante, higienista e psicologizante. Desse modo, a função do assistente social, na
concepção positivista, é trabalhar o comportamento do indivíduo para que ele possa ser funcional ao meio social.

15
Fonte: © Alexander Raths / / Shutterstock

Em oposição ao pensamento positivista de cunho tecnicista, a concepção sócio-histórica da profissão, que é


hegemônica atualmente junto a categoria profissional, se dá a partir perspectiva da teoria social crítica de base
marxiana. Segundo Yazbek (2009), tal concepção interpreta a gênese do Serviço Social a partir das relações
sociais na sociedade capitalista, compreendendo a inserção e o surgimento da profissão em um contexto de luta
de classe e de relações sociais de produção de interesses contraditórios e antagônicos (burguesia versus
proletariado).

Iamamoto (2005, p.76), a partir do pensamento social marxiano, aponta que o Serviço Social é uma especialização
do trabalho coletivo, uma vez que corresponde à “expressão de necessidades sociais derivadas da prática histórica
das classes sociais no ato de produzir e reproduzir os meios de vida e de trabalho de forma socialmente
determinada”.

Nasce, assim, o Serviço Social no contexto da sociedade de classe no capitalismo maduro, em que a relação social
de produção do sistema vigente acentua as expressões da questão social e fomenta o surgimento de novas
necessidades e demandas que devem ser atendidas pelo Estado por meio de políticas sociais (IAMAMOTO, 2012).
Essas demandas correspondem, por exemplo, à necessidade de reposta quanto à fome, à violência, ao
desemprego e à outros riscos e vulnerabilidades decorrentes do sistema capitalista, devendo o Estado e a classe
dominante, portanto, executar política sociais para atenuar essas expressões.

Essa concepção de tradição marxista ganhou força no Brasil no final de 1950, mas, em função da repressão do
período da ditadura civil-militar (1964-1985), só voltou a ter espaço para o debate amplo no período de luta e de
movimentos pela redemocratização no país. Nesse contexto, surgiu um movimento conhecido como Movimento
de Reconceituação, que buscava criticar o Serviço Social tradicional de influência da igreja.

16
CONTEXTO
O Movimento de Reconceituação foi um movimento que surgiu na década de 1960 e que buscava
contestar o Serviço Social tradicional ligado à Igreja. Esse movimento resultou em três grandes
outros movimentos: Modernização Conservadora, Reatualização Conservadora e Intenção de
Ruptura.

O que possibilitou a maturidade intelectual do Serviço Social na perspectiva crítica marxiana foi aumento da oferta
das pós-graduações, mestrado e doutorado, permitindo maiores investigações e produções teórico-cientificas.
Esse amadurecimento levou a uma hegemonia na categoria profissional, trazendo mudanças substanciais ao
entendimento da profissão.

Assim, pode-se dizer que o profissional de Serviço Social, na sociedade contemporânea, reconhece sua profissão
como uma prática inserida em um espaço de lutas políticas de interesses contraditórios. Para exercer tal prática,
por sua vez, percorre três dimensões essenciais. Clique nos cards a seguir para conhecê-las.

Interventiva
Prática profissional do assistente social.

Política
Entendimento que a profissão se encontra inserida nas relações sociais da sociedade capitalista.

Investigativa
Pesquisa para abstrair a realidade e suas expressões.

Essas dimensões, a partir do aporte teórico crítico, possibilitam a ampliação do campo profissional e a construção
de um projeto profissional socialmente direcionado para o projeto societário da classe trabalhadora.

Esse entendimento dos processos de (des)construção da prática profissional é essencial para compreender as
demandas contemporâneas da sociedade capitalista, bem como os desafios postos aos profissionais do Serviço
Social.

Agora, conhecido o processo de constituição do Serviço Social no Brasil, a seguir abordaremos a trajetória histórica
dos profissionais de Serviço Social, partindo das Damas da Caridade e indo até ao profissional contemporâneo
crítico e as novas competências profissionais.

1.1.2 Trajetória histórica dos profissionais de Serviço Social

O percurso histórico dos profissionais perpassa diversas perspectivas, sendo elas filosóficas, teóricas,
metodológicas, éticas e políticas. Essas perspectivas, a partir do dinamismo das forças sociais em jogo,
proporcionam mudanças significativas na condução e na visão macro da profissão. Essas mudanças se estruturam
a partir da formação profissional dos agentes sociais, tendo como base as primeiras assistentes sociais ligadas à
igreja até se chegar ao novo perfil profissional que defende a cidadania e a emancipação humana.

A formação profissional das primeiras assistentes sociais teve fundamento Tomista. Esta filosofia, apropriada pela
Igreja, reforça os pensamentos de São Tomás de Aquino, que, segundo Aguiar (2011), iluminou a teoria e a prática

17
dos assistentes sociais do Brasil entre 1936 e 1960. Esse pensamento filosófico traz a discussão da relação de Deus
com o mundo, da fé coma ciência, da teologia com a filosofia e do conhecimento com a realidade.

Fonte: © drawhunter / / Shutterstock (adaptado)

Assim, as primeiras assistentes sociais, conhecidas como Damas da Caridade, eram estreitamente ligadas à Igreja.
Essas agentes atuavam em ações assistenciais voltadas aos trabalhadores empobrecidos em um contexto de
intensos conflitos sociais que ocorreram na década de 1920 no Brasil. Estevão (1992) aponta que as Damas da
Caridade eram senhoras ligadas às instituições assistenciais com forte influência da Igreja Católica, como a
Associação das Senhoras Brasileiras, no Rio de Janeiro e a Liga das Senhoras Católicas, em São Paulo.

CONTEXTO
A década de 1920, no Brasil, foi marcada pela intensificação da luta de classe entre os operários e
a elite. Isso se deu pelo aumento da situação de miséria e de extrema pobreza da classe
trabalhadora, bem como pela forma de enfrentamento do Estado frente as expressões da
Questão Social.

Nesse contexto, a Igreja Católica funda o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), que implementa o primeiro Curso
Intensivo de Formação Social para Moças. As primeiras assistentes sociais, segundo Iamamoto (2005, p.169), eram
formadas por “jovens formadas nos estabelecimentos religiosos de ensino, representativa expressão feminina das

18
famílias que compõem as diversas frações das classes dominantes e setores abastados aliados”. Tais moças
pertenciam à famílias de grande poder e riqueza e exerciam um papel essencial de caridade cristã aos “menos
afortunados”.

Já entre as décadas de 1940 e 1960, o perfil profissional modifica-se a partir do deslocamento da formação
profissional dos assistentes sociais da Igreja Católica para o Estado. Esse deslocamento deu-se pela inserção do
Estado frente à questão social e pela necessidade de profissionalização e instrumentalização da profissão para
atender as demandas do próprio capital. Nesse sentido, o perfil das assistentes sociais desloca-se das moças
ligadas aos princípios religiosos para um perfil mais especializado e mais técnico, com forte inserção das camadas
da classe média paulista e carioca.

Esse deslocamento ocasionou mudanças consideráveis na visão dos profissionais e na atuação das assistentes
sociais, provocando novas formas de intervenção social de caso, de grupo e de comunidade. É importante ressaltar
que essas mudanças tiveram forte influência de Mary Richmond, nos Estados Unidos, enquanto que no Brasil,
Balbina Ottoni contribui para esse processo.

Costa (2017) assinala que Mary Richmond, assistente social norte americana (EUA), é uma grande referência para o
Serviço Social, sendo responsável pela criação do "Serviço Social de Caso". Dessa forma, ela foi de extrema
importância para que o Serviço Social adotasse as primeiras técnicas de intervenção junto ao indivíduo social,
ainda que tais intervenções fossem baseadas no viés funcionalista e positivista. Ela instaurou no Serviço Social o
chamado diagnóstico social, que foi o primeiro método de abordagem do Serviço Social.

Clique nos termos abaixo para compreender as diferentes influências sofridas pelo Serviço Social de caso, de grupo
e de comunidade.

Pode-se dizer que o Serviço Social de Caso teve influência da psicologia, da psiquiatria e da
medicina, buscando trabalhar a dimensão subjetiva dos indivíduos “desajustados” da
Serviço Social
sociedade, ou seja, dos indivíduos que se encontravam fora dos padrões determinados pela
de Caso sociedade. O profissional de Serviço Social, nesse sentido, tinha o importante papel de
trabalhar o comportamento e os fatores morais dos indivíduos.

O Serviço Social de Grupo sofreu influência da sociologia positivista, acreditando que seria
Serviço Social
mais fácil o enfrentamento de “problemáticas sociais” por meio de trabalhos em grupo com
de Grupo pessoas que apresentavam os mesmos “desajustamentos”.

Serviço Social O Serviço Social de Comunidade teve influência da ideologia desenvolvimentista, e


d e incentivava os comunitários de um determinado território a identificar suas dificuldades
Comunidade para pensarem em soluções a partir de ações endógenas.

Esse novo perfil técnico profissional, embasado na teoria positivista e com forte apelo ao “ajustamento do
indivíduo”, fomenta uma prática mais tecnicista-burocrata. Porém, essa nova forma de encarar a profissão começa
a limitar a explicação das situações de desigualdades vivenciadas pela grande parcela da população trabalhadora,
o que ocasiona em novas formas de tentar explicar e intervir na realidade de desigualdade brasileira.

No final da década de 1960, então, ainda nesse contexto positivista, o entendimento do Serviço Social passa a se
aproximar do pensamento marxista, especialmente com o Movimento de Reconceituação. Essa aproximação, no
entanto, se deu de forma equivocada, uma vez que partiu de autores que pertenciam a diferentes correntes
marxistas e imprimiam interpretações livres a teoria de Karl Marx. Isso ocasionou, em um primeiro momento, em

19
uma compreensão reducionista sobre o pensamento marxista. A Influência desse período sobre os profissionais
resultou, portanto, em ações radicais e em posicionamento equivocados, limitando o entendimento da profissão
na sociedade capitalista.

O amadurecimento intelectual dos assistentes sociais, quanto ao papel de intervenção na sociedade capitalista,
veio, então, a partir de uma somatória de acontecimentos, especialmente a partir de 1970 e 1980. Esse período,
denominado por Iamamoto (2007) de período fértil do Serviço Social, foi possível a partir dos conhecimentos
adquiridos entre as décadas de 1930 e 1960, bem como a partir do movimento de Reconceituação e do próprio
movimento da sociedade, levando os profissionais da área a se aprofundarem na tradição marxiana. Esse período
fortaleceu, então, a concepção crítica, política e teórica da profissão quanto sua história e a sua inserção na
sociedade capitalista.

A teoria social de Marx, portanto, revolucionou o olhar do assistente social na sociedade, especialmente sobre o
sistema capitalista e sobre a questão social. Essa nova perspectiva impulsionou, ainda, a formulação de um projeto
ético-político do Serviço Social calcado na defesa dos direitos da classe trabalhadora, bem como orientou a
formação e prática profissional na contemporaneidade. Portanto, pode-se dizer que a teoria social de Marx orienta
a prática profissional do Assistente Social até os dias atuais.

Fonte: © Nicku / / Shutterstock.

Assim, pode-se dizer que o perfil profissional de Serviço Social na contemporaneidade exige a capacidade de
entender a realidade de desigualdades e de encontrar estratégias de intervenção, garantindo, assim, a defesa dos

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direitos sociais e a ampliação da cidadania. Essas intervenções devem acontecer por meio de políticas públicas que
incentivem a participação da população na gestão social do Estado e nas decisões que interferem diretamente na
vida dos cidadãos brasileiros.

Pausa para refletir: Quais os processos históricos podem ter contribuído para as mudanças de concepção
teórica positivista para marxista na profissão de serviço social?
Conhecida a evolução sócio-histórica do Serviço Social, as seguir iremos abordar as diversas funções do
profissional dessa área frente as questões sociais, além de sua participação nos mais diversos espaços
ocupacionais e institucionais.

1.1.3 Funções do assistente social

O Serviço Social acumula diversas funções que vão desde as tradicionais até as mais contemporâneas. As funções
tradicionais estão relacionas ao trabalho institucional com a população na oferta de serviços sociais. Essa função
de atendimento especializado à população acompanha a profissão desde sua gênese e corresponde à serviços
como visitas domiciliares, atendimentos, encaminhamentos, administração dos serviços sociais, concessão de
benefícios, entre outras atividades.

Fonte: © Szepy / / iStock

Já as funções que começaram a surgir a partir do ano de 1980, advindo do pensamento crítico marxiano e das
mudanças ocasionadas no mundo do trabalho, ampliaram as funções sociais do assistente social. Isto porque, com
o aumento dos programas de pós-graduações stricto senso - mestrado e de doutorado -, a produção de
conhecimento sobre área se intensificou, possibilitando maiores discussões sobre política pública, direitos
humanos e sociais, luta de classe e, também, sobre a própria formação profissional.

Clique nos termos a seguir e conheça mais sobre as diferentes funções do assistente social.

Docência
A dimensão investigativa da profissão abriu caminho para a formação de docentes do curso de Serviço Social.
Assim, a docência permite mais um espaço ocupacional para o profissional, sendo reconhecida pela Lei 8.662 de

21
1993. Como requisito para ministrar as disciplinas específicas na área profissional, no entanto, exige-se que o
docente seja assistente social com número de registro profissional ativo no Conselho Regional de Serviço Social
(CRESS).

Gestão Social Pública


O profissional de Serviço Social exerce função na Gestão Social Pública, mais especificamente nas áreas de
formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Nesse ambiente, o assistente social, com seu
conhecimento especializado, contribui para o fortalecimento das políticas públicas e também para a
administração e coordenação de instituições públicas nas diversas áreas das políticas sociais.

Terceiro Setor
No terceiro setor, a função do assistente social, além de requerer o atendimento direto aos usuários dos serviços,
também requer conhecimento apurado sobre planejamento, elaboração, captação e execução de projetos sociais.
Isto porque grande parte das instituições do Terceiro Setor mantém suas atividades a partir do financiamento dos
projetos sociais apresentados aos diversos organismos internacionais, nacionais e estatais. Esse conhecimento,
nessa área, é essencial para o profissional nesse ramo de trabalho.

Assessoria e consultoria
A área de assessoria e consultoria é um campo que, desde 1957, reconhece legalmente os assistentes sociais como
profissionais liberais. A partir da Lei 3.252 de 1957, então, o profissional na área da assessoria e consultoria passa
colocar todo o seu arsenal teórico, técnico e metodológico à disposição dos mais diversos projetos, programas e
ações nas mais diversas áreas.

Analista Social
A função de Analista Social, por sua vez, corresponde a uma exigência profissional contemporânea. Essa função
envolve o estudo das expressões da questão social que requerem posicionamento e opiniões técnicas, como o
parecer para um determinado acesso aos direitos sociais, devendo ser fundamentadas na legislação social da
profissão e no projeto ético político do assistente social.

Essas funções representam apenas uma das diversas possibilidades de atribuição ao assistente social na
contemporaneidade, ampliando os espaços ocupacionais para o profissional e exigindo novas habilidades e
competências. Assim, o significado social e histórico da profissão e suas tendências contemporâneas trazem
exigências e desafios, o que requer constantes pesquisas e estudos para decifrar e intervir na realidade que se
encontra em permanente mudança.

Essas demandas exigem do profissional um perfil proativo bem como uma capacidade de decifrar os diversos
espaços institucionais que influenciam diretamente seu fazer profissional. Desse modo, a seguir compreenderemos
mais sobre esses aspectos.

1.2 Perfil profissional do Assistente social e instituições


Como vimos nos tópicos anteriores, entender o processo do significado social e histórico da profissão é essencial
para compreender o processo dinâmico societário e os constantes desafios e esforços de decifrar a realidade no
cenário brasileiro.

Agora, para poder fazer a diferença nesse cenário, é preciso profissionais capacitados e engajados que trabalhem
em prol da sociedade. Desse modo, a seguir, compreenderemos quem são esses profissionais, onde se encontram,
além de onde e como atuam nas mais diversas áreas.

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Além disso, estudaremos os principais requisitos para tornar-se assistente social, bem como suas principais
características no Brasil. Também veremos como as instituições empregadoras desses profissionais atuam nos
diversos espaços ocupacionais. Acompanhe!

1.2.1 Requisitos e prerrogativas para um Assistente Social

No exercício profissional do assistente social, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e Conselho Regional de
Serviço Social (CRESS) - instituições que representam, normatizam e fiscalizam o exercício profissional -aponta os
requisitos necessários para o exercício profissional e as prerrogativas, que são as atribuições privativas do
assistente social.

A Lei 8.662 de 7 de junho de 1993, que dispõe sobre a profissão de Assistente Social, aponta algumas condições
necessárias e primordiais para esse exercício profissional. Diferente do senso comum sobre a profissão, a pessoa
formada em Serviço Social só poderá exercer a profissão se comprovadamente apresentar diploma de nível
superior de graduação em Serviço Social, reconhecido pelo MEC e, obrigatoriamente, apresentar inscrição prévia
no CRESS da região.

Assim, o direito ao exercício profissional se dá apenas quando o bacharel de Serviço Social realiza sua inscrição no
Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) da região e mantem-se adimplente com as obrigações das anuidades.
Caso contrário, o formado em Serviço Social é apenas bacharel, o que não lhe dá o direito de se identificar como
assistente social e nem de exercer a profissão.

Fonte: © LysenkoAlexander / / iStock.

Quanto às prerrogativas do Assistente Social, a Resolução do CFESS nº 273/93 que institui o Código de Ética, prevê
algumas atribuições privativas e direitos no exercício profissional. Clique nos ícones a seguir para conferir.

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Livre exercício da profissão.

Inviolabilidade do seu local de trabalho e dos seus documentos.

Aprimoramento profissional de forma contínua.

Ampla autonomia profissional, não sendo obrigado a realizar ações que não estejam de acordo com suas
competências, habilidades e com seu código de ética.

Por fim, conhecer as prerrogativas e os requisitos para atuar como assistente social no Brasil possibilita o
entendimento com maior profundidade da profissão de Serviço Social. No próximo tópico, então, iremos conhecer
as principais características desses profissionais no Brasil.

Pausa para refletir: Quais os desafios postos ao assistente social contemporâneo, levando em consideração
as prerrogativas de garantir o acesso à cidadania a todas as pessoas?

1.2.2 Principais características do Assistente Social no Brasil

Um estudo sobre o perfil profissional do assistente social no Brasil, realizado pelo Conselho Federal de Serviço
Social (CRESS), em 2005, aponta que a profissão é predominantemente composta por mulheres (97%). Isso não
significa que a profissão seja voltada exclusivamente ao público feminino, porém, historicamente, se configura
como uma profissão que tem poucas pessoas do sexo masculino participando.

Fonte: © DGLimages / / iStock.

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A faixa etária das profissionais em nível nacional encontra-se concentrada na faixa entre 35 a 44 anos, com religião
predominantemente católica (67%). Quanto ao perfil étnico-racial, 72% das pessoas se autodeclararam brancas e
20% se declararam pretas/negras (CFESS, 2005).

Quanto ao vínculo empregatício dos profissionais nas diversas instituições, a pesquisa do CFESS (2005) aponta os
seguintes dados:

Porcentagem do número de assistentes sociais segundo o vínculo empregatício.


Fonte: CFESS, 2005, p.28

Perante o gráfico apresentado, pode-se perceber que, no Brasil, os profissionais de Serviço Social atuam,
predominantemente, no setor público (Estatuário). O setor privado (Celetista), por sua vez, é segunda área que
mais emprega. Já o contrato temporário é a terceira área que mais emprega, correspondendo à atuação
profissional em projetos sociais até o termino da execução das atividades. E, por fim, também com atuação
significante perante às outras áreas, tem-se os serviços prestados, que correspondem à assessoria e consultoria
para atuar em assuntos mais especializados e de conhecimento técnico.

Conhecidas as principais características dos profissionais no Brasil, as seguir iremos conhecer o quantitativo de
profissionais nos diversos Estados.

1.2.3 Distribuição dos profissionais nos Estados

Os profissionais de Serviço Social encontram-se distribuídos no Brasil a partir dos seus Conselhos Regionais. São
mais de 90 mil assistentes sociais inscritos ativamente em seus Conselhos Regionais, em 27diferentes CRESS e 22
Seccionais de Bases Estaduais (CFESS, 2018).

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Observe a figura a seguir que ilustra as 27 CRESS nas cinco regiões do Brasil.

Distribuição dos CRESS por Estado e Região


Fonte: CFESS, 2018, [n.p.]

Em relação ao número de profissionais por região, o Sudeste concentra 52% dos profissionais, seguida do Nordeste
(23%), Sul (13%), Norte (6%) e Centro-Oeste (6%). Enquanto que os estados que mais contam com assistentes
sociais com suas inscrições ativas junto aos Conselhos são: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio
Grande do Sul, que juntos concentram 61% dos profissionais. (CFESS, 2005)

No próximo tópico iremos conhecer as principais instituições empregadores dos assistentes sociais.

1.2.4 Instituições empregadoras de assistentes sociais no Brasil

No início do Serviço Social no Brasil, a atuação profissional dava-se, principalmente, em instituições confessionais
ligadas à Igreja Católica. Contudo, desde o reconhecimento social da profissão por parte do Estado, ele mesmo se
tornou um dos maiores empregadores dos assistentes sociais.

Como vimos anteriormente, o Setor Público é a área que mais emprega assistentes sociais no Brasil e, como
veremos no gráfico a seguir a esfera municipal é mais participativa, uma vez que a maioria das políticas públicas
são operacionalizadas pelas gestões municipais.

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Percentual de ocupação dos assistentes sociais por instituição empregadora no Brasil
Fonte: CFEES, 2005, p. 26

Após observar o gráfico, pode-se perceber que a segunda área que mais emprega assistentes sociais no Brasil é o
setor privado. Tradicionalmente, esse é um espaço ocupacional que requisita os serviços deste profissional para
atuar na administração dos serviços sociais oferecidos aos trabalhadores ligados à empresa.

Fonte: © Rawpixel / / iStock.

27
Outro setor que desponta e torna-se um espaço ocupacional para o assistente social, principalmente a partir de
1990, é o setor da Organização da Sociedade Civil (OSC), mais conhecido como Terceiro Setor. Essa área requisita o
profissional para atuar na execução das ações pertinentes à profissão e também ao processo de elaboração,
execução e captação de recursos para projetos sociais.

1.3 Serviço Social, assistência social e assistencialismo


A diferença entre Serviço Social, assistência social e assistencialismo torna-se necessário para não,
equivocadamente, conceber tais conceitos como sinônimos. Desse modo, é importante demarcar bem as
diferenças conceituais entre essas três vertentes com o intuito de fortalecer o profissional e de desmistificar a visão
social que muitas pessoas têm do Serviço Social. Portanto, nos tópicos a seguir conheceremos essas diferenças.

1.3.1 Serviço Social: curso que forma Assistente Social

O Serviço Social é curso de graduação de nível superior, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), que forma
bacharéis em Serviço Social. Suas diretrizes são estabelecidas pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social (ABEPSS).

O Curso de Serviço Social tem duração de 4 anos (8 períodos) com uma carga horária mínima de 3.460h. Portanto,
o conceito de Serviço Social remete-se ao curso que forma assistentes sociais para exercer a profissão.

A seguir, vejamos os núcleos de fundamentação da diretriz curricular de Serviço Social.

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Núcleos de fundamentação da diretriz curricular da formação profissional de Serviço Social
Fonte: ABEPSS, 1997, [n.p] (adaptado)

Como pode-se perceber, dentro de cada núcleo de fundamentação perpassa um conjunto de disciplinas, as quais
vão ao longo da formação profissional preparar os discentes para atuar na sociedade e decifrar a realidade como
bem aponta Iamamoto (2007). Neste sentido, após conhecer os fundamentos da formação profissional do
assistente social, que garante o entendimento de seu papel perante às relações sociais da sociedade capitalista, a
seguir iremos conhecer mais dois conceitos inerentes à essa profissão e também a diferença entre eles: assistência
social e assistencialismo.

1.3.2 Assistência Social: política pública

O conceito de Assistência Social está vinculado às políticas públicas. As políticas públicas correspondem aos
deveres do Estado e visam atender as demandas e necessidades da sociedade por meio de ações legais e
planejadas, com dotação orçamentária e com participação popular no processo de controle social.

29
DICA
Para maior aprofundamento sobre a política de Assistência Social, leia a Leinº 8.742 de 1993, Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS) e a Leinº 12.435 que dispõe sobre o Sistema Único de
Assistência Social (SUAS)

Nesse sentido, a Assistência Social corresponde à ação do Estado no enfrentamento à questão social na sociedade
capitalista e está garantida na Constituição Federal de 1988, nos artigos 203 e 204. Assim, pela primeira vez na
história do Brasil, a Assistência Social ganha status de política pública. Mas o que isso significa? Ao considerar a
Assistência Social como política pública, sendo incorporada à Seguridade Social, o Estado tem o dever de organizar
suas ações de assistência e, também, financiar, por meio de recursos públicos, os planos, programas, projetos,
serviços e benefícios. Esses deveres se destinam à proteção social das pessoas em situação de vulnerabilidade e
risco social, garantindo as respostas para as necessidades humanas mais primazes através do viés dos direitos e da
cidadania.

Fonte: © Mikhail Sedov / / iStock.

É importante ressaltar que a Política de Assistência Social não tem apenas o assistente social como atuante dessa
área, mas também conta com outros profissionais, como sociólogos, psicólogos, advogados, antropólogos,
terapeutas ocupacionais, estatísticos e pedagogos. Assim, esse corpo de profissionais compõe a Norma
Operacional Básica de Recurso Humanos do Sistema Único de Assistência Social (NOB –RH/SUAS), mais
conhecidos como trabalhadores do SUAS.

Nesse sentido, a profissionalização da política de Assistência Social, bem como seu reconhecimento como política
pública, vai de encontro às práticas subalternas e clientelistas encontradas no assistencialismo. Vejamos mais
sobre isso a seguir.

30
1.3.3 Assistencialismo: prática voluntária e subalterna

Outro conceito que necessita de entendimento e definição no processo de formação profissional do assistente
social é o assistencialismo. Tal conceito, na gênese da profissão, ficou relacionado à prática social das ações
confessionais de caridade da Igreja Católica, onde eram permeadas de relações de poder e de subalternidade.

Dessa forma, o conceito de assistencialismo se constrói historicamente sob a marca da ajuda, da caridade e da
subalternidade, oferecendo assistência à população que se encontra em situação de pobreza. As ações de
assistencialismo, portanto, carregam o estigma do favor e do não reconhecimento de quem recebe a ação como
sujeitos de direitos.

O assistente social, então, é um profissional capacitado para superar as ações benemerentes que marcam a gênese
da profissão, lutando pela garantia dos direitos assegurados em lei e possibilitando que as pessoas que acessam as
políticas sociais se reconheçam como sujeitos desses direitos.

Pausa para refletir: Quais os desafios para o assistente social em garantir e possibilitar a expansão da
cidadania em tempo de desmonte de políticas sociais?

1.4 Fatores relacionados à profissão


O Serviço Social, como vimos, perpassa por constantes mudanças (construção e desconstrução), sendo
continuamente desafiado a decifrar as novas realidades sociais e suas respectivas repercussões na profissão.

Nesse sentido, é importante entender que o assistente social é um trabalhador especializado e que sofre as
mudanças ocasionadas no mundo do trabalho. Assim, dentre as principais ações de mobilizações para resguardar
o ambiente e as condições de trabalho dessa categoria, iremos entender a luta pelo piso salarial e também a vitória
da categoria na promulgação da lei das 30h de trabalho. Acompanhe!

1.4.1 Piso e média salarial

Os diversos espaços ocupacionais do assistente social, muitas das vezes, não oferecem um salário condizente com
seu grau de conhecimento especializado a nível superior. Essas diferenças salariais dos profissionais se dão porque
a categoria ainda não possui um piso salarial.

O gráfico a seguir aponta a variação dos salários que os profissionais recebem. Observe.

31
Porcentagem de assistentes sociais de acordo com sua renda mensal
Fonte: CFESS, 2005, p. 31

A luta por um piso encontra-se, desde 2008, tramitando no Congresso com a PL 4022/2008 que solicita fixar o piso
salarial do Assistente social em R$ 3.720,00. Contudo, na falta de regulamentação do piso, o CFESS instituiu uma
tabela de honorários para que os profissionais (liberais) possam ter base para cobrar por trabalhos especializados.
Nessa tabela, o valor da hora é proporcional ao nível de conhecimento do profissional, indo da graduação ao
doutorado.

DICA
Para maior conhecimento dos valores cobrados na tabela de Honorários, consulte o site do
CFESS que disponibiliza a tabela de honorários que baliza o valor cobrado para profissionais
autônomos.

Portanto, a consolidação do piso salarial dos assistentes sociais ainda se encontra em processo de tramitação,
porém concomitantemente a este processo, a definição da carga horária dos profissionais representa uma vitória
para a organização da categoria. Discorreremos mais sobre isso no tópico a seguir.

1.4.2 Carga horária

Em 2008 começou a mobilização pela redução da carga horária do assistente social que se deu por duas principais
razões. A primeira corresponde ao adoecimento de profissionais que trabalhavam mais de 40 horas semanais,
lidando com diversas e exaustivas expressões da questão social diariamente. Já a segunda corresponde a
equiparação da hora do assistente social aos dos demais profissionais da área da saúde.

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O resultado da mobilização da categoria profissional para a redução da carga horária de trabalho culminou na
aprovação da Lei 12.317 de 2010, que dispõe sobre a duração de trabalho do Assistente Social. Tal lei, alterou a Lei
8.662/93 de Regulamentação da Profissão para garantir a carga horária de 30 horas semanais aos Assistentes
Sociais.

Pausa para refletir: Quanto à luta pelo piso salarial e pela redução da carga horária, por que a categoria
profissional optou por aprovar a Lei da redução da carga horária antes da Lei do Piso Salarial?

Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore uma síntese destacando as
principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir sua síntese, considere as leituras básicas e
complementares realizadas.

Recapitulando
O Serviço Social no Brasil teve sua origem ligada à Igreja, a partir da prática confessional de base filosófica Tomista
de teor humanista e caritativa, que tinha as Damas da Caridade como as primeiras agentes sociais ligadas à
profissão. No entanto, novos conhecimentos de base positivista foram incorporados ao Serviço Social, trazendo as
primeiras bases cientificas para a profissão e colocando o Estado como responsável por realizar ações assistenciais
aos indivíduos “desajustados”.

Após esses momentos, em um movimento de contestação ao Serviço Social tradicional, a profissão teve contato
com outras correntes teóricas de tradição Marxista, trazendo para o corpo profissional uma visão crítica a respeito
de seu papel frente à sociedade capitalista. A partir dessa visão, então, o Serviço Social passa a reconhecer as
expressões da questão social como matéria prima de sua prática profissional.

Assim, podemos dizer que o Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão sócio técnica do trabalho. Ela atua
nas relações sociais da sociedade de classe, permeado por interesses contraditórios e antagônicos e intervindo
diretamente na produção e reprodução social da vida material da classe trabalhadora.

Referências
ABEPSS/CEDEPSS. Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social. (Com base no currículo Mínimo aprovado em
Assembleia Geral Extraordinária de 08 de novembro de 1996). Rio de Janeiro: CEFESS, 1996. Disponível em: <
http://www.abepss.org.br/arquivos/textos/documento_201603311138166377210.pdf>. Acesso em: 31 de janeiro de
2019.

BRASIL. Lei 12.317, de 26 de agosto de 2010. Acrescenta dispositivo à Lei no 8.662, de 7 de junho de 1993, para
dispor sobre a duração do trabalho do Assistente Social. Brasília - DF, dez. 2010. Disponível em <http://www.
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______. Lei 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a
organização da Assistência Social. Brasília - DF, jul. 2011. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03
/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435.htm>. Acesso em: 31 de janeiro de 2019.

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______. Lei 3.252, de 27 de agosto de 1957. Regulamenta o exercício da profissão de Assistente Social. Brasília -
DF, ago. 1957. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3252.htm>. Acesso em: 31 de janeiro de
2019.

______. Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras
providências. Brasília – DF, 1993. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742compilado.htm
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CFESS. Assistentes sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil profissional. Brasília: CFESS, 2005.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/pdf/perfilas_edicaovirtual2006.pdf>. Acesso em: Acesso em: 31 de janeiro
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______. Endereço dos CRESS e Seccionais. [s.d.]. Disponível em <http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local


/enderecos-dos-cress-e-seccionais> acesso em: 31 de janeiro de 2019.

______. Resolução CFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993. Institui o Código de Ética Profissional dos
Assistentes Sociais. Brasília – DF, mar. 1993. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/resolucao_273-93.
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______. Relações Sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 7 ed.
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______. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo:
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YAZBEK, M. C. O significado sócio histórico da profissão. In: CFESS, ABEPSS. Serviço Social: direitos sociais e
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