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INTRODUÇÃO

Para condições crônicas as principais metas da consulta farmacêutica estão direcionadas ao rastreamento em saúde, à
orientação e educação do paciente sobre seus medicamentos, otimização da farmacoterapia, avaliação da efetividade e
segurança dos tratamentos prescritos e elaboração do plano de cuidado com foco nas necessidades do paciente. Em
especial, o farmacêutico no acompanhamento de pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV/AIDS) possui um importante
papel para garantir e facilitar a adesão a terapia medicamentosa, realizar o monitoramento dos sintomas relacionados a
condição imunológica do paciente e sintomas relacionados às reações adversas aos antirretrovirais (ARV).

ACOLHIMENTO DA DEMANDA
Acolher significa receber bem, dar conforto, escutar e tornar-se responsável pelo atendimento da queixa apresentada
pelo paciente, ou no mínimo auxiliá-lo na escolha do melhor itinerário terapêutico. O farmacêutico deve identificar
situações que requerem intervenção ou necessidade de atendimento rápido do paciente por outros profissionais do
serviço (CFF, 2016). Para as PVHIV é importante o processo de retenção que consiste no acompanhamento clínico
regular e contínuo da pessoa que vive com HIV já vinculada ao serviço de saúde, garantindo que ela compareça às
consultas, faça exames regularmente e, se estiver em terapia, realize também o seguimento do seu tratamento,
respeitando a sua autonomia. Um paciente retido no serviço é aquele que realiza exames e/ou retira os medicamentos
antirretrovirais sistematicamente, sem faltar às consultas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017a).

ANAMNESE

- Definição da condição
O HIV é um vírus transmissível por via sexual. Cursa com um amplo espectro de apresentações clínicas, desde a fase
aguda até a fase avançada da doença. Em indivíduos não tratados, estima-se que o tempo médio entre o contágio e o
aparecimento da doença seja em torno de dez anos.

- Sinais e sintomas

Estágio Sintomas/condições Observações


Fase Aguda Febre, cefaleia, astenia, adenopatia, -É autolimitada e a maior parte dos
(Síndrome Retroviral faringite, exantema e mialgia sinais e sintomas desaparece em 3-4
Aguda) semanas
-Linfadenopatia, letargia e astenia
podem persistir por vários meses
Fase Latência Exame físico costuma ser normal, exceto
pela linfadenopatia, que pode persistir após
a infecção aguda
3
Fase Sintomática LT-CD4 > 350cél/mm : A candidíase oral é um marcador
Infecções respiratórias bacterianas e clínico precoce de imunodepressão
tuberculose grave.
3
LT-CD4 200-300mm :
sintomas constitucionais (febre baixa, perda
ponderal, sudorese noturna, fadiga),
diarreia crônica, cefaleia, alterações
neurológicas, infecções bacterianas
(pneumonia, sinusite, bronquite) e lesões
orais, como a leucoplasia oral pilosa,
herpes-zoster, candidíase oral.
Fase AIDS Infecções oportunistas: pneumocistose, Caracterizada pelo aparecimento de
neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar infecções oportunistas e neoplasias.
atípica ou disseminada, meningite Nesta fase a contagem de LT-CD4+
criptocócica e retinite por citomegalovírus. situa-se abaixo de 200 céls/mm³, na
Neoplasias: de Kaposi (SK), linfoma não maioria das vezes.
Hodgkin e câncer de colo uterino

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- Rastreamento e diagnóstico
A sorologia para a infecção pelo HIV pode variar bastante nessa fase, dependendo do ensaio utilizado. Em média, a
janela diagnóstica dos imunoensaios de quarta geração é de aproximadamente 15 dias. O teste rápido (TR) pode ser
feito pelo farmacêutico e refere-se ao teste de HIV realizado em local que permite fornecer o resultado durante o período
da visita do indivíduo. Pode ser realizada em consulta médica, atendimento em Centro de Testagem e Aconselhamento,
atendimento em domicílio, atendimento em Unidade de Testagem Móvel, organização não governamental e etc.
Mediante resultado positivo o farmacêutico deve encaminhar o paciente para avaliação e diagnóstico médico. Este deve
ser encaminhado prontamente para atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde
(SUS) ou para um Serviço de Assistência Especializada (SAE).

O diagnóstico da infecção aguda pelo HIV pode ser realizado mediante a detecção da CV (carga viral). O diagnóstico
sorológico da infecção é realizado com pelo menos dois testes, um para triagem e um segundo, mais específico, para
confirmar o resultado da triagem. O resultado não reagente é liberado com base em um único teste. Caso persista a
suspeita de infecção pelo HIV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta da primeira amostra.
O resultado reagente sempre é confirmado com um segundo teste diferente do primeiro. Com base na especificidade dos
testes de triagem, dois resultados reagentes são utilizados para o diagnóstico da infecção. Todos os indivíduos recém-
diagnosticados devem realizar o exame de carga viral que, na realidade, compõe um terceiro teste e cujo resultado
confirma a presença da infecção.

- Metas terapêuticas

FREQUÊNCIA DE
OBJETIVOS
SOLICITAÇÃO
CARGA VIRAL*
PVHIV em seguimento A cada 6 meses Confirmar continuidade da supressão
viral e adesão do paciente
Início de TARV ou modificação de TARV por Após 8 semanas do início de Confirmar resposta virológica
falha virológica TARV ou de novo esquema adequada à TARV ou ao novo
TARV esquema de TARV e adesão do
paciente
Confirmação de falha virológica Após 4 semanas da primeira Confirmar falha virológica e
CVHIV detectável necessidade de solicitação de exame
de genotipagem
LT-CD4+**
PVHIV: Cada 6 meses quando CD4 analisar a condição imunológica do
› Em uso de TARV; e >350 céls/mm³ paciente e necessidade de profilaxia
› Assintomática; e para infecção oportunista e
› Com carga viral indetectável imunizações
Não solicitar quando CD4
>350 céls/mm³ em dois
exames consecutivos, com
pelo menos 6 meses de
intervalo
PVHIV : A cada 6 meses em qualquer analisar a condição imunológica do
› Sem uso de TARV; ou valor de LT-CD4+ paciente e necessidade de profilaxia
› Evento clínico; ou para infecção oportunista e
› Em falha virológica imunizações
Sintomas Clínicos
Sintomas constitucionais (febre baixa, perda Em todas as consultas Detectar o risco de infecções
ponderal, sudorese noturna, fadiga), diarreia oportunistas instaladas e condição
crônica, cefaleia, alterações neurológicas, geral de saúde do paciente
sintomas compatíveis com infecções bacterianas
(pneumonia, sinusite, bronquite) e lesões orais
(comuns em condições como a leucoplasia oral
pilosa, herpes-zoster, candidíase oral)

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Adesão
Atitudes Crenças e comportamento diante do Na 1ª consulta e a cada 3 Detectar risco de falha virológica
tratamento (ARMS e BMQ) consultas
Autorelato do paciente Todas as consultas Detectar risco de falha virológica
Utilizar perguntas como: “Quantas vezes você Adesão suficiente: >80%
perdeu doses de medicação nas últimas quatro
(duas ou última) semanas? Por favor, diga quais
dificuldades você teve para tomá-lo”
Sistema informatizado Todas as consultas Detectar risco de falha virológica
Avaliar a frequência de retirada dos Adesão suficiente: >80%
medicamentos pelo paciente
Segurança
Devem ser avaliados reações adversas ao Em todas as consultas Detectar RAM e quando presentes
medicamento e intoxicações medicamentosas realizar o manejo adequado.
Desfechos Humanísticos
Percepção Geral de Sáude (Escala Visual Na 1ª consulta e a cada 3 Avaliar a percepção do paciente com
Analógica EVA-PSG) consultas relação a sua saúde e qualidade de
Qualidade de Vida (Escala Visual Analógica vida
EVA-QV)
* A meta terapêutica para o tratamento de pessoas vivendo com HIV (PVIH) é alcançar Carga Viral (CV) indetectável. Portanto, o
principal parâmetro para caracterizar a falha da Terapia Antirretroviral (TARV) é a falha virológica, isto é, CV-HIV detectável após seis
meses do início ou da modificação do tratamento, ou rebote da CV-HIV em indivíduos que haviam atingido supressão viral sob
tratamento.
** A contagem de linfócitos LT-CD4+ no sangue é utilizada para analisar a condição imunológica do paciente. O exame solicitado
logo após o estabelecimento do diagnóstico de infecção pelo HIV, tem importante papel para avaliar a urgência de início da terapia
antirretroviral, além de ser preditor da síndrome de reconstituição imune. Também é necessário para avaliar a indicação de profilaxias
para as infecções oportunistas e imunizações.

- Protocolo de tratamento com medicamentos sob prescrição médica

PREFERENCIAL
Medicamento Dose Indicação
TDF/3TC/DTG (300mg/300mg) + Esquema para início de tratamento a partir de 2017
50mg- 1x/dia
TDF/3TC/EFV (300mg/300mg/600mg) Início de tratamento:
- 1x/dia - Coinfecção TB-HIV sem critérios de gravidade
TDF/3TC/RAL (300mg/300mg) 1x/dia Início de tratamento:
+ 400mg 12/12h -Gestantes
Coinfecção TB-HIV com um ou mais dos critérios de
gravidade abaixo:
3
-CD4<100 cél mm
-Presença de outra infecção oportunista
-Necessidade de Internação Hospitalar/ Doença grave
-TB disseminada
ALTERNATIVO
Medicamento Dose Indicação
TDF/3TC/EFV (300mg/300mg/600mg) Início de tratamento em caso de intolerância ou
- 1x/dia contraindicação ao DTG
Gestante com má adesão a outros esquemas (mediante teste
de genotipagem)
TDF/3TC/RAL (300mg/300mg) 1x/dia Início de tratamento em caso de intolerância ao EFZ nas
+ 400mg 12/12h situações:
Coinfecção TB-HIV
TDF/3TC/ATV (300mg/300mg) 1x/dia Gestante com contraindicação ao RAL
+ 300mg 1x/dia
ABC/3TC/DTG Início de tratamento em caso de contraindicação ao TDF em
PVHA com teste negativo para HLA-B 5701
FONTE: adaptado de BRASIL (2017)
TDF: tenofovir; 3TC: lamivudina; DTG: dolutegravir; EFV: efavirenz;; RAL: raltegravir; ABC: abacavir; ATV: atazanavir

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Adultos:
1ª escolha: dois ITRN/ITRNt – lamivudina (3TC) e tenofovir (TDF) + inibidor de integrase (INI) – dolutegravir (DTG).
2ª escolha: Intolerância ao DTG - Substituir o DTG por EFV.
2ª escolha: Contraindicação ao TDF- substituir por ABC (Se teste HLA-B*5701 negativo) ou AZT (Se teste HLA-B*5701
positivo).
Gestantes: contraindicação ao ATV: substituir por DRV ou EFZ (em caso de má adesão e mediante teste de
genotipagem). Contraindicação ao TDF: substitui por AZT. Contraindicação ao TDF e AZT: substitui por ABC (Se teste
HLA-B*5701 negativo).

INDICAÇÃO DE PROFILAXIA PRIMÁRIA DEPENDENTE DO VALOR DE LT-CD4+


LT-CD4+ <200 LT-CD4+<100 LT-CD4+<50
células/mm3 células/mm3 células/mm3
Agente Indicação profilaxia Indicação profilaxia Indicação profilaxia
Pneumocystis jirovecii Toxoplasma gondii Complexo
Mycobacterium avium

1ª escolha Sulfametoxazol + 1ª escolha: 1ª escolha:


trimetoprima Sulfametoxazol + Azitromicina 1.200mg
(800/160mg) três vezes trimetoprima por semana
por semana (800/160mg) uma vez
por dia
Critério para Boa resposta à TARV Boa resposta à TARV Boa resposta à TARV
suspensão com manutenção de com manutenção de com manutenção de
LT-CD4+ > 200 LT-CD4+ > 200 LT-CD4+ > 100
3 3 3
células/mm por mais células/mm por mais células/mm por mais
de 3 meses de 3 meses de 3 meses

- Monitoramento da segurança do tratamento

Medica RAM Restrições/contraindicaçõ Recomendações


-mento es
DTG Insônia, cefaleia, Não é recomendado em Antiácidos contendo cátions
náuseas, vômitos PVHIV em uso de fenitoína, polivalentes (ex.: Al/Mg) devem ser
fenobarbital, tomados 6 horas antes ou 2 horas
Reações de oxicarbamazepina e depois da tomada do DTG. ›
Hipersensibilidade carbamazepina. Pacientes Suplementos de cálcio ou ferro
devem ser avaliados quanto devem ser tomados 6 horas antes ou
Hepatotoxicidade à possibilidade de troca 2 horas depois da tomada do DTG.
dessas medicações a fim de Quando acompanhado de alimentos,
viabilizar o uso do DTG o DTG pode ser administrado ao
mesmo tempo que esses
suplementos. › O DTG aumenta a
concentração plasmática da
metformina. Não é necessário o
ajuste de dose do DTG. Para manter
o controle glicêmico, recomenda-se
um ajuste na dose da metformina
(dose máxima: 1g/dia) e
acompanhamento clínico/laboratorial
da DMe dos efeitos adversos da
metformina.
EFZ Tonturas, alterações do Recomenda-se orientar ao paciente a
sono, sonhos vívidos e tomada do medicamento logo antes
alucinações – de deitar-se para dormir e
costumam desaparecer preferencialmente duas horas após o
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após as primeiras duas jantar.


a quatro semanas de Orientar tomada da medicação ao
uso dormir. Avaliar substituição por NVP
Convulsões ou IP/r se persistirem os sintomas
Hepatotoxicidade neurológicos. Os efeitos adversos
Reações de neurológicos podem ser exacerbados
hipersensibilidade e com o uso concomitante de álcool.
cutâneas graves Recomendar ao paciente evitar a
Ginecomastia utilização de álcool.
Se hepatotoxicidade grave, reações
de hipersensibilidade ou
intolerância/toxicidade, avaliar
substituição por ATV/r (na
impossibilidade de ATV/r, avaliar
DRV/r)
TDF Nefrotoxicidade, Contraindicado como terapia Se usado, ajuste de dose deve ser
particularmente em inicial em pacientes com feita quando TFGe<50ml/min.
diabéticos, hipertensos, disfunção renal pré-
negros, idosos, existente, TFGe<60ml/min
pessoas com baixo ou insuficiência renal. Uso
peso corporal com precaução em
(especialmente pacientes com
mulheres), doença pelo osteoporose/osteopenia,
HIV avançada ou HAS e DM não controladas.
insuficiência renal pré-
existente e no uso
concomitante de outros
medicamentos
nefrotóxicos
diminuição da
densidade óssea
ABC Reações de Não usar se teste para HLA-B * 5701
HIpersensibilidade positivo. Avaliar substituição por TDF.
Se TDF contraindicado, avaliar uso
de AZT.
RAL Rabdomiólise, Uso concomitante de outras Opções limitadas para substituição
miopatia, mialgia drogas que aumentam o (verificar histórico de uso dos ARV e
risco de miopatia e genotipagem).
Hepatotoxicidade rabdomiólise, incluindo
estatinas.
Erupção cutânea (rash)
grave e reação de
hipersensibilidade
TDF: tenofovir; 3TC: lamivudina; DTG: dolutegravir; EFV: efavirenz;; RAL: raltegravir; ABC: abacavir; ATV: atazanavir
FONTE: adaptado de MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017a).

ENCAMINHAMENTO
O farmacêutico deverá encaminhar os pacientes com parâmetros clínicos alterados no rastreamento em saúde, aqueles
que tiverem necessidade de ajuste na farmacoterapia por problemas de eficácia ou segurança dos medicamentos e
sempre que houver dúvida na identificação da necessidade de saúde da paciente.

No atendimento de PVHIV o farmacêutico deverá encaminhar:


• Na detecção de reações adversas intoleráveis ao paciente ou que não diminuíram de intensidade após manejo
recomendado em protocolos.
• Na detecção de má adesão ao tratamento após utilização de estratégias de manejo.
• Na detecção de sintomas clínicos preditores de comprometimento imune.
• Na detecção de exames laboratorias (como LT-CD4+) que indiquem comprometimento imune e necessidade de
tratamento para infecções oportunistas e imunizações.
• Na detecção de exames laboratorias (CV) que indiquem possível falha virológica.

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PLANO DE CUIDADO
O plano contém ações partilhadas entre o farmacêutico e a paciente, com base nas melhores evidências disponíveis e
alinhadas com o restante da equipe de saúde envolvida no cuidado.

No acompanhamento do paciente com HIV/AIDS são possíveis as condutas:


• Encaminhamento a outro profissional ou serviço de saúde;
• Educação em saúde direcionada a adesão;
• Orientação sobre medidas não-farmacológicas;
• Teste rápido (TR) para o rastreamento;
• Solicitação de exames (CV e LT-CD4) para avaliar a efetividade do tratamento em paciente já diagnosticados;

ADESÃO
São causas frequentes de falha virológica: esquecimento da tomada dos ARV, complexidade posológica ou ocorrência
de efeitos adversos. Destaca-se que a supressão viral pode ser obtida, mesmo sem alteração da TARV, nos casos de
falha associada à má adesão, quando precocemente identificados. Também recomenda-se pesquisar a possibilidade de
administração incorreta dos ARV e fatores relacionados a quebra de comprimidos, interações medicamentosas ou erros
de prescrição, além de outros fatores que resultam em má absorção ou eliminação acelerada dos medicamentos.

AVALIANDO ADESÃO
Considera-se como adesão suficiente a tomada de medicamentos com uma frequência de, pelo menos, 80% para
alcançar a supressão viral e sua manutenção. Um dos métodos mais utilizados para estimar a adesão ao tratamento na
prática clínica é o autorrelato do paciente. Podem ser utilizadas perguntas como: “Quantas vezes você perdeu doses
de medicação nas últimas quatro (duas ou última) semanas? Por favor, diga quais dificuldades você teve para tomá-lo”.
A adesão também pode ser avaliada por meio dos sistemas informatizados de registro de retirada do medicamento. Os
profissionais da farmácia podem dar informações à equipe de assistência sobre falhas na retirada ou problemas na
administração da medicação, não só em relação aos antirretrovirais, mas também de outros medicamentos. O controle
informatizado da disponibilização dos antirretrovirais permite que listagens com datas das retiradas sejam obtidas,
permitindo o acompanhamento da aquisição do medicamento pelo usuário. É esse profissional que tem condições,
muitas vezes, de identificar interrupções no comportamento de adesão. Essa identificação pode favorecer a abordagem
oportuna diante de eventuais problemas na adesão, com base em uma atitude não punitiva, mas de acolhimento e de
cooperação, visando à busca compartilhada de soluções para os problemas existentes. Os registros de farmácias não
podem servir sozinhos como método para avaliar a adesão, mas aliados a outras estratégias poderão ser de extrema
importância na condução do monitoramento.

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ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR ADESÃO AO TRATAMENTO


Consulta individual O atendimento ou consulta individual com foco em adesão é uma ação direcionada para
com foco em adesão dificuldades e dúvidas específicas relacionadas ao tratamento por parte da PVHA. Pode ser
utilizada em Início de TARV; • Troca de medicamentos antirretrovirais em função de falência
terapêutica, intercorrências clínicas, intolerância medicamentosa; • Abandono do tratamento; •
Situações que podem levar a maior vulnerabilidade, como dificuldades emocionais e
socioeconômicas; • Queixas específicas em relação ao tratamento: momento prévio à realização de
exame de genotipagem, atraso na retirada do medicamento na unidade dispensadora, presença de
efeitos adversos, detectadas por qualquer membro da equipe de saúde ou trazidas pelo próprio
paciente.
Interconsulta e É uma estratégia de atendimento em que dois profissionais de saúde, em geral com formações
consulta conjunta distintas, discutem e atuam conjuntamente no tratamento do paciente. Essas consultas visam a
disponibilizar um espaço de atenção qualificada, quando profissionais e pacientes analisam,
debatem e tomam decisões sobre aspectos relacionados à soropositividade e ao tratamento, com
foco em adesão
Tratamento O tratamento diretamente observado (TDO) refere-se à observação da ingestão de medicamentos
diretamente observado pelo paciente, realizada por profissionais de saúde ou outra pessoa, na residência do usuário ou no
serviço de saúde. Pessoas soropositivas menos escolarizadas, portadoras de sequelas
neuropsiquiátricas, em situação de grande isolamento social, idosos com maior comprometimento
ou pessoas que façam uso abusivo de álcool e outras drogas podem se beneficiar dessa ação até
que a adesão ao tratamento se estabeleça.
Grupos A grande vantagem das intervenções em grupo é o compartilhamento e troca de experiência entre
usuários com vivências comuns, que podem propiciar a vinculação e o fortalecimento do apoio
social entre pares e com o serviço. A abordagem da adesão em grupo é uma prática que se
fundamenta no trabalho coletivo, na interação e no diálogo. Tem caráter informativo, reflexivo e de
suporte, e sua finalidade é identificar dificuldades, discutir possibilidades e encontrar soluções
adequadas para problemáticas individuais ou coletivas que estejam prejudicando a adesão ao
tratamento.
Rodas de conversa A roda de conversa é um método de base comunitária que se configura em espaços de diálogo.
Seu objetivo é estimular a construção da autonomia dos sujeitos por meio da troca de informações e
da reflexão para a ação. Assim, “as rodas são espaços onde a fala das pessoas ganha legitimidade
num processo de ensino-aprendizagem e de reconhecimento uns dos outros como sujeitos, com
saberes, opiniões e valores próprios. Na metodologia de rodas de conversa, os participantes
recebem estímulos e informações para discutirem temas de interesse, a partir de suas experiências.
Atividades de sala de Um espaço privilegiado que propicia intervenções em adesão é a sala de espera. O momento
espera anterior à consulta, na maioria das vezes ociosos e de espera, pode permitir a construção de um
canal de diálogo entre equipe de saúde e usuários, propícios para troca de experiência. Diversas
ações podem ser realizadas na sala de espera: exibição de vídeos sobre adesão (seguido ou não
de debate), debates com os usuários, caixas de dúvidas e murais de respostas; ações entre pares,
entre outras.
Porta pílulas As caixas porta-pílulas servem para organizar as doses diárias ou de um período determinado (uma
ou mais semanas), sendo úteis em casos de viagem, por exemplo. Elas ainda auxiliam na discrição
relacionada à ingestão dos ARV, quando o paciente necessita tomar seus medicamentos em
contextos sociais ou na presença de pessoas para as quais ele deseja manter o sigilo sobre seu
diagnóstico.
Diários Diários referem-se ao relato escrito das tomadas e possibilita a auto-observação da adesão, na
medida em que o paciente escreve sobre o uso dos medicamentos, efeitos adversos, dificuldades e
dúvidas em relação aos mesmos, além de sentimentos e pensamentos associados a essa prática.
Alarmes Os alarmes são dispositivos amplamente usados pelos pacientes, muitas vezes por iniciativa
própria, como recurso que evita o esquecimento, estabelecendo uma rotina para o uso correto dos
medicamentos. Relógios despertadores, relógios de pulso e telefones celulares podem ser
utilizados.

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Tabela de As tabelas e mapas de doses têm sido utilizados para instruir e orientar sobre o esquema
medicamentos terapêutico, número de comprimidos ou cápsulas, horários e recomendações quanto à ingestão de
alimentos. Nessas tabelas devem constar figuras dos medicamentos, dos horários e das
recomendações de dietas, facilitando o reconhecimento. Podem ser utilizados desenhos de sol, de
lua e pratos de refeição para facilitar a compreensão e associar as tomadas a horários diurnos e
noturnos. O uso de cores para diferenciar os tipos de medicamentos e de desenhos favorece a
compreensão de pessoas que tenham limitações intelectuais e de escolaridade (Anexo A).
Materiais educativos: Existem materiais educativos disponíveis, editados pelos Programas de DST e Aids e OSC, tais
folhetos e vídeos como folhetos e vídeos, que são úteis nas atividades coletivas e individuais, voltadas para abordar
assuntos correlatos à adesão. A utilização desses recursos pedagógicos não deve se limitar à sua
entrega para o paciente, mas sim como estímulo ao diálogo e debate sobre as informações contidas
nos mesmos.
Autoregistro da adesão Permite que a pessoa observe e registre seu próprio comportamento, como o uso dos ARV em
determinado período de tempo (uma semana, por exemplo), assinalando eventuais ocorrências de
perdas de doses, os horários nos quais elas ocorreram, atrasos além de outras situações. Os
resultados do autoregistro, levados para o atendimento, podem ser utilizado para avaliar o
comportamento de adesão, situações que o antecedem e suas consequências, sentimentos e
pensamentos associados à TARV, fornecendo subsídios para a intervenção.
FONTE: adaptado de MINISTÉRIO DA SÁÚDE, 2008.

MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS, FITOFARMACOS, DROGAS VEGETAIS E OUTROS PRODUTOS PARA A


SAÚDE

Nota: A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e o Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira
(MFFB) não possui indicação de plantas medicinais, medicamentos fitoterápicos, fitofarmacos e/ou drogas vegetais para
o tratamento do HIV/AIDS.

Deve-se ter atenção redobrada diante do uso de alguns fitoterápicos e plantas medicinais concomitante ao uso de
antiretrovirais, são eles:

PLANTAS
MEDICINAIS E/OU CONTRAINDICAÇÕES PRECAUÇÕES DE EFEITOS INTERAÇÕES
FITOTERÁPICOS USO ADVERSOS MEDICAMENTOSAS
Alho (Allium
- - - SIM
sativum l.)
Hipérico
(Hypericum - - - SIM
perforatum L.)
Fonte: Autoria própria (2018)

NOTA TÉCNICA: os fitoterápicos e plantas medicinais inclusos nos protocolos foram retirados da RELAÇÃO NACIONAL
DE MEDICAMENTOS ESSENCIAS (RENAME) e do MEMENTO DE FITOTERÁPICOS DA FARMACOPEIA
BRASILEIRA (MFFB). Visto sua disponibilidade no sistema único de saúde, e a comprovação de perfil de efetividade e
segurança através de estudos clínicos e tradicionalidade.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira / Agência. Nacional de
Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2016.
BRASIL. Instrução Normativa Nº 07/2017 DDAHV/SVS/MS. Dispõe sobre a atualização dos esquemas antirretrovirais de pessoas
vivendo com HIV/aids (PHIV/aids) e indicações de uso ampliado de Dolutegravir (DTG) e Darunavir (DRV) a partir de 2017.
BRASIL. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais : RENAME 2017 / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017.
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº 585 de 29 de agosto de 2013. Regulamenta as atribuições clínicas do
farmacêutico e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 set. 2013f. Seção 1, p.186-188.
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Serviços farmacêuticos diretamente destinados ao paciente, à família e à comunidade:
contextualização e arcabouço conceitual. Brasília: Conselho Federal de Farmácia, 2016.
Manual de adesão ao tratamento para pessoas vivendo com HIV e Aids / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Programa Nacional de DST e Aids. – Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual Técnico Para O Diagnóstico Da Infecção Pelo HIV. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites
Virais – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos. Ministério da
Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente
Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais – Brasília: Ministério da Saúde, 2017a.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e
Hepatites Virais. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das
Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais – Brasília: Ministério da Saúde, 2017b.
.

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Realização:

Coordenação Geral:
GT de Saúde Pública – Conselho Federal de Farmácia

Concepção Pedagógica:
Cassyano Januário Correr
Thais Teles de Souza
Walleri Christini Torelli Reis

Coordenação Pedagógica:
Thais Teles de Souza
Walleri Christini Torelli Reis

Tutoria:
Alcindo de Souza Reis Junior
Aline de Fátima Bonetti
Bruna Aline de Queirós Bagatim
Cínthia Caldas Rios Soares
Fernanda Coelho Vilela
Fernando Henrique Oliveira de Almeida
Inajara Rotta
Livia Amaral Alonso Lopes
Natália Fracaro Lombardi
Wallace Entringer Bottacin

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