Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
//
novo contexto, transformações
nos negócios & soluções digitais
A GESTÃO DA JORNADA
DO VIAJANTE:
//////////////////////////////////////////////////////////
A GESTÃO DA JORNADA
DO VIAJANTE:
// novo contexto, transformações
nos negócios & soluções digitais
REALIZAÇÃO:
RESORTS BRASIL & FGV CEMD
ABRIL | 2022
1
Copyright 2022
Todos os direitos reservados. Este e-book ou qualquer parte dele não pode ser
reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por escrito, do autor
ou organizador, exceto pelo uso de citações e referências.
Autores: Alberto Guerrini, Alessandro Barreto, Ana Biselli Aidar, Augusto Rocha, Beatriz
Salles, Carolina Haro, Clarissa Santiago, Claudia Pantuffi, Dafne Morais, Daniel Feitosa,
Daniela Biedzicki, Eduardo Leone, Eduardo Lorea, Eliane Brito, Erich Casagrande, Felipe
Bogéa, Fillipi Nobre, Gabriela Otto, Gabriela Schwan, Juliana Carbonari, Leandro Paez, Li-
lian Carvalho, Lucie Chmelikova, Luiz Artur Ledur Brito, Mar Vila, Marcelo Picka Van Roey,
Marcelo Traldi, Maria Ulrich, Mariana Aldrigui, Mario Mouraz, Masao Ukon, Michele Martins,
Paulo Mélega, Patrícia Azevedo, Patrícia Boaventura, Patrícia Boo, Pedro Freire, Ricardo
Mader, Roland de Bonadona, Steve Hood e Tricia Neves.
E-book
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-997584-0-9
CDD 306
DEDICATÓRIA
A todos os profissionais que trabalham incansavelmente pela transformação
do setor de Turismo no Brasil.
A todos os autores e parceiros que colaboraram com a construção deste
e-book, dedicando tempo, compartilhando conhecimento e inspirando tantos
profissionais da área.
AGRADECIMENTOS
Este e-book é fruto de um grande trabalho em equipe. Sua realização não teria sido possível sem a
ajuda e dedicação de tantos parceiros e colaboradores da Resorts Brasil e do Centro de Estudos de
Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas (FGV CEMD).
Agradecemos ao Caio Luiz de Carvalho por ter colaborado com o prefácio e a todos os autores: Alberto
Guerrini, Alessandro Barreto, Ana Biselli Aidar, Augusto Rocha, Beatriz Salles, Carolina Haro, Clarissa
Santiago, Claudia Pantuffi, Dafne Morais, Daniel Feitosa, Daniela Biedzicki, Eduardo Leone, Eduardo
Lorea, Eliane Brito, Erich Casagrande, Felipe Bogéa, Fillipi Nobre, Gabriela Otto, Gabriela Schwan,
Juliana Carbonari, Leandro Paez, Lilian Carvalho, Lucie Chmelikova, Luiz Artur Ledur Brito, Mar Vila,
Marcelo Picka Van Roey, Marcelo Traldi, Maria Ulrich, Mariana Aldrigui, Mario Mouraz, Masao Ukon,
Michele Martins, Paulo Mélega, Patrícia Azevedo, Patrícia Boaventura, Patrícia Boo, Pedro Freire, Ri-
cardo Mader, Roland de Bonadona, Steve Hood e Tricia Neves que compartilharam suas visões sobre
os desafios, oportunidades e transformações no turismo sob diferentes aspectos. Este livro não teria
acontecido sem a contribuição de vocês.
Agradecemos também a toda a equipe do FGV CEMD: Lilian Soares Pereira Carvalho, Eliane Pereira
Zamith Brito, Felipe Bogéa, Helen Tatiana Takamitsu e Patrícia Silva Monteiro Boaventura, por embar-
carem com a Resorts Brasil nesta jornada ajudando a idealizar e coordenar este projeto.
Nossos enormes agradecimentos também:
Aos resorts associados à Resorts Brasil que apoiaram o desenvolvimento deste e-book: Acqua
Beach Park Resorts, Armação Resort, Bourbon Atibaia Convention & Spa Resort, Bourbon Cataratas
Convention & SPA Resort, Cana Brava Resort, Casa Grande Hotel Resort & SPA, Catussaba Resort, Club
Med Lake Paradise, Club Med Rio das Pedras, Club Med Trancoso, Costa do Sauípe Parques & Resorts,
Costão do Santinho Resort, Golf & SPA, Dom Pedro Laguna Beach Resort & Golf, Fasano Angra dos Reis,
Grand Palladium Imbassaí Resort & SPA, Grande Hotel Campos do Jordão, Grande Hotel São Pedro,
Hotel Village Le Canton, Iberostar Bahia, Iberostar Grand Amazon, Iberostar Praia do Forte, Infinity
Blue Resort & SPA, Jatiúca Hotel e Resort, La Torre Resort All Inclusive, Malai Manso Resort Iate Golf
Convention & SPA, Mavsa Resort Convention & SPA, Nannai Resort & Spa, Novotel Itu Golf & Resort,
Ocean Palace Beach Resort & Bungalows, Porto Seguro Praia Resort, Pratagy Beach All Inclusive Resort,
Recanto Cataratas, Rio Quente Resorts, Royal Palm Plaza, Salinas Maragogi All Inclusive Resort, Santa
Clara Eco Resort, Serrambi Resort, Sofitel Guarujá Jequitimar, Suites Beach Park Resorts, Summerville
Beach Resort, Tauá Grande Hotel Termas de Araxá, Tauá Resort & Convention Alexânia, Tauá Resort
& Convention Atibaia, Tauá Resort & Convention Caeté, Tivoli Ecoresort Praia do Forte, Transamerica
Resort Comandatuba, Vale Suíço Resort, Vila Angatu Eco Resort & Spa, Wellness Beach Park Resorts,
Wish Resort Golf Convention Foz do Iguaçu.
À Diretoria da Resorts Brasil, composta por Marcelo Picka Van Roey, Sérgio Souza, Carlos Jacobina e
Rodrigo Napoli que inspiraram e incentivaram a realização deste trabalho. Ao Conselho da Resorts
Brasil, composto por Antonio Dias, Felipe Castro, Francisco Costa Neto, João Carlos Pollak, Luis
Guilherme Dubeux Pontes, Maria Helena Santana, Ricardo Gouveia, Rubens Régis, Taiza Krueder, Thia-
go Borges e Tiago Varalli.
A toda equipe da Resorts Brasil, Ana Biselli Aidar, Juliana Salles, Aline Curti, Bruna Andolfato e Mirella
Rovai, que contribuíram com a coordenação e organização do e-book.
Finalmente, agradecemos a todos os parceiros que participaram de alguma etapa deste trabalho,
ajudando-nos a manter o livro nos trilhos e a finalizar nosso material.
SUMÁRIO
Prefácio
Caio Luiz de Carvalho.............................................................................................................8
Introdução
Ana Biselli Aidar & Lilian Carvalho.....................................................................................10
Seção 1 // Contexto......................................................................................14
O Turismo sob a luz da transformação digital após a pandemia
Roland de Bonadona.....................................................................................................15
Turistech: a oportunidade da inovação aberta no turismo
Eduardo Lorea..................................................................................................................26
Desenvolvimento Sustentável e as Sete Revoluções da
Sustentabilidade: um olhar para o setor de Turismo
Cláudia Pantuffi & Dafne Morais...................................................................................35
Um novo olhar para a gestão
Tricia Neves.......................................................................................................................45
Vale a pena correr para chegar atrasado? Considerações sobre educação e
formação profissional em turismo
Mariana Aldrigui..............................................................................................................52
Qualidade da gestão como fator de competitividade das empresas e forta-
lecimento do Destino Brasil
Ana Biselli Aidar & Luiz Artur Ledur Brito & Mar Vila.................................................58
Senti-me muito honrado ao receber o convite para escrever o prefácio deste livro,
organizado pela Resorts Brasil e pelo Centro de Estudos de Marketing Digital da Fundação
Getulio Vargas, instituições reconhecidas e de referência tanto no setor de Turismo
quanto na academia.
A publicação A Gestão da Jornada do Viajante: novo contexto, transformações nos
negócios e soluções digitais chega neste momento marcante da história do mundo e,
também, dos setores do Turismo e da Hospitalidade brasileiro. Após dois anos marcados
pelo isolamento e pela pandemia de Covid-19 e, mais recentemente, em meio a conflitos
armados na Europa Oriental, é muito bem-vinda uma obra que provoca reflexões sobre
o futuro.
Um time de profissionais de excelência e amplamente reconhecidos no setor dá
importantes contribuições em temas fundamentais para o desenvolvimento do Turis-
mo e da Hospitalidade: sustentabilidade, transformação digital, práticas inovadoras
de gestão, jornada dos consumidores, novos comportamentos e hábitos de consumo e
tantos outros. Ao reunir profissionais com ampla experiência e conectar a academia ao
mercado, a Resorts Brasil e o CEMD da FGV criam uma publicação que será, sem dúvida,
referência para todo o setor, lançando tendências que contribuirão para o crescimento e
para a melhoria da competitividade da área.
Há um grande futuro para os setores de Turismo e Hospitalidade no Brasil. Além da
retomada das atividades — com a estabilização da Covid-19 — e agora com os conflitos
na Europa Oriental, nosso país segue como um destino objeto de desejo de quem pro-
cura locais pacíficos, com belezas naturais e culturais para suas viagens. Esta obra será
um arcabouço referencial para o desenvolvimento dos negócios e das atividades neste
novo momento.
QUEM ESCREVE
Desde primeiro de janeiro de 1983, data da criação da internet, o mundo tem passado
por transformações que modificaram não só o jeito de fazer negócios, mas também os
relacionamentos pessoais, a forma de aprender, entreter-se, hospedar-se e viajar. Nas
últimas décadas, até o ano de 2020, as transições foram graduais, não houve mudanças
da noite para o dia. No entanto, a chegada da pandemia da Covid-19 gerou uma necessi-
dade de isolamento nunca experimentada pela população mundial, forçando uma rein-
venção na rotina das pessoas e empresas. E o caminho para isso passou pela digitaliza-
ção. A partir de então, as mudanças que vinham acontecendo em doses homeopáticas,
respeitando o momento de adaptação de todos, chegaram como um tsunami, revolucio-
nando hábitos, necessidades e até mesmo a maneira de enxergar as prioridades da vida
e da gestão do tempo. Mais do que isso, algumas transformações digitais foram tão bem
aceitas pela sociedade que se tornaram indispensáveis e fundamentais. Esse cenário nos
fez questionar, e agora? Qual será o futuro do Turismo nesse contexto? Quais são os no-
vos desafios e as novas oportunidades do setor? Como o Turismo está se adaptando às
transformações?
Como trabalhar A Gestão da Jornada do Viajante?
Foi a partir desses questionamentos que a Resorts Brasil e o Centro de Estudos de
Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas se uniram para gerar conhecimento ao
mercado de forma prática. Com a colaboração de um grupo de especialistas, foram
desenvolvidos conteúdos acerca de diversos temas relacionados à gestão aplicada ao
Turismo.
O resultado é este que aqui apresentamos: o livro A Gestão da Jornada do Viajante:
novo contexto, transformações nos negócios e soluções digitais, um convite para você
refletir sobre o futuro do Turismo.
A obra é uma produção colaborativa feita em parceria com 42 importantes nomes do
setor, composta por 24 capítulos, organizados em três seções.
A primeira seção, Contexto, reúne artigos que provocam reflexões referentes à trans-
formação do cenário do turismo brasileiro, abordando inovações, oportunidades, de-
safios e práticas de gestão para elevar a competitividade do Destino Brasil. O primeiro
capítulo, de Roland de Bonadona, traz uma reflexão a respeito do setor de Hospitalidade
tradicional e das características de diversas novas empresas que estão surgindo na área.
Eduardo Lorea aborda o mercado de startups de tecnologia voltadas para o mercado de
turismo, as turistechs, que, muitas vezes, complementam a atividade de players tradicio-
nais e abrem novas frentes de negócios. Trícia Neves entrega um roadmap sobre como
repensar o papel e os desafios da liderança em um mundo incerto e volátil. Em seguida,
Mariana Aldrigui contribui com um tópico essencial para a academia e instituições de
ensino de Turismo: como estruturar melhor a formação de profissionais da área aten-
dendo às demandas desse novo cenário? Claudia Pantuffi e Dafne Morais abordam a
importância da sustentabilidade no setor. Por fim, Luiz Artur Ledur Brito, Mar Vila e Ana
Biselli Aidar sugerem um caminho para aprimorar a competitividade das empresas e o
fortalecimento do Destino Brasil, por meio do amadurecimento da gestão.
A segunda seção, Elementos Fundamentais, é composta por capítulos que mostram
// ANA BISELLI AIDAR & LILIAN CARVALHO
Nós, da Resorts Brasil e do CEMD da FGV, planejamos esta publicação com muito ca-
rinho. Ao final de cada capítulo há dicas para aprofundar os conteúdos com leituras e
vídeos complementares. Fique à vontade para ler e compartilhar o e-book com sua rede
de contato. Ficaremos muito contentes!
Nosso propósito é envolver pessoas transformadoras que se engajem na proposta de
(re)pensar o Turismo e o futuro de nosso setor. E aí, vamos nessa?
Boa leitura!
CONTEXTO
16
// O TURISMO SOB A LUZ DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
O ACELERADOR E O FREIO
Intenções de viagem alimentam-se de sonhos e necessidades: sonhos ou necessidades
de conexões e encontros, comerciais ou privados, com outras pessoas. Descoberta de
novos destinos, compartilhando emoções e ricas experiências.
Em contrapartida, existem riscos e desafios. A preparação da viagem, a programação,
as reservas, os pagamentos. Já durante a viagem, os transfers, o transporte, os controles,
as filas, os embarques e os destinos desconhecidos, que agregam momentos de incerte-
za e insegurança.
A decisão final de viajar arbitra a favor das oportunidades contra os riscos e desafios.
A transformação digital e a tecnologia, por um lado, facilitaram muito a logística das
nossas viagens, por outro lado, multiplicaram as opções, ampliaram nossos sonhos.
Como resultado, estimularam sobremaneira o rápido crescimento das viagens domés-
ticas e internacionais.
A pandemia trouxe de volta o medo e as restrições. O peso dos desafios e dos riscos
cresceu dramaticamente. Nossos sonhos e nossas necessidades ficaram amarrados e
presos. Pé no freio.
Já podemos observar tendências e monitorar transformações? Como será o turismo
do futuro? As mudanças irão se reverter com o fim das restrições? A demanda voltará ao
benchmark de pré-crise? Como as tendências irão se sedimentar e se consolidar? Quanto
tempo levará?
17
// ROLAND DE BONADONA
18
// O TURISMO SOB A LUZ DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
19
// ROLAND DE BONADONA
com 150 milhões de membros, tem um valor de mercado na faixa de US$ 50 bilhões, a
metade de Booking.com ou Airbnb.com. Hilton segue na faixa de US$ 40 bilhões e depois
os valores caem rapidamente. É necessário reunir as 15 maiores operadoras hoteleiras
globais ao lado da Marriott, juntando 7 milhões de quartos de hotéis sob afiliação, para
chegar ao mesmo nível de valorização das duas principais OTAs (Online Travel Agencies).
Considerando companhias aéreas, a maior delas, Southwest Airlines, está na faixa de
US$ 30 bilhões e precisa se juntar às 15 maiores para igualar os US$ 200 bilhões de valor
de mercado da Booking.com e do Airbnb. Olhando para as maiores empresas de cruzei-
ros, a comparação é a mesma. As patrimoniais, Lodging Reits, proprietários dos hotéis
têm valores de marcado ainda menores. Host Hotels & Resorts, proprietária de 60.000
quartos de hotéis de luxo, vale menos de US$ 15 bilhões.
Conclusão: o crescimento exponencial do turismo beneficia hoje quem tem escala
para oferecer imensa variedade de opções, via megaplataformas digitais. A escala permi-
te investir bilhões de dólares em marketing digital para atrair os viajantes, direta ou indi-
retamente. Permite também investir na qualidade da experiência dos usuários na plata-
forma, facilitando a navegação, personalizando as propostas e multiplicando as opções.
20
// O TURISMO SOB A LUZ DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
21
// ROLAND DE BONADONA
capital de risco, vinha expandindo rapidamente, inclusive no Brasil. Com a alta velocida-
de de crescimento, seria um grande desafio manter a consistência do modelo original. A
OYO vinha enfrentando reclamações crescentes dos seus clientes hoteleiros quando co-
meçou a pandemia. No Brasil, a startup teve de se retirar do jogo, deixando seus clientes
desemparados no pior momento da história do setor.
O modelo tradicional de franquia é uma alternativa interessante, desde que con-
tratada com um operador robusto e bem implantado no mercado. O modelo mantém
a operação do hotel nas mãos do dono, com o benefício de uma marca e da plataforma
de distribuição de um operador com maior escala. Já cresceu muito e comprovou sua
viabilidade no mercado norte-americano e na Europa.
22
// O TURISMO SOB A LUZ DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Além de preço e localização, viajantes ficam mais atentos do que antes à proposta
do hotel e à qualidade dos seus serviços. Também por esse motivo, durante a pande-
mia, a participação das reservas diretas aumentou, incluindo o uso maior do WhatsApp.
Consequentemente, aumentou também a importância das avaliações no momento de
confirmar a reserva.
23
// ROLAND DE BONADONA
Por fim, devemos lembrar que cada cliente tem sua personalidade, seu estilo de vida
e pertence a uma geração que o preparou de forma diferente das outras gerações para as
mudanças de hoje. Podem ser muito a favor ou resistentes à tecnologia, à comunicação
digital, aos processos touchless, às interações on-line e com call centers. Devemos ofere-
cer a possibilidade de usar ou não essas opções, de acordo com a preferência observada.
E mesmo neste mundo cada vez mais digitalizado, a excelência dos serviços e, es-
pecialmente, do atendimento continuam sendo fator crítico e altamente diferenciador.
Acontece na hora da reserva, na chegada, no restaurante (especialmente no café da ma-
nhã) e em qualquer interação com o staff do hotel durante a estada.
Profissionais bem treinados, calorosos e prestativos conseguirão multiplicar clientes
fiéis que repetirão as reservas e recomendarão o hotel.
É bom lembrar essa recomendação que, apesar de parecer simplista em sua
definição, continua sendo uma arte: a arte da hospitalidade.
The Travel Industry turned upside down: Insights, análises e propostas de ação para
profissionais do mundo de turismo
https://www.mckinsey.com/~/media/mckinsey/industries/travel%20logistics%20
and%20infrastructure/our%20insights/the%20travel%20industry%20turned%20
upside%20down%20insights%20analysis%20and%20actions%20for%20tra-
vel%20executives/the-travel-industry-turned-upside-down-insights-analysis-and-
-actions-for-travel-executives.pdf
24
// O TURISMO SOB A LUZ DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
QUEM ESCREVE
ROLAND DE BONADONA
Formado em Administração na Universidade PARIS IX
e com mais de 40 anos de experiência em hotelaria,
Roland de Bonadona foi inspirador da visão estratégica
e mentor do projeto e da grande equipe que conduziu o
Grupo Accor na liderança avançada do mercado hotelei-
ro no Brasil. Sob sua liderança, Accor no Brasil tornou-se
o terceiro maior mercado mundial do grupo. Desde 2015,
Bonadona dedica-se a auxiliar as empresas do setor por
meio de sua consultoria estratégica com foco também
em desenvolvimento e investimento hoteleiro, Bonadona
Hotel Consulting.
25
TURISTECH: A
OPORTUNIDADE DA
INOVAÇÃO ABERTA
NO TURISMO
EDUARDO LOREA
OBJETIVO GERAL DO ARTIGO
Promover reflexão sobre as oportunidades que a inovação aberta pode gerar ao setor de
Turismo Brasileiro.
27
// EDUARDO LOREA
Durante a crise financeira de 2007-2008, nos Estados Unidos, por exemplo, o então
minguante negócio dos anúncios classificados (você se lembra deles?) nos jornais ame-
ricanos recebeu seu golpe de misericórdia com uma rápida migração dos consumido-
res para plataformas on-line, como eBay e Craigslist. Sua desaparição foi rápida, indolor
para os consumidores, mas tremendamente sofrida para as empresas de mídia, que vi-
nham sendo atacadas em todas suas linhas de receita – publicidade, assinaturas – pelos
líderes da revolução digital, Google e Facebook.
No turismo, o cenário não é diferente desde que a internet comercial, em meados
da década de 1990, trouxe ao mercado a primeira onda de novos canais de venda, novas
formas de distribuição, novos modelos de negócio e novos imperativos do consumidor.
As plataformas digitais propiciaram uma porta de entrada para novas empresas que ado-
tam a tecnologia no centro de seus modelos de negócio; frequentemente, suportadas
por vultosos investimentos de fundos de capital de risco, desequilibram o jogo em seu
favor.
Na linguagem da estratégia empresarial, algumas dessas empresas são
complementares, ou seja, aumentam o valor dos produtos e serviços do turismo já
existentes. Por exemplo, ao dar acesso a novos consumidores, ampliar sua visibilidade
e reputação, ou casar com outros produtos e serviços que os tornam mais atrativos. Ou-
tras são substitutas, isto é, têm uma oferta diferente da tradicional e suplantam o que
oferece a indústria, por oferecerem mais benefícios ao consumidor ou custos mais bai-
xos. Por último, há as entrantes, ou seja, empresas que ingressam no mercado e tornam
concorrentes diretas das incumbentes – empresas que já faziam parte do mercado.
28
// TURISTECH: A OPORTUNIDADE DA INOVAÇÃO ABERTA NO TURISMO
Algumas empresas que simbolizam a mudança do mercado nas últimas duas déca-
das são as Online Travel Agencies (OTAs), como a Booking.com, sites de aluguel residen-
cial de temporada, como o AirBnB, metabuscadores e sites de resenhas e reputação on-
-line, como o TripAdvisor. A reputação – medida em “estrelas” e notas que substituíram
a tradicional classificação dos hotéis – tornou-se a nova régua de qualidade. Os preços
tornaram-se muito mais facilmente comparáveis, aumentando a informação do consu-
midor e a rivalidade entre os concorrentes. Hotéis, companhias aéreas e outros negócios
turísticos passaram a depender de novos distribuidores da demanda, novos intermedi-
ários que cobram taxas que pressionam as margens da indústria e limitam o seu poder
de barganha.
Como em toda mudança, o cenário beneficia alguns atores e impõe dificuldades a
outros. Em todo caso, os novos entrantes, complementadores e substitutos trazem algu-
mas realidades em comum (ver Quadro 1).
Em primeiro lugar, os novos atores afetam o tamanho da indústria. De 1995 a 2019, o
gasto mundial com turismo internacional cresceu 195%, e o número de chegadas inter-
nacionais cresceu 122%2. Os entrantes podem ser um fator relevante ao influenciar o ta-
manho da base de consumidores, a frequência de consumo e o valor médio consumido.
Podem ser um importante fator de crescimento da base consumidora e do aumento da
frequência de consumo ao torná-lo acessível mais facilmente a mais pessoas e ao reduzir
as fricções de informação, compra, logística e experiência. Em contrapartida, eles afetam
o valor gasto pelos consumidores. A valência desse fator não está decidida e será sempre
disputada. Aspectos como a comparabilidade de preços e o aumento da rivalidade ten-
dem a pressionar os valores para baixo, enquanto o potencial aumento da frequência de
consumo e o aumento de atratividade de produtos e serviços podem elevar o valor gasto.
Em segundo lugar, afetam a distribuição das fatias do bolo. O número de fatias au-
menta, o tamanho médio diminui, mas, mais importante do que isso, o tamanho relativo
dos distintos atores é reconfigurado com base em suas posições competitivas. As empre-
sas mais adaptadas à revolução digital, que proporcionam ao consumidor um produto
mais atraente e oferecem uma estrutura de custos mais eficiente tendem a ser favoreci-
das. Aqui reside o principal desafio dos incumbentes: provar-se relevante e competitivo
no novo cenário, de modo que os tornem legítimos para reivindicar uma participação
adequada na economia do turismo, hoje e no futuro, e não serem forçados a sair.
A mudança está longe de terminar. A internet comercial deu vazão à primeira onda; a
segunda veio com as tecnologias, como os smartphones, o wireless, o 4G, o IoT, a cloud
computing; e, enquanto surgia a onda seguinte no horizonte, com o 5G e o metaverso,
vimos entrar atravessada a onda da pandemia, com novas necessidades e valores do
consumidor. Não basta se recuperar do “caldo”, é preciso aprender a surfar, remar e posi-
cionar-se bem para a próxima série.
29
// EDUARDO LOREA
3 CHESBROUGH, Henry William. Open Innovation: The New Imperative for Creating and
Profiting from Technology. New York: Harvard Business Press, 2003.
30
// TURISTECH: A OPORTUNIDADE DA INOVAÇÃO ABERTA NO TURISMO
4 Termos como “startup enxuta”, “pivotar”, “product market fit” foram popularizados pelo
agora clássico livro A Startup Enxuta, de Eric Ries. (RIES, Eric. The Lean Startup. New York:
Crown Business, 2011.)
31
// EDUARDO LOREA
ções que otimizem o atual modelo de negócios e suas capacidades principais da em-
presa. O Horizonte 2 procura extensões do atual modelo de negócio e das capacidades,
alcançando novos consumidores e mercados. O Horizonte 3 está relacionado à criação
de novas capacidades e novos modelos de negócio para responder a oportunidades ou
ameaças de disrupção.
A empresa então pode optar por criar uma área própria de relacionamento com o
ecossistema (frequentemente batizada de lab), integrar hubs, realizar desafios de ino-
vação em busca de soluções para seus gaps, criar ou participar de programas de acele-
ração, realizar projetos-piloto para testar tecnologias e modelos de negócio, tornar-se
cliente, parceira ou investir em startups, constituir um venture capital corporativo (cha-
mado CVC, por sua sigla em inglês) e montar um portfólio de investimentos. Também
pode observar os movimentos em gestação no ecossistema e antecipar-se, realizando
inovações internas em resposta a ameaças potenciais ou aumentar sua competitividade
sem depender de outros atores.
Na economia do turismo, algumas corporações lideram esses movimentos. A Ama-
deus é um dos atores mais ativos por meio da Amadeus Ventures. Globalia, Avoris,
Booking.com, Iberia, entre outros atores, também desenvolveram seus programas. Ain-
da há muito por fazer, e iniciativas setoriais unem-se ao movimento das corporações.
32
// TURISTECH: A OPORTUNIDADE DA INOVAÇÃO ABERTA NO TURISMO
33
// EDUARDO LOREA
QUEM ESCREVE
EDUARDO LOREA
Eduardo Lorea é diretor do Wakalua Brasil, o primeiro
hub global dedicado à inovação em turismo, com sede
em Madri (Espanha), que tem como parceira fundadora
a World Tourism Organization (UNWTO), agência das
Nações Unidas dedicada ao Turismo. Também é CEO
da Numerik, uma Empresa B Certificada dedicada à
consultoria de inovação aberta e estratégia. Integra a
Câmara do Turismo 4.0 e trabalha junto ao Ministério do
Turismo (MTur) e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovações (MCTI) para o avanço do ecossistema turis-
tech no país. Depois de sete anos vivendo em Madri, re-
tornou ao Brasil em 2021. Fez carreira ligada à inovação
e estratégia no Grupo RBS e na Campus Party. É douto-
rando em Administração pela Escola de Administração
de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
(FGV EAESP), mestre em Administração pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bacharel
em Comunicação pela Pontifícia Universidade Cató-
lica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
34
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
E AS SETE
REVOLUÇÕES DA
SUSTENTABILIDADE:
UM OLHAR PARA
O SETOR DE TURISMO
CLÁUDIA PANTUFFI & DAFNE MORAIS
O termo desenvolvimento sustentável foi discutido pela primeira vez em 1980, pela
World Conservation Union, no documento intitulado World’s Conservation Strategy, que
apresentou uma estratégia mundial para conservar a natureza, baseada em três objeti-
vos: (1) manter processos ecológicos básicos e sistemas naturais vitais para sobrevivên-
cia e desenvolvimento do ser humano; (2) preservar diversidade genética; e (3) assegurar
o aproveitamento das espécies e dos ecossistemas que formam a base da vida humana.
Depois disso, as discussões em nível global continuaram a crescer em termos de alcance
e notoriedade, e mais eventos vieram a ocorrer. De modo geral, os governantes desper-
tavam para o fato de os problemas ambientais não serem simplesmente locais, regionais
ou até nacionais, mas, de forma crescente, globais.
Os trabalhos realizados pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimen-
to (CMMD), criada em 1983 pela ONU, foram publicados no relatório Nosso Futuro Co-
mum, em 1987, que reforçava a crítica ao modelo de crescimento baseado na exploração
excessiva dos recursos naturais e propunha a definição que viria a ser a mais amplamen-
te conhecida, indicando que “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que
atende às necessidades das gerações presentes, sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 8).
Agendas gerenciais e acadêmicas foram e continuam sendo influenciadas por deba-
tes políticos alinhados à concepção do desenvolvimento sustentável e manifestam-se,
por exemplo, no estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
pela ONU, uma evolução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Os ODS
foram inicialmente discutidos durante a Rio+20, conferência realizada em 2012, e reúnem
17 metas globais, classificadas em seis dimensões: dignidade, prosperidade, parceria,
justiça, pessoas e planeta. Tais metas definem prioridades e aspirações de desenvolvi-
mento sustentável global para o alcance até o ano de 2030, compondo a Agenda 2030,
um plano de ação em busca da dignidade e qualidade de vida para os seres humanos,
que leva em consideração o não comprometimento do meio ambiente e, consequente-
mente, das gerações futuras.
Endereçando a preocupação dos ODS a serem devidamente internalizados e imple-
mentados nas empresas, três importantes organizações mundiais elaboraram o Guia
dos ODS para as Empresas: Diretrizes para Implementação dos ODS na Estratégia dos
Negócios. Juntos, Global Reporting Initiative (GRI), UN Global Compact e World Business
Council for Sustainable Development (WBCSD), recomendam o alinhamento de metas
das empresas aos ODS e ao mapeamento de seus impactos ao longo da cadeia de valor
para que os ODS sejam internalizados na estratégia dos negócios.
Assim, presencia-se cada vez mais que o desenvolvimento sustentável mostra sua
relevância e aplicabilidade no âmbito da gestão empresarial e que é difícil pensar em
um mundo sustentável se a gestão não incorporar novos elementos para se alinhar aos
novos desafios impostos.
Conceitualmente, os termos Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade
Empresarial têm origens distintas, mas, ao longo do tempo, passaram a seguir em uma
direção comum. O primeiro surgiu a partir de discussões sobre as responsabilidades da
36
// DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS SETE REVOLUÇÕES DA SUSTENTABILIDADE
1 ELKINGTON, John. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron Books, 2001.
37
// CLÁUDIA PANTUFFI & DAFNE MORAIS
Para o autor, essas sete revoluções representariam um desafio que não diz respeito
somente às grandes corporações, pois elas serão compelidas a repassar a pressão senti-
da ao longo de sua cadeia de suprimentos, seja para grandes ou pequenos fornecedores.
Assim, a responsabilidade da organização, cada vez mais, deixaria de ser realizada ape-
nas em domínio interno, fomentando a necessidade de ampliar o relacionamento com
os demais membros da cadeia de suprimentos.
Uma abordagem também reconhecida no âmbito da sustentabilidade diz respeito
aos fatores ESG (em inglês, Environmental, Social and Governance) — ambientais, so-
ciais e à governança. Tais fatores despontaram em 2005, a partir da proposta da ONU,
conduzida pelo então secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan. A proposta reflete
a relevância das questões ambientais, sociais e de governança e vem ganhando maior
visibilidade tendo em vista o aumento da preocupação do mercado financeiro com prá-
ticas relacionadas à sustentabilidade.
No turismo, o tema sustentabilidade se tornou mais popular na última década, no
entanto há empreendimentos que já apresentam essa preocupação e adotam práticas
há mais de vinte anos — podemos citar, como exemplo, alguns resorts localizados no
Brasil. Cabe destacar a importância da incorporação desse tema como um valor orga-
nizacional, pois afeta diretamente a cadeia local. A adoção de práticas orientadas para
sustentabilidade pode gerar valor compartilhado para sociedade e organizações, promo-
vendo melhorias no desempenho organizacional e oferecendo resultados positivos para
o entorno, como o desenvolvimento da comunidade, cuidados com o meio ambiente,
respeito à cultura local e aquecimento da economia local. Frente ao exposto, refletir
sobre a importância da sustentabilidade para o turismo e impactos para o hóspede e
cadeia de suprimentos, considerando o contexto atual, torna-se relevante, pois permite
um prognóstico sobre a jornada do viajante neste contexto de transformação e ressigni-
ficação da prática do Turismo.
38
// DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS SETE REVOLUÇÕES DA SUSTENTABILIDADE
cuperação do setor. Com as ações adotadas para conter a COVID-19, as viagens (aéreas,
terrestres ou marítimas) foram reduzidas, diminuindo a circulação de pessoas, tanto em
situações do cotidiano como no Turismo. Pode-se considerar que, para a dimensão am-
biental da sustentabilidade, estes fatores trouxeram impactos positivos, apesar de não
planejados, como a redução de emissões de gases e resíduos; por outro lado, para as
dimensões econômica e social, os impactos foram negativos, com o aumento de comu-
nidades locais sem fonte de renda.
A retomada gradativa das atividades tem promovido um reestabelecimento, mesmo
que lento, da economia, contudo, podemos questionar se a melhoria ambiental perce-
bida em função da redução de carga nos destinos turísticos será mantida com o reaque-
cimento do setor. As conquistas ambientais e ecológicas podem ser mantidas a partir da
continuidade do olhar estratégico para sustentabilidade e pelo interesse que os viajantes
venham a demonstrar por destinos e hotéis sustentáveis.
Dessa forma, não podemos desconsiderar que a COVID-19 é um divisor de águas, pois
pode fazer com que o Turismo, tanto por parte dos empreendimentos, como dos via-
jantes, ressignifique suas atividades. Pela ótica dos empreendimentos, oportunizando
a incorporação da sustentabilidade como parte do planejamento e da gestão, com ado-
ção de práticas voltadas para a mitigação e prevenção dos riscos gerados pelo segmento
antes da crise. Por parte dos viajantes, a partir das escolhas dos destinos e de hotéis
alinhados com o tema, pela incorporação da tecnologia e pelo comportamento durante
a viagem.
Cabe destacar que a escolha dos destinos e de hospedagens podem ser influencia-
das pelos cuidados e adaptação aos protocolos estabelecidos para enfrentamento da
pandemia. O consumo sustentável vem sendo apontado como uma mudança de com-
portamento do viajante e como um objetivo que deve ser conquistado por parte do seg-
mento, uma vez que o consumo sustentável se relaciona às experiências que a atividade
turística que não gerem impactos negativos para o entorno, comunidade e economia,
esses pontos são reforçados pela pesquisa TRVL Lab, publicada no Annual Luxury Travel
Report 2021/2022 Brazil/Latin America2, pela ILTM e PANROTA’S, e pelo relatório Insights
para o Turismo 2a. edição, parceria de Elo e TRVL Lab3.
A pandemia oportunizou uma reflexão sobre as práticas de consumo e impactos
quanto à sustentabilidade. A partir desse contexto, podemos considerar que a experiên-
cia turística se inicia na pesquisa do destino e pela possibilidade de ter vivências virtuais
2 Pesquisa “As viagens de luxo no Brasil: uma análise detalhada do perfil dos viajantes de
luxo brasileiros”, TRVL Lab, 2021. Disponível em: https://newsletter.panrotas.com.br/con-
teudo/TravelLab/ILTM-Mercado-de-viagens-de-luxo-v01.pdf. Acesso em: 25 fev. 2022.
39
// CLÁUDIA PANTUFFI & DAFNE MORAIS
em museus, shows etc. antes mesmo que chegar ao local, o que influencia a decisão
de compra e fortalece os tempos da hospitalidade no espaço virtual (CAMARGO, 20044;
20215). Para os viajantes que estão alinhados às demandas da sustentabilidade, o acesso
às informações e práticas voltadas ao tema impactará na concretização da experiência.
As transformações no turismo resultantes da crise sanitária serão distintas, e cada
segmento do Turismo será impactado de forma diferente. Tais impactos se relacionam
ao objetivo da viagem, perfil do turista e a experiência almejada. Pode-se considerar que
há destinos e empreendimentos que terão a sustentabilidade como um objetivo incorpo-
rado ou em processo de incorporação, visando contribuir com as questões sociais e eco-
nômicas degradadas em função da COVID-19, no entanto ainda encontraremos destinos
e empreendimentos que direcionarão suas energias para somente o retorno financeiro
sobre o investimento.
Independentemente da pandemia e de suas consequências, é importante conside-
rar que a adoção e a incorporação da sustentabilidade nos negócios enfrentam alguns
desafios: (a) valor do investimento, que pode variar de acordo com as práticas adotadas.
Muitas vezes este pode ser percebido como um custo, pois o retorno nem sempre é men-
surado a curto prazo; (b) engajamento dos atores envolvidos, envolve principalmente
o apoio, conscientização e aplicação das práticas por parte dos turistas e prestadores
de serviços, quanto aos hotéis, funcionários e hóspedes; (c) conciliação entre o padrão
da experiência e serviços prestados e as práticas orientadas para sustentabilidade ado-
tadas; (d) adoção de práticas abrangentes, que além de mitigar impactos negativos,
atuem de forma preventiva, considerando, no mínimo, as dimensões ambiental, social
e econômica; (e) priorizar e equilibrar todos os elementos estruturais da sustentabilida-
de: econômico, social e ambiental, incluindo a interrelação entre eles e (f) apresentar as
propostas e ações voltadas à sustentabilidade de forma clara e objetiva nos canais de
comunicação utilizados.
Ao superar esses desafios, o setor gerará impactos positivos e significativos que con-
tribuem com para a efetiva transição dos Novos Paradigmas propostos por Elkington
(2001)6. Dentre os principais resultados, destacam-se: utitização consciente de água e
energia; tratamento adequado dos resíduos produzidos; aquecimento da economia e
geração de renda para o destino; elevação da qualidade de vida e preservação do patri-
mônio e cultura do destino.Podemos considerar que a incorporação efetiva da sustenta-
bilidade e sua aplicação demandam investimento, porém, geram valor para sociedade,
destinos turísticos e empreendimentos instalados na região e entorno. Pensando nas
experiências que o Turismo proporciona e no viajante, trata-se de desafio necessário a
6 ELKINGTON, John. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron Books, 2001.
40
// DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS SETE REVOLUÇÕES DA SUSTENTABILIDADE
ser enfrentado uma vez que a adoção de práticas sustentáveis pode favorecer o planeja-
mento e desenvolvimento de estratégias relevantes para os negócios.
41
// CLÁUDIA PANTUFFI & DAFNE MORAIS
42
// DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS SETE REVOLUÇÕES DA SUSTENTABILIDADE
seu esgotamento futuro, mesmo que esse futuro seja calculado em termos de séculos.
Por fim, a sétima revolução aborda a governança corporativa, considerando ques-
tões de controle e responsabilidade. A pauta da sustentabilidade desperta demandas
voltadas ao conselho de administração da organização, que passa a ser pressionada por
deliberar sobre questões como: qual o equilíbrio de interesses a ser alcançado entre
acionistas e demais partes interessadas? Ou: qual o equilíbrio deve ser atingido entre
os pilares da sustentabilidade? Mesmo que sem um conselho formal, organizações que
atuam no turismo vão precisar começar a refletir sobre tais problemáticas.
Por fim, a superação da pandemia e a retomada do turismo demandarão flexibilida-
de, resiliência e responsabilidade, fortalecimentos das relações entre os stakeholders e
investimentos na hospitalidade que solidifiquem as relações virtuais e presenciais entre
os viajantes, destino turístico e empreendimentos hoteleiros.
CHEBLI, Amina; SAID, Foued Ben. The Impact of Covid-19 on Tourist Consumption
Behavior: A Perspective Article. Journal of Tourism Management Research, v. 7, n. 2,
p. 196-207, July 2020.
Turismo e saúde global: pandemia, pandemônio e novos rumos para o setor no Brasil
e no mundo
https://asebabaolorigbin.files.wordpress.com/2021/06/e-book-turismo-e-pande-
mia-1.pdf
43
// CLÁUDIA PANTUFFI & DAFNE MORAIS
QUEM ESCREVE
CLÁUDIA PANTUFFI
Cláudia possui Doutorado em administração de empresas
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestrado em
psicologia pela Universidade São Marcos. É especialista
em consultoria de Recursos Humanos, Psicopedagogia
pela Universidade São Judas, e especialista em Orienta-
ção Profissional, e tem um bacharelado em psicologia pela
Universidade Metodista. Atuou na área de recursos huma-
nos em organizações nacionais e multinacionais. Atua há
20 anos como docente de disciplinas relacionadas à ges-
tão de pessoas, comportamento organizacional, e psicolo-
gia nos cursos de bacharelado em hotelaria, bacharelado
em administração e tecnologia em recursos humanos.
DAFNE MORAIS
Graduada, mestre e doutora em Administração de Em-
presas. Dafne concluiu o doutorado na FGV EAESP,
com menção honrosa. Fez pós-doutorado no COPPEAD
UFRJ. Professora do Programa de Mestrado e Doutorado
em Administração da FEI. Lidera o NEODS — Núcleo de
Estudos em Operações e Desempenho Sustentáveis. Coor-
dena a área de Gestão da Sustentabilidade no EnANGRAD
e a área de Operações no EMPRAD. Líder do tema Ges-
tão de Operações Sustentáveis, na ANPAD. Possui mais
de 60 publicações em periódicos e eventos, nacionais e
internacionais.
44
UM NOVO OLHAR
PARA A GESTÃO
TRICIA NEVES
1 Palestra da terapeuta de casais Esther Perel na abertura do SXSW 2018. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=5iu9_8Vsmtk. Acesso em: 15 fev. 2022.
46
// UM NOVO OLHAR PARA A GESTÃO
complexo, é preciso conhecer e experimentar novos modelos, novas práticas que tam-
bém exigem uma nova liderança e, muitas vezes, novas versões de nós mesmos.
Encontro constantemente líderes de empresa que desejam trabalhar a cultura da
empresa porque as coisas não estão como eles gostariam que estivessem, “as pessoas
não fazem o que têm que fazer”, “essa geração não quer nada com nada” e, como solu-
ção, esperam algum sistema que garanta a mudança desse cenário. Desenho de proces-
sos, descrições de funções, treinamentos e indicadores de performance aparecem entre
as possibilidades de resolver o problema. Todas essas ferramentas fazem parte do por-
tfólio dos nossos produtos, mas nenhuma delas funciona sem engajarmos as pessoas,
sem que os times acreditem e escolham executar o trabalho de outra forma. O desafio
aqui é mudar os padrões, construir coletivamente outros significados que façam sentido
para as pessoas e abram caminho para que todos se sintam responsáveis pelo sucesso.
Pessoas engajam-se com aquilo que acreditam, que veem coerência, que vai ao encontro
de suas crenças e seus valores. Sabemos que o fato de ser remunerado por determinada
posição em um emprego não engaja ninguém. Seria simples se a transação comercial
“nós te pagamos, você entrega o que precisa” fosse assim, pragmática. Sim, o dinhei-
ro é importante, garante a sobrevivência das pessoas e de suas famílias, mas está lá na
base da escala das necessidades. Não conseguiremos engajar alguém que não consegue
pagar o tratamento de saúde de um familiar ou não dá conta de comprar o que precisa
no supermercado todo mês. A necessidade básica da remuneração adequada deve ser
atendida para que possamos evoluir essas relações com o time. Então poderemos olhar
para as necessidades de aprender, de sentir que contribui com algo relevante, de ser vis-
to e reconhecido pelos outros, de fazer parte de um grupo que quer alcançar sonhos
parecidos com os seus.
Cada indivíduo dos nossos times é único e é resultado da jornada que trilhou, da
educação que recebeu, da escola que estudou, das crenças que construiu, das empresas
por onde passou e dos líderes e mentores com quem conviveu. E essas histórias trazem vi-
sões de mundo distintas, necessidades não atendidas diferentes e significados particulares
para a própria vida, para o trabalho e para as relações. Todos, de alguma forma, dependen-
tes emocionais, com suas próprias faltas e sombras, inclusive você e eu.
Há algum tempo já sabemos do papel que as empresas ocupam na percepção de feli-
cidade das pessoas, o poder que as relações profissionais têm na sensação de autoestima,
de pertencimento, de evolução que cada um tem sobre si. Todos conhecemos histórias de
pessoas sofrendo em razão do trabalho ou, ainda, das relações profissionais. Fica cada vez
mais claro o impacto que as organizações e seus líderes têm na sociedade, no bem-estar e
na felicidade, não somente por gerar empregos e proporcionar renda e sobrevivência por
meio do dinheiro, mas também por oferecer ambientes e relações que promovem espaço
para as pessoas serem mais ou menos felizes. E, além disso, o Instituto de Pesquisa Gallup2
realizou em 2020 um estudo com mais 1,8 milhão de colaboradores em 230 empresas de 73
47
// TRICIA NEVES
países que demonstra que maior engajamento traz maiores resultados. De acordo com
o relatório, colaboradores engajados vendem 20% a mais, apresentam 40% a menos de
absenteísmo e são 17% mais produtivos. Cuidar das pessoas dá resultado.
Acompanhamos muitos líderes que estão no meio dessa jornada de evolução,
questionando o seu próprio papel, seus padrões de comportamento, a sua forma de
resolver problemas e de se relacionar com os times. A nossa experiência sabe que não
cabem fórmulas prontas, pois a evolução é um caminho único — seja do indivíduo,
dos times ou da organização, mas temos abordado e exercitado algumas práticas que
entendemos que possam ser úteis na sua reflexão.
O INDIVÍDUO
O processo de evolução de uma empresa costuma partir do incômodo e do despertar
de consciência de uma pessoa, de um líder. E se você está incomodado, querendo que
a sua empresa seja diferente, o caminho é começar por você. Autoconhecimento é uma
ferramenta valiosa nessa jornada de liberar o seu potencial e entender como você faci-
lita ou dificulta esse caminho.
Ao nos entendermos seres imperfeitos dispostos a evoluir, admitirmos as nossas
sombras e necessidades não atendidas, demonstramos a nossa vulnerabilidade e per-
mitimos que os outros também se conheçam e engajem em uma trilha de desenvolvi-
mento.
No mundo dinâmico não cabe mais acreditar que é possível “deixar os problemas
em casa” e levar ao trabalho somente uma versão adequada de si. Como disse o pes-
quisador Frederic Laloux3 no livro Reinventando as organizações: “Criamos máscaras
profissionais como recursos de sobrevivência e temos receio de nos mostrarmos in-
teiros achando que, em algum ponto, isso poderá ser usado contra nós.”. Em um ce-
nário em que as pessoas não têm coragem de dizer quando não sabem a resposta,
não se sentem autorizadas a questionar as antigas verdades, é improvável que surjam
grandes evoluções e inovações. A celebrada escritora Brené Brown4 parece concordar
quando diz que “É preciso ter coragem para ser imperfeito. Aceitar e abraçar as nossas
fraquezas, deixando de lado a imagem da pessoa que devia ser para aceitar a pessoa
que realmente é.”. A professora da Harvard Business School, Amy Edmondson5, cunhou
um termo para isso, que chamou de “segurança psicológica”, que é “um senso de que
a equipe não irá se envergonhar, rejeitar ou punir alguém por se pronunciar”. Saber e
48
// UM NOVO OLHAR PARA A GESTÃO
aceitar que cada colaborador é um ser integral e traz com ele toda a sua complexidade,
suas motivações e seu modelo mental é fundamental para proporcionar que ele evo-
lua, seja autêntico e contribua para que isso também aconteça na organização.
OS TIMES E AS RELAÇÕES
Em um ambiente incerto e volátil, tomar decisões passou a ser um dos processos mais
críticos da gestão. Baixa previsibilidade e alta velocidade de mudança exigem análise de
diferentes perspectivas e espaço de diálogo e divergência. Queremos sucesso e reconhe-
cimento, queremos ganhar a discussão na reunião, queremos ser admirados, um prato
cheio para cada um defender o seu ponto de vista e não abrir espaço para escutar e en-
tender o olhar do outro. Divergir é ser capaz de discordar sem que a opinião do outro pre-
cise estar errada, sendo possível observarmos a mesma situação por lentes diferentes e
ambos estarmos certos, cada um trazendo a sua perspectiva. E esse lugar de análise traz
riqueza para a decisão, amplia a visão das possibilidades e pode promover discussões
que levam para a criação de cenários ainda não pensados. Para alcançar esse nível de
relação, é preciso que haja confiança no grupo, ambiente seguro para discordar, para se
expor com verdade e saber que não será punido por isso. Esse espaço conquista-se com
intimidade, no sentido de nos conhecermos como pessoas, de admirarmos os talentos
do outro e respeitarmos as nossas vulnerabilidades.
Os programas de desenvolvimento de lideranças que acredito e facilito trilham
esse caminho, nutrindo os espaços de conversa e troca, em que o líder assume a res-
ponsabilidade pela conquista da sua própria maturidade e coloca-se a serviço de
reunir a diversidade cognitiva do seu time para aprender e ajudar a construir senti-
do. Investir tempo, esse recurso cada vez mais escasso, nas relações entre as pesso-
as no ambiente de trabalho é definitivo para a qualidade das decisões que tomamos.
A ORGANIZAÇÃO
Ao trilhar essas reflexões sobre como gerir e aliviar os campos das tensões que existem
nas empresas, estamos em busca de organizações mais ágeis, capazes de enfrentar os
desafios do mercado, de se adaptar às constantes e rápidas mudanças de contexto, de
acompanhar as necessidades e os desejos dos seus clientes, entregando experiências de
alta qualidade e resultados financeiros, sociais e ambientais.
Além dos indivíduos e das suas relações, também importam os sistemas que criamos
e utilizamos para a gestão. Entenda como “sistemas” todos os métodos e rituais que ope-
ramos, seja os processos, os softwares, as reuniões, os artefatos que também contribuem
para moldar a cultura.
Implantar metodologias ágeis, repensar formas de remuneração e incentivos e de
avaliação de desempenho, discutir o desenho da estrutura organizacional está na agen-
da de transformação. Não promoveremos a colaboração nos times quando os sistemas
49
// TRICIA NEVES
GELB, Michael. Empresas Que Curam: Despertando a consciência dos negócios para
ajudar a salvar o mundo. São Paulo: Alta Books, 2020.
50
// UM NOVO OLHAR PARA A GESTÃO
QUEM ESCREVE
TRICIA NEVES
Trícia Neves é cofundadora e sócia-diretora da Mapie e
atua há mais de 20 anos em Turismo e Hospitalidade.
Hoteleira, pós-graduada em Recursos Humanos pela
Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e espe-
cialista em Gestão e Transformação de Organizações
pela Metaintegral Institute, é membro do Conselho de
Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Após
12 anos como executiva em redes hoteleiras, fundou a
Mapie, em 2009, e trabalha para contribuir e provocar a
evolução das pessoas e das organizações, a facilitação
de conversas relevantes e os seus impactos na gestão,
nos resultados, no desenvolvimento das pessoas e na
qualidade dos serviços.
51
VALE A PENA
CORRER PARA
CHEGAR ATRASADO?
CONSIDERAÇÕES SOBRE
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
PROFISSIONAL EM TURISMO
MARIANA ALDRIGUI
Turismo, como área de conhecimento formal, tem pouco mais de 100 anos. Os primei-
ros estudos foram motivados pelas questões econômicas, em função do deslocamento
do poder de compra de ingleses abastados que passaram a sair de Londres por alguns
meses em busca de climas mais amenos e tratamentos termais. O tema gerou interesse e
passou a ser estudado, abrindo caminhos para o desenvolvimento das bases conceituais
sobre as quais trabalhamos até hoje.
Passada a Segunda Guerra Mundial, houve significativo aumento no consumo de
viagens, especialmente aquelas em que os turistas buscavam o verão, e, em paralelo,
cresceu o interesse por pesquisadores de diferentes áreas pelo Turismo. Após os anos
1970, e com mais destaque nos anos 1990, já havia considerável número de instituições
de ensino dedicadas aos estudos desse setor.
As pesquisas, em sua maioria nas áreas de Administração (privada e pública), Socio-
logia, Geografia e Psicologia subsidiaram a criação de programas dedicados à melhor
compreensão do fenômeno turístico, e qualificaram o debate acadêmico no setor.
Curiosamente, mesmo com muitos pesquisadores, uma das características mais for-
tes desse setor é a reduzida participação de profissionais com extensa qualificação for-
mal e, por consequência, a baixa produtividade em termos econômicos.
No Brasil, o Turismo não pode ser considerado um único setor econômico – visto que
as estatísticas oficiais não o tratam assim; há uma separação clara entre transporte, hos-
pedagem, alimentação e outras atividades realizadas por turistas, e, em muitos casos, os
números não conseguem separar o que é turismo do que não é. Entretanto, por meio de
análises multissetoriais, fica evidente que envolve principalmente micro e pequenas em-
presas, demandando mão de obra de baixa qualificação.
Dados divulgados mensalmente pelo Cadastro Geral de Empregados e Desemprega-
dos (CAGED) revelam que, em 2021, mais de 80% dos empregados formais em turismo pos-
suem até o Ensino Médio completo, e recebem em média 2,2 salários mínimos mensais.
Por oposição, nas funções ligadas ao setor, menos de 2% dos profissionais apresentam
pós-graduação (mestrado ou doutorado) no currículo.
Entre os anos 1990 e 2000 o Brasil passou por uma explosão do número de cursos de
graduação em Turismo, especialmente em instituições privadas. Destaca-se, não apenas
no Turismo, mas em diversas áreas, acompanhando uma tendência mundial que culmi-
nou com uma diminuição generalizada das exigências nos diferentes níveis, implicando em
discussões mais superficiais e alunos com menos capacidade crítica. Na realidade, conso-
lidou-se na população a ideia distorcida de que formações técnicas e profissionalizantes,
voltadas especificamente para o trabalho, eram menos nobres que as formações superio-
res. Para muitos especialistas, a graduação perdeu em profundidade, ocupando o espaço
dos cursos técnicos.
Além disso, a expansão dos cursos demandou a contratação de professores
53
// MARIANA ALDRIGUI
54
// VALE A PENA CORRER PARA CHEGAR ATRASADO?
Muito provavelmente, o que se verá em breve pode ser uma diluição dos cursos de
Turismo, ou uma estratificação em áreas de especialidade, como já aconteceu há alguns
anos quando se viu o aumento considerável de demanda por cursos de Gastronomia e
Eventos, componentes curriculares do Turismo. A demanda por profissionais que com-
preendam melhor as questões da mobilidade, da gestão da experiência, da produção de
conteúdo e, principalmente, da concepção, do desenvolvimento e da gestão dos proces-
sos envolvendo tecnologia, já existe. Profissionais egressos de outros cursos têm melhor
desempenho e, portanto, são preferidos nos processos seletivos.
55
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
E ainda assim, é provável que em pouco tempo já não faça mais sentido se falar em
formação superior, mas sim em diferentes formações específicas para cada momento
da vida (life long learning), com maior envolvimento das empresas e organizações na
orientação dessa formação.
O que não deve mudar, entretanto, é a disposição para as viagens — foi um árduo
aprendizado em tempos de restrição de movimentação — o ser humano foi feito para se
movimentar, para estar junto, para viajar.
56
// QUALIDADE DA GESTÃO COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS
QUEM ESCREVE
MARIANA ALDRIGUI
Mariana Aldrigui é professora doutora e pesquisadora
vinculada à Universidade de São Paulo. Preside, desde
dezembro de 2017, o Conselho de Turismo da Federa-
ção do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado
de São Paulo (FecomercioSP). Coordena as ações da
ONG Global Travel & Tourism Partnership no Brasil e nas
ações de expansão para a América Latina. É professora
na área de Turismo na Universidade de São Paulo, des-
de 2006, instituição em que também obteve seus títulos
de bacharela em Turismo (1998), mestra em Ciências da
Comunicação (2003) e doutora em Geografia Humana
(2011), e pesquisadora nos temas de políticas públicas de
turismo, turismo em cidades globais e educação para o tu-
rismo. Autora do estudo Monitora Turismo, suas pesquisas
são voltadas para compreensão do papel do turismo no
Brasil, combinando aspectos políticos, econômicos e so-
ciais. Trabalha sob a lógica do mapa de oportunidades mu-
nicipais, entendendo que não há dois municípios iguais e,
portanto, cada um demanda uma estratégia distinta para
ter sucesso no desenvolvimento do turismo e na melhoria da
qualidade de vida de sua população.
57
QUALIDADE DA
GESTÃO COMO FATOR
DE COMPETITIVIDADE
DAS EMPRESAS E
FORTALECIMENTO DO
DESTINO BRASIL
ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO
& MAR VILA
1 SCHWAB, Klaus. The travel & tourism competitiveness report 2019. In: World Economic
Forum, Geneva, Switzerland. 2019. Disponível em: https://www.weforum.org/reports/the-
-travel-tourism-competitiveness-report-2019. Acesso em: 23 mar. 2022.
59
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
2 “Grupo composto por 21 associações (ABAV, ABETA, ABIH, ABEOC, ABRACORP, ABRAPE,
ADIBRA, ADIT Brasil, AIR TKT, AVIESP, AVIRRP, BLTA, BRAZTOA, CLIA, FBHA, FOHB, RESORTS
BRASIL, SINDEPAT, UNEDESTINOS, SINDIPROM e UBRAFE) que representam toda a cadeia
produtiva do turismo: hotéis, resorts, parques e atrações, feiras e eventos, restaurantes,
agências, operadoras e navios de cruzeiro. Juntas representam o setor do turismo brasi-
leiro, responsável pela geração de mais de 2,9 milhões de empregos diretos no país, de
maneira descentralizada, e por mais de 8% do PIB do Brasil.”. Disponível em: https://abeoc.
org.br/wp-content/uploads/2020/08/Documento-G20-Contribuic%CC%A7o%CC%83es-A-
tualizada-jul2020.pdf. Acesso em: 17 mar. 2022.
60
// QUALIDADE DA GESTÃO COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS
5 BRITO, Luiz Artur. A competitividade das empresas brasileiras: o problema também está
dentro das organizações. Estadão, 9 abr. 2015. Disponível em: https://politica.estadao.com.
br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/a-competitividade-das-empresas-brasileiras-o-pro-
blema-tambem-esta-dentro-das-organizacoes/. Acesso em: 22 mar. 2022.
6 BLOOM, Nicholas et al. Management Practices Across Firms and Countries. The Academy
of Management Perspectives, v. 26, n. 1, p. 12-33, 2012.
7 BLOOM, Nicholas; VAN REENEN, John. Why do management practices differ across firms
and countries? The Journal of Economic Perspectives, v. 24, n. 1, 203-224, 2010.
61
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
um desses fatores internos está relacionado ao uso de práticas de gestão. A boa notícia
é que aprimoramento desse importante componente pode ser conduzido integralmen-
te pela iniciativa privada. Ainda que parcerias entre organizações diversas (empresas,
associações e governo) sejam muito bem-vindas e tenham potencial para acelerar esse
processo.
No Brasil, já existem iniciativas práticas que demonstram a eficácia das práticas de
gestão no aumento de produtividade e competitividade das empresas. Há dois anos, por
meio do Programa Brasil Mais, o Ministério da Economia em conjunto à Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai) e ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) vêm
disseminando as soluções para melhorar a gestão, inovar processos e reduzir desperdí-
cios8. Há também pesquisas acadêmicas que confirmam os resultados apontados pelos
estudos internacionais no contexto brasileiro, demonstrando a relação entre práticas de
gestão e desempenho (BRITO; SAUAN, 20169; AIDAR, 201810). Esses estudos indicam que
práticas de gestão, quando aplicadas dentro das organizações, transformam-se em uma
capacidade organizacional com potencial de gerar desempenho superior. As práticas não
são consideradas características binárias dentro da organização (WINTER, 200011), que
seria dizer se a empresa tem ou não tem determinada característica. O uso das práticas
de gestão, ainda que sejam frequentes entre as empresas, em geral, apresentam graus
distintos dentro das organizações – inicial, intermediário e avançado. As diferenças no
grau de desenvolvimento das práticas geram variação no desempenho entre os compe-
tidores e a existência de barreiras no desenvolvimento dessas práticas torna o processo
de disseminação lento e complexo (GIBBONS; HENDERSON, 201212).
Agora, antes de um gestor enfrentar os desafios de como acelerar o processo de de-
senvolvimento de determinada prática de gestão, é necessário compreender quais prá-
ticas têm maior potencial de levar a empresa a um desempenho superior para, enfim,
selecionar as práticas e definir a sua estratégia de implementação.
9 BRITO, Luiz Artur; SAUAN, Patrícia Kawai. Management Practices as Capabilities Leading
to Superior Performance. Brazilian Administration Review, v. 13, n. 3, p. 1-21, 2016.
62
// QUALIDADE DA GESTÃO COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS
O programa de pesquisa World Management Survey13 que impulsionou esse novo olhar
a respeito do potencial das práticas de gestão é uma fonte de inspiração relevante e que
possui diversos materiais disponíveis tanto para pesquisadores quanto para gestores.
É importante destacar, porém, que em função de ser um programa global e originado
com foco na manufatura, as práticas sugeridas são mais genéricas e menos voltadas para
empresas do setor de serviços.
As limitações dessa abordagem de pesquisa motivaram-nos a iniciar estudos aplica-
dos ao segmento de hotéis que pudesse servir de referência aos gestores desse segmen-
to e talvez do setor de serviços, por exemplo: Top 5 Hotel Management Practices Needed
for Competing in na Ever-changing Context (AIDAR; BRITO, 2017)14 e Management practi-
ces as capabilities: identifying specific practices and testing their effects on hotel perfor-
mance (AIDAR, 2018). Pesquisas específicas a determinados setores são essenciais até
mesmo porque há características muito peculiares de empresas que compõem o setor
de serviços, como a perecibilidade do estoque, a intangibilidade do produto/serviço, que
tornam a gestão diferente da indústria. Além de algumas especificidades do segmento
de hotéis, como a participação do ativo imobiliário na entrega do produto e a presença
de múltiplos stakeholders na gestão do negócio.
Os resultados dessa pesquisa aplicada ao segmento de hotéis no Brasil oferecem evi-
dências empíricas da relação das práticas de gestão com o desempenho, corroborando
os resultados do programa internacional (BLOOM et al., 201215). Entretanto, a pesqui-
sa enaltece a importância de se analisar práticas de gestão, considerando um contexto
específico, e seu efeito em diferentes indicadores de desempenho, conectados a cada
prática em questão.
Não é objetivo deste artigo detalhar o resultado de cada etapa da referida pesquisa,
mas sim propor uma reflexão a respeito do potencial das práticas na gestão da jornada
do viajante neste novo momento, aumentando a competitividade das empresas brasi-
leiras. Portanto, vamos nos restringir a apresentar o conceito das práticas de gestão com
potencial de levar a um desempenho superior, a descrever as práticas identificadas para
o segmento de hotéis e, ao final, faremos algumas provocações sobre as implicações des-
sas práticas, especialmente no contexto atual.
14 AIDAR, Ana Biselli; BRITO, Luiz Artur. Top 5 Hotel Management Practices Needed for
Competing in an Ever-changing Context. In: ENCONTRO DA ANPAD, 41., 2017, São Paulo.
Anais… São Paulo: EnANPAD 2017.
15 BLOOM, Nicholas et al. Management Practices Across Firms and Countries. The Aca-
demy of Management Perspectives, v. 26, n. 1, p. 12-33, 2012.
63
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
• Baixo nível de tangibilidade, uma vez que se referem a atividades, processos e com-
portamentos diversos que envolvem aspectos físicos e humanos;
• Alto grau de intencionalidade, evidenciado pela busca consciente dos gestores na
otimização e maximização dos ativos da organização por meio das práticas selecio-
nadas;
• Alto grau de especificidade, à medida que as práticas são implementadas por pes-
soas dentro de um contexto específico da organização, apresentando níveis de de-
senvolvimento distintos entre as empresas;
• São aplicáveis no nível da organização (macro) e, portanto, oferecem impactos a
diversas áreas da empresa.
16 BARNEY, Jay. Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Mana-
gement, v. 17, n. 1, p. 99-120, 1991.
64
// QUALIDADE DA GESTÃO COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS
Efeito desejado:
Efeito desejado:
65
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
3. Gestão de receitas
Objetivo: maximizar a receita do hotel e otimizar os custos de distribuição ao alocar a ca-
pacidade certa, ao cliente certo, pelo preço certo, no momento certo, por meio do canal
de distribuição certo17.
Efeito desejado:
4. Gestão de custos
Objetivo: maximizar a lucratividade do hotel ao gerenciar de maneira eficaz e eficiente
todos os custos do hotel. Para tanto, sistematicamente, deve-se analisar os impactos das
decisões atuais e futuras com base nas informações internas e externas.
Efeito desejado:
66
// QUALIDADE DA GESTÃO COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS
• Os parâmetros de custos relevantes para a operação são de fácil acesso aos vários
níveis da organização?
• A velocidade com que os dados de custos são disponibilizados auxilia devidamente
os gestores nas decisões?
• Análises periódicas de fornecedores potenciais versus o desempenho dos atuais
estão disponíveis aos líderes?
Efeito desejado:
Esperamos que essa estrutura conceitual ofereça inspiração de quais fatores devem
ser perseguidos para desenvolver as práticas indicadas e, assim, aprimorar a gestão da
jornada do viajante. A crise que o setor enfrenta tem pressionado os empreendimentos
hoteleiros a realizar transformações em seus negócios, tornando ainda mais urgente o
aprimoramento da qualidade da gestão.
67
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
O mundo em que as organizações estão inseridas já era conhecido como volátil, incerto,
complexo e ambíguo e, a pandemia da Covid-19 trouxe um tempero especial, tornando
o mundo mais frágil, ansioso, não linear e incompreensível (CASCIO, 202118). Como se
manter competitivo nesse contexto? A dinâmica de trabalho nas organizações mudou
completamente durante a pandemia: comitês de crise foram formados, reuniões diárias
regadas de novas decisões a cada nova situação, produção de novos dados para ajudar
nesse processo, e orçamentos feitos e refeitos semanalmente.
O lado bom dessa tumultuada situação é que esse contexto acelerou o processo de
transformação digital das empresas, muito por necessidade, mas também pelas pos-
sibilidades existentes por meio de novas tecnologias, atualmente mais acessíveis e co-
nhecidas no mundo das organizações. Essas evoluções tecnológicas contribuíram signi-
ficativamente para a evolução das práticas de gestão, com soluções que agilizam a sua
implementação e facilitam o processamento de dados e informações que são fundamen-
tais para as tomadas de decisão dos gestores.
O trabalho remoto parece que veio para ficar, em maior ou menor grau dependendo
do perfil da organização. No caso dos hotéis, o trabalho remoto parece oferecer impacto
expressivo tanto na gestão da experiência do cliente quanto na gestão dos recursos hu-
manos. Novos equipamentos foram adquiridos tanto para atender melhor à demanda
atual quanto para atrair novos nichos. Uma nova abordagem de atração e gestão da mão
de obra tornou-se urgente. Esse setor intensivo em mão de obra na modalidade presen-
cial perdeu atratividade para outros setores, o que afeta a qualidade do serviço.
Na gestão da experiência do cliente, no setor de Turismo, o uso contínuo das mídias
sociais vem sendo bastante presente na última década (VILA; COSTA; ELLINGER, 202019);
parece se consolidar não apenas como uma ferramenta de promoção do produto, mas
também como entrega de valor da marca em toda a jornada do cliente. Desde o sonhar,
selecionar, reservar, hospedar até o compartilhar. Durante o período em que as opera-
ções hoteleiras estiveram paralisadas, no início da pandemia da Covid-19, diversos re-
sorts intensificaram sua comunicação com os clientes oferecendo programação on-line
de lazer e de gastronomia. Essas iniciativas contribuíram para manter e ampliar o vínculo
com a marca, além de alimentar o desejo de viajar.
18 CASCIO, Jamais. Mundo Bani. HSM Experience, 26 ago. 2021. Disponível em: https://
experience.hsm.com.br/trails/as-novas-habilidades-essenciais/post/mundo-bani-com-ja-
mais-cascio. Acesso em: 22 mar. 2022.
19 VILA, Mar; COSTA, Gerard; ELLINGER, Eleunthia. An Ethnographic Study of the Motiva-
tions of Foodstagrammer Tourists. Journal of Sustainable Tourism, v. 29, n. 5, p. 813-828,
2020.
68
// QUALIDADE DA GESTÃO COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS
Com relação à oferta hoteleira, destacamos a entrada de novos atores, assim como as
transformações de players tradicionais. Hotéis modificaram suas estruturas buscando novas
receitas ao incorporar novos produtos como o room office; resorts intensificaram sua entrada
no modelo de multipropriedades; redes hoteleiras entraram no negócio de short-term rental;
novos atores surgem propondo a modalidade de assinaturas. Esses são alguns dos exemplos
que certamente trarão novos elementos nas práticas de gestão de receitas e de gestão do
ativo hoteleiro.
Por fim, destacamos os impactos recentes nas cadeias de suprimentos. Tanto a crise sani-
tária quanto a guerra que se iniciou em fevereiro de 2022 parecem modificar a maneira como
as organizações trabalham sua rede de fornecimento. As rupturas provenientes dessas crises
trazem impactos relevantes na prática de gestão de custos. Será que esse novo contexto nos
levará a consolidar a tendência de valorização e desenvolvimento de produtores locais?
Essa reflexão final tem como objetivo levantar provocações sobre os impactos que esse
novo contexto pode ter na qualidade da gestão dos hotéis, afetando a competitividade das
empresas. Esse cenário incerto e dinâmico torna ainda mais oportuno o desenvolvimento
contínuo das práticas de gestão. Esse desenvolvimento pode ser acelerado com o apoio das
associações de classe e das instituições de ensino, por meio de uma rede colaborativa. E a
evolução em bloco poderá contribuir para a diminuição de um componente relevante do
Custo Brasil, que está no controle das organizações. Vamos juntos assumir o controle do Des-
tino Brasil e melhorar a nossa posição no ranking de competitividade de Viagens e Turismo?
Se sim, vamos começar olhando para dentro.
A competitividade das empresas brasileiras: o problema também está dentro das or-
ganizações
https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/a-competitividade-
-das-empresas-brasileiras-o-problema-tambem-esta-dentro-das-organizacoes/
BLOOM, Nicholas et al. Management Practices Across Firms and Countries. The Aca-
demy of Management Perspectives, v. 26, n. 1, p. 12-33, 2012.
BROMILEY, Philip; RAU, Devaki. Operations Management and the Resource Based View:
Another View. Journal of Operations Management, v. 41, p. 95-106, 2016.
SCHWAB, Klaus. The travel & tourism competitiveness report 2019. In: WORLD
ECONOMIC FORUM, 2019, Geneva. Anais... Geneva, 2019.
69
// ANA BISELLI AIDAR & LUIZ ARTUR LEDUR BRITO & MAR VILA
QUEM ESCREVE
MAR VILA
Mar Vila é doutora em Administração e Direção de
Empresas, mestra em Direção de Empresas pela Uni-
versidade Ramon Llull (Esade), licenciada em Ciências
Empresariais e em Administração e Direção de
Empresas pela Universidade Politécnica da Catalunya.
Atualmente, diretora do Departamento de Economia,
Finanças e Contabilidade da Esade e membro do
GRUGET (Grupo de pesquisa em Administração do Tu-
rismo). Possui diversos artigos e capítulos publicados,
com foco de atuação nas áreas de gestão e a indústria
do Turismo.
71
ELEMENTOS
FUNDAMENTAIS
1 WASKO, Molly McLure; FARAJ, Samer. Why Should I Share? Examining Social Capital
and Knowledge Contribution in Electronic Networks of Practice. Management Information
Systems Quarterly, v. 29, n. 1, p. 35-57, 2005.
2 WIERTZ, Caroline; DE RUYTER, Ko. Beyond the Call of Duty: Why Customers Contribute to
Firm-hosted Commercial Online Communities. Organization Studies, v. 28, n. 3, p. 347-376,
2007.
3 BUHALIS, Dimitrios; LAW, Rob. Progress in information technology and tourism manage-
ment: 20 years on and 10 years after the Internet — The state of eTourism research. Tourism
management, v. 29, n. 4, p. 609-623, 2008.
74
// TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA JORNADA DO CONSUMIDOR DE TURISMO
6 EXPEDIA GROUP MEDIA SOLUTIONS. How Younger Generations are Shaping the Future
of Travel. Expedia, 14 nov. 2018b. Disponível em: https://blog.advertising.expedia.com/
how-younger-generations-are-shaping-the-future-of-travel. Acesso em: 29 maio 2020.
7 EXPEDIA GROUP MEDIA SOLUTIONS. Five Trends That Will Shape Experiential Travel in
2019. Expedia, 19 nov. 2018a. Disponível em: https://blog.advertising.expedia.com/five-
-trends-that-will-shape-experiential-travel-in-2019. Acesso em: 20 jul. 2020.
9 BUHALIS, Dimitrios; LAW, Rob. Progress in information technology and tourism manage-
ment: 20 years on and 10 years after the Internet—The state of eTourism research. Tourism
Management, v. 29, n. 4, p. 609-623, 2008.
10 EXPEDIA GROUP MEDIA SOLUTIONS. How Younger Generations are Shaping the Future
of Travel. Expedia, 14 nov. 2018b. Disponível em: https://blog.advertising.expedia.com/
how-younger-generations-are-shaping-the-future-of-travel. Acesso em: 29 maio 2020.
75
// PATRÍCIA BOAVENTURA & ELIANE BRITO & LILIAN CARVALHO
JORNADA DO CONSUMIDOR
O relacionamento entre empresa e cliente é construído por meio de interações entre eles
em diversos pontos de contato ao longo da jornada do consumidor (VOORHEES et al.,
201411); e as empresas estão desenhando suas estratégias na busca de experiências mais
personalizadas, customizando e gerenciando todas as etapas dessa jornada (LEMON;
VERHOEF, 201612).
Empresas de turismo interagem com os clientes ao longo de uma jornada de três
fases: a primeira, é prospectiva, pré-viagem, a segunda, é a experiência ativa de turismoe
a terceira, é uma fase reflexiva pós-viagem (YACHIN, 201813). A jornada inicia-se quando
um consumidor começa a planejar uma viagem. Durante a fase prospectiva — ocorre a
busca e a coleta de informações, a tomada de decisão e o próprio processo de reserva. Na
fase ativa, acontecem as interações mais intensas, a experimentação do consumidor e,
consequentemente, a comparação entre suas expectativas e a realidade. Por último, na
fase reflexiva, temos as memórias criadas ao longo da experiência, que contribuem para
o grau de satisfação do cliente na jornada percorrida.
O tradicional conceito de funil de vendas, elaborado por Elmo Lewis, propõe que o
processo de decisão do consumidor é linear, sendo que o cliente é atraído ou identifica a
necessidade de determinado produto e é influenciado por estímulos das empresas que
o leva a reduzir suas opções até o ato da compra. Porém, na era digital, esse conceito e
formato não se enquadram mais, pois as decisões são mais complicadas e menos linea-
res quando consideramos a grande quantidade de produtos e informações em diferentes
canais, incluindo os digitais, que estão acessíveis aos clientes cada vez mais capacitados
e com maior poder de discernimento (COURT et al., 200914).
14 COURT, David et al. The Consumer Decision Journey. McKinsey Quarterly, n. 3, 2009.
Disponível em: www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/Business%20Functions/Marke-
76
// TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA JORNADA DO CONSUMIDOR DE TURISMO
ting%20and%20Sales/Our%20Insights/The%20consumer%20decision%20journey/
The%20consumer%20decision%20journey.ashx. Acesso em: 29 maio 2020.
15 BROWN, Barry A. T.; CHALMERS, Matthew. Tourism and Mobile Technology. In:
EUROPEAN CONFERENCE ON COMPUTER SUPPORTED COOPERATIVE WORK (ECSCW), 8., 2003,
Helsinki. Proceedings of the Eighth European Conference on Computer Supported Coope-
rative Work. Helsinki: Springer, 2003. p. 335-354. Disponível em: https://dblp.org/db/conf/
ecscw/ecscw2003.html. Acesso em: 31 maio 2020.
77
// PATRÍCIA BOAVENTURA & ELIANE BRITO & LILIAN CARVALHO
METODOLOGIA
Para atingir o propósito do estudo, foram conduzidas entrevistas em profundidade
com viajantes (consumidores). A técnica de entrevista utilizada para coletar dados
junto aos consumidores foi a ZMET. O objetivo dessa coleta de dados era entender
detalhadamente quais foram as principais mudanças no comportamento de con-
sumidores durante o processo de decisão de hospedagem com o desenvolvimento
das novas tecnologias. A técnica de entrevista usa fotografias dos entrevistados re-
lacionadas à experiência que se quer explorar, ou seja, a técnica coleta, além das pa-
lavras dos viajantes, os aspectos sensoriais dos indivíduos (KRAFT; NIQUE, 200218).
Foi solicitado aos participantes que selecionassem duas imagens que representas-
sem duas viagens distintas: uma de algumas décadas atrás e outra recente. As imagens
foram usadas para ilustrar a experiência que tiveram e para obter informações sobre o
comportamento por meio das imagens sensoriais dos indivíduos. Para explorar as fotos
foram feitas perguntas aos entrevistados relativas ao processo de busca e compra dos
serviços de turismo relacionados à viagem da foto em questão. Para tal, foi usado um
roteiro.
O público escolhido para participar desse estudo apresentava idade entre 49 e 59
anos, pois possuíam experiências passadas e atuais com busca e reserva de acomoda-
ções. A escolha dos entrevistados foi por conveniência, ou seja, foram entrevistados via-
jantes que tinham proximidade com um dos pesquisadores e que poderiam conceder
18 KRAFT, Sibila; NIQUE, Walter Meucci. Desvendando o consumidor através das metá-
foras: uma aplicação da Zaltman Metaphor Elicitation Technique (ZMET). In: ENCONTRO
ANUAL DA ANPAD, 26., 2002, Salvador. Anais… Salvador: Anpad, 2002.
78
// TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA JORNADA DO CONSUMIDOR DE TURISMO
RESULTADOS
Podemos concluir que as principais mudanças no comportamento dos consumidores
que ocorreram no mundo do turismo nas últimas décadas se referem à forma de acessar
informações para escolha de destino e hospedagem; ao uso de comunidades on-line na
busca por indicações e experiências de muitos viajantes, e à maior busca por personali-
zação da experiência.
No passado, o uso de revistas conceituadas e agências tradicionais era comum entre
os viajantes na busca por indicações. A maioria dos entrevistados recorreu a um agente
de viagem para obter informações sobre os destinos que desejavam conhecer, revelando
a escassez de informações para o consumidor definir sua viagem sozinho.
A única forma de obter referências sobre hotéis e passeios, por exemplo, era através de revistas
e livros específicos sobre o assunto [...] a forma mais segura e habitual para a elaboração de
uma viagem, principalmente para um destino fora do país, era confiar nas informações de uma
empresa que era especialista [...] (Celso Egea).
79
// PATRÍCIA BOAVENTURA & ELIANE BRITO & LILIAN CARVALHO
Desta vez nós pesquisamos em vários sites de viagens, agências, cias aéreas e metabuscado-
res e blogs de viagens. Buscamos o máximo de informações e comparamos preços antes de
reservamos o voo, hotel, carro e passeios. Gastamos mais tempo fazendo as pesquisas, mas
conseguimos personalizar nosso roteiro e encontrar o melhor preço entre as empresas (Marcelo
Kanegae).
19 COURT, David et al. The Consumer Decision Journey. McKinsey Quarterly, n. 3, 2009.
Disponível em: www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/Business%20Functions/Marke-
ting%20and%20Sales/Our%20Insights/The%20consumer%20decision%20journey/
The%20consumer%20decision%20journey.ashx. Acesso em: 29 maio 2020.
80
// TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA JORNADA DO CONSUMIDOR DE TURISMO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo nos possibilitou entender como o desenvolvimento tecnológico transformou
a busca dos viajantes por destinos e acomodações.
Na etapa de pré-compra, nota-se grande diferença no comportamento com relação à
busca por informação. O cliente não se desloca mais até as lojas físicas de grandes agên-
cias de viagens como antigamente, ele busca por informações visitando sites de agências
on-line; acessando as redes sociais de amigos e familiares que já visitaram determinado
destino e compartilharam suas experiências nos seus perfis ou lendo blogs de viagens,
sendo a TripAdvisor a plataforma mais utilizada para avaliação de hospedagens, restau-
rantes e experiências. Essa mudança foi ilustrada ao longo das entrevistas, em que entre-
vistados recorreram às agências ou aos agentes de viagens para realizarem suas viagens
na década de 1990 e começo dos anos 2000. Enquanto na segunda viagem descrita pelos
entrevistados, 100% recorreram às plataformas on-line para pesquisa e reserva das res-
pectivas viagens. Esse movimento reforça a importância da formação das comunidades
de viagens on-line para a troca de informações e a influência das avaliações para a repu-
tação de determinado estabelecimento, impactando o processo de tomada de decisão
do consumidor (QU; LEE, 201120).
Quando se analisa a etapa da reserva de acomodações, nota-se que existem hoje di-
versos canais de vendas, e isso permite ao viajante encontrar o menor preço possível para
a mesma passagem, aérea ou hospedagem (WIERTZ; DE RUYTER, 200721). O consumidor
pode acessar a plataforma de um metabuscador, como Trivago, para acomodações e
Google Flights para voos, e lá ele encontrará qual é a empresa que oferece o melhor preço
para compra, seja uma OTA, como Expedia e Decolar, um site da própria empresa aérea
ou um site da rede hoteleira. Com isso, as viagens ficaram mais econômicas e acessíveis,
com esses passos podendo ser feitos por meios de um dispositivo móvel. O consumidor
toma decisões com base em muitas informações obtidas, mas também com suporte de
avaliações de consumidores que passaram por experiências semelhantes.
Quanto aos roteiros, antigamente, quando se adquiria o pacote de viagens direta-
mente da agência, o viajante baseava-se nas indicações dos agentes de viagens, que
20 QU, Hailin; LEE, Haeyoung. Travelers’ Social Identification and Membership Behaviors
in Online Travel Community. Tourism Management, v. 32, n. 6, p. 1262-1270, Dec. 2011.
21 WIERTZ, Caroline; DE RUYTER, Ko. Beyond the Call of Duty: Why Customers Contribute
to Firm-hosted Commercial Online Communities. Organization Studies, v. 28, n. 3, p. 347-
376, 2007.
81
// PATRÍCIA BOAVENTURA & ELIANE BRITO & LILIAN CARVALHO
22 EXPEDIA GROUP MEDIA SOLUTIONS. Five Trends That Will Shape Experiential Travel
in 2019. Expedia, 19 nov. 2018a. Disponível em: https://blog.advertising.expedia.com/five-
-trends-that-will-shape-experiential-travel-in-2019. Acesso em: 20 jul. 2020.
82
// TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA JORNADA DO CONSUMIDOR DE TURISMO
QUEM ESCREVE
PATRÍCIA BOAVENTURA
Patrícia Silva Monteiro Boaventura é gerente administrativa
e professora da Escola de Administração de Empresas
de São Paulo–Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP),
Brasil. Tem experiência em gestão de clientes e projetos
em banco de varejo e seguradora. Possui doutorado pela
Fundação Getulio Vargas/EAESP, Brasil e MBA pela The
Wharton School-University of Pennsylvania, EUA. Pesquisa
temas relacionados à experiência e jornada do cliente pela
lente da lógica dominante de serviço.
83
// PATRÍCIA BOAVENTURA & ELIANE BRITO & LILIAN CARVALHO
ELIANE BRITO
Possui graduação e mestrado em Administração pela
Fundação Getulio Vargas–SP e doutorado pela Manchester
Business School–Inglaterra. Atualmente é professora da
Fundação Getulio Vargas–SP e faz parte de Programas
de Pós-graduação em Administração de Empresas desta
instituição desde 2009. Atuou por 10 anos na Universi-
dade Presbiteriana Mackenzie (UPM) como professora
do Programa de Pós-graduação em Administração de
Empresas. Entre 2004 e 2008 coordenou o Programa de
Pós-Graduação stricto sensu e os cursos de pós gradu-
ação lato sensu em Administração da UPM. Tem 12 anos
de experiência profissional em empresas multinacionais
e nacionais de grande e pequeno porte. Ficou como Edi-
tora Científica do periódico Administração: Ensino e Pes-
quisa–RAEP, editado pela ANGRAD entre 2009 e 2011.
Atuou como Coordenadora da Área de Administração, Ci-
ências Contábeis e Turismo da CAPES entre 2011 e 2018.
Atualmente coordena o Centro de Estudos em Marketing
Digital da FGV-EAESP.
LILIAN CARVALHO
Professora Doutora em marketing pela Fundação Getulio
Vargas (FGV-EAESP). Selecionada pela NASA como cien-
tista de dados para o programa Datanauts no Outono de
2018. Coordenadora do centro de estudos em Marketing
Digital da EAESP (FGV/CEMD). Consultora da Synapse
Consulting.
Professora Visitante da Awa Business School (UK) e
professora assistente da Universidade de Chicago (US).
84
// TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA JORNADA DO CONSUMIDOR DE TURISMO
OS NOVOS
COMPORTAMENTOS
DOS VIAJANTES
BRASILEIROS
CAROLINA SASS DE HARO
1 Pesquisa “As viagens em um mundo pós-vacina: insights para o Turismo”, parceria de Elo
e TRVL Lab, 2ª edição, 2021. Disponível em: https://newsletter.panrotas.com.br/conteudo/
TravelLab/Insights%20II%20%20Viagens%20no%20P%C3%B3s-vacina%20Completa.pdf.
Acesso em: 15 fev. 2022.
86
// OS NOVOS COMPORTAMENTOS DOS VIAJANTES BRASILEIROS
manecerão? Que tendências serão mais relevantes nos próximos anos? É com o olhar
atento e curioso, com base em metodologias de pesquisas e análise de dados que identi-
ficamos algumas possíveis direções.
Durante a pandemia, houve aumento da preocupação com a saúde em geral, bem-
-estar, saúde mental e tempo de qualidade em família e, com isso, a adoção de novos
hábitos mais focados em equilibrar esses aspectos com as outras dimensões da vida.
De acordo com a pesquisa citada anteriormente, 84,73% dos brasileiros aumentaram o
cuidado com a saúde e 69,29% com o bem-estar. Acima de 80% pretendem mantê-los
como parte da nova rotina de vida.
As viagens de lazer podem incentivar a continuidade desses novos comportamen-
tos, entregando mais experiências conectadas ao bem-estar que permitam que viajan-
tes desfrutem de tempo valioso e de qualidade consigo mesmo e com suas famílias de
forma potencializada. O turismo de bem-estar crescerá nos próximos anos e ele pode
ser concretizado de diversas formas, desde a criação de modelos de negócios turísticos
totalmente dedicados a esse objetivo até a inclusão de atividades de bem-estar na pro-
gramação de lazer, apenas para citar um exemplo.
Associado ao desejo de equilibrar vida profissional e pessoal, as viagens do futuro
terão definições e rótulos menos claros. Com as alterações ocorridas na forma de tra-
balhar e modelos híbridos ganhando força, bem como o trabalho remoto e o chama-
do anywhere office, as viagens tornam-se mais flexíveis, com barreiras diminuídas. O
viajante a negócios aproveitará mais do seu tempo livre para usufruir do destino e de
atividades de lazer, enquanto destinos de lazer verão ligações, chamadas de vídeo e
reuniões virtuais acontecendo com mais frequência, ainda que à beira da piscina. Po-
demos destacar que 51,3% dos brasileiros já combinaram viagens de lazer e de negó-
cios e 48,56% farão visitas a atrações turísticas no destino em viagens de negócios2.
Essa tendência apresenta uma série de oportunidades para os meios de hospeda-
gem, que precisam adaptar suas estruturas e seus estilos para atender às demandas an-
teriormente menos evidentes. Ao mesmo tempo, a sazonalidade pode diminuir, o que é
sempre uma boa notícia.
Ainda nessa mesma linha, o conceito de slow travel ganha força. Viagens mais tran-
quilas e que oferecem mais conexão com o local serão valorizadas. O tempo de perma-
nência em uma mesma localidade aumenta para que seja possível desfrutar com mais
profundidade e calma.
A economia da experiência foi apresentada pela primeira vez, em 1998, pelo autor
Joseph Pine, e mais de 20 anos depois fica evidente que as experiências são a grande
moeda da atualidade. Viajantes estão em busca de momentos únicos, de oportunidades
para desenvolver novos talentos e viver algo inusitado. Na indústria do turismo, não é
87
// CAROLINA SASS
mais suficiente prestar um bom serviço, é preciso recheá-lo de experiências que gerem
boas lembranças, memórias afetivas e despertem emoções positivas. As viagens de con-
teúdo e de conhecimento serão ainda mais buscadas por viajantes ávidos por conhecer
em profundidade a cultura e a comunidade local e estabelecer uma conexão menos su-
perficial. Na pesquisa “As Viagens de Luxo no Brasil”3, agências de viagens entrevistadas
afirmam que as principais tendências são viagens em pequenos grupos com o mesmo
propósito, viagens mais responsáveis e sustentáveis, viagens com conteúdo e conheci-
mento associados, apenas para citar algumas delas.
E como essas tendências de comportamento e consumo se encaixam na jornada do
viajante digital?
No momento, todos os viajantes são digitais. Não existe mais separação entre a vida
on e off-line e isso também é válido para o turismo. A multicanalidade está mais presente
do que nunca e boa parte dos viajantes faz suas pesquisas, escolhas e compras por meios
digitais. Os dados obtidos indicam que 79,68% dos brasileiros utilizam o smartphone
para fazer pesquisa de viagens; 57,46% preferem fazer as reservas diretamente pelos for-
necedores, preferencialmente pelo site ou aplicativos de mensagem, como o WhatsApp;
51,10% utilizam as agências de viagens on-line ou metabuscadores e apenas 12,28% ain-
da procuram uma agência física.
Já quando se trata do restante da jornada, observamos um crescimento da digitali-
zação por parte das empresas e uma aceitação maior por parte dos clientes. O check-in
on-line e o uso do cartão de embarque digital já são adotados por mais de 60% dos via-
jantes. Quando atendidos por assistentes virtuais, os clientes mostram-se satisfeitos des-
de que o processo seja fácil e sem atritos e que, quando necessário, o caminho para o
atendimento humano seja simples.
Ao considerar a jornada digital e os novos comportamentos da demanda, precisamos
nos atentar para o fato de que a tecnologia deve ser facilitadora da experiência. Ela deve
ser fácil de usar e deve proporcionar um atendimento sem dificuldades nos diversos
pontos de contato. No geral, quanto mais simples, melhor e quanto mais natural para o
cliente, como o WhatsApp, por exemplo, mais rápida será a adoção.
Em resumo, a jornada do cliente deve ser pensada como um todo, desde o momento
que ele fica sabendo da existência do negócio até o pós-check-out. Conhecer as transfor-
mações do comportamento é fundamental para revisar e desenhar produtos, serviços
e experiências que atendam aos novos anseios dos clientes. Esse é o caminho para a
sobrevivência e sustentabilidade do negócio.
Para finalizar, no final das contas, as tendências sempre estão conectadas ao aten-
dimento das necessidades e dos desejos humanos. Conhecer o seu cliente em profundi-
dade, estar sempre em modo de observação, com o olhar curioso e colocá-lo no centro
das estratégias e decisões leva a um caminho bem-sucedido, sem nunca esquecer da
3 Pesquisa “As viagens de luxo no Brasil: uma análise detalhada do perfil dos viajantes de
luxo brasileiros”, TRVL Lab, 2021. Disponível em: https://newsletter.panrotas.com.br/con-
teudo/TravelLab/ILTM-Mercado-de-viagens-de-luxo-v01.pdf. Acesso em: 25 fev. 2022.
88
// OS NOVOS COMPORTAMENTOS DOS VIAJANTES BRASILEIROS
hospitalidade que é inerente ao nosso setor, recebendo com acolhimento, atenção, res-
peito e empatia.
PINE, Joseph; GILMORE, James H. The experience economy, de Joseph Pine e Ja-
mes H. Gilmore, Harvard Business Press, 2011.
QUEM ESCREVE
89
TENDÊNCIAS EM
INFRAESTRUTURA
E SERVIÇOS
HOTELEIROS NO
CENÁRIO FUTURO
JULIANA CARBONARI & PEDRO FREIRE
& RICARDO MADER
91
// JULIANA CARBONARI & PEDRO FREIRE & RICARDO MADER
igualdade e inclusão. A adequada e responsável aplicação da ESG pode trazer muitos be-
nefícios, seja na geração de novas receitas, na redução de custos, ou então no aumento
da produtividade dos funcionários.
No entanto, ainda que parte da demanda de negócios e de eventos tenha deixado de
existir, a tendência de combinar viagens de negócios (business) e lazer (leisure), denomi-
nada “bleisure”, foi acelerada com a pandemia. Isso porque, com a adoção do trabalho
remoto, é possível viajar com a família a um hotel com infraestrutura de lazer, onde é
possível se beneficiar da variedade de serviços e amenities e trabalhar ao mesmo tem-
po. Nesse contexto, hotéis com espaços mais amplos e quartos mais confortáveis são
preferidos.
Quartos mais amplos e confortáveis também são uma nova tendência para a hotela-
ria urbana, visto que muitos hóspedes estão preferindo passar mais tempo em suas aco-
modações como forma de manter o isolamento social em suas viagens a negócios. Em
contrapartida, o lobby dos hotéis está sendo uma peça imprescindível na retomada do
turismo, deixando de ser um espaço de transição para ser um ponto de encontro. Assim,
os lobbies passam a proporcionar parte da experiência da hospedagem, sendo um lugar
“instagramável”, no qual os hóspedes e usuários são atraídos pelo design, tiram fotos e
postam nas mídias sociais, uma forma de divulgação gratuita.
Nota-se também uma tendência de alongar o tempo de uma viagem a negócios, jus-
tamente para ser possível aliar as motivações de negócios e o lazer. Assim, ainda que as
viagens a negócios tenham caído em número, a tendência é que elas sejam mais longas,
sendo benéfico para os hotéis, que podem recuperar suas taxas de ocupação mais rapi-
damente.
Com a queda nas receitas pela baixa demanda hoteleira, os hotéis tiveram de inovar
na oferta de seus serviços. Em 2020, observamos o surgimento do “room office”, serviço
de aluguel de um quarto de hotel com infraestrutura de escritório para aqueles que ne-
cessitavam se isolar, mas ainda trabalhar. Ainda que, com o retorno gradual da demanda
hoteleira, o room office comece a perder força, novas tendências na hotelaria devem se
consolidar nos próximos anos.
Uma delas é a oferta de um serviço de assinatura de hotéis, oferecido de forma pio-
neira por algumas redes hoteleiras, como Selina e CitizenM, no qual um hóspede compra
uma quantidade de noites em um mês a preços competitivos, que podem ser usadas de
forma flexível em qualquer hotel da rede.
A tendência de eventos híbridos, cujos envolvidos podem participar de forma remota
ou presencial, surgiu com a pandemia da Covid-19 após um relaxamento das restrições
sanitárias. A pandemia impulsionou o surgimento de empresas especializadas nesse tipo
de evento, que fornecem o equipamento e o material necessários para teleconferência,
providenciam totens de álcool em gel para as salas de reuniões, e realizam treinamento
com os funcionários do hotel para melhor atender os participantes. Algumas empresas,
inclusive, fazem uso de hologramas e realidade aumentada.
Em outubro de 2021, o Facebook anunciou a criação do seu metaverso, um univer-
so totalmente virtual que oferece experiências interativas e imersivas aos seus usuários,
92
// TENDÊNCIAS EM INFRAESTRUTURA E SERVIÇOS HOTELEIROS NO CENÁRIO FUTURO
que podem interagir entre si. Muito se especula a respeito dos impactos da criação do
metaverso na indústria hoteleira e no turismo, existindo o receio de que os consumidores
deixem de realizar viagens fisicamente para as realizar virtualmente. Entretanto, nossa
opinião é que esse cenário é improvável, já que as pessoas ainda necessitam de experi-
ências autênticas, reais e de interação com os locais em um destino turístico.
Por isso, acredita-se que a criação do metaverso trará muito mais benefícios ao Tu-
rismo, como auxiliar um viajante a escolher seu próximo destino de férias, ajudar na
promoção de destinos existentes no mundo real, combater o overtourism e possibilitar a
criação de destinos completamente virtuais. Os viajantes farão escolhas mais conscien-
tes, podendo visitar atrativos turísticos, hotéis e restaurantes de maneira virtual antes de
visitá-los fisicamente.
De qualquer modo, a indústria hoteleira enfrentou muitos desafios ao longo dos úl-
timos dois anos, mas graças à inovação e ao uso da tecnologia, os hotéis puderam se
reinventar e fornecer novas e melhores experiências aos seus hóspedes e usuários. As-
sim, espera-se que as novas tendências e a inovação contribuam para o aumento das
margens nos próximos anos.
93
// JULIANA CARBONARI & PEDRO FREIRE & RICARDO MADER
QUEM ESCREVE
JULIANA CARBONARI
Juliana é bacharel em Turismo pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo e pós-graduada em Gestão Ambiental. Na JLL
desde 2011, tem 11 anos de experiência na área de
consultoria em hospitalidade e turismo na América
Latina. Como gerente de negócios, realiza pesquisa
e análise de mercado, avaliação de facilities, pro-
jeções financeiras, estudos de viabilidade, desen-
volvimento de estratégias e planos de marketing,
assistência em planejamento e desenvolvimento,
avaliações operacionais e gestão e negociação de
contratos. Trabalhou por três anos no escritório da
JLL no Chile, onde ganhou experiência no mercado
hoteleiro latino-americano.
PEDRO FREIRE
Graduado com méritos pela Les Roches International
School of Hotel Management School, na Suíça e com
MBA pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Pedro
tem mais de 15 anos de experiência no setor hoteleiro e
já participou de mais de 300 estudos de viabilidade, bem
como processos de seleção de operadoras e negocia-
ções de contratos de gestão no Brasil e outros países da
América Latina. Além disso, esteve envolvido em todos os
processos de IPO, captação de recursos e transações de
hotéis em que a JLL Hotéis atuou no Brasil desde 2008,
totalizando cerca de R$ 1 bilhão negociados. Já completou
estágios em operações hoteleiras no Hotel Astor na Suíça
e no Rome Cavalieri Waldorf Astoria em Roma, Itália.
94
// TENDÊNCIAS EM INFRAESTRUTURA E SERVIÇOS HOTELEIROS NO CENÁRIO FUTURO
RICARDO MADER
Ricardo Mader Rodrigues tem mais de 35 anos de
experiência em consultoria para a Indústria Imobiliária
com ênfase em Hoteleira e Hospitalidade atuando em 10
países da América Latina e outras regiões. Sua experiência
inclui a realização de pesquisas e análises de mercado,
avaliações patrimoniais, planejamento estratégico, asset
management, transações, assessoria na negociação de
contratos de administração hoteleira.
É formado em Administração de Empresas pela Fundação
Getulio Vargas. Tem especialização em hotelaria pela
Escola de Administração Hoteleira na Universidade de
Cornell, EUA.
95
DESAFIOS
DA OPERAÇÃO
HOTELEIRA NA ERA
DA HOSPITALIDADE
DIGITAL
PAULO MÉLEGA
96
// OS DESAFIOS DA OPERAÇÃO HOTELEIRA NA ERA DA HOSPITALIDADE DIGITAL
97
// PAULO MÉLEGA
disso, Danny comenta que a hospitalidade é um diálogo, ou seja, significa trocar, ouvir e
falar, entender as pessoas de forma individualizada. E aqui não existem respostas pron-
tas, de robôs, pois cada indivíduo é diferente por natureza. E, por último, afirma que um
ato de hospitalidade não poderia ser registrado por uma foto, por exemplo, pois é muito
mais a forma com que as pessoas se sentem do que objetos ou elemento tangíveis colo-
cados naquela experiência. Reforço o entendimento que a hospitalidade depende então
do ser humano para ser aplicada na sua plenitude, quer seja por meio de uma interação
de fato, quer seja na sensibilidade de se oferecer sentimentos de felicidade e conforto
emocional.
O uso de tecnologia é bem-vindo na nova era da hospitalidade, mas não pode (e não
deve) substituir por completo as relações humanas, ao mesmo tempo, as pessoas em po-
sição de atendimento precisam ajustar o seu papel a partir do maior uso de tecnologia.
Antigamente (ou ainda hoje em alguns casos), um recepcionista atuava basicamente em
procedimentos burocráticos de check-in e check-out, porém a partir da automatização
dessas atividades o recepcionista passa a ter um papel de concierge (no sentido de co-
nhecer o entorno e indicar/sugerir atividades) e host (no sentido de conhecer os clien-
tes e acolhê-los da melhor forma durante a hospedagem). O foco do atendente deixa
de ser estritamente os processos (substituídos por tecnologia) e passa a ser também as
pessoas.
Claudemir Oliveira, ex-professor da Universidade Disney e atual presidente da Seeds
of Dreams Institute, resume bem esse ponto ao afirmar que o sucesso da hospitalidade
está no equilíbrio do high tech (uso de tecnologia) e do high touch (toque humano), ou
seja, no bom uso da tecnologia, mas sem esquecer do elemento atendimento pessoal.
Claudemir ainda relata que o principal motivo de um cliente não voltar a comprar é a in-
diferença. Mais uma vez fica evidente que a maneira como as pessoas são tratadas repre-
senta parte relevante no núcleo da hospitalidade. Então, o desafio da área de operações
está em não deixar que a tecnologia ultrapasse os limites do núcleo da experiência (high
touch), apenas contribuir para melhorar as atividades que não agregam valor ou que sig-
nifiquem atritos nessa relação.
Outro conceito interessante é do autor Karl Albrecht sobre a hierarquia de valores,
segundo a qual o valor percebido pelo cliente progride dos valores básicos (atributos
absolutamente essenciais, sem os quais é impossível atender bem o cliente, como limpe-
za, segurança); passando pelos valores esperados (associados à experiência do cliente,
por exemplo, preços justos, internet disponível), valores desejados (que o cliente não
espera, mas conhece e gostaria que estivessem presentes, como um restaurante temáti-
co em um hotel), e chegando aos valores inesperados (aqueles que não estavam na lista
dos desejos e expectativas dos clientes, mas lhe encantam quando oferecidos). Nesse
sentido, não haveria como passar para um novo nível sem ter realizado o anterior. O que
de fato fideliza, porém, são os valores desejados e inesperados, que marcam a experi-
ência do cliente (isso desde que os valores básicos e esperados estejam sendo atendi-
dos adequadamente). A meu ver, a tecnologia contribui muito para melhorar a entrega
dos valores básicos e esperados, à medida que esses se concentram em processos mais
98
// OS DESAFIOS DA OPERAÇÃO HOTELEIRA NA ERA DA HOSPITALIDADE DIGITAL
• Viajante conectado: esse novo consumidor é mais exigente com relação às solu-
ções tecnológicas, tanto em relação à qualidade de internet quanto em relação às
formas de interação, desde o ato de reserva, solicitações de serviços, até o check-out.
O viajante digital não aceita perder tempo com certas burocracias, atendimento tele-
fônico, filas etc. O objetivo aqui é rápido, fácil, a qualquer hora, em um canal apenas.
Vale também atenção redobrada da área de Operações para a reputação on-line.
• Valorização do local: existe uma tendência pelo aumento de viagens locais, e mais
viajantes que exploram o entorno de suas regiões (logo, mais oportunidades de ne-
gócios em regiões até então desconsideradas). Há uma busca por pertencimento,
viver a cultura local (gastronomia, música, artes etc.), ter contato com os moradores
locais. Esse seria um dos alicerces iniciais do AirBnB, mas também vale para a hospe-
dagem tradicional. Think Global, act Local.
• Comportamento “nômade”: a transformação digital mostrou que podemos traba-
lhar e viver praticamente em qualquer lugar do planeta, sem as amarras de estarmos
presos a um ponto geográfico. Esqueça as sazonalidades típicas de hotéis de negó-
cios urbanos (segunda a sexta-feira) e lazer aos fins de semana. Na era dos “nômades
digitais”, as sazonalidades ficaram menos acentuadas, o uso misto de trabalho e la-
zer são mais frequentes (bleisure travel, termo que significa o uso para business (tra-
balho) e leisure (lazer) na mesma viagem). Ainda nesse ponto, notamos o aumento
de pessoas que viajam sozinhas, no seu tempo, e buscam segurança e conexão com
outros viajantes. Percebemos um aumento de empreendimentos voltados também
para esse público (Selina e Joe & Joe, por exemplo).
• Experiências autênticas: em uma era em que muitos produtos e muitas experiên-
cias ficaram “pasteurizados” e sem graça, o novo consumidor digital está à procura
de autenticidade, ou seja, valores reais e únicos que não sejam reproduzidos em es-
cala e sem propósito. O objetivo é experimentar algo novo, que tenha significado,
que seja único. Diferenciação é o objetivo. Um exemplo desse tipo de atuação na área
1 STAFFORD, Marie et al. The Future 100: Trends and Change to Watch in 2022. Wunderman
Thompson Intelligence, 2022. Disponível em: https://www.wundermanthompson.com/pt/
insight/the-future-100-2022. Acesso em: 14 mar. 2022.
99
// PAULO MÉLEGA
Não há dúvida que vivemos uma nova era, de transformação digital e de novos hábi-
tos. A área de Operações deve estar atenta a essas mudanças, sempre com o objetivo de
atender e fidelizar clientes. Pois, afinal, é disso que se trata, não é? Como definir estraté-
gias e ações que considerem os anseios e desejos dos viajantes, para que esses repitam
a experiência e recomendem a terceiros? O núcleo da fidelidade (ou hospitalidade) nos
serviços está na criação de relações duradouras e de valor a partir da interação das áreas
de operações com os seus clientes. Cuidado para não transformar a hospitalidade em
algo transacional ou automatizado. Não tire da área de Operações e das pessoas a res-
ponsabilidade por encantar, por estabelecer conexões, por fidelizar. Recentemente ouvi
de um diretor de Loyalty de uma importante rede hoteleira: “nenhum programa de fideli-
100
// OS DESAFIOS DA OPERAÇÃO HOTELEIRA NA ERA DA HOSPITALIDADE DIGITAL
dade de fato fideliza”. Concordo 100%. O que fideliza o cliente são as relações humanas,
o acolhimento, o serviço, a experiência. Não troque nunca esse trabalho por um cartão
de plástico, um aplicativo, um algoritmo, um robô. Conheça seu cliente, crie empatia,
estabeleça relações e conexões que ultrapassem o sentido comercial. Crie vínculos emo-
cionais, memórias, significados. E use tecnologia. Com moderação.
QUEM ESCREVE
PAULO MÉLEGA
Pós-graduado em Gestão de Turismo e Hotelaria
pela Fundação Getulio Vargas São Paulo (FGV–SP),
com especialização em Investimentos Hoteleiros
na Cornell University (EUA), é bacharel em Admi-
nistração de Empresas pela FGV. Foi docente da
Escola de Educação e Artes da Universidade de
São Paulo (ECA–USP) no curso de especialização
em Turismo e Hotelaria e da pós-graduação do Ser-
viço Nacional de Aprendizagem Comercial de São
Paulo (Senac–SP). Trabalhou na Cia Transamérica
de Hotéis, no Senac e na Bourbon Hotels & Resorts.
Atuou na HVS/Hotelinvest, consultoria especia-
lizada em investimentos hoteleiros, e no Grupo
Praias, sendo responsável pelo desenvolvimento
de condo-hotéis. Atualmente, é vice-presidente de
Operações da Atrio Hotel Management, maior fran-
queada da Accor Hotels no Brasil, com mais de 70
hotéis em operação.
101
NOVOS PRODUTOS
PARA NOVOS
COMPORTAMENTOS
DE CONSUMO EM
GASTRONOMIA
MARCELO TRALDI
103
// MARCELO TRALDI
104
// NOVOS PRODUTOS PARA NOVOS COMPORTAMENTOS DE CONSUMO EM GASTRONOMIA
mentados, salvos e/ou viralizados. Seja uma montagem de um chá com algodão doce no
topo da xícara que derrete quando servimos, seja um tomahawk steak que servimos em
um varal e que finalizamos com gordura maçaricada, ou um milk-shake com calda caindo
pelos lados ou ainda um peixe na telha que quebramos a telha na frente dos clientes e
dentro se revela um suculento peixe inteiro.
Sem dúvida que isso demanda atenção para que não seja somente um teatro ou que
isso acabe criando uma imagem negativa de seu produto. Esse desenho deve ser feito
sempre de acordo com o conceito de nossas operações e pensando no objetivo daquele
produto.
105
// MARCELO TRALDI
106
// NOVOS PRODUTOS PARA NOVOS COMPORTAMENTOS DE CONSUMO EM GASTRONOMIA
Por que não também desenhar diferentes formatos de produtos? Por que não pen-
sarmos em uma experiência a distância? Por que não desenharmos uma jornada do con-
sumidor de maneira assíncrona e não presencial?
Um exemplo recente foram os alunos do Centro Universitário Senac que, na edição
de 2020, em plena pandemia e com restrições de acesso aos hotéis-escola, desenvolve-
ram para o programa Desafio Senac Alunos no Comando2, uma box de home experience
em que entregavam uma série de produtos que estavam associados ao tema do evento
que eram vendidos separadamente para quem tivesse interesse por meio de um parceiro
que fazia a distribuição na cidade de São Paulo (por um valor que chagava a 1/4 da diária
média) e criaram uma forma de interação com as atividades presenciais através de uma
live direta com o hotel em que executavam uma receita e uma degustação (de produtos
que estavam na box) e, dessa formas as pessoas que não puderam estar fisicamente pre-
sentes também puderam participar, tendo uma vivência em tempo real como se estives-
sem participando e interagindo presencialmente.
Com essa ação discutiu-se sobre quem é o hóspede do hotel, somente quem está
hospedado ou quem deseja uma interação com nossa marca, uma experiência com nos-
sos produtos e serviços? E nesse cenário a criação da home experience fez com que o
hotel pudesse levar um pouco dessa experiência aos “hóspedes não hospedados”, algo
um tanto paradoxal em sua essência, mas que se mostrou muito interessante como ação
de interação e de fortalecimento da relação com a marca em um momento tão peculiar
e diferente que vivíamos.
Outro exemplo muito interessante é o Eazyo App, que permite ao cliente fazer um
pedido na praia, marcar sua localização e seu rosto pelo App e o pedido é entregue para
ele onde ele estiver.
A ideia surgiu em Miami, em 2016, e começou a ser possível por meio de um con-
sórcio de diferentes hotéis de Miami, como o Fontainebleau Miami Beach, o Boca Raton
Resort & Club, entre outros, para disponibilizar seus produtos de maneira diferente para
consumidores que não necessariamente estavam hospedados em seus hotéis, mas que
gostariam de consumir algum produto na praia.
Porém as possibilidades que esta ideia nos traz pode ser aplicada em outros setores,
por que deixarmos consumidores parados em filas para pedir um produto, esperar em pé
para ficar pronto e depois levá-lo ao seu assento?
Com esse conceito, operacionalizado por um aplicativo como esse ou de outra for-
ma, podemos levar nossos produtos para estádios, praças, shows abertos, entre tantas
outras possibilidades, criando um canal para acesso a esses consumidores off-premises.
Com tantas oportunidades, podemos entender que os fundamentos do Revenue Ma-
nagement — “vender o produto certo, pelo preço certo, para o público certo, na hora
certa e pelo canal certo” — podem ser entendidos com cada vez mais possibilidades em
cada uma das variáveis.
E isso nos permite, como desenvolvedores, operadores ou gestores, criar uma série
de novos produtos para atender consumidores cada vez mais informados, conscientes,
2 Projeto que surgiu a partir de uma parceria entre o Senac-SP e a Cornell University em
que os alunos administram um dos hotéis-escola do Senac durante um fim de semana in-
teiro, ocupando posições que vão do gerente geral ao cozinheiro e está em sua 10ª edição.
107
// MARCELO TRALDI
atentos, com voz ativa na avaliação e escolha dos produtos que consumirão.
Os diferentes desenhos das jornadas do consumidor passam cada vez mais por diferen-
tes possibilidades, falamos de interações presenciais, a distância, até em cidades que não
operamos uma unidade hoteleira, mas podemos expandir nossa ação com A&B, interações
assíncronas, interações síncronas e não presenciais, interações mediadas por aplicativos,
entregues por drones e até mesmo que o consumidor seja protagonista em seu preparo.
Podemos estender a relação estabelecendo um novo canal de comunicação e intera-
ção com nossos consumidores, criando elos entre nossos fornecedores e consumidores
finais por meio de um clube de produtos que fazemos curadoria e nossos clientes recebem
em suas casas.
Esses clubes de assinatura podem ter formatos dos mais distintos, não somente em
sua composição, mas nos formatos de entrega e interações. Podem ser com vinhos, be-
bidas, preparações que o consumidor pode finalizar em casa ou com uma interação com
o chef ou bartender do hotel fazendo uma live e preparando junto os produtos que foram
enviados na caixa (como no formato feito pelos alunos do Senac) ou realizando uma par-
te presencial com o chef ou bartender ensinando como fazer e as pessoas reproduzindo
depois em casa ou, ainda, que esse clube traga outros benefícios com parceiros ou com
programa de fidelidade da marca.
Ações como essas ajudam a fortalecer a relação com nossos parceiros fornecedores,
pois os colocam em uma situação de protagonismo, e permitem que sejam conhecidos por
um público que não tem acesso ou conhecimento sobre eles. Dentro da cadeia de supri-
mentos com as quais trabalhamos em nossas redes estes podem ser os mais variados, se-
jam os mais normais como vinhos, mas que podem se estender aos aromas que são usados
nos hotéis, amenities, enxoval, hortifruti, queijos, mel, café, entre tantas outras alternativas
que podem ser pensadas.
Esses novos produtos tem uma série de oportunidades de encontrar estes novos con-
sumidores, com posicionamentos de preços diferentes para cada canal, assim como já
fazemos de maneira muito natural com as tarifas de Unidades Habitacionais (UHs) e de
espaços de eventos.
Isso demanda repensarmos como e por que oferecemos os diferentes produtos que
temos em A&B, repensar formas, momentos, apresentações e preços dessa, cada vez mais,
variada possibilidade de oferta.
Materiais Galunion
http://www.galunion.com.br/materiais/
108
// NOVOS PRODUTOS PARA NOVOS COMPORTAMENTOS DE CONSUMO EM GASTRONOMIA
O futuro da alimentação
https://www.youtube.com/watch?v=TRQIG1-VtNA
QUEM ESCREVE
MARCELO TRALDI
Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, possui aperfeiçoamento em
Planejamento e Desenvolvimento de Restaurantes
e Gestão de Fast-food pela Florida International
University (Estados Unidos), bacharel e pós-graduado
em Hotelaria pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac). É professor e pesquisador do Centro
Universitário Senac — SP há 24 anos, onde foi editor da
revista científica “Contextos da Alimentação”.
Autor do livro Tecnologias gerenciais de restauran-
tes, foi diretor de operações da Sapore para a Vila
dos Atletas, alimentando todos os atletas e todas as
delegações durante as Olimpíadas e Paraolimpíadas
Rio 2016, e sócio operador do Bistrô Le Bou, em São
Paulo.
109
GESTÃO BIÔNICA
DE RECEITAS
(PRICING E REVENUE
MANAGEMENT) EM
VIAGENS E TURISMO
ALBERTO GUERRINI & EDUARDO LEONE & LEANDRO
PAEZ & LUCIE CHMELIKOVA & MASAO UKON
111
// ALBERTO GUERRINI & EDUARDO LEONE & LEANDRO PAEZ & LUCIE CHMELIKOVA & MASAO UKON
112
// GESTÃO BIÔNICA DE RECEITAS (PRICING E REVENUE MANAGEMENT) EM VIAGENS E TURISMO
113
// ALBERTO GUERRINI & EDUARDO LEONE & LEANDRO PAEZ & LUCIE CHMELIKOVA & MASAO UKON
Dados: as empresas de viagens e turismo têm mais tipos e volumes de dados dispo-
níveis do que nunca. Além dos conjuntos de dados tradicionais e dados de compor-
tamento de compras, os dados que fornecem contexto para as decisões de reserva
podem desempenhar papel fundamental na definição de preços. Os dados contex-
tuais permitem melhor compreensão da tomada de decisão do cliente e tendências
emergentes, e podem incluir informações competitivas (agendamento, capacidade
e preços, por exemplo), previsões meteorológicas, feeds de mídia social, datas e
eventos especiais e tendências de canais, tudo isso pode ser integrado com dados
proprietários com base em critérios de pesquisa para melhorar as ações de P&RM.
IA e ML: para gerar insights que possam ser adotados, grandes quantidades de dados
devem ser aproveitadas e processadas. Uma companhia aérea de médio porte nor-
malmente lida com várias atualizações de preços em qualquer dia, sem mencionar
benchmarking competitivo, arquivamento de tarifas, monitoramento de integridade
e divulgação de marketing. Enquanto as pessoas se destacam no gerenciamento
da volatilidade e na detecção de variações, as máquinas são capazes de lidar com a
quantidade com muito mais eficiência, o que pode levar a ganhos de desempenho.
114
// GESTÃO BIÔNICA DE RECEITAS (PRICING E REVENUE MANAGEMENT) EM VIAGENS E TURISMO
Sistemas: para desenvolver tais capacidades técnicas, a maioria das empresas do se-
tor precisa atualizar seus sistemas. Interfaces integradas inteligentes, plataformas de
Tecnologia da Informação (TI), recursos expandidos de coleta e armazenamento de
dados, análise web e otimização de receita e sistemas de CRM agora são recursos bá-
sicos. Os líderes da P&RM já estão substituindo a tecnologia legada por ecossistemas
de arquitetura aberta e TI que proporcionam integração perfeita com plataformas
de terceiros. Plataformas digitais e sistemas modernos de distribuição fornecem um
foco mais forte em melhorar a experiência do cliente. Mais empresas estão contando
com sistemas desenvolvidos de forma personalizada ou interna para complementar
ou substituir os sistemas de gestão de receitas mais antigos e padronizados.
Distribuição: as empresas de viagens e turismo ainda tendem a construir seus preços
em um número limitado de tarifa ou classes e pontos de preço, em grande parte de-
vido às restrições impostas por sistemas legados de distribuição. Modelos de preços
contínuos mais flexíveis, nos quais os preços são definidos dentro de uma faixa de
valores, já são a norma para, por exemplo, companhias aéreas de baixo custo e em-
presas que não dependem de um sistema de distribuição global, incluindo cruzeiros,
operadoras de turismo e locadoras de automóveis.
O New Distribution Capability (NDC) é um passo importante para um modelo de
engajamento digital mais flexível para as companhias aéreas. O NDC permite que
mais informações sejam trocadas (como dados sobre produtos e serviços auxiliares)
e que os preços e ofertas de produtos sejam personalizados a pedido de cada cliente
e, em tempo real.
115
// ALBERTO GUERRINI & EDUARDO LEONE & LEANDRO PAEZ & LUCIE CHMELIKOVA & MASAO UKON
116
// GESTÃO BIÔNICA DE RECEITAS (PRICING E REVENUE MANAGEMENT) EM VIAGENS E TURISMO
117
// ALBERTO GUERRINI & EDUARDO LEONE & LEANDRO PAEZ & LUCIE CHMELIKOVA & MASAO UKON
118
// GESTÃO BIÔNICA DE RECEITAS (PRICING E REVENUE MANAGEMENT) EM VIAGENS E TURISMO
How Europeans Expect to Travel — and How Transportation Providers Can Respond
https://www.bcg.com/publications/2021/european-mobility-transportation-trends
119
// ALBERTO GUERRINI & EDUARDO LEONE & LEANDRO PAEZ & LUCIE CHMELIKOVA & MASAO UKON
QUEM ESCREVE
ALBERTO GUERRINI
Alberto Guerrini é diretor executivo e sócio do BCG no
escritório de Milão. Ele é o Consumer Practice Node para
o Sistema IGTI (Itália-Grécia-Turquia-Israel) e membro
principal do Setor de Viagens e Turismo. Alberto tem uma
profunda experiência internacional em vários segmentos
de Viagens & Turismo. Já trabalhou com operadores de
viagens, bem como operadores de infraestrutura. Sua
experiência varia entre tópicos estratégicos e operacionais.
Ele também é membro principal da Prática de Marketing
& Sales Practice como Líder de Tópico Global para Pricing &
Revenue Management em Viagens e Turismo.
EDUARDO LEONE
Eduardo Leone é sócio e diretor do BCG no escritório de
São Paulo. Ele lidera a prática de Marketing, Vendas &
Precificação no Brasil, é membro core da prática global de
Viagens, Consumo e Digital e atua há mais de uma década
servindo clientes no setor aéreo, fidelidade e turismo em
temas de gestão de receitas, precificação, planejamento
de malha, experiencia do cliente, ecommerce, personaliza-
ção, crm, marketing e vendas. Eduardo é formado em En-
genharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo e possui MBA em Stanford.
LEANDRO PAEZ
Leandro Paez é sócio do BCG no escritório de São Paulo.
É membro das práticas setoriais de Consumo, Mobilidade
& Turismo e da prática funcional de Marketing, Vendas &
Precificação no BCG. Nos mais de 10 anos de experiência
como consultor do BCG, Leandro liderou diversos projetos
voltados a transformação, crescimento, digitalização e
aplicação de analytics avançado em empresas líderes do
setor de consumo, mobilidade e turismo. Antes de ingres-
sar no BCG, Leandro trabalhou em empresas dos setores
alimentício, automotivo e consultoria. Leandro é formado
em Engenharia Mecânica pela Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo e possui MBA na Kellogg School
of Management.
120
// GESTÃO BIÔNICA DE RECEITAS (PRICING E REVENUE MANAGEMENT) EM VIAGENS E TURISMO
LUCIE CHMELIKOVA
Lucie Chmelikova é expert sênior do BCG no escritório
Milão. Tem 13 anos de experiência na indústria hoteleira,
trabalhando em diferentes posições comerciais na
Europa, Ásia e Américas. Tem experiência na criação de
Pricing & Revenue Management e estratégia de distribui-
ção no contexto B2B e B2C, sistemas e ferramentas, e es-
trutura organizacional mais eficaz. Além de P&RM, Lucie
liderou processos de otimização de vendas, transforma-
ção de canais e comércio eletrônico em suas atribuições
anteriores.
MASAO UKON
Masao Ukon é sócio sênior e diretor do BCG no escritório de
São Paulo. Masao está há 18 anos no BCG e atua há mais
de uma década servindo clientes no setor aéreo, fidelidade
e turismo, em tópicos que incluem estratégia, digital e
analytics, marketing e vendas, fusões e aquisições e
finanças corporativas. Ele também possui experiência
significativa ajudando empresas a abordar questões re-
lacionadas a transformações, produtividade e operações
em grande escala. Antes de ingressar no BCG, Masao
trabalhou no setor automotivo, onde ocupou cargos em
engenharia de projetos e desenvolvimento de produtos.
Masao é formado em Engenharia Mecatrônica pela Escola
Politécnica da USP e possui MBA pela Wharton School da
University of Pennsylvania.
121
O PASSADO E O
FUTURO
DA DISTRIBUIÇÃO
HOTELEIRA
ESTRATÉGICA:
A HISTÓRIA E O IMPACTO NA
OTIMIZAÇÃO DE RECEITAS
GABRIELA OTTO
123
// GABRIELA OTTO
À medida que avançamos para a primeira metade desta década, obviamente, as OTAs fica-
ram mais fortes, assim como outros terceiros, como Google e TripAdvisor.
Ao passo que a indústria hoteleira começou a se tornar mais séria em torno da distribui-
ção, ela passou a se tornar assunto na reunião de diretoria.
As empresas hoteleiras aumentaram seus investimentos em seus próprios sites e no
mobile.
A conversa na época girava em torno de “as OTAs são o inimigo”. A paridade tarifária
começou a receber muita atenção e a Roomkey foi formada em um esforço das princi-
pais empresas hoteleiras para tentar obter um pouco mais de controle sobre sua distri-
buição e, talvez, fornecer um pouco mais de alavancagem em suas negociações com as
OTAs, embora esse nunca tenha sido um objetivo admitido.
E então, é claro, os gerentes de canal (e-commerce) tornaram-se cada vez mais im-
portantes. À medida que mais terceiros entravam no mix, ficava cada vez mais difícil,
especialmente para hotéis independentes e pequenas redes, gerenciar sua distribuição.
Isso foi durante a época em que as empresas hoteleiras alinhavam a Distribuição ao
Comercial, e o Revenue Management unia-se à força comercial no Brasil. A execução do
gerenciamento da conectividade ainda estava nos call centers ou departamentos de Re-
servas, porque era onde a maioria dessas pessoas estava localizada, mas o desenvolvi-
mento estratégico começava a ser transferido para o Comercial.
Havia muita educação acontecendo nas empresas de hotelaria sobre a complexi-
dade da distribuição e suas implicações, mas a maioria dos executivos hoteleiros real-
mente não entendeu o quão complexa era a necessidade de múltiplas conexões, como
distribuir conteúdo, e assim por diante.
Enquanto avançamos rapidamente para os últimos quatro ou cinco anos, a distri-
buição transformava-se no centro das atenções na maioria das discussões. Tornou-se
muito mais focado comercialmente, mas permanece um componente técnico e opera-
cional que deve ser compreendido e gerenciado com uma visão estratégica. Houve um
124
// O PASSADO E O FUTURO DA DISTRIBUIÇÃO HOTELEIRA ESTRATÉGICA
125
// GABRIELA OTTO
o custo real de distribuição e o fato de você ter a tomada de decisão em nível local sobre
quais taxas você vai oferecer e qual estoque você vai oferecer complica as coisas. Imagi-
ne um ambiente de negócios em que cada avião do mundo tem um dono diferente para
onde voar e quanto cobrar fosse decidido individualmente. Complexo, não?
Também há falta de investimento consistente em tecnologia em toda a indústria.
As marcas estão fazendo alguns investimentos, mas os proprietários dos hotéis geral-
mente não têm dinheiro ou não priorizam esse item.
Essa indústria é excessivamente dependente de conteúdo. Os consumidores que-
rem ver vídeos, fotos incríveis e elementos digitais que despertem e mantenham seu
desejo de viajar. Essa característica, principalmente no segmento de lazer, é atendida e
torna-se o ponto forte das OTAs, que têm bilhões de dólares para gastar. Ou seja, somos
todos (fornecedores finais e intermediários) altamente dependentes do Google e da
metabusca para aquisição de clientes.
Outro desafio da indústria hoje é que o custo de aquisição do cliente
continua aumentando. Se juntarmos os esforços de Marketing e Vendas ao custo de
comissionamento e interfaces tecnológicas, a conta segue aumentando.
126
// O PASSADO E O FUTURO DA DISTRIBUIÇÃO HOTELEIRA ESTRATÉGICA
operacionais, técnicas e o custo para ajudar a definir qual deve ser a combinação de
canais ideal para uma organização. O alinhamento organizacional e a colaboração
nunca foram tão importantes ou tão críticos para otimizar a receita.
Hospitality Digital Marketing Essentials: A Field Guide for Navigating Today’s Digital
Landscape, 6th Edition
https://americas.hsmai.org/certification/publications-study-guides/
ZOBA, Holly; WACKSMAN, Dan. Hospitality Digital Marketing Essentials: A Field Guide
for Navigating Today’s Digital Landscape. 6th ed. [S.l.]: Hospitality Sales & Marketing
Association International, 2021.
127
// GABRIELA OTTO
QUEM ESCREVE
GABRIELA OTTO
Com mais de 20 anos de experiências marcantes
em empresas de grande porte, como Caesar Park,
InterContinental, Sofitel Luxury Hotels e Worldhotels, sendo
a executiva responsável pela divisão América Latina nas
duas últimas.
Atualmente, além de CEO da GO Consultoria, é
presidenta da HSMAI Brasil (Hospitality Sales and Marke-
ting Association International), head de Fóruns da GoNext
Governança e Sucessão, embaixadora de conteúdo da
Equipotel e board member da WTM Latam.
Gabriela também é palestrante do segmento de Luxo,
atuando em diversas indústrias, professora da Educação
Executiva e MBA da Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM), criadora dos mais renomados cursos
de Revenue Management & Distribuição Hoteleira, além
de manter o blog Check-in no maior portal de turismo do
país, Panrotas.
128
O PAPEL DO
MARKETING DIGITAL
NO NOVO CONTEXTO
DO SETOR DE
TURISMO
LILIAN CARVALHO & FELIPE BOGÉA
OBJETIVO GERAL DO ARTIGO
Apresentar as principais estratégias de marketing digital para negócios do setor de
Turismo.
2 QUANTAS pesquisas são realizadas no Google por dia e outros dados que você precisa
conhecer. Priory, 10 fev. 2020. Disponível em: https://www.priory.com.br/quantas-pesqui-
sas-sao-realizadas-no-google-por-dia-e-outros-dados-que-voce-precisa-conhecer/. Acesso
em: 18 mar. 2022.
130
// O PAPEL DO MARKETING DIGITAL NESTE NOVO CONTEXTO
anunciante quiser estar presente na mente dos seus consumidores, precisa ir aonde seus
clientes estão, e hoje esse lugar é o Google. Por meio de dois tipos de estratégias é pos-
sível melhorar seu posicionamento na busca orgânica do Google: o Pay Per Click (PPC),
em que se paga por anúncios no Google; e o Search Engine Optimization (SEO), em que se
pode melhorar seu posicionamento na busca orgânica do Google.
Para melhorar sua posição na busca orgânica do Google, é preciso realizar estratégias
de SEO. Essas estratégias envolvem a construção de conteúdo relevante e de qualidade,
ligados às palavras-chave, para que o Google os “ache” e os resultados apareçam na bus-
ca orgânica desse mecanismo de buscas. Entretanto, quais são os principais fatores de
ranqueamento? Listaremos aqui, de acordo com Chaffey e Ellis-Chadwick (2019)3.
Em primeiro lugar, temos a concordância entre as palavras-chave de busca e o conte-
údo da página. A primeira coisa que um profissional de SEO deve fazer para ser “notado”
pelos programas do Google (ou de qualquer outra ferramenta de busca) é ser indexado.
O Google usa programas chamados crawlers ou spiders, para construir um “catálogo” da
internet. Ao utilizar termos dentro do HTML, como os títulos (<h1>, <h2> etc.), sua página
pode ser associada ao termo buscado pelo usuário. Por exemplo, se o usuário buscar o
termo “resort com piscina privativa” na busca, e o seu site tiver estas palavras indexadas
nos títulos, poderá ser sugerido como opção por corresponder ao que o usuário procura.
Em segundo, os links da página. O Google conta cada link que uma página tem que
direciona para ela como um “ponto” de popularidade, ou seja, quanto mais links exter-
nos apontarem para sua página, mais popular ela será considerada pelo Google e melhor
ranqueada ela será. Se um hotel aparece como opção de hospedagem em um link, por
exemplo, em uma matéria “Onde se hospedar no Uruguai?” do jornal Folha de S.Paulo,
esse link ajudará a página a melhorar sua posição na busca orgânica.
E, por último, o conteúdo da página. O conteúdo produzido por uma empresa, pode
ser referenciado por outras pessoas em suas páginas de redes sociais, em seus próprios
sites etc.
Já na estratégia paga, ou PPC, é possível utilizar a ferramenta do Google Ads4 para
incluir anúncios pagos, de texto, imagem ou vídeo, na busca ou nos sites parceiros do
Google. O sistema de cobrança do Google não é o mesmo de anúncios em revistas, tele-
visão ou rádio: quando fazemos anúncios no Google participamos de um leilão baseado
em palavras-chave (keywords, em inglês). Pagamos somente quando um potencial clien-
te clicar no anúncio.
Por que estar no Google? O Google é a porta de entrada do consumidor na internet:
quando seu cliente pensar “Que legal, vou sair de férias, pra onde posso viajar?” ele per-
guntará ao Google primeiro antes de pedir indicações a amigos e parentes. Ele pode-
rá utilizar termos como “férias no Nordeste”, “passagens baratas para Europa” e todas
131
// LILIAN CARVALHO & FELIPE BOGÉA
132
// O PAPEL DO MARKETING DIGITAL NESTE NOVO CONTEXTO
sentido para o consumidor. A figura a seguir é uma ferramenta (framework) para ajudar
as empresas a planejarem seu trabalho nas mídias sociais6:
MARKETING DE INFLUÊNCIA
O marketing de influência é realizado on-line, por meio de redes sociais, por influencia-
dores e líderes de opinião. O objetivo do marketing de influência, como estratégia de
marketing de conteúdo, é gerar resultados de lembrança de marca, ou seja, sua marca
pode se tornar mais conhecida do público em geral, ou de um público-alvo específico.
Esse é um dos primeiros objetivos do marketing de influência e de conteúdo. Além dis-
so, a percepção de marca também pode ser influenciada, já que a marca, por meio de
um programa de influência, pode comunicar efetivamente seu posicionamento. Uma
estratégia bem-sucedida pode gerar ativação de clientes e conversão (i.e. vendas), mas
para isso é preciso fazer a gestão do funil de marketing digital, ou seja, trabalhar os
clientes de modo que eles caminhem pela jornada de compra, aproximando-se da con-
versão.
6 Confira neste link como utilizar a ferramenta (framework) na sua empresa: https://bi-
bliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvexecutivo/article/view/77338/74185
133
// LILIAN CARVALHO & FELIPE BOGÉA
A estratégia de marketing digital visa, em primeiro lugar, atrair visitantes para o seu
site ou perfil de rede social. É um jeito de chamar a atenção do cliente, e isso pode ser
feito de diversas maneiras, como já vimos nas unidades anteriores: PPC, marketing de
conteúdo, influência, SEO, entre outras estratégias. Então, por meio dessas estratégias,
geramos os visitantes, e o nosso segundo objetivo é obter mais informações sobre eles,
ou seja, dados de contato. Sabe aquelas páginas de cadastro que você encontra no Insta-
gram? O objetivo delas é gerar leads.
Contudo, esses cadastros ainda precisam ser trabalhados pela empresa. Não adianta
ter uma estratégia de contato indiscriminada para todos que se cadastrem: alguns podem
ser só curiosos, ou até robôs, outros podem não ter o perfil que você, como marca, sele-
8 ROBERTS, Mary Lou; ZAHAY, Debra. Internet Marketing: Integrating Online and Offline
Strategies. Boston: Cengage Learning, 2012.
134
// O PAPEL DO MARKETING DIGITAL NESTE NOVO CONTEXTO
cionou para seu público-alvo, entre outros. Então, o trabalho de Customer Relationship
Management (CRM), ou nutrição de funil, precisa funcionar bem. Como separar os leads
qualificados para receberem mensagens, e-mails, contatos telefônicos? Os profissionais
de Marketing trabalham com vários qualificadores, e isso depende do modelo preditivo
de consumo de cada empresa: algumas focam no tamanho/importância do lead; outras
em métricas, como taxa de abertura de e-mail, tempo gasto no site; outras em perfis
econômicos, como renda da família ou faturamento da empresa, entre outros. Cada de-
partamento de Marketing deve criar esses modelos para balizar o trabalho do CRM.
E aí podemos qualificar os leads em Marketing Qualified Leads (MQL), ou seja, são ca-
dastros que passaram por esse primeiro “veto” do CRM, e serão abordados por e-mails,
mensagens de redes sociais, estratégias de remarketing no Google Ads.
Após esse processo, os leads são impactados com essas mensagens e recebemos as
métricas de performance: taxa de abertura, cliques, taxa de resposta. Baseados em um
“recorte” que indica à equipe de CRM que o lead está propenso a fechar a compra, enca-
minhamos o lead à equipe de Vendas, para uma abordagem mais direta e pessoal. Esses
são os Sales Qualified Leads (SQL), porque foram encaminhados para equipe de Vendas/
Comercial.
A partir daí a equipe de Vendas dá andamento ao processo: encaminha e-mails, men-
sagens em redes sociais personalizadas e pessoais e envio de orçamentos. O último pas-
so é o fechamento das vendas, a última etapa do funil.
BOGÉA, Felipe. Uma ferramenta estratégica. In: GV-EXECUTIVO, v. 17, ed. 5, p. 26-29,
2018.
135
// LILIAN CARVALHO & FELIPE BOGÉA
QUEM ESCREVE
LILIAN CARVALHO
Professora Doutora em marketing pela Fundação Getulio
Vargas (FGV-EAESP). Selecionada pela NASA como cien-
tista de dados para o programa Datanauts no Outono de
2018. Coordenadora do centro de estudos em Marketing
Digital da EAESP (FGV/CEMD). Consultora da Synapse
Consulting.
Professora Visitante da Awa Business School (UK) e
professora assistente da Universidade de Chicago (US).
FELIPE BOGÉA
Doutor em Administração pela Escola de Administração
de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
(FGV-EAESP) e possui MBA pelo Instituo Europeu de
Administração de Empresas (Insead). Bogéa é professor do
programa de pós-graduação da FGV e da Escola Superior
de Propaganda e Marketing (ESPM). É sócio da F2F Digital,
agência especializada em marketing digital. Atualmen-
te, participa da definição da estratégia e execução do
marketing digital de diversas empresas, por exemplo, GE,
Harley-Davidson, Lopes, Merz, Ifood, entre outras. Ao longo
da sua carreira, atuou como consultor (Deloitte, McKinsey)
e fundou duas agências de publicidade, posicionando
grandes marcas no ambiente digital.
136
REFLEXÕES
Seção 3 - Reflexões e soluções
& SOLUÇÕES
SOCIAL LISTENING
Para entender melhor o mercado, bem como os desejos e comportamentos dos viajan-
tes, o Social Listening pode ser um grande aliado.
O Social Listening, ou escutando as redes sociais, em tradução livre, nada mais é do
que “ouvir” o que as pessoas estão dizendo sobre determinado assunto na internet, com
destaque para as redes sociais, que tem ganhado cada vez mais espaço no dia a dia de
todos nós nos últimos anos. Essa prática torna-se ativa quando buscamos por publi-
cações que falam sobre algum comportamento, produto ou serviço que seja relevante
para um setor. Como as pessoas compartilham seus desejos, seus pensamentos e suas
percepções na internet, podemos identificar as intenções e impressões dessas pessoas
coletando, classificando, agrupando e analisando essas publicações.
Para o setor de Turismo é relevante pesquisar, por exemplo, sobre o que se fala sobre
viagens, viajar, destinos, hospedagem, atrações turísticas, festivais, e até mesmo sobre
o nome de marcas relacionadas ao mercado, como companhias aéreas, agências de via-
gens, e tudo que está relacionado ao setor.
Por meio de uma pesquisa como essa, é possível responder às seguintes perguntas:
O QUE FALAM?
Vamos entender como as narrativas se constroem, quais são os principais assuntos, as
principais palavras e expressões que os usuários estão usando na internet para se referir
à sua marca e/ou ao setor.
Existem softwares que permitem identificar o que as pessoas falam, categorizar e
classificar as publicações de forma automática por meio de interações com a API das
redes sociais e o uso de Inteligência artificial. Eles são conhecidos como ferramentas de
monitoramento de rede sociais e variam quanto ao tipo de análise de texto que eles fa-
zem e possibilidades de interações com as redes. Algum deles são gratuitos como Hoot-
suite, Google Alerts, Etus e Sociography e outros comerciais, como Mention, Stilingue,
Vtracker, Buzzmonitor e Knewin. Mas todos servem ao mesmo propósito: catalogar pu-
blicações da internet.
A seguir mostramos algumas possibilidades de análises que podem ser feitas usando
139
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
Nessa visão, a Stilingue cruza dois de seus parâmetros mais importantes para uma
análise robusta: os grupos, responsáveis pela coleta de dados na plataforma (no exem-
plo anterior, vemos que a coleta de informações foi organizada por meio de grandes no-
mes de marca do Turismo) em relação aos temas, que classificam os dados coletados
pelos grupos. Nesse exemplo podemos observar uma divisão por assuntos relevantes
para as empresas do mercado de Turismo.
Nesse sentido, percebemos que o Tripadvisor e o Decolar são marcas em destaque no
ambiente digital, sendo que os assuntos que mais chamam a atenção são Hospedagem e
Atendimento para a primeira, enquanto Passagens e Destinos são mais relevantes para a
segunda. Um acompanhamento a longo prazo, por exemplo, permite identificar tendên-
cias de assuntos por época do ano e por marcas.
Outro gráfico que retrata o que as pessoas falam, focado em narrativas, e não em
assuntos, é o “Termos Correlacionados”, semelhante a uma nuvem de palavras. Nesse
modelo podemos identificar no centro as narrativas mais amplas e seus desdobramen-
tos na periferia, ligados por linhas.
140
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
141
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
QUEM FALA?
Vivemos na era da influência digital e, pode-se dizer, que todos somos criadores de con-
teúdo na internet, não é mesmo? Por isso, é muito importante entender também sobre
quem está falando sobre seu produto e/ou serviço, e até mesmo sobre o seu mercado de
atuação.
Então, por meio do Social Listening, é possível:
• Avaliar o histórico de um influencer e como o público se relaciona com esse perfil
nas redes sociais;
• Encontrar um criador de conteúdo que tenha afinidade com a marca e/ou com uma
campanha para estabelecer parceria;
• Mapear pontos de atenção ou oportunidades em meio ao relacionamento com um
criador;
• Acompanhar resultados de ações, possibilitando correções de rota, caso necessário.
Ainda na Stilingue encontramos uma métrica chamada “Ranking AAA de Influência”,
que indica, conforme o alcance dos perfis, a atratividade que ele tem com a sua base e a
afinidade que tem com o assunto pesquisado, os criadores mais relevantes em determi-
nado tema. Conheça:
Outra análise relaciona-se aos interesses desses publicadores, pois, muitas vezes,
eles podem estar falando sobre viagens, destinos, e encontrarmos publicadores interes-
sados, por exemplo, em gastronomia ou até mesmo em animais de estimação, de acordo
com seu comportamento geral na internet. Com esse dado em mãos, estratégias de con-
teúdo podem ser revistas e novas possibilidades aparecem.
142
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
ONDE FALAM?
Depois de entender como se constroem as narrativas e quem são os publicadores res-
ponsáveis por elas, outro fator importante é saber onde elas estão concentradas.
O primeiro dado relevante relaciona-se, justamente, com a “localização” na própria
internet, ou seja, essas conversas estão concentradas no Twitter ou no Instagram, por
exemplo?
Mediante um simples gráfico de pizza, a Stilingue já nos responde a essa pergunta:
143
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
144
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
QUANDO FALAM?
E, por fim, como se distribuem as narrativas no decorrer do tempo?
Ainda por meio da plataforma Stilingue, encontramos quatro gráficos de distribuição
temporal que podem ajudar nas análises para uma escuta ativa do seu público.
1. Por hora
145
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
Afinal, existe alguma faixa horária em que se fala mais sobre viagens? Ou sobre destinos
específicos? Ou, indo além, alguma faixa horária em que se fala de forma mais negativa,
e que você deve evitar ativações em suas redes proprietárias, por exemplo?
A mesma análise que comentamos acima, para as faixas horárias, também se aplica aos
dias da semana, que permite entender qual dia os internautas declaram maior propen-
são para ir viajar ou até mesmo para comprar suas passagens, por exemplo.
146
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
IMPORTANTE
Vale ressaltar que todas essas análises podem ser feitas com foco no que os internautas
falam no “mar aberto” da internet, isto é, pautadas fora dos canais de atendimento da
marca ou empresa, feitas em seus perfis pessoais e públicos nas redes. Mas também po-
demos focar a análise no negócio, ou seja, analisando, de fato, o que se fala nas páginas
oficiais da marca proprietária nas redes.
SOCIAL ANALYTICS
Para complementar o que vimos sobre Social Listening, para uma escuta 360° do seu
público em ambiente digital, pode ser interessante agregar dados de Social Analytics às
suas análises.
O Social Analytics consiste, basicamente, em analisar as métricas de desempenho
dos seus conteúdos oficiais publicados em seus perfis nas redes sociais.
Ou seja, vamos supor que você fez três posts no decorrer de uma semana na sua pági-
na do Instagram. Como eles performaram? Qual teve mais alcance e/ou mais interações?
Responder a essas perguntas, com base em dados, é fazer Social Analytics.
Sendo assim, traremos aqui, para conhecimento, algumas das principais métricas a
serem acompanhadas em uma análise simples:
147
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
1. Base de fãs/seguidores
Consiste no volume de pessoas que curtem sua página ou seguem seu perfil em cada
rede social.
Essa é uma métrica que perdeu relevância nos últimos anos, principalmente por con-
ta das mídias pagas em ambiente digital. No entanto, para pequenos e médios negócios,
ainda pode ser importante acompanhar o crescimento ou declínio de sua base de fãs/
seguidores, pois ela pode refletir, mesmo que minimamente, a construção da sua base
de clientes em potencial.
2. Publicações
Volume de posts que foram feitos em cada rede social e formato disponível.
É interessante acompanhar de perto para criar uma cadência consistente de presença
digital, sem exageros ou ausências muito longas.
Abaixo um exemplo de gráfico referente a essa métrica:
148
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
3. Impressão e alcance
A impressão diz respeito a cada vez que uma publicação é exibida na tela, independen-
temente se for para o mesmo usuário ou não. Já o alcance considera apenas usuários
únicos que viram um post, ou seja, se a mesma publicação imprimiu seis vezes para o
mesmo usuário, na métrica do alcance será contabilizado somente uma vez.
Logo, essas são duas métricas relevantes de se acompanhar para entender sobre a
disseminação de seus conteúdos na rede.
149
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
4. Interações
Cada rede social tem seus modelos de interação, mas os mais comuns são a curtida e
o comentário. Em algumas também é disponibilizado o compartilhamento do post e,
no Facebook, por exemplo, além da curtida, existem outras reações, como o “amei” e o
“uau”.
Para casos de posts em vídeo, alguns profissionais também costumam considerar a
visualização do vídeo como uma interação válida.
O volume total de interações, bem como o volume de cada um desses tipos que co-
mentamos, é essencial para entendermos como está o engajamento do público com os
conteúdos postados.
5. Engajamento
150
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
Dito tudo isso, encontramos um resumo que a Stilingue também entrega, com algu-
mas dessas métricas, sobre uma página do Instagram, por exemplo:
151
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
Além disso, ainda são disponibilizados na plataforma diversos gráficos evolutivos so-
bre determinadas métricas, como o que ilustramos a seguir, relacionado ao engajamento
em stories no Instagram:
Então, ao associar a leitura dessas e outras métricas à leitura das conversas via Social
Listening, certamente você estará com uma escuta ativa e atenta ao seu público, poden-
do tirar insights ricos e acionáveis para tomadas de decisão mais ágeis e assertivas com
base em dados digitais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A era dos dados provenientes da digitalização das relações humanas permite identificar
a percepção da população quanto à vontade de viajar, preferências de acomodações,
relatos de experiências, serviços e lugares. Com essas informações é possível criar uma
estratégia para o seu negócio que considere o desejo e as necessidades do seu consumi-
dor e utilizar os canais das redes sociais da sua empresa para comunicar isso aos clientes
potenciais. Dessa forma as oportunidades de vendas são otimizadas e a relação com o
consumidor é fortalecida.
152
// ESCUTA ATIVA POR MEIO DO SOCIAL LISTENING E SOCIAL ANALYTICS
RECUERO, Raquel et al. Análise de redes para mídia social. Porto Alegre: Editora
Sulina, 2018.
153
// PATRICIA AZEVEDO & BEATRIZ SALLES
QUEM ESCREVE
PATRICIA AZEVEDO
Patricia Azevedo é publicitária e atua no mercado de
comunicação desde 2010. Já passou por algumas
agências de publicidade e possui vasta experiência em
análise de dados, com destaque para gerenciamento de
crises e monitoramentos em real time. Hoje compõe o time
de Marketing Insights da Stilingue, auxiliando grandes
marcas na adoção de uma cultura data-driven, de modo
que alcancem seus objetivos de negócio com o uso da
plataforma.
BEATRIZ SALLES
Beatriz Salles é formada em Ciências Biológicas pela
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com
pós-graduação na área da Saúde pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem experiência no de-
senvolvimento de projetos de pesquisas e como professora
em diferentes níveis de ensino. Na Stilingue, atuou junto ao
time de Atendimento com foco em suporte para agências
e, atualmente, trabalha no Marketing produzindo conteúdo
sobre temas presentes nas mídias sociais. É uma entu-
siasta da análise de dados e por encontrar respostas com
base em evidências.
154
COMPREENDENDO
OS RESULTADOS DAS
AÇÕES JUNTO AO
VIAJANTE POR MEIO
DOS INDICADORES
ADEQUADOS
ERICH CASAGRANDE
O QUE É PERSONA?
A persona é a representação do cliente ideal. Trata-se de um exemplo do comprador per-
feito, construído com base em dados reais sobre o comportamento e as características
demográficas do público da empresa.
Diferente da definição do público-alvo, por exemplo, a persona abrange caracterís-
ticas muito mais específicas, trazendo não apenas suas principais características, mas
também histórias pessoais, objetivos, dores, motivações e expectativas.
Importante notar que a persona não é um recurso exclusivo do Marketing. Esse com-
prador perfeito pode ser utilizado por diversos departamentos da empresa, servindo
como guia para as estratégias de comunicação, vendas e produtos e ajudando no proces-
so de tomadas de decisão mais inteligentes e embasadas.
156
// COMPREENDENDO OS RESULTADOS DAS AÇÕES JUNTO AO VIAJANTE
Com tudo isso, a criação da persona colabora para conquistar a atenção de visitantes
de alto valor e atrair leads mais qualificados e relevantes, o que facilita o processo de
conversão no funil de vendas.
Por exemplo, se você trabalha com um resort focado em serviços all inclusive para
toda a família, definir sua persona evitará que você desperdice tempo e recursos com
ações em canais focados no público jovem e em estudantes. Essa direção ajudará a en-
tregar valor a quem realmente tem interesse nos seus serviços.
Fonte: Semrush.
157
// ERICH CASAGRANDE
158
// COMPREENDENDO OS RESULTADOS DAS AÇÕES JUNTO AO VIAJANTE
159
// ERICH CASAGRANDE
Fonte: Semrush.
Vamos pensar em um exemplo para o mercado de Turismo. Vamos supor que você
percebeu que seus clientes chegam até o seu negócio principalmente por meio das redes
sociais. Logo, você pode pensar em conteúdos que engajarão sua persona mediante es-
ses canais. Uma boa ideia é contratar um jornalista para fotografar e escrever pequenos
textos sobre curiosidades da região e mostrar que há muitas coisas legais a serem conhe-
cidas no destino que você opera.
Esses conteúdos podem virar post de redes sociais, artigos no seu blog e até mesmo
pequenas reportagens a serem encaminhadas para outros sites (em que, evidentemente,
terá uma menção ao seu serviço). Inclusive você poderia produzir vídeos junto a algum
influenciador para falar mais sobre a região enquanto ele se hospeda no seu hotel ou via-
ja com a sua agência. Todas essas ações são Marketing de Conteúdo e colaborarão para
chamar a atenção da sua persona, ajudando-a a tomar melhores decisões.
160
// COMPREENDENDO OS RESULTADOS DAS AÇÕES JUNTO AO VIAJANTE
161
// ERICH CASAGRANDE
Exemplo: você já pensou que seu concorrente pode ser um serviço em outra região
do país? Se durante a jornada de decisão da sua persona ela avalia se tirará férias no
Sul do país ou no Nordeste porque os hotéis de uma ou outra área são melhores, você
está, sim, concorrendo com agentes de diferentes lugares. O que esse concorrente
está fazendo melhor que você? Como é a comunicação dele na região Centro-Oeste
do país para atrair mais turistas de outros estados? Será que vale a pena você testar
algumas dessas ações? Essas respostas podem ser encontradas com uma boa análise
competitiva.
• Público: verificar quem são os clientes dessas empresas é importante para me-
lhorar a persona do negócio e reavaliar o público-alvo definido. Com isso, pode-se
investir em estratégias para se posicionar de maneira diferente e explorar novas pro-
postas de valor.
• Tom de voz e linguagem: cada nicho de mercado é formado por pessoas diferentes,
com hábitos e comportamentos diferentes. Analisar esses fatores (no blog, nos perfis
162
// COMPREENDENDO OS RESULTADOS DAS AÇÕES JUNTO AO VIAJANTE
nas redes sociais, nos canais de publicidade etc.) é essencial para que a empresa
consiga se conectar com o público da maneira correta, nos canais certos e com a lin-
guagem adequada.
• Market share: os players líderes em cada segmento controlam o mercado e ditam
os preços praticados. Nesse sentido, entender a fatia que cada empresa do segmento
representa ajuda a identificar esses líderes e a comparar os níveis de concorrência. E
isso tem relação direta com os riscos que podem ser tomados nas estratégias.
• Canais de marketing: é preciso entender de onde vem o tráfego dos concorrentes;
se é direto, de referência, orgânico, das mídias sociais ou de anúncios.
• Estratégia de publicidade: trata-se de verificar quais palavras-chave a concorrência
está explorando em seus anúncios e o orçamento gasto por eles.
• Estratégia de conteúdo: serve para avaliar o tipo de conteúdo que mais funciona —
posts no blog, podcasts, materiais ricos, webinars, entre outros, o engajamento que
cada um gera e também para fazer a análise competitiva de SEO.
Fonte: Semrush.
163
// ERICH CASAGRANDE
Como fazer SEO para Turismo? Coloque sua agência no TOPO do Google
https://www.youtube.com/watch?v=GYEqLxjktOE
QUEM ESCREVE
ERICH CASAGRANDE
Formado em jornalismo pela Universidade Federal de
Santa Catarina e com mais de 5 anos de experiência
na área, hoje em dia é especialista em Marketing Digital
pela Cesusc, atua como Marketing Manager Lead da
Semrush no Brasil e trabalha com o desenvolvimento de
conteúdo otimizado, técnicas de SEO e afiliados para mer-
cados internacionais e brasileiros, contabilizando ao todo
com 7 anos de experiência em Marketing Digital.
164
A CULTURA DE
COMPARTILHAMENTO
DE DADOS
PATRICIA BOO & STEVE HOOD
166
// A CULTURA DE COMPARTILHAMENTO DE DADOS
contexto, os hoteleiros estavam ávidos por entender o mercado, o que estava acontecen-
do com a concorrência e como maximizar sua participação no mercado. Muita confusão
no setor e uma grande oportunidade para muitas empresas de tecnologia começarem a
construir ferramentas analíticas. Em 2012, novas empresas como Duetto, OTA insights es-
tavam mudando a forma como os hotéis enxergavam e utilizavam os dados. O que você
se lembra, Steve, daquela época?
Steve Hood destacou a evolução da prática de Revenue Management no segmento de
turismo. O pontapé inicial foi dado, nas décadas de 80 e 90, pelas companhias aéreas e
logo depois, as empresas hoteleiras iniciaram este processo. Foi também na década de
1990, que Robert Cross escreveu um livro que ofereceu grandes contribuições na maximi-
zação das receitas de um hotel ao apresentar técnicas de precificação dinâmica a partir
de análise do comportamento da relação entre oferta e demanda. Para o desenvolvimen-
to desta importante prática de gestão, a obtenção de dados fidedignos, segmentados e
atualizados se tornou determinante. Apesar dessas importantes evoluções, Steve Hood
resgatou uma conversa com um gestor de uma grande organização à época, em que o
gestor revelou que definia as tarifas para seus hotéis uma vez por ano, analisando os da-
dos do ano anterior e, em seguida, decidindo uma tarifa única por noite, para o próximo
ano.
No resgate da linha do tempo, Steve Hood destacou também a criação do SHARE Cen-
ter, em 2010. Esta iniciativa da STR tem como objetivo apoiar universidades em todo o
mundo no processo de formação dos profissionais, especificamente no desenvolvimen-
to da competência de análise de dados. Por meio do SHARE Center, são disponibilizados
relatórios setoriais aos professores e alunos para enriquecer as aulas com situações reais
vivenciadas por grupos competitivos de hotéis. Em um primeiro momento, é oferecido a
formação aos professores que posteriormente se tornam multiplicadores desse conheci-
mento a partir de dados e informações reais. Dentro deste programa, são oferecidas aos
professores e alunos capacitações com certificações que exploram conteúdos relevantes
de análise de dados, como por exemplo: a técnica do benchmarking, a formação do gru-
po competitivo adequado, o entendimento de definições e indicadores relacionadas a
diversos dados de hotéis e, principalmente, como usar os dados para tomar decisões es-
tratégicas. Com o intuito de gerar ainda mais curiosidade e vivência na prática de análise
de dados, são realizadas competições internacionais estudantis.
Bem, Steve, buscar um alinhamento entre os conceitos, metodologias e formas de se
realizar o benchmarking nos mais diversos mercados no contexto internacional é algo re-
almente desafiador. Como você sabe eu moro e trabalho na América do Sul desde 2014,
primeiro no Brasil e agora na Colômbia. O entendimento universal dos conceitos básicos
relacionados aos principais indicadores do segmento de hotéis é considerado passo fun-
damental na condução de uma coleta de dados comparável e fidedigna. Essa etapa de
alinhamento de conceito se torna ainda mais essencial em contextos menos maduros,
em que existem diferenças significativas na forma de compartilhar de dados, dificultan-
do o seu uso na busca da vantagem competitiva. Steve, como você enxerga o desafio do
alinhamento de conceitos em outras regiões?
167
// PATRICIA BOO & STEVE HOOD
A partir dessas habilidades e competências apresentadas por Steve, busco aqui ofere-
cer uma reflexão final a respeito do tema central do artigo “Como podemos juntos fomen-
tar a cultura do compartilhamento de dados e quais os benefícios desta missão?
168
// A CULTURA DE COMPARTILHAMENTO DE DADOS
uma estandardização nas informações que nossos clientes usam nas tomadas de de-
cisão. Além disso, esses conceitos não podem ficar só na gerência, é importante um
alinhamento interno também. Vocês compartilham as informações com os diferentes
departamentos para trabalhar junto pelos mesmos objetivos?
Passo 2: A escolha do ambiente de armazenamento dos dados. As empresas têm a
escolha de criar seu próprio sistema de armazenamento de dados ou usar sistemas
parceiros, não há um melhor que o outro, depende das necessidades de cada um. O
importante é que os conceitos estejam claros; além de ter a tecnologia adequada para
processar e armazenar os dados, é preciso contar com a equipe profissional para ana-
lisar e transformar os dados em oportunidades de melhora na gestão do hotel. Neste
passo é fundamental não deixar preconceitos ditarem a escolha e as parametrizações.
Por isso nosso convite é procurar um ambiente neutro que permita mostrar a realidade
do mercado.
Passo 3: A compreensão dos benefícios dessa prática. Já ouviu dizer que algum hotel
não tem concorrência? Na escolha de hotel, o cliente tem sempre opções e dependen-
do das necessidades ou interesses. Entender a segmentação do mercado é fundamen-
tal para todo hotel, especialmente nestes momentos em que a demanda tem mudado
tão rápido. Ter informações confiáveis e atuais permitem aos empreendimentos se
adaptar mais rapidamente e priorizar a oferta.
Passo 4: O equilíbrio entre dar e receber. Escutei muitas vezes de hotéis o receio de
compartilhar seus dados com a concorrência, mas a realidade é que mantendo a con-
fidencialidade da informação em um mercado em que as informações são compar-
tilhadas gera um mercado transparente que beneficia a todos os players. Já viu um
novo hotel entrar em um mercado saturado e pensou: “Por acaso ele não entende as
dificuldades que estamos vivendo?”. Há momentos em que a entrada de um concor-
rente favorece o mercado trazendo novos estândares ou uma demanda desconhecida
que pode puxar a diária nesse mercado. Saber que as informações do mercado são
confiáveis pode atrair investimento assim como afastar modelos de negócio pouco fa-
voráveis para o mercado.
Passo 5: A sustentabilidade do negócio depende de todos. Um mercado que trabalha
junto por desenvolver o destino e foca-se em boas práticas não só vai contribuir no seu
PL, mas também em criar um negócio que pode atrair o melhor talento e consumido-
res responsáveis.
Não quero terminar sem refletir sobre a situação atual, estamos vivendo uma pan-
demia global que pressionou e ainda está pressionando muito nossa indústria. Os hotéis
mostraram uma incrível resiliência e criatividade para se adaptar às necessidades dos
viajantes e vimos novamente um interesse crescente em dados para decisões baseadas e
melhor preparação para mudanças futuras. Cabe a cada um dos negócios contribuir para
construir um campo plano para crescer junto e criar uma cultura de dados que beneficie
hotéis, destinos e viajantes.
169
// PATRICIA BOO & STEVE HOOD
CROSS, Robert. Revenue Management: Hardcore tactics for market domination. New
York: Broadway Books, 1997.
170
// A CULTURA DE COMPARTILHAMENTO DE DADOS
QUEM ESCREVE
PATRICIA BOO
Patricia Boo, diretora regional, está baseada na Colômbia
e é responsável pela expansão da STR na América Latina.
Patricia iniciou sua carreira na indústria hoteleira pas-
sando por hotéis em Madri e Londres, até fazer parte da
equipe STR em 2008. Patricia frequentemente participa
de conferências internacionais e reuniões com clientes.
Lecionou cursos na área de Revenue Management no de-
partamento benchmarking da Rey Juan Carlos University
em Madrid (Espanha). Patricia é graduada em Turismo pela
Universidad Complutense de Madrid e posee um certifica-
do da Cornell em Strategic Leadership for the Hospitality
Professional, e uma Global Executive MBA no IE.
STEVE HOOD
Com 27 anos de atuação na STR, Steve é o Vice-Presidente
Sênior de Pesquisa e Diretor Fundador do SHARE Center,
o programa da STR que apoia a educação em hotelaria
e turismo com mais de 1.000 escolas participantes de 80
países. O SHARE Center fornece dados de hotéis para
pesquisa e uso em sala de aula, além de fontes relacio-
nadas que incluem certificações de alunos, programas
de treinamento e competições de alunos. Steve atua em
conselhos consultivos e palestras para as principais esco-
las internacionais de hotelaria, turismo e imóveis e recebeu
diversos prêmios por seu compromisso com a educação
em hotelaria.
171
O NOVO JEITO DE
FAZER REVENUE
MANAGEMENT
DANIEL FEITOSA & MARIO MOURAZ
173
// DANIEL FEITOSA & MÁRIO MOURAZ
174
// O NOVO JEITO DE FAZER REVENUE MANAGEMENT
é perder o rumo do negócio. Algumas perguntas muito pertinentes estão sempre nos
debates desses hotéis: Como você tem feito a previsão do seu hotel? Quem é cobrado
quando os resultados não estão de acordo com o orçamento? Aliás, seu orçamento do
mês parece fazer sentido?
175
// DANIEL FEITOSA & MÁRIO MOURAZ
acaba. Hotéis conseguem fazer testes A/B para compreender se um aumento de preço
ou mudança na estratégia pode ter impacto na demanda, sem a necessidade de arriscar
muitas datas. Com dados atualizados na sua tela, sem a dependência de um profissional
para gerar a planilha, todos os gestores podem confiar nos dados em que acompanham
a performance do hotel. Poder fazer comparações de evolução de vendas (pick up) para
datas semelhantes e projeções futuras é o que dá confiança na tomada de decisão.
Para chegar ao novo jeito de fazer RM é preciso ver a tecnologia como aliada. Em vez
de ter profissionais que trabalham apenas gerando e conferindo relatórios, atualizando
preços, abrindo e fechando canais de vendas, no lugar de ter revenue managers qualifi-
cados desperdiçando tempo com planilhas desnecessárias, é preciso deixar os sistemas
trabalharem, enquanto o revenue manager pensa, analisa, estuda o mercado, toma de-
cisões e acompanha resultados gerando e entregando valor ao negócio. Um hotel com o
novo jeito de fazer RM consegue traçar planos, automatizar estratégias e testar cenários
para que o Revenue Management System (RMS) operacionalize, ganhando muita produti-
vidade que traz benefícios em resultado e qualidade de vida para todos os profissionais.
Estratégias dinâmicas e assertivas são criadas a partir do momento que é possível
explorar um sistema para testar a elasticidade de preço e garantir a sequência da estra-
tégia 24 horas por dia, sete dias por semana sem a dependência de um ser humano que
pode, inclusive, sair de férias tranquilo, em vez de se preocupar com o que tem de ser
feito e que ninguém conseguiria fazer em seu lugar. A tecnologia em RM é fundamental
para desenvolver e treinar suas equipes, pois existe mais tempo, expertise, autonomia e
menos burocracias no processo.
4cast, o Podcast RM
https://www.youtube.com/playlist?list=PLu92PtIU4tkb7PZBsJFN6YI4PBXBG5gMa
176
// O NOVO JEITO DE FAZER REVENUE MANAGEMENT
QUEM ESCREVE
DANIEL FEITOSA
Daniel Feitosa é pós-graduado em Finanças pela
Universidade Anhembi Morumbi e bacharel em Turismo
pela Universidade Paulista. Com 15 anos de experiên-
cia em Hotelaria, atuando em redes como Accor, Blue
Tree e Meliã. Autuou por oito anos como revenue ma-
nager de hotéis. Também possui experiência como
professor de Revenue Management para Hotelaria e
Eventos e colaborador do 4Cast, o Podcast RM. Desde
o segundo semestre de 2021 é responsável por RM e
Customer Success na Climber RMS.
MARIO MOURAZ
Mario Mouraz é formado em Hotelaria pela EADA Business
School, em Barcelona, e com passagem por várias redes
de luxo, como Four Seasons e Starwood Hotels & Resorts.
Mario é o CEO da Climber RMS, empresa líder em software
de Revenue Management no Brasil focada em ajudar os
hotéis a aumentar suas receitas. Com um percurso muito
atípico, Mario fundou e foi CEO de três empresas de
tecnologia hoteleira, viveu um ano no Burkina Faso com
um dólar por dia e em Londres com 1.000 dólares por dia,
participou de cerimônias indígenas, correu maratonas no
deserto e subiu as maiores montanhas da Europa e do
Médio Oriente com mais de 5.600 metros de altura. Suas
principais características são resiliência e inovação.
177
HOTELARIA
E GOLPES NO
INSTAGRAM: COMO
MITIGAR OS RISCOS
ALESSANDRO BARRETO
MODUS OPERANDI
O site Statista aponta que o Instagram alcançou, em julho de 2021, mais de 1,3 bilhão de
usuários ativos1. Para a Hotelaria, torna-se extremamente atrativa, visto que oportuniza
a divulgação do negócio por meio de propaganda patrocinada ou de marcações de ter-
ceiros. Para os criminosos, também é um fascinante meio para enganar terceiros e obter
lucro.
Apesar de o Instagram ser uma plataforma segura, com infindas maneiras de prote-
ção e configuração das informações, tanto os proprietários das contas quanto os usuá-
rios não se atentam a essas perspectivas, deixando suas redes vulneráveis a ataques de
oportunistas.
Dessa maneira, procuraremos demonstrar os principais modus operandi dos golpes
praticados no Instagram. Destacamos, por oportuno, que esta lista não é exaustiva, bem
como enredos semelhantes são detectados em outras mídias sociais.
179
// ALESSANDRO BARRETO
• Selo Azul — esta verificação demonstra que uma conta é única e autêntica, dando
maior confiabilidade a um perfil2. Cientes de que parte dos estabelecimentos já fize-
ram este pedido, os infratores enviam os links phishing.
• Violação da política de direitos autorais do Instagram — aqui, encontramos a pre-
sença da engenharia social do medo (clique aqui ou vai perder o acesso à sua conta;
sua conta será desativada por violação e a conta será excluída etc.) levam o usuário a
fazer este procedimento e clicar nos links enviados;
• Utilização indevida de imagens do estabelecimento em contas de terceiros – neste
caso, as mensagens de utilização indevida das imagens do hotel/resort levam o usu-
ário a ser redirecionado para páginas falsas.
Nos três casos relatados, os criminosos têm utilizado do hackeamento da conta para
extorquir o estabelecimento para recuperação da conta ou ainda para conseguir ofertas,
pacotes com desconto na hospedagem e depósitos via pix na conta de terceiro.
Quanto à invasão de contas do Instagram, identificamos, recentemente, uma nova
modalidade. Após a invasão do perfil, o criminoso não faz nehuma exigência ao titular
da conta e nenhuma alteração. Apenas utiliza os stories e o direct para divulgar ofertas
de smartphones e outros produtos com preços abaixo do valor de mercado, com trans-
ferência por pix.
2 De acordo com a política do Instagram, para uma conta ser verificada, o usuário
deve demonstrar que a conta representa uma pessoa real ou uma empresa ou entidade
registrada; a conta deve ser a única presença da pessoa ou empresa que ela representa e
entidades de destaque (por exemplo, animais de estimação ou publicações) também po-
dem se qualificar; apenas uma conta por pessoa ou por empresa pode ser verificada, com
exceções para contas de idiomas específicos; a conta deve ser pública e ter uma biografia,
uma foto de perfil e pelo menos uma publicação e deve representar uma pessoa, marca ou
entidade famosa e muito pesquisada. Disponível em: https://about.instagram.com/pt-br/
blog/announcements/understanding-verification-on-instagram. Acesso em: 14 nov. 2021.
180
// HOTELARIA E GOLPES NO INSTAGRAM: COMO MITIGAR OS RISCOS
181
// ALESSANDRO BARRETO
RECUPERAÇÃO DE CONTA
Reaver uma conta invadida não é tarefa fácil, em especial pelo fato de o criminoso alterar,
de imediato, senha, e-mail e telefone vinculados.
Um dos mecanismos adotados é o envio de um requerimento direcionado ao
endereço por correio para a sede física do Facebook em São Paulo. Esse procedimento
demora alguns dias para ser concluído. Alguns dados precisam estar no documento, por
exemplo:
• Nome de usuário;
• Telefone vinculado: não esqueça de colocar o +55 na frente do número;
• Conta de e-mail vinculada;
• E-mail novo: é necessário criar uma conta de e-mail nova para receber o link
de recuperação. Essa conta, obrigatoriamente deve ser recente para receber um
link de recuperação. Se o e-mail tiver sido utilizado anteriormente para outra conta,
esse procedimento de recuperação não dará certo;
• Demonstrar que é o proprietário da conta;
• Descrever a perda de acesso da conta4.
Outro caminho para reaver a conta invadida é por meio de ação judicial com multa di-
ária em caso de descumprimento. É importante que a petição inicial contenha um e-mail
novo da vítima para recuperação da conta. Além disso, o advogado pode solicitar, com
escora no art. 22 do Marco Civil da Internet5, os logs de acesso da conta do estabeleci-
5 Marco Civil da Internet. Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de for-
mar conjunto probatório em processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou
autônomo, requerer ao juiz que ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de
registros de conexão ou de registros de acesso a aplicações de internet. Parágrafo único.
Sem prejuízo dos demais requisitos legais, o requerimento deverá conter, sob pena de
inadmissibilidade:
182
// HOTELARIA E GOLPES NO INSTAGRAM: COMO MITIGAR OS RISCOS
mento após o ataque, devendo incluir: protocolos de internet com dia, hora e timezone;
porta lógica de origem, e-mail e telefones vinculados. Esses dados são importantes para
a atribuição de autoria delitiva.
Acreditamos que esse tipo de ataque poderia ser evitado caso o Instagram fizesse al-
gumas adequações na sua plataforma. Na Central de Ajuda, a rede social orienta a vítima
a verificar o e-mail de alteração e solicitar a mudança6. Esta sugestão, na grande maioria
dos casos, não funciona, eis que o criminoso modifica e-mail e telefone vinculados, bem
como recebe uma mensagem na conta nova de alteração de conta. Quando ele aceita a
alteração, fica impossível seguir essa orientação.
A existência de uma camada a mais de proteção poderia sanar o problema. Toda vez
que o usuário fosse modificar o e-mail e a senha vinculados, uma chave deveria ser en-
viada ao e-mail vinculado impedindo que houvesse alteração na conta. Caso o usuário
não tivesse acesso a um desses meios, seria exigida uma prova de identidade.
PROCEDIMENTO POLICIAL
Os ataques de engenharia através do Instagram não devem apenas serem mitigado. De-
ve-se, pois, atribuir autoria delitiva a fim de que os infratores sejam responsabilizados
criminalmente.
A primeira providência e a lavratura dentro de ocorrência policial on-line, na dele-
gacia de repressão aos crimes cibernéticos ou naquela mais próxima da residência do
solicitante. Esse documento deve conter: a narração dos fatos, dia e hora do primeiro
contato, redes sociais e aplicativos de mensageria empregados, contas de e-mail e tele-
fones e informações de contas bancárias.
PROTEÇÃO DE CONTA
O Instagram oferece infindas opções de proteção de conta. Entender o funcionamento
do aplicativo, bem como as opções de segurança, é um excelente meio para mitigar os
efeitos danosos de possíveis ataques.
De início, destacamos a conscientização como fato crucial. O usuário de qualquer
serviço, principalmente o responsável pela administração do perfil do Instagram do es-
tabelecimento de hotelaria, deve ter em mente que a internet é insegura por natureza e
de que cabe a ele estar sempre atento aos ataques de engenharia social.
Assim, ao receber uma mensagem do Instagram por direct ou e-mail, desconfie. A
aplicação não utiliza esse tipo de comunicação. Os contatos são feitos apenas por meio
183
// ALESSANDRO BARRETO
184
// HOTELARIA E GOLPES NO INSTAGRAM: COMO MITIGAR OS RISCOS
185
// ALESSANDRO BARRETO
Por fim, faz-se necessário o emprego de uma conta de e-mail exclusiva para a rede
social, protegida com duplo fator de autenticação do estabelecimento a fim de evitar
ataques de dicionário ou procedimentos como “esqueci minha senha”.
186
// HOTELARIA E GOLPES NO INSTAGRAM: COMO MITIGAR OS RISCOS
8 Marco Civil da Internet. Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize
conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da
intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens,
de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter
privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representan-
te legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu
serviço, a indisponibilização desse conteúdo. Parágrafo único. A notificação prevista no
187
// ALESSANDRO BARRETO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As oportunidades de expansão dos negócios na internet são imensuráveis. Plataformas
como o Instagram asseguram ao ramo de Hotelaria impulsionamento dos negócios. Sem
embargo, o crime migrou para esse espaço. Condutas ilícitas outrora praticadas no am-
biente físico, empregam a tecnologia como aliada. Perfis de hotéis, pousadas e resorts
passam a ser atrativos, notadamente em razão do seu engajamento.
Nesse contexto, os estabelecimentos devem atuar sempre de maneira preventiva na
proteção de suas redes sociais, um dos seus ativos. Eventual comprometimento delas
trará reflexos econômicos e na reputação da empresa. Portanto, os cuidados com as
configurações de segurança, autenticação em dois fatores com aplicativos e contas de
caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação espe-
cífica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da
legitimidade para apresentação do pedido.
10 A solicitação pode ser feita por meio do formulário disponível em: https://help.insta-
gram.com/contact/552695131608132. Acesso em: 14 nov. 2021.
188
// HOTELARIA E GOLPES NO INSTAGRAM: COMO MITIGAR OS RISCOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Alesandro Gonçalves. Cybercards. Meio cibernético: orientações práticas.
Editora do Autor: São Paulo, 2019.
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm. Aces-
so em: 14 nov. 2021.
BRASIL. Lei nº 11.829, de 25 de novembro de 2008. Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990 — Estatuto da Criança e do Adolescente, para aprimorar o combate à pro-
dução, venda e distribuição de pornografia infantil, bem como criminalizar a aqui-
sição e a posse de tal material e outras condutas relacionadas à pedofilia na inter-
net. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/
L11829.htm#art2. Acesso em: 14 nov. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos
e deveres para o uso da Internet no Brasil. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 24 abr. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 14 nov. 2021.
189
// ALESSANDRO BARRETO
QUEM ESCREVE
ALESSANDRO BARRETO
Delegado de Polícia Civil do Estado do Piauí, com mestra-
do em Cibersegurança e Continuidade do Negócio pela
Universidade Católica de Múrcia, Espanha. Trabalhou
como gestor do Núcleo de Fontes Abertas pela Secretaria
Extraordinária de Grandes Eventos nos Jogos Olímpicos
e Paralímpicos Rio 2016. É autor de diversas obras sobre
crimes cibernéticos.
190
// HOTELARIA E GOLPES NO INSTAGRAM: COMO MITIGAR OS RISCOS
OS MEIOS DE
PAGAMENTO
COMO ALIADOS
NA JORNADA
DOS CLIENTES
FILLIPI NOBRE
192
// OS MEIOS DE PAGAMENTO COMO ALIADOS NA JORNADA DOS CLIENTES
os clientes, as empresas deveriam colocar foco em garantir que consigam resolver seus
problemas, pois assim serão premiadas com a conversão e futura fidelização. O estudo
aponta como é fundamental desenhar um processo adequado para a compra, que con-
sidere todas as etapas da pré até a pós-venda. A página de perguntas frequentes (FAQ)
precisa ser revisada periodicamente para garantir que antecipe todas as dúvidas sobre
os termos e as condições da loja, além de esclarecer os meios de pagamento aceitos.
É papel de toda empresa que entrar nesse mercado estar pronta para responder
com rapidez e eficiência a esses eventos, evitando o desgaste do consumidor. Por isso,
enquanto estamos vivenciando o boom do comércio eletrônico, é tão importante que
haja preparação adequada para atender às dúvidas e a eventuais problemas durante a
jornada de compra.
Já parou para pensar que, se os clientes eventualmente desejarem pagar com mais
de um cartão de crédito, mas não encontrarem essa opção de forma intuitiva, isso pode
afetar sua experiência de compra? Para resolver essa situação, quais seriam seus próxi-
mos passos? Ele pode acionar o SAC para entender se é possível proceder dessa forma
ou simplesmente desistir da transação (por isso a importância de se comunicar com cla-
reza). Por outro lado, se durante a navegação estiver sempre à vista um ícone de pesqui-
sa, ao surgir a dúvida, ele pode digitar algo como: “posso pagar com dois cartões?” ou
“como pagar com mais de um cartão?”.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços
(ABECS)2 mostram que os brasileiros fizeram 7,1 bilhões de transações somente no
segundo trimestre de 2021, movimentando mais de R$ 609,2 bilhões com cartões, o
equivalente a quase 55 mil pagamentos por minuto. Estimativas da entidade apon-
tam que o setor de cartões deve fechar o ano com um volume de R$ 2,48 trilhões,
puxado pelas compras com cartão de crédito, que devem representar mais da me-
tade desse volume. Portanto, é importante considerar a relevância dessas opções
de pagamento combinadas para aumentar a taxa de conversão. Segundo pesqui-
sa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação
Nacional de Diretores Lojistas (CNDL)3, quatro em cada dez consumidores já deixa-
ram de ir a estabelecimentos que não aceitam essa forma de pagamento, como ba-
res, restaurantes e lanchonetes, ou desistiram de fazer compras, incluindo bancas de
vendedores ambulantes e postos de combustíveis. O levantamento ainda demonstra
comportamentos que são observados com frequência na prática varejista, como a
preferência por parcelamentos, a posse de mais de um cartão por pessoa e o hábito
de pegar emprestado o cartão de familiares ou amigos para ter acesso a um limite
maior de crédito.
193
// FILLIPI NOBRE
194
// OS MEIOS DE PAGAMENTO COMO ALIADOS NA JORNADA DOS CLIENTES
195
// FILLIPI NOBRE
QUEM ESCREVE
FILLIPI NOBRE
Fillipi Nobre, Superintendente de Desenvolvimento de
Negócios, na Elo desde 2014, responsável pelas frentes de
Aceitação Online, focado em segmentos emergentes e do
universo digital. Atua no mercado de meios de pagamentos
desde 2008. Formado em cursos na Hyper Island, Echos
Innovation Lab, Insper, MBA em Gestão Estratégica de Ne-
gócios pela Ânima/Unimonte e Bacharel em Comunicação
Social pela Universidade Católica de Santos.
196
DO TRADICIONAL
AO VERSÁTIL –
COMO INOVAR NA
HOTELARIA:
SWAN GENERATION: UM
MARCO EVOLUTIVO DO RAMO
HOTELEIRO BRASILEIRO
GABRIELA SCHWAN POLTRONIERI
O ser humano é fruto de um complexo e contínuo processo evolutivo. Cada célula de nos-
so corpo foi forjada ao longo de milhares de anos até chegarmos à espécie sobrevivente:
homo sapiens sapiens. O homem contemporâneo faz muito além de pensar, é criativo e
inquieto, o que garante um crescimento que não para e nem nunca vai parar. Um dos
exemplos evolutivos que temos atualmente é o empreendedor moderno — quer seja o
que segue no modelo empresarial formal ou no formato das startups. Inseridos na nova
economia, batizada de “criativa”, esses empreendedores buscam mudar o pensamento
humano de modo a elevar a humanidade em si.
Como mulher e empreendedora “hoteleira raiz”, já que o DNA da arte do bem receber
corre em minhas veias, estudei desde a hotelaria tradicional até o que há de mais mo-
derno. O objetivo era ter uma visão global do segmento e, assim, antever tendências de
comportamento de consumo. E foi assim que eu descobri, por exemplo,
Império Romano existiam os palacetes, conhecidos como hostellum, nos quais reis
e nobres se hospedavam quando se deslocavam. O hotel Hoshi Ryokan, localizado no
Japão, pertence à mesma família há — acredite ou não — 46 gerações e é um dos mais
antigos operando continuamente no planeta.
Do passado distante até as recentes metrópoles, são séculos de progresso na maneira
que se recebem as pessoas. E o empenho em estudar o universo em que estamos inseridos
se acentuou ao longo do tempo. Morei em Manhattan, nos Estados Unidos,antes de me es-
pecializar na Cornell University, onde fica a famosa Cornell School of Hotel Administration.
Neste período, já acompanhava a tendência dos “condo hotéis”: opções residenciais de
curta e longa temporadas em apartamentos em condomínios com áreas comuns e serviços.
Tratava-se de uma solução interessante para moradia em cidades caras como Manhattan.
Do que vi nos livros para a prática na rede Swan Hotéis, que traz na sua história (e na
da família Schwan) a condição do empreendedorismo, foi um passo. Já na década de
1990 inauguramos o primeiro “condo hotel” do Rio Grande do Sul, na cidade de Novo
Hamburgo. Motivados pela experiência de viver em uma cidade de proporções gigantes
e hábitos ultramodernos como na norte-americana, iniciamos nossa jornada evolutiva
no Sul do Brasil.
Adiante, surgiu a necessidade de aprender com a hotelaria mais tradicional do mun-
do ocidental, a europeia. Escolhemos a ancestralidade de Portugal, com memórias ví-
vidas da monarquia contrapostas ao que existe de mais moderno. Acompanhamos de
perto a (r)evolução deste país peninsular, antes considerado o “primo pobre” da Europa.
Aqui novamente pontuamos a capacidade incrível que só o ser humano tem de se melho-
rar. Por três anos consecutivos Portugal manteve-se na posição de país desejado pelos
turistas para se visitar, inclusive levando para casa o Oscar do Turismo Mundial (World
Travel Awards). Um ambiente acolhedor para o empreendedorismo estratégico, com in-
198
// DO TRADICIONAL AO VERSÁTIL – COMO INOVAR NA HOTELARIA
199
// GABRIELA SCHWAN POLTRONIERI
200
// DO TRADICIONAL AO VERSÁTIL – COMO INOVAR NA HOTELARIA
salas de reunião, de brainstorm, copa/cozinha coletiva, entre outras áreas que estimu-
lam a interação.
O funcionamento é 24 horas, o que, por si só, já traz uma vantagem competitiva me-
diante os coworkings regulares, que geralmente funcionam em horário comercial. A re-
cepção 24 horas também é um atrativo. Nesses dois andares, além de uma cocriação e
cogestão com uma empresa especialista no ramo, uma conceituada marca de móveis
para escritório exibe praticamente um showroom de seus móveis e cadeiras testados dia-
riamente pelos usuários do local. Todos estão à venda mediante encomenda.
Hotelaria Design: para quem optar pela hotelaria design, as alternativas de aparta-
mentos carregam o conceito de curadoria artística. Cada unidade traz obras seleciona-
das de artistas plásticos e fotógrafos coordenadas com décor exclusivo. Ou seja, nenhum
apartamento é igual ao outro mesmo sendo da mesma categoria. Algumas unidades
também têm opção de formatação similar aos flats, equipados com cozinha completa
e estar.
São três categorias de unidades: suíte Gen, suíte Sky e suíte Star. A suíte Gen conec-
ta-se imediatamente aos amantes do grafite, que marcam suas paredes. É composta por
sala com escrivaninha ampla e sofá-cama, quarto e banheiro. Já a suíte Sky homenageia
os amantes das artes plásticas, com ampliações de fotos ou quadros em aquarela que
valorizam o branding da marca, recém-remodelado, com a constelação do cisne como re-
ferência (a saber, swan é cisne em inglês). Esse apartamento é no formato loft, com sala,
cozinha completa, quarto e banheiro. Por fim, a suíte Star é, de fato, a grande estrela do
Swan Generation. Um loft composto por móveis de uma linha sofisticada de um parceiro
de design moveleiro, com escrivaninha, sala, cozinha completa, quarto e banheiro. Outro
ponto alto da Star é a conectividade, que leva a tecnologia de comando por voz da Inte-
ligência Artificial (IA) Alexa para o hóspede. Em tempo: todas as categorias contam com
serviço de concierge também na televisão.
Área de eventos e estúdio digital: um estúdio completo para eventos que ocorrem de
forma presencial e digital simultaneamente foi montado no andar de eventos a partir de
uma collab com parceiro líder do segmento audiovisual. Um auditório para 80 pessoas
e o estúdio com camarim e banheiro privativos possibilitam a transmissão de alta qua-
lidade de imagem e som para quem está no Swan Generation in loco e para quem está
distante.
Lobby integrado com restaurante: eis o ápice do Generation, uma imensa arte
mural pintada a óleo, entre outras técnicas mescladas, recebe o hóspede à esquerda.
À direita fica um balcão flutuante — o Swan Generation não tem recepção e a ausência
desse balcão exclui aquela antiga "barreira" entre os clientes e os nossos agentes de
hospitalidade, aprofundando sua interação. Quando necessário, nossos colaboradores
atendem os viajantes no lobby, o que permite aos clientes ficarem confortavelmente
sentados em espaçosas mobílias de design.
Uma grande arquibancada sinuosa e forrada de almofadas convida ao descanso e,
nos pilares estruturais, musgos noruegueses contrapõem-se à madeira e ao cinza do con-
creto, garantindo a presença da natureza na parte interna. O restaurante fica ao fundo,
201
// GABRIELA SCHWAN POLTRONIERI
promovendo contato com todos que “habitam” o complexo do Swan Generation. Seja
para tomar café da manhã, almoçar ou jantar, fazer um lanche ou happy hour, o espaço
recebe todos os públicos ao longo do dia.
Por fim, uma loja física de produtos oriundos das collabs com marcas de moda, arte,
design e decoração fica à direita. Muitos dos itens são sustentáveis, conectando nova-
mente com emoção e propósito o público que se preocupa com o ambiente da marca.
Em breve, haverá um e-shop para atingir outros consumidores que queiram levar um pe-
dacinho do Swan Generation para casa.
Dos quadros que estão nos quartos, passando por itens de decoração soltos, como al-
mofadas, cachepôs e travessas, copos reutilizáveis, mochilas para laptop, shoulder bags
para celular, tudo está à venda. Sem esquecer da coleção de sapatos confortáveis e gen-
derless (sem gênero) criada para dar conforto e bem-estar aos hóspedes ou coworkers.
Outras features: nenhuma das suítes possui telefone. Toda a comunicação com a
recepção é via WhatsApp. Nada poderia ser mais simples e efetivo. Na fachada externa
do prédio há um jardim vertical com plantas escolhidas para ajudar na procriação de
pássaros, configurando um pequeno pulmão na área urbana. Outra arte mural capta os
olhares de quem está na rua e convida para conhecer o lobby. No estacionamento em
frente ao hotel, outra collab, agora com uma startup de carregamento de carros elétricos,
que oportuniza aos clientes e comunidade local abastecer seus automóveis sem custo.
Por último, mas não menos importante, duas collabs de tecnologia selam o concei-
to do empreendimento. Uma empresa de software de gestão de hotéis e uma empre-
sa de internet e tecnologia da área da Hotelaria que faz a interface entre todos os ou-
tros softwares e players.
Para gerenciar apartamentos com tantas características únicas, o Swan Generation
demanda um software que controle o estoque dos apartamentos híbridos e o transbordo
da hotelaria para o coliving e vice-versa. Nos quartos, outro software acessa o extrato
de gastos, dá dicas sobre pontos turísticos de Porto Alegre, informa o menu do café da
manhã, entre outras facilidades.
O aplicativo permite a compra de diárias, check-ins e check-outs serão 100% digitais,
abertura de portas pelo bluetooth do celular, informações importantes e pedidos diver-
sos à recepção.
Entretanto, cabe ressaltar que esse projeto foi abraçado pelos investidores também
devido à sua rentabilidade. O “Swan Gen”, como carinhosamente vem sendo chamado,
têm muitas camadas de negócios e, desse modo, pode ser comercializado de forma in-
tegrada. Por exemplo, um hóspede pode ficar três meses no coliving e locar uma estação
de trabalho no coworking pelo mesmo período, contratando dois produtos simultanea-
mente. O coliving resulta em uma rotatividade impressionante, aumentando o número
de PAX do empreendimento consideravelmente.
Um evento figital pode ocupar estúdio, área de eventos, quartos de coliving para
equipes, quartos de hotelaria design para gestores, salas de reuniões de coworking na
véspera do evento... São variadas vantagens e diversos proveitos, assegurando ao inves-
tidor uma excelente performance de resultados.
202
// DO TRADICIONAL AO VERSÁTIL – COMO INOVAR NA HOTELARIA
HARARI, Yuval Noah. Sapiens, uma breve história da humanidade. Porto Alegre:
L&PM Editores, 2016
Remote
https://remote.la/
203
// GABRIELA SCHWAN POLTRONIERI
QUEM ESCREVE
204
// DO TRADICIONAL AO VERSÁTIL – COMO INOVAR NA HOTELARIA
A EXPERIÊNCIA DO
VIAJANTE DIGITAL NA
ERA DA ASSISTÊNCIA
CLARISSA SANTIAGO*
TEMPOS MODERNOS
Viver no século 21 é viver em um tempo em que as mudanças acontecem em ciclos cada
vez menores. É a representação perfeita de que a única constante ao longo do tempo
é a mudança. Diversas teorias e metodologias surgiram nos anos 1990 para tentar nos
ajudar a interpretar, expandir nosso entendimento e preparar-nos para lidar com essa
velocidade toda.
Em 1992, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que escreveu mais de 50 livros e
tornou-se um dos intelectuais mais respeitados da atualidade, descreveu essa nova rea-
lidade como a “modernidade líquida” e afirmou: “Os tempos são “líquidos” porque tudo
muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido.”.
Também com origem nos anos 1990, o termo VUCA foi iniciado pelo exército america-
no para descrever os cenários e contextos de guerra possíveis de serem enfrentados. De
2010 para cá, o termo “mundo VUCA” (volátil, incerto, complexo e ambíguo, traduzindo
da sigla em inglês), ganhou notoriedade no mercado e vem despertando cada vez mais
interesse das pessoas.
No gráfico a seguir, é possível observar o crescimento do interesse na busca por
“VUCA” no Google Trends a nível mundial, do início da base histórica em 2004 até os dias
atuais.
Entretanto, o que isso tem a ver com o turismo? Tudo! Afinal, o turismo é um dos mer-
cados mais suscetíveis às mudanças, sejam elas econômicas, comportamentais ou mes-
mo climáticas. Para o turismo acontecer, o cliente tem uma jornada longa de experiência,
o que aumenta as probabilidades de mudanças e imprevistos. A escolha do destino, as
definições logísticas e de hospedagem, o deslocamento para o aeroporto, a previsão do
clima, os planos do que fazer. Muitos detalhes e muitas etapas que podem mudar a qual-
quer momento, gerar frustração, descontentamento, prejuízos, danos materiais.
Nesse cenário é mais fácil para as marcas se responsabilizarem o mínimo possível
206
// A EXPERIÊNCIA DO VIAJANTE DIGITAL NA ERA DA ASSISTÊNCIA
pela sua fatia específica dessa jornada. O hoteleiro, por exemplo, geralmente se preo-
cupa apenas com a experiência do cliente do momento em que realiza o check-in até o
momento em que realiza o check-out. Qualquer abrangência fora dessa fatia da jornada
seria correr um risco desnecessário para a marca, já que a responsabilidade aumenta e
propor-se a fazer algo além do que está na descrição de serviço, é puro risco, já que você
não tem controle da experiência, certo? Certo. Mas em tempos de constante mudança
quem está preparado para lidar com o mundo VUCA em uma fatia da experiência está
mais propenso a ir além e diferenciar-se ao antecipar as necessidades dos clientes e ofe-
recer assistência de forma mais ampla na jornada do cliente.
A partir dessa visão, de dar assistência de forma ampliada, indo além do tradicional
suporte ao cliente, o Google cunhou o termo “Era da Assistência” em um dos estudos
publicados com base na análise de milhões de dados. O estudo, publicado em julho de
2018, recebeu o seguinte título: “Viagens na Era da Assistência: os consumidores querem
ajuda. Cadê sua marca nessa hora?”. Um dos dados interessantes do estudo é que na
categoria de passagens aéreas, embora as buscas por compra representassem a maior
demanda da categoria de passagens aéreas, as buscas por atendimento cresceram três
vezes mais que as intenções de compra.
Estamos vivendo a Era da Assistência. Os smartphones se tornaram verdadeiros as-
sistentes pessoais e, com isso, as expectativas dos consumidores em relação ao que as
marcas oferecem ficam cada vez mais altas. Nesse novo cenário de acesso, praticamente
irrestrito à informação, se destaca quem consegue ajudar as pessoas a tomarem as me-
lhores decisões de consumo. Isso é especialmente verdade quando analisamos o setor
de turismo — a internet é o meio onde o usuário explora, descobre, aprende, compara e
compra suas viagens1.
Com isso em mente, fica evidente que saber lidar com as mudanças e ajudar o cliente
de forma ampliada durante a jornada é um caminho evolutivo sem volta. Exige mais da
marca porque o consumidor está cada vez mais exigente. Com acesso ilimitado à infor-
mação na palma da mão, o consumidor cobra do turismo experiências relevantes, atu-
alizadas em tempo real, personalizadas, acompanhamento da jornada completa e com
atendimento ágil.
1 Think With Google, Aline Prado — Julho de 2018 — Viagens na Era da Assistência: os
consumidores querem ajuda. Cadê sua marca nessa hora? Disponível em: https://www.
thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/tendencias-de-consumo/tendencias-de-comportamento/
viagens-na-era-da-assistencia-os-consumidores-querem-ajuda-cade-sua-marca-nessa-ho-
ra/. Acesso em: 22 fev. 2022.
207
// CLARISSA SANTIAGO
Outra evidência importante sobre a ascensão dos chatbots é que as empresas cada
vez mais abrem mão dos aplicativos. Segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Gartner2,
208
// A EXPERIÊNCIA DO VIAJANTE DIGITAL NA ERA DA ASSISTÊNCIA
20% das marcas deixaram os apps devido ao alto custo para os manter ativos e segundo
pesquisa da Forrest Research3, 84% das pessoas utilizam somente cinco apps por mês.
Ao passo que os chatbots têm uma conexão facilitada, podem ser oferecidos em ambien-
te web ou em canais que os clientes já utilizam, como WhatsApp, Facebook, Telegram,
Instagram, sem a necessidade de baixar novos aplicativos.
Com pessoas e empresas beneficiadas, o país também cresce, de acordo com uma
pesquisa encomendada pela Microsoft4, com inteligência artificial, o Brasil pode quadru-
plicar crescimento da produtividade e aumentar PIB em até 7,1% ao ano.
Mais especificamente no Turismo, a Era da Assistência impõe-se como fundamental.
De acordo com pesquisa da McKinsey Global Institute5, este é o setor com maior poten-
cial de gerar valor a partir do uso da inteligência artificial. Um estudo da Booking.com
6
também indica que 73% dos brasileiros esperam que sugestões de viagem sejam sur-
preendentes e inovadoras. A Digital Travel Report 7diz que entre as organizações de via-
gens que implementaram o aprendizado de máquina, a maioria mencionou aumento em
aquisições (37%) ou lealdade (30%) como resultados diretos do investimento.
3 BORGES, Bianca. Chatbots & Machine Learning: Inteligência artificial no marketing digital.
2017. Acesso em: 03 fev. 2022.
4 Brasil pode aumentar pib em até 7,1% ao ano impulsionado por inteligência artificial,
startupi.com.br, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3tCUvv6.
5 Notes from the ai frontier: applications and value of deep learning, mckinsey.com, 2018.
Disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/artificial-intelligence/notes-
-from-the-ai-frontier-applications-and-value-of-deep-learning#part3
7 The age of assistance: how machine learning makes sense of consumer identity, intent,
and context, ignitionone.com, 2019. Disponível em: https://www.ignitionone.com/wpcon-
tent/uploads/2019/02/digitaltravel2019report_ignitionone.pdf
209
// CLARISSA SANTIAGO
ASSISTENTES DIGITAIS
Assistentes digitais são programas de computador avançados que utilizam inteligência
artificial (IA), processamento de linguagem natural, e machine learning para proporcio-
nar uma experiência personalizada de conversação. À medida que avançam e recebem
dados como localização e outras preferências é possível refinar o diálogo e, através do
treinamento da Inteligência Artificial, elas podem inclusive responder perguntas com-
plexas auxiliando em compras, resolução de dúvidas, atendimento e muito mais.
As assistentes são como guias que acompanham os viajantes por toda a jornada,
ajudam com dúvidas, agendamentos, sugestões, pedidos ou no direcionamento para o
atendimento humano.Além disso, a persona funciona como uma espécie de porta-voz
digital, comunicando-se com os clientes, transmitindo os atributos e o tom de voz da
marca, e ajudando no posicionamento. Ter uma identidade digital bem desenvolvida
tem se tornado cada vez mais importante e é uma tendência global. As assistentes con-
seguem estabelecer uma comunicação mais amigável, humanizada e ajudam a criar uma
experiência com a marca.
A identidade visual pode ser desenvolvida de diferentes formas e estilos. Há quem
prefira mascotes, outros preferem humanoides. De forma geral, são personas, com
aparência simpática e acolhedora e personalidade própria, criada para dar ao cliente
a sensação de companhia. É mais um membro do time que vem para colaborar com o
atendimento.
210
// A EXPERIÊNCIA DO VIAJANTE DIGITAL NA ERA DA ASSISTÊNCIA
Fonte: Guide121
Pode parecer básico, mas é um ponto sensível, porque nem todo mundo está por
dentro do universo da tecnologia, então termos como robôs, chatbots e inteligên-
cia artificial podem assustar e inibir o time. Tudo que é desconhecido ao ser humano
pode causar medo, apreensão e há a tendência de se distanciar daquilo. É importan-
te estruturar uma estratégia de comunicação da assistente não só para os clientes,
mas também para o time interno. A ewquipe de colaboradores precisa enxergar a
assistente como uma facilitadora do trabalho, como um membro do time que che-
gou para contribuir com a acolhida ao cliente e com a eficiência operacional. O clien-
te só percebe, de fato, o valor da assistência quando o time não a vê como ameaça.
TECNOLOGIA
Há uma confusão no mercado acerca do uso de chatbots versus IA versus dar assistência.
O chatbot pode ser um dos canais de comunicação com o cliente para entregar assis-
tência, mas o conceito de dar assistência vai além, precisa estar amparado por uma es-
211
// CLARISSA SANTIAGO
212
// A EXPERIÊNCIA DO VIAJANTE DIGITAL NA ERA DA ASSISTÊNCIA
VALORIZAÇÃO DO CLIENTE
Não à toa, o primeiro passo é a valorização do cliente. Esse princípio tem o poder de
nortear e potencializar todos os outros, pois é o ponto fundamental do trabalho de aten-
dimento.
No livro Marketing aplicado, os autores, Claudio Farias, Caroline Duschitlz e Gustavo
Carvalho, refletem que, neste cenário de revolução digital “cada consumidor é tratado
como único, independentemente do canal pelo qual interage com a marca, podendo ser
loja virtual, loja física, rede social ou qualquer outro meio de venda.”81.
O cliente deve estar sempre no centro das decisões e isso passa por conhecer suas
necessidades e preferências. E mais que estar atento às necessidades, é preciso ter cui-
dado, empatia e emoção, olhar para o ser humano e saber que ali há algo de único, espe-
cial e precisa ser tratado como tal.
Ter cuidado é não apenas pensar em tudo que é necessário para o conforto e a segu-
rança, mas também tratar de todos os pontos com delicadeza e acolhimento.
Ter empatia é o exercício de se colocar no lugar do outro e saber que há dores, ques-
tões e sentimentos muito particulares que devem ser respeitados e acolhidos.
Ter emoção é enxergar a diferença entre um atendimento frio e robotizado, e um que
se preocupa com o lado humano das interações acima de tudo. Apresentar-se e pergun-
tar o nome são os primeiros passos para estabelecer uma relação de confiança e proximi-
dade. Nomes são preciosos e têm o poder de conectar instantaneamente.
Agindo assim, temos condições favoráveis para oferecer uma grande e personalizada
experiência e fidelizar este cliente.
Um fato curioso: a maioria dos chatbots pergunta o nome e registra o input do usuário
como nome. Mesmo que ele digite: “meu nome é João” é possível reconhecer e registrar
o nome. Um assistente digital com o mínimo de inteligência deve ter condições de vali-
dar a entrada do usuário e registrar o nome do cliente de forma assertiva. Na Guide121,
por exemplo, criamos um algoritmo para validar o nome do cliente com base em nomes
registrados no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim aumentamos
a pessoalidade dos assistentes digitais fortalecendo a conexão entre humano e bot.
INFORMAÇÃO ASSERTIVA
Mesmo o ser humano com uma memória realmente privilegiada é passível de erro, es-
quecimento ou imprecisão. E a assistência digital está disponível para auxiliar em qual-
quer uma dessas situações. Em sua base de dados é possível inserir grande quantidade
de informação e deixar à disposição do cliente, quando precisar. É possível facilmente
atualizar ou corrigir de acordo com a necessidade. Com isso, o cliente não fica dependen-
te da transferência para o atendimento humano e tem a segurança de estar recebendo in-
213
// CLARISSA SANTIAGO
formação assertiva e completa. Isso também ocorre com colaboradores, caso necessitem
se recordar de alguma informação ou política, essas podem ser consultadas diretamente
na assistente digital.
Além disso, é preciso cuidar da segurança e confiabilidade das informações, com
transparência e responsabilidade.
Assistência desdobra-se em personalização e personalização desdobra-se em conhe-
cer no detalhe um determinado contexto para trabalhar os motores de inteligência de
dados e recomendação. Nesse cenário, se o time não está alinhado à cultura de dados,
não reconhece a importância de ter dados assertivos e confiáveis, o motor não terá a
relevância necessária para dar assistência em tempo real. Basicamente, você pode cons-
truir uma superestrutura de tecnologia, um motor de IA potente, com um grande volume
de dados, mas se eles estiverem desatualizados, não gerará valor para o cliente na ponta.
Ao contrário, pode gerar uma grande frustração ao transmitir uma informação errada ou
antiga.
Uma facilidade proporcionada pela tecnologia é a possibilidade de treinar a inteli-
gência artificial para interpretar diferentes inputs dos usuários e as marcas poderem defi-
nir, em tempo real, como responder a essas questões. Na Guide121, casos como assédio,
preconceito, denúncias ou conversas sobre suicídio, por exemplo, estão treinados para
serem reconhecidos e, inclusive, indicar órgãos de atendimento capacitados para aten-
der a esses casos específicos.
9 JANKAVSKI, André. OS ROBÔS QUE VENDEM NAS REDES SOCIAIS. 2017. Disponível em:
http://www.consumidormoderno.com.br/2017/11/03/os-robos-que-vendem-nas-redes-
-sociais/. Acesso em: 06 out. 2021.
10 Como o chatbot traz melhores resultados no varejo?, Jornal Empresas & Negócios,
2017. Disponível em: https://jornalempresasenegocios.com.br/tecnologia/tecnolo-
gia-23-06-2017.
214
// A EXPERIÊNCIA DO VIAJANTE DIGITAL NA ERA DA ASSISTÊNCIA
Um bom exemplo é um episódio em que o cliente pede ajuda à assistente pois ficou
trancado para fora do quarto. Prontamente é atendido e não precisa se deslocar até a
recepção para pedir auxílio.
JORNADA COMPLETA
Estar presente em todos os momentos inclui oferecer uma experiência completa, duran-
te toda a jornada. E esse contato com a sua marca começa antes mesmo da compra,
na fase do interesse, de experimentar o conteúdo, como a marca se apresenta, como se
comporta.
Fonte: Guide121
No instante da compra diversos fatores, além do preço, são considerados, como: faci-
lidade, comodidade, informação, confiança.
Na sequência, durante a pré-viagem o cliente recebe todo o auxílio que precisar tiran-
do dúvidas, realizando alterações, informando-se sobre horários, atrações etc.
Durante a viagem acontece o contato mais estreito com a marca, momento de encan-
tar o cliente com atendimento rápido, eficiente e dar sugestões personalizadas, fazendo
da experiência um momento inesquecível.
O envio de mensagens ativas (broadcasts e notificações) é altamente recomenda-
do para tornar a experiência ainda melhor, de forma situacional, mantendo o cliente
bem-informado e ainda expandindo possibilidades de geração de receita auxiliar, como
para realizar o up-selling e o cross-selling.
Finalizada a viagem, chega a hora de colher feedbacks e gerar poderosas métricas
para aprimorar ainda mais o atendimento e aumentar os lucros. O ciclo, então, recomeça
com clientes satisfeitos e fiéis à marca.
Cada momento da jornada é mapeado para que seja construída uma régua de co-
municação personalizada, relevante e oportuna. Dessa forma, é possível, além de resol-
ver problemas, antecipar necessidades e evitar o envio de mensagens desnecessárias
e invasivas.
215
// CLARISSA SANTIAGO
ANTECIPAÇÃO DE NECESSIDADES
No livro O comportamento do consumidor, de 2015, Ernesto Giglio diz que “a informação
é o elemento principal para as empresas na era da tecnologia e sua maior característica
é o pouco tempo de validade.”11. O marketing — enquanto área — apropriou-se de algu-
mas tecnologias e desenvolveu uma vasta gama de ferramentas para informar, persuadir,
vender, atender e conversar com os consumidores.
Os dados são fundamentais para personalizar a experiência e entender tudo aquilo
que o cliente precisa antes de solicitar. Essa ação de sugerir atrações e promoções e re-
solver problemas é altamente eficaz para o encantamento.
Para isso é necessário estabelecer um elo de confiança com o cliente, incentivar que
ele compartilhe suas necessidades e adaptar as entregas às necessidades já conhecidas.
Cada informação solicitada ao usuário é gravada no banco de dados para posterior
análise e personalização da experiência. Utilizando a tecnologia, mediante um simples
“oi” podemos consultar se trata-se de um contato identificado para trazer as informa-
ções que temos a respeito dele, permitindo a personalização a cada mensagem. Um cli-
que VIP, por exemplo, já poderia ser identificado na primeira mensagem e ver um menu
de opções personalizadas para ele.
RESOLUÇÃO
Quando estamos viajando, não temos tempo a perder. A relatividade do tempo potencia-
liza-se, e a vontade de aproveitar ao máximo muitas vezes é a grande direcionadora das
ações. Portanto, se algo dá errado ou precisa ser alterado, é esperada uma ação rápida,
com agilidade na resolução. Por isso, os tradicionais chatbots informativos não vingam
no Turismo. É preciso ampliar a capacidade resolutiva, buscar soluções inteligentes,
“pensar fora da caixa” e atender com empatia.
Um exemplo de como valorizar e otimizar o tempo e fazer com que o cliente desfrute
ao máximo da sua experiência é a possibilidade de permitir que o hóspede realize agenda-
mentos das atividades, dos serviços e das experiências direto pela assistente digital. Com
essa facilidade, é possível organizar e garantir horários sem a necessidade de se comuni-
car com a recepção ou ir até uma equipe de atendimento. Essa funcionalidade também
oferece uma ajuda fundamental na organização operacional, centralizando e automati-
zando a agenda digital e liberando a equipe de atendimento e recepção de mais tarefas.
Outro bom exemplo de como a tecnologia facilita o trabalho da equipe de operação é
o disparo de mensagens ativas para determinadas comunicações. No caso de uma remar-
cação de voo, por exemplo, é possível importar uma base de dados dos clientes de um
determinado voo que precisou ser alterado e realizar o envio de uma mensagem comuni-
cando o ocorrido e perguntando se pretendem remarcar ou ser reembolsados. Os clientes
podem realizar todo o processo por meio da assistente ou podem ser transferidos para o
216
// A EXPERIÊNCIA DO VIAJANTE DIGITAL NA ERA DA ASSISTÊNCIA
The Age of Assistance: How Machine Learning Makes Sense of Consumer Identity,
Intent, and Context
https://www.ignitionone.com/wp-content/uploads/2019/02/DigitalTravel2019Re-
port_IgnitionOne.pdf
217
// CLARISSA SANTIAGO
QUEM ESCREVE
CLARISSA SANTIAGO
Clarissa tem 15 anos de experiência com projetos de
inovação e desenvolvimento de negócios. Possui MBA
em Trends & Innovation pela Escola Superior de Admi-
nistração, Marketing e Comunicação (ESAMC), é enge-
nheira de telecomunicações pelo Instituto Nacional de
Telecomunicações (Inatel), palestrante TEDxInatel, con-
sultora nos temas de inovação, tendências e tecnologias
voltadas para a experiência do cliente.
Atuou nas áreas de pesquisa e desenvolvimento no setor
de telecomunicações atrelando o uso de novas tecnolo-
gias à experiência do cliente, ao desenvolvimento de pes-
soas e à gestão do conhecimento na organização. Liderou
iniciativas de inovação aplicando metodologias ágeis e
Human-Centered Design (HCD), apoiando a transforma-
ção digital em grandes organizações.
218
TENDÊNCIAS
DA REPUTAÇÃO
ON-LINE: POR QUE AS
AVALIAÇÕES AINDA
SÃO IMPORTANTES?
MARIA ULRICH & MICHELE MARTINS
220
// TENDÊNCIAS DA REPUTAÇÃO ON-LINE
221
// MARIA ULRICH & MICHELE MARTINS
Quando analisamos os níveis de satisfação dos hóspedes, podemos notar que, em uma
escala global, o Global Review Index™ segue uma tendência negativa. O Global Review In-
dex™ é a pontuação de reputação padrão da indústria, usada em todo o mundo por mais
de 60.000 hoteleiros. O GRI™, em 2019, estava em uma média de 85,5% e começou a cair
continuamente em 2020 para 84,5% e depois, em 2021, para 84%.
No entanto, quando olhamos para o Brasil, podemos ver resultados diferentes: du-
rante a pandemia, os níveis de satisfação caíram para 83,1%, mas, em 2021, pudemos ver
novamente uma tendência positiva, subindo acima dos níveis pré-pandêmicos. Quando
ampliamos ainda mais e comparamos três grandes cidades do Brasil: São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília, podemos ver que essas cidades apresentam tendências semelhantes
para o desempenho do país. No entanto, onde o Rio conheceu a queda mais acentuada
na satisfação dos hóspedes em 2020, também podemos ver a maior subida de 83,1 para
84,9%. Por que as avaliações on-line dos hóspedes ainda são importantes?
As avaliações on-line são fundamentais para orientar as pessoas em suas decisões
de compra. De acordo com dados recentes da STR1, as avaliações dos hóspedes são o
terceiro fator mais importante – depois da localização e do preço/valor – para influenciar
as decisões de reserva. O resultado da reputação na receita é, em média, equivalente
a um aumento de 1,42% para cada aumento de um ponto no GRITM, e na ocupação de
0,54%. Acrescente a isso que agora há menos pessoas viajando e estamos vendo menos
comentários, o que significa que qualquer comentário (bom ou ruim) é apresentado por
muito mais tempo em sua página inicial.
222
// TENDÊNCIAS DA REPUTAÇÃO ON-LINE
Por exemplo, se a tendência de serviço do seu café da manhã for negativa, você terá a
oportunidade de aprofundar o problema — talvez seus hóspedes, com a introdução dos
novos protocolos de higiene e segurança em função da crise sanitária provocada pela
pandemia da Covid-19, não soubessem que você não estava mais oferecendo o café da
manhã da mesma maneira ou talvez não estivessem felizes com a caixa de café da manhã
que você passou a disponibilizar. Você pode intervir e melhorar suas opções de café da
manhã ou anunciar mais claramente no seu site e nas Online Travel Agencies (OTA’s) que
devido à Covid-19 o café da manhã não é mais servido. Alinhar as expectativas certas
ajudará a criar boas experiências para os hóspedes.
No entanto, às vezes podemos detectar uma tendência em nossas análises, mas pre-
cisamos de dados mais detalhados para entender melhor como aprimorar algo. Nesse
sentido, as pesquisas com hóspedes são um excelente complemento para os dados que
você capta nos comentários. Eles permitem que você se aprofunde e receba feedback
sobre cada etapa da jornada do hóspede: como foi o check-in, o quarto, a limpeza etc.
Você também pode usar essas pesquisas para avaliar a opinião de seus hóspedes
sobre quaisquer novas implementações tecnológicas que você possa ter feito. Por exem-
plo, se você introduziu recentemente procedimentos de check-in on-line, peça o feedback
de seu hóspede para saber se o processo precisa de melhorias.
Não é só ao final da estada que os comentários de clientes são importantes fontes
223
// MARIA ULRICH & MICHELE MARTINS
4 BITNER, Mary Jo; BOOMS, Bernard; TETREAULT, Mary. The Service Encounter: Diagno-
sing Favorable and Unfavorable Incidents. Journal of Marketing, v. 54, n. 1, p. 71-84, 1990.
5 JOHNSTON, Robert; FERN, Adrian. Service Recovery Strategies for Single and Double
Deviation Scenarios. The Service Industries Journal, v. 19, n. 2, p. 69-82, 1999.
6 KELLEY, Scott; HOFFMAN, K. Douglas; DAVIS, Mark. A typology of retail failures and reco-
veries. Journal of Retailing, v. 69, n. 4, p. 429-52, 1993.
224
// TENDÊNCIAS DA REPUTAÇÃO ON-LINE
MØLLER, 19967).
• Corrigir o problema: corrigindo, ou ao menos tentando resolver o problema para o
cliente (MICHEL, 20048).
• Fornecer garantia: fornecer garantia de que o problema foi/será ordenado e não
ocorrerá novamente (BARLOW; MØLLER, 1996).
• Oferecer compensação: oferecer reembolso dependendo da gravidade do
problema (BOSHOFF, 19979).
225
// MARIA ULRICH & MICHELE MARTINS
contato pessoal para uma propaganda “tela a tela” em uma rede digital internacio-
nal, real time e acessível 24 horas por dia, traduzível para qualquer idioma a qualquer
momento, podemos concluir que o segundo efeito é muito maior, tanto para as expe-
riências positivas quanto para as negativas. E, portanto, as estratégias para recuperar
a satisfação do cliente devem sempre ser inovadas para os meios de comunicação ele-
trônicos, acompanhando o comportamento de compra e de comunicação da socieda-
de atual.
Outra estratégia adotada para evitar comentários negativos dos hóspedes nas mí-
dias sociais é abrir diferentes linhas de comunicação para que eles possam entrar em
contato com você facilmente quando quiserem relatar algo. Uma ótima maneira de
fazer isso é por meio de mensagens. Permita que seus hóspedes entrem em contato
com você por meio de seus canais de mensagem favoritos, em vez de colocá-los na fila
da recepção ou consultas esporádicas por e-mail. Lembre-se de que nem todo mun-
do abrirá seus e-mails regularmente durante as férias, então considere outros canais,
como SMS ou WhatsApp.
Entretanto, como você lida com esse novo fluxo de consultas de clientes? A tecno-
logia pode aqui ser um grande suporte. Considere aproveitar a Inteligência Artificial
para automatizar a resposta de mais de 80% de suas consultas por meio de um chatbot
de hotel ou simplesmente usando sugestões alimentadas por inteligência artificial que
sugerirão respostas para seu agente, com base na intenção do hóspede.
226
// TENDÊNCIAS DA REPUTAÇÃO ON-LINE
BITNER, Mary Jo; BOOMS, Bernard; TETREAULT, Mary. The Service Encounter:
Diagnosing Favorable and Unfavorable Incidents. Journal of Marketing, v. 54, n. 1,
p. 71-84, 1990.
227
// MARIA ULRICH & MICHELE MARTINS
JOHNSTON, Robert; FERN, Adrian. Service Recovery Strategies for Single and
Double Deviation Scenarios. The Service Industries Journal, v. 19, n. 2, p. 69-82, 1999.
QUEM ESCREVE
MARIA ULRICH
Maria Ulrich é a diretora de Vendas da ReviewPro para o
Brasil, a solução líder em gestão de guest experience no se-
tor de Hospitalidade. Mestra em Gestão na Universidade de
Barcelona e bacharela em Gestão de Hotelaria (University
of Central Florida). Antes de ingressar na Reviewpro, Maria
teve uma carreira internacional na Starwood Hotels & Re-
sorts no departamento de Vendas e Eventos. Ela já está na
empresa há oito anos, sendo responsável pela criação de
um portfólio de grandes parcerias com as principais mar-
cas hoteleiras e outras entidades turísticas a nível global.
MICHELE MARTINS
Mestre em Administração de Empresas pela FGV e
Bacharel em Turismo pela USP, atua como pesquisa-
dora e consultora independente, tendo participado em
projetos diversos com instituições como FGV, Insper,
SENAC-SP, IE University, Concordia University, LSE,
AMBEV, Ferrara, Hyatt, Walt Disney World, Crowne Plaza,
tanto no Brasil, quanto nos EUA e na Europa.
228
O FUTURO DO SEU
NEGÓCIO DEPENDE
DE QUEM ESTÁ
HOSPEDADO NELE
AUGUSTO ROCHA & DANIELA BIEDZICKI
230
// O FUTURO DO SEU NEGÓCIO DEPENDE DE QUEM ESTÁ HOSPEDADO NELE
Fonte: Bloomberg
Ao olharmos para o presente, entendemos que os negócios não sumiram, para mui-
tos players do nosso mercado de turismo de lazer, esse período trouxe crescimento de
receita, de diárias e de lucratividade, então, é preciso entender quais são as fontes de
crescimento e como as potencializar.
A resposta está dentro do seu hotel, o seu hóspede é quem vai decidir o seu futuro.
Por isso é fundamental estabelecer um relacionamento direto e duradouro.
Relacionamentos duradouros são a chave de qualquer negócio, mas para os criar,
porém, são necessários três itens essenciais: estratégia, foco e escala.
A estratégia tem um papel fundamental na criação e nutrição desses relacionamen-
231
// AUGUSTO ROCHA & DANIELA BIEDZICKI
tos, pois é por meio dela que vamos mapear a jornada dos nossos consumidores.
A base de todo relacionamento começa na identificação do hóspede. Todo cliente
que deixa o seu hotel e você não tem como o contatar diretamente é um prejuízo para o
seu negócio.
É preciso entender com quem você quer se comunicar, para, então, saber como se
comunicará. No marketing, a lógica de “trate alguém como você gostaria de ser tratado”
não é 100% válida. Para as estratégias terem o máximo de efetividade, em termos de
comunicação, você precisa falar com o seu hóspede da forma que ele gostaria de ser
tratado, e não o contrário.
É importante frisar que, para todo e qualquer planejamento, é fundamental, além de
conhecer o seu público, saber quais são as suas dores e necessidades em cada momento
da sua jornada de compra. Para isso, utilizamos a estratégia de ciclo de vida, mapeamos
toda a jornada do usuário e garantimos que faremos a comunicação certa, no momento
certo, para o cliente certo.
232
// O FUTURO DO SEU NEGÓCIO DEPENDE DE QUEM ESTÁ HOSPEDADO NELE
dentro de uma base de milhares ou milhões de dados, mas sim uma pessoa exclusiva e úni-
ca para aquele hotel. Além de confiança e lembrança, isso gera apreciação e valorização,
que são itens indispensáveis para quem busca a construção de relacionamentos únicos.
Um exemplo fantástico dessa relação aconteceu com a Casa Hotéis, coleção de hotéis
do Rio Grande do Sul, que tem o icônico Casa da Montanha de Gramado como primeira
propriedade, e, atualmente, também conta com o Petit Casa da Montanha, o Wood Gra-
mado e o Parador Cambará. No primeiro dia de reclusão, foi preciso encontrar um chaveiro
para poder fechar os hotéis, pois os hotéis não foram feitos para serem fechados. Ao parar
as operações de check-in, a Casa Hotéis colocou em ação dois projetos simultâneos que
renderam premiações no Brasil e no mundo, tanto para sua bem-sucedida ação de marke-
ting quanto para se tornar uma das melhores empresas para se trabalhar. O foco da rede
foi acolher seu time, usando o tempo disponível para atualizar, treinar e prepará-los para
a retomada; com relação aos donos do seu futuro, os clientes, foi realizado um planeja-
mento baseado no ciclo de vida, mas adaptado às necessidades da pandemia, foi enviada
à casa de cada cliente a experiência dos hotéis. Esse relacionamento direto só foi possível
pois a Casa Hotéis sempre identificou e criou meios de conexão direta com seus hóspedes.
Quando foi possível reabrir, a acolhida transformou-se em desejo e a rede viu ocorrer uma
explosão de venda direta para sua própria base.
Essa é apenas uma das dezenas de histórias que vivenciamos durante a pandemia, em
que quem já tinha uma estrutura de CRM pensada, pôde usá-la como diferencial e mudar a
matriz de distribuição no turismo de lazer.
Comunicações traçadas com foco em quem realmente importa, além do diálogo direto
com o seu público são ações que trarão mais resultados para a sua marca.
Com uso da tecnologia, fica cada vez mais fácil fazer o mapeamento do seu público e
saber onde o encontrar. Porém, também é preciso que os seus esforços sejam direciona-
dos para tal objetivo. Além de falar sobre investimentos em mídias patrocinadas, Google e
redes sociais, também precisamos entender onde, de fato, o público do seu hotel está. Es-
tamos na era omnichannel, em que é possível sugerir impactos de diversas formas, em di-
versos canais, de forma dinamizada e personalizada para cada usuário. Com isso, é preciso
aproveitar cada oportunidade disponível para fortalecer a sua presença digital e direcionar
os investimentos para os locais certos.
Agora, como realizar tudo isso em escala?
A importância de ter foco e estratégia nas suas ações vai fazer ainda mais sentido quan-
do falarmos de replicar a forma como nos comunicamos para centenas, milhares ou mi-
lhões, tornando tudo isso escalável.
E para tudo isso acontecer de forma fluida, é preciso que o hoteleiro se posicione como
protagonista do seu negócio e assuma esse papel na escala. O papel de principal distribui-
dor, influenciador, representante e responsável pela sua marca.
Independentemente da origem do hóspede, se ele veio de algum canal de distribuição,
Online Travel Agency (OTA) ou venda direta, ele é seu hóspede, é do seu hotel. E, agora, ele
deve ingressar nas suas estratégias, fazendo com que ele crie lembrança de você, da sua
marca.
233
// AUGUSTO ROCHA & DANIELA BIEDZICKI
Uma pesquisa realizada pela TRVL Lab, divulgada em 2021, fez uma análise sobre a
escolha e compra dos canais de viagem para os turistas de lazer. No gráfico a seguir, é
possível observar que 57,46% dos entrevistados dizem preferir adquirir a próxima reser-
va diretamente com os fornecedores.
234
// O FUTURO DO SEU NEGÓCIO DEPENDE DE QUEM ESTÁ HOSPEDADO NELE
Ou seja, mais de 57% dos usuários preferem fazer uma compra direta do que contar
com intermediários. E mesmo com o número ainda elevado, de 51% dos entrevistados,
afirmando preferência por comprar em agências de viagens on-line, isso ainda pode ser
visto como uma chance para o seu hotel, pois está traduzindo onde está o seu consumi-
dor.
Além de saber a preferência e o local do seu cliente, também é preciso entender a sua
oferta e garantir que ela esteja de acordo com o que o cliente busca. Para o hotel, vendas
diretas sempre são infinitamente mais lucrativas do que vendas intermediadas, uma vez
que toda receita gerada pela reserva vai diretamente para o hotel. Entretanto, é preciso
avaliar e entender a oferta para definir estratégias e captar esse público que ainda não
é fiel.
Caracterizamos por “público fiel” aqueles que já se hospedaram no seu hotel (seja
por venda direta ou intermediada) e que, na segunda hospedagem em diante, optaram
por comprar diretamente com você.
No entanto, uma vez que o hóspede já conhece o seu produto, ou seja, o seu hotel e a
sua oferta, é inadmissível que ele retorne ao local por meio de uma venda intermediada.
Uma vez hospedado, é dever do hotel garantir que a segunda reserva seja feita por meio
de fontes diretas e não mais por OTA’s.
Isso se consolida por meio do mapeamento dessa jornada e estratégias de fideliza-
ção desse hóspede, garantindo que ele queira retornar pois aprecia e confia na marca.
A fidelização desses usuários torna-se cada vez mais lucrativa, uma vez que os clien-
tes que entrarem no lifecycle do hotel terão cada vez mais contato com a marca mediante
campanhas de marketing assertivas para cada cliente, em cada etapa da sua jornada de
compra.
Durante a pandemia, tivemos um cliente que abriu as portas. Um hotel exclusivo,
com poucas suítes, e independente, com uma proposta arrojada. A decisão de colocar o
canal direto como principal e vender tudo praticamente on-line é o marco que conside-
ramos para a nova onda de hotéis e resorts que vai tomar conta dos próximos anos. Ins-
pirados nas marcas que nascem no digital e vendem tudo diretamente ao consumidor,
desde colchões, maquiagens, vitaminas até produtos para o cabelo, as chamadas Direct
Native Vertical Brands (DNVB), marcas que surgem sem intermediários, começam a sur-
gir os Digital Native Vertical Hotels Brands (DNVHB), pois as novas marcas de hotéis que
estão surgindo criam a sua própria audiência, trabalham diretamente com seus clientes
e podem alcançar a totalidade da sua distribuição direta.
Se você estiver comprometido mais com seu cliente do que com o canal de venda,
certamente você estará aqui para escrever as próximas páginas do turismo de lazer na-
cional, pois quem serão os principais atores desse mercado nós não temos como prever,
mas que eles serão escolhidos pelos mesmos clientes que estão dentro dos seus hotéis,
nós temos certeza.
235
// AUGUSTO ROCHA & DANIELA BIEDZICKI
AirbnBaller
https://www.profgalloway.com/airbnballer/
236
// O FUTURO DO SEU NEGÓCIO DEPENDE DE QUEM ESTÁ HOSPEDADO NELE
QUEM ESCREVE
AUGUSTO ROCHA
Augusto Rocha, bacharel em Administração, é vice-pre-
sidente de Vendas e Marketing da Pmweb, cofundador
do OTO CRM, investidor e conselheiro de uma série de
empresas, e nos últimos 15 anos palestrou no Brasil, na
América Latina, nos Estados Unidos e na Europa sobre as
revoluções do consumidor e o impacto no turismo.
DANIELA BIEDZICKI
Formada em Produção Multimídia pela Faculdade Senac e
pós-graduada em Comunicação e Marketing Estratégico.
Daniela acumula cinco anos de experiência, atuando com
CRM, atendimento e e-commerce.
237
REFLEXÃO
FINAL
A hotelaria enfrentou intensas transformações nos últimos anos, alterações que causaram
impactos significativos em toda cadeia produtiva e redefiniram a visão sobre o modo de
consumo do turismo ao redor do mundo. Essas mudanças acenderam a necessidade de re-
vermos todo o modelo de gestão na hotelaria para que o turismo esteja alinhado não ape-
nas aos avanços tecnológicos, mas ao comportamento e interesse dos consumidores, cada
vez mais digitalizados e independentes no planejamento e na definição de suas viagens.
Se por um lado as organizações do setor tiveram de se reinventar para atender às res-
trições e aos padrões sanitários impostos pela pandemia, por outro lado, essa saída do
status quo permitiu inovações importantes no turismo, que geraram novas oportunidades
e perspectivas valiosas ao segmento.
A Gestão da Jornada do Viajante: novo contexto, transformações nos negócios e
soluções digitais trouxe justamente essa intenção de promover uma reflexão 360° no
modo de enxergar e operacionalizar o turismo no país, decifrando os novos hábitos dos
hóspedes/consumidores, as técnicas e os projetos focados em sustentabilidade, e o
papel da tecnologia na captação de recursos para o setor, além da potencialização de
novas frentes de turismo.
Ao mesmo tempo em que as novas tendências são colocadas à mesa para reflexão co-
letiva, reforço a necessidade de o crescimento do turismo continuar atrelado, invariavel-
mente, à qualificação dos serviços aos hóspedes por meio de experiências cada vez mais
customizadas. Quais serão as memórias que queremos deixar na vida das pessoas? Quais
são os momentos que eu quero guardar na lembrança durante uma viagem? O turismo
tem o poder de gerar momentos inesquecíveis e é nisso que devemos focar.
Essa troca de experiências e informações entre profissionais do mercado é, sem dúvida,
o que está acontecendo de mais valioso neste momento. É o grande legado desta pande-
mia, em que todos trabalham em prol dos mesmos objetivos: gerar insights para surpre-
ender o consumidor, aperfeiçoar a gestão e desenvolver novas estratégias de negócio que
tragam benefícios diretos às organizações. Ao compartilharmos conhecimento, estaremos
mais fortes para os novos desafios que virão. E, certamente, não serão poucos.
240
// REFLEXÃO FINAL
QUEM ESCREVE
241
REALIZAÇÃO: