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REVISTA DE ESTUDIOS E INVESTIGACIÓN

EN PSICOLOGÍA Y EDUCACIÓN
eISSN: 2386-7418, 2015, Vol. Extr., No. 9.
DOI: 10.17979/reipe.2015.0.09.347

O utilizador da LE/L2: o perfil psicopedagógico do ensino em LE/L2


María del Carmen Arau Ribeiro
Instituto Politécnico da Guarda, Portugal

Resumo tentativa de conhecer a Humanidade e as suas


Face à falta de autoconfiança e de estratégias de diversas mágoas, alegrias e vulnerabilidades; e
aprendizagem diversificadas do estudante de língua seremos todos estudantes das Línguas para conseguir
estrangeira (LE) em Portugal, apresenta-se uma comunicar da melhor forma possível através das
proposta para esta lacuna que sugere uma solução diferenças que nos dividem bem como através das
mediadora com vista à satisfação tanto de alunos como
de professores. Em vez de separar os falantes nativos
fronteiras geopolíticas, respeitando a
dos de expressão estrangeira, esta perspetiva interculturalidade e procurando um equilíbrio desta
pedagógica considera os estudantes também como aprendizagem com as normas percebidas.
utilizadores da LE/L2. Esta noção, na ótica do Perante a inevitável imperfeição humana, demostra-
estudante como na do professor, traz múltiplos se uma postura de procura ativa de melhoria. Assim,
benefícios, entre os quais uma maior autoestima e o estado de ser-se estudante/learner seria desejável
respeito por si próprio aliados a novas abordagens à para todos, muito para além do estatuto óbvio do
aprendizagem e à autoavaliação. aluno do ensino curricular. Visto por outro prisma, o
Palavras-chave: aprender línguas estrangeiras, rótulo pode ser aproveitado por quem se considera
estudantes como utilizadores da língua, perfil
psicológico, respeito mútuo, pedagogia
superior na matéria; quem quiser ou precisar de
comunicar numa língua em que não seja
nativa/materna pode desta forma ser tratado como
Introdução inferior, ou até insuficiente, por não ser “mestre” da
Ao longo deste artigo, iremos debruçar-nos sobre o língua que utiliza.
paradigma do utilizador da língua estrangeira/ Ora esta postura é para nós intolerável já que
segunda (LE/L2), baseando-nos no conceito conhecer uma língua, como qualquer outra matéria
apresentado por Vivian Cook (2002) no volume que se possa aprender, é um desafio que se nos
intitulado Portraits of the L2 User, que transcende apresenta multidimensional e diverso com infindáveis
fronteiras com contribuições de investigadores de combinações e uma miríade de possibilidades. A
renome mundial. Nesta obra reúne-se investigação da língua mãe nem sempre é sinónimo de conhecimento
América do Norte e do Sul – Ellen Bialystok e Fred superior da mesma já que haverá sempre um outro
Genesee no Canadá; Suzanne Flynn, Aneta Pavlenko, modo de se expressar, outro estilo a empregar, outra
Barbara Lust e Roy Major nos EUA e Francisco semântica para se considerar, ou pode até dar-se o
Gomes de Matos no Brasil – bem como da Europa – caso de haver falhas no conhecimento da sintaxe
Clive Perdue em França, Franco Fabbro em Itália, correta da sua própria língua.
Kees de Bot, Madeleine Hulsen e Annette de Groot Por estas razões, entre outras, defendemos – na
nos Países Baixos e Jean-Marc Dewaele e o próprio linha estabelecida pelos investigadores de renome
Cook em Inglaterra – sobre a reorientação urgente referidos – a terminologia que se refere ao
para o estudante de LE e o aluno de língua segunda utilizador/user da língua – que será doravante
(L2). referido como o utilizador da LE/L2 no contexto da
Neste sentido, os retratos referidos no título apelam aula de LE/L2, cuja distinção iremos ofuscar para não
à consciencialização dos professores e dos próprios interferir com os argumentos psicopedagógicos que
estudantes; conquanto estes estejam interessados em aqui propomos. Ao optar pela denominação proactiva
atingir o objetivo de poderem utilizar a língua para em vez do tradicional – estudante/learner da LE/L2 –
comunicar uma mensagem, a terminologia tradicional insistimos na sua qualidade de comunicador,
referente ao estudante/learner deflete-nos do objetivo. manipulador do meio, como todos os que pretendem
Mais especificamente, se concebermos o estado de comunicar.
aprendizagem como um ambicionando o melhor, A estruturação do pensamento para a construção
todos nós o deveríamos ter sempre presente. Seremos textual é pouco sistematizada na formação educativa,
sempre estudantes da Física para conhecermos os propagando-se uma postura errónea, baseada na ideia
movimentos perpétuos e estáticos e tudo entre estes de que, por se ser nativo da língua, a escrita ou a
estados; seremos todos estudantes da Literatura na oralidade produzidas resultam sempre bem. Pelo

María del Carmen Arau Ribeiro mdc1792@gmail.com maricarmen@ipg.pt


Selección y peer-review bajo responsabilidad del Grupo de Investigación G000422-GIPDAE, Universidade da Coruña, España.
ARAU-RIBEIRO

contrário, o ato de recorrer a reformulações iterativas and Language Integrated Learning), integrando a
das suas composições escritas, do seu discurso, das aprendizagem de ambos, conteúdo e língua, com os
suas mensagens, cultiva hábitos de permanente próprios alunos de cada um dos professores
progressão e melhoria. formandos com a colaboração da professora de inglês.
Num exemplo retirado da homenagem prestada por Para alcançar os objetivos, os quatro professores e a
Stewart Conn no poema dedicado ao poeta escocês professora de língua teriam de colaborar para
William Sydney Graham, a elaboração cuidadosa da construírem materiais adequados e baseados em
sua escrita é descrita como phrases so perfectly noções fundamentais de apoio ao aluno, conhecidos
turned and weightless they’d defy gravity but for the como scaffolding (Coelho 2014; Morgado et al. 2015;
ice that pins them in place [tradução do autor: frases Arau Ribeiro et al. 2015).
tão perfeitamente elaboradas e leves que iriam Instrumentos
desafiar a gravidade se não fosse o gelo a cristalizar- Os instrumentos criados para recolha de dados
lhes o lugar]. Tomando a poesia como uma das relativos às impressões acerca da formação de
formas mais iluminadas da expressão humana, professores e dos módulos CLIL implementados por
podemos considerar que esta procura também se estes incluem questionários, entrevistas,
aplica no desafio de comunicar de forma eficaz, seja apontamentos tomados durante a observação dos
em que língua for. Como todo o bom comunicador, módulos CLIL e diários de ensino e de aprendizagem.
esta procura humilde e incansável pela expressão Procedimentos
“certa” na reescrita e oralidade mais retórica é o Recolhemos dados quantitativos e qualitativos em
estandarte definitivo de todos aqueles que pretendem cinco períodos distintos: antes e depois da formação
fazer ouvir as suas mensagens. dos professores; antes e depois da implementação do
Nesta ótica de profundo respeito pelo desafio que é módulo CLIL com os professores e alunos do ensino
a comunicação, este nome sugerido, utilizador da superior e durante este módulo no que concerne aos
LE/L2, vem alterar a psicopedagogia da aula de apontamentos da observação. Baseando-nos nos
língua estrangeira. Retira a exclusividade de aprender instrumentos de recolha de dados referidos para
da parte do aluno, colocando o próprio professor avaliar a formação de professores e monitorizar os
também no processo de aprendizagem contínuo; módulos CLIL, procurámos evidências das vantagens
enaltece a qualidade do aluno, reconhecendo o seu do paradigma resultante da nova nomenclatura
potencial enquanto comunicador, e proporciona um “utilizador da LE/L2” aplicado sempre em situações
lembrete léxico para o professor que, querendo evitar de uso de língua estrangeira.
lições magistrais e centradas nele próprio, se recorda Houve o cuidado de prestar particular atenção à
da importância de preparar as lições de forma a sensibilidade para com o paradigma demonstrado
envolver o aluno numa série de atividades que pelos professores formandos devido à sua posição
requerem o exercício e uso da LE/L2 em questão. O variar entre os dois pontos do espectro tradicional, o
utilizador da língua irá tentar corresponder aos de formando e, simultaneamente, o de professor do
requisitos da variedade de tarefas solicitadas, tal seu próprio módulo CLIL. Além dos dados
como na vida onde a participação nos obriga a fornecidos pelos professores através dos questionários
interagir e adaptar, num esforço constante de e diários de ensino e de aprendizagem, também
aprendizagem e aplicação na língua ao vivo. verificámos as reações dos alunos dos módulos CLIL
Métodos onde este paradigma estava a ser aplicado.
Participantes Resultados
Para ilustrar a aplicação desta nomenclatura e os Através dos dados recolhidos, verificámos as
benefícios a curto e a longo prazo no ensino e na evidências procuradas, reforçadas pelo duplo papel
aprendizagem, recorremos à experiência de dos professores envolvidos. Salientamos três
lançamento de uma comunidade de prática [em inglês, benefícios para o estudante tratado como “utilizador
a Community of Practice (Wenger 1998)] da LE/L2”: este adquire novas abordagens para (i) a
voluntariamente constituída no Instituto Politécnico aquisição de LE; (ii) a aprendizagem em geral bem
da Guarda, Portugal. Num total de 10 horas de como para (iii) a sua própria autoavaliação.
formação de professores, esta comunidade reuniu No entanto, os professores e os seus alunos
professores das áreas de engenharia e da relevaram, num momento inicial, o seu espanto e
contabilidade com a professora de língua inglesa na algum incómodo perante a igualdade procurada, que
procura de estratégias para se integrar a aprendizagem contrasta tão fortemente com a tradição hierárquica
de conteúdos e de língua estrangeira (cf. Morgado et do ensino superior português.
al. 2015). O compromisso de pós formação com a Novas abordagens para a aquisição de LE
Direção da Escola Superior de Tecnologia e Gestão As novas abordagens que constatamos começam
era claro: implementar um módulo CLIL (Content pela área que nos é mais conhecida, a da aquisição de

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O UTILIZADOR DA LE/L2: O PERFIL PSICOPEDAGÓGICO DO ENSINO EM LE

língua estrangeira, estendendo-se por partes iguais Para a aprendizagem em geral


aos professores e aos alunos. Os professores e alunos admiraram a facto de não se
No que concerne aos professores, a perspetiva do se sentirem derrotados pelo seu insucesso ao
utilizador da língua ajudou a colmatar toda noção de completar erradamente toda uma atividade. A
inferioridade, até perante a professora nativa de inglês, abordagem subdividida das tarefas por momentos ou
tendo-se preparado assim um terreno comum entre passos, cada um por si mais alcançável,
profissionais de ensino. Um dos requisitos dos proporcionou-lhes um paradigma onde fica mais
módulos CLIL é ser revestido de uma variedade de óbvia a aplicação de novas estratégias de
atividades com objetivos claros e adequados ao nível aprendizagem em geral.
de preparação dos alunos. Assim, neste âmbito de Numa entrevista de negócios simulada com a
igualdade (cf. Paraskeva 2005), os professores professora de língua, a equipa de alunos e o professor
formandos conseguiram empenhar-se em criar um de bases de dados, o aluno mais fraco quis
leque de materiais que, por sua vez, obrigasse à sala repetidamente responder às perguntas, avaliando cada
inteira de utilizadores da LE/L2 ao seu uso uma para decidir se iria avançar ou passar a
propositado. Ao se concentrarem na concretização responsabilidade ao seu parceiro mais competente em
dos objetivos estabelecidos, a língua estrangeira perde inglês. Foi motivo de admiração, quer para
a sua qualidade intimidadora e torna-se num professores quer para alunos, a crescente ousadia e a
instrumento útil de comunicação. vontade perante a possibilidade de participar. Os
Tomando a língua estrangeira como o meio e não o colegas expressaram satisfação em apoiar e colaborar
fim, os alunos descreveram um aumento da sua com os que sabiam menos, abrindo-lhes espaço no
confiança e apreço perante a sua língua mãe. discurso e oferecendo pequenas achegas no que diz
Reconheceram que, afinal, existem elementos da respeito a uso da língua.
própria língua portuguesa que lhes são úteis no De notar que a colaboração nestas situações foi
momento de negociar a comunicação em inglês, bastante frequente uma vez que, numa preparação
desde o léxico à sintaxe e às experiências de vida. prévia, os alunos organizaram-se em equipas onde
Ficaram a entender, por exemplo, que a voz passiva constava sempre um colega mais forte em inglês.
segue uma estrutura semelhante nas duas línguas, Quando foram informados de que não seria tolerada
especialmente detetável em artigos científicos. Outra uma representação única da equipa nas entrevistas e
estranheza bem acolhida foi a descoberta das bases equacionado o ambiente de apoio criado, rapidamente
lexicais do latim e do grego evidentes no contacto adotaram esta postura mais produtiva e desejável.
com o discurso académico em inglês em textos de Alguns até comentaram o facto de terem sido
material de apoio criados para os módulos. apanhados numa estratégia algo manipuladora para
Nos questionários pós-modulo CLIL, os utilizadores impressionar os professores. Resultou numa maior
da língua relataram terem recorrido aos seus próprios satisfação perante este desfecho inesperado, com uma
conhecimentos com mais autoconfiança. Serviram-se distribuição equitativa de papéis relevantes a
das capacidades que já dominam na sua língua mãe desempenhar em todos os sentidos durante a atividade.
bem como dos que já dominam da língua inglesa, Comentaram ainda o trabalho em equipa muito
procurando aplicá-las na tentativa de alcançar a meta satisfatório, que revelou novas formas de contribuir e
da atividade proposta. Gostaram de poder valorizar as demonstrar as suas competências. A maior parte dos
mais variadas estratégias de comunicação, até alunos solicitou que a abordagem fosse aplicada em
recorrendo à linguagem gestual e às expressões todas as áreas de estudo uma vez que prima pela
faciais. Os utilizadores de inglês, mesmo os de nível aquisição verdadeira de competências, não
mais básico (A1 e A2), tiveram assim a satisfação de valorizando exclusivamente o fim mas também os
participar em comunicação com êxito, alguns pela meios.
primeira vez. Entre outras formas treinadas e aplicáveis ao estudo
Nas entrevistas realizadas após os módulos CLIL, em geral, notaram também o gosto por duvidar e
referiram unanimemente que a experiência do sucesso questionar livremente para se aperceberem do porquê
assim deixa de estar só ao alcance do melhor aluno da das coisas. Comentaram que o nível de stress é
turma (cf. Morgado et al. 2015). Deste modo, inesperadamente baixo neste ambiente em que se
envolveram-se todos no triunfo, influenciando as sentiam menos julgados. De entre outros indícios
próximas atividades de forma positiva. marcantes ainda se destacam as indicações de
confiança crescente, a valorização das suas próprias
competências, a autocrítica e a reflexão.

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Para a sua própria autoavaliação No esforço motivado, os utilizadores da LE/L2


Os professores e alunos valorizaram a confiança minimizam os malentendidos e ultrapassam as
resultante de aprender a lidar de forma positiva com o barreiras à comunicação. Reconhecendo as suas
erro. Expressaram o gosto por conhecer os seus multicompetências, recorrem com mais confiança a
próprios erros através das interações com os colegas e todos os seus recursos de comunicação.
com os professores já que todos utilizaram a LE/L2 O aluno ensinado sob este paradigma já não é visto
para comunicar. Encontraram benefícios na tomada como tendo um deficit na LE/L2; pelo contrário, é
de consciência destes erros e no facto de estarem valorizado pelo conhecimento que tem em não só
inseridos num ambiente em que todo o apoio para a uma língua, mas em duas (ou mais). Ainda aprende a
sua melhoria resultava em estratégias de descoberta. valorizar as suas próprias multicompetências e
A certeza de que podiam melhorar a cada momento adquire novas abordagens para a aprendizagem de
e que esta melhoria era também provável foi um foco línguas estrangeiras e outras competências.
de comentários para a maior parte dos participantes, Em consonância com esta capacidade de aprender,
professores e alunos. No caso dos alunos, referiram salienta-se a capacidade de se avaliar uma vez que, no
ainda o facto de a avaliação não se resumir apenas a Espaço Europeu do Ensino Superior (EEES), a
uma avaliação final mas sim a uma avaliação capacidade de autoavaliação é designada como uma
contínua, que conta com conjuntos e passos de qualidade para a aprendizagem ao longo da vida e
objetivos alcançáveis e apoiados em matéria melhor inserção no mercado de trabalho.
concebida para o efeito. Em termos de perfil psicopedagógico, o professor
Discussão que desta forma concebe e, consequentemente, trata
Os efeitos positivos só se alcançarão quando for os seus alunos reconhece-se igualmente como
ultrapassado o mero uso da nomenclatura sugerida. utilizador. Esta perspetiva influencia, por sua vez, a
Os professores terão de ter uma postura e expressão maneira de preparar e lidar com a matéria e a procura
coerentes nesta alteração de paradigma que resulta em de explicações adequadas (cf. Bentolila 1999) para
novos esquemas de ação na aula. fenómenos que se descobrem na comunicação.
Uma vez que a comunicação em si é constituída por Na perspetiva do professor, também esta maneira de
uma série de enunciados entre interlocutores, existe perspetivar o aluno que aprende uma língua é
não só uma oportunidade final que define o êxito mas vantajosa, visto amplificar o alcance e as dimensões
também uma série de comunicações que terão de ser do seu posicionamento na sala de aula. Tem a
resolvidas, negociadas, medidas. Por isso, estas possibilidade de transformar o seu papel tradicional e
inúmeras trocas de comunicação oferecem outras distante no do facilitador mais dinâmico e do
oportunidades, divididas em partes onde algumas estratega (Abreu et al. 2015) para poder levar os seus
falham e são renegociadas enquanto outras resultam alunos a utilizar as suas multicompetências.
logo, sendo que existe sempre a possibilidade de Também se reconhece outras vantagens no sentido
renegociação da comunicação com vista à obtenção de que esta perspetiva deixa de classificar o professor
do sucesso. não-nativo como menos capaz, retirando a proibição
Onde alguns dominam bem a língua estrangeira, do uso da língua mãe na aula e enaltecendo a sua
outros dominaram bem os conceitos a adquirir. Será flexibilidade cognitiva e os recursos linguísticos na
na aprendizagem cognitiva (Benedet 2006: 51-53) e interlinguagem, na transferência linguística e na
também colaborativa e socioconstrutivista que as interculturalidade. Finalmente, realça mais a
necessidades de ambos os aprendentes são competência e responsabilidade do professor no
correspondidas. sentido de terem de colocar os alunos em situações
Visto que o utilizador de LE/L2 aprende não só a que lhes proporcionem oportunidades de usar a língua
matéria mas também que é capaz de comunicar em alvo.
inglês para concretizar certos objetivos, a formação Conclusões
em línguas e a matéria teórica e prática passa a ser Num ambiente caraterizado pela igualdade, tal
positiva. Este facto torna o erro numa viagem de como na comunidade de prática e de aprendizagem
aprendizagem por querer interagir com as suas descrita, sobretudo em ambiente CLIL em que as
escolhas e melhor entender quando não corre bem. competências a adquirir são tanto de teor específico
Esta abordagem positivista à aprendizagem da língua como de teor comunicativo, torna-se mais evidente a
estrangeira, descrita como the universe awaits, estratégia de tratar os aprendentes como utilizadores
inexhaustible, inviting (Borges, in Abley 2004: 43) da LE/L2. No entanto, como foi demonstrado, as
[tradução do autor: o universo aguarda, inexaustível, vantagens não se limitem a estes ambientes CLIL. De
convidativo], serve de preparação para tudo que se facto, uma alteração aparentemente tão simples como
pode aprender, levando à prática o ditado popular: o uso de uma nomenclatura representa uma
“Só não erra quem nada faz.” abordagem ao ensino que retira grande parte da

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O UTILIZADOR DA LE/L2: O PERFIL PSICOPEDAGÓGICO DO ENSINO EM LE

apreensão perante a língua estrangeira, o Mesa redonda do Março das Línguas, Instituto
desconhecido. Incentiva o aluno bem como o Politécnico da Guarda, dia 20 de março.
professor não nativo, e até mesmo o professor nativo, Arau Ribeiro, M.C., Silva, M.M., Morgado, M. &
a apreciarem mais os conhecimentos prévios que Coelho, M. (2015). Promoting Dynamic CLIL
possuem, criando uma maior consciência do seu Courses in Portuguese Higher Education:
inventário individual acerca do que se sabe e se from design and training to implementation. Paper
domina e do que ainda não se sabe, mas que será apresentado no International Conference 2015:
claramente possível aprender. Language Centres in Higher Education, 15-17 de
Os seus conhecimentos prévios são ferramentas janeiro, Mazaryk University, Brno, República Checa.
essenciais com e sobre as quais são construídas as Benedet, M.J. (2006). Acercamiento Neurolingüístico a
novas competências, alicerçadas na utilização las Alteraciones del Lenguaje: Fundamento Teórico
pertinente desta língua em contextos de la Neurolinguística. Procesamiento normal del
reconhecidamente úteis e de uso frequente. Com o Lenguaje. Vol. 1. Fundamentos Pedagógicos. Madrid:
apoio adequado, o “utilizador da LE/L2” será Editorial EOS.
posteriormente capaz de utilizar a língua alvo de Bentolila, F. (1999). Descrição Linguística e Didática:
forma mais profícua e mais autónoma. Simplificar para Compreender e Fazer Compreender.
Dado a missão, e até a vocação, do professor ser In J.M. Barbosa (Ed.), (1999), Gramática e Ensino
ajudar os seus alunos, enquanto “utilizadores da das Línguas: Actas do I Colóquio sobre Gramática,
LE/L2”, a adquirir competências teóricas, práticas e pp. 11-18. Coimbra: Livraria Almedina.
comunicativas, concluí-se que juntos, e em conjunto, Coelho, M. (2014). Scaffolding Strategies in CLIL
alunos e professores podem melhor ouvir-se e se Classes: Supporting Learners Towards Autonomy.
fazer-se entender neste mundo que se deseja cada vez Paper apresentado no ReCLes.pt 2014 International
mais unido. Conference on Languages and the Market:
Agradecimentos Competitiveness and Employability, 27-28 de
As considerações psicopedagógicos elaboradas outubro, Escola Superior de Hotelaria e Turismo de
neste artigo surgiram de forma iminentemente Estoril, Portugal.
aplicada na referida comunidade de prática local Conn, S. (1999). W. S. Graham. Stolen Light: Selected
criada para efeitos da formação de professores em poems. Northumberland: Bloodaxe Books Ltd
CLIL. Gostaria por isso de deixar um apreço especial Cook, V. (Ed.) (2002). Portraits of the L2 User.
a estes professores participantes, à Direção da Escola Clevedon, NY: Multilingual Matters.
Superior de Tecnologia e Gestão, que sempre apoiou Morgado, M., Coelho, M., Arau Ribeiro, M.C.,
a inovação, e ainda aos membros do grupo de Albuquerque, A., Silva, M.M., Chorão, G., Cunha, S.,
trabalho constituído através da ReCLes.pt – a Gonçalves, A., Carvalho, A.I., Régio, M., Faria, S. &
Associação em Rede de Centros de Línguas do Chumbo, I. (2015). CLIL Training Guide Creating a
Ensino Superior em Portugal – que elaborou o CLIL Learning Community in Higher Education.
manual CLIL para o Ensino Superior, intitulado CLIL Santo Tirso: De Facto Editores.
Training Guide Creating a CLIL Learning Paraskeva, J.M. (2005). A imperiosa obrigação de ir
Community in Higher Education, financiado em parte para além do John Dewey sem o evitar. In John
pela FCT. Dewey, A Concepção Democrática da Educação. 2ª
Referências ed. Discursos – Cadernos de políticas educativas e
Abley, M. (2004). Spoken Here: Travels among curriculares. Mangualde: Edições Pedago, Lda.
threatened languages. London: Arrow Books. Wenger, E. (1998). Communities of Practice.
Abreu, R., Almeida, J.C., Arau Ribeiro, M.C., Coelho, Learning, Meaning and Identity. New York,
T. e Gonçalves, R. (2015). Aprender noutra língua. NY: Cambridge University Press.

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