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EN PSICOLOGÍA Y EDUCACIÓN
eISSN: 2386-7418, 2015, Vol. Extr., No. 9.
DOI: 10.17979/reipe.2015.0.09.347
contrário, o ato de recorrer a reformulações iterativas and Language Integrated Learning), integrando a
das suas composições escritas, do seu discurso, das aprendizagem de ambos, conteúdo e língua, com os
suas mensagens, cultiva hábitos de permanente próprios alunos de cada um dos professores
progressão e melhoria. formandos com a colaboração da professora de inglês.
Num exemplo retirado da homenagem prestada por Para alcançar os objetivos, os quatro professores e a
Stewart Conn no poema dedicado ao poeta escocês professora de língua teriam de colaborar para
William Sydney Graham, a elaboração cuidadosa da construírem materiais adequados e baseados em
sua escrita é descrita como phrases so perfectly noções fundamentais de apoio ao aluno, conhecidos
turned and weightless they’d defy gravity but for the como scaffolding (Coelho 2014; Morgado et al. 2015;
ice that pins them in place [tradução do autor: frases Arau Ribeiro et al. 2015).
tão perfeitamente elaboradas e leves que iriam Instrumentos
desafiar a gravidade se não fosse o gelo a cristalizar- Os instrumentos criados para recolha de dados
lhes o lugar]. Tomando a poesia como uma das relativos às impressões acerca da formação de
formas mais iluminadas da expressão humana, professores e dos módulos CLIL implementados por
podemos considerar que esta procura também se estes incluem questionários, entrevistas,
aplica no desafio de comunicar de forma eficaz, seja apontamentos tomados durante a observação dos
em que língua for. Como todo o bom comunicador, módulos CLIL e diários de ensino e de aprendizagem.
esta procura humilde e incansável pela expressão Procedimentos
“certa” na reescrita e oralidade mais retórica é o Recolhemos dados quantitativos e qualitativos em
estandarte definitivo de todos aqueles que pretendem cinco períodos distintos: antes e depois da formação
fazer ouvir as suas mensagens. dos professores; antes e depois da implementação do
Nesta ótica de profundo respeito pelo desafio que é módulo CLIL com os professores e alunos do ensino
a comunicação, este nome sugerido, utilizador da superior e durante este módulo no que concerne aos
LE/L2, vem alterar a psicopedagogia da aula de apontamentos da observação. Baseando-nos nos
língua estrangeira. Retira a exclusividade de aprender instrumentos de recolha de dados referidos para
da parte do aluno, colocando o próprio professor avaliar a formação de professores e monitorizar os
também no processo de aprendizagem contínuo; módulos CLIL, procurámos evidências das vantagens
enaltece a qualidade do aluno, reconhecendo o seu do paradigma resultante da nova nomenclatura
potencial enquanto comunicador, e proporciona um “utilizador da LE/L2” aplicado sempre em situações
lembrete léxico para o professor que, querendo evitar de uso de língua estrangeira.
lições magistrais e centradas nele próprio, se recorda Houve o cuidado de prestar particular atenção à
da importância de preparar as lições de forma a sensibilidade para com o paradigma demonstrado
envolver o aluno numa série de atividades que pelos professores formandos devido à sua posição
requerem o exercício e uso da LE/L2 em questão. O variar entre os dois pontos do espectro tradicional, o
utilizador da língua irá tentar corresponder aos de formando e, simultaneamente, o de professor do
requisitos da variedade de tarefas solicitadas, tal seu próprio módulo CLIL. Além dos dados
como na vida onde a participação nos obriga a fornecidos pelos professores através dos questionários
interagir e adaptar, num esforço constante de e diários de ensino e de aprendizagem, também
aprendizagem e aplicação na língua ao vivo. verificámos as reações dos alunos dos módulos CLIL
Métodos onde este paradigma estava a ser aplicado.
Participantes Resultados
Para ilustrar a aplicação desta nomenclatura e os Através dos dados recolhidos, verificámos as
benefícios a curto e a longo prazo no ensino e na evidências procuradas, reforçadas pelo duplo papel
aprendizagem, recorremos à experiência de dos professores envolvidos. Salientamos três
lançamento de uma comunidade de prática [em inglês, benefícios para o estudante tratado como “utilizador
a Community of Practice (Wenger 1998)] da LE/L2”: este adquire novas abordagens para (i) a
voluntariamente constituída no Instituto Politécnico aquisição de LE; (ii) a aprendizagem em geral bem
da Guarda, Portugal. Num total de 10 horas de como para (iii) a sua própria autoavaliação.
formação de professores, esta comunidade reuniu No entanto, os professores e os seus alunos
professores das áreas de engenharia e da relevaram, num momento inicial, o seu espanto e
contabilidade com a professora de língua inglesa na algum incómodo perante a igualdade procurada, que
procura de estratégias para se integrar a aprendizagem contrasta tão fortemente com a tradição hierárquica
de conteúdos e de língua estrangeira (cf. Morgado et do ensino superior português.
al. 2015). O compromisso de pós formação com a Novas abordagens para a aquisição de LE
Direção da Escola Superior de Tecnologia e Gestão As novas abordagens que constatamos começam
era claro: implementar um módulo CLIL (Content pela área que nos é mais conhecida, a da aquisição de
apreensão perante a língua estrangeira, o Mesa redonda do Março das Línguas, Instituto
desconhecido. Incentiva o aluno bem como o Politécnico da Guarda, dia 20 de março.
professor não nativo, e até mesmo o professor nativo, Arau Ribeiro, M.C., Silva, M.M., Morgado, M. &
a apreciarem mais os conhecimentos prévios que Coelho, M. (2015). Promoting Dynamic CLIL
possuem, criando uma maior consciência do seu Courses in Portuguese Higher Education:
inventário individual acerca do que se sabe e se from design and training to implementation. Paper
domina e do que ainda não se sabe, mas que será apresentado no International Conference 2015:
claramente possível aprender. Language Centres in Higher Education, 15-17 de
Os seus conhecimentos prévios são ferramentas janeiro, Mazaryk University, Brno, República Checa.
essenciais com e sobre as quais são construídas as Benedet, M.J. (2006). Acercamiento Neurolingüístico a
novas competências, alicerçadas na utilização las Alteraciones del Lenguaje: Fundamento Teórico
pertinente desta língua em contextos de la Neurolinguística. Procesamiento normal del
reconhecidamente úteis e de uso frequente. Com o Lenguaje. Vol. 1. Fundamentos Pedagógicos. Madrid:
apoio adequado, o “utilizador da LE/L2” será Editorial EOS.
posteriormente capaz de utilizar a língua alvo de Bentolila, F. (1999). Descrição Linguística e Didática:
forma mais profícua e mais autónoma. Simplificar para Compreender e Fazer Compreender.
Dado a missão, e até a vocação, do professor ser In J.M. Barbosa (Ed.), (1999), Gramática e Ensino
ajudar os seus alunos, enquanto “utilizadores da das Línguas: Actas do I Colóquio sobre Gramática,
LE/L2”, a adquirir competências teóricas, práticas e pp. 11-18. Coimbra: Livraria Almedina.
comunicativas, concluí-se que juntos, e em conjunto, Coelho, M. (2014). Scaffolding Strategies in CLIL
alunos e professores podem melhor ouvir-se e se Classes: Supporting Learners Towards Autonomy.
fazer-se entender neste mundo que se deseja cada vez Paper apresentado no ReCLes.pt 2014 International
mais unido. Conference on Languages and the Market:
Agradecimentos Competitiveness and Employability, 27-28 de
As considerações psicopedagógicos elaboradas outubro, Escola Superior de Hotelaria e Turismo de
neste artigo surgiram de forma iminentemente Estoril, Portugal.
aplicada na referida comunidade de prática local Conn, S. (1999). W. S. Graham. Stolen Light: Selected
criada para efeitos da formação de professores em poems. Northumberland: Bloodaxe Books Ltd
CLIL. Gostaria por isso de deixar um apreço especial Cook, V. (Ed.) (2002). Portraits of the L2 User.
a estes professores participantes, à Direção da Escola Clevedon, NY: Multilingual Matters.
Superior de Tecnologia e Gestão, que sempre apoiou Morgado, M., Coelho, M., Arau Ribeiro, M.C.,
a inovação, e ainda aos membros do grupo de Albuquerque, A., Silva, M.M., Chorão, G., Cunha, S.,
trabalho constituído através da ReCLes.pt – a Gonçalves, A., Carvalho, A.I., Régio, M., Faria, S. &
Associação em Rede de Centros de Línguas do Chumbo, I. (2015). CLIL Training Guide Creating a
Ensino Superior em Portugal – que elaborou o CLIL Learning Community in Higher Education.
manual CLIL para o Ensino Superior, intitulado CLIL Santo Tirso: De Facto Editores.
Training Guide Creating a CLIL Learning Paraskeva, J.M. (2005). A imperiosa obrigação de ir
Community in Higher Education, financiado em parte para além do John Dewey sem o evitar. In John
pela FCT. Dewey, A Concepção Democrática da Educação. 2ª
Referências ed. Discursos – Cadernos de políticas educativas e
Abley, M. (2004). Spoken Here: Travels among curriculares. Mangualde: Edições Pedago, Lda.
threatened languages. London: Arrow Books. Wenger, E. (1998). Communities of Practice.
Abreu, R., Almeida, J.C., Arau Ribeiro, M.C., Coelho, Learning, Meaning and Identity. New York,
T. e Gonçalves, R. (2015). Aprender noutra língua. NY: Cambridge University Press.