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© Luís Claudio Mendonça Fígueiredo e Pedra Luiz Ribeiro de Santi.

Foi feito o depósito legal

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri/PU(-SP

Ftgucírcdo, Luís Claudio Mendonça, 1945-


Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da
psicologia como ciência / Luís Claudio M. Figueiredo; Pedro
Luíz Ribeiro de Santi. - 3 cd. - São Paulo: EDUC, 2008.
104 p. ; 18 em. - '(Série Trilhas)

Dados sobre os autores


ISBN 978-85-283-0369·8

1. Psicologia. 2. Psícología - História. !. Santi, Pedro Luiz


Ribeiro de. lI. Título. Ill. Scric.
CDD 150
150-9
1a edição (Psicologia. Uma introdução): 1991; 2" edição: 1997
Reimpressões: 1998,1999,2000 (2), 2002, 2003, 2004, 2006, 2007

Série Trilhas coordenada por


Maria Eliza Mazzilli Pereira

EDUC - Editora da PUC-SP

Direção
Miguel Wady Chaia
Produção Editorial
Sonia Montonc
Preparação e Revisão
Sonia Rangel
Editoração Eletrônica
de miolo e capa
Waldir Antonio Alves
Capa
Marilá Dardot
Secretário
Ronaldo Decicino
Para Maria Patrícia, Carolina,

ecJU(.' Marina e Ynaiê.


Rua Monte Alegre, 971 - sala 38CA L.c.F.
05014-001 - São Paulo - SP
Tel./Fax: (ll) 3670-8085 e 3670-8558 Para Alessanâra.
E-mail: cduc@pucsp.br - Sítc: www.pucsp.br/cduc
P. L. R. S.
SUMÁRIO

PREFÁCIO 9

A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA INDEPENDENTE 13


Uma visão panorâmica e crítica 13

PRECONDIÇÕES SOCIOCULTURAlS
PARA O APARECIMENTO DA PSICOLOGIA
COMO CIÊNCIA NO SÉCULO XIX 19
A experiência da subjetividade privatizada 19
Constituição e desdobramentos da noção
de subjetividade na Modernidade 24
A crise da Modernidade e da subjetividade
moderna em algumas de suas expressões
filosóficas 33
Sistema mercantil e individualização .40
Ideologia liberal iluminista, romantismo
e regime disciplinar 46
A crise da subjetividade privatizada
ou a decepção necessária 48
Síntese 52

)< A PRÁTICA CIENTÍFICA E A EMERGÊNCIA


DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA 55
Conhecimento científico: privacidade
e diferença 55

i os PROJETOS DE PSICOLOGIA
COMO CIÊNCIA INDEPENDENTE 61
O projeto de Wundt : 61
O projeto de Titchener 64
A psicologia funcional 66
O comportamentalismo 68
Projetos de psicologia e condições de produção .. 71
A psicologia da Gestalt... 75 PREFÁCIO
O comportamentalismo diferenciado:
o behavíorísmo radical de Skinner 77
A psicologia cognitivista de Píaget
e a psicanálise freudiana 80

A PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO E COMO CULTURA .. 89


A primeira versão deste trabalho foi
O psicólogo: funções e mitos 89
escrita no final da década de 1980, quando
BIBLIOGRAFIA COMENTADA 93
um de nós (LCF) fazia o caminho que vai do
QUESTÕES DE ESTUDO E DISCUSSÃO 95 livro Matrizes do pensamento psicológico à sua
A psicologia como ciência independente 95
tese de livre-docência na USP, publicada com o
x Precondições socioculturais para
o aparecimento da psicologia como ciência título A invenção do psicológico. Quatro sécu-
no século XiX · 95 los de subjetivação (1500-1900). "Matrizes"
A prática científica e a emergência havia sido elaborado no início dos anos 80 e
da psicologia como ciência 97
já no final de seu último capítulo se formulava
Os projetos de psicologia
como ciência independente 97 a tarefa de pensar a constituição histórica do
A psicologia como profissão "psicológico", ou seja, a formação ao longo dos
e como cultura : 100 séculos desse campo de conhecimentos e práti-
NOTA SOBRE OS AUTORES 101 cas sui generis em que se instalaram os proje-
tos de psicologia como ciência independente e,
a eles associados, os psicólogos com suas ativi-
dades profissionais e de pesquisa. Esse campo,
embora abrigue questões muito antigas, sob
alguns aspectos universais, só se delimitou
plenamente ao final do século XIX. O problema
era o de compreender como se deu e por que
fase passou esse processo de delimitação e, em
seguida, o processo de ocupação desse novo
território. A isso foram dedicados muitos anos
de pesquisa. Aproximadamente no meio desse
período (1988), surgiu o convite para escrever
A PSICOLOGIA COMO
PROFISSÃO E COMO CULTURA

O psicólogo: funções e mitos

A profissão de psicólogo esteve inicial-


mente ligada aos problemas de educação e
trabalho.
O psicólogo "aplicava testes": para selecio-
nar o "funcionário certo" para o "lugar certo",
para classificar o escolar numa turma que lhe
fosse adequada, para treinar o operário, para
programar a aprendizagem, etc. Todas essas
funções ainda são importantes na definição da
identidade profissional do psicólogo e mostram
claramente como até hoje a vinculação das psi-
cologias às demandas do Regime Disciplinar
são importantes.
Mas hoje, quando se fala em psicólogo, o
leigo logo pensa no psicólogo clínico, e quem
se decide a estudar psicologia quase sempre é
com a intenção de se tornar um clínico. Embora
durante muitos anos essa especialização nem
existisse legalmente, atualmente é a principal
identidade do psicólogo aplicado. Enquanto
o psicólogo do trabalho ou das organizações
serve à indústria ou a qualquer outra ínstí-
90 PSICOLOGIA A PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO E COMO CULTURA 91

tuição, procurando torná-Ia mais eficiente, e, guajar popular e que as pessoas cada vez mais
enquanto o psicólogo escolar serve ao sistema pensem acerca de si e dos outros com termos
educacional. procurando torná-Io, também, emprestados das escolas psicológicas.
mais eficaz, o psicólogo clínico costuma estar Ao serem incorporadas à vida quotidiana
a serviço do indivíduo ou de pequenos grupos de algumas camadas da população, "as psico-
de indivíduos. logias" convertem-se quase sempre numa visão
Parece realmente" que é a crise da subje- de mundo altamente subjetivista e individua-
tividade privatizada que incrementa a procura lista. Com isso, queremos dizer que mesmo as
pelos serviços da psicologia clínica e faz com teorias psicológicas que não se restringem à
que o psicólogo clínico acabe se tornando uma experiência imediata da subjetividade individua-
figura quase popular entre certas camadas da lizada, como a psicanálise, ao serem assimila-
população. das pela sociedade, têm se tornado uma forma
O psicólogo aparece para muita gente de manter a ilusão da liberdade e da singula-
como uma espécie de adivinho e de bruxo, que ridade de cada um, em vez de compreender e
descobre rapidamente quem somos e produz explicar o que há de ilusório nessas idéias. É
mudanças mágicas no nosso jeito de ser. É bom assim que a psicologização da vida quotidiana
que todos saibam das dificuldades que tem o tem nos levado a pensar o mundo social e a
psicólogo para entender a sua própria ciên- nós mesmos a partir de uma visão bem pouco
cia e a sua própria pessoa. Aí, talvez, esperem crítica.
menos dele ... A psicologia popularizada tem servido
Alguns psicólogos clínicos, principalmente para sustentar a palavra de ordem "cada um na
alguns psicanalistas menos sérios, viraram sua, pensando os seus problemas e defendendo
conselheiros sentimentais e modelos de com- os seus interesses e a sua felicidade".
portamentocharmoso. Aparentemente, nada Certamente, a tendência que tem mais
disso teria a ver com a psicologia como ciência. crescido e aumentado seu mercado recente-
No entanto, além de sua pretensão à cíentífící- mente é a das "terapias de auto-ajuda". Numa
dade, a psicologia é, 'também, um ingrediente mistura de concepções do senso comum ou
da nossa cultura. Isso quer dizer que é cada baseadas em teorias psicológicas, em pressu-
vez mais freqüente que as teorias psicológicas postos humanistas sobre a liberdade do homem
se popularizem e sejam assimiladas pelo lin- e num estilo de administração empresarial niti-
92 PSICOLOGIA

damente comportamentalista, esse discurso BIBLIOGRAFIA COMENTADA


(que soa como o de um pastor protestante
americano, e isso é mais do que uma coincidên-
cia) prega um paradoxal reforçamento do "eu"
com sua submissão a um conjunto de regras de
gerenciamento da própria vida. Nas disciplinas "Psicologia geral" (exten-
Isso poderia ser designado como hiperin- siva a dois semestres), oferecida no Instituto de
dividualismo, e cultivá-lo é exatamente o con- Psicologia da USP, e "Teorias e sistemas psico-
trário do que poderíamos esperar de qualquer lógicos", oferecida na Faculdade de Psicologia
psicologia científica. Essa afirmativa não parte da Uníp, o presente texto é complementado
de uma postura moral do tipo "não é direito pela leitura obrigatória de três livros, cuja refe-
pensarmos em nós como se fôssemos o centro rência é dada a seguir.
do Universo". ° problema é que de fato não
somos, e a tarefa da ciência moderna tem sido FIGUEIREDO,L. C. M. (1991) Matrizes do pensa-
sempre a de nos recordar que o Sol não gira em mento psicológico. Petrópolis, Vozes.
torno da Terra. Embora pareça. Nesse livro são apresentados os sistemas
e teorias psicológicas a partir de seus
pressupostos: crenças sobre o real, sobre
o homem e sobre o conhecimento. São,
também, discutidas as implicações éticas
e políticas das diversas posições teóricas e
metodológicas.

-- (1992). A Invenção do psicológico. Quatro


séculos de subjetivação. São Paulo, Educ/
Escuta.
Nesse livro, o percurso histórico aqui
apresentado resumidamente é plenamente
desenvolvido. Da mesma forma, os capítu-
los finais apresentam um quadro pano-
94 PSICOLOGIA

râmico das condições socioculturais hoje QU ESTÕES DE ESTU DO·


dominantes e de como elas se refletem no
E DISCUSSÃO
campo dos estudos psicológicos com toda
a sua variedade.

FIGUElREDO,L C. (1996). Revisitando as psicolo-


gias. Da epistemoloqia à ética das práticas
A psicologia como
e discursos psicológicos. 2 ed. Petrópolís/
São Paulo, Vozes/Educ. ciência independente
Do livro constam diversos ensaios acerca
1. Quais as dificuldades envolvidas na
da história da psicologia, dos lugares das
criação de uma nova ciência e, especificamente,
. psicologias na cultura contemporânea,
na elaboração de uma psicologia científica?
dos fazeres psicológicos e da pesquisa em
2. Como você vê a questão da independên-
psicologia.
cia da psicologia e das suas relações com as
SANTI,P. L. R. (1997). Elementos para uma histó- demais ciências? Justifique a sua resposta.
ria da psicologia. São Paulo, Unip. (Cadernos
de Estudo e Pesquisa; Série Didática).
Precondições socioculturais
Além desses trabalhos, são recomendados para o aparecimento da psicologia
os seguintes livros: como ciência no século XIX

HEIDBREDER,E. (1969). Psicologias do século xx. 1. Em que condições a experiência da sub-


São Paulo, Mestre jou, jetividade privatizada se aprofunda e genera-
PENNA, A. G. (1978). Introdução à história da liza? Por que isso ocorre? Quais são, para você,
psicologia contemporânea. Rio de Janeiro, nas nossas atuais condições de vida, os fato-
Zahar. res socioculturais que propiciam a privatização
__ (1981). História das idéias psicológicas. Rio das experiências? Exernplífíque.
de Janeiro, Zahar. 2. Em que sentido Descartes pode ser con-
SCHULTZ, D. (1981). História da psicologia con- siderado o fundador da concepção moderna de
temporânea. São Paulo, Cultrix. sujeito?

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