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ORGANIZAÇÕES:

CONCEITOS E PERSPECTIVAS DE ESTUDOS

PROF. RUI TEIXEIRA


AGENDA
ORGANIZAÇÕES

• Introdução – autores clássicos / manuais didáticos


• Sistemas racionais / sistemas naturais
• Organizações como sistemas abertos
• Influências das teorias da contingência & metáforas
• Entidade (estrutura) x Processo (ação)
• Conflito e Consenso
• Perspectivas teóricas de análise: cognitivismo, culturalismo e institucionalismo
• Em busca de uma síntese

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INTRODUÇÃO
ORGANIZAÇÕES

Falar de organizações coloca-nos em contato com


um fenômeno com o qual convivemos no cotidiano e
ao longo de toda a vida.

Muitos autores iniciam sua discussão sobre esse


fenômeno destacando o quanto sua presença é
disseminada nas sociedades contemporâneas e o
quanto nossa vida é afetada pelos processos que
configuram e determinam a qualidade dos
resultados organizacionais
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QUANDO RECORREMOS AO
DICIONÁRIO PARA VERIFICAR OS USOS
DO TERMO ORGANIZAÇÃO EM NOSSO
COTIDIANO, VERIFICAMOS QUE ELE
APARECE ASSOCIADO A DIFERENTES
SIGNIFICADOS.
V E J A M O S O Q U E S I G N I F I C A ORGAN I Z AÇÃO S E G U N D O O
DICIONÁRIO AURÉLIO (FERREIRA, 2009)
ORGANIZAÇÕES

a) ato ou efeito de organizar(-se);


b) modo pelo qual o ser vivo é organizado; conformação, estrutura;
c) modo pelo qual se organiza um sistema;
d) associação ou instituição com objetivos definidos;
e) organismo (p. ex., a Unesco);
f) designação de certos organismos (p. ex., a Organização das Nações Unidas);
g) planejamento, preparo (p. ex., organização de uma festa)

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ORGANIZAÇÕES

TERMO ORGANIZAR, POR SEU TURNO, É


ASSOCIADO A TRÊS EIXOS DE SIGNIFICADOS OU
USOS:

• a) constituir o organismo de; estabelecer as bases de; ordenar, arranjar, dispor;


• b) dar às partes de (um corpo) a disposição necessária para as funções a que ele se destina;
• c) tornar uma organização definitiva; constituir- -se, formar-se

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ORGANIZAÇÕES

NA DIMENSÃO VERBAL, ORGANIZAR REPORTA-SE, SEMPRE, A AÇÕES.


NO ENTANTO, NA DIMENSÃO SUBSTANTIVA, ORGANIZAÇÃO MESCLA,
EM SEUS USOS, TANTO AÇÕES COMO SEUS RESULTADOS OU
PRODUTOS, COMO FICA CLARO DESDE O PRIMEIRO SIGNIFICADO,
ASSOCIADO AOS TERMOS ATO OU EFEITO DE ORGANIZAR

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ASSIM, USAMOS O TERMO “ORGANIZAÇÃO” TANTO
ORGANIZAÇÕES

PARA DESIGNAR AS AÇÕES DE CONSTRUIR ALGO COMO

PARA DESCREVER AS CARACTERÍSTICAS OU

QUALIDADES DESSE ALGO CONSTRUÍDO.

CONTUDO, NA PERSPECTIVA CIENTÍFICA,

OBSERVAMOS DIVERSAS CONCEPÇÕES ACERCA DO

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OBJETO “ORGANIZAÇÃO”
AUTORES CLÁSSICOS
ORGANIZAÇÕES

• A existência de uma organização formal se dá “[...] quando (1) há pessoas aptas a se


comunicarem entre si; (2) que estão desejando contribuir com sua ação e (3) para a
realização de um propósito comum [...]”. (Barnard, 1971, p. 101).

• “As organizações são agregados de seres humanos em mútua integração.


Representam na sociedade humana os maiores agregados [...]. Contudo, a alta
especificidade da estrutura e coordenação que se vê nas organizações [...] destaca a
organização como unidade sociológica comparável em importância ao indivíduo
biológico.” (March; Simon, 1967).

• “Unidades socialmente construídas para atingir fins específicos”. (Etzioni, 1989).


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AUTORES CLÁSSICOS
ORGANIZAÇÕES

• “Todos os sistemas sociais, inclusive as organizações, consistem em atividades


padronizadas de uma quantidade de indivíduos. Além disso, essas atividades
padronizadas são complementares ou interdependentes em relação a algum produto ou
resultado comum; elas são repetidas, relativamente duradouras e ligadas em espaço e
tempo.” (Katz; Khan, 1987).

• “Disposição de relações entre componentes ou indivíduos que produz uma unidade


complexa ou sistema dotado de qualidades desconhecidas em nível dos componentes
individuais. [...] Assegura solidariedade e solidez a essas uniões e uma certa possibilidade
de duração, apesar das perturbações aleatórias. A organização, pois, transforma, produz,
reúne e mantém.” (Morin, 1981).
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MANUAIS DIDÁTICOS
ORGANIZAÇÕES

• “A organização é uma unidade social, coordenada conscientemente, composta de uma ou


mais pessoas e que funciona numa base relativamente contínua para atingir objetivos.”
(Robbins, 2010).

• Organizações correspondem a: a) sistemas sociais que transformam entradas em saídas;


b) dirigidas por metas; c) desenhadas como sistemas de atividades deliberadamente
estruturados e coordenados; d) ligadas ao ambiente externo. (Daft, 2006).

• “Organizações são um conjunto de pessoas que compartilham crenças, valores e


pressupostos que os encorajam a fazer interpretações mutuamente reforçadas dos seus
próprios atos e dos atos dos outros.” (Smircich; Stubbart, 1985)

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MANUAIS DIDÁTICOS
ORGANIZAÇÕES

• Uma organização existe quando duas ou mais pessoas trabalham juntas e de modo
estruturado para alcançar um objetivo específico ou um conjunto de objetivos. (Stoner;
Freeman, 1995).

• Podemos definir organização como um conjunto de indivíduos cujos membros podem se


modificar ao longo do tempo; formam um sistema coordenado de atividades
especializadas com a finalidade de alcançar objetivos específicos ao longo de um
determinado período de tempo. (Hitt; Miller; Colella, 2013).

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MANUAIS DIDÁTICOS
ORGANIZAÇÕES

• [...] a organização é uma entidade social, conscientemente coordenada, gozando de


fronteiras delimitadas que funcionam numa base relativamente contínua, tendo em vista
a realização de objectivos comuns.” (Bilhim, 2006).

• “[...] a organização é um artefato que pode ser abordado como um conjunto articulado
de pessoas, métodos e recursos materiais, projetado para um dado fim e balizado por um
conjunto de imperativos determinantes (crenças, valores, culturas etc.).” (Meireles, 2003, p.
46).

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SCOTT E DAVIS (2007) CATEGORIZAM AS DEFINIÇÕES DE
ORGANIZAÇÃO EM TRÊS PRINCIPAIS GRUPOS, CUJAS
CARACTERÍSTICAS PODEM SER SINTETIZADAS
ORGANIZAÇÕES

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SISTEMAS RACIONAIS
TEORIA DA TEORIA DA
ORGANIZAÇÕES

ADMINISTRAÇÃO BUROCRACIA
CIENTÍFICA
TEORIA M. Weber: vista pelo teórico como um TEORIA DO
F.W. Taylor: concebida nos ADMINISTRATIVA tipo particular de estrutura COMPORTAMENTO
primórdios do século XX, é administrativa desenvolvida em ADMINISTRATIVO
um exemplo clássico de associação com um modo de
H. Fayol: com suas ênfases na
como as organizações autoridade racional-legal, envolve
especialização (como distribuir H. Simon: sistematiza os
podem ser estruturadas e divisão do trabalho entre os
atividades entre as posições processos pelos quais a
gerenciadas de forma participantes; hierarquia entre
organizacionais) e na especificidade dos
racional, com descrição setores; regras gerais que governam o
coordenação (proposta de uma objetivos e a formalização
minuciosa das tarefas e das desempenho e a separação entre as
estrutura vertical de contribuem para o
condições necessárias para pessoas e os papéis desempenhados
vinculação dos indivíduos a comportamento racional
que os trabalhadores as por elas no trabalho; seleção de
seus chefes e supervisores), é nas organizações. Crítico
desempenhem dentro de um pessoal com base em qualificações
um segundo exemplo de dos trabalhos de Taylor e
ritmo adequado para os técnicas; e o emprego visto como uma
referencial que se apoia na Fayol, Simon e seu colega
níveis de produtividade carreira pelos participantes. Todos
noção de organização como March tratam de decisões
esperados esses elementos operam em conjunto
um sistema fechado e que são fundamentais
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racionalmente estruturado para gerar uma administração mais para a constituição de
eficiente e efetiva uma organização.
SISTEMAS RACIONAIS
ORGANIZAÇÕES

Importante é que, apesar das diferenças claras


entre as teorias apresentadas, elas se apoiam na
noção de um sistema racional (mesmo que seja
limitado, na concepção de H. Simon).

Compartilham, ainda, a ideia de que os arranjos


estruturais são ferramentas planejadas
especificamente para ampliar a eficiência de
funcionamento do sistema na realização dos
seus objetivos. Ou seja, a atenção volta-se para
os elementos internos da organização.
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SISTEMAS NATURAIS
ORGANIZAÇÕES

• Essa noção vem sendo, todavia, muito combatida, o que nos leva à segunda
perspectiva apontada por Scott e Davis (2007), que vê as organizações como
sistemas naturais.

• O conceito pode ser descrito como coletividades em que os membros perseguem


distintos interesses, até mesmo alguns objetivos individuais, mas reconhecem o valor
de perpetuar a organização como um recurso importante.

• As organizações são vistas como compartilhando características comuns a todas as


coletividades sociais, já que não se isolam do contexto social a que pertencem.
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PRINCIPAIS DIFERENÇAS
(SR X SN)
ORGANIZAÇÕES

COMPLEXIDADE DOS OBJETIVOS


ORGANIZACIONAIS

Para além da estrutura formal, afeta fortemente a vida


cotidiana e a dinâmica das organizações. Tais estruturas
Há, muitas vezes, disparidades entre objetivos informais impactam com intensidade o comportamento
expostos, oficiais, professados e objetivos “reais” das pessoas, suplementando, transformando ou mesmo
ou efetivamente perseguidos; além disso, mesmo desgastando a estrutura formal.
quando tal disparidade não existe, nem sempre
tais objetivos guiam as ações dos indivíduos.

EXISTÊNCIA DE UMA
“ESTRUTURA INFORMAL”
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a) a Escola das Relações Humanas, a partir do trabalho de Elton
ORGANIZAÇÕES

Mayo, que revelou a dinâmica dos grupos informais, no


Algumas teorias e clássico trabalho sobre o efeito de Hawthorne;
teóricos importantes na
história dos estudos b) a Teoria de Sistemas Cooperativos, proposta por Chester
organizacionais podem Barnard, que, embora ressalte a importância da cooperação
ser incluídos nessa
segunda perspectiva de para atingir objetivos comuns (algo da primeira perspectiva),
definição de aponta a necessidade de que os indivíduos aceitem e se
organizações. Entre eles,
destacam-se: disponham a cooperar. Postula, ainda, que muitos objetivos
organizacionais, a partir de um determinado ponto, voltam-se

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para garantir sua perpetuação.
• EM SÍNTESE, ENQUANTO OS TEÓRICOS DO SISTEMA RACIONAL BUSCAM FATORES QUE
DISTINGUEM AS ORGANIZAÇÕES DE OUTRAS COLETIVIDADES (DAÍ A ÊNFASE NA
FORMALIZAÇÃO), OS TEÓRICOS DO SISTEMA NATURAL BUSCAM ELEMENTOS QUE APROXIMAM
ORGANIZAÇÕES

AS ORGANIZAÇÕES DE OUTRAS UNIDADES SOCIAIS, SEM, EVIDENTEMENTE, NEGAR SUAS


ESPECIFICIDADES.
• É NESSA BUSCA DE ELEMENTOS COMPARTILHADOS COM OUTROS GRUPOS SOCIAIS QUE
EMERGEM CONFLITOS DE OBJETIVOS, A INFORMALIDADE DE MUITOS PROCESSOS E RELAÇÕES,
ALÉM DE AÇÕES NÃO COOPERATIVAS ENTRE SEUS MEMBROS.
• AS DIFERENÇAS ENTRE ESSAS DUAS PERSPECTIVAS ASSENTAM-SE NA EXISTÊNCIA DE
DISTINTOS PRESSUPOSTOS SOBRE A NATUREZA HUMANA – OS INTERESSES QUE GUIAM E OS
FATORES QUE MOTIVAM O COMPORTAMENTO NAS ORGANIZAÇÕES. ESSA SEGUNDA PERSPECTIVA
ASSUME UMA VISÃO MAIS AMPLA, MAIS SOCIAL E MAIS COMPLEXA DOS FATORES QUE
MOTIVAM O ATOR ORGANIZACIONAL DO QUE A PRIMEIRA. DA MESMA FORMA, AS DUAS
PERSPECTIVAS SE DIFERENCIAM QUANTO AOS PRESSUPOSTOS SOBRE A NATUREZA DOS
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SISTEMAS SOCIAIS. ENQUANTO A PRIMEIRA É MAIS MECÂNICA, A SEGUNDA É MAIS ORGÂNICA
(SCOTT; DAVIS, 2007).
ORG ANIZAÇÕES COM O SIST EM AS ABERT OS
ORGANIZAÇÕES

As organizações são uma classe especial de sistemas abertos. Como um sistema social, o que existe é
uma estruturação de eventos ou acontecimentos, e não de partes físicas, embora as estruturas sociais
não se encontrem em um vácuo – os artefatos materiais não se encontram em qualquer interação
natural entre si.
Assim, a estrutura não existe fora do seu funcionamento. As estruturas sociais são sistemas
essencialmente inventados – são construídos pelos homens e imperfeitos, e o cimento que mantém o
conjunto unido é de natureza psicológica.
Esses sistemas são firmados a partir de atitudes, percepções, crenças, motivações, hábitos e expectativas
das pessoas. Representam padrões de relacionamentos em que a constância das unidades individuais
que neles se envolvem é muito baixa, o que faz uma organização perdurar apesar da rotatividade do seu
pessoal. Os principais componentes de um sistema social são os papéis, as normas e os valores.
Os papéis descrevem formas específicas de comportamentos relacionados a certas atividades. As normas
(expectativas que funcionam como exigências) prescrevem os comportamentos esperados dos papéis e
encontram-se enraizadas nos valores (justificações e aspirações ideológicas mais gerais).
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ORG ANIZAÇÕES COM O SIST EM AS ABERT OS
ORGANIZAÇÕES

Na realidade, podemos pensar as organizações sociais como constituídas de vários


subsistemas e embutidas em supersistemas.
Uma organização – hospital, por exemplo – pode ser tomada como um subsistema dentro do
sistema de unidades de saúde se é esse o nível de análise adotado pelo pesquisador; pode ser
considerada um sistema se estamos interessados nela como uma unidade, ou por um dos seus
subsistemas específicos (p. ex., o subsistema gerencial).
Katz e Kahn (1987) falam de cinco subsistemas genéricos: a) técnico ou de produção, que se
responsabiliza pela realização do trabalho e envolve seus processos de trabalho; b) de apoio,
que realiza as transações com o ambiente para a obtenção dos insumos ou de suporte ao
processo produtivo; c) de manutenção, voltado para vincular as pessoas aos seus papéis; d)
adaptativo, voltado para as mudanças adaptativas do sistema como um todo; e e) gerencial,
envolvido na direção, na coordenação e no controle dos muitos subsistemas da estrutura.

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INFLUÊNCIAS DA TEORIA DA
CONTINGÊNCIA
ORGANIZAÇÕES

A ideia central que embasa essa teoria é a de que inexiste um modelo universalmente
adequado ou melhor de organização; sua estrutura deve se ajustar às pressões
ambientais, quer do ambiente geral, quer dos ambientes específicos.
São elementos centrais da Teoria da Contingência:
• a organização é um sistema aberto, em constante troca com seus ambientes;
• as características organizacionais são, portanto, variáveis dependentes considerando
as características ambientais como variáveis antecedentes; e
• as características de setores e áreas de uma mesma organização podem diferir em
função de relações específicas com partes do ambiente e da natureza da tecnologia
empregada nos seus processos de trabalho.
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INFLUENCIA DA TEORIA DA METÁFORA
ORGANIZAÇÕES

Morgan (1996, 2006) utiliza a noção de metáfora para organizar a multiplicidade de


olhares que caracteriza esse campo de estudo. Seu ponto de partida é o
reconhecimento de que as organizações são fenômenos complexos e paradoxais e,
portanto, podem ser compreendidas sob muitas perspectivas diferentes.
Para tanto, as metáforas constituem um recurso importante. Elas são mais do que
figuras ou artifícios para embelezar um discurso, já que implicam uma forma de
pensar, maneiras de ver que exercem influência sobre as formas de nos expressarmos
e, por conseguinte, sobre nossas construções científicas.

Uma metáfora significa

[...] transferência de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do


objeto que ele designa, e que se fundamenta em uma relação de semelhança
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subentendida entre o sentido próprio e o sentido figurado. (Morgan, 1996, p.
16)
ORGANIZAÇÕES

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ENTIDADE (ESTRUTURA)
VERSUS
ORGANIZAÇÕES

PROCESSO (AÇÃO)

Relacionado à forma como entendemos a relação entre ação humana e estrutura


social. Weber e os interacionistas simbólicos, por exemplo, ressaltam a relativa
independência e a criatividade da ação humana ante as estruturas sociais, isto é, a
ação humana prevalece sobre as estruturas sociais.

Já Durkheim e autores filiados ao funcionalismo sobrelevam as forças condicionantes


das estruturas sobre o comportamento humano, isto é, postulam que a sociedade tem
primazia sobre o indivíduo.
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CONFLITO VERSUS CONSENSO
ORGANIZAÇÕES

• Há estudiosos e correntes, inclusive o funcionalismo, que enfatizam a ordem e a


harmonia da sociedade humana, derivando disso uma compreensão da sociedade
centrada em continuidade e consenso, mesmo que acatem a ideia de mudança
social.

• Outros estudiosos posicionam-se de maneira frontalmente oposta. Realçam a


globalidade do conflito social e as divisões, tensões e disputas sociais, ainda que
apenas latentes, como, por exemplo, os marxistas. Isso, nos estudos organizacionais,
comparece no debate cooperação (estabilidade) versus conflito (mudança).

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ORGANIZAÇÕES

ORGANIZAÇÃO:
ENTIDADE (ESTRUTURA)
VERSUS PROCESSO
(AÇÃO)

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CIÊNCIA ORGANIZACIONAL NORMAL
(ENTIDADE)

três características
1. as organizações são vistas como coletividades orientadas de forma racional e
coordenadas para o alcance de objetivos específicos, claramente definidos, os
quais colocam os critérios precisos para a seleção das alternativas de ação que as
compõem;
2. as organizações apresentam uma estrutura formal que se compõe de um conjunto
explícito de rotinas e regras e hierarquicamente distribuído; e
3. as organizações são vistas como permeáveis a influências do meio ambiente
CIÊNCIA ORGANIZACIONAL
CONTRANORMAL (PROCESSO)
ORGANIZAÇÕES

Maggi (2006) também reduz a variabilidade de definições de organizações, dividindo- -


as, de uma perspectiva epistemológica, em três grandes grupos:
• a organização como sistema social, mecanicista ou organicista, predeterminado
quanto aos sujeitos agentes: as definições, nesse grupo, aproximam-se daquelas
influenciadas pela perspectiva de produção de conhecimento, denominada “ciência
normal”, antes comentada;
• a organização ainda como sistema social, mas o qual é construído pelas interações
de seus sujeitos: quanto a esse grupo de definições, veremos, a seguir, aquelas
incluídas na vertente cognitivista;
• a organização como processo de ações e de decisões: nesse grupo de autores,
encontram-se Chester Barnard, Simon, anteriormente apresentados, e Maggi.
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35
ORGANIZAÇÕES

ORGANIZAÇÃO:
COOPERAÇÃO (ORDEM,
CONSENSO,
ESTABILIDADE) VERSUS
CONFLITO (COERÇÃO,
MUDANÇA)
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COOPERAÇÃO, CONSENSO E
ESTABILIDADE
ORGANIZAÇÕES

• Para Barnard (1971), as organizações correspondem a sistemas cooperativos, formada


por pessoas que se comunicam entre si e desenvolvem ações com o objetivo de
alcançar um propósito comum, cuja longevidade depende de como são governadas.
• De acordo com essa definição, três principais características distinguem uma
organização: (i) a cooperação, (ii) a adesão de seus membros com base em um
propósito comum e (iii) a aptidão desses mesmos membros para a comunicação.
• A cooperação não significa compartilhar meios, mas atingir resultados, os quais podem
ter sido escolhidos pelos agentes sujeitos ou ser a eles prescritos.
• A cooperação é, portanto, processo de ações efetivadas de forma conjunta ou separada,
presencial ou não, sequencial ou não, pelos agentes sujeitos e voltadas à consecução
do mesmo resultado, o qual, por sua vez, pode ter sido buscado de forma espontânea
38 ou imposta.
CONFLITO, COERÇÃO E MUDANÇA
ORGANIZAÇÕES

• Existem teóricos que consideram importante destacar tais processos ao caracterizar


as organizações. Em grande parte, a ênfase no conflito surge para desconstruir a
ideia clássica e, por décadas, hegemônica de definir as organizações como entidades
cooperativas.
• Na realidade, [...] o conflito é um fenômeno inevitável na vida organizacional: emerge
nas relações entre indivíduos de um mesmo grupo, entre grupos, entre os diferentes
níveis organizacionais, entre organizações [...] afirmam Dimas e Lourenço (2012, p.
203).
• Esse polo oposto – conflito – é bem caracterizado nas metáforas “sistema político” e
“instrumentos de dominação”, definidas por Morgan (1996, 2006).

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ORGANIZAÇÕES
CONFLITO, COERÇÃO E MUDANÇA
• Os pensamentos de Herbert Marcuse (que vê nas organizações os mesmos mecanismos
repressores da sociedade mais geral) ou de Michel Foucault (que vê as organizações
como prisões que reduzem as pessoas aos cargos que ocupam) são representativos
desse polo antagônico à cooperação - “teoria crítica da administração”.
• Tal visão, que enfatiza os mecanismos de controle e coerção como estratégia para
reduzir os conflitos e gerar a ação coletiva, é bem clara no modelo conceitual
desenvolvido por Srour (1998).
• Para ele, as organizações são um microcosmo social, e, como tal, seu estudo consiste em
analisar processos sociais e relações coletivas, já que elas são coletividades em ação.
• Assim, como qualquer espaço social, uma organização se define a partir de três
dimensões que se interpenetram dimensões – econômica, política e simbólica – que
diferenciam espaços internos, contemplando suas unidades produtivas, entidades
40 políticas e agências ideológicas.
ORGANIZAÇÕES
CONFLITO, COERÇÃO E MUDANÇA

• Para ele, as organizações são um microcosmo social, e, como tal, seu estudo consiste
em analisar processos sociais e relações coletivas, já que elas são coletividades em
ação.
• Assim, como qualquer espaço social, uma organização se define a partir de três
dimensões que se interpenetram – econômica, política e simbólica.
• Essas três dimensões diferenciam espaços internos, o que faz elas serem, ao mesmo
tempo, unidades produtivas, entidades políticas e agências ideológicas.

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PERSPECTIVAS
TEÓRICAS DE ANÁLISE
CONCEITUAL DAS
ORGANIZAÇÕES
A VISÃO COGNITIVISTA
ORGANIZAÇÕES

No comportamento real, entretanto, tal integração dificilmente se dá em um grau


elevado de consciência.
De maneira geral, a decisão é desencadeada por estímulos, e o comportamento
decorre, na maioria das vezes, do hábito, que proporciona certo automatismo de
respostas a situações similares.
O hábito desempenha uma função imprescindível ao comportamento planejado,
representando um ajustamento, uma adaptação previamente condicionada.
Portanto, nas organizações, as decisões não se baseiam, exclusivamente, em conteúdos
e informações técnicas, ou seja, não são neutras e puramente racionais.

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ORGANIZAÇÕES

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A VISÃO CULTURALISTA
ORGANIZAÇÕES

• Em uma perspectiva culturalista, as organizações são minissociedades que têm seus


próprios padrões distintos de cultura e subcultura.
• Esses padrões – de crenças ou significados compartilhados, fragmentados ou
integrados –, apoiados em várias normas operacionais e rituais, podem exercer
influências decisivas na habilidade total da organização de lidar com os desafios que
enfrenta.
• Na verdade, nas organizações coexistem, frequentemente, sistemas de valores
diferentes que competem entre si e que criam um mosaico de realidades
organizacionais.
• O conceito de organização como sistema de culturas pode propiciar descobertas-chave
sobre as regras com as quais as organizações trabalham, sobretudo porque a partir
desse conceito depreende-se o papel proativo e, muitas vezes, inconsciente que os
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diversos atores sociais podem desempenhar, estruturando e configurando a realidade
A VISÃO CULTURALISTA
Entender as organizações como sistemas culturais tem profundas consequências para
ORGANIZAÇÕES

a compreensão e as formas de investigar e intervir:


• a) Dirige a atenção para o significado simbólico da maioria dos aspectos racionais da
vida organizacional dessa forma, a atenção para o lado humano da organização que
outras metáforas ignoram ou encobrem.
• b) Mostra que a organização assenta-se sobre sistemas de significado comuns – isto
é, em esquemas interpretativos que criam e recriam os sentidos –, oferecendo um
novo foco e uma via de acesso para a criação da ação organizacional.
• c) Reestrutura conceitos clássicos, como o de liderança, ao vê-la como administração
de sentidos; desloca os holofotes para o papel que os líderes desempenham na
construção da realidade social, proporcionando uma compreensão de velhos estilos
de maneira nova.

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ORGANIZAÇÕES
A VISÃO CULTURALISTA
d) Fornece uma nova visão das relações entre a organização e o ambiente. As
empresas organizam seus ambientes como o fazem com suas operações internas,
representando as realidades com as quais devem lidar, embora detenham,
comparativamente, menos controle sobre ele. “Os ambientes são desenvolvidos por
grupos de indivíduos e organizações, cada um deles agindo com base nas suas
interpretações a respeito do mundo que é, com efeito, mutuamente definido.” (Morgan,
1996, p. 141).
e) Contribui para compreender o processo de mudança social. Tradicionalmente, o
processo de mudança tem sido visto como derivado de mudanças nas tecnologias,
estruturas, habilidades e motivações dos empregados. Isso só é correto em parte,
porque a mudança efetiva também depende das alterações nas imagens e valores que
devem guiar as ações (Morgan, 1996)
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A VISÃO INSTITUCIONALISTA
ORGANIZAÇÕES

A sociedade, para o institucionalismo, é uma rede, um tecido de instituições,


organizações, estabelecimentos, agentes e práticas.
As sociedades humanas estão constituídas, no mínimo, por quatro instituições: a
língua, as relações de parentesco, a religião e a divisão técnica e social do trabalho.
As instituições interpenetram-se e articulam-se para regular a produção e a
reprodução da vida humana (Baremblitt, 1998).
Para Scott (2008), as instituições são estruturas multifacetadas, duráveis e resistentes
a mudanças; elas são constituídas por elementos simbólicos (regulatórios, normativos
e cultural-cognitivos), atividades sociais e recursos materiais e humanos e provêm
estabilidade e significado à vida social.
Os elementos regulatórios, normativos e cultural-cognitivos são pilares das estruturas
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das instituições, guia de comportamentos e fonte de resistência a mudanças
A VISÃO INSTITUCIONALISTA
ORGANIZAÇÕES

Conceito basilar nas abordagens institucionalistas, as instituições equivalem a árvores de


decisões lógicas que regulam as atividades humanas, indicando o que é proibido, o que é
permitido e o que é indiferente fazer.
Segundo seu grau de objetivação e formalização, podem estar traduzidas em leis (princípios,
fundamentos), normas ou pautas.
Toda instituição compreende um movimento que a gera – o instituinte –, um resultado – o
instituído – e um processo – a institucionalização.
Exemplos de instituições são: a Justiça, o dinheiro, as Forças Armadas, etc.
Um conglomerado importante de instituições é, por exemplo, o Estado.
A relevância da abordagem institucionalista das organizações é respaldada por sua crescente
difusão nos mais diversos campos de estudo. A economia, a administração, a psicologia social,
52 a antropologia e as ciências políticas constituem-se em alguns desses campos.
A VISÃO INSTITUCIONALISTA -
O CAMPO NEOINSTITUCIONALISTA
ORGANIZAÇÕES

Para os autores filiados à vertente institucionalista francesa, a organização é entendida como um


conjunto de atividades em “andamento”, razoavelmente articuladas e emergentes nos diversos
momentos e situações de interação.
Eles buscam, portanto, compreender os mecanismos de ação dos agentes envolvidos em situações
organizacionais, privilegiando-os como elementos dinamizadores do processo de mudança e ressaltando
sua relativa independência em relação às estruturas.
Assim, são enfatizadas dimensões subjetivas que povoam o ambiente organizacional, como
racionalidade, interpretação, poder, conflito, atores sociais, cooperação, competição, regras, convenções,
tradução e acordos (Dias; Loiola, 2001).
Lapassade (1977) considera, por exemplo, uma instituição como um sistema de normas que estrutura
um grupo social, regulando sua vida e seu funcionamento. Para o autor, o termo “organização” tem, pelo
menos, duas significações:
1. designa um ato organizador que é exercido nas instituições;
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2. refere-se a realidades sociais
A VISÃO INSTITUCIONALISTA -
O CAMPO NEOINSTITUCIONALISTA
ORGANIZAÇÕES

A abordagem anglo-saxônica das organizações se desenvolve a partir das verificações de como as


interações informais possibilitam a troca e o compartilhamento de valores e crenças na organização e
como esta vai adquirindo uma identidade que a diferencia das outras e que transcende a lógica
instrumental.
Nesse sentido, a institucionalização da organização se dá com base nos valores que a cercam (Prates,
2000).
Para essa vertente institucionalista, atos externos podem influenciar e moldar as decisões
organizacionais, por meios formais ou informais, conscientes ou não.
O isomorfismo organizacional distingue-se, portanto, do isomorfismo competitivo, que se concentra na
esfera da competição de mercado, ou no que os institucionalistas denominam “ambiente técnico”.
Há, ainda, o isomorfismo institucional, que ocorre no ambiente institucional, espaço que fixa normas e
exigências para que as organizações obtenham apoio e legitimidade. Esse isomorfismo institucional é
viabilizado por mecanismos coercitivos, miméticos e normativos
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CARACT ERÍST ICAS D OS M ECANISM OS QUE
G ERAM O ISOM ORFISM O
ORGANIZAÇÕES

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RELAÇÃO ENTRE ORGANIZAÇÃO E SEU CAMPO DE
INSERÇÃO E OS MECANISMOS DE ISOMORFISMO
ORGANIZAÇÕES

56
EM BUSCA DE UMA SÍNTESE
ORGANIZAÇÕES

As organizações podem ser definidas como grupos de indivíduos que interagem


regularmente e partilham uma identidade coletiva; podem ser vistas como estrutura de
autoridade e fluxo de informação.
Podem ser tratadas, ainda, como instrumento para atingir propósitos sociais ou
também como sistemas de comunicação e controle.
As organizações podem ser descritas como minissociedades ou como arena de
conflitos, interesses e negociações (Argyris; Schon, 1978).
Enfim, as organizações podem ser tratadas como produto ou como processo. Como
unidades cooperativas ou conflitivas.

57
EM BUSCA DE UMA SÍNTESE
ORGANIZAÇÕES

Trata-se, portanto, de um campo fértil para o exame de importantes processos


psicológicos e psicossociais essenciais à própria constituição do fenômeno
organizacional e com profundos impactos sobre as pessoas e a sociedade.
São processos que conferem à Psicologia um espaço importante no conjunto de
disciplinas voltadas para a produção de conhecimento sobre as organizações.
Esses processos, em toda a sua complexidade e fluidez, também demandam a ação do
psicólogo, que, junto a muitos outros profissionais, cada vez mais se volta para que as
organizações deixem de ser fonte de opressão e sejam espaços efetivos de
desenvolvimento das pessoas e da sociedade em que vivemos.

58
EIXOS PRINCIPAIS QUE DIFERENCIAM AS FORMAS
DE CONCEITUAR E ANALISAR AS ORGANIZAÇÕES
ORGANIZAÇÕES

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ORGANIZAÇÕES

PRINCIPAIS
DIMENSÕES DO
CONCEITO DE
ORGANIZAÇÃO

60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORGANIZAÇÕES

• Adaptado de:
Bastos, A. V. B., Queiroz, E. L., N. S., Silva, T. D.. CONCEITO E PERSPECTIVAS DO
ESTUDO DAS ORGANIZAÇÕES In: Zanelli, J C; Borges-Andrade, J E; Bastos, A V B
(ORGS.) Psicologia, organizações e trabalho no Brasil [recurso eletrônico] – 2. ed. –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014, p.73-108.

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OBRIGADO
PROFº MSC. RUI TEIXEIRA
RUI.JUNIOR@UDF.EDU.BR

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