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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

PROJETO DE PESQUISA

Prof. Dr. Emerson Figueiredo dos Santos

São Cristóvão-SE, 31/07/2021


PROJETO DE PESQUISA

1. Título:
Análise experimental da redução de vibrações em lajes steel deck usando material
viscoelástico.

2. Introdução:
Ensaios experimentais são utilizados, não apenas, para caracterização das propriedades
físicas e mecânicas de materiais, como também no estudo do comportamento de
equipamentos e estruturas, e, ainda, na calibração de equipamentos e softwares. Desta forma,
exigem o uso de sistema de aquisição de dados e, de certa forma, sensores para captar o sinal
desejado. Os sistemas ensaiados podem ser modelos reduzidos ou protótipo, estes em escada
real.

Na Engenharia Civil, comumente faz-se uso de acelerômetros, extensômetros e/ou


transdutores de deslocamento para captação de sinais de aceleração, deformação e
deslocamento, respectivamente.

Com relação aos materiais viscoelásticos (MVE), objeto deste projeto de pesquisa, ganha
destaque o experimento realizado por BATTISTA (2000), quando da aplicação de uma fina
camada de MVE, confinada entre o concreto da pista de rolamento e a chapa de topo, em um
protótipo de parte do tabuleiro da ponte Rio-Niterói, cujos resultados foram favoráveis quanto à
redução de vibrações (Figura 1). Souza (2015) verificou a efetividade de um material
viscoelástico por meio da aplicação do método determinado pela ASTM E-756.

Figura 1 – Densidade espectral da resposta de aceleração do tabuleiro ortotrópico produzida


por impacto.

Fonte: Battista (2000).

Existem alguns tipos de materiais viscoelásticos catalogados pela literatura que podem ser
usados para redução de controle de vibrações. No entanto, existem materiais alternativos
(mantas de impermeabilização), disponíveis no mercado, que podem produzir efeitos
semelhantes. Neste sentido, as mantas líquidas podem constituir um material dissipador de
energia quando aplicado no formato sanduíche à laje.

Desta forma, este estudo apresenta os resultados iniciais de ensaios de vigas com e sem a
aplicação de um tipo de manta líquida como MVE, como forma de avaliar o seu desempenho
como sistema de amortecimento, avaliando, por conseguinte, sua aplicabilidade no protótipo
proposto neste projeto de pesquisa. Vale ressaltar que, devido à falta de recurso e de
equipamentos adequados, o ensaio proposto pela ASTM E-756 (2005) não pode ser realizado.
No entanto, ensaios semelhantes foram realizados com o intuito de gerar resultados
qualitativos ao material aplicado.

3. Análise Experimental

O ensaio proposto pela ASTM E-756 visa caracterizar o material viscoelástico por meio do fator
de perda e módulos de elasticidade longitudinal e transversal, além da determinação da taxa
de amortecimento fornecida ao sistema estrutural. Para isso, a referida norma indica o uso de
quatro tipos básicos de vigas (Figura 2).

A norma ASTM E-756 (2005) recomenda que a viga possua largura de 10 a 20mm,
comprimento livre de 180 a 250mm, e espessura de 1 a 3mm. A base inercial do engaste de
apoio deve ter comprimento de 25 a 40mm, com mesma largura da viga. O material da viga
pode ser o aço ou o alumínio. De acordo com Souza (2015), o material viscoelástico deve ser
aplicado conforme recomendação do fabricante, mas, eventualmente, pode ser colado ao
material da viga por material com módulo de elasticidade aproximadamente dez vezes maior
que o MVE.
Figura 2 – Configurações de vigas para ensaios com MVE.

Fonte: Souza (2015)


O procedimento adotado por SOUZA (2015) para realização do experimento, inclui o uso de
uma câmara climatizada e com controle de temperatura, uma vez que, como se sabe, o
material viscoelástico pode apresentar variações nos seus principais parâmetros quando
exposto a temperaturas variadas. Um esquema do experimento é apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Esquema do experimento da ASTM E-756 (2005).

Fonte: Souza (2015)

3.1 Experimento com Manta Líquida

Como informado anteriormente, foi realizado uma adaptação do ensaio proposto pela ASTM E-
756 (2005) para análise do comportamento de materiais viscoelásticos. Com efeito, sua
efetividade será avaliada por meio da taxa de amortecimento obtida dos sinais temporais de
aceleração.

Para o experimento, foram utilizados dois tipos de vigas, a saber: a homogênea simples,
formada por uma peça de seção maciça; e a sanduíche, formada por duas peças simples com
material viscoelástico entre elas (ver Figura 2). Adicionalmente foi utilizada uma viga
homogênea dupla, formada por duas peças simples, mas sem MVE, cujo intuito foi avaliar a
efetividade do material de amortecimento frente à estrutura de espessura parecida.

A viga homogênea simples é de alumínio, com seção 3,175mm x 50,8mm. O comprimento em


balanço (engastada-livre) foi de 47cm. A viga homogênea dupla foi confeccionada por duas
peças simples, uma sobre a outra, unidas por meio de parafuso (Figura 4).

A viga sanduíche foi composta por duas vigas simples separadas pelo material viscoelástico.
Tal material corresponde a uma manta líquida (Figura 5), disponível no mercado. De acordo
com o fabricante (BT, 2019), trata-se de um impermeabilizante elastomérico para lajes à base
de resina acrílica que, quando curado, forma uma membrana elástica. Ainda na embalagem,
sua consistência é pastosa, quase gelatinosa, e já vem pronta para uso.
Figura 4 – Viga homogênea dupla.

Fonte: Próprio autor.

Figura 5 – Manta líquida utilizada como MVE.

Fonte: Próprio autor.

Antes da aplicação do MVE, procedeu-se à abrasão (para aumentar o atrito) da viga com
escova de aço (Figura 6), com posterior limpeza para eliminar as impurezas. A aplicação da
manta foi realizada conforme recomendação do fabricante, por meio de “pintura” com rolo
(Figura 7). Após a secagem, a segunda demão foi aplicada e, em seguida, unida as duas
partes, configurando a viga sanduíche. O confinamento do material retarda, consideravelmente,
o seu processo de cura, estimado em 2 horas pelo fabricante. A Figura 8 apresenta a viga
sanduíche.

Com auxílio de um paquímetro, foram realizadas sete medidas da espessura da viga


sanduíche ao longo do seu perímetro, resultando num valor médio de 7,2mm. Assim, a
espessura média do material viscoelástico foi de 0,8mm.
Figura 6 – Abrasão com escova de aço.

Fonte: Próprio autor.

Figura 7 – Aplicação da primeira demão do MVE.

Fonte: Próprio autor.

Figura 8 – Viga sanduíche.

Fonte: Próprio autor.

3.2 Respostas Experimentais Dinâmicas

Dada a ausência de equipamentos para controle de intensidade de cargas, as amostras de


vigas homogênea simples, homogênea dupla e sanduíche foram submetidas a ensaio de
“puxar-largar” de modo a produzirem as mesmas amplitudes de aceleração. Diante da
ausência de um sistema preciso de aquisição de sinais (acelerômetros e condicionadores de
sinais), foi utilizado o aplicativo Sensor Kinetics Pro, o qual faz uso do acelerômetro presente
em alguns smartphones.

Como informado anteriormente, a taxa de amortecimento e a frequência de cada viga serão


obtidas por meio dos histogramas de aceleração. O primeiro parâmetro será determinado por
meio do método de decremento logarítmico (Figura 9), por meio da equação abaixo:

𝟏
𝝃=
𝟐

𝟐𝝅𝒏
𝟏+
𝜹
𝒍𝒏 𝟏
𝜹𝒏

onde n é o número de ciclos, 1 e n são as amplitudes na primeira oscilação e no n-ésimo


ciclo, respectivamente.

Uma vez que a primeira frequência é a única atuante na estrutura, alternativamente, a


frequência natural será obtida por meio da contagem de ciclos, dada por:

𝒏
𝒇=
𝒕 𝒇 − 𝒕𝒊

onde n é o número de cilcos, e ti e tf são, respectivamente, os tempos inicial e final, após n


ciclos.

Figura 9 – Oscilação em decaimento logarítmico.

1
n

Fonte: Adaptado de Musolino (2011)


A Figura 10 apresenta a resposta dinâmica, em termos de aceleração, na extremidade livre da
viga homogênea simples. Tal viga apresenta uma frequência fundamental de 6,0Hz e taxa de
amortecimento de apensa 0,2%, que pode ser verificada pela baixa redução das amplitudes de
aceleração ao longo do tempo.

Figura 10 – Resposta dinâmica em termos de aceleração da viga homogênea simples.

15

10
Aceleração (m/s²)

0
150 151 152 153 154 155
-5

-10

-15
Tempo (s)

Fonte: Próprio autor.

A resposta dinâmica, em termos de aceleração, para a viga homogênea dupla é apresentada


na Figura 11, onde se percebe uma maior redução das amplitudes ao longo do tempo, o que
acarretou num taxa de amortecimento cerca de 1,8%. Por se tratar de um mesmo material, o
aumento da taxa de amortecimento pode ter ocorrido pela dissipação de energia por atrito
entre as peças, uma vez que o parafuso utilizado na ligação pode apresentar folgas, não
apenas decorrente do aperto, como também do furo passante. Verificou-se uma frequência
natural de 11,8Hz, superior, como esperado, à frequência da viga homogênea simples.

Figura 11 – Resposta dinâmica em termos de aceleração da viga homogênea dupla.

15

10
Aceleração (m/s²)

0
10 11 12 13 14 15
-5

-10

-15
Tempo (s)

Fonte: Próprio autor.

O histograma de aceleração da viga sanduíche é mostrado na Figura 12, do qual foram obtidas
uma taxa de amortecimento de cerca de 4,0% e uma frequência fundamental de 7,5Hz.
Percebe-se, por meio da Figura 13, uma estabilização da oscilação da viga mais rápida que a
viga homogênea dupla, mesmo com uma frequência bem abaixo dela, inferindo uma
efetividade do material no amortecimento do movimento oscilatório. Quando comparada com a
viga homogênea simples (Figura 14), cujas frequências são próximas, a viga sanduíche
apresenta uma estabilização da oscilação bem mais rápida.

Figura 12 – Resposta dinâmica em termos de aceleração da viga sanduíche.

15

10
Aceleração (m/s²)

0
10 11 12 13 14 15
-5

-10

-15
Tempo (s)

Fonte: Próprio autor.

Figura 13 – Comparação entre respostas dinâmicas entre a viga sanduíche e a homogênea


dupla.

15

10
Aceleração (m/s²)

0
10 11 12 13 14 15
-5

-10

-15
Tempo (s)

Viga Homogênea Dupla Viga Sanduíche

Fonte: Próprio autor.


Figura 14 – Comparação entre respostas dinâmicas entre a viga sanduíche e a homogênea
simples.

15

10
Aceleração (m/s²)

0
0 1 2 3 4 5
-5

-10

-15
Tempo (s)

Viga simples Viga sanduíche

Fonte: Próprio autor.


4. Considerações Finais
As análises experimentais são de suma importância não apenas para aplicação de um novo
material na engenharia, uma vez que tenta simular seu comportamento em serviço. Neste
sentido, um tipo de manta líquida, utilizada como impermeabilizante, foi testado como material
viscoelastico em modelos reduzidos de vigas de alumínio na configuração sanduíche.

De acordo com as respostas dinâmicas, em termos de aceleração, o material empregado


apresentou um amortecimento superior às vigas sem o referido material, mesmo para aquelas
com rigidez superior, mostrando-se potencialmente aplicável na redução de vibrações
estruturais.

Para a sua aplicabilidade em protótipo de laje steel deck, é interessante verificar a efetividade
do material viscoelástico em outros tipos de carga, tal como sinal aleatório (“ruído branco”).
Além disso, questões de cura e aplicação podem ser melhor estudadas em modelos reduzidos
ou em pequenos blocos do protótipo.
6. Referências Bibliográficas

ASTM-E756. Standard Test Method for Measuring Vibration Damping


Properties of Materials, 2005.

BATTISTA, R. C.; PFEIL, M. S.. Strengthening Fatigue Cracked Orthotropic


Decks with Composite Layers. Proceedings of the Structural Stability
Research Council – SSRC 2000 Annual Technical Session Meeting, Memphis,
USA, 2000.

BT – Boletim Técnico. Manta Líquida Branca Quartzolit. Weber saint-Gobain,


2019.

MUSSOLINO, B. C. Algoritmo de Determinação do Coeficiente de


Amortecimento em Materiais Refratários de Alta Alumina. Dissertação.
EESC/USP, São Carlos, SP, Brasil, 2011.

SOUZA, J. C. S., Caracterização Experimental e Modelagem de Estruturas


usando Materiais Viscoelásticos para o Controle Passivo de Vibrações.
Tese. PPEM/UFI, Itajubá, MG, Brasil, 2015.

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