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Datação das Rochas

A datação das formações geológicas é essencial para a reconstituição da história da Terra.

Essa datação, pode ser absoluta (permitindo obter uma idade concreta) ou relativa
(permitindo situar a origem das rochas, relativamente a outras rochas ou a estruturas como
falhas ou dobras).

Os dois tipos de datação, são complementares, por exemplo, a datação relativa pode permitir
obter um intervalo em que se insere a idade de uma rocha, o que pode ser importante para a
escolha do par de isótopos, mais adequado para a datação absoluta.

Datação Relativa

Para efectuar a datação relativa, os geólogos aplicam os princípios da estratigrafia, a maioria


dos quais enunciados por Nicolau Steno, no séc.XVII.

≥ Princípio da horizontalidade inicial


Segundo o princípio da horizontalidade inicial, os estratos formam-se normalmente
por deposição de sedimentos na posição horizontal ou próximo desta.
Quando observamos estratos inclinados ou dobrados, assumimos que a alteração
ocorreu no momento posterior ao da formação dos estratos, geralmente a processos
tectónicos.
≥ Princípio da sobreposição
De acordo com o princípio da sobreposição, numa sequência de estratos que mantêm
a sua posição original, um estrato é mais antigo do que aqueles que estão por cima, e
mais recente do que aqueles que estão por baixo.

Deste modo, uma sequência estratigráfica representa um registo cronológico da


história geológica da região.
Importa ter presente, que determinados fenómenos geológicos podem alterar a
posição original dos estratos, comprometendo à aplicação do princípio da
sobreposição.
Por exemplo, a formação de uma dobra pode fazer com que se observem estratos
mais recentes por baixo de estratos mais antigos.

O mesmo pode acontecer após a formação de uma falha.

Para além disso, pode haver descontinuidades ao longo de sequências de estratos


correspondentes a erosão da rocha sedimentar antes da deposição de novos
sedimentos. Se as descontinuidades foram muito grandes, são designadas por lacunas
estratigráficas.

Ainda possível, após a formação de uma sequência de estratos, haver deformação


seguindo-se a deposição de uma nova série de estratos.
Esta complexidade de processos pode dificultar a aplicação do princípio da
sobreposição.
≥ Princípio da inserção
Em alguns afloramentos, é possível observar rochas que se apresentam cortadas por
falhas ou por filões.
Para reconstituirmos a cronologia dos acontecimentos, temos de perceber se
aconteceu primeiro a formação das rochas ou a formação das estruturas que as
cortam.
Vejamos o exemplo desta rocha sedimentar:

Primeiro formaram-se os estratos da base até ao topo, de acordo com o princípio da


sobreposição, e só depois se poderão ter formado duas falhas que cortam os estratos.
A instalação destas falhas, explica o deslocamento dos blocos que se observam na
imagem.
No caso do filão observado na figura:

…que intersecta um cone vulcânico, o raciocínio é o mesmo. Primeiro formou-se o


cone, e só depois se ascendeu magma que o atravessou, e que posteriormente se
solidificou.
Da análise destes dois casos, é possível deduzir o princípio da intersecção, que nos diz
que um corpo rochoso que é cortado por uma estrutura geológica, como uma falha
ou filão, é sempre mais antigo do que essa mesma estrutura.
≥ Princípio da Inclusão
As inclusões, como os encraves e os xenólitos, são fragmentos de uma rocha
incorporados noutra rocha.
Vejamos o processo de formação de xenólitos: o magma ao ascender incorpora
fragmentos da rocha encaixante. De seguida, o magma solidifica, formando uma nova
rocha que é mais recente do que os fragmentos que o incorporou, designados por
xenólitos.

Deste modo, as inclusões são mais antigas do que a rocha que as engloba.

≥ Princípio da identidade paleontológica


Numa coluna estratigráfica é relativamente simples identificar as camadas e os fósseis
mais antigos e mais recentes, bastando para isso aplicar o princípio da sobreposição.
No entanto, para uma melhor reconstituição da história geológica, é importante
comparar as rochas e os fósseis de locais distintos, tentando estabelecer relações
cronológicas. Segundo o princípio da identidade paleontológica, é possível atribuir a
mesma idade relativa a estratos que apresentem os mesmos fósseis, mesmo que
estejam separados entre si por muitos quilómetros.
Estes fósseis que possibilitam a datação relativa, correspondem a espécies com grande
dispersão geográfica que viveram num intervalo de tempo geológico relativamente
curto. São designados por fósseis de idade.
No entanto, é importante ter em conta, que se houver uma lacuna estratigráfica, ou
seja, a ausência de um ou mais estratos numa sequência estratigráfica, a utilização
deste princípio pode ficar comprometida.
Exercícios Datação Relativa

Texto: Dactylioceras  da Ponta do Trovão

 As falésias calcárias que bordejam toda a Península de Peniche contam uma história contínua,
com cerca de 25 milhões de anos, da evolução geológica do Jurássico Inferior de Portugal (entre
os 200 e os 175 milhões de anos). Constitui uma história impressa nas rochas através de fósseis
de invertebrados marinhos, história essa de quando a Península Ibérica estava situada bem perto
da região setentrional do continente americano.

Neste contexto, a Ponta do Trovão tem um lugar de destaque por ali se situar o corte geológico
com o Estratótipo do limite Pliensbaquiano-Toarciano (Jurássico Inferior). Representa o melhor
registo a nível mundial da transição entre o Pliensbaquiano e o Toarciano (andares do Jurássico
Inferior), há cerca de 183 milhões de anos.

O topo do andar Toarciano do Jurássico Inferior é caracterizado pela ocorrência em massa de


espécies de amonite Dactylioceras. A associação da amonite Dactylioceras a outras espécies é
particularmente significativa para a definição do limite.

1. Os fósseis de Dactylioceras são considerados fósseis de idade, dado que resultaram de


seres que viveram num período de tempo geológico curto.
2. A presença de Dactylioceras em estratos sedimentares do Jurássico Inferior permite
determinar a idade relativa dessas rochas se esses fósseis apresentarem uma reduzida
distribuição estratigráfica.
3. Fósseis de Dactylioceras foram também descobertos em rochas de Marrocos. De
acordo com estes dados e aplicando o princípio da identidade paleontológica, pode
afirmar‐se que os estratos de rochas portuguesas e marroquinas possuem a mesma
idade. 
Datação Absoluta ou Radiométrica

O planeta Terra formou-se há 4600 Ma.

Há 465 Ma, trilobites gigantes viviam num mar existente na região de Arouca, e há 168 Ma,
dinossauros caminhavam em vale de meios.

A datação absoluta permite a obtenção de um valor numérico da idade de uma rocha.

Na datação absoluta, destaca-se a datação radiométrica, que se baseia nas propriedades dos
isótopos radioactivos.

Os isótopos são variantes que surgem na natureza para um mesmo elemento químico, com o
mesmo número de electrões e protões, mas com um número diferente de neutrões, e por
consequente um número de massa diferente.

No caso do carbono, existem três isótopos, o carbono-12, o carbono-13, e o carbono-14. Os


dois primeiros isótopos, são estáveis e não radioactivos, mas o carbono-14, pelo contrário, é
instável.

Esta instabilidade faz com que o carbono-14 se converta espontaneamente com o decorrer do
tempo num átomo mais estável, que neste caso é de um elemento químico diferente, o
Nitrogénio, por ter havido alteração das partículas do núcleo.

O carbono-14 é portanto um isótopo radioactivo ou radioisótopo.

Este processo de transformação de um isótopo radioactivo num isótopo mais estável, designa-
se por decaimento radioactivo. Pode ocorrer a libertação de radiação electromagnética e de
partículas do núcleo, como neutrões e protões, havendo libertação de energia.

Aos isótopos instáveis que se desintegram como o carbono-14 dá se o nome de isótopo-pai, e


aos isótopos estáveis que se formam como o nitrogénio-14 dá-se o nome de isótopo-filho.

Quando minerais que incorporam os isótopos radioactivos começam a cristalizar, apenas estão
presentes isótopos-pais e não isótopos-filhos. Uma vez formados os minerais, os isótopos-pais
vão-se transformando em isótopos-filhos.

Para o par de isótopos presente numa amostra de um mineral ou de uma rocha, se


determinarmos a quantidade de isótopo-pai e de isótopo-filho utilizando um espectrómetro de
massa, poderemos calcular a percentagem de cada um. O valor desta percentagem, é usado
para a datação radiométrica.
Um conceito importante a ter em conta é o de semivida, que é o tempo necessário para que
metade dos isótopos-pais presentes numa amostra se converta em isótopos-filhos.

Para cada par de isótopo-pai e isótopo-filho, a semivida é constante, irreversível, e


independente das condições de pressão e temperatura aqui a amostra se encontra.

Após ter decorrido uma semivida, teremos sempre 50% de isótopos-pais e 50% de isótopos-
filhos.

Para o par carbono-14/nitrogénio-14, por exemplo, tendo em conta que o tempo de semivida
é 5730 anos, ao fim de 5730 teremos 50% de carbono-14 e 50% de nitrogénio-14.

Após duas semividas, teremos 50% de isótopos-filhos mais metade dos isótopos-pais, que
entretanto se converteram em isótopos-filhos, ou seja, mais 25%, o que faz 75% de isótopos-
filhos, e assim sucessivamente.

Aqui podemos ver um gráfico com a variação das percentagens de isótopo-pai e de isótopo-
filho, ao longo de várias semividas:

À medida que a percentagem do isótopo-pai vai diminuindo, a percentagem de isótopo-filho


vai aumentando.

Esta variação ocorre sempre ao mesmo ritmo para um par de isótopos.

Voltando à espectrometria de massa, esta permite determinar a percentagem do isótopo-pai


numa amostra de um mineral ou de uma rocha, tornando possível, por exemplo, através de
um gráfico como este, ver quantas semividas passaram, e com isso, determinar quanto tempo
passou desde a formação do mineral ou da rocha, ou seja, qual a idade absoluta.
Exercícios Datação Absoluta

Texto: Esta pode ser a rocha mais velha da Terra – e foi recolhida na Lua

 Os cientistas podem ter encontrado a rocha intacta mais antiga da Terra – na Lua. Um estudo
publicado recentemente na Earth and Planetary Science Letters afirma que uma das rochas
recolhidas pelos astronautas da Apollo 14, em 1971, contém um fragmento da antiga crosta
terrestre.

É possível que o fragmento se tenha formado numa bolsa de magma, estranhamente rica em
água, no interior da Lua antiga. Mas os autores do estudo acreditam ser mais provável que a
rocha se tenha formado dentro da crosta do nosso planeta, tendo sido projetada em direção à
Lua por um dos muitos impactos de meteoritos que bombardearam a Terra primitiva.

Se assim for, o fragmento é uma das rochas mais antigas da Terra alguma vez encontradas. Os
minerais mais antigos encontrados na Terra vêm de Jack Hills, na Austrália, e têm até cerca de
4,4 mil milhões de anos. Mas essas datações têm sido contestadas, e mesmo que os minerais
sejam realmente tão antigos, são destroços de rochas que se desintegraram há muito tempo. Pelo
contrário, o fragmento recolhido pela Apollo 14 está muito mais bem conservado na sua
totalidade.

1. Da análise do gráfico e da tabela, é possível associar os isótopos A e B do gráfico aos


átomos, respetivamente, urânio-238 e chumbo-206.
2. A datação efetuada à rocha recolhida pelos astronautas da Apollo 14, em 1971,
permitiu obter a sua idade radiométrica. Esta datação foi possível devido à
instabilidade de certos isótopos.
3. O chumbo-206 encontrado nestes minerais refere-se ao isótopo-filho, átomo mais
estável do que o isótopo-pai.
4. Para datar os minerais encontrados na Austrália utilizou-se o isótopo urânio-238. De
acordo com a idade dos minerais, é de supor que ainda não ocorreu uma semivida.
Limitações da Datação Absoluta ou Radiométrica

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