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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CENTRAL DE CURSOS DE EXTENSÃO


E PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
CURSO DE SOCIOLOGIA

Deisy Boroviec

COM QUE ROUPA EU VOU?

Mato Grosso
2017
DEISY BOROVIEC
COM QUE ROUPA EU VOU?
A sociologia do corpo em telejornalismo – o corpo enquanto linguagem

Trabalho de Conclusão de curso


apresentado como requisito para
aprovação no curso de Pós-
graduação Lato Sensu, em
Sociologia, da Universidade Estácio
de Sá, sob orientação da
professora Mirlene Fatima Simões
Wexell Severo.

CUIABÁ – MT
2017
Sociologia

Deisy Boroviec

Com que roupa eu vou?

A sociologia do corpo em telejornalismo – o corpo enquanto linguagem

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá, como


requisito para a obtenção do grau de Especialista em Sociologia.

Aprovada em, 2017.

Examinadores

_____________________________________________

Professora Mirlene Fatima Simões Wexell Severo

NOTA FINAL: ______________


Resumo

Neste artigo o leitor terá um entendimento quanto ao que quer dizer com a
roupa que veste. A dignidade humana não está na indumentária, mas ela diz muito
sobre a persona que você quer construir diante dos fatos sociais e como a mídia
trata isso. Um breve relato histórico e analítico sobre a indumentária na imprensa
audiovisual.

Palavras-Chave: Sociologia da Comunicação, Semiótica, Linguagem,


Indumentária.
Abstract

In this article the reader will have an understanding as to what he means by


the clothes he wears. Human dignity is not in clothing, but it says a lot about the
persona you want to build in the face of social facts and how the media treat it. A
brief historical and analytical account of clothing in the audiovisual press

Keywords: Sociology of Communication, Semiotics, Language, Clothing.


6

Agradeço à Santa Catarina, uma mártir cristã,


grande intelectual do século IV e à eudaimonia
que tomou conta de mim. Também agradeço aos
professores da Educação à Distância e à
Universidade que me proporcionaram esta
oportunidade, bem como à minha orientadora, a
professora Mirlene Fatima Simões Wexell
Severo.
7

“Enquanto você dorme, a palavra, plantada


em sua carne, prolifera em toda sua
possibilidade.” (Viviane Mosé)
8

Sumário

Introdução..................9

Desenvolvimento.....11

Conclusão.................19

Bibliografia...............20
9

Introdução

No dia 7 de setembro de 2016, a então primeira dama do Executivo


Nacional, Marcela Temer, se apresentou no tradicional desfile de comemoração da
independência brasileira, em Brasília, com um vestido off White, considerado ‘bem
comportado’. A roupa da jovem esposa do então presidente Michel Temer ganhou
notoriedade não só pelo valor venal (R$ 618,00), mas principalmente pela imagem
que o novo presidente do Brasil supostamente queria passar à sociedade: uma
mulher discreta, do lar, exemplo de cônjuge, que valoriza a família tradicional e a
gente da nossa terra, no caso, a grife da brasiliense Luiza Farani. O resultado da
aparição foi um alvoroço, inclusive o modelo do vestido se esgotou em 24 horas.

Os principais jornais, revistas, redes de televisão, bem como redes sociais


na internet produziram um material incomensurável sobre a roupa da bela Marcela!
Uma mulher que dispensa comentários sobre seus dotes físicos. Porém, da mesma
forma que ela foi invejada e copiada por outras brasileiras - o que comprova a
cobiça, foi o fim do estoque do vestido nas lojas - ela também foi alvo de
julgamentos e comparações. A imagem pública de Marcela foi confrontada com uma
personagem da novela Avenida Brasil, exibida em 2012 pela Rede Globo, chamada
Carminha. A atriz Adriana Esteves, que interpretou a personagem citada, legitimou o
off White na moda brasileira. A Carminha, interpretada pela artista, representava
uma mulher simples e sem maldade que escondia o demônio da ambição dentro
dela. A associação da imagem pública da primeira dama comprova que o vestir é
uma forma de linguagem eficaz e por vezes traiçoeira.

Sem dúvida, o modelito – usado pela primeira dama - representa


sobriedade, enquanto por outro lado a ex-presidente da República - condenada a
perda do mandato em 2016 - de acordo com o artigo 52 da Constituição Federal de
1988, mas não perdeu seus direitos políticos, como manda o parágrafo único do
mesmo artigo – era ridicularizada pelas estampas que exibia em suas
indumentárias. Não havia associação a uma conduta e simplesmente uma ignomínia
multiplicada pelas redes sociais. Um desprezo evidente pela pessoa da presidente,
associando os tecidos de suas vestimentas a revestimento de poltronas, cortinas e
até à capa de bujão de gás. Todas as constatações até aqui estão registradas na
rede mundial de computadores, basta, colocar a ‘palavra chave’ para buscar as
imagens e os comentários analisados neste artigo científico.

Com base nesta introdução, passamos à revisão literária que trata da


roupa como linguagem, inclusive, quando o assunto é transmitir credibilidade em
telejornais e até mesmo veracidade no momento em que a persona se expressa no
audiovisual, não só para transmitir a informação oficial, mas também sobre as
diversas versões criadas para atender as novas tribos que as redes sociais
segregaram em vez de padronizar, como previa a globalização dos sectários de
Marshal McLuhan.
10

A partir de agora analisaremos a notícia que vem do repórter, bem como


do apresentador, baseados em manuais de telejornalismo, bem como pela história
culutural – consolidada a partir de 1970 com grande vertente historiográfica que
valoriza inclusive o modo de vestir e o que isso representa para a comunidade:
habilidade sensorial da visão: usando os olhos!
11

Desenvolvimento

“Não deixe o paletó ficar enrugado no ombro e no pescoço”. Esta é uma


das frases que orienta apresentadores e repórteres no Manual de Telejornalismo
(BARBEIRO, 2005, p. 79). Ainda o autor completa: “O ideal é sentar na ponta do
paletó, não encostar no espaldar da cadeira e manter a coluna ereta”. “As roupas
devem combinar com o espírito do programa e com a ocasião”, outra dica, nas
regras de vestuário da obra Jornalismo diante das Câmeras (YORK, 1998, p. 51). No
mesmo livro, o autor destaca que penteados, acessórios e até mesmo o desleixo
não podem chamar mais atenção do que a notícia.

Num trabalho organizado pelo doutor Clóvis de Barros Filho, professor da


USP, a ‘Coleção fazer Jornalismo’, ele também se preocupa com a forma como a
informação vai ser apresentada, numa linguagem não verbal: “O corpo tem que estar
em sintonia com o que está sendo falado para que a mensagem que se queira
transmitir seja apenas uma e não entre em contradição” (NETO, 2008, p. 68). Os
manuais de telejornalismo se multiplicaram no início do milênio. As roupas
apresentam credibilidade à notícia, bem como a aparência do repórter ou
apresentador:

“O cuidado com a aparência é importante quando se está no vídeo, mas não


exagere. Seja simples e elegante. Para os homens, o terno é a vestimenta
básica. Em alguns casos, é possível optar pelo esporte fino – camisa e blazer
– ou só por uma camisa, se estiver na praia, por exemplo. Para as mulheres,
o terninho ou camisas sociais são boas opções. Prefira cores pastéis. Evite
os decotes, as blusinhas de alça. Ombros e braços não devem ficar à mostra.
Os acessórios devem ser discretos, nada de brincos, gargantilhas ou anéis
enormes. O telespectador deve prestar atenção no que você está falando,
não usando. A maquiagem requer cuidados. Você não vai a uma festa, então
seja simples. Um batom vermelho chamativo não vai ficar bem.” (UTSCH,
2005, p. 59)

As orientações acima corroboram que a forma como o apresentador se


veste - ou se apresenta – faz a diferença para os donos dos canais de comunicação,
bem como para os telespectadores, que se acostumaram ao padrão formal da
notícia. Primeiro vamos falar da indumentária neste trabalho, o físico, depois vamos
desenvolver a roupa como forma de linguagem, o metafísico, e nesta última está a
revisão literária deste artigo científico.

Iniciamos com a ‘roupa’ em si, e aqui temos uma ampla pesquisa feita pelo
filósofo francês Gilles Lipovetsky que publicou pela primeira vez O império do
efêmero em 1987. Um passeio, pela forma de vestir do ser humano, principalmente
o ocidental, o qual ele começa explicando que nos primeiros tempos as vestimentas
eram impostas pelos detentores do poder, ou seja, aqueles que ganhavam as
guerras e conquistavam as terras e por conseqüência impunham seu jeito de trajar.
O que aparentemente não mudou com as transformações dos costumes.
12

“Um primeiro momento se impôs durante cinco séculos, da metade do século


XIV à metade do século XIX: é a fase inaugural da moda, onde o ritmo
precipitado das frivolidades e o reino das fantasias instalaram-se de maneira
sistemática e durável. A moda já revela seus traços sociais e estéticos mais
característicos, mas para grupos muito restritos que monopolizam o poder de
iniciativa e de criação Trata-se do estágio artesanal e aristocrático da moda.”
(LIPOVETSKY, 2009, p. 27)

O modelo de roupa de quem tem o poder socioeconômico é repetido,


assim como gestos e formas de tratar a vida, ou como mostrar a fórmula do sucesso.

“A legitimidade inconteste do legado ancestral e a valorização da


continuidade social impuseram em toda parte a regra de imobilidade, a
repetição dos modelos herdados do passado, o conservantismo sem falha
das maneiras de ser e de parecer” (LIPOVETSKY, 2009, p. 27)

Da mesma forma que a moda legitima a ancestralidade do êxito


socioeconômico, ela também se torna referência para um laço social entre os seres
humanos ou a exclusão dos mesmos.

“A partir do momento em que a moda não remete mais exclusivamente ao


domínio das futilidades e designa uma lógica e uma temporalidade social de
conjunto, é útil, necessário, voltar à obra que foi mais longe na
conceitualização, na amplificação e no realce do problema”(LIPOVETSKY,
2009, p. 310)

A partir do momento em que os seres humanos percebem que a forma de


se vestir é também uma forma de linguagem, ou seja, uma forma de dizer o que
querem ser, e mesmo o que querem parecer ‘serem’, facilita a vida de quem não
consegue sê-lo.

“A compreensão do mundo, a partir de um princípio ordenador, tem o poder


de aliviar e tranqüilizar da vida, o alívio do mundo que, como eterno vir-a-
ser, acarreta inevitavelmente a dor e a morte” (MOSÉ, 2016, p. 35)

Aqui entramos na segunda parte e fundamento deste trabalho que é a


roupa como linguagem. Quem você é da forma como se apresenta? Sabemos isso
porque aprendemos ou é atávico?!

“A perspectiva cognitiva toma o comportamento e seus produtos não como


objeto de pesquisa, mas como um dado que pode fornecer evidências sobre
os mecanismos internos da mente e sobre os modos como esses
mecanismos operam ao executar as ações e ao interpretar a experiência”
(CHOMSKY, 2005, p. 33)

São perguntas que vão além do sociológico, partindo para o psicológico,


bem como o biológico. Sendo esse último a parte física: as nossas habilidades
sensoriais (audição, visão, tato, paladar e olfato) e nossas habilidades motoras (fala,
choro, gestos etc). A metafísica está nas relações sociais desenvolvidas pela
linguagem que é quando compartilhamos o pensamento. As sinapses neurais
13

transformam nossos sentidos em verbo, em cores, em formas, e até em habilidades


motoras: olhares, gestos, abraços etc.

O ‘vestir’ nos transforma em personas: tradicional, elegante, esdrúxula,


moderna, antiquada, relaxada, exagerada, bonita, feia, ambiciosa, forte, poderosa,
com credibilidade etc.

A partir do pensamento que percebo o quanto ‘causo’ conquanto que me


vista de certa forma, lembro aos leitores deste artigo científico que o corpo fala.
Assim como as tribos nativas brasileiras ainda se vestem para o luto, para a caça e
para a festa de formas diferentes, nós aprendizes do pensamento ocidental também
observamos as várias formas de se apresentar diante de um fato. Neste caso, o fato
é a notícia jornalística. Analisando o quanto representa a roupa de um apresentador
ou repórter dependendo do fato narrado.

“Lembre-se de que o corpo fala o que sentimos e o vídeo dificilmente será o


lugar mais indicado para que você demonstre seus sentimentos mais
verdadeiros. Seu corpo deve traduzir uma atitude profissional, transmitindo
confiança e credibilidade. É isso o que deve falar mais alto nessas horas”
(KYRILLOS, 2003, p.96)

Com base em estudos filosóficos e sociológicos percebemos que indumentária diz


mais do que palavras. Pode traduzir, bem como confundir quem já tem um conceito
formado, que podemos traduzir em preconceito:

“Somente a partir de uma crítica contundente das crenças que foram sendo
impostas no decorrer da história da cultura, como valores eternos, como ser,
como verdade, poderíamos criar condições para novas experiências no
domínio do pensamento.” (MOSÉ, 2016, p. 16)

Aqui estamos analisando a questão biológica do ser humano. Quando se


trata especificamente da habilidade sensorial da audição, há um estudo profundo do
neurologista americano Oliver Sacks que explica as projeções do hábito da memória
para os que perderam a audição depois de adultos, bem como para aqueles que
partem do aprendizado de uma linguagem de sinais para transferir informações do
pensamento, em sua obra ‘Vendo vozes’, no sentido enxergar o que se ouve:

“Ser deficiente na linguagem, para um ser humano, é uma das calamidades


mais terríveis, porque é apenas por meio da língua que entramos plenamente
em nosso estado e cultura humanos, que nos comunicamos livremente com
nossos semelhantes, adquirimos e compartilhamos informações” (SACKS,
2010, p. 19)

Quando tratamos de estudos sociológicos da comunicação, é importante


lembrarmos que as ciências foram segregadas, principalmente no século XX, mas
todos os estudos se encontram no pensamento do ser humano enquanto anatomia,
projeções da assimilação do aprendizado, trabalho na terra para produção de
alimentos, medição da economia e dos espaços usados etc. Temos boa parte do
que sabemos na genética, mas quando se trata de um mundo globalizado, e então
14

estamos falando da globalização que começou com as grandes navegações, e as


trocas de informações de culturas que ficaram separadas por continentes por
milênios e aparentemente tem histórias semelhantes àquelas registradas pelas
escrituras sagradas do Ocidente, bem como do Oriente, quando se trata dos cinco
primeiros livros – o Pentateuco – que estão nas três grandes religiões mundiais:
Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.

Em todos os segmentos a cultura é ensinada, e não vem completa nos


segmentos biológicos, a forma de se comportar, de respeito à hierarquia social, bem
como a forma de se vestir de acordo com a ocasião. Toda a cultura precisa da
linguagem para ser transmitida, seja verbal ou não verbal.

“O estudo dos surdos mostra-nos que boa parte do que é distintivamente


humano em nós – nossas capacidades de linguagem, pensamento,
comunicação e cultura – não se desenvolve de maneira automática, não se
compõe apenas de funções biológicas, mas também tem origem social e
história; essas capacidades são um presente – o mais maravilhoso dos
presentes – de uma geração para outra” (SACKS, 2010, p. 10)

Aprendemos. Repetimos. Porém, é importante refletir e ter um


pensamento crítico. Aceitar verdades prontas pode significar vivenciar contradições
de princípios implícitos no ser.

“É preciso pensar a relação dos homens com a linguagem, desde o


nascimento dos códigos de linguagem, até a formulação dos princípios
lógico-gramaticais, se o alvo da reflexão é a transvaloração dos valores.”
(MOSÉ, 2016, p. 16)

Significa entender que os signos informam mais do que aprendemos sobre


eles, é o cotidiano que nos faz termos discernimento sobre os acontecimentos à
nossa volta.

“A história inteira de uma ‘coisa’, de um órgão, de um uso, pode ser uma


continuada série de signos de sempre novas interpretações e ajustamentos,
cujas causas mesmas não precisam estar em conexão entre si, mas, antes,
em certas circunstâncias, se seguem e se revezam de um modo meramente
contingente” (MOSÉ, 2016, p. 32)

Este trabalho tem o objetivo de mostrar como são os indivíduos e os


grupos que se comunicam, bem como quais são suas motivações e quais os meios
usados e replicados. Usando um elemento da linguagem que é a indumentária. Uma
forma de linguagem valorizada por quem vive da moda, mas que é sentida em cada
contato pessoal ou virtual (fotografias e vídeos).

“A faculdade da linguagem entra de maneira decisiva em cada aspecto da


vida, do pensamento e da interação humanos. Ela é a grande responsável
pelo fato de apenas no mundo biológico os humanos terem uma história,
uma evolução cultura e uma diversidade muito complexa e rica, e até
mesmo um sucesso biológico, no sentido técnico da enormidade de seus
números.” (CHOMSKY, 2005, p. 30)
15

Reintroduzo aqui um grande estudioso da Linguagem humana que é um


cientista cognitivo, também de ascendência eslava como os cientistas já citados:
Lipovetsky, Sacks e Bauman. Aliás, Bauman relaciona a moda à sociedade de
consumo. Mas não desconsidera o poder de orientar as escolhas por meio das
mídias, que replicam os gostos impostos pelas sociedades econômicas mais fortes:

“Em sua fase líquido-moderna, a cultura é feita na medida da liberdade de


escolha individual (voluntária ou imposta como obrigação). É destinada a
servir às exigências desta liberdade. A garantir que a escolha continue a ser
inevitável: uma necessidade de vida e um dever” (BAUMAN, 2010, p. 33)

O poder econômico concentrado legitima a moda, bem como transforma a mesma


em fonte de prazer e sofrimento.

“Como a fonte das ansiedades parece distante e indefinida, é como se


dependêssemos dos especialistas, das pessoas que entendem do assunto,
para mostrar onde estão as causas do sofrimento e como lutar contra ele.
Não temos como testar a verdade que nos contam. Só nos resta então
acreditar que no que dizem. (BAUMAN, 2010, p. 75)

Não há conhecimento do público, apesar da globalização, e de tanta


informação, estamos vivendo um momento de ‘tontura’, sem saber o que fazer com
tanta notícia. Acostumados a termos fontes únicas de informação e incontestáveis,
como apresentado no capítulo VI, do livro ‘Jornalismo de TV, no qual a autora trata
da cobertura internacional, ela revela que:

“Cerca de 80% das notícias internacionais que circulam hoje no mundo são
produzidas por quatro grandes agências americanas e europeias, segundo
o levantamento publicado no livro A manipulação do público, de Edward S.
Herman e Noam Chomsky. São elas: Associated Press United, Press
International, Reuters e Agence France Press.” (BACELLAR, 2010 ,p. 73)

Temos ainda um bom vídeo que circula pela internet que também revela
os donos da informação no Brasil. Uma produção da Intervozes que consta na
bibliografia deste trabalho. Então a partir daqui entraríamos na questão das fontes
de informação. Estaríamos nos desviando do assunto?! Não, ainda não. Porque as
fontes de informação têm uma imagem: logomarca, personagem, aroma, melodia
etc. É o campo da Semiótica, do qual, nos interessa a visão, que tem maior poder de
prender a atenção: “O ser humano tem na visão o maior e mais apurado órgão do
sentido” (COLLARO,2005, p. 29). Inconscientemente a sociedade sabe que ‘uma
imagem fala por mil palavras’, mas como diríamos isso sem o verbo?! A influência
exógena é grande e corroborada pelo escritor de origem polonesa:

“O verdadeiro obstáculo para a liberdade humana não é a necessidade


resultante das determinações da natureza, mas a servidão às
necessidades alheias” (VILALBA, 2006, p. 60)
16

Nas 44 cartas do mundo moderno líquido, está a compilação de textos


publicados na revista italiana ‘La Republica delle Donne’ em 2008 do sociólogo
polonês Zygmunt Bauman, na qual ele discorre sobre a liquidez da vida e a
necessidade da vida comunitária que nos dá o feedback das nossas escolhas:

“Um sonho de pertencimento e um sonho de autoafirmação; um desejo de


apoio social e a obsessão de autonomia, ao mesmo tempo, o ímpeto de
imitar e a tendência a separar. Enfim, a necessidade contar com a
segurança de dar as mãos a alguém e a liberdade para soltar-se delas”
(BAUMAN, 2011, p.79 e 80)

Bauman, assim como outros grandes ícones de textos renomados ao


longo da história, consegue descrever um sentimento de viver em sociedade, de
aceitar para ser aceito, de ‘não nadar contra a maré’ porque isso poderia nos levar
ao julgamento, como por exemplo a inquisição de Menóchio – bem retratado pelo
italiano Carlo Ginzburg, em seu livro ‘O queijo e os vermes’. Aquele que vive em
sociedade não pode falar tudo o que pensa e nem sempre vestir o que gosta,
simplesmente vai seguir uma onda, ou vai enfrentar a fúria das águas da natureza.

“Se a moda fosse apenas um processo físico comum, ela constituiria uma
anomalia monstruosa a transgredir as leis da natureza. Só que a moda não
é um fenômeno da física: ela é um fenômeno social” (BAUMAN, 2011 , p.
78)

Da mesma forma, como iniciamos com a afirmação de Lipovetsky de que


a indumentária é instrumento também de Poder, assim confirma o sociólogo
polonês:

“A variedade atual do fenômeno da moda é determinada pela colonização e


exploração desses aspectos eternos da condição humana por parte dos
mercados de consumo” (BAUMAN, 2011, p. 82)

Baseados nas informações até aqui, corroboramos a influência da


indumentária do repórter e do apresentador já apresentada desde o início como
preponderante também como mensagem. Então, McLuhan ganha espaço neste
artigo, pois o meio – o apresentador – é a mensagem. Logo a roupa de quem
informa por meios audiovisuais interfere no resultado da notícia. O apresentador que
quiser que a reportagem seja mais impactante, não deve desconsiderar a roupa que
vai usar para chamar a matéria, bem como o repórter que fizer uma passagem deve
seguir nessa linha de discrição.

“Longe de se considerar vítima ou mero produto do meio, o sociólogo


enfatiza como ele, assim como qualquer pessoa, ‘disputa’ com outros
indivíduos e com as forças simbólicas atuantes (crenças, leis etc) a
possibilidade de manifestação e sua presença por meio de ações nesses
campos sociais” (VILALBA, 2006, p.35)

Nessa linha de pensamento, Bauman confirma o quanto o apresentador e


o repórter seguem uma linha editorial, inclusive na indumentária. Organizando os
‘saberes’, criamos teorias. Mas até este artigo ser escrito, desconhecemos uma
17

Teoria de Comunicação que tenha usado a imagem do repórter ou do apresentador


para consolidar um pensamento sistematizado.

“Já a ideia de ‘teoria’ implica uma sistematização formal de informações


obtidas com base em pesquisas e reflexões intelectuais voltadas para um
determinado tema. Essa necessidade de sistematização é defendida por
autores, como Thomas Kuhn (1922-1996), para os quais ‘não há
conhecimento científico possível sem que se constitua uma teoria servindo
de paradigma, isto é, de modelo organizador do Saber’. Assim, é possível
afirmar que uma teoria da comunicação procura sistematizar hipóteses e
estudos sobre as experiências e as realizações de um comunicador ou de
um grupo de comunicadores. Igualmente, é aceitável declarar que uma
teoria da comunicação se ocupa da definição dos dispositivos que a
viabilizam e influenciam algumas etapas ou todas as etapas da ação de
comunicar: da organização mental necessária para a transmissão de uma
mensagem até a elaboração física, a transmissão e a recepção dessa
mensagem – incluindo aí a criação, a operação e a manutenção dos meios
materiais (o corpo, câmeras, programas de computador, cadernos, livros
etc) que permitem a existência da dinâmica comunicacional”. (VILALBA,
2006, p.8)

Uau! Chegamos na Teoria da Comunicação que intitulamos: “Com que


roupa eu vou?!”. Qual palavra para substituir essa frase, que quer dizer como eu
devo me vestir para impactar meu telespectador?! Não causar impacto visual, mas
chamar a atenção para o que é dito.

“Sem a ativação de determinadas competências fisiológicas, cerebrais


inclusas, não existe comunicação entre as pessoas; sem comunicação,
perde-se o que talvez seja o principal canal facilitador de registros e
processamentos mentais: a interação humana.” (VILALBA, 2006, p.112)

Vilalba trata das teorias da comunicação, e a partir daqui trataremos o


vestir como uma forma sistematizada de credibilizar a informação.

“As teorias críticas ajudam a compreender os mecanismos de controle da


formação e da transmissão do sentido que favorecem ou impedem o
desenvolvimento da autonomia do sujeito comunicador, inclusive no modo
como ele utiliza determinados conceitos e suas possibilidades de formação
e negociação do sentido (como a ‘interatividade’ citada mais atrás.”
(VILALBA, 2006, p.52)

Nessa negociação do sentido, o processo da roupa influenciar o


telespectador pode ser inverso, qual seja: o repórter ou apresentador quando se
torna uma personalidade de credibilidade ao longo dos anos, e a partir de um ‘certo’
momento, pouco importa o que é dito, mas quem o disse. Para Noam Chomsky a
roupa é um subproduto da linguagem.

Isso quer dizer que muitas personagens que conhecemos hoje, fizeram
primeiro sua ‘persona’ pelas roupas e depois se tornaram o que quiseram. Um
exemplo é Hitler, em seu livro Mein Keimpf, ele relata que sua boa aparência, e
freqüência em audições na Viena do tempo dos Habsburgos, se dera devido ao
18

sacrifício de seu estômago. Da mesma forma, está na biografia do maronita libanês


Gibran Kahlil Gibran, que ele frequentava as rodas socioeconômicas acima da que
ele podia, usando roupas que comprometiam o orçamento, inclusive para ele se
alimentar.

Atualmente, não há um padrão que exija muito dinheiro para se vestir


bem. Estamos em tempos de grifes, uma linguagem que vai além do tecido
costurado. As grandes lojas de departamento têm belos exemplares de estilistas
famosos, não é mais necessário ‘sacrificar o estômago’, mas ter bom gosto. Esse
último se traduz em ‘que vou que eu vou?’, pois, o bom gosto vai depender da
comunidade que a persona frequenta, ou seja, ser aceito. No jornalismo atual, as
flores estampadas nas blusas das repórteres ganham espaço, mas o vestido nude
citado no início deste trabalho, ainda é o preferido pelas pessoas discretas, ou pelas
que querem discrição no alto escalão do governo.
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Conclusão

Não acredito em conclusões, assim como acredito piamente que o mundo


sempre foi ‘líquido’... só constatado e registrado na atualidade por Bauman em
função da globalização, assim como a violência sempre existiu e sem culpas, como
nas tragédias gregas. A informação é que faz a diferença na vida do ser humano.
Essa será passada pela família, igreja, comunidade, escola etc. O padrão que
temos, desde que o cinema começou a projetar a imagem em movimento, em 1895,
é de roupas discretas (claras ou escuras). O telejornalismo se expandiu no início do
século XX com o advento da televisão. Período em que homens de gravata, bem
barbeados e bem penteados apresentavam notícias ao vivo.
A nossa longa viagem até a rede mundial de computadores que pode ser
acessada por celulares mudou a forma do ser humano se comunicar radicalmente e
da mesma forma está promovendo mudanças no comportamento, o que muda
também o padrão da indumentária: não temos mais padrão, temos público! A roupa
fará diferença quando o apresentador ou repórter estiver falando com o seu público:
esportivo, religioso, governamental, festivo, campestre, ribeirinhos, metaleiros etc.
Antes de perguntar ‘com que roupa eu vou?’, a persona deve se perguntar
para quem vou falar? Ou mesmo quem serei eu ao falar? Concluo que são duas
questões para decidir a vestimenta: quem sou? E com quem falarei? Se eu quiser
mostrar quem sou, me visto do jeito que minha persona exige. Se quiser atingir o
público de uma igreja, por exemplo, terei que me vestir conforme os fiéis vão se
sentir respeitados. É isso!
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Referências

BACELLAR, Luciane e Luciana Bistane. Jornalismo de TV, editora Contexto, 2010.

BARBEIRO, Heródoto e Paulo Rodolfo de Lima. Manual de telejornalismo: os


segredos da notícia na TV, Editora Campus, 2ª edição, 2005.

BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo Parasitário, editora Zahar, 2010

BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido, Zahar, 2011.

BISTANE, LucianA e Luciana Bacellar. Jornalismo na TV – Coleção Comunicação,


editora Contexto, 2005.

CHOMSKY, Noam. Novos Horizontes no Estudo da linguagem e da Mente, editora


Unesp, 2005.

COLLARO, Antonio Celso. Produção Visual e Gráfica, Summus Editorial, 2005.

HITLER, Adolf. Mein Kampf, Centauro, 2016.

INTERVOZES. Levante Sua Voz - Documentário que mostra o poder da mídia na


nossa formação. Publicado em 9 de mar de 2013 por Jean Lucas no canal do
Youtube.

KYRILLOS, Leny. Voz e Corpo na TV, editora Globo, 2003.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero, Cia. De Bolso, 2009.

MOSÉ, Viviane. Nietzche e a grande política da linguagem, editora Civilização


Brasileira, 5ª edição, 2016.

NETO, João Elias da Cruz. Reportagem de Televisão, Editora Vozes, 2008.

SACKS, Oliver. Vendo Vozes – uma viagem ao mundo dos surdos, Cia. De Bolso,
2010.

UTSCH, Sérgio e Alexandre Carvalho, Fabio Diamante, Thiago Bruniera.


Reportagem na TV, editora Contexto, 2010.

VILALBA, Rodrigo. Teoria da Comunicação: conceitos básicos – São Paulo: Ática,


2006.

YORK, Ivor. Jornalismo diante das Câmeras, Summus Editoral, 1998.

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