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DISSERTAÇÃO DE ESTÁGIO
Anabela Teixeira
Estela Fernandes
Janeiro, 2022
Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa do Alto
Tâmega
Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem Comunitária
Unidade Curricular de Ensino Clínico I: Planeamento em Saúde e Intervenção Comunitária
DISSERTAÇÃO DE ESTÁGIO
Anabela Teixeira
Estela Fernandes
Este trabalho decorre do estágio realizado em contexto de uma unidade local de saúde e,
parceira com um agrupamento de escolas da região do Vale do Ave. Durante o estágio
identificou-se a necessidade e oportunidade de aprofundar a temática do estilo de vida e
dos comportamentos compulsivos junto daquela comunidade escolar. Neste sentido, foi
levada a cabo uma investigação com o objetivo de intervir para informar alunos,
professores e encarregados de educação do agrupamento escolar, nomeadamente nos
aspetos relacionados à identificação dos referidos comportamentos.
No final do projeto, espera-se ter contribuído para um impacto positivo junto de todos os
envolvidos, em especial dos alunos, de forma que estes possam identificar e, sobretudo,
estar alerta para corrigir ou pedir apoio em situações de comportamento compulsivo. Em
última análise, o trabalho realizado deverá contribuir para uma mudança positiva nos
estilos de vida dos estudantes.
i
ABSTRACT
This study results from the internship carried out in the context of a local health unit and
in partnership with a grouping of schools in the Vale do Ave region. During the internship,
we identified the need and opportunity to deepen the theme of lifestyle and compulsive
behaviors within the school community. Therefore, an investigation was carried out with
the purpose of intervening to inform students, teachers, and guardians of the school
cluster, particularly in aspects related to the identification of these behaviors.
As an agent of education, the nurse specialist who develops and implements community-
based programs becomes an agent of behavioral change. In the school context, his
intervention will have an impact on the prevention, protection, and promotion of health.
The intervention was based on a project created for this purpose, and the Health Planning
methodology was followed, with theoretical support in the "Model for Assessment,
Intervention and Community Empowerment" (MAIEC) model.
At the end of the project, we hope to have contributed to a positive impact on all involved,
especially the students, so that they can identify and, above all, be alerted to correct or
ask for support in situations of compulsive behavior. Ultimately, the work done should
contribute to a positive change in the students' lifestyles.
ii
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................7
1 CARATERIZAÇÃO DO ACES ALTO AVE............................................................................................11
1.1 INDICADORES DE SAÚDE DO ACESS ALTO AVE.......................................................................13
1.2 CARATERIZAÇÃO DA UCC VIZELA.............................................................................................14
1.3 AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE INFIAS..................................................................................19
2 ENQUADRAMENTO TEÓRICO.......................................................................................................21
2.1 PROGRAMA NACIONAL DE SAÚDE ESCOLAR 2015...................................................................24
2.2 O PAPEL DO ENFERMEIRO NA SAÚDE ESCOLAR.......................................................................26
2.3 ESTILOS DE VIDA......................................................................................................................28
2.4 O INSTRUMENTO «FANTÁSTICO».............................................................................................30
3. MAIEC.......................................................................................................................................39
4. METODOLOGIA........................................................................................................................39
4.1. PLANEAMENTO EM SAÚDE..............................................................................................39
4.2. DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO...........................................................................................39
4.3. PERTINÊNCIA DO ESTUDO...............................................................................................39
4.4. FINALIDADE DO ESTUDO..................................................................................................39
4.5. SELEÇÃO DO PÚBLICO-ALVO............................................................................................39
4.6. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADO.........................................................................39
4.6.1......................................................................................DESCRIÇÃO DA RECOLHA DE DADOS
....................................................................................................................................................40
4.6.2...............................................................................................................................VARIÁVEIS
....................................................................................................................................................40
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................................................................................40
6. CONCLUSÃO.............................................................................................................................40
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................41
ANEXOS............................................................................................................................................44
iii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3 - Ilustração da pirâmide etária dos utentes abrangidos pela UCC Vizela............................15
ÍNDICE DE TABELAS
ÍNDICE DE GRÁFICOS
iv
LISTA DE ABREVIATURAS
v
USF - Unidades de Saúde Familiar
INTRODUÇÃO
No âmbito da Unidade Curricular de Ensino Clínico I: Planeamento em Saúde e
Intervenção Comunitária, do Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem
Comunitária da Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa do Alto
Tâmega, no Ano Letivo de 2020/2022, foi desenvolvido um estágio no Agrupamento de
Centros de Saúde (ACES) do Alto Ave, na Unidade de Cuidados na Comunidade de Vizela
(UCC Vizela).
É igualmente referido no descritor da UC, que esta unidade curricular tem como
objetivos educacionais: aplicar a metodologia do planeamento em saúde; fazer o
diagnóstico de saúde da população residente da área de influência do centro de saúde;
identificar necessidades do utente, da família, do grupo específico e da comunidade em
cuidados de enfermagem especializados; delinear as estratégias de intervenção
em cuidados de enfermagem especializados em enfermagem comunitária à pessoa e – ou
família dentro e fora da instituição; proceder à execução dos cuidados planeados; planear,
executar e avaliar atividades no âmbito dos Programas Nacionais de Saúde; conceber,
planear, implementar e avaliar projetos de intervenção com vista à capacitação e
autonomia das comunidades na consecução dos seus projetos de saúde.
6
responder de forma adequada às necessidades dos diferentes clientes (pessoas, grupos ou
comunidade) proporcionando efetivos ganhos em saúde” (Regulamento nº 128/2011).
Neste enquadramento, foi então, o Ensino Clínico desenvolvido na UCC VIZELA, integrada
no ACES ALTO AVE tendo como populações alvo os alunos do 7º ano de escolaridade do
Agrupamento de Escolas de Infias, tendo sido integrado no projeto MAIEC já iniciado pela
equipa da UCC.
Este trabalho seguiu as normas do Plano Local de Saúde do ACES de acordo com as
prioridades estabelecidas na Plano Nacional de Saúde Escolar (PNSE) de 2015 e de acordo
7
com as disponibilidades de recursos humanos existentes na UCC Vizela, nomeadamente as
relacionadas com a saúde escolar.
Esta investigação teve como ponto de partida, a avaliação e compreensão dos hábitos e
dos comportamentos dos adolescentes em relação ao seu estilo de vida.
Para além de uma perceção real dos estilos de vida dos estudantes, pretende-se a partir
dos resultados obtidos implementar várias ações tendentes a informar e provocar
mudanças positivas na comunidade. Assim, do nosso ponto de vista, os principais
contributos desta investigação serão:
8
ferramenta de recolha de dados foi utilizado o instrumento designado por FANTASTICO,
que será descrito no capítulo próprio. De forma sintética, trata-se de um questionário de
autopreenchimento e permite a avaliação e compreensão dos hábitos e dos
comportamentos dos adolescentes em relação ao seu estilo de vida.
No que diz respeito a este trabalho de investigação, ele foi estruturado da seguinte
forma: Introdução, seguida de uma breve caraterização do ACES Alto Ave, incluindo
indicadores de saúde e o plano local de saúde. No segundo capítulo realiza-se a
caracterização da UCC Vizela e da Escola a cujos alunos foi aplicado o questionário. O
terceiro capítulo diz respeito ao enquadramento teórico; No quarto capítulo, descreve-se o
MAEIC, seguindo-se a metodologia no capítulo quinto e da apresentação e análise dos
resultados, terminando com as principais conclusões no capítulo sexto.
Este trabalho deu ainda origem a um projeto específico relativo aos comportamentos
compulsivos, que se apresenta na íntegra no Anexo 1.
O estudo é original, tendo sido desenvolvido pelas autoras junto dos organismos descritos.
9
1 CARATERIZAÇÃO DO ACES ALTO AVE
O ACES Alto Ave tem como área de influência os concelhos de Guimarães, Vizela, Fafe,
Cabeceiras de Basto e Mondim de Basto, que se localizam no distrito de Braga, à exceção
de Mondim de Basto que se localiza no distrito de Vila Real.
No ACES do Alto Ave, o grupo etário dos 0 aos 14 anos, apresentou uma proporção da
população residente superior (15,7%) à do grupo dos 65 e mais anos (14,63%),
apresentando maior percentagem de indivíduos jovens e menor percentagem de idosos
do que o Continente e a região Norte.
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A faixa etária dos 10 aos 14 anos tem 12.079 utentes inscritos, 6.275 sexo masculino e
5.804 sexo feminino. O ACES Alto Ave é constituído por 31 unidades funcionais, com
273.011 utentes inscritos, integra 725 profissionais, dos quais, 235 enfermeiros, 167
médicos, 46 internos, 164 secretários clínicos e 113 outros profissionais. O ACES Alto Ave é
constituído por 6 Centros de Saúde (CS), CS Professor Arnaldo Sampaio – Guimarães, CS
Taipas, CS Vizela, CS Fafe, CS Cabeceiras de Basto, CS Mondim de Basto.
Com a constituição das novas unidades funcionais designadas por Unidades de Saúde
Familiar (USF), Unidade de Saúde Pública (USP), Unidades de Cuidados na Comunidade
(UCC), Unidade de Cuidados Saúde Personalizados (UCSP), Unidade de Recursos
Assistenciais Partilhados (URAP) e Centro de Diagnóstico Pneumológico, o ACES fica
constituído por 29 unidades.
11
Em relação ao Hospital de referência, o ACES tem o Hospital Senhora da Oliveira -
Guimarães, EPE.
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A análise efetuada da mortalidade proporcional por fases do ciclo da vida, ambos
os sexos, no triénio 2008-2010, no ex-ACES Guimarães/Vizela, as causas externas
de mortalidade contribuíram com um terço das mortes na faixa etária dos 5-24
anos (25%). O ex-ACES Terras de Basto, as causas externas de mortalidade
ocasionaram cerca de um terço das mortes na etária dos 5-24 anos (34%).
Da análise da taxa de internamento bruta por grupo etário, por todas as causas, no
ex-ACES Guimarães/Vizela e no ex-ACES Terras de Basto, nas faixas etárias
compreendidas entre as idades de 5 a 24 anos e de 25 a 44 anos, excluindo os
internamentos por gravidez parto e puerpério, predominaram as doenças do
aparelho digestivo. No ex-ACES Terras de Basto nas causas externas, os acidentes
de transporte foram responsáveis pelas maiores taxas brutas de internamento nos
grupos etários dos 65-74 anos e dos 5-24 anos.
O índice de envelhecimento (118,7 em 2015) é inferior ao da região norte (139,3) e
ao do Continente (149,6). A esperança de vida à nascença (81,4 anos no triénio
2013- 2015) tem aumentado em ambos os sexos e é inferior à da região norte (81,5
anos) e superior à do Continente (81,3 anos). A taxa de natalidade (7,5 nados vivos
por 1000 habitantes, em 2015) tem diminuído de forma mais acentuada do que na
região norte e no Continente, apresentando valores ligeiramente inferiores.
O nível de escolaridade da população melhorou entre 2001 e 2011, aproximando-
se da região norte e do Continente. A taxa de analfabetismo (5,4%) diminuiu em
todos os concelhos, sendo que em Guimarães e Vizela os valores são menores do
que na região norte (5,0%) e no Continente (5,2%), ( Agrupamento de Centros de
Saúde Alto Ave [ACES Alto Ave], 2015).
A UCC Vizela tem como missão contribuir para a melhoria do estado de saúde da
população da sua área geográfica de intervenção, visando a obtenção de ganhos em
saúde.
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Trata-se de uma Unidade de referência, no que diz respeito à satisfação dos utentes que
integram a nossa comunidade, bem como dos profissionais de saúde, adequando os
cuidados de saúde às necessidades da nossa comunidade. Atua sempre com o foco no
cidadão, a sua família e comunidade em que está integrado.
― 10 Enfermeiros;
― 2 secretários clínicos;
― 1 Assistente Social;
― 1 psicólogo.
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se com autonomia organizativa e técnica, em intercooperação com as demais unidades
funcionais do ACES Alto Ave, sem prejuízo da necessária articulação interinstitucional,
indispensável ao cumprimento da sua missão (ACES Alto Ave, 2015).
A UCC Vizela disponibiliza a sua carteira de serviços aos residentes, ainda que
temporariamente, na área geográfica dos Concelhos de Vizela e Guimarães que inclui as
seguintes freguesias:
1. Concelho de Vizela: União de Freguesias de Caldas de Vizela (S. João e S. Miguel),
Junta de Freguesia de Santa Eulália, Junta de Freguesia de Infias, União de Freguesias
de Tagilde e Vizela (S. Paio), Junta de Freguesia de Vizela (Santo Adrião).
2. Concelho de Guimarães: Moreira de Cónegos, Lordelo, Conde, S. Faustino, Nespereira,
Serzedelo, Gandarela, Guardizela, Gémeos.
― Vizela 24,7 Km2, com uma população de 23.736 residentes3 e uma densidade
populacional de 960,7 hab/Km2.
― Guimarães 29,38 Km2, com uma população de 11.516 residentes e uma densidade
populacional de 860,53 hab/Km2. · Com a reconfiguração da ECCI, desde janeiro de
2017 a UCC Vizela passa a ter uma cobertura assistencial com uma área total de
54.5 Km2 com uma população de 45.500 residentes.
Neste momento está a decorrer reuniões para redistribuição da área geográfica a nível da
Saúde Escolar (SE), Saúde Materna e Equipa de Cuidados Continuados Integrados (ECCI).
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Instrumentos da UCC
Carteira de Serviços:
Horário de Funcionamento:
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― Na Reabilitação são prestados cuidados de enfermagem, visando a autonomia dos
utentes, no domicílio, na sede da UCC ou outras instituições, a utentes que não
cumpram os critérios de integração na ECCI; Consultoria/aconselhamento a outros
profissionais em matérias relacionadas com cuidados de reabilitação
― A Saúde Escolar (SE) trabalha para a melhoria da saúde das crianças e dos jovens e
da restante comunidade educativa. As propostas das atividades estão assentes em
dois principais eixos definidos no Programa Nacional de Saúde Escolar|2015
(DGS,2015): vigilância e proteção da saúde e aquisição de conhecimentos,
capacidades e competências em promoção da saúde. Na saúde escolar existem
projetos de promoção da alimentação saudável (PASSE) e atividade física, projeto
na promoção da saúde Oral (SOBE e Pasta nos Dentes), projeto educação postural,
projeto no âmbito dos afetos e sexualidade (PRESSE), prevenções de acidentes
(primeiros socorros), programa + Contigo proposto aos alunos do 7º ano de um
agrupamento de escolas.
17
básico e ensino secundário, envolvendo também pais, encarregados de
educação, pessoal não docente e restante comunidade possuindo todos
estes atores um papel ativo no desenvolvimento deste programa. SABER +
18
A missão do agrupamento tem subjacente uma visão clara do que se pretende para o
agrupamento:
2 Enquadramento Teórico
Na década de 70, com a crise nos sistemas de saúde, foi reforçada a ideia de intervir não
só na cura, mas também na causa da doença. A Organização Mundial de Saúde (OMS), na
19
mesma década, realizou a primeira Conferência Mundial de Saúde, em Alma-Ata, onde foi
objetivada a meta "Saúde para todos no ano 2000” que pretendia a saúde como um
direito humano fundamental, isto é, que os indivíduos atinjam um nível de saúde que lhes
permita uma vida saudável e economicamente produtiva (OMS, 1978).
No final desta conferência foi sugerida a adoção de oito elementos fundamentais para a
saúde: educação, problemas prevalecentes de saúde e aos métodos para a sua prevenção
e controlo, promoção da distribuição de alimentos e da nutrição apropriada, previsão
adequada de água de boa qualidade e saneamento básico, cuidados de saúde materno-
infantil e planeamento familiar, imunização contra as principais doenças infeciosas,
prevenção e controle de doenças localmente endêmicas, tratamento apropriado de
doenças e lesões comuns e fornecimento de medicamentos essenciais (OMS, 1978).
O seu trabalho insere-se nos serviços da saúde escolar, criados pela reforma de 1933;
estes são herdeiros, por um lado, de um quadro legal moderno, em resultado da primeira
institucionalização dos serviços de inspeção médica nas escolas (1901-31) e, por outro, de
um campo médico-pedagógico que decorre da aplicação do discurso médico à escola de
20
massas do século XIX e à criança em espaço escolar. A saúde escolar de 1933 representa a
primeira reforma de conjunto promovida pela política educativa do Estado Novo,
integrando as suas três ideias-forças: a redução das aprendizagens, o primado da ação
educativa e fortes enquadramentos morais e religiosos (Maughan, 2017).
21
souberam cumprir os requisitos políticos e administrativos necessários para o efeito
(Rocha & al., 2012).
Ainda de acordo com Faria & Carvalho (2004), o percurso da saúde escolar ao longo dos
anos em Portugal tem sofrido alterações significativas, sob a tutela de vários ministérios,
com predominância para os ministérios da educação e da saúde. A incorporação de
programas de educação em saúde em contexto escolar é cada vez mais comum nos países
europeus, uma vez que a ação preventiva tem vindo a ganhar muita importância para a
saúde pública. Assim, as escolas são os locais de maior acesso aos grupos de risco, neste
caso os jovens. É nas escolas que os profissionais de saúde conseguem encontrar soluções
simples e acessíveis, sem necessidade de grandes investimentos e recursos adicionais,
para estar mais perto destes jovens. No contexto escolar é possível ter uma abordagem
pouco dispendiosa, mais realista e viável.
22
pelos princípios da escola promotora de saúde. Os enfermeiros têm um papel
fundamental, na manutenção de um desenvolvimento saudável e no apoio às famílias
através do incentivo, promoção e prestação de cuidados, sobretudo porque a escola, em
particular a escola promotora de saúde, passou a constituir um local por excelência para
trabalhar com os alunos, professores, pais e comunidade envolvente no sentido de os
capacitar para opções saudáveis.
A Direção Geral de Saúde (DGS) refere que o PNSE 2015 “é o instrumento orientador das
políticas nacionais relacionadas com a promoção da saúde em meio escolar, e resulta da
necessidade de adequar o anterior PNSE aos novos desafios inerentes à saúde da
população portuguesa atual, especialmente das crianças e jovens, e à reorganização dos
Serviços de Saúde”. O Programa Nacional de Saúde Escolar|2015 foi concebido tendo em
conta o Plano Nacional de Saúde 2012-2016 e a sua revisão e extensão a 2020, os
objetivos e estratégias da OMS para a Região Europeia, Health 2020, e os princípios das
EPS, School for Health in Europe (SHE) (DGS, 2015).
As estratégias do PNSE estão relacionadas com a melhoria da saúde das crianças e dos
jovens e da restante comunidade educativa, com propostas de atividades assentes em dois
pressupostos: a vigilância e proteção da saúde e a aquisição de conhecimentos,
capacidades e competências em promoção da saúde. No desenvolvimento destas
atividades, as equipas de SE assumem um papel chave na gestão dos determinantes da
saúde da comunidade educativa, contribuindo para a obtenção de ganhos em saúde, a
médio e longo prazo, da população portuguesa.
Eixo 1. Capacitação;
Eixo 2. Ambiente escolar e saúde;
Eixo 3. Condições de saúde;
Eixo 4. Qualidade e Inovação;
Eixo 5. Formação e investigação em Saúde Escolar;
Eixo 6. Parcerias.
Em cada eixo desenvolvem-se as áreas de intervenção e os objetivos operacionais, a que
correspondem estratégias de intervenção da SE para o quinquénio 2015-2020. Pretende-
se, neles, uma abordagem holística da Saúde na Escola ou da Escola como um Todo, que
reconheça a importância do processo educativo e da promoção da saúde na adoção de
estilos de vida saudável e uma aproximação ao modelo de intervenção das EPS nas suas
seis componentes: políticas escolares saudáveis; ambiente físico; ambiente social;
competências individuais e capacidades para a ação; parcerias; participação ativa da SE
(DGS, 2015).
Com a reforma dos Cuidados de Saúde Primários, publicada pelo Decreto-Lei nº 28/2008,
surgem as Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC), unidades que prestam cuidados
24
de saúde, apoio psicológico e social de âmbito domiciliário e comunitário. As UCC
integram programas e projetos, como o PNSE, e encontram-se em estreita articulação com
a unidade de saúde pública e restantes unidades funcionais dos agrupamentos de centros
de saúde.
25
família e comunidade (DGS, 2015).
Assim, para ser efetivo, um programa de EpS deve centrar-se em conceitos de saúde que
vão ao encontro às necessidades específicas de uma determinada população e deve
promover o envolvimento dos encarregados de educação, de forma a garantir que os
26
ensinos veiculados sejam reforçados em casa (Hockenberry & Wilson, 2014).
Na EpS, a relação que o profissional estabelece com o grupo é primordial, para garantir a
sua motivação. A capacidade de comunicar é fundamental para o estabelecimento dessa
relação, que deve ser empática, baseada no respeito pela individualidade, na privacidade,
na confidencialidade e na autonomia dos adolescentes. Além da motivação, o
envolvimento é um fator importante para a adoção de comportamentos saudáveis que
melhorem o estado de saúde, uma vez que havendo uma partilha ativa entre os
participantes há uma maior adesão (Antunes, 2008). Com o propósito de desenvolver uma
intervenção assertiva na promoção do desenvolvimento da criança e do adolescente, o
enfermeiro deve associar ao seu conhecimento o perfil de desenvolvimento do indivíduo,
uma vez que precisa de melhorar o nível de saúde, através de estratégias de EpS mais
eficazes (OE, 2010).
Segundo Castiel e Vasconcellos-Silva citado in (Júnior & al, 2013, p. 73 ), o estilo de vida
pode ser entendido como um “conjunto integrado de práticas individuais orientadas para
27
necessidades utilitárias do agir e do ser, aparentemente automáticas, relativas à
alimentação, vestuário, formas de morar e modos de deslocar-se em espaços e ambiente
diversos”. O conceito de estilo de vida abrange todos os domínios de ação e pensamento
humano (educação, recreio/lazer, nutrição, paz, justiça, trabalho, família, habitação,
higiene, segurança, alimentação, recursos económicos/ambientais, tabagismo, alcoolismo,
comportamentos de risco em relação às drogas ilícitas e às infeções sexualmente
transmissíveis) como o modo típico de viver que carateriza um indivíduo ou grupo (Brito,
Gordia, & Quadros, 2014).
Vários autores, incluindo Nahas, destacam que os maiores riscos à saúde e ao bem-estar
das populações dependem do comportamento individual às informações disponíveis, das
28 barreiras sociais e particularidades de cada grupo social (Júnior & al, 2013).
28
interpessoais em que os adolescentes vivem, proporcionando fatores positivos e
negativos. Os fatores positivos promovem a saúde e bem-estar dos indivíduos
representados por Nahas como o “Pentáculo do Bem-estar” e incluem as dimensões
Nutrição, Atividade Física, Comportamento Preventivo, Relacionamentos, Stress (Nahas,
Barros, & Francalacci, 2015).
Conforme já descrito, o Ensino Clínico foi realizado no âmbito da Saúde Escolar, campo de
ação onde o enfermeiro é elemento fulcral, nomeadamente na promoção de estilos de
vida saudáveis. A população-alvo de intervenção foram os alunos do 7º ano, através do
diagnóstico de intervenção aos ‘Estilos de Vida’ nas seguintes dimensões do instrumento
designado por FANTASTICO. O acrónimo diz respeito às seguintes dimensões:
F – Família e Amigos;
A – Atividade física / Associativismo;
N – Nutrição;
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T – Tabaco;
Á – Álcool e outras drogas;
S – Sono / Stress;
T – Tipo de personalidade / Escola;
I – Introspeção;
C – Comportamentos de Saúde;
O – Outros comportamentos.
Família e Amigos
A família e os amigos fazem parte do suporte social informal do indivíduo. O apoio social
tem sido visto como fundamental no processo de controlo de doenças, existindo dois tipos
ou fontes: a informal e a formal . A informal inclui familiares, amigos, vizinhos, grupos sociais
(e.g., clubes, igreja), entre outros, que são passíveis de fornecer apoio nas atividades diárias
em resposta a determinados acontecimentos. As redes de suporte social formais dizem
respeito a hospitais, serviços de saúde, profissionais de saúde, entre outros que se encontram
organizadas para conceder uma assistência ou ajuda aos indivíduos que delas necessitam
(Pais-Ribeiro, 2011).
É cada vez mais aceite que a atividade física e a saúde se encontram interligadas. Segundo
dados mundiais da OMS (2010), cerca de 2 milhões de mortes ocorrem associadas à
inatividade física. Entre 10 e 16% das mortes relacionadas com casos de cancro de mama,
cancro de cólon e diabetes, bem como aproximadamente 22% da doença isquémica
cardíaca têm como principal causa a falta de atividade física.
Um estilo de vida sedentário tem vindo a enraizar-se nas sociedades desenvolvidas, com
efeito negativo ao nível da saúde, refletindo-se na taxa de mortalidade e de morbilidade
cardiovascular, bem como no risco acrescido de obesidade (Leite de Pinho, 2017).
30
A atividade física previne variadas doenças, nomeadamente cardiovasculares, metabólicas
e músculo-esqueléticas, tendo um papel crucial na prevenção da osteoporose, obesidade,
alguns tipos de cancro e depressão (Coelho & Burini, 2009).
Os benefícios da atividade física na saúde estão para além dos físicos, pois compreende-se
que outros domínios acabam por ser beneficiados, nomeadamente o afetivo, o social e o
cognitivo (Bailey, 2006), reforçando-se, aqui, a importância do associativismo enquanto
fator que promove maior interação, envolvimento e participação. O Center for Desease
Control (U.S. Department of Health and Human Services [CDC], 2018), sugere que o
exercício físico associado a uma alimentação saudável potencia a esperança de vida, a QdV
e reduz o risco de variadas doenças crónicas, com especial impacto ao nível económico, na
medida em que reduz os custos para a saúde.
Nutrição
31
seguem um regime alimentar incorreto, prejudicial para um correto crescimento,
originado por uma ingestão deficiente de frutas, produtos hortícolas, leguminosas e
laticínios, ricos em ferro, cálcio, vitamina A, fibras, entre outros. Os hábitos alimentares
inadequados podem constituir fatores de risco para a obesidade e outras doenças
crónicas, nomeadamente a aterosclerose, a diabetes, as doenças cardiovasculares e
cancro.
A Direção Geral de Saúde refere que mais de 50% da população mundial será obesa em
2025, se a intervenção não for feita, já que ela é considerada uma epidemia do século XXI,
devido a estilos de vida sedentários.
Tabaco
32
Álcool e Drogas
Todavia, a par dos benefícios de consumo moderado de vinho tinto em certos grupos da
população, o consumo de álcool possui efeitos nefastos para a saúde, quando ingerido em
quantidades excessivas (Pinho, Rodrigues, Franchini, & Graça, 2016).
Neste sentido, o consumo excessivo de álcool é identificado como fator responsável por
diversas doenças de foro neuropsiquiátrico (e.g., perturbações depressivas, perturbações
da ansiedade e esquizofrenia), gastrointestinal (e.g., cirrose hepática e pancreatite),
cardiovascular (e.g., hipertensão, doença isquémica do coração), bem como diversas
doenças oncológicas (Huang, Kornfield, Szczypka & Emery, 2014).
A prevenção destes consumos, em meio escolar, é mais efetiva, quanto maior for a
abordagem global, devendo envolver toda a comunidade educativa, e deve promover
relações positivas e um clima de escola favorável. Os fatores de risco e de proteção, de
natureza biológica, psicológica e social, internos ou externos aos indivíduos, atravessam os
33
vários domínios da vida e aumentam ou reduzem o potencial de consumo de substâncias
psicoativas e de comportamentos aditivos. Por isso, é fundamental priorizar intervenções
com caráter de continuidade, pedagogicamente adequadas ao nível de ensino e baseadas
na evidência científica
Sono e Stress
O sono faz parte do ritmo biológico e cobre cerca de um terço da vida dos seres humanos,
sendo responsável pela restauração do corpo e da mente, pelo que é importante (ao nível
da quantidade e qualidade) para que as diversas atividades diárias possam ser realizadas
(Hill, Hogan, & Karmiloff-Smith, 2007).
Todos os indivíduos possuem uma duração de sono pessoal, estando esta associada a
fatores genéticos e podendo variar entre um mínimo de três a um máximo de dezasseis
horas. Sabe-se que um indivíduo dormiu o suficiente se acordar descansado e não tiver
vontade de dormir durante o dia, permanecendo em alerta (Júnior & al, 2013).
Assim, embora seja adequado dormir, para a maioria das pessoas, entre 7 e 8 horas por
noite, é comum encontrar necessidades que variam entre 4 e 10 horas (Ambrósio & Geib,
2008). Por outro lado, há indivíduos que necessitam de dormir entre 4 e 5 horas para se
manterem produtivos e ativos, designados de short-sleepers, enquanto outros necessitam
de dormir pelo menos 9 horas para fazerem a sua vida normal, designados de long-
sleepers (Rente & Pimentel, 2004).
34
Os fatores ambientais, como a temperatura, o ruído e a luz são igualmente tidos como
influenciadores do sono (Okamoto-Mizuno & Mizuno, 2012).
O trabalho é visto como um fator protetor para a saúde, todavia, poderá ser um fator de
risco, nomeadamente quando se encontra associado a condições precárias (Haisch &
Meyers, 2004). Neste sentido, se há indivíduos que pensam em deixar o seu trabalho,
outros permanecem no mesmo, sendo que a sua produtividade pode ficar aquém do real
potencial que têm para dar, ocasionando problemas ao nível da qualidade do trabalho que
desenvolvem (Cumbe, 2010).
35
outras áreas de saber. A saúde mental, à luz da evidência científica atual, surge como área
prioritária de intervenção em meio escolar e traduzir-se-á em mais qualidade quanto
maior for a interação entre a criança ou jovem, a família, a escola e o meio sociocultural
em que se encontram inseridas/os. Em Portugal, o PNSE, considera prioritária, a promoção
da saúde mental, através do desenvolvimento de competências pessoais e sociais,
aumento da resiliência, promoção da autoestima e autonomia, com vista à prevenção de
comportamentos de risco. “A efetividade das intervenções de promoção da saúde mental
na escola revela-se na melhoria da ligação entre esta, a família e a comunidade, na
redução do abandono, do insucesso e dos comportamentos violentos em meio escolar,
com repercussões nos resultados académicos e nos ganhos em saúde da comunidade
educativa.” (DGS, 2016, pg. 13)
Introspeção
Comportamento Saúde
Os comportamentos saúde, são um outro aspeto da saúde e dos estilos de vida, uma vez
que a estes se encontram associados determinados comportamentos de risco que podem
perigar a saúde (Silva, 2008).
Por comportamentos aditivos sem substância (jogo, internet e outros) entende-se toda a
conduta repetitiva que produz prazer e alívio tensional, sobretudo nas suas primeiras
36
etapas, e que leva a uma perda de controlo da mesma, perturbando severamente a vida
quotidiana, a nível familiar, laboral ou social, que pode acentuar-se no tempo e conduzir a
uma dependência.” (Pereira, Cunha, 2017). A boa utilização das Tecnologias de Informação
e Comunicação (TIC) em contexto escolar pode ser uma oportunidade para inovar e
capacitar a comunidade educativa, mas o inverso torna-os mais expostos a adições,
provocações (cyber-bullying), intimidações e assédio e eventuais consequências,
imprevisíveis, de um ‘marco digital’ que pode ser explorado indevidamente.
A promoção da saúde é, assim, tarefa dos agentes nos diversos contextos de relação e de
crescimento que o indivíduo «habita», de que se podem destacar a Família e a Escola, mas
que implica necessariamente toda a comunidade onde se destaca a SE.
Outros comportamentos que se associam aos estilos de vida saudáveis passam pela
segurança e proteção. Os acidentes rodoviários são um dos problemas de saúde pública
mais preocupantes nos países ocidentais devido à magnitude do problema e ao facto de
afetar uma grande proporção de pessoas em todas as idades, nomeadamente as mais
jovens (Sáenz González & Mirón-Canelo, 2008).
Estima-se que, no mundo, todos os anos existam mais de 750 000 mortes e mais de 20
milhões de feridos devido a acidentes rodoviários, sendo que 10 milhões padecem de
incapacidades permanentes. Reconhece-se uma importância crescente conferida às
medidas de prevenção de acidentes, bem como de promoção da educação para a saúde,
na modificação de comportamentos que possam reforçar a segurança e a prevenção de
acidentes. Estas medidas estão igualmente alinhadas com as competências específicas do
37
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária (EEEC) e dos seus diversos níveis de
ação na promoção da saúde ao indivíduo, grupos e comunidade.
3. MAIEC
4. Metodologia
4.1. Planeamento em saúde
4.2. Diagnóstico de situação
4.3. Pertinência do estudo
4.4. Finalidade do estudo
4.5. Seleção do público-alvo
4.6. Instrumentos de recolha de dado
4.6.1. Descrição da recolha de dados
4.6.2. Variáveis
4.6.3. Análise dos resultados
5. Conclusão
38
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Anexos
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Anexo 1 – Projeto
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