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Aulas Práticas - Direito da Familia e dos Menores

Direito da Família e Menores (Universidade de Coimbra)

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Aulas Práticas 2ª Turma - P1 – Direito da Família e dos Menores

Prof. Dr.ª Paula Távora Vítor

19/10/2020

Sumário:

• Estabelecimento da filiação. Princípios gerais.


• Estabelecimento da maternidade.
Email: paulavit@fd.uc.pt

Estabelecimento da filiação – falamos simultaneamente em estabelecimento da


maternidade e da paternidade
Como se vão estabelecer os vínculos de filiação, de que modo e com que critérios vamos
efetivar o facto de termos um nome na nossa linha de maternidade e de paternidade.
A reforma de 1977 do código civil, visou adaptar as normas deste código civil aos
princípios da constituição de 1976. O direito da família, em particular, foi o livro mais
afetado de forma mais profunda pela reforma de 1977, principalmente, porque tiveram
de se adaptar as regras que existiam que tinham por base uma definição de família
diferente, ao princípio da igualdade.
Princípios estruturantes do sistema do estabelecimento da filiação português

• Princípio da verdade biológica: o sistema visa (tendencialmente) uma


correspondência fiel entre o vínculo biológico e o vínculo jurídico. Criar meios
para fazer corresponder os vínculos jurídicos aos vínculos biológicos. Uma visão
muito progressista em 1977, pois este princípio veio opor-se a uma ideia de que
era necessário preservar a ideia de que os filhos nascidos dentro do casamento,
eram filhos do marido.
Ex: Alemanha é mais difícil contrariar a presunção de que aquele que é o marido,
não é o pai da criança.

• Princípio da admissibilidade dos meios científicos

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Artigo 1801.º
(Exames de sangue e outros métodos científicos)

Nas acções relativas à filiação são admitidos como meios de prova os exames de sangue e quaisquer outros métodos
cientificamente comprovados.

Foi introduzida a possibilidade de apresentar outros meios de prova, no âmbito do


estabelecimento da paternidade em 1977.
→Direitos inerentes ao estabelecimento da filiação:

• Direito à integridade pessoal – art. 25º/1 da CRP (direito ao nome)


• Direito à historicidade pessoal – direito a conhecer a identidade dos meus
progenitores
• Direito ao livre desenvolvimento da personalidade – importante no
estabelecimento de filiação de crianças e jovens
• Art.36º CRP – direito a constituir família – todos temos direito a ver reconhecidos
juridicamente, os vínculos de parentesco.
Este direito a constituir família, tem sido invocado por parte de quem quer recorrer às
técnicas de procriação medicamente assistida, isto é, da perspetiva de quem quer obter
por esse meio a descendência.
→Princípios fundamentais:

• Princípio da igualdade e reforma de 1977 – foi importante adaptar o código civil


ao pr. da igualdade, tendo uma importância essencial ao acabar com uma
discriminação anterior entre filhos nascidos dentro e fora do casamento.
Eliminou-se qualquer referência aos filhos ilegítimos. A lei não pode dificultar o
estabelecimento da filiação dos filhos nascidos fora do casamento. →Art. 13º
da CRP e art.
• Princípio da proteção da infância
• Princípio da taxatividade dos meios de estabelecimento da filiação – quer
quanto à paternidade ou maternidade, apenas podemos ver estes vínculos
estabelecidos através dos meios estabelecidos na lei. Não é possível estabelecer
estes vínculos através de outros meios, ou seja, significa que não podemos ter
acordos privados, no sentido de estabelecer estes vínculos.

→Efeitos da filiação: Poder-dever das responsabilidades parentais, dos pais sobre os


filhos
Estabelecimento da Maternidade:
Art.1796º do CC – Relativamente à mãe a filiação estabelece-se /resulta do facto do
nascimento – modelo biologista – mãe é quem tem o parto.
Critério tradicional e dominante – critério biologista – mãe é quem tem parto

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Com o recurso à procriação medicamente assistida, surge a possibilidade de ter escrito


como nome da mãe, quem não teve o parto.
Art. 14º da Lei nº32/2016 –lei da procriação medicamente assistida – fala- se em
“parentalidade” e não paternidade.

Artigo 14.º
Consentimento

1 - Os beneficiários devem prestar o seu consentimento livre, esclarecido, de forma expressa e por escrito, perante
o médico responsável.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, devem os beneficiários ser previamente informados, por escrito, de
todos os benefícios e riscos conhecidos resultantes da utilização das técnicas de PMA, bem como das suas
implicações éticas, sociais e jurídicas.
3 - As informações constantes do número anterior devem constar de documento, a ser aprovado pelo Conselho
Nacional de Procriação Medicamente Assistida, através do qual os beneficiários prestam o seu consentimento.
4 - O consentimento dos beneficiários é livremente revogável por qualquer deles até ao início dos processos
terapêuticos de PMA.
5 - O disposto nos números anteriores é aplicável à gestante de substituição nas situações previstas no artigo 8.º
6 - Nas situações previstas no artigo 8.º, devem os beneficiários e a gestante de substituição ser ainda informados,
por escrito, do significado da influência da gestante de substituição no desenvolvimento embrionário e fetal.

Não há distinção entre maternidade, dentro e fora do casamento e há responsabilização


absoluta dentro do nosso sistema jurídico.
Não existindo nenhum nome na linha da maternidade, o funcionário do registo civil
remete para o tribunal, iniciando-se um processo de investigação da paternidade ou
aparece a mãe a dizer quem é o pai e determina-se o nome.
A maternidade estabelece-se no registo do nome, pelo nome da mãe ou por outro meio
autónomo de estabelecimento oficioso da maternidade, →“ação judicial de
investigação maternidade.”

Declaração de maternidade
Artigo 1803.º
(Menção da maternidade)

1. Aquele que declarar o nascimento deve, sempre que possa, identificar a mãe do registando.
2. A maternidade indicada é mencionada no registo.

Qualquer pessoa, desde que tenha capacidade de identificar a mãe, pode


fazer a identificação da mãe. Não é preciso ser maior (ter plena capacidade para o
exercício de direitos), por exemplo, uma pessoa de 16 anos bastar ter pleno
entendimento/discernimento, para identificar a sua mãe. Porém, quando a menção da
maternidade é feita por outra pessoa (que não a mãe), trata-se de uma indicação e não
de uma identificação.

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Apenas é necessário notificar a mãe, se não tiver sido ela a fazer a declaração ou o
marido, para temos a maternidade estabelecida. Ou seja, se tiver sido a mãe ou o marido
a declarar o nascimento, não é necessária a notificação da mãe.
Pode fazer-se um controlo posterior, através da impugnação da maternidade registada,
caso se julgue que a maternidade foi falsamente estabelecida.

Artigo 1807.º
(Impugnação da maternidade)

Se a maternidade estabelecida nos termos dos artigos anteriores não for a verdadeira, pode a todo o tempo
ser impugnada em juízo pela pessoa declarada como mãe, pelo registado, por quem tiver interesse moral ou
patrimonial na procedência da ação ou pelo Ministério Público.

O interesse de fazer corresponder os vínculos biológicos aos vínculos jurídicos, é


de tal forma que o direito de impugnar não caduca, sendo que é possível de exercê-lo a
todo o tempo.
Quem pode ter interesse moral ou interesse patrimonial em impugnar a maternidade?
A verdadeira mãe ou outros filhos. Por exemplo, imaginando que temos uma
maternidade falsamente estabelecida, havendo um irmão que sobrevive desta mãe, o
irmão desta pessoa pode ter interesse em impugnar a maternidade, porque poderia vir
a ser o único herdeiro se provar a falsa maternidade.
O MP também tem legitimidade, devido ao interesse público que existe em estabelecer
a filiação da criança.

26/10/2020

Mãe → é quem tem o parto, sendo que há uma responsabilização absoluta da


maternidade. Estabelecimento da maternidade por indicação ou por identificação da
mãe, em que não havia um controlo prévio relativo à veracidade de maternidade, terá
de ser feito posteriormente.
 Ação de impugnação da maternidade
Via oficiosa de averiguação da maternidade

Reconhecimento judicial
Artigo 1814.º
(Investigação de maternidade)

Quando não resulte de declaração, nos termos dos artigos anteriores, a maternidade pode ser reconhecida em acção
especialmente intentada pelo filho para esse efeito.

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Quem tem legitimidade ativa para intentar a ação é o filho, representado pelo
Ministério Público.

Artigo 1815.º
(Caso em que não é admitido o reconhecimento)

Não é admissível o reconhecimento de maternidade em contrário da que conste do registo do nascimento.

Princípio da prioridade registal: não há reconhecimento da maternidade que


seja contrário ao que consta do registo.
NOTA: Matéria no livro → Muitas das matérias deste âmbito, vão ser mais
desenvolvidas no estabelecimento da paternidade.
Ação intentada pelo filho, investigante, que vai ter o ónus da prova da filiação biológica,
isto é, o ónus da prova da maternidade. E a prova pode fazer-se, ou diretamente ou
indiretamente. A prova direta tendo em conta que o critério no estabelecimento da
maternidade é o do art. 1796º, a filiação resulta do facto do nascimento, então a prova
direta é a prova de que aquele filho nasceu daquela mãe. Tradicionalmente, significa
que tem de se fazer a prova do parto e a prova da identidade do filho.

Artigo 1816.º
(Prova da maternidade)

1. Na acção de investigação de maternidade o filho deve provar que nasceu da pretensa mãe.
2. A maternidade presume-se:
a) Quando o filho houver sido reputado e tratado como tal pela pretensa mãe e reputado como filho também pelo
público;
b) Quando exista carta ou outro escrito no qual a pretensa mãe declare inequivocamente a sua maternidade.
3. A presunção considera-se ilidida quando existam dúvidas sérias sobre a maternidade.

Prova direta → hoje, far-se-á mais facilmente através do recurso ao teste de ADN e
outros exames científicos.
Meios de prova indireta → são relevantes, porque vão funcionar presunções. Ou seja,
a partir de um facto conhecido vamos retirar esta prova relativamente à filiação
biológica.
→Duas presunções estabelecidas pela nossa lei:
1) Art.º 1816/2/a) do CC → presunção “posse de estado”, composta pelos 3
elementos enunciados: o nome, o tratus e a fama.
O filho é reputado pela própria mãe, a mãe considerando-o como filho, toda a vida
teve comportamentos de cuidado associados à maternidade e, para além disso, é
também reputado como filho pela ordem pública ( familiares, vizinhos, etc.)

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2) Art. 1816/2 b) do CC → “escrito de mãe”, pode ser ilidida à semelhança da posse


de estado, mas apenas quando existiam dúvidas sérias relativamente ao
estabelecimento da maternidade.
Prazos: Por regra, antes da maioridade e 10 anos depois da maioridade, o filho pode
intentar a ação.
Quando a mãe e casada, funciona a presunção “paters it est” – significa que temos de
ter em consideração, o marido da mãe, relativamente à qual pode funcionar o
estabelecimento da paternidade agregado ao estabelecimento da maternidade.
A impugnação da paternidade tem de ser considerada individualmente, porque o
marido pode não ser o pai do filho.
Caso Prático - maternidade:
Beatriz completou recentemente 22 anos, durante os quais sempre viveu com
Conceição, tratando-a como sua mãe.
Todavia, durante o confinamento, em abril, ao ajudar a reorganizar o quarto de
Conceição, deparou-se com uma carta, datada de 1998, em que a sua Tia Antónia, a
irmã há muito desaparecida de Conceição, escreve o seguinte: “fica com a minha filha
Beatriz e trata dela como se fosse tua filha".
Só nesse momento Beatriz tomou conhecimento da carta e do facto de não ser filha de
conceição.

Beatriz quer hoje repor a verdade acerca da sua condição. O que poderá fazer?

Resposta:
Beatriz → 22 anos
Em abril → descobre carta de 1998 → A Tia Antónia é a verdadeira mãe biológica e
não a Conceição → maternidade falsamente estabelecida
A conceição declarou que era a mãe da Beatriz, não havendo nenhum controlo
posterior.
Estabelecimento da maternidade
Estabelecimento da filiação→ Art. 1976º - relativamente à mãe, a filiação resulta do
facto do nascimento e estabelece-se nos termos dos art.s 1803º a 1825º do CC.
-Art. 1807º do CC: intentar uma ação judicial, a ação de impugnação de maternidade,
sendo que a Beatriz tem legitimidade para tal, uma vez que é registada como filha. Noa
tem de haver prova do interesse em agir. Vai intentar esta ação de impugnação da
maternidade, contra a Conceição. Mas o professor Guilherme de oliveira, considera que
este artigo aponta para a existência de uma relação trilateral do lado passivo, sendo que
devemos tratar analogamente a legitimidade passiva no âmbito das ações de
impugnação da maternidade. Esta ação pode ser intentada a todo o tempo.

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Artigo 1807.º
(Impugnação da maternidade)

Se a maternidade estabelecida nos termos dos artigos anteriores não for a verdadeira, pode a todo o tempo ser
impugnada em juízo pela pessoa declarada como mãe, pelo registado, por quem tiver interesse moral ou
patrimonial na procedência da acção ou pelo Ministério Público.

Beatriz pode intentar uma Acão de investigação da maternidade a todo o tempo,


nos termos do art.1814º do CC, ação intentada precisamente para este efeito, pela filha.
Art.1817º/1 do CC: durante toda a menoridade 10 anos após a maioridade, tendo 22
anos, está dentro do prazo.
A prova da filiação biológica pode ser direta ou indireta. Se fizer prova direta, tem de
recorrer ao ADN da conceição ou da Antónia, ou na impossibilidade de o mesmo, tem
de fazer a prova do parto e da identidade da filha, recorrendo a testemunhos de
familiares ou conhecidos que possam atestar que ela filha de Antónia.
Beatriz encontrou uma carta, sendo tal facto importante como meio de prova indireta,
uma presunção. → Art. 1816/2 b) do CC → “escrito de mãe”, pode ser uma presunção
ilidida à semelhança da posse de estado, mas apenas quando existiam dúvidas sérias
relativamente ao estabelecimento da maternidade.
 Estabelecimento da Paternidade:
1) Regras para o estabelecimento dentro do casamento
2) Regras para o estabelecimento fora do Casamento
O que importa é saber se a mãe é casada, pois é relativamente ao marido da mãe que
vai funcionar a presunção de paternidade.
NOTA: É um sistema em evolução, não só pelas modificações que vai sofrendo, mas
também pela forma como evolui o entendimento sobre o mesmo.
Dentro do casamento, considera-se que o pai é o marido da mãe. → Ou seja, a regra, é
que o filho nascido ou concebido na constância do casamento, considera-se filho do
marido da mãe.
Período legal de conceção – art.1798º do CC

Artigo 1798.º
(Concepção)

O momento da conceção do filho é fixado, para os efeitos legais, dentro dos primeiros cento e vinte
dias dos trezentos que precederam o seu nascimento, salvas as exceções dos artigos seguintes.

180- 300 dias →Diferença entre o período de gestação mais longo e o período de
gestação mais curto. → poderá ter sido concebido

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Ex: a maria nasce no dia 1 de janeiro de 2020 → período legal de conceção da maria →
7 de março a dia 5 de julho de 2019, pode ter sido conferida em qualquer um destes
momentos, porque vigora a regra da indivisibilidade, ou seja, todos os dias vão ser
considerados como equivalentes da conceção.

Estabelecimento da paternidade dentro do casamento:


Art.1826º/1 CC →Presunção “Pater is est” → O pai é aquele que é casado com a mãe,
o pai é o marido da mãe.
“presume-se que o filho nascido ou concebido na constância do casamento da mãe tem
como pai o marido da mãe”. → presunção legal como meio autónomo de
estabelecimento da paternidade
Ideia de verdade biológica → hoje, efetivamente, há uma probabilidade muito grande
do marido da mãe ser o pai biológico do filho.
O filho pode ter nascido na constância do casamento, mas pode ter nascido depois do
fim do casamento.
Há possibilidade de impedir que se dê o funcionamento desta presunção, porque apesar
de haver uma menção obrigatória desta paternidade, há exceções que vão libertar o
funcionário de fazer esta menção.
Situações de cessação da presunção: arts. 1828º, 1829º e 1832º
No fundo, estes 3 casos, são casos em que o legislador considerou que não era razoável
que apesar da mãe ser casada, o marido fosse o pai do filho.
Situações em que há filhos concebidos antes do casamento, pode haver uma declaração
dos pais.
Filhos concebidos depois de finda a coabitação, não vai ser razoável presumir que o pai
é o marido da mãe.
Art.1832º CC - mera declaração da mãe, a mulher casada pode registar o filho, com a
indicação que o marido não é o pai do filho.
Paternidade falsamente estabelecida – situação diferente da cessação. A presunção
funcionou, mas queremos saber então como é que vamos reagir, porque se há uma
paternidade falsa, esta tem de ser prova.
Ação de impugnação da presunção da paternidade - Art.1839º do CC

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Artigo 1839.º
(Fundamento e legitimidade)

1. A paternidade do filho pode ser impugnada pelo marido da mãe, por esta, pelo filho ou, nos termos do artigo
1841.º, pelo Ministério Público.
2. Na cão o autor deve provar que, de acordo com as circunstâncias, a paternidade do marido da mãe é
manifestamente improvável.
3. Não é permitida a impugnação de paternidade com fundamento em inseminação artificial ao cônjuge que nela
consentiu.

Artigo 1841.º
(Acção do Ministério Público)

1. A acção de impugnação de paternidade pode ser proposta pelo Ministério Público a requerimento de quem se
declarar pai do filho, se for reconhecida pelo tribunal a viabilidade do pedido.
2. O requerimento deve ser dirigido ao tribunal no prazo de sessenta dias a contar da data em que a paternidade do
marido da mãe conste do registo.
3. O tribunal procederá às diligências necessárias para averiguar a viabilidade da acção, depois de ouvir, sempre
que possível, a mãe e o marido.
4. Se concluir pela viabilidade da acção, o tribunal ordenará a remessa do processo ao agente do Ministério Público
junto do tribunal competente para a acção de impugnação.

1841º/1 CC → trata-se de apagar o nome que consta da linha da paternidade


Há aqui, no fundo, um filtro, não se impede a ação, mas faz-se com que esta passe pelo
Ministério Público, que vai averiguar a seriedade da invocação de que se é o pai do filho.
Na ação o autor tem de provar que a paternidade do marido é manifestamente
improvável.
Os prazos para o fazer têm sido objeto de muita discussão por parte da nossa
jurisprudência. → art.1842/1 CC

ARTIGO 1842.º
(Prazos)

1 - A acção de impugnação de paternidade pode ser intentada:


a) Pelo marido, no prazo de três anos contados desde que teve conhecimento de circunstâncias de que possa
concluir-se a sua não paternidade;
b) Pela mãe, dentro dos três anos posteriores ao nascimento;
c) Pelo filho, até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou posteriormente,
dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir-se não
ser filho do marido da mãe.
2 - Se o registo for omisso quanto à maternidade, os prazos a que se referem as alíneas a) e c) do número anterior
contam-se a partir do estabelecimento da maternidade.

NOTA: A posição a favor da inconstitucionalidade destes prazos tem recibo muito apoio,
por parte da doutrina e algum apoio do ponto vista judicial.

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2/11/2020

Caso prático 1
Daniel, de 27 anos, é casado com Eduarda e tem um filho de poucos meses, o Gonçalo.
Daniel sempre soube quem era o pai, Francisco, com quem manteve uma excelente
relação ao longo da vida, mas relativamente ao qual a paternidade nunca se estabeleceu
juridicamente. O Francisco sempre foi uma figura de referência na vida de Daniel.
Ajudou no pagamento dos seus estudos e esteve sempre presente nas ocasiões mais
importante da sua vida, tratando-o como um filho diante de todo o círculo próximo de
amigos e mesmo perante os seus próprios irmãos. Ajudou-o a pagar a casa, como dizia,
“para compensar”, já que nada fez para reconhecer a paternidade apenas para não
magoar a sua mulher. Francisco faleceu no passado mês de abril. Imediatamente Daniel
acionou os meios disponíveis para estabelecer a paternidade, mas acabou por falecer
na semana passada. Quid iuris?
Resolução:

Art.º1840 CC

3 Vias, que na verdade são 2:

• Ação de investigação
• Ação de averiguação oficiosa perfilhação ou Acão de investigação

A Perfilhação é forma mais comum de estabelecer a paternidade fora do


casamento manifestação da parte daquele que se apresenta como progenitor,
que acaba por ter um efeito retroativo ao nascimento do filho, e uma declaração
de ciência, não é uma declaração de vontade.

Ana é casada com o bernardo desde 2012, continua casada em 2020

Como se vai estabelecer a filiação relativamente ao Duarte, que nasce em 2020 da mãe
casada, mas na verdade não é filho biológico do marido da mãe.
Tópicos de resolução:
Princípio da taxatividade dos meios de estabelecimento da filiação
O estabelecimento da paternidade pode ser dentro ou fora do casamento, sendo
inscrito na linha da maternidade da Ana, que é casada, funcionaria a presunção “patter
its est”.
- Presunção “patter its est”:

• presunção que considera filho do marido da mãe, o filho que nasce dentro do
casamento. Mas esta presunção é ilidível.

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• Ocorre quando o filho é nascido ou concebido na constância do casamento, o


filho tanto nasceu como na constância do casamento e também foi concebido
nessa altura.
• Mas sabemos, que este é um dos casos em que no há coincidência da verdade
biológica com a verdade do registo.

Ação de impugnação da paternidade – pode ser impugnada a paternidade, se funcionar


a presunção efetivamente.
Podemos estar perante uma situação de cessação, isto é, não chega a funcionar a
presunção de paternidade.
Art.1829º CC- cessa a presunção da paternidade;
Art.1832/1 CC – temos a cessação da presunção da paternidade e não chega a ser
inscrito o nome do Bernardo na linha da paternidade, esta fica em branco.
Pode ser feito um reconhecimento voluntario, sendo que Carlos pode perfilhar através
de um ato pessoal, livre puro e simples e irrevogável, nos termos do art.1858 do CC.
A perfilhação pode ser feita a todo o tempo, nos termos do art. 1854º do CC.
Carlos pode fazer a perfilhação, por declaração prestada perante funcionário do registo
civil.
Art.1817º do CC

• Hoje a ação de investigação da paternidade está sujeita a prazos, não pode ser
intentada a todo o tempo.
• No passado os prazos já foram mais exigentes.
• A maioria da doutrina e a jurisprudência consideram estes prazos
inconstitucionais.
• Interpretação no sentido do aproveitamento dos prazos que são abertos pelo
art.1817. 3 anos apos o afastamento do registo inibitório, 3 anos apos
circunstâncias que possibilitam ou justificam a ação de investigação da
paternidade.
2ª parte do caso prático:

• Paternidade que não corresponde à verdade biológica.


• Está o nome do bernardo na linha da paternidade.
• A prova terá de ser feita pelo Duarte, filho, que vai intentar a ação, embora
representado pela mãe. Prova direta ou presunção da convivência entre a mãe
e o Carlos, durante todo o período legal de conceção.

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9/11/2020

Caso prático 1

Arlindo, um empenhado ativista em causas humanitárias, conheceu Eunice em maio de


2018 e, em janeiro de 2019, celebraram casamento.

Em maio de 2020, Arlindo descobriu que:

a) durante o ano de 2017, Eunice fez parte de uma organização de cariz xenófobo, a
Anónima X, que divulgava nas redes sociais informações falsas acerca de várias
personalidades públicas, com pretensões políticas. Não chegou a ser condenada pela
prática de crime, mas, em juízo, ficou provado o seu envolvimento ativo com tais ideais.

b) Eunice já tinha sido anteriormente casada.

Hoje, Arlindo alega que, se tivesse sabido de tal situação, nunca teria casado com Eunice
e pretende anular o seu casamento. Poderá fazê-lo?

Resolução:
Arlindo podia extinguir o casamento por dissolução (divórcio) ou por morte.
A extinção da relação matrimonial por invalidade, isto é, a declaração de nulidade do
casamento, pode ocorrer no casamento católico. Mas, quanto ao casamento civil, este
só pode ser extinto por anulação.
No caso, Arlindo pretende anular o casamento civil, sendo que para tal, tem de intentar
uma ação de anulação, nos termos do art.º. 1632º do CC.
Segundo o art.º. 1636º do CC, estamos perante uma situação de erro que vicia a
vontade, sendo que se verifica um erro relativamente à pessoa do próprio e ainda se
verificam as qualidades essenciais da pessoa do outro cônjuge, sendo este um conceito
indeterminado, que em abstrato traduz que são qualidades que determinam o
comportamento da pessoa. Por exemplo, a existência de uma doença contagiosa, o
estado civil, etc.
Acresce que tratasse de um erro próprio, que não pode recair sobre outro requisito legal
de validade ou existência.
Descobriu que Eunice já tinha sido casada, mas já não é, mas ainda assim é uma
qualidade essencial, o estado civil que, por si, é requisito de validade do casamento.
Art.1601º/ c) CC - Se Eunice estivesse ainda casada, o erro não seria próprio.
O erro próprio, desculpável e, sem ele, razoavelmente o casamento não teria sido
celebrado, nos termos do art. 1636º do CC.

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• Legitimidade – Art.1641º CC
• Cônjuge vítima do erro – Arlindo
• Prazo -- 1644º CC
• 6 meses após a cessação o do vicio – maio de 2020 até Novembro de 2020
• A anulação tem efeitos ex tunc – para o passado
União de facto – a funcionar como exceção, vai poder preservar todos ou alguns efeitos
do casamento, até ao trânsito em julgado da sentença. A anulação só tem efeitos ex
nunc, para o futuro.
Art.1647º CC
Art.1630º CC
1º requisito – a existência do casamento

16/11/2020

Casamento putativo vale tanto para os casamentos civis anulados como para os
casamentos católicos declarados nulos.
Art.º 1648º CC - conceito de boa fé para estes efeitos
Acordo sobre as responsabilidades parentais, porque temos um filho menor
Tem de averiguar se esta acautelado o superior interesse da criaca / não acautelava
devidamente os interesses do filho francisco.
→Têm de celebrar 3 acordos:

• Acordo sobre o destino da casa de morada de familia


• Acordo sobre os animais de companhia
• Acordo sobre a casa de morada de família
O destino da casa de morada de família e a prestação de alimentos, não
seguem as mesmas formas de processo. O juiz fixa estas consequências, porque no
divorcio sem consentimento também tem de ser fixadas.
Resolução:
Via judicial a ser seguida, quando tendo sido requerido na conservatória do registo civil
mas algum dos acordos não tiver sido feito, segue o divorcio por mutuo consentimento
judicial, para o tribunal.

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23/11/2020

Caso prático – aula anterior


Regra quanto à legitimidade – art.1785º CC
Divorcio sem consentimento – art.1781º/d) CC -causa de divórcio, que deverá
demonstrar uma rotura definitiva. O Duarte pode requerer o divorcio no tribunal,
tratando-se de uma causa unilateral de divórcio. Pode haver uma tentativa de
conciliação, para obter um acordo e eventualmente para passar a um divorcio por
mutuo consentimento.
2. A Emília, alegando não ter rendimentos, vem requerer prestação de alimentos.
Estamos perante uma situação, em que a sentença de divórcio vai produzir efeitos ex
nunc. É importante determinar a data em que se produzem efeitos do divórcio.
Em primeiro lugar, levanta-se a questão de prestação de alimentos.
Art.1675º CC- dever de assistência durante o casamento, mas havendo separação de
facto transfigura-se num dever de prestação de alimentos.
1675/3 CC – devido ao facto de já não existir culpa no divorcio como fundamento,
portanto, no âmbito de uma separação de facto poderemos ter uma situação em que o
cônjuge que tem mais possibilidades tem o dever de prestar alimentos aquele que tem
menos.
A obrigação de alimentos pós conjugal foi reconfigurada em 2008, sendo que hoje parte
de um princípio de autossubsistência, sendo que depois do divórcio cada cônjuge terá
de ser autossuficiente. ( CEFL)
No fundo, resulta da própria logica de alimentos, sendo que só tem necessidade de
alimentos quem não tem meios para subsistir sem a pensão de alimentos.
Portanto, é necessário avaliar se efetivamente a Emília conseguiria subsistir com os seus
próprios meios, não só alimentos mas também o seu património, que eventualmente
poderá ser alienado para fazer face às despesas de alimentos.
2 requisitos:
1) Necessidades de um – Emília
2) Recursos do outro - Duarte
Ainda que a Emília tenha necessidade e Duarte tenha meios para lhe prover
subsistência, sendo que por razões de manifesta equidade, a pensão de alimentos pode
ser recusada, nos termos do art. 1675º nº3 do CC. Ex: caso de violência doméstica, é
evidente que a vitima não venha a prover alimentos ao seu agressor, ainda que este
tenha manifesta necessidade.

• Art.2003º CC – alimentos – habitação, alimentação e vestuário

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Não há o direito de manter o padrão de vida do casamento.

• Art.2016º A – não há aqui uma remissão para o regime geral, há uma enunciação
de um elenco de fatores que têm de ser tidos em conta, no momento do divórcio,
que irão determinar a medida dos alimentos.
No nosso caso, se a Emília tiver direito a alimentos, a medida será mínima, isto é, a
obrigação de alimentos será apenas para o mínimo e o indispensável. Tendo em conta
a avaliação de todos os fatores do art.2016º A do CC, não havendo o direito a manter o
padrão de vida do casamento, sendo que não é relevante determinar o padrão de vida
durante o casamento para determinar o direito a alimentos.
O Duarte poderá ter sucesso na sua pretensão, havendo a possibilidade de que o
cônjuge que não é o seu proprietário, poderá continuar a habitar a casa de morada de
família.
3.O tribunal pode dar de arrendamento a casa de morada de familia, a qualquer um dos
cônjuges. Trata-se de um bem próprio de Emília, considerando as necessidades de cada
um dos cônjuges e do filho do casal, por isso, o tribunal pode dar de arrendamento a
casa de morada familia a Duarte, nos termos do art. 1793º do CC.
4. Emília pede indemnização por danos morais, na própria ação de divórcio.

• Art.1792º/1 CC- não se refere aos danos não patrimoniais causados no divórcio.
• Art.1791º/2 CC - o divórcio tinha de ter sido requerido com fundamento na
alteração das faculdades mentais da Emília, nos termos do art. 1781º/ b) do CC.
Posição do Curso: estamos perante situações que não respondem ao ilícito familiar, não
estão aqui suscitados a violação de deveres conjugais ou danos causados pelo
casamento, firma-se a ideia de que não há uma unidade entre os cônjuges. Na prática,
as ações de responsabilidade civil contra um dos cônjuges, não tem procedência.
Assim, no caso, partimos do princípio de que Emília não terá sucesso na sua pretensão.

Caso Prático – Efeitos do divórcio

Constança e Jorge casaram em julho de 2004, tendo escolhido como regime de bens o
regime da comunhão geral. Nessa altura, Constança tinha perdido já os seus pais e tinha
recebido uma avultada herança, que consistia em vários imóveis na cidade de Braga.
Jorge nada levara para o casamento. Constança resolvera adotar também os apelidos
de Jorge, Plympton de Azeredo, que adicionou ao seu nome.

Na altura, Constança tinha iniciado já a sua carreira como Procuradora do Ministério


Público. Dois anos depois do casamento, Jorge, diplomata, fora colocado na Embaixada
de Portugal em Bangkok. Nesse momento, Jorge e Constança acordam que a melhor
solução para a família será Constança abandonar o exercício da sua profissão, para
poder deslocar-se com Jorge para a distintas localizações à volta do globo que este teria
adotar no seu cargo, permitindo assim que a sua família se mantivesse unida, o que

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acabou por acontecer Constança assumiu, assim, o encargo da educação dos seus filhos
(na altura dois, mas viriam a nascer quatro). Este encargo viria a revelar-se
particularmente pesado, uma vez que um dos filhos do casal nascera com uma doença
muito grave que exigia cuidados permanentes. Ainda assim, antes do nascimento deste,
Constança conseguiu dedicar-se à escrita, tendo publicado um romance histórico, sob o
seu nome de casada, que atingiu um considerável sucesso nacional.

Hoje, Constança pretende pôr fim à sua relação matrimonial, alegando que, ao longo
dos anos, tem sido vítima de violência física e psicológica por parte de Jorge.

1. Como se fará a partilha?


2. Constança pretende obter uma compensação pelos prejuízos patrimoniais que
sofreu em virtude da sua desistência da vida profissional. Terá fundamento para
tal?
3. Constança pretende ainda continuar a identificar-se com os apelidos de Jorge,
uma vez que estão incindivelmente ligados ao seu sucesso como escritora, papel
a que pretende agora dedicar-se. Poderá fazê-lo?

Resposta:
Estamos perante um divórcio sem consentimento - art.1781º/d) CC
1.
As relações matrimonias entre os cônjuges, estabelecem-se através do regime de bens.
Se não escolherem, considera-se como regime supletivo de bens, a comunhão de
adquiridos.
No caso, o casamento foi celebrado no regime da comunhão geral de bens, sendo que
estes bens trazidos por Constança, seriam divididos por igual, nos termos do art.1720º
do CC, sendo que cada um deverá receber metade.
Art.1790º CC- nenhum dos cônjuges, pode em caso de divórcio receber mais do que se
o casamento tivesse sido celebrado na comunhão de adquiridos.
Antes de 2008, poderia haver a declaração de culpa de um dos cônjuges, sendo que no
artigo 1790, o cônjuge considerado culpado não poderia receber mais do que aquilo que
receberia se o casamento fosse celebrado na comunhão de bens. Em 2008, acaba a
declaração de culpa e a possibilidade de associar consequências negativas a essa culpa.
O casamento não pode ser visto como um seguro de vida, nem como um meio de
enriquecer, sendo que nenhum deles pode receber mais do que receberia ao abrigo da
comunhão de adquiridos, partindo-se do princípio que aquilo que integra o casamento,
é aquilo que resulta do produto do esforço comum dos cônjuges, na constância do
casamento. Deste modo, os bens trazidos por Constança para o casamento, em caso de
divórcio, não vão ser objeto de partilha.

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Art.1676º/2 CC – se a contribuição de um dos cônjuges for superior a medida de


proporcionalidade, porque renunciou à sua vida profissional em detrimento da vida
matrimonial, tem direito a uma compensação, havendo um direito compensatório.
Lógica da responsabilidade civil – doutrina de Paula Vítor
Outros autores entendem ser enriquecimento sem causa
Tendo em conta, esta lógica de responsabilidade civil, temos no caso uma contribuição
para os encargos da vida familiar consideravelmente superior aos parâmetros de
proporcionalidade definidos no art. 1676º/1 do CC.
Nestas circunstâncias, no caso, haveria lugar a uma compensação para Constança, pois
foi uma decisão de ambos no interesse da vida comum, mas não poderia ser uma
decisão unilateral havendo um filho com doença grave, necessita sempre de
acompanhamento especial.
2.
Pode ser mantido o apelido pelo tribunal, ou com o consentimento do outro cônjuge,
tendo em conta que Constança utiliza esse apelido profissionalmente., no âmbito do art.
1677º- B e 1677º C do CC.

14/12/2020

Caso Prático 1

Carlos e Mariana vivem juntos, como casal, desde 2010, e são pais de Maria, de 13 anos.

1. Para regular a sua relação, celebraram um contrato segundo o qual:

a) Ficam reciprocamente vinculados a um dever de fidelidade.

b) Os bens móveis adquiridos na constância da sua união seriam considerados bens


pertencentes a Carlos e Mariana em compropriedade.

c) Carlos, por meio de mandato, concede a Mariana poderes para administrar os valores
que este investira na Bolsa.

Poderiam fazê-lo?

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Resposta:
União de facto:
Desde 1999, a relação de união de facto é regulada em Portugal, posteriormente,
substituída pela Lei 7/2001. Em 2001, quando esta lei foi publicada, só havia uma
referência genérica no artigo 1º ao conceito de união de facto.
Na verdade, a doutrina passou a utilizar uma expressão que agora é acolhida na Lei,
desde 2010, no artigo 1º. Vive em união de facto, quem vive em condições análogas às
dos cônjuges há mais de 2 anos.
Vive em condições análogas aos cônjuges, quem vive em comunhão de leito, mesa e
habitação.
Partindo do princípio, que Carlos e Mariana vivem numa comunhão de leito, mesa e
habitação o que cria uma aparência externa de casamento, porém, não se extraem
todos os efeitos por si só, associados à figura da união de facto.
Condições de eficácia:

• Uma delas resulta da Lei, no artigo 1º nº2 da Lei da união de facto, sendo que
para se associarem efeitos à união de facto é necessário terem decorrido pelo
menos 2 anos, para que haja um mínimo de densidade nesta materialidade. Não
é necessário que haja diversidade de género nesta realidade.
• Não estar perante situações em que configurem, na verdade, impedimentos
dirimentes ao casamento.
→Exceções do art.2º da Lei:

• idade superior a 18 anos;


• situações de demência notória;
• acompanhamento de maior, quando se estabelecer na sentença este
impedimento;
• casamento não dissolvido, salvo a separação de pessoas e bens.
• Situações de incesto ou equiparáveis;
• a condenação de um como autor ou cúmplice doloso do homicídio do
cônjuge do outro.

Posição da doutrina e do curso:


É admissível o contrato celebrado por Carlos e Mariana, se este for admissível à luz das
regras gerais, o que implica uma análise de cláusula a cláusula.
Alínea b) – determinam, do ponto de vista contratual, estabelecer uma presunção de
compropriedade.
Na verdade, na união de facto, não temos um regime de bens como no casamento.

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Na união de facto, aplica-se as regras gerais do direito das obrigações, não havendo um
regime de bens. Ou seja, aplica-se o art.º. 1403º do CC.
Podem estabelecer a presunção de compropriedade, desde que haja prova de facto
posteriormente, relativamente à propriedade dos bens.
Alínea c) – estabelecer por mandato a Mariana, a possibilidade de gerir valores
mobiliários de Carlos, para investir na Bolsa.
Assim, aplicando as regras dos regimes gerais dos arts. 1152º e ss, é possível estabelecer
por mandato, esta possibilidade de gerir bens.
Alínea a) – na união de facto não há deveres conjugais, portanto, estabelecer estes
deveres por contrato, seria uma abertura para criar uma instituição paralela ao
casamento, cujo status advém das regras criadas pelo legislado. Por isso, consideram-se
excluídos os deveres conjugais, da possibilidade de regular a união de facto por contrato.
Na realidade, há o dever de comunhão de mesa, leito e habitação, mas esta
exclusividade não implica o dever de fidelidade, mas sim apenas que têm de existir
apenas 2 pessoas para ser estabelecida uma união de facto.

Caso Prático 2

Analise as seguintes situações relativas ao exercício das responsabilidades parentais


quanto a Maria:

a) A pedido de Maria, uma nadadora muito promissora, Mariana inscreve-a na equipa


de natação do Benfica, pagando o ano inteiro de frequência nos treinos. Carlos,
sportinguista convicto, pretende reagir.

b) Para melhorar a sua prática desportiva, Maria, que sofre de problemas de visão,
consulta um oftalmologista. É possível melhorar a sua situação através de uma
intervenção cirúrgica relativamente à qual a comunidade médica se divide quanto à
idade a realizar. Carlos consente na realização desta operação, mas Mariana opõe-se
veementemente por considerar ser demasiado cedo.

c) No âmbito das competições na sua prática desportiva, Maria tem de se deslocar a


outras localidades e este ano a equipa irá participar nos campeonatos em Vigo. Só o pai
assina o documento que lhe permite deslocar-se ao estrangeiro. O SEF impede a saída
de Maria de Portugal.

Resposta:

Responsabilidades parentais – deveres exercidos pelos pais, em função dos interesses


dos filhos.

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A Maria está sujeita a responsabilidades parentais, porque é menor e porque é filha. O


fundamento é precisamente a relação de parentesco, sendo que as responsabilidades
parentais são o principal efeito da filiação.

Art.1877º do CC – os filhos estão sujeitos às responsabilidades parentais, até à


maioridade ou até à emancipação, por via do casamento, a partir dos 16 anos.

Em primeiro lugar, em caso de união de facto, as responsabilidades parentais exercem-


se em conjunto, quando os pais estão juntos. Mas, apesar de lermos na epigrafe do
1901º do CC, que apenas se refere aos progenitores casados, o art. 1911º do CC
equipara expressamente, os efeitos do casamento à união de facto, no que toca às
responsabilidades parentais, que se exercem nos mesmos termos. A regra, é do
exercício conjunto das responsabilidades parentais.

Art.1902º do CC – atos praticados por um dos progenitores, quando um progenitor


pratica um ato relativo ao menor sozinho, presume-se que haja de acordo com o outro.
Mas há exceções, quando a lei exija expressamente a participação dos 2 ou quando
estamos perante um ato de extrema importância.

a) inscrições em aulas de natação – temos uma situação em seria difícil dizer que
Carlos tinha fundamento para reagir. →Art.5º da Lei 7/2001, que remete para o
art.1106º do CC0. Tratava-se de uma situação que se tratava de uma das
exceções da lei, pelo que esta falta de acordo não seria oponível a terceiros, pelo
que este terceiro só se deveria recusar a praticar o ato, se fosse presumível a
falta de acordo.
b) Efetivamente, estamos perante uma situação de exercício de responsabilidades
parentais durante a união de facto, presume-se um comum acordo, mas na
verdade é uma questão de particular importância, logo aqui seria exigido o
consentimento de ambos os progenitores. Será o tribunal, em última análise a
decidir, sendo que Maria tendo 13 anos, será ouvida.
c) O SEF diz que mesmo dentro dos estados-membros, tem de haver autorização
de ambos os progenitores, sendo que por cautela, todos os progenitores
estabelecem a autorização de ambos, quando os filhos viajam.

Caso prático 3

Carlos faleceu em junho deste ano e Mariana confronta-se com o facto de não ser ela a
arrendatária da casa em que moravam e de não ter rendimentos próprios, já que deixara
de trabalhar para poder acompanhar Carlos nas suas permanentes deslocações em
negócios. Quais os direitos de Mariana?

Resposta:

Art.8º nº1/a) da Lei da união de facto – extinção da relação de união de facto

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Mariana terá de fazer prova da existência da união de facto, nos termos do art.2º-A da
Lei nº7/2001. No caso de morte, Mariana pode pedir uma declaração de junta de
freguesia que ateste que o interessado residia há mais de 2 anos com o falecido, à data
do falecimento, nos termos do art.º 2º- A nº3 da Lei 7/2001. Mas também poderia
provar por outros meios de prova.

Efeitos da união de facto – art.3º da Lei nº7/2001

Art.3ºnº1/a) – tem direito à proteção da casa de morada de família, nos termos da


presente lei.

Art.3º/1/e) – tem direito a proteção social na eventualidade de morte do beneficiário,


por aplicação do regime geral ou de regimes especiais da segurança social e da presente
lei.

Art.5º nº10 da Lei da união de facto – proteção da casa de morada de família em caso
de morte – em caso de morte do membro da união de facto arrendatário da casa de
morada de família, o membro sobrevivo beneficia da proteção prevista no art.1106º do
CC.

Não há efeitos sucessórios, porque vivia em união de facto e não era cônjuge, não era
herdeira. Herdeira seria a maria, filha de ambos e eventuais outros filhos existentes.

Se provar a sua necessidade, há uma tutela alimentar, em caso de morte da união de


facto, nos termos do art.º 2020º do CC, tendo direito a alimentos por conta da herança
do falecido, porém, este direito caduca se não for exercido nos 2 anos posteriores à
morte do autor da sucessão.

Assim, Mariana terá direito a alimentos, em função de uma equiparação crescente das
duas posições, sendo que apenas terá de provar a necessidade de alimentos.

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