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I

Recentemente, André descobriu ser pai de Xavier. Este nasceu em Fevereiro de 1991 de uma
relação que André teve com Zélia, antes de esta se casar com Valter, em Janeiro de 1991.
Sabendo que Xavier ganhou o euromilhões em 2008, morrendo logo depois num acidente de
mota, André pretende perfilhá-lo e exigir uma parte da herança. Pode fazê-lo?

RESOLUÇÃO

A perfilhação é um ato pessoal e livre, encontrando-se estabelecida no artigo 1849º do Código


Civil. Assim, a perfilhação pode ser feita a qualquer altura, mesmo que o filho ainda não tenha
nascido ou já tenha morrido. No caso, Xavier já tinha morrido e André podia perfilhá-lo, de
acordo com o artigo 1856º do Código Civil. Ainda que André tenha querido perfilhar Xavier
como forma de exigir parte da herança, o Código Civil impede que o perfilhante fosse movido
pela intenção de tirar vantagens da perfilhação. Deste modo, a perfilhação do filho pré-morto
é válida e eficaz, mas apenas se verifica em relação a descendentes do perfilhado.

Artigo 1828º - relativamente ao filho nascido dentro dos cento e oitenta dias posteriores à
celebração do casamento, cessa a presunção estabelecida no artigo 1826º se a mãe ou o
marido declararem no ato do registo do nascimento que o marido não é o pai.

Valter podia impugnar a paternidade?

Artigo 1842º - prazo para a impugnação da paternidade, logo Xavier pode impugnar, pois tem
um prazo de 3 anos que se inicia a partir do conhecimento de circunstâncias.

DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA

Artigo 1842º, número 1 – alínea c) – a ação de impugnação de paternidade pode ser intentada
pelo filho, até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou
posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento das
circunstâncias.

Há quem sustente que não é constitucional a existência de um prazo, porque o direito ao


conhecimento das origens deve sempre prevalecer. Se alguém é considerado filho de outra
pessoa, não deveria haver um prazo de impugnação, para conseguir corresponder a filiação
correspondente à verdade biológica.

Jorge Duarte Pinheiro – pode coexistir a existência de um prazo, mas distinguindo-se os


efeitos.

Se houvesse uma investigação da paternidade não se produziriam efeitos sucessórios para


garantir que não é um interesse económico, mas o interesse de ter a filiação estabelecida.

Neuza – entende que excluir os efeitos sucessórios em relação dos fins é questionável – se se
privilegia o estabelecimento da filiação devia ser suficiente na qualidade dos filhos seja
suficiente para os direitos sucessórios. Em relação ao filho, falamos de alguém que foi
prejudicado pelo não estabelecimento da filiação.

 A Neuza acha que o regime é equilibrado.


Inseminação post-mortem

A lei permite a inseminação após a morte do pai. Mas isto envolve questões éticas. Também se
colocam questões quanto à família da pessoa que morreu.

Antigamente a lei permitia a inseminação post mortem apenas em relação ao embrião para se
desenvolver no útero da mãe e resultar no nascimento de uma pessoa com vida. a alteração
recente permite a inseminação post mortem, situações em que não há embrião, mas o sémen
está recolhido e a pessoa morre no processo. A lei permite que a mulher decida, após um
processo de reflexão, se quer continuar o processo da PMA.

A lei permite a duas pessoas que têm um projeto parental definido a acautelar a subsistência
desse projeto no caso em que uma delas venha a acontecer. Isto verifica-se em situações
complicadas em que existam problemas de saúde. A lei diz que apenas tem que haver
consentimento, não necessariamente o consentimento post mortem. É necessário o
consentimento da pessoa a dizer que na eventualidade de vir a morrer durante o processo de
PMA, consente a inseminação post mortem.

A inseminação post mortem tem efeitos a nível sucessório, na medida em que a partilha não é
estável.

Neuza – diz que o filho resultante da inseminação post mortem tem direitos sucessórios.

Se duas pessoas são casadas e recorrem à PMA, o estabelecimento da filiação entre o artigo
20º e as regras do CC convergem em relaçao às mesmas pessoas: mãe é quem dá à luz e o
marido da mãe presume-se que é o pai. Mas o artigo 20º introduz uma novidade, no caso das
pessoas viverem em união de facto. Há um momento em que ambos assinam um documento
quanto ao consentimento nos termos do artigo 14º. O artigo 20º diz que a partir deste
momento, se não houver perfilhação, pode ser exibido o documento do consentimento na
conservatória do registo civil e esse documento estabelece a filiação.

Jorge Duarte Pinheiro – fala numa presunção atípica. A paternidade fica estabelecida com o
comprovativo do consentimento.

II

Amadeu e Bia casaram-se em 2003. Quatro anos depois, supondo que Bia era estéril, o casal
decidiu que seria implantado no útero desta um óvulo de Zulmira, fecundado com gâmetas de
Amadeu. Na sequência do processo, Bia deu à luz Herberto em Maio de 2008.

Quem são os pais jurídicos de Herberto?

Em Janeiro de 2009, Herberto foi batizado, por iniciativa de Amadeu, contra a vontade de Bia e
sem o conhecimento de Zulmira. Pondere esta situação.

Imagine agora que Bia tem um problema de saúde que afeta o seu útero, sendo-lhe inviável
suportar uma gravidez? Pode alguma das técnicas de PMA admissíveis em Portugal ajudar o
casal a realizar o seu projeto parental?

Exame de 14 de Dezembro de 2005/noite, adaptado


RESOLUÇÃO

Amadeu e Bia casaram-se em 2003. Neste sentido, releva o artigo 1577º, segundo o qual o
casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família
mediante uma plena comunhão de vida. Assim, o artigo 1610º dispõe que a celebração do
casamento é precedida de um processo, regulado na lei do registo civil e destinado à
verificação da inexistência de impedimentos. Por fim, o artigo 1672º refere que os cônjuges
estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação
e assistência.
Deste modo, quatro anos depois, supondo que Bia era estéril, o casal decidiu que seria
implantado no útero desta um óvulo de Zulmira, fecundado com gâmetas de Amadeu. Neste
sentido, releva o artigo 4º da Lei da Procriação Medicamente Assistida, segundo o qual o
número 1 dispõe que as técnicas de PMA são um método subsidiário, e não alterativo, de
procriação. Neste sentido, apesar do casal supor que Bia era estéril, o artigo 4º,número 2
refere que a utilização de técnicas de PMA só pode verificar-se mediante diagnóstico de
infertilidade ou ainda, sendo caso disso, para tratamento de doença grave ou do risco de
transmissão de doenças de origem genética, infeciosa ou outras. Importa ainda considerar que
Bia e Amadeu podem ser beneficiários das técnicas de PMA, na medida em que o artigo 6º,
número 1 dispõe que podem recorrer às técnicas de PMA os casais de sexo diferente ou os
casais de mulheres, respetivamente casados ou casadas ou que vivam em condições análogas
às dos cônjuges, bem como todas as mulheres, independentemente do estado civil e da
respetiva orientação sexual. Por fim, importa realçar que o artigo 6º, número 2 refere que as
técnicas só podem ser utilizadas em benefício de quem tenha, pelo menos, 18 anos de idade e
desde que não exista uma sentença de acompanhamento que vede o recurso a tais técnicas.
Neste sentido, segundo o artigo 14º, número 1, os beneficiários devem prestar o seu
consentimento livre, esclarecido, de forma expressa e por escrito, perante o médico
responsável.

No que diz respeito à utilização do óvulo de Zulmira é importante referir o artigo 10º, número
1, segundo o qual pode recorrer-se a ovócitos, espermatozoides ou embriões doados por
terceiros quando, face aos conhecimentos médico-científicos objetivamente disponíveis, não
possa obter-se gravidez ou gravidez sem doença genética grave através do recurso a qualquer
técnica que utilize os gâmetas dos beneficiários e desde que sejam asseguradas as condições
eficazes de garantir a qualidade dos gâmetas.
Posteriormente, na sequência do processo, Bia deu à luz a Herberto em maio de 2008. Desta
forma, importa saber quem são os pais jurídicos de Herberto. Neste sentido, o artigo 10º,
número 2 dispõe que os doadores não podem ser havidos como progenitores da criança que
vai nascer, logo, Zulmira não é considerada mãe jurídica de Herberto. Assim, os pais jurídicos
de Herberto são Bia e Amadeu, nos termos do artigo 20º, número 1, segundo o qual se do
recurso às técnicas de procriação medicamente assistida vier a resultar o nascimento de uma
criança, é esta também havida como filha de quem, com a pessoa beneficiária, tiver consentido
no recurso à técnica em causa, nos termos do artigo 14º.

Em janeiro de 2009, Herberto foi batizado, por iniciativa de Amadeu, contra a vontade de Bia e
sem o conhecimento de Zulmira. Deste modo, importa considerar que, sendo que Zulmira não é
juridicamente mãe de Herberto, esta não tinha que concordar com o batizado. Não obstante,
Bia é mãe de Herberto.

 Artigo 1901º, número 1 dispõe que na constância do matrimónio, o exercício das


responsabilidades parentais pertence a ambos os pais
 Artigo 1902º, número 1 – se um dos pais praticar ato que integre o exercício das
responsabilidades parentais, presume-se que age de acordo com o outro, salvo quando
a lei expressamente exija o consentimento de ambos os progenitores ou se trate de ato
de particular importância
 Artigo 1886º, número 1 - pertence aos pais decidir sobre a educação religiosa dos
filhos menores de dezasseis anos.

 Se a decisão cabe a ambos, deveria ter havido consentimento. Assim, o padre deveria
ter recusado a celebrar o batizado.

Herberto quando crescer pode conhecer Zulmira - artigo 15º, número 2 + artigo 15º, número 4

 Este regime resulta de se considerar inconstitucional que a criança não tenha


conhecimento das suas origens. As tendências recentes vão no sentido de haver o
direito ao conhecimento das origens.

Ponto fraco deste regime – só se vai colocar esta questão se houver conhecimento que
aquela pessoa foi resultado do recurso às técnicas de PMA – se os pais contarem.

Ao consagrar o direito ao conhecimento das origens, deve haver uma solução mais eficaz.

Subhipótese - Bia tem um problema de saúde que afeta o seu útero, sendo-lhe inviável
suportar uma gravidez? Pode alguma das técnicas de PMA admissíveis em Portugal ajudar o
casal a realizar o seu projeto parental?

É importante considerar o artigo 4º da Lei da Procriação Medicamente Assistida, segundo o


qual o número 1 dispõe que as técnicas de PMA são um método subsidiário, e não alterativo,
de procriação.

Deste modo, importa considerar o artigo 4º, número 1 que refere que a utilização de técnicas
de PMA só pode verificar-se mediante diagnóstico de infertilidade ou ainda, sendo caso disso,
para tratamento de doença grave ou do risco de transmissão de doenças de origem genética,
infeciosa ou outras. Importa ainda considerar que Bia e Amadeu podem ser beneficiários das
técnicas de PMA como referido anteriormente, tendo em conta o disposto no artigo 6º,
número 1.

Tendo em conta que Bia tem um problema de saúde que afeta o seu útero, sendo inviável
suportar uma gravidez, importa considerar a gestação de substituição, prevista no artigo 8º da
Lei da Procriação Medicamente Assistida. Assim, o artigo 8º, número 1 refere que se entende
por gestação de substituição qualquer situação em que a mulher se disponha a suportar uma
gravidez por conta de outrem e a entregar a criança após o parto, renunciando aos poderes e
deveres próprios da maternidade. Assim, segundo o número 2 do referido artigo, a celebração
de negócios jurídicos de gestação de substituição só é possível a título excecional e com
natureza gratuita, nos casos de ausência do útero, de lesão ou de doença deste órgão que
impeça de forma absoluta e definitiva a gravidez da mulher em situações clínicas que o
justifiquem. O artigo 8º, número 5 dispõe que é proibido qualquer tipo de pagamento ou a
doação de qualquer bem ou quantia dos beneficiários à gestante de substituição pela gestação
da criança, exceto o valor correspondente às despesas decorrentes do acompanhamento de
saúde efetivamente prestado, incluindo em transportes, desde que devidamente tituladas em
documento próprio. Por fim, o artigo 8º, número 7 dispõe que a criança que nascer através do
recurso à gestação de substituição é tida como filha dos respetivos beneficiários.
NOTAS:

A PMA não é verdadeiramente um método subsidiário, porque todas as mulheres podem


candidatar-se independentemente do diagnóstico de infertilidade.

Mulheres sozinhas – podem recorrer às técnicas de PMA independentemente da infertilidade.

Se uma mulher casada recorrer às técnicas de PMA, presume-se que a paternidade é do


marido, mas este tem que impugnar – artigo 1839º

 Incongruência entre os efeitos pessoais do casamento e o regime da lei da procriação


medicamente assistida.

Se a mãe quiser ficar com a criança

Inicialmente, existia, uma lei restritiva da gestação de substituição que veio a ser alterada,
gestação de substituição sempre foi altruísta e a gestante não se poderia arrepender, uma vez
dado o consentimento.

Este diploma foi declarado inconstitucional devido à situação do consentimento da gestante


não ser revogável até determinado tempo depois do nascimento.

Tribunal Constitucional – a gestante deve ter a possibilidade de revogar o consentimento


depois do nascimento da criança, para que não se possa ver a gestante como um instrumento
de gestação e que seria contrário à dignidade da pessoa humana.

Redação atual - artigo 8º, número 2 – a gestante pode revogar o consentimento até ao registo
da criança nascida. Não se fixou um prazo.

LIVRO MARGARIDA SILVA PEREIRA

Se a gestante se arrepender e revogar o consentimento antes do registo?

Se a lei diz que pode revogar o consentimento – então pode operar a declaração de
maternidade.

A mãe biológica é a beneficiária de PMA em dadora.

Dificuldade – estabelecer a paternidade.

A filiação fica apenas estabelecida quanto à mãe.

Se a gestante for casada, presume-se que o marido é o pai – artigo 1826º

A solução que parece fazer mais sentido, do ponto de vista sistemático, é que os pais tanto Bia
como Amadeu não ficava estabelecida como o pai. Se ficar em aberto, será que Amadeu pode
perfilhar – artigo 1849º? Se perfilhar, a paternidade não pode ser impugnada porque
corresponde à verdade.

Cada caso tem que ser autorizado pelo conselho nacional de procriação medicamente
assistida.
III

A casa com B em 1980 e têm 3 filhos, D, E e F. A pediu a B que deixe de fumar em casa porque
prejudica a saúde dos filhos, ao que B respondeu que ele também tinha direito de usar a casa.
No mês seguinte A impediu o pai de B, P, de visitar Daniel, alegando que o sogro fumava
muito. Em Março de 1996, P doou 20 mil euros a D, que tinha 14 anos, tendo excluído A da
administração da quantia. Sem consultar ninguém, B usou o dinheiro para comprar um
automóvel que registou em nome do menor.

Quid juris?

(Caso adaptado do Exame de 16/06/2006)

RESOLUÇÃO

A pediu a B que deixe de fumar em casa porque prejudica a saúde dos filhos, ao que B
respondeu que ele também tinha direito de usar a casa -artigo 1878º, número 1 – compete aos
pais, no interesse dos filhos, velar pela segurança e saúde destes, prover o seu sustento, dirigir
a sua educação, representá-los, ainda que nascituros e administrar os seus bens. – CONFLITO
ENTRE A LIBERDADE INDIVIDUAL DOS PROGENITORES E O INTERESSES DOS FILHOS –
compatibilizados na medida do possível, o interesse da criança prevalece. Se A considerasse
que estava em causa a saúde do seu filho, poderia levar a questão a tribunal e seria vista no
sentido da proteção do interesse do menor. Assim, o mais provável seria o Tribunal
considerar uma decisão que não fosse total abstenção ao pai – exemplo fumar numa divisão
em que o menor não estivesse.

A impediu o pai de B, P, de visitar Daniel, alegando que o sogro fumava muito – Artigo 1887º -
A estabelece um direito de convívio entre avós e netos em nome das relações afetivas
existentes entre certos membros da família e do auxílio entre gerações. Trata-se do direito da
criança a manter o contacto com a família, no interesse superior da criança. Assim, estamos
perante o princípio da tutela afetiva. Desde que o avó não fumasse em espaços fechados
com a criança não colocava em causa a saúde da criança.

Acórdão Tribunal da Relação de Lisboa de 08.02.2018 - incumbe ao progenitor que pretende


impedir as visitas, o ónus de prova de que este convívio é prejudicial.

Em Março de 1996, P doou 20 mil euros a D, que tinha 14 anos, tendo excluído A da
administração da quantia.

Artigo 940º, número 1 – doação é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de liberdade e
à custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume
uma obrigação, em benefício do outro contraente.

Artigo 952º - aceitação por parte de incapazes

Artigo 952º, número 1 – as pessoas que não têm capacidade para contratar não podem
aceitar doações com encargos, senão por intermédio dos seus representantes legais.

Artigo 952º, número 2 – porém, as doações puras feitas a tais pessoas produzem efeitos
independentemente de aceitação, em tudo o que aproveite aos donatários.

Neste caso, estamos perante uma doação pura, pelo que a doação de P a D produz efeitos,
independentemente da aceitação.
Excluir A da administração da quantia – Artigo 1888º, número 1, alínea c) – os pais não têm a
administração dos bens deixados ou doados ao filho com exclusão da administração dos pais.

Assim, A não tem a administração da quantia que foi doada a D por P.

Sem consultar ninguém, B usou o dinheiro para comprar um automóvel que registou em nome
do menor.

Importa considerar que B não foi excluído da administração da quantia doada a D. Todavia,
segundo o artigo 1889º existem atos cuja validade depende de autorização do tribunal. Assim,
o artigo 1889º, número 1, alínea a) dispõe que como representantes do filho não podem os
pais, sem autorização do tribunal alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de alienação
onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração. – se ao menor for deixada uma casa
ou um carro, os pais não podem vender sem consentimento do Ministério Público.

Artigo 1889º, número 2 – não é sustentável que as ofertas de capital que tenham um valor
económico substancial possam ser livremente dispostas pelos pais, podem dispor
livremente, mas não na substância dos bens. O número 2 tem que ser interpretado de forma
restrita.

O artigo refere-se, por exemplo, à situação em que os avós dão 100€ para os netos
comprarem roupa. Note-se que uma doação no valor de 20.000€ não podia ser livremente
disposta pelos pais, nomeadamente num bem de desvalorização. Os pais não deveriam ter
feito esta aplicação sem consultar o Ministério Público.

Rendimentos dos bens – os pais só podem usar se for necessário para o sustento da família.

Consequências – artigo 1893º - atos anuláveis

Artigo 1893º, número 1 – os atos praticados pelos pais em contravenção do disposto nos
artigos 1889º e 1892º são anuláveis a requerimento do filho, até um ano depois de atingir a
maioridade ou ser emancipado, ou, se ele entretanto falecer, a pedido dos seus herdeiros,
excluídos os próprios pais responsáveis, no prazo de um ano a contar da morte do filho.

Todavia, D apenas tem 14 anos.

Artigo 1893º, número 3 – a ação de anulação pode também ser intentada pelas pessoas com
legitimidade para requerer a inibição das responsabilidades parentais, contanto que o façam
no ano seguinte à prática dos atos impugnados e antes de o menor atingir a maioridade ou ser
emancipado.

Administração de bens – a aceitação da doação não carece de aceitação do Ministério


Público. Só se a doação tiver um encargo é que os pais não podem aceitar. A lógica é que só
se pode recusar se for desfavorável. Se não tiver encargos pode ser aceite, porque é
favorável para o menor.

NOTAS – RESPONSABILIDADES PARENTAIS

Uma vez estabelecida a filiação, emergem, nos termos do artigo 1877º, efeitos. As
responsabilidades parentais não são direitos subjetivos dos pais, ou seja, os pais não podem
educar os filhos da maneira que queiram, embora não seja discricionário. O exercício é
funcionalizado naquilo que se considera ser o interesse superior da criança. Estes deveres
funcionais caracterizam-se quanto à pessoa dos filhos e quanto ao património da pessoa dos
filhos.

Artigo 1877º – a doutrina entende que este artigo não é taxativo.

Em relação aos bens temos um poder de representação – artigo 1878º, 2ª parte.

A maioridade atinge-se aos 18 anos. Até lá, existe uma incapacidade de exercício que é suprida
através do poder paternal que foi substituída em 2018 pelas responsabilidades parentais.

Não obstante, o Código prevê exceções à capacidade dos menores.

Legislação avulsa – trata-se de legislação específica que reconhece capacidade aos jovens. Os
jovens a partir dos 14 anos têm direito de associação (juventudes partidárias e associação de
estudantes, carta, qualquer jovem em idade fértil pode aceder a consultas de planeamento
familiar sem consentimento familiar ou fornecimento de contracetivos, consentimento de atos
médicos aos 16).

Em matéria de administração dos bens, os pais permanecem como administradores dos bens
dos filhos até à maioridade ou emancipação (pelo casamento).

Essa administração também é marcada pelo caráter funcional. Assim, é necessário agir na
administração dos bens dos filhos no interesse dos filhos. Há um dever de gerir bem que se
traduz em gerir no interesse dos filhos.

O legislador desconfia desta atividade patrimonial – legislação das cautelas, pode prevenir-se
que se houver um conflito de interesses, pode não ser claro a boa administração.

O conflito pode acontecer quando houver património, por exemplo, que um avô deixou. O
ministério público é padece como defensor do interesse dos menores, pelo que verifica se o
ato é do interesse do menor.

Artigo 1894º - refere-se à autorização do tribunal, mas na verdade é do Ministério Público.

Exemplo: repúdio da doação – tem que haver consentimento do tribunal.

NOTA: a responsabilidade pela má-administração é praticamente inexistente.

IV

A casou com B a 01/09/1979 e tiveram um filho, E. E celebrou casamento com F em Fevereiro


de 2000 e tiveram um filho, H, nascido em Maio de 2004. Em Junho de 2004, A doou uma
quantia em dinheiro a H. Pode E comprar uma mobília para o quarto de H com parte desse
dinheiro?

Quid juris?

(Caso adaptado do Exame de16/06/2006)

CORREÇÃO

Só é legítimo os atos que são praticados no interesse do menor. Trata-se da representação


funcionalmente orientada para as necessidades do menor.
Artigo 1896º - rendimentos dos bens do filho. Autoriza os pais a utilizarem o rendimento dos
bens do filho, são os juros que os pais podem utilizar, não são os próprios bens.

Artigo 1896º, número 1 –

JURISPRUDÊNCIA – os pais de acordo com os rendimentos que têm e as capacidades de gerar


rendimento, não conseguem por outra via prover o sustento aos filhos. Existe uma ideia de
subsidiariedade.

É necessário saber se os pais teriam ou não condições para proceder à compra de algo que é
essencial para o bem-estar da criança.

Estamos a falar do próprio bem – logo temos que considerar o artigo 1874º - pais e filhos
estoa reciprocamente vinculados.

Artigo 1874º, número 2 – vem esclarecer que compreende a obrigação de prestar alimentos
e de contribuir para os encargos da vida familiar.

Tem que haver alguma justiça interna, porque a contribuição dos filhos não pode ser igual à
dos pais.

Padrão social da família – tem relevância com o artigo 127º, alínea b – menores têm
capacidade para negócios jurídicos próprios ao alcance da vida do menor.

Despesas de pequena importância – depende da condição sócio-económica de cada criança.

A medida do que é ou não uma despesa de pequena importância depende da condição


económica da família.

Artigo 1879º - não deve ser este o contexto, deve ser no sentido objetivo.
Independentemente do padrao de vida dos pais, não sabemos qual o padrão de vida da
criança. O objetivo é preservar os bens para que a criança quando seja adulta possa
administrar o seu património e não sofra um prejuízo patrimonial que seja irreversível.

Ao contrário do que acontece no artigo 127º, o artigo 1889º, número 2 pretende a proteção
da criança e a proteção do seu património.

Amadeu e Bia, casados desde 2020, decidem que deveria ser atribuído a Catão, jovem de 14
anos, filho de Bia de uma anterior relação, o último nome de Amadeu. Amadeu e Bia
pretendem ainda que Amadeu possa assumir, por decisão judicial, o exercício de
responsabilidades parentais em relação a Catão.

Entretanto o pai de Catão, descontente com esta decisão, deixa de pagar a pensão de
alimentos de € 70 mensais, por considerar que Bia andava a gastar esse dinheiro em presentes
para Amadeu.

Um dia, e porque considerou que Catão tinha insultado gravemente Amadeu, Bia “dá um
estalo em Catão”, que aproveitou para fugir de casa com a namorada.

Para se vingar, Bia decide utilizar o prémio do totoloto que Catão havia ganho para assumir
uma dívida da sua irmã, Daniela.

RESOLUÇÃO
Amadeu e Bia decidem que deveria ser atribuído a Catão, filho de Bia de uma relação anterior,
o último nome de Amadeu. Neste sentido, importa considerar o artigo 1875º, número 1
segundo o qual o filho usará apelidos do pai e da mãe ou só de um deles. Assim, segundo o
artigo 1875º, número 2, a escolha do nome próprio e dos apelidos do filho menor pertence aos
pais; na falta de acordo, decidirá o juiz, de harmonia com interesse do filho

Por outro lado, Amadeu e Bia pretendem que Amadeu possa assumir, por decisão judicial, o
exercício de responsabilidades parentais em relação a Catão.

Artigo 1906º, número 4 – pode delegar o exercício a outra pessoa. Exemplo: deixa a criança
em casa da avó.

O que o caso pergunta é se pode ser judicialmente assumido. Assim, sendo judicialmente
assumido, existe a obrigação do seu cumprimento.

A assunção judicial das responsabilidades parentais coloca a pessoa que fez o requerimento
na mesma situação que o progenitor – mesmos direitos funcionais e deveres.

Artigo 1904º - A – só seria possível se o Catão tivesse filiação estabelecida, então o Amadeu
poderia assumir as responsabilidades parentais por decisão judicial.

Adicionalmente, o pai de Catão, descontente com esta situação deixa de pagar a pensão de
alimentos. Assim, importa considerar o artigo 1879º do Código Civil, segundo o qual os pais
ficam desobrigados de prover ao sustento dos filhos e de assumir as despesas relativas à sua
segurança, saúde e educação na medida em que os filhos estejam em condições de suportar,
pelo produto do seu trabalho ou outros rendimentos, aqueles encargos. Por outro lado, é ainda
importante referir o artigo 1905º que diz respeito aos alimentos devidos ao filho em caso de
divórcio, separação judicial de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação do
casamento. Assim, segundo o número 1 do artigo 1905º, nos casos de divórcio, separação
judicial de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação de casamento, os alimentos
devidos ao filho e a forma de os prestar são regulados por acordo dos pais, sujeito a
homologação; a homologação é recusada se o acordo não corresponder ao interesse do
menor. Neste sentido, o artigo 2003º, número 1 refere que por alimentos entende-se tudo o
que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário.

O pai tem que levantar o incumprimento das responsabilidades de bens no tribunal – tem
que pedir a sua revisão, não pode deixar de pagar, porque pode ter uma parte dos seus bens
penhorados. Não pode ser alterada uma sentença, mesmo por acordo, tem que ser sempre
judicialmente revisto.

Como é que decidido o valor? – os tribunais têm que ser reais, por vezes é difícil que a
criança continue a ter a mesma vida que tinha, mas procura-se que tenha o mesmo padrão
de vida. Procura-se que a criança tenha o mesmo nível de vida que tinha desde que os pais
tenham possibilidades.

O nosso sistema deixa a liberdade ao legislador – há maior incerteza no caso de rutura


conjugal, mas teoricamente é mais protetor para a criança, porque permite olhar para cada
caso concreto.

Posteriormente, Bia considerou que Catão tinha insultado gravemente Amadeu e deu um
estalo em Catão que aproveitou para fugir de casa com a namorada. Assim, importa
considerar o artigo 3º, número 1 da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo segundo
o qual a intervenção para promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem em perigo
tem lugar quando os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto ponham em
perigo a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento, ou quando esse
perigo resulte de ação ou omissão de terceiros ou da própria criança ou do jovem a que
aqueles não se oponham de modo adequado a removê-lo. Desta forma, o artigo 3º, número,
alínea b) refere que se considera que a criança ou o jovem está em perigo quando sofre maus-
tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais.

Após esta situação, Catão aproveita para fugir de casa com a namorada. Desta forma, importa
considerar que a residência que o filho adota é a residência da família, pelo que, de acordo
com o artigo 1887º, número 1 do Código Civil, os menores não podem abandonar a casa
paterna ou aquela que os pais lhes destinaram, nem dela ser retirados.

Os pais podem reclamá-lo e podem pedir uma providência que se destina à entrega do
menor.

Neste sentido, para se vingar, Bia decide utilizar o prémio do totoloto que Catão havia ganho
para assumir uma dívida da sua irmã, Daniela. Neste sentido, importa considerar as
responsabilidades parentais relativamente aos bens dos filhos. Assim, o artigo 1889º, número
1, alínea f) dispõe que como representantes do filho não podem os pais, sem autorização do
Ministério Público, garantir ou assumir dívidas alheias.

NOTAS:

Artigo 1883º - o pai ou a mãe não pode introduzir no lar conjugal o filho concebido na
constância do matrimónio que não seja filho do seu cônjuge, sem consentimento deste.

Existe doutrina contra este artigo – incumprimento do dever de fidelidade.

VI

Desde que casaram, Bruna e André afeiçoaram-se a Vânia, de 16 anos, filha de Natália, sua
vizinha. Contra o desejo de Natália, Vânia tem vivido com Bruna e André desde Outubro de
2011. Natália quer a filha de volta, mas esta não quer voltar para casa.

A mãe de Vânia todas as noites lhe dá uma “bofetada de boas noites” para a tornar “uma
rapariga mais rija” Quid iuris?

RESOLUÇÃO

Bruna e André, casados, afeiçoaram-se a Vânia que tem vivido com estes desde outubro de
2011, pelo que importa considerar que a residência que o filho adota é a residência da família
tal como está disposto no artigo 1887º, número 1 do Código Civil, os menores não podem
abandonar a casa paterna ou aquela que os pais lhes destinaram, nem dela ser retirados.

Adicionalmente, a mãe de Vânia todas as noites lhe dá uma bofetada de boas noites para a
tornar uma rapariga mais rija. Assim, importa considerar o artigo 3º, número 1 da Lei de
Proteção de Crianças e Jovens em Perigo segundo o qual a intervenção para promoção dos
direitos e proteção da criança e do jovem em perigo tem lugar quando os pais, o representante
legal ou quem tenha a guarda de facto ponham em perigo a sua segurança, saúde, formação,
educação ou desenvolvimento, ou quando esse perigo resulte de ação ou omissão de terceiros
ou da própria criança ou do jovem a que aqueles não se oponham de modo adequado a
removê-lo. Desta forma, o artigo 3º, número, alínea b) refere que se considera que a criança
ou o jovem está em perigo quando sofre maus-tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos
sexuais.

Mesma situação do caso anterior – reler.

Aqui existe uma atitude reiterada

Neste caso, trata-se de uma adolescente e já deve ser dada alguma autonomia. Coloca
também a jovem em risco – a Vânia não pode, por sua auto deliberação, abandonar a casa.

A lei não lhes reconhece essa autonomia, mas como havia pessoas disponíveis, o tribunal
pode decidir que esta possa viver com o casal.

NOTAS – ORAIS DE MELHORIA?

Artigo 263º do CC – procuração

O procurador não tem que ser maior é que tem capacidade de entender o que é necessário
para o negócio jurídico.

Artigo 127º - exceções à incapacidade dos menores

Quando a criança faz um negócio para o qual não está capacitada, será que se pode entender
que celebrou o negócio enquanto procurador dos negócios legais? – forma desvirtuar o
instituto da representação legal dos pais e cria uma grande insegurança jurídica para a outra
parte.

Artigo 1918º do Código Civil – perigo para a segurança, saúde, formação moral e educação
do filho.

Emancipação aos 16 – controverso – engraçado

Quando é que se considera que uma criança está em perigo – intervenção do CPCJ:

Princípios - subsidiariedade, intervenção mínima e família biológica.

Artigo 36º - medidas são aplicadas em processo judicial em decisão negociada

VII

Maria e Carlos vivem em união de facto há três anos e têm um filho menor. Numa altura em
que Maria se ausentou durante uma semana, por motivos profissionais, o menor foi
submetido a uma intervenção cirúrgica delicada, não urgente, por decisão de Carlos. A mãe,
que só soube posteriormente, está inconformada e afirma que não pagará à clínica, ou a quem
quer que seja, um cêntimo das despesas resultantes da mencionada intervenção. Analise a
situação?
RESOLUÇÃO

Maria e Carlos vivem em união de facto há três anos. Assim, importa considerar a Lei nº
7/2001 (medidas de proteção das uniões de facto). O artigo 1º, número 3 da referida lei
dispõe que a união de facto é a situação jurídica de duas pessoas que, independentemente do
sexo, vivam em condições análogas às dos cônjuges há mais de dois anos.

Maria e Carlos têm um filho menor. neste sentido, importa considerar o regime das
responsabilidades parentais. Assim, o artigo 1877º do Código Civil dispõe que os filhos estão
sujeitos às responsabilidades parentais até à maioridade ou emancipação. Adicionalmente, o
artigo 1878º, número 1 refere que compete aos pais, no interesse dos filhos, velar pela
segurança e saúde destes, prover o seu sustento, dirigir a sua educação, representá-los, ainda
que nascituros e administrar os seus bens.

Quanto ao filho de Maria e Carlos ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica delicada não
urgente durante a ausência de Maria, importa, ter em conta que o artigo 1878º, número 1
refere que compete aos pais velar pela saúde dos filhos.

Maria, inconformada afirma que não pagará à clínica. Assim, importa considerar o artigo
1879º segundo o qual os pais ficam desobrigados de prover o sustento dos filhos e de assumir
as despesas relativas à sua segurança, saúde e educação na medida em que os filhos estejam
em condições de suportar, pelo produto do seu trabalho ou outros rendimentos, aqueles
encargos. Deste modo, interpretando o artigo 1879º a contrario, sendo o filho menor, este não
se encontra em condições de suportar encargos de saúde, pelo que Maria está obrigada a
prover esta despesa relativa à saúde do seu filho.

Por fim, importa considerar que deve haver o consentimento de ambos os progenitores, em
especial, porque não é uma cirurgia importante - artigo 1902º1. Assim, a cíinica deve recusar
intervir nestas situações quando não haja um consentimento de ambos os progenitores e não
uma presunção de acordo - 1902º2.

CORREÇÃO – a mãe não é responsável perante a clínica, a clínica deveria ter acautelado o
interesse dos dois progenitores.

UNIÃO DE FACTO

Lei 7/2001 – elemento substantivo – viver no mesmo teto, habitação, comunhão de leito e
comunhão de mesa + elemento cronológico – tempo 2 anos

Artigo 2º - exceções à proteção da união de facto – impedimentos dirimentes

Tio e sobrinha – podem viver em união de facto, mas os irmãos não podem invocar os
direitos e benefícios da união de facto.

Idade mínima – 18 anos à data dos efeitos, o legislador admite que jovens de 16 anos
possam formar a união de facto, ao fim de 2 anos podem pedir a proteção

Artigo 3º - efeitos, são no fundo direitos sociais.

Artigo 4º - proteção da casa de morada da família em caso de rutura – por desentendimento


das partes – normas aplicáveis à rutura do casamento – 1105º e 1793º - bastante intrusivo
do direito de propriedade, porque o Tribunal só tem em comum o interesse dos filhos do
casal. Com as necessárias adaptações

Artigo 5º - proteção da casa de morada da família em caso de morte – o membro sobrevivo


não é herdeiro legal. As pessoas faleciam e o cônjuge não tina o direito sucessório. O
membro sobrevivo pode habitar na casa e conserve os bens móveis, o recheio da casa. Este
direito tem o prazo de 5 anos, podendo ser superior se a união de facto for superior. Se a
união de facto durar 20 anos, este direito dura 20 anos. O membro sobrevivo tem o direito a
habitar a casa.

Estes direitos são imperativos – não podem ser excluídos, embora se permita que as partes
estabeleçam contratos de coabitação, há uma determinação legal neste sentido.

VIII

Eduardo, sujeito ao regime de maior acompanhado, e Filipa, após cinco anos de vida conjugal,
em que tiveram um filho comum, Gilberto, agora com três anos de idade, desejam divorciar-
se. Entretanto, têm falado sobre o destino do menor, hesitando entre duas hipóteses: a)
Gilberto reside 6 meses com Filipa e 6 meses com Eduardo, cabendo ao progenitor que resida
com o menor nesse período o exercício exclusivo das responsabilidades parentais; b) Gilberto
reside com Filipa, incumbindo a esta a totalidade das responsabilidades parentais, com
exceção dos poderes de sustento e de administração dos bens do menor, assumidos por
Eduardo. Aprecie juridicamente cada uma das hipóteses.

(Caso prático adaptado de prova escrita)

RESOLUÇÃO

Quanto ao casamento celebrado entre Eduardo e Filipa, importa considerar que Eduardo,
estando sujeito ao regime de maior acompanhado não se poderia ter casado. Assim, o artigo
1601º, alínea a) refere é impedimento dirimente a demência notória, mesmo durante os
intervalos lúcidos, e a decisão de acompanhamento, quando a sentença respetiva assim o
determine.

Posteriormente, Eduardo e Filipa, após cinco anos de vida conjugal, desejam divorciar-se. Deste
modo, importa considerar as responsabilidades parentais quanto a Gilberto, filho de 3 anos do
casal.

HIPÓTESES:

a) Gilberto reside 6 meses com Filipa e 6 meses com Eduardo, cabendo ao progenitor que
resida com o menor nesse período o exercício exclusivo das responsabilidades
parentais;

Quanto a esta hipótese, importa ter em conta que, no que diz respeito a que Gilberto
resida 6 meses com Filipa e 6 meses com Eduardo, segundo o artigo 1906º, número 5, o
tribunal determinará a residência do filho e os direitos de visita de acordo com o interesse
deste, tendo em atenção todas as circunstâncias relevantes, designadamente i eventual
acordo dos pais e a disponibilidade manifestada por cada um deles para promover
relações habituais do filho com o outro. Assim, o artigo 1906º, número 7 dispõe ainda que
o tribunal decidirá sempre de harmonia com o interesse do menor, incluindo o de manter
uma relação de grande proximidade com os dois progenitores, promovendo e aceitando
acordos ou tomando decisões que favoreçam amplas oportunidades de contacto com
ambos e de partilha de responsabilidades entre eles. Deste modo, não faz sentido que
Gilberto resida 6 meses com o pai e 6 meses com a mãe, pois deve ter um contacto mais
recorrente com o progenitor com direitos de visita.

Por outro lado, é ainda importante considerar que Eduardo e Filipa entendem que deve
caber ao progenitor que resida com o menor nesse período o exercício exclusivo das
responsabilidades parentais. Assim, é importante considerar o artigo 1906º, número 1
segundo o qual as responsabilidades parentais relativas às questões de particular
importância para a vida do filho são exercidas em comum por ambos os progenitores nos
termos que vigoravam na constância do matrimónio, salvo nos casos de urgência
manifesta, em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, devendo prestar
informações ao outro logo que possível.

Residência alternada – modelo favorito apesar de não ser consagrado no Código Civil.

Há uma preferência que resulta dos números 5 e 6 do artigo 1906º - amplo contacto e
igualdade dos progenitores, apenas é possível numa residência alternada.

O tratamento igualitário dos progenitores é apenas um dos critérios.

Temos que averiguar a disponibilidade dos progenitores – vontade para viver com a
criança, se algum deles constitui figura de referência – o progenitor segundo o qual a
criança está mais ligada em função dos cuidados que lhes são prestados.

Responsabilidades parentais – questões de relevância, os dois progenitores devem


intervir. Os pais têm que estar de acordo quanto a estas matérias. Não pode haver
concentração das responsabilidades parentais

Alternância de 6 meses – 6 meses é um período demasiado longo, causaria um


afastamento muito grande do progenitor, os pais deviam reduzir esse prazo.

15 dias ou 3 semanas têm que ser acompanhado por direitos de visita para que não haja
um corte com o outro progenitor.

b) Gilberto reside com Filipa, incumbindo a esta a totalidade das responsabilidades


parentais, com exceção dos poderes de sustento e de administração dos bens do
menor, assumidos por Eduardo.

Apesar de Gilberto residir com Filipa, não é possível que apenas esta assuma a totalidade
das responsabilidades parentais, com exceção dos poderes de sustento e de administração
dos bens do menor que seriam assumidos por Eduardo. Desta forma, importa considerar
novamente o artigo 1906º, número 1 que dispõe que as responsabilidades parentais
relativas às questões de particular importância para a vida do filho são exercidas em
comum por ambos os progenitores nos termos que vigoravam na constância do
matrimónio, salvo nos casos de urgência manifesta, em que qualquer dos progenitores
pode agir sozinho, devendo prestar informações ao outro logo que possível.

Administração – Eduardo ficaria excluído no interesse da criança porque está sujeito a


acompanhamento

NOTAS
Se a mãe declarar a maternidade e o pai perfilhar – não são obrigados a regular as
responsabilidades parentais, mas no caso de divórcio é obrigatório.

Seja de forma voluntária ou obrigatória, quando as partes apresentam uma proposta de


acordo, o tribunal ou o ministério público tem que verificar se esse acordo corresponde
ao interesse da criança.

1906º - fala no tribunal, o juíz decide, temos que colocar-nos na posição do juiz e
perceber se corresponde ou não ao interesse da criança. Explicar os critérios de fixação
da residência, pensão de alimentos, direito de visita.

IX

Ana e Bernardo estão de acordo quanto ao propósito de se divorciarem. Para o efeito, deram
entrada com o respetivo processo na conservatória. No acordo sobre o exercício de
responsabilidades parentais referente ao filho comum do casal, de 6 anos, lê-se o seguinte:

a) a residência da criança será fixada junto da mãe;


b) o pai tem direito a visitar a criança todos os fins-de-semana, contudo a criança não
pode pernoitar na residência paterna;
c) os aniversários da criança são passados junto da mãe;
d) nas férias escolares, o menor estará aos cuidados dos seus tios maternos, com os quais
tem uma relação de grande proximidade;
e) as questões relativas à saúde do menor serão sempre decididas pelo seu pai que é
médico de profissão;
f) nenhum dos progenitores poderá colocar fotografias da criança nas redes sociais.

Pronuncie-se sobre o proposto por Ana e Bernardo

RESOLUÇÃO

Residência da criança será fixada junto da mãe – artigo 1906º, número 5 - o tribunal
determinará a residência do filho e os direitos de visita de acordo com o interesse deste, tendo
em atenção todas as circunstâncias relevantes, designadamente i eventual acordo dos pais e a
disponibilidade manifestada por cada um deles para promover relações habituais do filho com
o outro.

O pai tem direito a visitar a criança todos os fins de semana, contudo a criança não pode
pernoitar na residência paterna –

Os aniversários da criança são passados junto da mãe – ?

Nas férias escolares, o menor estará aos cuidados dos seus tios maternos, com os quais tem
uma relação de grande proximidade – o filho pode ser confiado à guarda de terceiros – artigo
1907º, número 2 – quando o filho seja confiado a terceira pessoa, cabem a estas os poderes e
deveres dos pais que forem exigidos pelo adequado desempenho das suas funções. – mas isto
para situações em que não há um grande decurso do tempo, férias escolares?

As questões relativas à saúde do menor serão sempre decididas pelo seu pai que é médico de
profissão – artigo 1906º, número 1 que dispõe que as responsabilidades parentais relativas às
questões de particular importância para a vida do filho são exercidas em comum por ambos os
progenitores nos termos que vigoravam na constância do matrimónio, salvo nos casos de
urgência manifesta, em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, devendo prestar
informações ao outro logo que possível.

Nenhum dos progenitores poderá colocar fotografias da criança nas redes sociais - ?

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