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SOFRI RACISMO,

O QUE FAZER?
CARTILHA DE ORIENTAÇÃO À POPULAÇÃO NO COMBATE AO RACISMO

COPPIR
Photo by Beth Tate on Unsplash

COORDENADORIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS


PARA A PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL
Índice
SOFRI RACISMO, O QUE FAZER?............................................................................ 4
Não revidar ..................................................................................................................... 5
Registrar Boletim de Ocorrência Policial ................................................................... 6
Identificar possíveis testemunhas .............................................................................. 7
Buscar uma orientação jurídica .................................................................................. 8
Acompanhar o oferecimento da Denúncia ou da Queixa-Crime......................... 9
Alertar para o prazo prescricional do crime de injúria racial................................. 9
Atentar para todas as fases do processo................................................................. 10
Ter perseverança e paciência.................................................................................... 11
Processar sempre os agressores ............................................................................... 12
Conscientizar acerca das providências a tomar..................................................... 13

Realização:
Coordenadoria de Políticas Públicas
para a Promoção da Igualdade Racial
da Prefeitura Municipal de Florianópolis

Coordenador: Dr. Fábio Dias


Ano: 2018
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de
sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para
odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas
aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente ao coração
humano do que o seu oposto. A bondade humana é
uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.

Nelson Mandela
SOFRI RACISMO,
O QUE FAZER?
Essa é a pergunta que muitos cidadão comum, o que é o crime de
brasileiros se fazem ao serem sur- racismo do que é o crime de injúria
preendidos com uma atitude racis- racial, ou injúria qualificada pelo
ta de alguém. As vítimas se depa- preconceito.
ram na quase totalidade dos casos Configura-se o crime de racismo,
com uma série de dúvidas e receios quando o ofendido foi impedido de
que acabam desmotivando a uma exercer um direito seu, teve qual-
tomada de decisão. quer direito violado, ou foi tratado
O racismo que vitimiza os negros de forma diferente por conta de sua
em nosso País é o tipo mais comum raça/etnia, por exemplo, quando
de preconceito baseado na etnia, qualquer pessoa for impedida ou
ocorrendo com maior frequência. tiver dificultada a sua entrada em
Essa parcela da população, que por local público por ser negra.
motivos históricos ocupa as cama- Já o crime de injúria racial ou qualifi-
das mais baixas da estratificação cada pelo preconceito, ocorre
social, além de ser a mais atingida, quando a pessoa é ofendida na sua
acaba sendo também a menos honra e na sua moral por meio de
informada. xingamentos, textos ou gestos que
Desta maneira, todo aquele que contenham elementos de origem
tiver o seu direito violado, ficando à étnico-racial.
mercê de qualquer forma de discri- Configura-se o crime de injúria
minação racial precisa saber como racial quando o indivíduo é depre-
deverá proceder, sendo este o ciado em razão de sua raça/etnia, a
objetivo do presente material qual passa a ser considerada como
informativo. algo negativo, por exemplo, quando
A título de esclarecimento, chama- alguém é xingado de “negro”
remos de agressor aquele que safado, seu macaco, etc.
cometeu qualquer crime racial, e Dito isso, passamos a expor a
vítima, a pessoa que sofreu a ação seguir as principais ações estraté-
deste crime. gicas de enfrentamento ao crime
Convém também diferenciar, de de racismo a serem adotadas por
forma simplificada e acessível ao suas vítimas.
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1ª Ação Não Revidar


No momento em que o crime ofendido a “sair do sério”, já que as
de racismo ou de injúria qualificada ofensas raciais causam muita indig-
pelo preconceito ocorre é de suma nação nas vítimas, o autocontrole
importância que a vítima não revide será imprescindível nesta ocasião.
ao comportamento criminoso. Quando o caso é de racismo, é
Se a referida vítima, a exemplo, for importante também agir de forma
ofendida na sua dignidade, com calma, sem se exaltar ou perder o
alusões à sua raça, em hipótese equilíbrio. Atitudes violentas contra
alguma deve proferir qualquer tipo o agressor tais como ameaças,
de ofensa contra o agressor. poderão ser interpretadas pelo Juiz
“Devolver” o xingamento PODERÁ em desfavor da vítima, influencian-
implicar em impunidade do agres- do no seu convencimento. Além
sor, pois a legislação prevê a possi- disso, também poderá responder
bilidade do Juiz deixar de aplicar a penal e civilmente por seu compor-
pena, a seu critério, caso a vítima tamento criminoso, mesmo que em
tenha revidado a ofensa perpetra- defesa contra o racismo sofrido,
da. banalizando ainda mais os crimes
Assim, ainda que a situação leve o raciais.
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Registrar Boletim
2ª Ação de Ocorrência Policial
Comparecer a uma Delegacia local em que os fatos ocorreram, e
afim de registrar um Boletim de caso a mesma não se encontre em
Ocorrência dos fatos é imprescindí- funcionamento, deverá procurar
vel para que haja um processo outra na mesma cidade.
criminal, e assim o agressor possa Em sede policial, a vítima deverá
ser responsabilizado criminalmen- narrar os fatos na íntegra e com a
te. maior riqueza de detalhes possível,
A vítima do crime de racismo e/ou fornecendo os seguintes elemen-
injúria racial deverá procurar a Dele- tos principais para a autoridade
gacia de Polícia mais próxima do policial:

A data do fato, O endereço do


especi�cando o local do fato ou a
dia e o horário em indicação de onde
que aconteceu o crime ocorreu

alstad on P
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hoto
Local onde o P
Os nomes e os
agressor reside, endereços das
ou onde pode testemunhas que
ser encontrado presenciaram o
crime

Nome completo Descrever o


e/ou apelido do fato como
agressor aconteceu,
com a maior
riqueza de
detalhes
possíveis

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A vítima tem o direito de solicitar da ou a Ordem dos Advogados do
autoridade policial, uma cópia do Brasil, ou até mesmo o Ministério
Boletim de Ocorrência feito na Público, que elaborará o pedido de
Delegacia, para que possa levá-lo instauração de inquérito policial, o
consigo. qual suprirá a falta do respectivo
Caso haja recusa de qualquer fun- Boletim de Ocorrência.
cionário para a elaboração do Bole- Deverá também procurar a Corre-
tim de Ocorrência Policial em ques- gedoria da Policia Civil, para denun-
tão, a vítima deverá procurar um ciar o funcionário pela respectiva
advogado ou a Defensoria Pública omissão.

Identificar
3ª Ação possíveis testemunhas
Para que seja promovido um Caso haja possibilidade, as teste-
processo criminal, é imprescindível munhas devem ser levadas à Dele-
além do comparecimento à Delega- gacia de Polícia a fim de acompa-
cia de Polícia mais próxima do local nharem a elaboração do respectivo
no qual o crime aconteceu para Boletim de Ocorrência e proferirem
narrar os fatos, a obtenção de teste- os depoimentos de imediato,
munhas presenciais, que se dispo- evitando assim a ocorrência de pos-
nham a depor contra o agressor. síveis esquecimentos e até mesmo
Na maioria dos casos, quando o arrependimentos destas pessoas
crime não é cometido por escrito, em testemunharem o que presen-
sempre existem pessoas que pre- ciaram. Não há um número mínimo,
senciaram o agressor praticando o mas o ideal é que sejam apresenta-
ato de racismo ou injuriando a das ao menos 03 (três) testemu-
vítima. nhas que tenham presenciado os
Por essa razão, a vítima tem que ter fatos.
o cuidado de obter no momento e Caso haja negativa das testemu-
local do fato, o nome, telefone e nhas em depor, a vítima deverá
endereço das pessoas que presen- informar à autoridade policial no ato
ciaram os atos discriminatórios per- da elaboração do Boletim de Ocor-
petrados. Salienta-se que preferen- rência os seus nomes, contatos e
cialmente essas pessoas devem ser locais onde podem ser encontradas.
terceiros, não parentes de quais-
quer dos envolvidos. 7
A intimação pela autoridade policial Por isso, caso somente familiares da
torna o comparecimento obrigató- vítima tenham presenciado os
rio, ainda que as testemunhas fatos, poderá ocorrer de o agressor
apontadas não queiram depor. ser absolvido, exceção se houver
Os parentes da vítima, em geral, outras provas a reforçar os depoi-
poderão não ser ouvidos como tes- mentos. Vale frisar que, se o crime
temunhas, mas na condição de de racismo ou injúria racial praticada
meros informantes, em razão do não deixar prova material (por escri-
evidente interesse em possivel- to, filmada, etc) e não for presencia-
mente beneficiar seus consanguí- do por testemunhas dificilmente
neos e afins. haverá condenação do agressor.

Buscar uma orientação


4ª Ação
jurídica
A orientação jurídica
através de um advogado,
logo após a ocorrência do
crime ou mesmo após o
registro do Boletim de
Ocorrência Policial é extre-
mante recomendável para
que a vítima saiba todos os
direitos que possui e como
deverá proceder exatamen-
te.
Contudo, deve-se esclare-
cer que tanto no crime de
racismo quanto no crime de
injúria racial a assistência de
um profissional da área
jurídica é opcional, embora
recomendável.

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Acompanhar o oferecimento
5ª Ação da Denúncia ou da Queixa-Crime
O Racismo é um crime de dizer que além de comunicar o fato à
ação penal pública incondicionada, autoridade policial, a mesma deverá
ou seja, tendo sido praticado e infor- se reportar ao Ministério Público,
mado à autoridade policial, através requerendo que este ofereça a per-
da formalização de um Boletim de tinente Denúncia.
Ocorrência, será instaurado o perti- A Denúncia feita pelo Ministério
nente Inquérito Policial que ao seu Público, em ambos os casos, é o ato
findar se dará o devido encaminha- que dá início ao processo criminal
mento do mesmo ao Ministério contra o agressor.
Público para oferecimento da Todavia, caso o Ministério Público
Denúncia. não oferte a Denúncia, a vítima
Já a injúria racial é crime de ação poderá ofertar uma Queixa-Crime,
penal pública condicionada à repre- por intermédio de um advogado
sentação da vítima, o que implica devidamente constituído.

Alertar para o prazo prescricional


6ª Ação do crime de injúria racial
O crime de racismo é impres- te cometendo o crime de racismo
critível, ou seja, não há prazo para o não poderá pagar fiança para ser
agressor ser processado. Isso signi- solto.
fica dizer que neste caso não há Diferentemente do racismo, a injúria
limite de tempo para que a vítima racial prescreve em 08 (oito) anos,
procure a Delegacia de Polícia ou o de acordo com o artigo 109, inciso
Ministério Público para dar início ao IV, do Código Penal Brasileiro, bem
processo criminal. como admite que a autoridade poli-
Este é um dos poucos crimes que a cial arbitre uma fiança ao agressor,
Constituição Federal Brasileira con- conforme previsto no artigo 322 do
sidera imprescritível e inafiançável. Código de Processo Penal Brasileiro.
Nesse último caso, isso significa que
o agressor que for preso em flagran-
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Atentar para todas as fases
7ª Ação do processo
É importante que as pessoas impedir a concessão de benefícios
saibam que dificilmente os agresso- se o fato voltar a se repetir, dá a pos-
res que cometeram os crimes de sibilidade da vítima obter indeniza-
racismo e/ou injúria racial serão ção por danos morais na Justiça
presos pelo cometimento destes Cível. E nesta seara, não caberá mais
crimes. se discutir se a conduta do agressor
Os registros de casos de prisão são configurou ou não o crime. Uma vez
poucos e geralmente resultam de condenado na Justiça Criminal a
flagrante. Quando a vítima tem de indenização na esfera cível é certa.
comparecer à Delegacia para noti- O objetivo da indenização será
ciar o crime, com raras exceções, buscar por um valor suficiente a
haverá a imediata prisão do agres- reparar o mal sofrido e inibir a repeti-
sor. E isso pode não acontecer, ção de condutas similares por parte
mesmo após a condenação. do agressor.
A razão disso reside no fato de que a É evidente que todo crime racial traz
legislação brasileira admite a substi- prejuízo psicológico. Em alguns
tuição da pena restritiva de liberda- casos, o dano psíquico é mais grave,
de, por outra restritiva de direitos em outros é de menor intensidade,
nos crimes com pena inferior a 04 mas o prejuízo sempre existe. Da
(quatro) anos, desde que obedeci- mesma forma, é evidente que não
das às demais disposições contidas há dinheiro que recupere a dignida-
no artigo 44 do Código Penal Brasi- de humana, mas a indenização é
leiro. necessária, tanto pela sua função
Em regra, as penas aplicadas geral- compensatória (trazer alguma
mente são mais brandas, como por espécie de conforto a vítima), como
exemplo, a conversão em prestação pela sua função punitiva (em nosso
de serviços à comunidade pelo perí- país a pena mais grave ainda é
odo da condenação. aquela que “dói no bolso”) e inibitó-
Mas, ainda assim, o processo crimi- ria (desestimular aquele agressor e
nal é importante. Uma condenação outras pessoas a repetir comporta-
criminal por crime racial além de mentos racistas).

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8ª Ação Ter perseverança e paciência

O processo criminal geralmente é Importunar as pessoas solicitando-


demorado e a vítima deverá ser -as para que sejam testemunhas, o
paciente e perseverante, compare- confronto com agressor no dia da
cendo à Delegacia sempre quando audiência, a necessidade de compa-
for solicitada e a todas às audiências recer diversas vezes ao escritório do
para as quais for intimada. advogado, o dispêndio financeiro,
O principal é que não se deve desa- dentre outros, são transtornos
nimar caso a decisão final seja des- necessários.
favorável com a absolvição do Entretanto, dar às pessoas a visibili-
agressor, pois há sempre possibili- dade, a ciência de que comporta-
dade de recurso. Todo processo mentos discriminatórios como
judicial causa aos envolvidos uma estes são realmente criminosos, e
série de incômodos e desconfortos, que de fato submetem os violadores
além da demora. a processo criminal, é uma poderosa
arma de desestímulo e combate ao
racismo.
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Processar sempre
9ª Ação
os agressores
Quanto mais processos fun- do Direito, sejam juízes, promotores
dados existirem, quanto mais con- ou advogados é o caminho para a
denações forem obtidas, maior o efetiva repressão.
temor a ser infundido nas pessoas
preconceituosas que acham normal
práticas racistas. Xingar, discriminar
e impedir o acesso a direitos por
motivos raciais é uma prática secu-
lar e que figura no imaginário coleti-
vo como sendo algo normal que
pertence ao cotidiano.
Há os que negam a existência da
discriminação racial e os que
tentam minimizar o impacto das
ações racistas afirmando tratar-se
de uma verdadeira tradição cultural.
Existem ainda os que tentam des-
naturar tais crimes atribuindo a pro-
blemática aos discriminados e
assim buscando poupar os agres-
sores de sua culpabilidade.
Não obstante, a ideia da impunida-
de é que fortalece a perpetuação do
racismo, das diferenças e em última
instância da exclusão e desigualda-
des sociais. Provocar decisões judi-
ciais a respeito do assunto para que
sirvam de modelo para novos pro-
cessos afim de serem usadas como
argumento por outros operadores
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Conscientizar acerca
10ª Ação das providências a tomar
É de extrema importância a conscientização da população sobre a
natureza criminosa das condutas racistas. Nós cidadãos, que somos teste-
munhas destas práticas ou mesmo vitimizados pelo racismo temos a
responsabilidade de dar a nossa contribuição para erradicar ações desta
natureza do meio social.
Noticiar crimes raciais às autoridades competentes é valorizar os direitos do
homem e do cidadão. Não contribuir para que prevaleça a impunidade
também é uma questão de respeito à dignidade humana.
Se por motivos históricos, socioculturais e econômicos os negros sofreram
séculos de massacre por meio da escravidão, anseia-se por reais mudanças.
Vivemos num Estado Democrático de Direito no qual o racismo e a injúria
racial não podem encontrar guarida.
Eis o reconhecimento da sua importância quando uma ofensa racial é profe-
rida, há sempre um dano psicológico irreversível, como já se afirmou. Na
oportunidade da ofensa, lembramos que em muitas oportunidades somos
vistos como cidadãos de segunda classe, ou pior: como “coisa” como acon-
tecia durante a escravidão. Frente a isto, temos que a responsabilidade é de
todos nós de AGIRMOS com dignidade humana e fraternidade em prol de
uma sociedade sem Racismo!!!

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COPPIR
COORDENADORIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA A PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

COPPIR: Rua Tenente Silveira, 60 - Mezanino


Centro, Florianópolis - SC Fone: (48) 3251-6066

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