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No primeiro caso, no momento da ofensa o funcionário está realizando um ato de seu ofício; no
segundo, embora o funcionário não esteja praticando ato oficial algum, a ofensa contra ele é
proferida em razão da função.
Deve-se, no entanto, analisar com muito cuidado essa elementar normativa para que se possa
atribuir-lhe corretamente seu verdadeiro significado.
Como se configura:
A Ação Tipificada:
Já o crime de injúria atinge a honra subjetiva do ofendido. Logo, o crime de injúria consuma-se
quando a ofensa à dignidade ou ao decoro chega ao seu conhecimento, direta ou indiretamente,
ofendendo e menosprezando o conceito que tem de si mesmo. Por isso, é indiferente que a ofensa
tenha sido proferida na presença da vítima (injúria imediata) ou que tenha chegado ao seu
conhecimento por intermédio de interposta pessoa (injúria mediata). Quando a injúria for praticada
contra funcionário público, incidirá uma causa de aumento de pena.
É necessário que o sujeito ativo tenha consciência que está diante de funcionário público e que
este se encontra no exercício de suas funções (ou em razão dela). O erro, portanto, tanto sobre a
qualidade de funcionário público quanto sobre encontra-se no exercício de sua função constitui erro
de tipo,que afasta a tipificação do crime de desacato, podendo, dependendo das circunstâncias,
caracterizar outra infração penal, nesse caso, contra a honra pessoal. Por isso, o particular que
devolve a provocação de funcionário público, como mencionamos anteriormente, não comete
desacato, posto que não pretende desprestigiá-lo ou à sua função pública, mas apenas responder à
agressão, que considera injusta e indevida.
Consuma-se:
Consuma-se o crime de desacato com a prática efetiva, pelo sujeito ativo, da ofensa ou da
manifestação ou exteriorização oral ofensiva (palavra). Em outras palavras, consuma-se o desacato
no lugar e no momento em que o sujeito ativo pratica a ofensa ou profere palavras injuriosas, na
presença do ofendido. São irrelevantes, em princípio, as consequências da ação delituosa, isto é,
que o funcionário tenha-se sentido ofendido ou que tenha resultado abalado o prestígio ou o decoro
da função exercida.
Sua tentativa:
As penas cominadas, alternativamente, são de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. É
aplicável a transação penal, considerando-se que se integra perfeitamente na definição legal de
infração de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n. 9.099/95, com-binado com as disposições da
Lei n. 10.259/2001). A ação penal é pública incondicionada.
Em 2016 o STJ decidiu não considerar o desacato a autoridade como crime, já que as Leis
Internacionais de direitos humanos em sua tipificação é contrária ao Artigo 13 da convenção
Americana de Direitos Humanos, que garante a qualquer pessoa o direito à liberdade de pensamento
e de expressão a qual tem status supralegal e garante a liberdade de pensamento e de expressão, a
exemplo de nossa Carta Magna.Dessa forma, com elogiável interpretação STJ, na senda da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, afastou a superproteção adicional a funcionários
públicos contra as insatisfações dos “súditos”, na comparação com os cidadãos em geral.
Reconheceu que um Estado democrático de direito deve submeter-se ao controle popular e deve
procurar atender aos anseios dos cidadãos exercendo uma boa atenção às suas demandas, sem
criminalizar eventuais demonstrações mais agressivas de sua insatisfação com a administração
pública. Porém, não quer dizer que qualquer pessoa tenha essa liberdade para agredir verbalmente
agentes públicos, assim, mesmo não tendo uma tipificação criminal do desacato, não impede a
responsabilidade ulterior, civil ou figura típica penal como a Calúnia, difamação, injúria.
o atual Código Penal de 1940 ampliou o alcance da tipificação penal
para abranger as ofensas proferidas contra funcionário público no exercício da função como também
em razão dela.
Quanto à constitucionalidade do tipo penal, Barroso destacou que a Corte Suprema tem ampla
jurisprudência no sentido da defesa da liberdade de expressão, mas que a mesma "encontra seus
limites quando é utilizada como pretexto para violações graves a outros interesses e direitos
fundamentais". O ministro destacou que ambas as turmas deste Tribunal já decidiram pela recepção
da norma do art. 331 do CP pela CF/88. Lembrou, por sua vez, que "o tipo penal deve ser limitado a
casos graves e evidentes de menosprezo à função pública".
Súmula 714
É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério
público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.