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Os instrumentos de

análise das Relações


Internacionais
Sandra Fernandes
(CICP-UMinho)

UC: Política Internacional


Universidade do Minho 2022-2023
1
As Relações Internacionais
Objeto de Estudo
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
A visão clássica

Relações a nível internacional - entre Estados


⦿ Atores soberanos internamente e com igual
legitimidade externa
⦿ Atores com poder e projeção externa desigual

Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
Tucídides
A visão clássica
Origens
RI encontradas em muitos momentos da antiguidade -
unidades sociais estruturadas
⦿ 1º relato sistemático e estruturado com componente
analítica encontrado na antiguidade clássica grega.

Relato de Tucídides da Guerras do Peloponeso


Identifica interesses e agendas dos dois centros de poder helénico
Identifica dinâmicas internas nos processos de decisão
Traça um argumento explicativo para o conflito Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
A visão clássica
O Sistema Internacional
Com a definição do conceito de Soberania (interna)
obtemos as RI modernas
Dá-se a construção do Sistema Internacional
Início da institucionalização das relações entre Estados

“Conjunto constituído por uma série de unidades políticas, que


mantêm entre si relações regulares e que são todas suscetíveis
de serem implicadas numa guerra total.”
(Definição de Raymond Aron)
Barbé, Esther. 1995. Relaciones Internacionales. Madrid: Editorial Tecnos.
P. 113.
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
A visão moderna
O Sistema Internacional

“O sistema internacional é constituído por um conjunto de atores,


cujas relações geram uma configuração de poder (estrutura)
dentro da qual se produz uma rede complexa de interações
(processo) de acordo com determinadas regras.”
Barbé, Esther. 1995. Relaciones Internacionales. Madrid: Editorial Tecnos. P. 115.

Sandra Fernandes
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A visão moderna
Evolução Relato de Tucídides identifica atores e níveis de análise
para além das cidades-Estado
⦿ Atores internos afetos aos processos ⦿ Atores “não governamentais” com
de decisão com capacidade oratória envolvência direta na tomada de
mobilizam a opinião pública à decisão à Oráculo de Delfos
Péricles

“As relações internacionais podem (…) ser definidas como o conjunto das relações
e comunicações que se estabelecem entre grupos sociais e atravessam as
fronteiras.”
Braillard, Philippe e Mohammad-Reza Djalili. 1990. Les Relations Internationales. PUF. P.5 Sandra Fernandes
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A visão moderna (e pós-moderna)
Evolução

A modernidade é caracterizada pela expansão de atores


não-estatais com influência internacional
⦿ Atores multinacionais ⦿ Atores transnacionais ⦿ Organizações
Internacionais
⌾ Com poder ⌾ Com poder de
económico superior influenciar ⌾ Capazes de moldar a
a pequenos e intervenções resposta internacional
médios Estados militares a crises
AstraZeneca capaz WikiLeaks revela OMS coordena
de redefinir o plano exército Norte- resposta à
de vacinação de UE Americano a matar Covid-19 Sandra Fernandes

jornalistas no Iraque (CICP-Uminho)


A visão moderna (e pós-
moderna)
Evolução Não só novos atores e interesses, assim como novas
agendas
⦿ Agenda dos Direitos ⦿ Agenda das ⦿ Agenda para os
Humanos Alterações Climáticas Refugiados

Novas Soluções?
Sandra Fernandes
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2
As Relações Internacionais
Interdisciplinaridade
Sandra Fernandes
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A fertilidade do saber

A análise da política internacional requer ferramentas teórico-


conceptuais diversas e abrangentes MAS específicas às RI

Processo de tomada de decisão!


Teoria dos Jogos ESTUDAR MAIS!

Análise de personalidade
Análise comportamental
Estudos sobre as elites Sandra Fernandes
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3 Conceitos, Teorias
e Métodos

Sandra Fernandes
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Fonte: Tucídides. (2008). História da Guerra do Peloponeso (1 edição). Edições Sílabo Sandra Fernandes
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Perenidade dos conceitos-chave

à Poder
à Balança de Poder
à Self-Interest
à Hegemonia
Conceitos clássicos (históricos) ordenadores das RI e da sua
explicação desde a antiguidade. Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
Poder “Most definitions of politics involve power. Most international
interactions are political or have ramifications for politics.
Thus, it is not surprising that power has been prominent in discussions
of international interaction from Thucydides to the present day. (…)

Robert A. Dahl (1957) has suggested that underlying most such terms is the basic
intuitive notion of A causing (or having the ability to cause) B to do something that B
otherwise would not do. (…)
Although alternative definitions of power abound, none rivals this one in widespread
acceptability. (…)

The relational power perspective views power as multidimensional rather than monolithic
and unidimensional.”
David. A. Baldwin
Sandra Fernandes
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Poder
Os principais elementos constitutivos de poder
Raymond Aron

Território Unidade nacional


População e povoamento Sistema político
Recursos Organização militar
Capacidade de desenvolvimento Relação com o estrangeiro
Valor moral Sandra Fernandes
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Hegemonia
“Um Estado hegemónico exerce uma função hegemónica se ele conduz o
sistema de Estados na direção que ele escolhe e, ao mesmo tempo, se ele é
percecionado como o defensor do interesse universal.”
Giovanni Arrighi

“Os Estados mais fracos num sistema internacional seguirão a liderança dos Estados
mais poderosos, em parte porque eles aceitam a legitimidade e a utilidade da ordem
existente.”
Robert Gilpin
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“Novidades” nos conceitos-
chave
à Soft Power
à Legitimidade
à Soma Positiva
Conceitos emergentes das RI e que se afirmam após 1991

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Expansão do Poder
Do Hard Power para o Soft Power (Joseph Nye)
A evolução da coerção para a atração:
Recurso à cultura e valores (políticos)

Novas formas de Poder:


Ø Smart Power Ø Sharp Power
(Joseph Nye, 2003) (Christopher Walker, 2018)
Uso combinado do Hard e Soft Uso de estratégias e políticas
Power para ultrapassar as suas com o intuito de manipular os
fragilidades individuais alvos
Sandra Fernandes
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Correntes teóricas
Os conceitos estão necessariamente radicados em
quadros teóricos próprios:

Realismo Liberalismo
Intimamente ligado à Voltado para a criação de
manutenção da Balança relações pacíficas
de Poder por forma a baseadas em lógicas de
evitar a concretização da Win-Win centradas na
Armadilha de Tucídides Soma Positiva
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Conceção do Sistema Internacional
A própria conceção e classificação do Sistema
internacional obedece a um ponto de vista teórico prévio

Sistema Internacional Comunidade Internacional


àPressupõe uma à Evidencia laços de ligação entre
ordenação e regulação
VS membros mais significativos e
interna coesa e estruturada próximos (pertença)
(uma lógica)
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Categorização do SI
Sistema Internacional de geometria variável e
em constante evolução: é dinâmico
-Multipolar -Sistema sem um polo definido com múltiplos focos de poder
-Unipolar -Sistema com um poder hegemónico
-Bipolar -Confrontação Este-Oeste (Guerra Fria) com duas superpotências
-Multi-unipolar -Zonas de influência de poderes hegemónicos regionais
-Apolar -Sistema sem focos de poder capazes de o direcionarem
-Interpolar -Sistema multipolar onde os focos têm entre si relações de
. interdependência
.
.
Sandra Fernandes
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4
Estudar a Política
Internacional no
Século XXI
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
Realidade da Política
Internacional Hodierna
Um misto entre clássico e modernidade, entre atores
tradicionais e (pós)-modernos.
Tensões nascentes da Cooperação alargada em matérias
instabilidade no equilíbrio das de alcance global como o clima e o
diferentes balanças de poder ambiente

Conflitualidade no Leste europeu Inexistência de competitividade


com a aproximação do espaço na proteção ambiental e
pós-soviético ao Ocidente atomização de atores
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
A complexidade da Política
Internacional
Mesmo agendas clássicas têm múltiplos níveis de análise
e são altamente estratificadas
Ex: O quadro de segurança no Pacífico é uma área comum de
cooperação dos poderes ocidentais face à afirmação chinesa
Contudo, diferentes atores têm diferentes agendas e
interesses
Instabilidade entre parceiros NATO (França-EUA) face ao
fortalecimento da capacidade de resposta militar australiana.
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
A complexidade da Política
Internacional
Mesmo agendas clássicas evoluem e podem incluir
atores não-estatais.
Daesh e Taliban como atores não-estatais em transição, com
saliência e voz no plano internacional.

Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
Ideia central
A análise de política internacional é um exercício
complexo!

Conforme mudam as áreas em análise muda a configuração do SI

Mudam as agendas e as lentes teóricas mais


adaptadas para fornecerem respostas explicativas. Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)
? Questões para Debate
Estamos perante uma evolução das RI que torna a sua
vertente clássica obsoleta?
Os quadros de problemáticas globais revelam uma nova
abordagem para as RI ou as dinâmicas de funcionamento são as
originais meramente disfarçadas?
As polaridades do sistema são um fator de estabilização da
natureza anárquica do mesmo?
Sandra Fernandes
(CICP-Uminho)

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