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1º Teste

Introdução às Relações Internacionais


Intervenientes nas Relações Internacionais
• Relações entre governos: Elementos-base das RI
• Outros atores de RI:
o Organizações e Indivíduos
o Estruturas sociais (economia, culturas, política doméstica)
o Influências históricas e geográficas)
Contributo pessoal no universo das RI
- Exercer o direito de voto
- Participar do mercado global (efetuando compras e vendas)
- Realizar protestos pacíficos
- Mantendo-se informado (comunicação social)
- Cidadão-jornalista: a participação ativa do cidadão comum no mundo da
informação e do jornalismo através da sua visão, das suas imagens e do seu
testemunho.

Impacto das RI nas nossas vidas


• Telejornais; Questão dos refugiados; Guerra; Aumento dos combustíveis;
Questões humanitárias; Futebol; …

“Soft power” – poder (levar alguém a fazer algo)


=/= “Hard power” – ex.: poder bélico (Rússia)

Origens intelectuais das RI


• A disciplina nasceu no pós-guerra

➔ A nível militar: Sun Tsu, séc. VI A.C. “O principal objetivo da guerra é a paz”,
primeiro tratado militar da história.
➔ História da diplomacia: Tucídides, 420-411 A.C, defendia que as polis eram as
unidades-chave de ação e agiam movidas por um interesse que se traduz em poder.
➔ Direito Internacional: Hugo Grotious, séc. XVI, um dos fundadores do DI
➔ Diplomacia: François de Callières, séc. XVII, aconselhava o soberano sobre
a arte da diplomacia nos negócios
➔ Filosofia: (séc. XVII-XIX) Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau,
Immanuel Kant, Adam Smith
Thomas Hobbes – Afirma que o Homem nasce e morre no seu estado de amor/ódio,
que o mundo é uma espécie de selva e vence o mais forte. Não se agarra a meios
para atingir fins.
Jean-Jacques Rousseau – Contrato Social, se o Homem e o Estado cooperarem todos
tendem a ganhar.
Immanuel Kant – Razão, O comércio é fonte de paz.
Adam Smith – Liberal, a mão invisível - o papel do Estado deve ser mínimo.
As origens históricas das RI

• Tratado de Vestefália – 1648 (nasce o Estado moderno)


- Ponto de partida histórico das RI modernas
- Estabelece a soberania nas relações entre Estados

Tem direito a ter o seu


próprio território, exército permanente, representar no estrangeiro com consulados e
embaixadas, fazer guerra, assinar a paz.

Em Vestefália surgiu o princípio da não interferência (ex.: Ucrânia)

Quando nasce as RI?


Emergência das RI – estudar o porquê da guerra e como prevenir uma futura.

• Até finais do séc. XIX:


- RI diluídas dentro das instituições e da literatura académicas
- Perdia espaço para política doméstica; era um apêndice de outras disciplinas
- Não eram autónomas como disciplina

• 1ª Guerra Mundial – Surgimento das RI como disciplina autónoma


- Consciência da destrutividade e as suas implicações sociais, económicas e
políticas
- Globalização do conflito militarizado entre os Estados

Necessidade de construir uma “paz duradoura e estabilidade global”

• Sociedade das Nações (junho 1919) - Fórum internacional para a resolução de


conflitos
- Baseada nos 14 pontos de Wilson (Paz e reorganização das RI no fim da 1ªGM;
Princípio da autodeterminação Nacional; Princípio da Diplomacia Pública e dos
Acordos Abertos ; Transparência das RI.)
- Utopia

Qual foi o pecado? Impor obrigações aos países perdedores (humilhação)

As RI como campo de estudo


➔ Objetivo: Estudar como o mundo funciona.
➔ Objeto de estudo: Política Internacional: decisões dos Governos acerca dos
atores externos;
Diplomacia: Guerras, Relações comerciais e culturais, alianças, organizações
internacionais.
Entender como estas influenciam as relações entre as Nações

Importância das RI
????
Estado/Potência
• o aparelho (Governo)

O Estado como autor das RI


➔ As RI estuda as relações entre Estados, faz as interações entre os Estados e as
suas fronteiras.
➔ O Estado é o “protagonista” das RI.
Micro Estados: Vaticano, Andorra, …
Nota – Existem cerca de 200 Estados no mundo, sendo que 50 estão localizados nos
EUA.

Estados de Jure vs Estados de facto


➔ De Jure significa por lei. É algo legal e legitimo.
➔ De facto significa existir, mas não por lei.

• Conceito de soberania (independência + reconhecimento)


Ex.: República da China (Taiwan) vs República Popular da China
(Debatem por reconhecimento. Poucos reconhecem a independência de Taiwan
devido a necessitarem de investimentos por parte da China)

Estados / Potências
Potência média
Ex.: Canadá

Pequena potência
Grande potência
Ex.: Islândia SUPERPOTÊNCIA
Ex.: China
EUA

É um poder inigualável em todos os aspetos


(militar, económico, “Soft power”, …)

Potências emergentes – Rússia, China, Brasil, México

Potência reemergente

Exerce uma grande influência


no Atlântico Sul (potência do
Global South)

Influência na América Central. A sua


demografia, economia em desenvolvi-
mento. Pode vir a integrar os BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China, África
do Sul)

Potências regionais – EUA, Brasil, China, Austrália, Itália, Irão, Alemanha, França,
Reino Unido, Rússia, …

Landlocked countries – Macedónia, Bolívia, Azerbaijão, Afeganistão, Etiópia, …


(Nenhum destes países tem acesso ao oceano)

Sistema Internacional*

Sistema de Estados = (Sistema Internacional)


Características:
➔ 2 ou mais estados
➔ em contacto entre si
➔ impacto mútuo nas decisões

Sociedade de Estados

Sociedade Internacional = (Sociedade de Estados)


Características:
➔ um grupo de estados
➔ valores e interesses comuns
➔ regras e instituições comuns
Ex.: UE, OPEP, NATO, NAFTA, CPLP, …

O Estado soberano/Vestefaliano segue um conjunto de valores:


• Segurança, justiça, liberdade, ordem, bem estar

A ideia de Vestefália é atual?


- possível pergunta de desenvolvimento

Notas – Exemplos de Estados falhados: Síria, Líbia, …


Palestina é um Estado sem Nação.

Nação vs Estado

Nação
➔ Comunidade que se considera distinta em termos de etnia, história, religião,
tradições, língua, …
➔ Algo que une, algo em comum
➔ Sentido de pertença
➔ Não necessariamente sinónimo de Estado
➔ Media não ajudam

Estado
➔ Entidade com um governo (país) ou sub-entidade
Ex.: região ou província

• Há estados com várias nações


Ex.: Iraque, Reino Unido
• Há várias sem estado
Ex.: Curdos, Palestinos, Uigures, Tibetanos, Bascos, Galegos, Tchetchenos, …
• Estados com várias nações que se desmoronaram
Ex.: antiga Jugoslávia
• Outros sobrevivem
Ex.: Bélgica (Dutch – French)
(identidade nacional) (país – asp. físico)
POVO + CULTURA + TERRITÓRIO = NAÇÃO + GOVERNO = ESTADO - NAÇÃO
(leis próprias) (estado - asp.Político)
Sistema Internacional (Sistema Internacional)*
➔ Forma de organização da vida política (em todas as épocas e lugares)
Ex.: Grécia Antiga, Itália Renascentista
(cada estado tinha as suas formas de organização, ex.: cidades de estado)

Valores medievais:
1. O tempo pertence a Deus. Assim, é pecado emprestar dinheiro a juros pelo
tempo em que ele teve emprestado.

2. A fé é mais importante que a razão.

3. As ações coletivas são valorizadas. As pessoas consideram-se membros da


cristandade.

4. Deus está no centro das atenções (teocentrismo). Ex.: Irão, polícia religiosa da
Arábia Saudita.

5. O corpo é fonte do pecado.

Valores Renascentistas:
1. O tempo pertence ao Homem que deve, portanto, usá-lo em benefício próprio.

2. Razão e fé são importantes.

3. Valorizam-se o talento e capacidade de um. Individualismo.

4. O Homem está no centro das atenções (antropocentrismo).

5. O corpo é fonte de beleza.

Antes de Vestefália
O sistema da cidade-estado na Grécia:
• Precursor do sistema de Vestefália
• Pólis (cidade-estado)
• Cada Pólis tinha o seu próprio modo de governar
• Atenas berço da democracia
• Cidadãos: Homens e adultos livres =/= escravos (⅓ da população)
Grécia Antiga

➔ Sociedade Grega

CIDADÃOS + NÃO CIDADÃOS

Homens Mulheres
Estrangeiros
Escravos
• Mais de 18/20 anos
• Filhos de pai e mão ateniense
• Com o serviço militar cumprido

Privilégios:
- Igualdade perante a lei
- Igualdade no acesso aos cargos políticos
- Igualdade no uso da palavra
- Igualdade na posse de terras
- Igualdade na posse de escravos
- Igualdade ao acesso à educação

Deveres dos cidadãos:


- Cumprir o serviço militar
- Votar
- Participar na Eclésia
- Cargos de governantes, legislador, juiz ou magistrado
- Participar nas cerimónias cívicas e religiosas

➔ Acrópole
Situada nas partes mais altas da Pólis.
• Significado simbólico – elevar os valores humanos
• Significado estratégico – capacidade de defesa contra invasões

O Império Romano no auge da sua expressão


(ver power point)

Idade Média
• Feudalismo;
• Igreja – instituição preponderante

Desintegração do Império Romano deu origem a três impérios/civilizações


• A civilização árabe
• O Império Bizantino
• O Sacro Império Romano-Germânico

Era dos Descobrimentos


• Comércio e comunicação;
• Desenvolvimento tecnológico;
• Fé, curiosidade, buscas de feitos grandiosos
GOD, GOLD & GLORY

(Tratado de Tordesilhas)

A Era dos Descobrimentos teve um impacto extraordinário nas relações sociais e


internacionais da altura.
➔ Concomitante (ao mesmo tempo) à Era do Renascimento
➔ Individualismo e humanismo
➔ Exploração cultural fomenta a separação da igreja da vida política
➔ Interação entre estados e povos distantes

Maquiavel (1469-1527) – Interesse do Estado incompatível com regras morais

Antes de 1648

• Cidades-estado gregas: auge do poder 400 a.C. : cooperação (diplomacia)

• Império Romano: Imperialismo + Expressionismo


- Lei + Língua (fatores de união)

• Idade Média: Centralização da autoridade religiosa. Descentralização da vida


política e económica

• Descobrimentos: desenvolvimento das redes transnacionais

Pressuposto de Darwin – Sobrevive o mais forte. Encontrar métodos de adaptação. Se


não se adaptar é eliminado. GLOBALIZAÇÃO

Vestefália
Impacto nas RI
• Soberania
• Territorialidade
• Direito a escolher a religião
• Não – interferência
• Exército permanente
• Estado: ator chave das RI
Europa do séc. XIX
O rescaldo da revolução
• A revolução americana (1776) contra o domínio britânico
• A revolução francesa (1789) contra o domínio absolutista
• Locke – (defensor da liberdade e tolerância religiosa)

• Um séc. de paz (1815-1914)


Exceção: Guerra da Crimeia (1853-1856)

Congresso de Viena (1814-1856)


Objetivo:
• Reorganizar as fronteiras
• Restaurar o absolutismo
• Recolonizar as nações americanas

Princípios:
• Legitimidade
• Equilíbrio europeu

Concerto da Europa

França – Áustria – Reino Unido – Rússia – Prússia


dividiram o poder entre si

• Santa Aliança: combater ameaças ao absolutismo


- Natureza político-militar
- Exércitos da Rússia, Prússia e Áustria
- Ameaças ao Antigo Regime

Estrutura do Sistema Internacional

➔ Multipolaridade

vários polos / potências na governação


(fracassou)

O impacto da 1ºGuerra Mundial

➔ Fim dos Impérios


-Russo
-Austro-húngaro
-Otomano
➔ Descontentamento da Alemanha no pós-Versalhes
➔ Atribuição da paz de Versalhes e as sementes para uma nova guerra

Períodos “Entre-guerras”
• Fascismo (Itália – Mussolini)
• Nazismo (Alemanha – Hitler)
• Hitler rearma a Alemanha nos anos 30
• Inação (appeasement) por parte da França, Inglaterra e URSS
(A inação de uns leva à emergência de outros)
• Hitler explora o descontentamento popular
• Sociedade das Nações é ineficaz

GUERRA FRIA
Características:
• Duas super potências + Sistema de alianças
• Interesses divergentes, ideologia, perceção mútuas
• Paz nuclear
• Fim do Sistema Colonial
• Confronto indireto: recurso a terceiros

Acontecimentos:
• Guerra da Coreia
• Crise dos misseis de Cuba
• Guerra do Vietname
• Queda do muro de Berlim (1989) e reunificação da Alemanha (1990)
• Colapso da União Soviética (1991)
• NATO vs Pacto de Varsóvia

Pós – Guerra Fria

• Início da Unipolaridade : os EUA como potência

O Iraque invade o Kuwait em 1990


- 1ªGuerra do Golfo (1990-1991)
- 2ªGuerra do Golfo (2003-2011)

Pós-guerra Fria

• 2001 (11 de setembro) – sentimento que ninguém é imune ao terrorismo.


• 2008 – crise financeira
A insegurança pode ser de vários níveis: terrorismo, económica, laboral, …

Centros emergentes de poder

O mundo tem vários polos, que concentram a parte económica, ciência, militar, ou
seja, não está tudo num único país.
• Os EUA concentram todos, contudo já não conseguem fazer face aos
problemas globais, a super potência precisa de colaborar.

A humanidade evoluiu de uma estrutura unipolar, para mais tarde uma estrutura
bipolar (guerra fria).

Sistema atual: Unimultipolaridade


Multipolaridade – tecnológica e económica EUA, Japão, China, União
Europeia

Unipolaridade – Militar e soft power EUA

PODER – hard power e soft power

sharp power - capacidade de ocultar a realidade para levar alguém a fazer algo que
acredite
(ex.: Coreia do Norte, manipulam a realidade, usando a media para construir uma
narrativa.)

smart power – usar o soft ou o hard

Hard power
Influência através de:
• parte militar (armas, …)
• poder monetário
• sanções

Estados com estatuto nuclear: EUA, Reino Unido, França, Israel, Paquistão, Índia,
China, Rússia, Coreia do Norte

Dilema de segurança
➔ Há uma busca contínua de armamento.

Soft power
Atrair, seduzir, persuadir. Mudar comportamentos.
• Cultura
• Valores políticos
• Valores da confiança/lealdade

Consenso de Washington vs Consenso de Pequim


Obriga a reformas em troca do capital.
Dá o capital mantendo os regimes que têm no
poder.
(com a exploração de recursos, ex.: petróleo)

Smart power – capacidade do estado usar o soft e o hard power.

Um sistema incerto
➔ Joseph Nye – soft power
- Poder disseminado por causa de:
1. Interdependência económica
2. Atores transnacionais / Multinacionais
3. Nacionalismo presente nos estados fracos
4. Transferências de tecnologias
5. Novos problemas político

Atualmente, o poder está espalhado no mundo.

- Atores individuais e múltiplos


- Anónimos e invisíveis
- Negociação e consenso entre todos difícil, lento ou improvável

Nota: Guerra Ucrânia - China beneficia de petróleo mais barato.

➔ Richard Hass (2008)


1. Perigos causados por mundo “apolar”
2. Antiga potência ameaçada
3. Fragmentação da arena política

➔ Bertrand Badie (2004)


1. Sabemos o que perdemos, não o que ganhamos.

Comparando antigos impérios com EUA da atualidade


• EUA mais vulneráveis aos desafios de segurança que Inglaterra do séc XIX
• Sistema em permanente evolução
- Questão central: não se EUA vão cair em declínio absoluto
- Já atravessam um declínio
- Teses de Paul Kennedy (poder é cíclico)
- Não “se” mas “quando” e por “quem”
Todo o Império cai. (Ciclos)

➔ James Rosenau
1. Hegemonia em declínio
2. Fronteiras em declínio
3. Autoridade/poder dominante contestado
4. Imprevisibilidade

Governação mundial sem governo

Ou governância (João Cravinho)

Nota: Questão dos refugiados - Cada estado gere a pasta dos refugiados da maneira
que quer.
Os estados federados dependem do estado federal.

Transição para a nova ordem (configuração do poder)


1. Terrorismo
2. Poluição do meio ambiente
3. Globalização da economia
4. Narcotráfico
5. Diminuição das distâncias (novas tecnologias)

Competências dos antigos atores


Novas entidades

➔ Samuel Huntington (1999)


Choque de civilizações

Sistema Internacional unipolar

• Uma única superpotência


• Algumas grandes potências
• Várias potências de menor peso

➔ Pierre Hassner (2003: 63)

Sistema internacional

Unipolar do ponto de vista militar

Multipolar do ponto de vista económico e cultural


(Coexistência entre estas duas características)
O fim de Vestefália?
• O Papel do Estado hoje menos relevante na:
- Regulação da vida interna
- Participação nas decisões internacionais

• A velha ideia de não-interferência em assuntos de outros é arcaica.

Nível de análise:
Individual
• Perceções, escolhas e ações de seres humanos individuais
• O caráter / personalidade e o prisma de valores
• O contexto
Nenhum cargo é exercido da mesma força, ex.: Obama e Trump

Doméstico
• Agregação de indivíduos dentro dos estados
• Influenciam as ações do estado na área internacional
• Grupos de interesse, organizações políticas e agências governamentais
• Operam de modo diferente em diferentes tipos de sociedade e estado
Exemplo: Democracia vs ditadura
Atores: abstenção, nós, media, redes sociais, etc.

Interestatal / Internacional / Sistemático


• Influência do sistema internacional
• Enfoque nas interações dos estados entre si
• Descura a política doméstica ou a personalidade do líder
• O nível mais proeminente / importante de análise
• Compara poder relativo do estado no Sistema Internacional
• Relações de força (assimetria)
Exemplos: Bloggers, media, etc.

Global
• Enfoque em tendências globais/forças que transcendem os próprios estados
• Transnacionalidade
Exemplos:
-Evolução da tecnologia
-Globalização (Julian Assange)
-Interdependência
-Terrorismo
-Clima (Greta Thunberg)
Não pode ser revolvido apenas no nível doméstico
Atores
1. Organizações Internacionais / Intergovernamentais (União Europeia, ONU)
• Criadas por tratados e negociação
• Associação voluntária de estados soberanos
• Objetivos dos estados

➔ Escopo (alcance)
• Regional (União Europeia, NATO, OSCE, União Africana, Asean)
• Mundial (FMI, Banco Mundial, World Trade Organization, Interpol)
• Finalidade genérica (ONU – UNESCO, UNICEF)

➔ Papel
• Político (Liga Árabe)
• Ambiental
• Securitário
• Social
• Económico

2. Organizações não-governamentais e sociedades transnacionais (amnistia,


Cruz Vermelha, etc) – vivem de doações – carácter voluntário

• Grupo social organizado, sem fins lucrativos


• Constituído formal e autonomamente
• Ações de solidariedade no campo das políticas públicas
• Legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas
das condições da cidadania
• Complementam o trabalho do Estado
• Podem receber financiamento e doações do Estado ou de entidades privadas

Sociedades Transnacionais

Também ditas Multinacionais, sem fronteiras, escala internacional.


Mudança do antigo modelo de multinacionais sedeadas em países desenvolvidos.
• Atualmente, nº crescente de multinacionais em países emergentes tornou-se
poder em si mesmo.

Consequências – fonte alternativa de investimento que enfraquece a influência


política e económica dos governos ocidentais.

• Multinacionais baseadas em mercados emergentes adquirem cada vez mais


◦ empresas do “mundo desenvolvido”
◦ ativos ocidentais
◦ acesso a tecnologias

• Filias em vários países


• Parte significativa do volume de negócios no estrangeiro
• Organização da produção à escala mundial: Made in Banglasdesh
• Economia “globalizada”
• Redução dos custos e busca de maior competitividade

As sociedades transnacionais:
• Enorme poder económico e político, superior a muitos Estados
• Atividade comum em vários Estado numa escala planetária
• Atividade contratual (ver pp)

Estamos a passar de um estado providencia para em estado concorrência.

Demais atores:
• Terrorismo – 11 de setembro

Um ator sem fronteiras nem idades:


• culto do medo
• a guerra sem tréguas
• todos os meios servem
• impacto físico e psicológico

Os países mais afetados pelo terrorismo:


• Iraque
• Afeganistão
• Síria
• Nigéria
• Paquistão
• Somália
• Turquia
• Yemen
• Líbia
• Índia

( Crise dos refugiados, Narcotráfico )

• (ONGs), Sociedades transnacionais e Org. Internacionais Intergovernamentais


não irão suplantar o poder dos governos/estados, mas enfraquecê-lo
• Os governos terão meios limitados para influenciar a agenda dessas
organizações
• Terrorismo, refugiados, fronteiras
Diferenciação entre Política doméstica e externa

Negociação a dois níveis


“Exercício estratégico de ‘equilíbrio geral’ onde se inscrevem simultaneamente as
interações de fatores e interesses domésticos e internacionais”.

Nível doméstico

Não configura o que é o interesse nacional

Diferentes perceções domésticas sobre o interesse nacional

Pluralidade de atores
Exemplo: Evangélicos, Maçonaria (ator invisível) , Partidos Políticos, Sindicatos,

Media – ator doméstico e simultaneamente internacional

Diversidades de atores

• Indivíduos
• Grupos de pressão
• Sindicatos
• Associações
• Partidos Políticos
• Comentadores políticos / opinion makers
• Opinião pública

Nível de complexidade maior face ao nível internacional

atores que afetam as decisões políticas

O político

Jogar com sucesso nos tabuleiros nacional e internacional

Imprevisibilidade: gerir expectativas

Eleitores, Opinião pública, …

• Parceiros internacionais; Comunidade Internacional

Erro comum
Tomar as decisões no plano externo como definitivas

Negligenciar o plano doméstico

➔ Direções inesperadas, dinâmicas psicológicas, empatia, …

Tentam se destacar – por exemplo:


Obama – queria abrir Cuba ao mundo; Obama care, …
Trump – quis dar sinais de abertura à Coreia do Norte.

Não se deve desvalorizar o plano doméstico, os eleitores podem mudar a sua opinião
e tudo mudar, ex: mudança abrupta da extrema esquerda para a extrema direita.

Sucesso ou insucesso da ratificação

Putnam

• As características sociopolíticas domésticas

• O formalismo dos métodos de ratificação

Ex.: Referendos

• A estrangeiro e a agenda pessoal dos interveniente

Referendo – consulta depois da lei ter sido feita


Plebiscito – consulta antes da lei ter sido feita

2º Teste
A corrente liberal

Liberalismos:

John Locke (1632-1704)

• Adversário do absolutismo monárquico da Inglaterra de então


• Defendia o parlamentarismo/monarquia constitucional
• Refugiou-se nos Países Baixos
• Depois da Revolução Gloriosa (1666-89)
◦ Fim do absolutismo monárquico britânico
◦ Aumento do poder do parlamento e limite do poder do monarca
◦ Estabilidade política e económica
◦ Pré-condições para a Revolução Industrial
• “Declaração dos Direitos” (base da monarquia constitucional)
◦ Locke co-redigiu

Não existem ideias inatas (tabula rasa):

• Mente = página em branco que a experiência vai

preencher Precursor da democracia liberal

Liberdade, propriedade, vida e tolerância

Princípio da divisão dos três poderes:

Legislativo, Executivo e Judiciário

• Separação entre Estado e a Igreja

Ideia revolucionária para a época.

Cinco postulados-chave:

1. Razão
• Permite compreender e moldar o mundo
• Não necessita de um ser superior

Verdadeiro ou falso?
Não se pode lutar contra o destino.

Não há destino. O Homem faz o seu próprio destino, não depende da “mão-invisível” do
sobrenatural.

Como se aplica às RI?

• Capacidade para influenciar as RI.


• Indivíduo é sujeito ativo.
• Pode contrariar as adversidades de uma governação sem governo.

2. Progresso histórico
• Possível e desejável reformar as RI.
• A realidade internacional não é estática. Ex.: Queda do muro de Berlim; Fim da
União Soviética.

3. Política doméstica – Política externa


Instituições domésticas Política externa
Política doméstica RI

• Ligação entre o regime doméstico e a paz/guerra

4. Interdependência económica
• Reduz probabilidade de conflito/guerra
• Mercantilismo vs livre comércio

Mercantilismo

Livre Comércio
David Ricardo:

Comércio e interdependência económica

Reduzem risco de conflito

5. Institucionalização

• Impacto positivo de uma rede crescente de organizações


• 1ª Organização Governamental Internacional (1865 – International Telegraph Union)
• League of Nations – precursor das Nações Unidas

A importância dos acordos internacionais

A mais antiga instituição internacional que regula as relações entre Estados:

O Direito Internacional
Ex.: Tratado civilização egípcia (séc. 13 a.C.)

Os ideais liberais: uma história não linear

• A destrutividade da guerra
• A importância de estudar as condições para um mundo pacífico
• Assim nasce formalmente a disciplina das RI
◦ Examinar as causas da guerra e estímulos para a paz
• Uma disciplina concebida e fundada por ideais liberais (Entreguerras).

• Diagnosticar perceções e equívocos


• Abolir diplomacia secreta
• Criar instituições internacionais
• Evitar marginalizar novamente os perdedores
◦ Integrando-os nas Nações Unidas
• Centros de Investigação:
Berlim, Hamburgo, Londres, Nova Iorque e Toronto

Contudo,
O século XX seria marcado pelo realismo.
1º Guerra Mundial e pós-guerra
2ª Guerra Mundial

• Precursor da União Europeia:


◦ Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA)
◦ Tratado de Paris em 1951
◦ Produção e livre circulação de carvão e aço
◦ França, Alemanha, BENELUX,
◦ Comunidade Económica Europeia (CEE)
◦ Tratado de Maastricht (1992)

União Europeia (numa ótica liberal)


• Relações transnacionais
• Multilateralismo
• Cooperação
• Interdependência económica
• Integração regional

Ideias liberais:
• Relações internacionais
• Multilateralismo
• Cooperação
• Interdependência económica
• Integração regional

Preocupações atuais que requerem cooperação (corrente liberal)


• Terrorismo
• Piratas da Internet

Correntes do liberalismos
1. Interdependência complexa

Modernização

Maior interdependência entre Estados

• Uso da força é menos benéfico


• Divisão mais eficaz do trabalho
• Laços transnacionais

Defensores do Liberalismo : Keohane e Nye


Estados mais preocupados com:

Low politics (não envolve a sobrevivência do Estado) e bem-estar


em vez de high politics (não prescindem de soberania, são as políticas mais importantes do
Estado)

• Estados têm objetivos próprio


• ONGs e outras organizações igualmente
• Organização

2. Liberalismo

Institucional Woodrow Wilson

(pioneiro) Selva para Zoo

SDN (o papel das instituições)

Hoje: liberalistas institucionais menos “utópicos”

Mas realçam vantagens das instituições

Regionais e Mundiais (OTAN, UE, OMC)

As instituições:
• superam a falta de confiança entre os Estados
• negociação e o compromisso (Ex.: Comissão Europeia, ONU)
• continuidade
• previsibilidade

3. Liberalismo Republicano

As democracias vs outros sistemas políticos

- Mais pacíficas

- Mais respeitadoras

Democracias fazem a guerra (tal como as não-democracias)


• Mas as democracias não fazem a guerra em si, logo mais democracias = mais paz

Democracias são mais pacíficas porque :

Cultura política domésticas


• Resolução pacífica de conflitos
• Governos democráticos são controlados pelos cidadãos que desejam paz
Valores morais
• Kant “União Pacífica”. Não é um tratado de paz mas mais zonas de paz espalhadas
pelo mundo

Cooperação económica e interdependência


• Incentivo ao “Espírito de Comércio” (Kant)
• Win-Win

Resumo: as três vertentes do liberalismo

A corrente realista
Debate Liberalismo – Realismo

Críticas ao liberalismo:
• Otimismo e utopia vs realidade
• Progresso e razão?
• As instituições
Otimismo e utopia vs a realidade

Se o ser humano fosse bom e

pacífico Não haveria guerras

• Afinal, a natureza humana é má


• O liberalismo esqueceu-se disso

Progresso histórico

É utópico que a História vai mudar.

• 1ªGuerra Mundial, 2ªGuerra Mundial, Guerra Fria


A razão? O ser humano será sempre o que é.

Logo, a história é só mais uma.

Ex.: Trump cita o “poema da cobra” para comparar os imigrantes a “cobras traiçoeiras”

Analogia: liberalismo vs realismo

Afinal a natureza humana não difere muito


Ex.: Hitler (distração)

As instituições

• Existem apenas no “papel”


• Vence o mais forte
• As instituições refletem os interesses dos Estados mais fortes

Logo, quando as instituições não servem os interesses do Estado, criam-se outras.

As instituições e a ordem mundial

• Apenas interesses permanentes.

Ex.: EUA retiram-se de tratado sobre as armas nucleares com a Rússia.


EUA retiram-se oficialmente do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Ex.: Multilateralismo vs bilateralismo

Contexto histórico do realismo

• Segunda Guerra Mundial


• Fim do isolacionismo dos EUA
• A liderança americana do bloco anti comunista da Guerra Fria
• A desintegração dos impérios coloniais
• Premente inventar novas teorias/modelos para compreender a conjuntura

Pressupostos do realismo

1. Anarquia internacional
2. Estatocentrismo
3. Enfoque sobre o poder
4. Rejeição do normativo

O contributo de Edward Carr (1892-1982)

Utopismo: início de uma ciência

• Amadurecimento: realismo
• Nas ciências sociais não há verdades absolutas

• As preferências de cada indivíduo influenciam a realidade


◦ Nível de análise?
◦ Realismo desvaloriza motivações e objetivos dos analistas
◦ Forças da conjuntura são mais importantes (nível de análise interestatal é
superior)

Análise Realista (dois momentos)

• 1º: identifica as verdadeiras forças que estão no campo

• 2º: aceita as realidades que não se pode alterar e propõe mecanismos que se adaptam
a elas.

Crítica implacável

• Não há harmonia de interesses internacionais


• Erro de Woodrow Wilson
• Povos não têm todos os mesmos interesses
• Os estadistas não podem tomar isso como premissa

• Há poderes que querem a paz, mas outros que podem ganhar com a Guerra (Hitler,
Versalhes)

◦ Conjunturas favoráveis mais a uns que outros


◦ Mas não a todos ao mesmo tempo

Reinhold Niebuhr (1892-1917)

Teólogo e Pastor protestante, mas

• A sua visão não espelha otimismo no espírito humano


• Importância que realismo atribuía ao poder não era incompatível com cristianismo

Na cerna da natureza humana está o pecado:

O orgulho e amor próprio

A vontade de dominar os outros

Estados na arena internacional

Os pressupostos errados do liberalismo:


1. A injustiça será corrigida pela educação.
2. A civilização tornar-se-á mais moral.
3. A justiça é produto do homem, não dos sistemas sociais.
4. O apelo à bondade colherá fruto
5. A bondade gera felicidade, e esta vencerá o egoísmo
6. A guerra não tem sentido e acabará por ceder à razão

O contributo da Hans Morgenthau

• Influente no policy-making dos EUA depois da 2ªGuerra Mundial

• Politics among Nations

• Os seus postulados formaram o tipo-ideal teórico do realismo


◦ Base para outras variantes, reformulações…

O contributo de Hans Morgenthau

• Seis Princípios do Realismo


• Leis fundamentais, objetivas e permanentes
• Regem a política internacional

Princípio nº1

A política obedece a princípios constantes e universais


• Raízes na natureza humana
• Como são constantes, qualquer política que vise mudá-las tende a fracassar
• A natureza humana não muda, logo quaisquer teses inovadoras são suspeitas.

- Woodrow Wilson e o idealismo falharam porque acharam que iam mudar a História.
- Ou seja, que o Homem ia passar a ser bom.

Como é a natureza humana?


Egoísmo e desejo de poder

Princípio nº2

A política distingue-se de outras áreas de intervenção humana pela procura de poder


• É a partir desta tese que podemos classificar algo como factos políticos ou não
• A política externa não depende das crenças ou prisma de valores do estadistas
• Os níveis de análise
• Tudo se reduz a racionalidade: perdas/ganhos e maximizar interesses

Princípio nº3

O interesse definido como poder tem valor eterno no estudo da política, mas não tem
contornos imutáveis
• Os interesses dependem: fatores culturais, históricos, materiais e conjunturais (que
variam)
• O que não muda nunca é a caracterização da política como a defesa de interesses
• Outro tipo de entidade pode vir, no futuro, a substituir o Estado
• Mas a essência da política mantém-se

Princípio nº4

A política vive em tensão permanente com preceitos éticos


• O indivíduo pode sacrificar algo em nome dos seus valores
• Mas o Estado não pode sacrificar os cidadãos que representa
• A principal obrigação moral do Estado é a sobrevivências

- Ações políticos devem ser avaliadas com base nas suas consequências
- Não segundo princípios abstratos

Princípio nº5

Os objetivos do Estado não se identificam com a vontade divina

- Deus está fora da equação do poderosos´

- As crenças do estadista não interessam


- Nível de análise

Princípio nº6

A esfera política é autónoma de outras esferas (como a económica ou a jurídica)

- Vários princípios enumerados atrás são semelhantes, mas todos convergem em:

• Natureza humana, luta pelo poder, interesses, sobrevivência


• Tudo o que procura inovar (como idealismo) falha porque

natureza humana é imutável

Críticas ao realismo
1. A problemática do normativismo

• Regras universais?

• Bases positivista?
◦ conhecimento científico é o único verdadeiro
▪ se não for comprovado não é válido

• Desprezo por crenças, ideologias e valores


2. Anarquia Internacional

3. Interesse nacional

• Como se caracteriza?
• O que é?
• Conceito abstrato?
• Conceito homogéneo?

4. A preponderância da esfera política

Autónoma face a outras esferas (como a económica e a jurídica)

6º princípio de Morgenthau

5. Verdades eternas?

Como se explica a mudança?


Exemplo válidos em qualquer época

histórica? 1º Guerra Mundial Guerra Fria

Descurar o(s) contexto(s)

Neo-realismo
Kenneth Waltz (1924-2013)

• Um dos fundadores do neo-realismo ou realismo estrutural

• Criticava os realistas clássicos


◦ Elementos de uma teoria e não teoria em si
◦ Apenas uma teoria sistémica tem sentido
◦ Não se pode separar unidades de sistema

Estado Sistema Internacional


O sistema é que explica os Estados (influenciam), mas para o realismo o Estado é
independente, é soberano. As estruturas explicam o elemento.

Kenneth Waltz e o Neo-realismo

• Comportamento dos Estados (unidades)


◦ Sistema Internacional

• Anarquia existe

• Estruturas eternas da anarquia


◦ Objetivo: Teorizar o comportamento dos Estados

Críticas ao Neo-realismo

- A política externa de um país é fruto de pressões internacionais

Não chega: Os eleitores são fundamentais!

- A Estrutura do Sistema é
insuficiente Ex.: desagregação/colapso
da URSS

- Estrutura anárquica do sistema internacional

- E a cooperação internacional?
• Comércio Internacional
• Instituições
• Regras de convivência entre os Estados

- Outros atores além do Estado


• Organizações Intergovernamentais: meros jogadores
• ONG´s irrelevantes

Construtivismo
Neo-realismo é materialista

Distribuição de poder material


• Força militar
• Capacidade económica

Equilíbrio de poder entre Estados

Construtivismo rejeita esta visão Enfatiza o social

- Realidade não objetiva ou externa ao observador

- Mundo social e político


• não é físico
• não existe fora da consciência humana

Logo, RI: Ideias, crenças e perceções

Construtivismo: a realidade é construida.

- RI existem como parte de um mundo intersubjetivo


• É produto da criação humana
• Não é físico, mas abstrato

Sistema de pensamento/normas

- Determinado momento e lugar


• Logo quando ideias e perceções mudam

O sistema internacional muda também porque é formado por elas

- Não há verdades imutáveis para o Construtivismo


• Realidade é dinâmica
• Normas são flexíveis

O contexto

Fim da Guerra Fria Fim da Bipolaridade

Neo-realismo
• insuficiente para explicar nova conjuntura
• defendia que países iriam contrabalançar EUA
◦ Segurança
◦ Sistema multipolar

Mas tal não sucedeu


- Debate teórico entre neo-realismo e liberalismo nos EUA

- Influência de
• Filosofia
• Sociologia

Anthony Giddens
• Estruturas interagem com os atores.

Estruturas Atores

Significados

As estruturas moldam os atores

Mas estes também condicionam as estruturas

Consequência: Visão menos rígida da anarquia

Raízes mais antigas (século XVIII)

Giambattista Vico
• Mundo natural (criado por Deus)
• Mundo histórico (feito pelo Homem)
◦ O Homem é responsável pela sua história. É criador dos Estados, que são
construções históricas e entidades artificiais.

Immanuel Kant
• O mundo dá-nos conhecimento
• Mas este é sempre subjetivo
• Porque é filtrado pela consciência humana

Max Weber (compreender – verstehen)


• Mundo social (mundo da interação humana)

difere de

• Mundo natural (mundo dos fenómenos físicos)

“Explicamos a natureza, compreendemos o espírito”


- Dilthey
• Compreendemos o comportamento.

A Natureza vs O Espírito

Conhecimento científico/Positivismo
Nascimento, Crescimento, Reprodução e Morte

Compreensão/Interpretar

Comportamento dos Estados

• Não comprovamos cientificamente


• Pensamentos, emoções, intenções e perceções

Racionalidade

Um ator racional reage de forma a maximizar os seus ganhos


• Ganho de um implica a perda de outro
• Ninguém ganha
• Ambos ganham

Previsibilidade: calcular a ação de outro ator com base na racionalidade


• Fica de fora a emoção, a intenção, a subjetividade

Teoria dos jogos: um ganha outro perde, as emoções ficam de fora

Uma via intermédia

• O construtivismo supera a racionalidade “mecânica”


• Via média entre liberalismo e realismo
◦ Cooperação em vez de altruísmo total ou anarquia total
• De grande utilidade para trabalhos académicos em caso de dúvida

Aplicação às Relações Internacionais: cooperação, os Estados cooperam. Ex.: União


Europeia, apesar de egoístas para o realismo, os Estados cooperam através de instituições.

Identidade e Interação

Construtivismo: a identidade constrói-se com base na interação entre os Estados.

Logo, anarquia não é garantida, pois pode suceder que ao interagirem:


• Estados acabam por se dar bem

Neo-realismo: Identidade e interesses

Construimos a realidade com base na interação que temos com os outros.


A nossa interação com os Estados é que nos dizem se correspondem à realidade que
ouvimos falar. Desse ponto de vista, o construtivismo é parecido com o realismo, com a
tentativa-erro.

Três tipos de anarquia (Wendt)

Hobbesiana:
• Estados percebem-se como inimigos
• Guerra de todos contra todos
• Só guerra permite a sobrevivência
• Predominou até ao séc. XVII.

A sobrevivência advém da luta pelo poder.

Lockeana:

• Estados percebem-se como rivais


• Mas não pretendem eliminar-se
• Reconhecem o direito do outro a existir
• Predominou depois da Paz de Vestefália

Kantiana:

• Estados percebem-se como amigos


• Resolvem as disputas de forma pacífica
• Apoiam-se em caso de ameaça por parte de outros
• Predominou desde o fim da 2ª Guerra Mundial

Ex.: NATO, apoiam-se uns aos outros em caso de invasão ou guerra.

Construtivismo:

• A interação entre Estados pode reduzir a anarquia e clima de tensão internacionais


Precisamente o oposto do que o Neo-realismo defende

Interagir é lutar pela sobrevivência e pelo poder.

Alexander Wendt:
• A “construção social” da política internacional
• O conflito pode ser travado
• Wendt enfatiza a interação entre Estados

Anarchy is what States Make of it.

A ideia de que o conflito pode ser travado. Por exemplo, na Guerra da Ucrânia permanece
uma vertente realista.

Martha Finnemore:

• Wendt enfatiza a interação entre Estados


• Mas Finnemore aposta numa outra variante:
• Normas da sociedade internacional
• E seu impacto na identidade e interesses dos Estados.

• Normas transmitidas pelas Organizações Internacionais


◦ Moldam a política doméstica
• Ajudam os Estados a definir os seus interesses
• Identidade é moldada pela nossa interação com as
estruturas/sociedade. Críticas ao construtivismo

Normas: Neo-realistas mostram-se céticos face à importância que os construtivistas


atribuem às normas, sobretudo as normas internacionais. Estas têm sido descuradas desde a
Paz de Vestefália. A ideia de que a organizações refletem a vontade do(s) Estado(s)
dominante(s).

Cooperação: Neo-realistas hesitantes em aceitar que Estados se tornarão “amigos” em


resultado da interação. Tal pode ser desejável na teoria mas difícil de concretizar.

Incerteza: A incerteza sobre as intenções dos outros Estados e o futuro do sistema


internacional. A análise de Wendt desvaloriza as dificuldades dos Estados em obter
informação fidedigna acerca das intenções de outros Estados.

Engano: Os construtivistas acham que a interação social entre Estados é sempre sincera.
Serão os Estados pacíficos ou fingem sê-lo? Ex.: Pacto Hitler-Estaline.

Mudança: Os neo-realistas criticam os construtivistas por não explicarem devidamente a


mudança e permanência.
Realismo: Construtivismo:
• Anarquia Pensamentos
• Equilíbrio de poder Normas
• Mundo material Mundo abstrato
• Poder Ideias
• Recursos e força Interação
• Imutável Mudança

Pós-Guerra Fria
Novos desafios:
• Globalização
• Interdependência
• Vulnerabilidade e intrusões externas
◦ Soberania – Vestefália?

• Crescente importância de atores não estatais


• O nível de análise
• O alargamento da noção de segurança
Domínios não-tradicionais: Ex.: cibersegurança, o fim da privacidade (dados
pessoais), segurança ambiental

Terrorismo transnacional
• Fim da “santuarização” dos EUA

Afirmação da importância dos conflitos assimétricos


Alteração do conceito de dissuasão

Multilateralismo “à la carte” vs bilateralismo


• Coligações de vontade

O 11 de setembro de 2001
• Violência em larga escala
• Capacidade de atuação a nível global

• Não foi tanto a tipologia da ameaça que mudou


◦ Foram os meios e o método

Os meios e os métodos
• Os meios do país-alvo. São métodos simples, escassos mas eficazes. São
imprevisíveis, logo existe assimetria.

A natureza do terrorismo global:


• É múltiplo, sem rosto, ataca em múltiplas frentes (inclusive na cibernética), é
caracterizado pelo fanatismo.
• É uma luta sem tréguas e prolongada.

Respostas ao 11 de setembro:
• Invocação pela 1ª vez da cláusula de defesa mútua (art.5º) da OTAN
• Legitimação da ação militar no Afeganistão pela ONU
• Prioridade à frente nacional

Intervenção no Iraque:
• Foi uma guerra extremamente desgastante pois os EUA estavam em duas frentes em
simultâneo: Afeganistão e Iraque.
• Erro: optaram por diminuir a frente no Afeganistão, no que deu na reorganização da
Al-Qaeda e da instabilidade no Paquistão.

O que não mudo e que vai mudando:

Mantém-se as assimetrias de desenvolvimento, a competição pelo domínio de recursos


escassos e a emergência de novos polos de poder.

Os EUA permanecem a maior potência mundial, a única com capacidade de projetar poder à
escala mundial, mas com tendência atual para o isolacionismo (Ex.: Trump).

Começa a haver uma gradual multi polaridade: com a redistribuição do poder no mundo,
com os BRICs e com novos focos de poder.

O mundo na era da Globalização

Karl Marx: Para fazermos a História temos de compreender a História

• A instabilidade do sistema capitalista


• Ao buscar o lucro, as empresas eliminam os competidores
A acumulação de capital: uma necessidade do sistema capitalista, impulsionada pela
concorrência.

George Orwell: Anteviu uma sociedade estável e previsível. O indivíduo como uma
simples peça de uma vasta máquina económica e social.

Max Weber: A ciência e a técnica contribuem para a burocratização do mundo.

• Os avanços da ciência/técnica contribuem para a perda de sentido do profético


e do sagrado.
• O mundo racionalizado cria um grande vazio nas pessoas.

Francis Fukuyama: O Fim da História e o Último Homem


• Guarda museus e coleciona histórias e experiências dos outros

Anthony Giddens: A ciência e a tecnologia trouxeram previsibilidade e


estabilidade?
Ao contrário: por vezes, efeitos opostos:
• Mudanças no clima
• Degradação do ambiente
• Novos riscos e incertezas (família tradicional e fundamentalismo)

Há uma posição intermédia entre céticos e radicais

Globalização:
• Política
• Económica (tecnologia incluída)
• Cultural

Globalização não diz apenas respeito aos grandes sistemas.


• Não se limita à ordem financeira internacional. É exterior e interior. Influencia
aspetos íntimos e pessoais, por exemplo a igualdade de direitos.

A globalização é uma teia complexa de processos.

Daniel Bell: Países demasiado pequenos para solucionar problemas grandes mas
demasiado grandes para solucionar problemas pequenos.

Novas zonas económicas e culturais: Dentro e fora dos países


• Hong Kong, Silicon Valley e Bruxelas

A noção de risco não existia na Idade Média, não existia na maioria das culturas
tradicionais, séc. XVI e XVII – navegadores.

• Todas as tradições foram inventadas


• Nunca houve sociedades inteiramente tradicionais
• Sempre incorporou poder (Reis ou Imperadores)

A tradição pode ser transformada. As tradições evoluem.

É um erro supor que para ser tradicional uma prática ou símbolos tem de ser muito
antigo.

Tradição: Pertença de grupos, comunidades e coletividades


• Ritual ou repetição com guardiães próprios (Homens bons, Sacerdotes ou Sábios)

Iluminismo: Tarefa de eliminar a autoridade da tradição.

Na globalização, as sociedades ocidentais e não-ocidentais abandonam algumas tradições.

Tradição:

• Necessária à sociedade
• Tenderá a persistir pois dá continuidade e forma à vida
• O passado determina o presente através da partilha de sentimentos e crenças
coletivas
• Globalização contribui para enfraquecer os costumes
◦ Altera a base da nossa identidade
◦ Altera a consciência de quem somos
◦ Consequências: Ex.: Recurso a terapias e consultas
Ex.: Psicanálise: regresso ao passado

Globalização e Tradição

O fundamentalismo nem sempre existiu. O fundamentalismo questiona a viabilidade de um


mundo sem o sagrado.

• Surge em resposta à globalização


◦ Filho da globalização
◦ Mas serve-se dele – Tecnologia para propaganda
• É diferente de fanatismo ou autoritarismo
• Defende o regresso a escrituras/textos base
◦ E aplicação prática – Economia, Sociedade, Política
◦ Guardiães de tradição.

Globalização e família

Família clássica dos anos 50


• Pai e Mãe juntos
◦ Mulher é dona de casa e o marido é o sustento
• Filhos do matrimónio

Atualmente, Transição de Casamento e Família – Acasalamento e Desacasalamento

Significado de casamento alterou-se: atitudes em relação aos filhos e formas de os proteger


mudaram

Família tradicional
• Filho: recurso de natureza económica
Mundo ocidental atual
• Filho: pesado fardo
• Relação vs Casamento – Ex.: cartão cidadão

Cultura e Globalização
➔ Classificação das

culturas: Distância hierárquica;


Grau de individualismo vs coletivismo
Grau de masculinidade vs feminilidade
Grau de incerteza – utiliza-se para explicar e distinguir tipos de culturas

Hofstede

Limitações metodológicas e concetuais


• Aplicou 117mil questionários
• Aproveitou os funcionários multinacionais
◦ 50 países e 5 continentes

Culturas =/= Países


• Um país pode ter várias culturas ou subculturas

Representatividade da amostra
Datação dos dados (1967-73) – Edifícios da globalização pouco notados

Distância hierárquica: grau de aceitação face a diferenças de poder

Aceitação de uma repartição desigual do poder nas instituições e organizações de um


país.

• Pilares de uma sociedade : Família, Escola, Comunidade

Diferentes locais de trabalho

Aceitação por parte de quem tem menos poder.

Alta:

• Subalternos aceitam distribuição desigual do poder


• Dependência considerável dos subordinados face às chefias

Visível na escola, família, local de trabalho…

O negociador oriundo deste tipo de

culturas: Culturas com grande distância

hierárquica
• Autoritários
• Centralizadores da informação e decisões
• Exigência de maior obediência e respeito
Ex.: Venezuela

Culturas com baixa distância hierárquica


• Maior benevolência
• Descentralização da informação
• Partilha na tomada de decisões
Ex.: Países nórdicos

Individualismo vs coletivismo
O papel do indivíduo e dos grupos em diferentes sociedades
• Explica que negociadores oriundos de diferentes culturas

Conceções distintas do peso das relações sociais na negociação


• Suécia
• Arábia Saudita

Resumos leituras:

1º teste:

Leitura 1

A sociedade internacional entre as duas guerras mundiais:

• O período de 1919 a 1939 é de importância fundamental para a disciplina de RI – RI


nasceu enquanto disciplina autónoma.
• O período que se seguiu à 1ªGuerra Mundial foi um período de grande intervenção
universitária no debate político. Devido ao grande falhanço de mecanismos políticos
tradicionais.
• A disciplina de RI desenvolveu-se por meio de um diálogo entre focos de poder
internacional:
Marcas positivas: A disciplina contribuiu para a resolução de problemas concretos e
não se afasta dos parâmetros do discurso político.
Marcas negativas: A disciplina tende a impor a si própria um colete de forças
constituído por aquilo que é admissível pelas forças políticas dominantes – que por
sua vez, têm quase sempre uma perspetiva de vistas curtas.

Resumo – Depois da 1ªGuerra Mundial esta nova disciplina académica nasceu sob a égide
de meia dúzia de intelectuais bem pensantes (“idealistas” e “utopistas”) que queriam mudar
o mundo. Longe de o conseguirem, as asneiras que cometeram devido aos pressupostos
errados que sustentaram as suas análises acabaram por resultar na 2ªGuerra Mundial.

O contexto internacional na altura da fundação de RI

• A 1ªGuerra Mundial foi a todos os níveis uma guerra traumática e transformadora


que inaugurou uma nova história.
• A Primeira Guerra Mundial foi para uma geração “a Grande Guerra”, um termo que
sublinha as terríveis e trágicas novas possibilidades de fazer guerra a partir de certas
inovações tecnológicas.
• Foi a primeira “guerra total” na história da humanidade.
• A guerra europeia de 1914-1918 foi uma guerra na qual mobilizaram populações
inteiras, enviando milhões de soldados para a frente de combate e transformando
toda a economia do país para a colocar ao serviço da guerra.
• Quando a guerra acabou, não eram apenas alguns intelectuais que estavam
convencidos da necessidade de abolir os mecanismos internacionais que tinham sido
incapazes de evitar a devastadora mortandade da guerra. Era a convicção
generalizada das populações traumatizadas – que agora tinham alguma influência, em
contrastes com a nula influência que exerceram, por exemplo, no Congresso de
Viena de 1815 – e dos estadistas que tinham sido apanhados de surpresa.
• Em 1919 os meios académicos e os meios políticos eram quase unânimes no
diagnóstico que faziam dos objetivos imediatos: criar um sistema com bases novas
capaz de regular os conflitos de vida internacional sem recurso à guerra.
• Objetivo das RI tinha uma relevância eminentemente prática:
- Conhecer as dinâmicas de sociedade internacional;
- Contribuir para canalizar essas dinâmicas por caminhos mais pacíficos.

Críticas à ordem internacional vigente

• Sistema anterior: Congresso de Viena – Sistema Vestefaliano.

Foi alvo de grandes críticas:


- Princípio do equilíbrio de poderes
- Diplomacia secreta

• Ideia de equilíbrio de poderes: ideia anti-hegemónica, cujo objetivo era a manutenção


de um sistema vestefaliano, isto é, um sistema formado por entidades
interdependentes e soberanas.
Assemelha-se à ideia de “mão invisível” em economia.
- Acreditavam que havia uma tendência natural para a do equilíbrio internacional.
- Quando este equilíbrio deixava de funcionar porque se tinha alterado as
circunstâncias, havia em período de instabilidade (no qual podia haver guerras) até se
encontrar um novo equilíbrio.
- Evitar guerra nunca foi considerado um objetivo primordial. Pelo contrário,
aceitava-se que a guerra tinha uma função reguladora na procura de novos pontos de
equilíbrio.

A ideia de que a guerra podia servir para a procura de novos pontos de equilíbrio deixa de
ser aceitável numa Europa dilacerada pelos efeitos de um reajustamento causado por
alterações no poder relativo de vários principais Estados europeus.

• Progresso tecnológico: tinham resultado numa capacidade destrutiva muitíssimo


elevada, aumentando brutalmente o custo humano e económico de guerras. Nunca
uma guerra tinha saído tão cara para todos os principais participantes como a
1ªGuerra Mundial.

• Os estadistas passaram a calcular o equilíbrio de poder de uma forma diferente,


valorizando mais critérios industriais e desvalorizando critérios tradicionais, como o
tamanho do território e da população.

• Envolvimento da população na guerra


• Movimentações políticas internas que davam voz aos trabalhadores

A opinião pública era importante agora

• Em 1919 o princípio do equilíbrio de poderes estava tão fortemente desacreditado e


havia um consenso sobre a necessidade de se desenvolverem novos mecanismos de
regulação da ordem internacional, desta vez centradas no objetivo de evitar a
guerra.

• Presidente americano Woodrow Wilson discurso dos “Catorze Pontos” (1918)

• Num sentido lato, a condenação da “diplomacia secreta” era um mecanismo para


reivindicar uma política externa mais democrática, isto é, mais sensível às opiniões e
aos interesses das populações. Wilson acreditava no bom senso das populações, mais
do que no bom senso dos governantes, e foi essa convicção que o levou a criticar a
chamada “diplomacia secreta”.

Grande protagonista da procura de uma nova ordem internacional.

Elementos da nova ordem internacional – Sociedade das Nações

• O fim da Grande Guerra ocasionou uma grande conferência internacional para


redesenhar a ordem internacional

Conferência de Versalhes

• Começou em Versalhes o desenho de um sistema que falhou claramente nos seus


objetivos declarados.

2 décadas mais tarde eclodia a 2ªGuerra Mundial


• Há cinco elementos fundamentais que podem ser considerados as traves mestras da
arquitetura da ordem internacional acordada em Versalhes:
- segurança coletiva
- diplomacia multilateral permanente
- autodeterminação dos povos
- globalização da sociedade internacional
- supressão de focos de contágio da revolução bolchevique
Todos eles baseiam-se no princípio da primordialidade dos Estados enquanto atores
no palco internacional.

Segurança coletiva

• A ideia essencial de segurança coletiva é que todos os Estados reconhecem que têm
um interesse na manutenção da paz e para tal concordam todos em não utilizar a
força para a resolução de conflitos de interesses.

• Concordam também em punir coletivamente os Estados transgressores.


- Ausência de regulação do Sistema Internacional: Baseia-se no pressuposto do
interesse comum na manutenção da paz e da disponibilidade para contribuir para a
prossecução desse interesse comum.

Promove a paz tanto em termos imediatos, através da ameaça contra os que utilizam
a força, como em termos mais genéricos, porque promove a cooperação e a confiança
entre Estados.

• Um sistema de segurança coletiva tem de se basear no princípio do inimigo anónimo


,isto é, ao participarem num sistema de segurança coletiva, os Estados
comprometem-se a cumprir as suas obrigações contra quem rompe a paz, qualquer
que seja o agressor. Segurança de todos contra todos

• A ideia de segurança coletiva foi apadrinhada em Versalhes por Wilson.

Diplomacia multilateral permanente

• A Sociedade das Nações corresponde à institucionalização de um sistema de


diplomacia multilateral permanente, onde os representantes dos Estados membros
podiam estar em permanente contacto uns com os outros para a discussão e resolução
de problemas comuns.
Nunca se aproxima das expectativas de Woodrow Wilson.

• Segundo Wilson, as negociações e discussões internacionais passariam a ser


conduzidas em debate aberto, permitindo que a opinião pública soubesse exatamente
quem promove a paz e quem tem outros interesses.

• Década de 20 e 30 Propaganda como instrumento político externo

Centrava o esforço da política externa na necessidade de


convencer a população
Máquinas de propaganda:
- Hitler
- Estaline Não correspondiam ao tipo de “diplomacia pública”
que Wilson tinha em mente.

• Os EUA nunca chegaram a participar na Sociedade das Nações, o que deixou a


sociedade das Nações ferida logo à nascença.

As esperanças dos primeiros anos dissiparam-se na segunda metade dos anos 20 e


importância da Sociedade das Nações enquanto sociedade internacional foi diminuindo até
ao ponto de irrelevância que se atingiu em 1939.

Autodeterminação dos povos (direito de criar um Estado independente)

• Fim para os impérios territoriais europeus e começa da implementação da ideia de


autodeterminação.
• Problema da Europa: 60 milhões de pessoas que viviam sob o domínio de outros
povos

Encontrar um princípio ordenado para a desintegração controlada dos


impérios austro-húngaro e otomano.

• Reduziu-se o número de pessoas politicamente deslocadas na Europa.


• Criaram-se vários novos países que foram reconhecidos como soberanos

Os problemas foram resolvidos com recurso ao princípio de soberania dos


Estados, redesenhando-se o mapa de acordo com as conveniências.

• Wilson e Kant acreditavam que a democracia produzia paz. Por conseguinte, na ótica
wilsoniana, a Sociedade das Nações devia ser composta por povos democráticos. Ora
este objetivo não teve tradução prática por razões óbvias.
• O ideal de autodeterminação dos povos foi firmemente legitimado como princípio
fundamental da vida internacional no processo de negociação do Tratado de
Versalhes.
• O resultado deste processo foi o fim da legitimidade política internacional dos
impérios coloniais e o fenómeno da onda de descolonização que varreu o mundo nas
décadas de 40, 50 e 60.
• O fim da guerra fria provocou uma nova reorganização territorial.

Novos Estados a emergir das ruínas da União Soviética.

Globalização da política internacional

• A ordem política internacional do séc. XIX era essencialmente europeia, tanto do


ponto de vista cultural e filosófico, como do ponto de vista da tomada das mais

importantes decisões.
A Grande Guerra veio de alguma forma de alterar esse domínio
A Grande Guerra serviu para constatar que outras partes do mundo estavam a ganhar
relevo na ordem internacional.
• O caso mais espetacular foi, evidentemente, o dos Estados Unidos, que intervieram
de forma decisiva tanto na Guerra em si como no desenho da novo ordem
internacional

O domínio europeu começa a ser desafiado. Japão – Rússia – EUA

• Algumas décadas mais tarde, depois da 2ªGuerra Mundial, compreendeu-se que a


nova ordem internacional teria de dar maior voz a outras regiões do mundo.
- O texto dos estatutos da Sociedade das Nações foi negociado em inglês, deixado o
primeiro-ministro francês Georges Clemenceau em desvantagem.
- As ideias inovadoras vieram quase todas dos EUA ou do império britânico,
deixando as outras potências europeias a discutir questões relativamente secundárias
ou deslocadas na sua lógica.

• Grande Guerra = Marca na globalização da política internacional.


- Depois da Grande Guerra (e com mais força depois da 2ªGuerra Mundial) países
não europeus começaram a participar mais ativamente e com maior protagonismo na
cena internacional.

O impacto da Revolução Bolchevique

• A Revolução Francesa de 1789 teve um efeito sísmico no plano internacional,


contagiando povos noutras partes da Europa e ameaçando a sobrevivência de regimes
por todo o continente.
• Revolução Francesa (1789) Revolução Bolchevique (1917)

• Conferência de Viena (1815): (após a derrota da França Napoleónica)


- Redistribuir o poder e estabilizar contra-hegemónico
- Evitar o aparecimento de movimentos revolucionários a nível interno nos vários
membros da sociedade internacional.

• No final do séc. XVIII, a Revolução Bolchevique na Rússia aterroriza as elites


políticas das mais importantes potências internacionais, especialmente devido à ideia
de que seria inevitável uma redução movida pelas ideias comunistas.
- Efetivamente, os principais defendidos pelos novos governantes russos eram
radicalmente contrários aos principais ordenadores da sociedade internacional.

• Segundo Trotsky, só havia um tratado verdadeiramente sagrado: o tratado da


solidariedade internacional do proletariado.
• As relações Estado a Estado deveriam ser substituídas por relações entre povos e os
seus verdadeiros representantes.
• O princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados era
simplesmente rejeitado porque contradizia frontalmente o dever de solidariedade
internacional entre revolucionários.
O poder bolchevique representava efetivamente um desafio frontal à ordem
vestefaliana.

Criou linhas de tensão dentro da sociedade internacional.

Os aliados vitoriosos da 1ªGuerra Mundial particionaram o complexo de guerras


civis e internacionais que tinham por objetivo destronar os bolcheviques.

• Em 1934 a União Soviética aderiu à Sociedade das Nações


- Este marco de aceitação do sistema internacional não representa a domesticação e a
do regime revolucionário.
- Aparecimentos de regimes fascistas (Itália / Alemanha)
- Guerra Fria – Recordar que a União Soviética tinha efetivamente uma visão de
ordem internacional que era incompatível com a visão dos países ocidentais.

Aparecimento das RI como disciplina autónoma

1ªGuerra Mundial = Fenómeno traumático

CONCLUSÃO

• Ao contrário daquilo que se pensa durante boa parte do séc. XIX, a política
internacional não era um meio auto-regulador.
• As instituições que existiam tinham provado em 1914 que não estavam à altura das
tarefas do séc. XX.
- Continuar com os mesmos mecanismos só poderia dar os mesmos resultados, com a
agravante do efeito multiplicador que resultava das novas tecnologias de guerra.
• Para além de terem falhado os mecanismos, tinham também falhado os homens que
eram responsáveis pelo seu funcionamento, os governantes e os diplomatas.
- Este falhanço sublinhava a necessidade de uma maior intervenção cívica no que
dizia respeito aos assuntos de interesse comum, começando com o objetivo de
prevenção da paz.

Nascimento da disciplina de RI

• Nasce a partir de um sentimento de urgência face aos problemas de guerra e da paz


internacional, chamando a atenção para a necessidade de concentrar a olhar na
especificidade dos problemas internacionais.
• Tinha o objetivo expresso de melhorar o mundo e contribuir para que no futuro se
evitasse catástrofes como a 1ªGuerra Mundial.

RI trata de encontrar formas de atacar os males de que padecia o sistema


internacional.

• Fé nas RI:
- Progresso da tecnologia e a capacidade humana de dominar a natureza. RI é uma
ciência social aplicada.
- Convicção de que a tragédia da Grande Guerra tinha, pelo menos, de resultar numa
chamada de atenção para a necessidade de reorganizar o sistema político
internacional.

Leitura 2

Governância e globalização
1917-1989

• O ano de 1989 marca o final da guerra fria, com a derrocada do muro de Berlim e
dos regimes que se apoiavam nele.
• A ideia de globalização surge e difunde-se logo a partir dos primeiros momentos
deste nova era.
• Morto e recém-enterrado o comunismo como alternativa política, alastra à escala
planetária a ideia de que, afinal, é o capitalismo internacional que comanda a vida e
as estruturas sociais por todo o globo.
• O próprio processo de globalização é multifacetado e manifesta-se de formas
diversas e contraditórias num mundo habitado por povos com os mais variados
percursos históricos, crenças e contextos sociais.

Características da globalização

Globalização:
• Diversas descobertas e aplicações tecnológicas
• A criação de mercados mundiais em vários produtos, entre os quais as próprias
moedas nacionais
• Aumento da consciência da interligação internacional nível de pessoas, povos,
empresas, associações e governos
• Desenvolvimento de novas formas identitárias
• Implantação hegemónica de determinados preconceitos para opções políticas e,
sobretudo, económicas dos governos.

Características da modernidade: (séc. XV – Descobrimentos – e XVIII – Revolução


Francesa)
• Desenvolvimento de estruturas administrativas especializadas para a organização
social
• Industrialização
• Culto da racionalidade e da ciências em geral
• Estabelecimento de mecanismos seculares para a legitimação política

• Pré-condições para a globalização: Transportes e comunicações

A tendência para a redução do planeta a uma só entidade social, onde a geografia perde
gradualmente qualidade determinante em matéria de organização ou identidade social,
apenas é possível num mundo em que todas as suas partes estão ligadas entre si.

• História do progresso em matéria de transportes:


◦ Domesticação do cavalo
◦ Invenção da roda
◦ Melhoramento das técnicas de navegação – Expansão Portuguesa
◦ Circum-navegação do globo por Fernão Magalhães
◦ Descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama
- Estas viagens ajudam a compreender o mundo como uma entidade única apesar da sua
entidade.
• As necessidades de comunicação levaram a vencer as barreiras geográficas que
dividem o mundo, transformando as consequências financeiras que estavam
implícitas na distância física.

• Há dois séculos e durante muitos séculos antes disso, a transmissão de informa era:
cara, lenta, necessitava de mecanismos de transporte físico e perigosa.

• Invenção da rádio: Revolução profunda na matéria


◦ Custos relativamente baixos
◦ Informação de domínio público Transmissão de
• Telefone: informação muito
◦ Permitiu que duas pessoas falassem pessoalmente à distância mais rápida e barata
◦ Relação clara entre a distância em tempo real
• Internet:
◦ Transmissão de voz e imagem em tempo real

• Revolução Industrial Desenvolveram-se mecanismos para transmissão de


pessoas e de carga: comboio, carro, avião + Guerra Fria (Ida ao espaço - União
Soviética – 1961) (Ida à lua – EUA – 1969)

• A Revolução nas comunicações e nos transportes faz-se sentir a múltiplos níveis e


altera radicalmente a forma como vivemos e nos organizamos internacionalmente.

• A facilidade de transmissão de informação permite a criação de comunidades unidas


em função de uma causa e de um interesse sem qualquer entrave geográfico.

• A proximidade física deixou de ser um elemento imprescindível.


◦ Movimentos anti-globalização
Desvaloriza-se uma conversa com o vizinho ou uma
leitura de jornal.

• Globalização Distância deixa de ser um entrave


- erosão do sentido da geografia

Os países compreendem que o traçar fronteiras deixa de ser um assunto importante para a
distribuição do poder no mundo.
- Agora é muito mais importante a capacidade de atrair investimento externo e de manter
recursos gerados internamente.

Mobilidade de capital:
• Antes – Limitava-se à alta finança de Londres, Paris e Amesterdão.
• Agora – As empresas transnacionais criam unidades fabris em quase qualquer ponto
do planeta, deslocando-se depois para outras localidades segundo critérios de
racionalidade económica

• Os governos de países candidatos a receberem investimento externo não estão em


posição de estabelecer unilateralmente os critérios que regularão a atividade das
empresas transnacionais dentro de fronteiras.
• Pelo contrário, negociam esses critérios com as empresas. Esta negociação é feita em
concorrência direta com os governos de outros países e resume-se essencialmente à
apresentação de incentivos que possam levar as empresas a investir no país, criando
dessa forma postos de trabalho para as pessoas, cuja mobilidade é muito menor do
que a mobilidade de capital.
• Nos processos de negociação os governantes procuram atrair o capital em condições
de mobilidade mínima, criando circunstâncias para a criação de postos de trabalho
com alguma estabilidade, mas confrontam-se com a preferência oposta das empresas,
que procuram garantir a mobilidade do seu capital a trocar essa mobilidade por
elevadas condições fiscais favoráveis.

• As grandes empresas transnacionais localizam as suas sedes de decisão, a pesquisa e


o desenvolvimento de novos produtos e as principais ligações ao mundo financeiro
no país de origem, que é normalmente também o país dos principais acionistas.
- Essa base ajuda a mobilizar apoios governamentais a nível da diplomacia comercial
e económica.

Que papel para a sociedade civil?

• A própria natureza dos processos constituintes da globalização aponta para a


aceleração de causas e de efeitos, bem como para o adensamento das ligações entre
pessoas e entidades dispersas por todo o planeta.

Globalização:
• (longo prazo) compreendemos longos períodos de história sem muitos detalhes
• (curto prazo) estudo dos pormenores de uma visão imediata
- a aceleração da história torna menos nítida a distinção dos dois.

O horizonte está mais próximo e as decisões são mais inevitáveis e menos arbitrárias.

O processo de globalização tende a ser sentido como uma força da natureza, contra a qual
nada se pode fazer.

As manifestações de repulsa contra “a globalização” caracterizam-se pela raiva de quem se


sente impotente.

• Neste momento, verificamos que algumas das mais poderosas instâncias


internacionais procuravam escutar com atenção aquilo que lhe chegava dos protestos
de rua, respondendo com clara vontade de pacificação.

• Fim da Guerra Fria Acentuado crescimento da pobreza e das disparidades entre


ricos pobres tanto a nível internacional como dentro dos países.

• Constroem-se redes transnacionais em torno de determinadas causas


◦ Defendem a humanidade dos abusos e da exploração de governos
◦ Proteção ambiental

Mecanismos de governância

Modelo Vestefaliano: - Nacional: domínio de soberania dos Estados por via dos seus órgãos
executivos
- Internacional: não há soberanias que se sobreponham à dos Estados

• Reconheceu, desde o princípio a necessidade de mecanismos de governância


internacional. Institucionalização das grandes conferências reguladoras
internacionais:
- Vestefália 1648 (Guerra dos 30 anos)
- Viena 1815 (após a derrota da França Napoleónica)
- Versalhes 1919 (1ªGuerra Mundial)
• Os representantes diplomáticos das principais potências envolvidas sentavam-se à
mesa para estabelecerem as regras do novo relacionamento internacional.

• Há diferenças fundamentais entre este tipo de governância vestefálica e a utilização


mais recente do tema:

1. Desenvolvimento de múltiplas áreas de atividade cuja regulamentação só pode


ser feita internacionalmente.
• Proteção do ambiente
• Comércio internacional
• Sistema financeiro internacional
• Combate à SIDA
• Diferenças entre ricos e pobres

• O processo de globalização veio realçar a necessidade de mecanismos para o


fornecimento de bens públicos globais. A nível nacional, a criação de Estados
modernos leva a que o Estado, recorrendo aos impostos sobre os cidadãos pudesse
assumir a responsabilidade pelo fornecimento de bens públicos: Defesa; Estradas;
Sistema Nacional de Saúde.

• O problema é que o sistema vestefaliano não admite que se possa estender a analogia
do Estado moderno para o plano global e não se desenvolveram mecanismos que
obriguem os membros da sociedade internacional a contribuir para o bem público de
acordo com critério comuns.

2. Aparecimento de múltiplos atores nos estatutos no processo de governância.


• Em certos setores das empresas transnacionais, como é o caso dos operadores em
mercados cambiais e bolsistas, podemos falar do aparecimento dos atores
conglomerados, isto é, conjunto de atores que atuam em uníssono, tornando-se desta
forma relevantes, mesmo que nenhum deles tenha, individualmente, peso decisivo.

3. A participação em processo de governação internacional não é algo que os


Estados podem ou não aceitar conforme lhes apetece.
• A participação em mecanismos de governância internacional é sinónimo de
participação na vida internacional. Para a grande maioria dos Estados, esta
participação é passiva, representando pouco mais do que o acompanhamento ou a
constatação das regras da convivência internacional à medida que elas vão
aparecendo.

4. Há um relacionamento constituinte recíproco entre os mecanismos de


governância e os atores que neles participam.
• A própria natureza dos intervenientes é profundamente afetada e alterada pela
participação nos mecanismos de governância. Um exemplo evidente é a União
Europeia: os Estados membros (ou candidatos à adesão) são obrigados a ajustar
inúmeros aspetos da sua organização social e forma de governância interna para
entrarem em harmonia com requisitos de participação.

Resumindo, podemos identificar claramente várias transformações importantes que


caracterizam o mundo contemporâneo:
• a nível de procura de mecanismos de governância internacional
• a nível de atores envolvidos em processos de governância
• a nível das margens de escolha dos atores tradicionais
• a nível da forma como a participação em mecanismos internacionais tem um impacto
sobre a identidade dos participantes

• Nos processos de governância vestefalianos os Estado esgotavam o espaço de


definição das regras internacionais por via das negociações diplomáticas. Nas atuais
circunstâncias, as negociações diplomáticas multilaterais tratam, frequentemente,
apenas dos pormenores mais ornamentais.
• A importância das grandes linhas é muito superior e, quanto a estas, a esmagadora
maioria dos Estados pouco ou nada pode influenciar.
• Da mesma forma que surgem mecanismos de governância supranacional, surgem
também exigências de devolução de decisões para um nível local.

• O desenvolvimento de mecanismos de governância representa o reconhecimento da


redistribuição do poder internacional.
• A integração regional, especialmente no caso da União Europeia, é simultaneamente
uma consequência direta desta redistribuição e uma tentativa de encontrar
mecanismos de abrigo social para as condições internacionais que obedecem
sobretudo à lógica de mercado.

Democracia = paz

• Logo após a queda do muro de Berlim assistiu-se a uma impressionante vaga de


eleições razoavelmente em todo o mundo.
◦ Os mecanismos de governância internacional pressionavam fortemente as
autoridades políticas em muitos países a sujeitarem-se a eleições e a respeitarem
os direitos sociais e políticos do indivíduo.

• As instituições vestefalianas (ex.: Organização das Nações Unidas) parecem estar


muito mal equipadas para darem respostas aos desafios da atualidade.
+
• Desinteresse dos EUA pela concertação multilateral nos últimos anos.

Reconhecimento do fosso entre a lógica vestefaliana e o funcionamento de mecanismos de


poder do sistema internacional.

Governância: Necessidade de regulamentar os mais diversos campos da atividade


transnacional, já que os níveis nacional a local são insuficientes para imporem a ordem e a
paz.

• A ausência de mecanismos de governância implica simplesmente a lei do mais forte,


e a ausência de qualquer preocupação por patrimónios comuns a bens públicos.

• Dificuldades para a democratização de estruturas e para as mecanismos de


governância transnacional:

◦ Torna-se praticamente impossível ajustar as estruturas de decisão e de


participação democrática de modo a acompanharem as novas necessidades à
medida que elas aparecem.
▪ Nas instâncias nas Nações Unidas raramente são mais do que respostas
tímidas, tardias e superficiais a processos já consolidados.

◦ A natureza impessoal de muitas das transformações que aparecem e a dificuldade


que há em introduzir valores estranhos à lógica de mercado num contexto de
poder difuso.
▪ Num período de expansão histórica de direitos humanos e de democracias
multipartidárias as populações cada vez mais são chamadas a decidir sobre
cada vez menos.

Natureza pouco democrática de estruturas de governância mas conscientes da necessidade


dessas mesmas estruturas.

As consequências de processos associados à globalização sentem-se por todo o mundo.

• A dicotomia integração-fragmentação é uma característica tão importante da


globalização.
◦ Olhando só para o conjunto dos países industrializados, vemos que as pressões
sociais que resultam das reestruturações económicas da globalização produzem
respostas que vão desde o vandalismo contra símbolos da globalização
(MacDonald´s) a movimentos anti-sistémicos, como seja o crescimento de
partidos neonazis na Áustria, Bélgica, Noruega e outros países, até à proliferação
de cultos religiosos.

• O poder os EUA neste contexto internacional foi exuberantemente demonstrado na


senda do ataque terrorista que derrubou as duas torres mais altas de Manhattan em
setembro de 2001.
◦ O que é mais interessante para os efeitos desta narrativa é a forma como o
“terrorismo internacional” subiu subitamente para o lugar cimeiro nas agendas
internacionais.

O fim da era Vestefaliana?

• O modelo vestefaliano está hoje demasiado longe da realidade para ser de grande
utilidade para a disciplina e, se não foi abandonado por completo, é pela dupla razão
de ainda ser possível identificar elementos vestefalianos na vida internacional e por
não haver um modelo alternativo fácil de compreender e de explicar.

• Vale a pena referir que o modelo vestefaliano nunca correspondeu de forma precisa à
realidade que se vivia. Este modelo foi desenvolvido para efeitos científicos e
pedagógicos para descrever as inovações introduzidas no relacionamento
internacional pela criação de Estados modernos e a expansão de um sistema de
relacionamento entre Estados à escala planetária.

• Teve também, como qualquer modelo teórico, uma componente política, já que o
próprio modelo servia para consolidar e legitimar o poder estatal e para enfraquecer e
deslegitimar outras formas de poder.

Princípios de Vestefália:

• Os Estados territoriais são os atores fundamentais da vida internacional e são


soberanos internamente (o Estado é a entidade política suprema) e externamente (os
Estados não se submetem à autoridade formal de qualquer outro Estado ou entidade);

• Há uma proibição de ingerência nas assuntos internos de outros Estados;

• Os Estados são iguais nos seus direitos e deveres perante o direito internacional e a
sociedade internacional de uma forma geral;

• Os Estados têm a obrigação de respeitar os seus compromissos, especialmente os que


assumem contornos jurídicos.

É fácil desmentir estes pressupostos hoje em dia:

1. O papel dos Estados é hoje muito menos relevante do que no passado tanto no que
diz respeito à sua capacidade de regulação da vida interna como na sua participação
nas decisões internacionais. O contributo dos Estados para a governância global é
apenas parcelar e que essa parcela tem uma tendência histórica para diminuir.
2. A impossibilidade de viver fora das regras e das normas internacionais subverte
radicalmente a ideia de soberania externa. A ideia de proibir a ingerência em
assuntos internos de outros Estados, como se cada Estado fosse uma ilha ou tivesse
fronteiras estanques, é simplesmente irrealista no mundo contemporâneo. Neste
início de século a organização social, económica e política em qualquer parte do
mundo é profundamente afetada por eventos noutros pontos do globo e não há
governo que lhe possa resistir.

3. A perspetiva jurídica oferece-nos uma visão muito limitada da realidade e a


manutenção estática de princípios como os que acabámos de referir, num contexto de
mudanças radicais no mundo, serve de testemunho quanto aos limites desta
perspetiva.

Algum dia a realidade da distribuição do poder internacional estará de ter utilidade analítica.

Modelo Vestefaliano:
• Nunca foi uma descrição fidedigna da realidade
• Artifício intelectual, fundamental na disciplina de RI, que ajuda a pensar a
distribuição do poder no sistema internacional.

• O modelo vestefaliano proporciona-nos uma visão parcial, mas em determinados


momentos serviu como uma descrição razoavelmente aproximada do meio ambiente
da política internacional.

• Parece-nos difícil sustentar que se possa compreender a distribuição e o exercício do


poder internacional contemporâneo com recurso a este modelo vestefaliano,
desenvolvido no séc. XVII, mas interpretado ao longo do séc. XX pela disciplina de
RI.

• Alguns Estados continuam a ter peso nas grandes decisões internacionais, mas esta
constatação é fracamente insuficiente para nos pronunciarmos a favor da manutenção
de Vestefália como um prisma de análise.

Leitura 3

O conceito de Estado na disciplina contemporânea

• Nas décadas de 20 e 30 imperava principalmente a ideia de que o Estado


representava o fórum natural para a resolução de problemas políticos internos,
enquanto os problemas políticos internacionais teriam de ser revolvidos no plano
internacional, de forma interestatal.
• Outra linha de pensamento defendia que própria natureza do Estado constituída um
problema por ter tendências bélicas.

Estado: Não poder ser visto como a totalidade de uma sociedade.


• Uma sociedade é, quase sempre, complexa e contraditória, e os diversos elementos
de uma sociedade estão representados de forma diferente no aparelho do Estado.
• É mais amplo do que o governo.
• Não é uma nação.
• Sofre mutações ao longo do tempo.
• Pode ser muito diferente de outros Estados.

• O Estado é um conjunto de instituições jurídicas, militares e administrativas mais ou


menos coordenadas por um órgão executivo.

3 características fundamentais para compreender a natureza contemporânea do Estado:


1. Estado enquanto ator jurídico
2. Estado enquanto instrumento de controle efetivo
3. Estado enquanto participante em redes normativas

1. A natureza jurídica do Estado remete para a sua qualidade de sujeito do direito


internacional.
Enquanto sujeito do direito internacional, um Estado é reconhecido pelos seus
pares e tem certos direitos e certas obrigações em consequência da sua
independência e da sua soberania jurídica.
Uma das consequências do conceito de soberania tem sido o princípio “um
Estado, em voto”.

2. A leitura jurídica atribui aos Estados a qualidade de agentes das relações


internacionais, pois apenas assim se podem compreender direitos e obrigações.
Uma leitura pelo prisma do controle efetivo abre outras possibilidades: os Estados
podem ser considerados agentes, tendo a capacidade de optar por entre vários
caminhos, ou podem ser vistos como prisioneiros de uma estrutura que não
criaram e que não controlam.

◦ Há circunstâncias em que o comportamento do Estado (as decisões tomadas pelo


aparelho estatal) é de tal forma condicionada por forças políticas internacionais
que apenas no sentido mais formal de responsabilização jurídica é que podemos
falar de uma decisão. É o caso, por exemplo, da política económica de países
africanos altamente endividados. As políticas económicas que seguem são
delineadas (independentemente de poder haver negociações sobre aspetos de
pormenor) pelas instituições financeiras internacionais que têm controle efetivo
(mas não jurídica) na matéria. Quando isto não acontece, o grau de penalização
(nomeadamente por via do acesso ou não a crédito) é de tal forma eficaz que
rapidamente os governos procuram regressar ao caminho preconizado, sob pena
de uma grande degradação das capacidades e da própria relevância do Estado,
algo que se tem observado em vários países.

3. Um dos elementos de qualquer rede normativa internacional é o corpo de regras


jurídica que compõe o direito internacional. A importância deste conjunto de
regras é óbvia, evidenciada tanto pelo facto de ser geralmente seguida como pelo
facto de se verificar um grande esforço, por parte dos governos acusados de
oferecerem o direito internacional, no sentido de descreverem as suas ações como
legais
As regras jurídicas evoluem e, neste processo, os Estados jogam um papel
decisivo, contribuindo com as suas ações, declarações e votos para a elaboração
das regras.

◦ O poder internacional de um Estado no mundo contemporâneo tem de ser


pensado em termos da sua capacidade de contribuir para fazer e desfazer normas
de comportamento e, portanto, da sua capacidade de alterar o meio ambiente da
vida internacional.

Leitura 4

Vestefália e a evolução da sociedade internacional moderna

1648 Data inaugural de uma nova era no plano internacional

Marca os Tratados de Vestefália:


• Tratados que falharam redondamente no seu objetivo imediato, que era o de trazerem
uma paz duradoura para a Europa no final da guerra dos Trinta Anos.
• Pela primeira vez se manifestaram algumas das características da sociedade
internacional moderna.

Vestefália simboliza a inauguração da modernidade nas relações internacionais.

Sistema internacional ≠ Sociedade internacional

Sistema internacional
• Refere apenas um contexto no qual as diferentes unidades envolvidas estão de
alguma forma relacionadas em si ao ponto de terem um impacto umas sobre as outras
e afetarem mutuamente as decisões que cada uma tema.

Sociedade internacional
• Desenvolve-se quando há consciência de interesses, valores, regras e instituições
comuns. Uma sociedade internacional pressupõe a existência de um sistema
internacional, mas um sistema internacional pode existir sem que haja uma sociedade
internacional.

O modelo vestefaliano

A longa transição da era medieval para a era moderna na Europa caracterizou-se por tensões
em torno de três questões essenciais intimamente ligadas entre entre si:
• o desenvolvimento e a consolidação dos Estados modernos;
• a laicização do poder e emancipação em relação ao papado;
• o aparecimento de novas formas de relacionamento económico no enquadramento
territorial fornecido pelos novos Estados.

Os tumultos políticos no final da Idade Média trouxeram ao longo dos séculos seguintes:
• unidades políticas territorialmente centralizadas;
• evolução de uma diplomacia geopolítica.
Transição vestefaliana:
• é caracterizada pelo gradual desaparecimento de uma ordem onde a autoridade
política do clero e da nobreza se fazia sentir de forma descentralizada.

• Em substituição dessa ordem horizontal e descentralizada, desenvolve-se uma nova


ordem internacional baseada em entidades territoriais distintas e autónomas,
começando primeiro na península italiana e alastrando depois para outras partes da
Europa.

Princípios desta nova ordem:


• Impõe-se a doutrina da interdependência dos poderes políticos em relação à Igreja
Católica e ao Santo Império Romano.
◦ A ideia de um império cristão unificado, a Respublica Christiana, é formalmente
abandonada pela aceitação deste princípio.

• Os Estados não devem interferir nos assuntos internos de outros Estados.


◦ Aparecimento de uma nova ordem internacional, uma ordem estatocêntrica (o
Estado no centro de tudo).

Esta diminuição da influência da Igreja representa uma crise no sistema de regras


internacionais da época, já que, no período medieval, a Igreja era a autoridade de referência
última para as diferentes unidades políticas.
• Este processo de laicização política na Europa não foi um processo fácil nem
pacífico: em todo o séc. XVII houve apenas sete anos completos sem guerra entre
potências europeias.

Esta dupla qualidade do Estado moderno – superioridade interna e insubmissão externa –


caracteriza o princípio organizador da ordem vestefaliana: o princípio da soberania.

• A autoridade suprema do papa sobre príncipes e reis na Europa cede o seu lugar aos
princípios de soberania e de igualdade entre Estados.
• Em Vestefália estabeleceu-se que os Estados eram as únicas entidades que tinham o
direito de celebrar tratados, excluindo, por exemplo, territórios que reclamavam
autonomia, mas que não eram reconhecidos como independentes.

Não bastava reclamar os direitos e os deveres acordados aos Estados pela nova ordem; era
essencial que a generalidade, ou uma parte significativa, dos outros Estados reconhecessem
o interlocutor como tendo as qualidades de um Estado, merecendo, portanto, tratamento de
Estado.

A ordem vestefaliana representa uma Europa permanentemente organizada segundo o


princípio da anti-hegemonia, porque o pano de fundo essencial por detrás de outras
dinâmicas mais locais e circunscritas na Europa sangrenta dos séculos XVI e XVII era a luta
entre os Habsburgos e a Igreja Católica.

• Princípios introduzidos na prática internacionais pelos Tratados de Vestefália:


1. Soberania
Os Estados da sociedade internacional, organizados territorialmente e com uma
hierarquia política interna, são soberanos. A qualidade de soberania implica que a
nível externo implica que o Estado não é subalterno a nenhuma outra entidade

2. Não interferência
Os Estados têm direito de não sofrer ingerências externas nos seus assuntos internos
de outros Estados. Os eventuais conflitos entre a ordem interestatal e a justiça
individual devem, na lógica vestefaliana, ser resolvida a favor da manutenção de
ordem interestatal.

3. Igualdade entre Estados


Independentemente de diferenças de tamanho, localização, população ou poderio
militar, todos os Estados passaram a ser considerados iguais no que diz respeito aos
seus direitos e às suas obrigações.

4. Respeito pelos compromissos


Todos os Estados soberanos têm a obrigação de respeitar os seus compromissos,
pois, se não o fizessem, colocariam em causa a viabilidade do sistema internacional,
já que se trata de um sistema para a convivência de entidades juridicamente iguais,
sem nenhuma autoridade superior.

Primeiro, a ordem vestefaliana é composta por um conjunto de regras jurídicas e preceitos


não jurídicos que nem sempre são respeitados. Não é uma norma descrição rígida da prática
dos Estados; é um conjunto de normas que acarretam custos quando não são respeitadas.

Segundo, a ordem vestefaliana não nasceu repentinamente em 1648; evoluiu gradualmente a


partir do final da Idade Média e nunca deixou de evoluir, deixando intactos apenas alguns
princípios básicos.

• A questão que se coloca hoje é se a ordem vestefaliana é suficientemente elástica


para acomodar as profundas alterações que se registam nas relações internacionais ou
se estamos já tão afastados dos primórdios da era moderna que deixou de fazer
sentido descrever o mundo através de princípios pensados para a modernidade.

A expansão da sociedade internacional vestefaliana: o sistema cristão

A sociedade internacional que desenvolveu as regras vestefalianas em meados do Séc. XVII


era cristã e europeia. A essência dos Tratados de Vestefália consistia no desenvolvimento de
regras para a convivência entre cristãos.

Isto não significa que a Europa do séc. XVII não tinha contactos com potências não cristãs.

O Império Otomano era um participante no sistema internacional do período.


• A sua existência e as suas intervenções afetavam e eram afetadas pelos outras
unidades envolvidas.
Contudo, não esteve presente em Vestefália nem contribuiu para a formulação das regras
vestefalianas.

• Enquanto Vestefália consolida a fragmentação da Europa em Estados independentes,


o Império Otomano manteve uma estrutura teoricamente imperial.

• Enquanto a Europa se confirmou a laicização da política internacional, no Império


Otomano os princípios religiosos mantiveram a sua centralidade na política externa.

Tratados entre potências europeias e o Império Otomano: Tratado Franco-Otomano de


1536.

Outros sistemas internacionais:


• Sistema islâmico-árabe
• Sistema mongol-tártaro
• Sistema chinês

Cada sistema tinha a sua organização própria, a sua lógica e os seus códigos de conduta
política.

Não havia ainda indícios de um sistema de regras para a convivência entre entidades
independentes.

O processo de expansão europeia, que começa no final do séc. XV e continua até ao início
do séc. XX, representa a imposição do sistema vestefaliano, inicialmente cristão e europeu,
a nível planetário.

• Hoje, no início do séc. XXI, verificamos que a sociedade internacional é global,


incorporando tanto os antigos Estados europeus como os mais recentes Estados pós-
coloniais de África ou do Pacífico.

As características da sociedade internacional evoluíram em simultâneo com o processo de


expansão e naturalmente que a expansão teve um impacto sobre aspetos específicos da
ordem vestefaliana.

Mas é importante lembrar que a base da ordem internacional não é multicultural e que a
absorção de novos membros da sociedade internacional aconteceu essencialmente através da
aceitação por estes das normas adquiridas, e não por via da negociação ou alteração dessas
normas.

• Os novos países entraram no sistema internacional vestefaliano não porque se altera


as normas do mesmo, mas porque os novos Estados aceitaram as normas já
existentes.

A partir do séc. XVI, com as viagens marítimas portuguesas e espanholas, assistiu-se a um


processo de conquista e penetração cultural do mundo por parte de potências europeias.
• Toda a África e as Américas, o Médio Oriente e grandes partes da Ásia, a Oceânia e
ilhas em todos os oceanos foram integrados em impérios europeus.
• Apenas a China, o Japão e alguns outros casos pontuais escaparam a este processo.
Mas mesmo essas partes da superfície terrestre que nunca foram colonizadas
acabaram por ser absorvidas pela lógica e pelas regras de convivência internacional
que acompanharam a expansão europeia.

As conquistas coloniais levaram à extensão do poder dos Estados europeus para todo o
mundo e, por conseguinte, houve uma incorporação dessas terras na sociedade
internacional.

• A primeira grande expansão numérica dos membros da sociedade aconteceu no


último quartel do séc. XVIII e no primeiro do séc. XIX, nomeadamente com a
independência dos EUA (1776), depois do Haiti (1804) e em seguida de toda a
América Central e do Sul.
• O poder político destes novos Estados era essencialmente europeu e cristão, já que
nos três séculos desde a chegada de europeus ao continente americano os povos
indígenas tinham sido irreversivelmente subjugados, ou mesmo dizimados.

Interregno: a instrutiva exceção do Haiti

não se torna participante do sistema internacional

A independência do Haiti aconteceu na sequência de uma revolta de escravos.


• O estabelecimento de um Haiti independente representou uma revolução social na
ilha e uma afronta à ordem económica, social, política e racial que os principais
poderes da época consideravam apropriada.

A ameaça implícita no sucesso da revolta haitiana no início do séc. XIX é equivalente à


ameaça sentida pelas potências capitalistas quando se deu a revolução bolchevique
em 1917. Mais de 20 anos mais tarde já toda a América Latina tinha atingido a
independência.

O novo regime no Haiti, apesar de extremamente instável nas suas primeiras décadas,
identificou com grande sangue-frio e clarividência a necessidade do obter o reconhecimento
internacional e para tal era essencial assinalar claramente que o Haiti se comprometia a
respeitar a ordem estabelecida.
• Assim, a Constituição de 1805 garante que o novo regime independente não tomaria
nenhuma atitude “com vista a fazer conquistas ou a importunar a paz e os regimes
internos de colónias estrangeiras”.

A exclusão do Haiti – apesar de se ter constitucionalmente comprometido a não provocar


distúrbios sociais noutros países – lembra-nos que a organização social e a distribuição de
poder a nível interno são fortemente condicionadas pelo ordem internacional na qual um
país está inserido e, igualmente, que a ordem internacional é profundamente influenciada
pela forma como o poder é exercido dentro dos Estados.

Nas suas primeiras décadas de independência o Haiti não foi admitido como membro da
sociedade internacional especificamente porque havia receio de que o percurso histórico do
Haiti pudesse ser repetido noutras partes da sociedade internacional. Em conjunto, a
sociedade internacional procurou penalizar o Haiti pelas suas políticas internas, abrindo-lhes
as portas apenas quando as circunstâncias se tinham alterado de forma a retirarem
importância ao caso.

A expansão da sociedade internacional vestefaliana: a incorporação de países não


cristãos

As expansões seguintes enfrentavam desafios diferentes.

Ao longo do séc. XIX registaram-se importantes alterações a nível de comunicações e


transportes e estas contribuíram decisivamente para o estabelecimento de contactos
regulares com outros povos, nomeadamente os com povos mais longínquos. Os sistemas
internacionais que existiam por alturas dos Tratados de Vestefália tinham todos entrado em
decadência, à exceção do sistema vestefaliano.

• Assim, e de forma gradual, os contactos com partes mais longínquas do mundo


trouxeram essas regiões para a órbita da ordem vestefaliana.
• A entrada plena de todos os países (transformados em Estados para o efeito) na
sociedade internacional, embora com dificuldades de acomodação que são
percetíveis.

China:

Nas primeiras décadas do séc. XIX, quando os países latino-americanos atingiam a


independência e o continente europeu se mantinha pujante e dinâmico, a China
considerava-se o centro de um império universal.

Não havia em Pequim embaixadas estrangeiras, mas de vez em quando missões temporárias
podiam ir a Pequim, desde que acedessem aos rituais intransigentemente exigidos pelas
autoridades chinesas, incluindo atos de prostração e troca de presentes.

A entrada da China no sistema internacional não foi por convite nem por vontade própria;
foi pela força militar britânica, que se impôs na guerra do ópio (1839) e num conjunto de
tratados assinados entre 1842 e 1844 que abriram os portos chineses ao comércio ocidental e
impuseram determinadas normas de comportamento diplomático.

Quando a China hesitou e procurou adiar o assunto, tropas britânicas e francesas dirigiram-
se a Pequim e queimaram o palácio imperial (1860) o que levou ao príncipe chinês a assinar
a Convenção de Pequim, segundo a qual as exigências europeias, diplomáticas e comerciais
foram aceites.

O trauma sofrido pela China nesta introdução à diplomacia ocidental foi profundo e de
longa duração. De qualquer modo, perante a sua inferioridade militar e a óbvia
disponibilidade ocidental para usar a força para impor as regras do sistema internacional, o
governo imperial não teve alternativa senão aprender a usar as regras ocidentais, que
poderiam eventualmente ser-lhe úteis no reconhecimento do seu governo como soberano.
Japão:

Os holandeses eram os únicos europeus que mantinham relações com o Japão.

O entreposto comercial holandês ficava numa pequena ilha artificial no porto de Nagasáqui
e os holandeses estavam proibidos de sair da ilha, tal como os japoneses estavam proibidos
de viajar para além da Coreia. Os livros e outras importações que poderiam transmitir
conhecimentos ocidentais foram proibidos, levando ao isolamento quase total do Japão em
relação ao Ocidente durante mais de duzentos anos.

• Em julho de 1853 chegaram ao Japão quatro navios americanos. Proponham um


acordo: enunciaram os termos de um ultimato, contendo nomeadamente várias
exigências sobre a abertura de portos japoneses e o estabelecimento de relações
diplomáticas.

• Americanos, ingleses e russos assinaram uma série de acordos que obrigaram os


japoneses a abrir o país ao comércio externo e a participar diplomaticamente no
sistema internacional.

Não havendo escolha quanto à participação no sistema internacional, o Japão teria de


executar reformas profundas a nível do seu sistema jurídico, político e económico para
poder sobreviver e beneficiar do novo contexto. Ou seja, as autoridades japonesas
compreenderam que as regras do jogo eram ocidentais e que não tinham alternativa senão
aceitar essas mesmas regras do jogo e tentar tirar partido delas.

Império Otomano:

No mesmo período em que se verificou a entrada da China e do Japão no sistema


internacional, a contragosto deu-se também a incorporação do Império Otomano, embora
neste caso os contactos entre europeus e turcos tenham sido constantes ao longo dos séculos.

Em meados do séc. XIX o Império Otomano ainda controlava importantes parcelas do


território europeu, mas estava claramente enfraquecido. A decadência do poder otomano e
as possibilidades de expansão e de reforço que isso criava para as potências europeias
acabaram por provocar a guerra da Crimeia (1854-1856), na qual forças inglesas e
francesas se opuseram à vontade russa de tirar partido da fraqueza otomana.

O Tratado Geral da Paz que pôs termo à guerra da Crimeia, assinado em Paris em 1856,
pode ser considerado a entrada formal do Império Otomano na sociedade internacional.

Entretanto, ao longo do séc. XIX praticamente todos os outros cantos do mundo, na Ásia e
em África, foram absorvidos como colónias das potências europeias.

Patamares da sociedade internacional:

1. Núcleo composto pelos Estados europeus, cristãos e brancos, acrescido dos EUA, do
Canadá e dos países da América Latina.
2. Países considerados “civilizados” mas inferiores, por uma confluência de razões que
incluem atraso económico, preconceitos raciais e preconceitos religiosos: China,
Japão e o Império Otomano.

3. Territórios coloniais, que não são considerados membros da sociedade internacional


de direito próprio. Pelo contrário, são considerados povos bárbaros, cuja participação
na sociedade internacional só pode acontecer através dE mediação responsável das
metrópoles coloniais.

Elementos estruturantes da sociedade internacional

As regras da sociedade internacional não foram rigidamente estabelecidas num primeiro


momento.

O desenvolvimento dos princípios e das práticas sobre os quais assenta a sociedade


internacional contemporânea aconteceu ao longo de séculos e, nessa medida, foi
naturalmente influenciado pelo processo de expansão da sociedade internacional.

Marcas nos elementos estruturantes da sociedade internacional:

1. Equilíbrio internacional de poderes: = Anti-hegemónica


Nenhuma potência é capaz de exercer um domínio absoluto e de ditar a lei às outras
potências.
A soberania das diversas unidades que participaram na sociedade internacional é
garantida pelo facto de nenhum Estado ter uma preponderância de poder que lhe
permita conquistar ou dominar o mundo.

2. Direito Internacional:
O Direito Internacional, ao contrário do direito interno dos Estados, não é imposto
por um Leviatão, mas a convivência internacional num contexto em que os
entendidos e valores comuns têm crescido ao longo destes últimos séculos resultou
num corpo cada vez mais alargado e ousado de regras jurídicas.
O discurso jurídico é o primeiro campo de batalha de qualquer conflito de interesses
no plano internacional e essa evidência prova que os membros da sociedade
internacional consideram o direito internacional um elemento de importância
primordial na convivência internacional.

3. Concertação multilateral:
Este elemento estruturante foi a prática de resolução de grandes crises internacionais
através de congressos e conferências, nos quais principais soberanos europeus ou
seus representantes se reuniam para discutirem e chegarem a um novo equilíbrio.
A ordem comum é considerada responsabilidade de todos e, portanto, todos os atores
relevantes devem participar na resolução dos problemas comuns.
As potências maiores têm responsabilidades maiores na manutenção da ordem
internacional.

4. Diplomacia permanente:
Desenvolvimento de uma rede cada vez mais intensa de contactos bilaterais, um
processo que começa já no séc. XV, na península italiana, com o estabelecimento de
embaixadas permanentes.

5. Promoção da economia de mercado:


Promoção do comércio internacional. A vontade de trocar determinados bens por
outros tem funcionado como um dos grandes impulsionadores para contactos com
outros povos.
O facto de numerosos conflitos terem as suas origens em questões comerciais é
também um indicador da centralidade do comércio na sociedade internacional.
A ideologia de “paz pelo comércio” teve uma influência crescente na sociedade
vestefaliana.

A expansão da sociedade internacional vestefaliana: a autodeterminação dos povos

Os acordos de paz que se seguiram à Primeira Guerra Mundial introduziram formalmente os


princípios que em poucas décadas acabariam de vez com os impérios coloniais europeus.

O objetivo imediato era simples e obedecia a tradições antigas: na sequência da guerra, os


vencedores tratavam de distribuir entre si o espólio dos derrotados, neste caso as colónias
ultramarinas da Alemanha.

Princípio da autodeterminação dos povos de Woodrow Wilson

As colónias alemãs foram redistribuídas sob mandato da Sociedade das Nações, sendo
divididas em três categorias:

• Categoria A: incluía os povos do Médio Oriente que eram considerados quase


capazes de se auto governarem.

• Categoria B: incluía os povos “tribais” de África que, pensava-se, necessitavam de


um número indeterminado de anos antes de poderem ser independentes.

• Categoria C: referia-se aos povos “primitivos” do Pacífico e do Sudoeste Africano.

Embora este sistema só se referisse às colónias alemãs, o efeito de contágio para outras
colónias era inevitável.
Introduziu-se em Versalhes uma lógica e uma justificação inteiramente nova para os
impérios coloniais: a função justificadora do império colonial passou a ser preparação dos
povos colonizados para a independência.

• O resultado foi uma aceleração rápida das reivindicações das elites entre os povos
colonizados, que se aperceberam da vitória no campo dos princípios políticos e
quiseram naturalmente traduzir essa vitória em resultados práticos, nomeadamente
através da descolonização e da independência política.

• Durante as décadas centrais do séc. XX, as colónias do Médio Oriente, da Ásia e,


finalmente, de África e do Pacífico chegara à independência, sendo admitidas como
membros de pleno direito sociedade internacional.

Uma das características fundamentais para a adesão à sociedade internacional é o


reconhecimento por parte dos outros membros.

Leitura 5

O que é o poder?

O poder não é um conceito mensurável em termos quantitativos, é sempre uma relação: a


capacidade de realizar objetivos é função das capacidades opostas. O poder é relativo pois
depende da perceção dos outros, sendo a sua dimensão psicológica considerável.

O poder é variável, ele acompanha a evolução do contexto internacional. Se um país


interpreta o poder do outro como sendo mais forte do que no passado, faz sentido que esse
país desenvolva mais o seu próprio poder, procurando reduzir o desequilíbrio.

O poder pode ser concebido em termos de posse de certos recursos como a população,
capacidade industrial, recursos naturais, força militar, eficácia da diplomacia.

Os parâmetros do poder variam consoante a época: hoje não se encontra tão ligado a
recursos militares como no passado; encontra-se mais ligado a recursos como a ciência,
pesquisa, crescimento da economia, recursos estes que atingem o primado face a recursos
como a população. O poder político, poder que influência a política estrangeira, não se trata
de força física ou militar, mas sim de mecanismos de influência (ameaças, persuasão).

O poder pode ser definido como a capacidade nas relações internacionais, sendo lógico
associar este conceito à independência nacional e soberania e capacidade de estruturar o
ambiente internacional. Neste ambiente, as organizações internacionais e alianças são uma
expressão concreta de poder.

O poder pode, também, ser interpretado de outra forma, onde o interesse nacional se baseia
na aquisição de meios para garantir a segurança e identidade de um estado, a relação de
poder consiste no exercício desses meios contra os atores do sistema internacional que
coloquem em questão o dito interesse nacional. Nesta definição, se a violência se exprime
pela força, o poder manifesta-se através da pressão.

Soft e Hard Power

Há 3 grandes tipos de poder: económico, militar e o soft power. Este último é a


capacidade que um estado tem de obter o que deseja através do poder de atração das suas
ideais, políticas domésticas e da sua diplomacia. O soft power baseia-se numa estratégia
pacifica, onde o ênfase está na capacidade de um estado “seduzir” outros.
O poder de um estado não reside, unicamente, na força militar, visto que depende,
também, da capacidade de um determinado país influenciar as decisões de outros atores. Na
realidade, um estado encontrará tanto menos resistência e contestação ao seu poder, na
medida em que a sua cultura e ideologia forem bem acolhidas pelos diversos atores.

O soft power e o hard power são interdependentes e complementares, e apesar do


poder militar ter vindo a diminuir em importância (muito por culpa da comunicação social,
mas também pela pressão internacional), este continua a ser um fator chave, tal como
demonstraram a Guerra do Golfo e a Guerra do Iraque.

Potências Médias e Regionais

A capacidade económica e o potencial humano, a localização estratégica e o poder


militar de um estado que aspira à categoria de potência regional devem ser superiores aos
dos outros países da região.

Os estados habitualmente designados por potências regionais apresentam, em geral, uma


grande população e um alto produto interno bruto. Contam, ainda, com forças armadas
convencionais sofisticadas. Como tal, um grande poder regional tem de ser capaz de
enfrentar qualquer coligação composta por outros estados da sua região e de ser altamente
influente nos assuntos da mesma.

Enquanto que potências médias (Austrália, Nova Zelândia, Canadá) se caraterizam


principalmente pela função que desempenham na política internacional, potências regionais
(BRICS) assumem um papel fundamental no que diz respeito à manutenção da ordem e
segurança regional.

Potência Emergente

Uma potência emergente é uma potência em formação.

Geralmente começam como super potências regionais, caminhando para o papel de potência
global. Estas têm tendência a contestar a ordem internacional vigente e o lugar das potências
dominantes, aspirando à posição de Hégemon, havendo como tal uma aquisição crescente
do poder, percebida como tal pelos demais atores internacionais.

Esta contestação da organização hierárquica do sistema internacional deve-se ao facto de


estarem conscientes de que o poder relativo das grandes nações não permanece constante,
sendo o declínio inevitável e o poder cíclico.

Um sistema incerto

No passado, o poder era um elemento de equilíbrio, mas com o fim da guerra fria e da
bipolaridade, novos atores reivindicam um lugar na arena política mundial. Num mundo
cada vez mais globalizado, os diversos atores sentem uma insatisfação em relação à
hegemonia dos EUA. Como tal, surgem cada vez mais obstáculos para que o Hégemon
concretize os seus objetivos.
O poder encontra-se disseminado devido à interdependência económica, aos atores
transnacionais, ao nacionalismo presente nos estados fracos, às transferências de tecnologia
e aos novos problemas políticos. É necessária, agora, mais negociação e consenso para
resolver estes problemas. A queda do Hégemon é evidente, resta saber quem o substituirá.

A turbulência desta mudança é acompanhada por fenómenos como o terrorismo,


poluição, globalização. É possível que haja governação sem governo. Mas, então, é
legítimo pensar-se que a ausência de uma autoridade levará à anarquia. Desse ponto de
vista, não estaremos muito longe do caos se os Estados Unidos renunciarem ao papel de
‘polícias do mundo’.
Não é inconcebível que o mundo, em 2020, se organize em torno de três grandes
polos de influência económica e tecnológica, bem como de três moedas rivais: o dólar, o
euro e o yuan.

Um Mundo “Uni-Multipolar”

Para que um sistema possa ser considerado unipolar é necessário que a potência
consiga resolver sozinha os grandes problemas internacionais, mas os EUA necessitam de
cooperar com os outros atores para os solucionar.

Para além disso, as demais potências não podem, de algum modo, ser consideradas
menores. Surge, portanto, o conceito de uni-multipolaridade, onde várias grandes potências,
de forças comparáveis, cooperam e rivalizam entre si, e no qual é necessário existir uma
coligação de estados para solucionar os grandes problemas internacionais.

Continua a haver uma realidade unipolar no que diz respeito ao ponto de vista militar,
enquanto que vários polos económicos e culturais surgem.

Leitura 6

As relações internacionais na vida quotidiana

RI – pode ser definido como o estudo das relações entre países, incluindo as atividades e
políticas nacionais, organizações governamentais, organizações não governamentais e
corporações multinacionais.

A principal razão para o estudo das RI é o facto da população mundial estar dividida em
comunidades políticas distintas, Estados independentes que influenciem profundamente o
modo de vida de todas as pessoas.

O Estado está comprometido em protegê-las e fornecer-lhes segurança, tanto a nível pessoal


como nacional, em promover a prosperidade económica e o bem-estar social, em cobrar-
lhes impostos, em educá-las, em construir e preservar as infraestruturas públicas.

Um Estado independente pode ser definido como um território dotado de fronteiras e


contornos distintos, com uma população permanente, sob a jurisdição de um governo
supremo constitucionalmente separado – isto é, independente – de todos os governos
estrangeiros: um Estado soberano.

Em conjunto, estes Estados formam um sistema de Estados internacional.

Praticamente, todos nós estamos ligados a um Estado particular e, por meio deste,
conectamos-nos só sistema de Estados que afeta as nossas vidas de maneiras importantes.

Os Estados são independentes uns dos outros: eles têm soberania.

No entanto, isso não significa que estejam isolados. Pelo contrário, unem-se e influenciam-
se e, portanto, devem encontrar meios de coexistir e de lidar uns com os outros.

Quando um país é isolado e excluído do sistema de Estados, seja devido às ações do próprio
governo ou de poderes externos, o resultado geralmente é o sofrimento da população local.
Exemplos: Líbia, Coreia do Norte, Iraque, Irão e a Síria.

O sistema de Estados é uma forma de organizar a vida política mundial.

Desde o séc. XVIII, as relações entre Estados independentes são chamadas de “relações
internacionais”.

Porque é que estudamos as RI?

Há, no mínimo, cinco valores sociais básicos que os Estados supostamente devem defender:
segurança, liberdade, ordem, justiça e bem-estar. Tais valores sociais precisam de ser
protegidos e garantidos.

Na Era Moderna, o Estado tem sido, em geral, a principal instituição a cumprir esta função e
espera-se que o próprio garanta estes valores básicos.

• Por exemplo, as pessoas costumam achar que o Estado deveria financiar a segurança,
responsável pela proteção dos cidadãos com relação a ameaças internas e externas.
Esta é uma preocupação ou um interesse fundamental dos países. No entanto, a
própria existência de Estados independentes afeta o valor da segurança: vivemos num
mudo com muitos países, quase todos minimamente armados. Dessa forma, os
Estados tanto defendem como ameaçam a segurança das pessoas – este paradoxo do
sistema de Estados é geralmente conhecido como “dilema de segurança”.

Apesar da maioria dos países ter um comportamento amistoso alguns deles podem ser hostis
e agressivos.

Neste contexto, com a ausência de um governo mundial para os coagir, constituiu-se um


desafia básico e antigo para o sistema de Estados: a segurança nacional.

O poder militar é considerado uma condição essencial para os Estados possam coexistir e se
relacionarem uns com os outros sem serem intimidados ou subjugados.
Com o objetivo de aumentar a segurança nacional, muitos Estados também optam por
formar alianças, por exemplo: NATO.

O segundo valor básico, cuja garantia é da responsabilidade dos Estados, é a liberdade, tanto
a nível pessoal como nacional – a independência.

Uma das razões fundamentais para a constituição dos Estados e para a sustentação dos
encargos instituídos por governos aos seus cidadãos, como impostos e serviço militar
obrigatório, é a condição de liberdade nacional ou de independência que os Estados
procuram sempre afirmar.

No entanto, mesmo quando um país é livre, a sua população pode não ser. A guerra ameaça
e, algumas vezes, destrói a liberdade.

A paz e a mudança progressiva estão entre os valores mais fundamentais das relações
internacionais.

• Teoria liberal das RI (Claude 1971) – opera a partir da suposição de que as relações
internacionais podem ser melhor caracterizadas como um mundo no qual os Estados
cooperam entre si, com o objetivo de manter a paz e a liberdade.

O terceiro e o quarto valor básico sob a responsabilidade dos Estados são a ordem e a
justiça.

Para que os países possam coexistir e interagir com base na estabilidade, na certeza e na
previsibilidade, é fundamental que tenham o interesse comum no estabelecimento e na
manutenção da ordem internacional.

Para isso, é obrigatório defender o direito internacional: manter compromissos com tratados
e cumprir as regras, convenções e hábitos da ordem legal internacional.

Outro dever dos países é defender os Direitos Humanos.

As relações internacionais podem ser melhor caracterizadas como um mundo no qual os


Estados são atores socialmente responsáveis e compartilham o interesse de preservar a
ordem internacional e promover a justiça internacional.

O último valor básico que se espera que os Estados defendam é a riqueza e o bem-estar
socioeconómico da população.

Hoje a maioria dos Estados investe no planeamento e na implementação de políticas


económicas que possam manter a estabilidade da economia internacional, da qual são todos
cada vez mais dependentes.

A interdependência económica – o alto de dependência económica mútua entre os países – é


uma característica impressionante do sistema de Estados contemporâneo.

• Por um lado, algumas pessoas consideram tal situação positiva, uma vez que a
expansão do mercado global pode gerar um aumento da liberdade e da riqueza, por
meio de mais distribuições, especialização, eficiência e produtividade.
• Já outros entendem a interdependência económica como algo negativo, porque
promove a desigualdade ao permitir que países ricos e poderosos, ou com vantagens
financeiras e/ou tecnológicas, dominem países pobres e fracos que não detém tais
vantagens.

A riqueza e o bem-estar estão entre os valores mais fundamentais das relações


internacionais.

• Teoria da economia política internacional (Gilpin 1987) – para os defensores dessa


corrente de pensamento, as relações internacionais podem ser mais bem
caracterizadas como um mundo fundamentalmente socioeconómico e não
simplesmente político e militar.

A primeira Guerra Mundial deixou para a maioria das pessoas claro a capacidade do
conflito armado, entre as grandes potências, de destruir as vidas e a condições de
sobrevivência de modo devastador e a importância de reduzir o risco de uma guerra como

esta.
A partir desse reconhecimento, emergiram os primeiros passos significativos no pensamento
das RI – por exemplo, a Liga das Nações – a fim de impedir a guerra entre grandes
potências.

Esses esforços não tiveram os sucesso que se esperava.

A segunda Guerra Mundial revelou a importância de se impedir qualquer potência perca o


controlo, assim como a imprudência de seguir uma política de apaziguamento – adotada
pela Grã-Bretanha e pela França em relação à Alemanha.

• A crise dos mísseis de Cuba, em 1962, por exemplo, esclareceu os perigos da guerra
nuclear.

• Os movimentos anticoloniais na Ásia e na África dos anos 1950 e 1960 e os


movimentos dissidentes nas Antigas União Soviética e Jugoslávia no final da Guerra
Fria demonstraram como a autodeterminação e a independência política ainda eram
relevantes.

• A Guerra do Golfo (1990-1991) e os conflitos nos Balcãs foram uma lembrança da


importância da ordem internacional e do respeito pelos direitos humanos.

• Em 2001, os ataques a Nova Iorque e Washington despertaram a atenção da


população norte-americana e de outros países com relação aos perigos do terrorismo
internacional.

• Já a Grande Depressão (1929-33) demonstrou para a população mundial como os


meios económicos de vida poderiam ser afetados de modo adverso, até mesmo
destruídos, através de condições específicas de mercado não só internas, mas também
internacionais.

• A inflação global da década de 1970 e do início dos anos 80, causada por um
aumento súbito nos preços do petróleo pela OPEP, relembrou o quanto as
interconexões da economia global podem ameaçar o bem-estar nacional e pessoal em
qualquer parte do mundo.

Durante muito tempo, acreditou-se que a vida dentro dos Estados adequadamente
organizados e bem administrados é melhor do que a vida fora deles. O povo judeu, por
exemplo, dedicou-se mais de meio século à busca do estabelecimento de uma Estado
próprio: Israel.

Mas se os Estados não forem bem-sucedidos nesse aspeto, o sistema de Estados pode ser
facilmente entendido pela ótica oposta: enfraquecido em vez de sustentar os valores e as
condições sociais básicas.

Alguns Estados podem não assegurar qualquer um deles, por exemplo: Estados na África
subsariana e no Médio Oriente.

• As condições em alguns desses países são tão más, e tão adversas ao ser humano, que
as pessoas são levadas a fugir para países vizinhos em busca de segurança. São
forçadas a tornarem-se refugiadas.

A situação de vida dessas pessoas coloca em questão a credibilidade e, às vezes, até a


legitimidade do sistema de Estados.

Esse contexto estimula o argumento de que o sistema internacional promove ou, no mínimo,
tolera o sofrimento humano, e, sendo assim, deve-se mudá-lo para que as pessoas em todo o
mundo – não apenas nos países desenvolvidos - possam ter melhores condições.

Breve discrição histórica do sistema de Estados

O sistema de Estados é uma instituição histórica, ou seja, não foi determinado por Deus nem
pela natureza, mas foi configurado por algumas pessoas numa determinada época.

Trata-se, desta forma, de uma organização social.


Apesar da existência humana não depender do sistema de Estados, a sua estrutura traz
melhores condições de vida.

Antes do séc. XVI, quando os Estados começaram a ser instituídos na Europa ocidental, eles
não eram reconhecidos como soberanos. Mas, durante os últimos três ou quatro séculos, os
Estados e o sistema de Estados estruturaram as vidas políticas de um número cada vez maior
de pessoas em todo o mundo, tornando-se universalmente populares.

A era do Estado soberano coincide com a época moderna, na qual verificamos a expansão
do poder, da prosperidade, do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da alfabetização, da
urbanização, da cidadania, da liberdade, da igualdade, etc.

O sistema de Estados e a modernidade estão historicamente ligados.

De facto, coexistem: o sistema da junção de Estados territoriais começou a ser estabelecido,


na Europa, no início da Era Moderna.

O sistema de Estados difundiu a modernidade por ser, ele próprio moderno. Aos poucos, a
estrutura do Estado soberano influenciou o mundo todo.

A África subsariana, por exemplo, permaneceu isolada do sistema de Estados ocidental até
ao final do séc. XIX.

O início das interações entre as organizações políticas coincide com um período no qual as
pessoas começaram a estabelecer-se nas terras, formando comunidades políticas distintas de
base territorial.

Sistema de Estados – definido pelas relações entre agrupamentos humanos organizados


politicamente em territórios distintos e que não estão sujeitos a nenhum poder ou autoridade
superior, desfrutando e exercendo uma certa independência entre eles.

As relações internacionais são as interações entre estes grupos independentes.

A primeira demonstração histórica de um sistema de Estados é a Grécia Antiga.

A Grécia antiga não era um Estado-nação como os atuais, porém, um sistema de cidades-
Estado.

Cidades-Estado e impérios:
• Sistema de cidades-Estado gregas
• Império Romano
• Cristandade ortodoxa: Império Bizantino, Constantinopla
• Cristandade católica: o papa em Roma
• Império Otomano, Istambul (Constantinopla)
• Pérsia, Índia, China

A comunidade cristão da Europa medieval:


• Hierarquia religiosa:
◦ Papa
◦ Arcebispos, bispos e sacerdotes
◦ Padres e outros governantes comuns
◦ Cristãos comuns

• Hierarquia política:
◦ Imperador
◦ Reis e outros governantes locais semi-independentes
◦ Barões e outros governantes locais semi-independentes
◦ Pessoas comuns de inúmeras comunidades locais
Na Era Medieval, embora os Estados existissem, frequentemente eram na forma de reinos,
não eram independentes nem soberanos de acordo com o sentido moderno. Não havia
territórios claramente definidos com fronteiras.

• O mundo medieval o poder e a autoridade eram organizados sob bases religiosas e


políticas: o papa e o imperador.

• Foi marcada pela desordem, tumulto, conflitos e violência, cuja origem, acredita-se
assentar na falta de controlo e organização política territorial.

• A segurança era provida pelos governantes locais e pelos cavaleiros que operavam
em castelos e cidades fortificadas.

• A liberdade não era um direito do indivíduo ou da nação mas dos governantes


feudais e dos seus seguidores e clientes, ou ainda, das vilas ou cidades fortificadas.

• A ordem era da responsabilidade do imperador. Os governantes políticos e líderes


religiosos eram responsáveis por garantir a justiça.

No que consiste a mudança política do período medieval para o período moderno?

O poder e a autoridade estavam agora concentrados num único ponto: o rei e o seu governo.
O rei passou a governar um território com fronteiras definidas. Assumiu também a
autoridade suprema acima de toda a população do país e não necessitava mais de agir por
intermédio de governantes e de líderes intermediários.
O rei estabelece a ordem interna, e em seguida, torna-se o único centro de poder dentro do
país.

A mudança política do período medieval para o moderno envolveu basicamente a


construção de Estados independentes. O Estado conquista o território e transforma-o em
propriedade estatal, definindo a população desse território como súbitos, e mais tarde como
cidadãos.

No sistema internacional moderno, o território é consolidado, unificado e centralizado sob


um governo soberano. A população estatal é leal ao próprio governo e tem a obrigação de
obedecer às suas leis.

A partir da metade do séc. XVII, os Estados eram considerados os únicos sistemas políticos
legítimos.

Características dos sistemas de Estado a partir da metade do séc. XVII: Os Estados eram
considerados os únicos sistemas legítimos europeus.
• Estados limítrofes, cuja legitimidade e independência foram mutuamente
reconhecidas;
• Esse reconhecimento dos Estados não se estendeu para além das fronteiras do
sistema de Estados europeu – as organizações excluídas eram vistas, em geral, como
inferiores politicamente e a maioria deles foi subordinada ao governo da Europa;
• As relações entre os Estados europeus estavam sujeitas ao direito internacional e às
práticas diplomáticas e os países tinham que cumprir essas leis;
• Havia uma balança de poder entre os Estados-membros, cujo objetivo era impedir
qualquer Estado de perder o controlo e competir pela hegemonia.

A Guerra dos Trinta anos (1618-48):


Questões de tolerância religiosa estavam na base do conflito.

A Paz de Vestefália (1648):


O acordo vestefaliano legitimou uma comunidade de Estados soberanos. Marcou o triunfo
do stato (estado) no controlo das suas questões internas e na independência externa. Os
tratados de Vestefália estabeleceram muitas regras e princípios políticos de uma nova
sociedade de Estados.

Na interpretação de Carvalho, a história da Paz de Vestefália é um mito histórico inventado


por intelectuais das RI que desejavam criar uma base de sustentação para as suas teorias
realistas ou internacionais da sociedade.

Globalização e o sistema de Estado

Os Estados ocidentais, que foram incapazes de se dominar uns aos outros, conseguiram
controlar a maior parte do resto do mundo tanto política como economicamente.

O controlo das organizações políticas externas pelos Estados europeus só terminou na


metade do séc. XX, quando os últimos povos não europeus finalmente se livraram do
colonialismo ocidental e adquiriram independência política.

A supremacia e a ascendência global do ocidente são vitais para entender as RI.

A primeira fase da globalização do sistema de Estados aconteceu via incorporação de países


não ocidentais, que não estavam sujeitos ao controlo político de um Estado ocidental
imperial. Nem todos os países não ocidentais caíram sob o controlo político de um Estado
ocidental, mas mesmo escapando à colonização, esses Estados eram obrigados a aceitar as
regras do sistema de Estados ocidental.

A segunda fase da globalização do sistema de Estados foi provocada pelo movimento


anticolonialista dos colónias ligadas aos impérios ocidentais. Os líderes políticos nativos
reivindicaram a descolonização e a independência com base nas ideias de autodeterminação.

A expansão global do sistema de Estados:


• 1600 – Europa (sistema europeu)
• 1700 - + América do Norte (sistema ocidental)
• 1800 - + América do Sul, Império Otomano, Japão (sistema globalizado)
• 1900 - + Ásia, África, Pacífico (sistema global)

Atualmente, o sistema é uma instituição global que afeta a vida de quase todos na Terra.
As RI e o mundo contemporâneo dos Estados em transição

O motivo de associar as várias teorias das RI aos Estados e ao sistema de Estados é garantir
que a centralidade histórica desse assunto seja reconhecida.

O Estado é um ponto de partida fundamental, segundo alguns teóricos: o sistema de Estados


é a principal referência tanto para as abordagens tradicionais como para as novas também.

Os Estados e os sistemas de Estados permanecem no núcleo da análise e da discussão


académica das RI.

O Estado é uma entidade complexa e, de certo modo, confusa.

O Estado com duas dimensões diferentes:

1. O Estado como governo e o Estado como país.


O Estado é o governo nacional: é a principal autoridade governante no país, ou seja,
possui soberania doméstica. Aspeto interno do Estado.

• Relacionado com o aspeto interno estão as relações de Estado-sociedade:


como o governo administra a sociedade nacional, os meios para exercer o poder e as
suas fontes de legitimidade, como lida com os problemas e preocupações dos
indivíduos e grupos que estabelecem a sociedade nacional, como gere a economia
nacional, etc.

• Visto internacionalmente o Estado não é simplesmente um governo:


é um território povoado com uma sociedade e um governo nacional. É um país.

Se um país é um Estado soberano, este será reconhecido como tal. Aspeto externo.

• As principais questões do aspeto externo envolvem as relações interestatais:


como governos e sociedades de Estados relacionam-se e lidam uns com os outros,
qual é a base dessas relações interestatais, quais são as políticas externas de
determinados Estados, quais são as organizações internacionais dos Estados, como é
que as pessoas dos diferentes países interagem e participam nas transações umas com
as outras, etc.

2. Divide o aspeto externo da natureza do Estado soberano e duas categorias:

O Estado visto como uma instituição formal ou legal na sua relação com os outros Estados.

• É uma entidade constitucionalmente independente dos demais Estados, reconhecida


como soberana ou independente pela maioria desses Estados, membro de
organizações internacionais e detentora de vários direitos e obrigações pelo direito
internacional. Condição “jurídica” do Estado

A independência constitucional e o reconhecimento são elementos essenciais da


condição de Estado do ponto de vista jurídico.
• A independência constitucional indica que nenhum país estrangeiro reivindique ou
tenha qualquer autoridade legal sobre um Estado.
• O reconhecimento certifica o fator da independência. Isso abre caminho para a
participação na sociedade internacional.

Nem todos os países são independentes e como tal reconhecidos:


• um exemplo é o Quebeque, uma província do Canadá. Para se tornar independente, é
preciso que este se separe do Canadá e seja reconhecido como tal pelos Estados
soberanos atuais.

A dimensão externa da condição de Estado:


• Estado como um país – Território, governo, sociedade
• Condição de Estado jurídica, legal – Reconhecimento por outros Estados
• Condição de Estado empírica, real – Instituições políticas, base económica, unidade
nacional

Países que poderiam ser independentes:


• Quebeque, Escócia (por parte da Grã-Bretanha) e Catalunha (por parte da Espanha).

O Estado visto como uma organização político-económica importante.

• Considera-se o papel dos países no desenvolvimento de instituições políticas


eficientes, uma base económica sólida e um grau substancial de unidade nacional,
isto é, de unidade popular e apoio ao Estado. Condição “empírica” do
Estado

Alguns países são bastante fortes, uma vez que têm um alto nível de condição
“empírica” do Estado – maioria Estados do ocidente. Exemplos: Suécia, Holanda e
Luxemburgo.

• Um Estado forte no sentido de ter um alto nível de condição empírica do Estado deve
ser diferente da noção de um poder forte no sentido militar.
Por exemplo, como a Dinamarca, alguns Estados fortes não são militarmente
poderosos, ao contrário de outros símbolos de poder militar – como a Rússia – que
não são Estados fortes.

Esta distinção entre condição empírica e jurídica do Estado é importante para nos ajudar a
perceber as próprias diferenças entre os vários Estados independentes.

• Os Estados diferem bastante na relação de legitimidade das suas instituições


políticas, à efetividade das suas organizações governamentais, à sua produtividade e
riqueza económica, às suas influências políticas, aos status e às suas unidades
nacionais.

Estados fortes/fracos – poderes fortes/fracos:


• Há um grande número de Estados, especialmente no mundo não ocidental, que
apresentam um baixo grau de condição empírica do Estado. As suas instituições são
fracas, as suas bases económicas são frágeis e pouco desenvolvidas, além de terem
pouca ou nenhuma unidade nacional.

Sendo assim, podemos nos referir a estes Estados como quase-Estados: possuem condição
jurídica do Estado, mas são extremamente deficientes na condição empírica.

Os países subdesenvolvidos revelam de modo impressionante as desigualdades empíricas da


política mundial contemporânea, no entanto é a posse da condição jurídica do Estado
refletida na participação no sistema de Estados que coloca essa disparidade numa perspetiva
mais definida.

• As diferenças são acentuadas e é mais fácil de perceber que as populações de alguns


Estados – os desenvolvidos – desfrutam de melhores condições de vida do que outros
Estados – os subdesenvolvidos.

• Se alguns Estados não conseguem satisfazer as expectativas e os padrões comuns


devido ao seu subdesenvolvimento, isto passa a ser um problema internacional e não
somente uma questão nacional ou referente a outra pessoa.

• Essa nova perspetiva é uma grande mudança em relação ao passado, quando a


maioria dos sistemas políticos não ocidentais estava fora do sistema de Estados.

Nas relações internacionais nada permanece exatamente igual por muito tempo.
As Relações Internacionais mudam em paralelo a tudo: a política, a economia, a ciência, a
tecnologia, a educação, a cultura, etc.
Um caso óbvio é a inovação tecnológica:
• Ao longo dos séculos, a tecnologia militar nova ou aperfeiçoada influenciou bastante
a balança de poder, a corrida ao armamento, o imperialismo e o colonialismo, as
alianças militares, a natureza da guerra, etc.
• O crescimento económico permitiu o aumento do orçamento militar, promovendo o
desenvolvimento de forças militares maiores, bem equipadas e mais efetivas.
• As descobertas científicas possibilitaram a elaboração das novas tecnologias que
uniram ainda mais o mundo.

Incluídos e excluídos no sistema de Estados:

• Antigo sistema de Estados


◦ Núcleo pequeno de incluídos, todos os Estados fortes
◦ Muito excluídos: colónias

• Atual sistema de Estados


◦ Quase todos os Estados são incluídos reconhecidos, com a condição de Estado
formal ou jurídica
◦ Grandes diferenças entre os incluídos: alguns Estados fortes, alguns quase-
Estados fracos

A mudança de ideias e valores culturais afetou não só a política externa de determinados


Estados, mas também a configuração e o rumo das Relações Internacionais. Por exemplo: as
ideologias contra o racismo e o imperialismo finalmente enfraqueceram os impérios
estrangeiros ocidentais na Ásia e em África e contribuíram com o processo de
descolonização.

O sistema de Estados também afeta a sociedade, a economia, a ciência, a tecnologia, a


educação, a cultura e tudo o resto.

Se o processo de globalização económica continuar a tornar o mundo um único lugar de


mercado e de produção, o sistema de Estados será então antiquado?
• Atividades de ultrapassam os Estados: comércio e investimento são cada vez
maiores, aumento da atividade empresarial multinacional, ampliação das ações das
ONGs, elevação da comunicação regional e global, crescimento da internet, expansão
e ampliação constante das redes de transporte, intensificação das viagens e do
turismo, migração humana maciça, poluição ambiental acumulada, integração
regional ampliada, expansão global da ciência e da tecnologia, contínua redução do
governo, privatização elevada e outras atividades que impulsionam a
interdependência através das fronteiras.

Conclusão

O sistema de Estados foi um sistema de Estados europeu.

Durante a era do imperialismo ocidental, o resto do mundo foi dominado pelos europeus e
pelos americanos, seja politicamente, seja economicamente ou em ambas as esferas.

Somente com a descolonização asiática e africana, após a Segunda Guerra Mundial, é que o
sistema de Estados se tornou uma instituição global.

A globalização do sistema de Estados ampliou muito a variedade dos Estados-membros e,


consequentemente, a sua diversidade.

A diferença mais importante está entre os Estados fortes com um alto nível de condição
empírica do Estado e os quase-Estados fracos, que apresentam pouca condição substancial
do Estado. Isto é, a descolonização contribuiu para uma profunda divisão interna do sistema
de Estados entre o Norte rico e o Sul pobre; entre países desenvolvidos no centro, que
dominam o sistema política e economicamente, e países subdesenvolvidos nas periferias,
com influência económica e política limitada.

Recentemente, essa divergência entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos tem


assumido uma tendência mais complexa e preocupante.

• Surgiram Estados fracassados, particularmente no Médio Oriente e na África – estes,


intencionalmente, tinham que cumprir com as agendas de política externa e militar
dos países avançados.

• O colapso de poder e autoridade do governas nessas áreas tem criado um vácuo de


poder e autoridade que que proporcionado condições para o surgimento de
organizações terroristas armadas, particularmente hostis não apenas para com os seus
governos, mas também para os governos ocidentais.

A mais radical delas, até agora, foi a ascensão do Estado Islâmico.


• Trata-se de uma forma de terrorismo profundamente bárbara e violenta.

• As relações internacionais são uma questão de poder. Mas o terrorismo revela que as
RI são mais do que isso. As pessoas esperam que os Estados sustentem certos valores
chave: segurança, liberdade, ordem, justiça e bem-estar social. Os Estados nem
sempre os defendem. Alguns atacam esses valores em determinados momentos ou
lugares.
Exemplo: Hitler, Estaline, etc.

A disciplina de RI baseia-se na convicção de que os Estados soberanos e o seu


desenvolvimento são de importância fundamental para a compreensão do modo como os
valores básicos da vida humana são garantidos ou não às pessoas pelo mundo fora.

Pontos chave

• A principal razão para se estudar as RI é o facto de que toda a população mundial


vive em Estados independentes. Em conjunto, esses Estados formam o sistema de
Estados global.

• Os valores essenciais que os Estados devem, defender são a segurança, a liberdade, a


ordem, a justiça e o bem.-estar. Muitos Estados promovem esses valores, outros não.

• O sistema de Estados soberanos surgiu na Europa no início da Era Moderna, no séc,


XVI. A autoridade política medieval estava dispersa; a autoridade política moderna é
centralizada, residindo no governo e no chefe de Estado.

• O sistema de Estados foi, no começo, europeu, hoje é global. O sistema de Estados


global apresenta Estados de tipos bem variados: grandes potências e pequenos países;
Estados substanciais fortes e quase-Estados.

• Há uma ligação entre a expansão do sistema de Estados e o estabelecimento de um


mercado mundial e uma economia global. Alguns países em desenvolvimento
beneficiam-se da integração à economia global; outros permanecem pobres e
subdesenvolvidos.

• A globalização económica e outros desenvolvimentos desafiam o Estado soberano.


Não podemos saber ao certo se os sistema de Estados se irá tornar antiquado ou se os
Estados encontrarão formas de se adaptar a novos desafios.
• Os Estados e o sistema de Estados não sustentam apenas certos valores, mas também
os incorporam.

2º Teste:

Construtivismo

A ascensão do construtivismo em RI

A partir da década de 1980, o construtivismo tornou-se uma abordagem cada vez


mais relevante em RI.

• Durante a Guerra Fria, houve um nítido padrão de equilíbrio de poder entre os


dois blocos. Com a dissolução da União Soviética e o fim da Guerra Fria, a
situação tornou-se muito mais fluída e aberta.

Logo ficou claro que a teoria neorrealista não era absolutamente clara quanto
aos desenvolvimentos futuros do equilíbrio de poder.

A lógica neorrealista dita que outros Estados vão tentar contrabalançar o poder dos
Estados Unidos porque neutralizá-lo é uma forma de garantir a própria segurança;
esse equilíbrio levará à emergência de novas grandes potências num sistema
multipolar.
Mas, desde o fim da Guerra Fria, não foi isso o que aconteceu.

➔ O argumento construtivista é de que a incerteza neorrealista está intimamente


ligada ao facto de a teoria ser extremamente regrada e materialista; e os
construtivistas afirmam que concentrar-se em pensamentos e ideias leva a uma
melhor teoria sobre a anarquia e equilíbrio de poder.

Alguns liberais têm aceitado basicamente os pressupostos neorrealistas como ponto


de partida das suas análises.

• Outros liberais começaram a concentrar-se mais no papel das ideias após o fim
da Guerra Fria.
Quando Francis Fukuyama proclamou o “fim da história” (1989), estava
passado o papel das ideias e especialmente o progresso das ideias liberais no
mundo.

Ainda que os construtivistas sejam abertos a diversos elementos do pensamento


liberal, o seu foco é mais o papel do pensamento e das ideias em geral do que o
avanço das ideias liberais.
Assim, o contexto histórico (ou seja, o fim da Guerra Fria) e a discussão teórica
entre intelectuais de RI (especialmente entre neorrealistas e liberais) ajudaram a
montar o cenário para uma abordagem construtivista.

• E o construtivismo tornou-se especialmente popular entre os intelectuais norte-


americanos, pois esse ambiente era dominado pelas abordages neorrealistas e
neoliberal.

Os construtivistas foram inspirados por desenvolvimentos teóricos noutras


disciplinas, incluindo a filosofia e a sociologia.

• Em sociologia, Anthony Giddens propôs o conceito de estruturação como


forma de analisar as relações entre estruturas e atores.

◦ Segundo Giddens, as estruturas (isto é, as regras e condições que orientam a


ação social) não determinam o que os atores fazem de forma mecânica,
impressão que se poderia ter a partir da visão neorrealista de como a
estrutura da anarquia restringe os atores do Estado.

◦ A relação entre estruturas e atores envolve compreensão e significado


intersubjetivos. As estruturas restringem os atores, mas estes também
podem transformar as estruturas ao pensar e atuar sobre elas de novas
maneiras.

◦ A noção de estruturação, portanto, conduz a uma visão menos rígida e mais


dinâmica da relação entre estrutura e atores. Os construtivistas em RI usam
isso como ponto de partida para sugerirem uma visão menos rígida de
anarquia.

Mas, o construtivismo tem raízes mais profundas:

Ele também nasce de uma metodologia cuja origem pode ser encontrada, no mínimo,
os textos do filósofo italiano Giambattista Vico, no séc. XVIII.

• De acordo com Vico, o mundo natural foi feito por Deus, mas o mundo
histórico é feito pelo Homem.
• Os Estados são criações artificiais e o sistema de Estados também é artificial; é
feito por homens e mulheres que, se quiserem, podem mudá-lo e fazê-lo
desenvolver-se de outras maneiras.

Immanuel Kant é outro precursor do construtivismo social.


• Kant afirmava que podemos obter conhecimento sobre o mundo, mas esse
conhecimento será sempre subjetivo no sentido de ser filtrado pela consciência
humana.
Max Weber enfatizou que o mundo social (isto é, o mundo da interação humana) é
fundamentalmente diferente do mundo natural dos fenómenos físicos. Os seres
humanos confiam na compreensão mútua das suas ações e atribuem-lhes
“significado”. Para compreender a interação humana, não podemos meramente
descrevê-la da mesma forma como descrevemos fenómenos físicos; precisamos de
um tipo diferente de compreensão interpretativa, ou verstehen.
• Weber concluiu que “a compreensão subjetiva é uma característica específica
do conhecimento sociológico”. Os construtivistas baseiam-se nesses
entendimentos para enfatizarem a importância do “significado” e da
“compreensão”.

O construtivismo como teoria social

A teoria social é a teoria mais geral sobre o mundo social, a ação social e a relação
entre as estruturas e atores. A teoria substantiva de RI trata alguns aspetos das
relações internacional.

Na teoria social, os construtivistas enfatizam a construção social da realidade. As


relações humanas, incluindo as relações internacionais, consistem em pensamentos e
ideias, e não essencialmente em condições ou forças materiais.

Esse é o elemento filosoficamente idealista do construtivismo que contrasta com a


filosofia materialista de grande parte do positivismo nas ciências sociais.

• Segundo a filosofia construtivista, o mundo social não é um dado: não é algo


que existia “lá fora”, independentemente do pensamento e das ideias das
pessoas envolvidas.

O mundo social e político não é parte da natureza. Não existem leis naturais da
sociedade, da economia ou da política. A história não é um processo externo em
evolução, independente do pensamento e das ideias humanas.

O mundo social é um mundo de consciência humano: de pensamentos e crenças, de


ideias e conceitos, de linguagens e discursos, de signos, sinais e entendimentos entre
seres humanos, especialmente no que se refere a agrupamentos, como Estados e
nações. O mundo social é um domínio intersubjetivo.

O mundo social é parcialmente constituído por entidades físicas. Wendt menciona


“recursos naturais” entre os elementos que compõem as estruturas sociais, nesse
sentido, o materialismo é parte do construtivismo.

• O sistema internacional de segurança e defesa, por exemplo, consiste em


territórios, populações, armamentos e outros ativos físicos.
• O pensamento envolvido na segurança internacional é mais importante do que
os ativos físicos porque, sem o comportamento intelectual, estes não têm
significado: são apenas coisas em si mesmas.

➔ A conceção construtivista de Wendt sobre as estruturas sociais:

As estruturas sociais têm elementos: ideias compartilhadas, recursos materiais e


práticas. Primeiro, as estruturas sociais são definidas, em parte, por perceções,
expetativas ou ideias compartilhadas. Um dilema de segurança, por exemplo, é uma
estrutura social composta de perceções intersubjetivas em que os Estados têm tanta
desconfiança que fazem os piores pressupostos sobre as intenções dos outros, e em
resultado disso definem os seus interesses por comportamentos egoístas.

Wendt – “quinhentas armas nucleares britânicas são menos ameaçadoras aos Estados
Unidas do que cinco armas nucleares norte-coreanas porque os britânicos são amigos
e os norte-coreanos não”.

• Ou seja, o que importa não é o fator material, que é o numero de ogivas


nucleares, mas sim o que os atores pensam uns dos outros, quer dizer, as suas
ideias e as suas crenças. Os fatores materiais compõem o quadro, mas são
secundários em relações às ideias.

Contraste entre a visão materialista sustentada pelos neorrealistas (e neoliberais) e a


visão ideacional mantida pelos construtivistas:

• O interesse nacional é o desejo nacional egoísta dos Estados em termos de


poder, segurança ou bem-estar.

• Poder e interesse são vistos como fatores “materiais”; são entidades objetivas
no sentido em que, em função da anarquia, os Estados são compelidos a
preocuparem-se com o poder e interesses.

• Nessa perspetiva, as ideias pouco importam; podem ser usadas para


racionalizar ações ditadas pelo interesse material.

“A premissa inicial é de que o mundo material é indeterminado e interpretado num


contexto de significação mais amplo. As ideias, assim, definem o significado de
poder material”.

➔ A visão social-construtivista das ideias:

O que se afirma não é que as ideias sejam mais importantes do que o poder e o
interesse, ou que sejam autónomas em relação a estes. O que se afirma é que o poder
e os interesses têm os efeitos que têm em virtude das ideias que os constituem.

O elemento ideal central em que os construtivistas se concentram são as crenças. Para


que tenham importância, as ideias devem ser amplamente compartilhadas.

“Ideias são construções mentais sustentadas por indivíduos, conjuntos de crenças,


princípios e atitudes distintas que fornecem orientações gerais para comportamentos e
políticas”

➔ Quatro tipos de ideias:

Os construtivistas, em geral, não podem concordar com as conceções positivistas de


casualidade. Isso porque os positivistas não investigam o conteúdo intersubjetivo de
eventos e episódios.

• Por exemplo: a conhecida imagem das relações internacionais como uma bola
de bilhar é rejeitada pelos construtivistas porque deixa d revelar os
pensamentos.

• A abordagem construtivista sustenta que é necessário um maior


desenvolvimento dos conceitos básicos para que se possa ter uma análise total
das ideias e do significado.

Alguns autores identificam quatro formas de poder.

➔ O conceito de poder na análise construtivista:

Os construtivistas geralmente concordam com Max Weber de que precisam de


utilizar a compreensão interpretativa (verstehen) para analisar a ação social.

Os construtivistas rejeitam a noção de verdade objetiva; cientistas sociais não podem


descobrir uma “verdade final” sobre o mundo que seja verdadeira através do tempo
e do espaço.

Teorias construtivista das relações internacionais

O construtivismo foi introduzido em RI por Nicholas Onuf.

A) Culturas da anarquia

O cerne do argumento de Wendt é a rejeição à posição neorrealista segundo a qual a


anarquia leva necessariamente a um comportamento egoísta.
Para os neorrealistas, identidades e interesses são definidos de antemão; os Estados
sabem quem são e o que desejam antes de começarem a se relacionar com os outros
Estados.

• Para Wendt, é a própria interação com os outros que “cria e exemplifica uma
estrutura de identidades e interesses e não outra; a estrutura não tem existência
nem poderes causais à parte desse processo”

Os Estados querem sobreviver e ser seguros - neorrealistas e construtivistas


concordam nessa aspeto.

• Mas que tipo de política de segurança se segue em consequência disso?


Será que os Estados buscam tornar-se tão fortes quanto possível ou satisfazer-
se com o que têm?
Wendt afirma que só se pode saber isso estudando as identidades e os
interesses como se estes fossem moldados na interação entre Estados.

Em termos concretos: se os EUA e a União Soviética decidirem que não são mais
inimigos “a Guerra Fria acaba”. Os significados coletivos é que constituem as
estruturas que organizam as nossas ações. Os atores adquirem identidades.

➔ Construtivismo social: linguagem e termos-chaves:

• Os fatores materiais são secundários em relação às ideias. Não importa o fator


material, o que importa é a ideia que os atores têm uns dos outros, isto é, as
suas crenças e ideias.

• “Estruturas não são objetos objetivados em relação aos quais os atores nada
possam fazer, mas aos quais devam reagir”. Em vez disso, elas existem apenas
por meio da interação recíproca dos atores. Isto significa que os agentes,
mediante atos de vontade social, podem mudar as estruturas. Ideias podem
mudar, Estados não têm de ser inimigos: “a anarquia é o que os Estados fazem
dela”.

• A ênfase é no significado: não podemos saber algo antes de atribuirmos um


significado ao ato.

• Identidade: para os neorrealistas, identidades e interesses são predefinidos.


Para os construtivistas, a própria interação com outros é que “cria e
exemplifica uma estrutura de identidades e interesses e não outra”.

• O grupo de construtivistas “convencionais” acredita que possamos explicar o


mundo em termos causais, ou seja, podemos descobrir “porque é que uma
coisa leva a outra” e entender “porque as coisas são colocadas lado a lado para
terem os poderes causais que possuem”. Com esta visão, a análise
construtivista “depende de evidências publicamente disponíveis e da
possibilidade de que as suas condições sejam examinadas”.

• O grupo dos construtivistas “críticos” ou “pós-positivistas”, sustenta que as


“reivindicações de verdade” não são possíveis e que a verdade e o poder não
podem ser separados. A principal tarefa do construtivismo crítico é
desmascarar a relação fundamental entre a verdade e o poder e criticar as
versões de pensamento dominantes que afirmam ser verdadeiras para todos.

• A interação entre os Estados num sistema caracterizado pela anarquia.


• Mas a anarquia não conduz ao comportamento egoísta;
• São necessários novos estudos da interação discursiva entre os Estados para
descobrir qual foi exatamente a “cultura da anarquia” que se desenvolveu entre
eles.

Wendt sugere três tipos de ideias de anarquia:


1. Hobbesiana;
2. Lockeana;
3. Kantiana.

Na cultura hobbesiana, os Estados veem-se uns aos outros como inimigos; a lógica
da anarquia hobbesiana é “a guerra de todos contra todos”.

• Os Estados são adversários e a guerra é natural porque o conflito violento é


uma forma de sobrevivência. A anarquia hobbesiana, segundo Wendt, dominou
o sistema de Estados até ao séc. XVII.

Na cultura lockeana, os Estados consideram-se rivais entre si, mas também existe
contenção; eles não procuram eliminar-se uns aos outros, reconhecem o direito dos
outros existirem.

• A anarquia lockeana tornou-se uma característica do sistema de Estados


modernos após a Paz de Vestefália, em 1648.

Numa cultura kantiana, os Estados veem-se como amigos, resolvem as suas


disputas de modo pacífico e apoiam-se mutuamente no caso de uma ameaça vinda de
terceiros.

• Desde a segunda Guerra Mundial, a cultura kantiana emergiu entre as


democracias liberais consolidadas.

As três diferentes culturas da anarquia podem ser internalizadas em variados graus,


ou seja, a forma como os Estados se veem uns aos outros pode ser compartilhada de
maneira mais ou menos profunda.
Wendt faz uma distinção entre três graus de “internalização cultural”:

• O primeiro grau é o envolvimento relativamente frágil em relação a ideias


compartilhadas;
• O terceiro grau é o envolvimento profundo.

Wendt diz que o construtivismo não se resume apenas a “acrescentar o papel das
ideias” às teorias de RI existentes.

• O poder material e os interesses do Estado são formados fundamentalmente


por ideias e interações sociais.

• Assim, é possível que, num sistema anárquico, os Estados tenham capacidades


militares e outras que possam ser vistas como ameaçadoras. A interação social
entre Estados também pode levar a culturas de anarquia mais benignas e
amigáveis.

B) Normas da sociedade internacional

A análise de Wendt concentra-se na interação entre Estados no sistema internacional


e negligencia o papel dos fatores domésticos.

Martha Finemore diz que em vez de examinarmos a interação social entre os


Estados, o seu foco são as normas da sociedade internacional e a maneira como elas
afetam as identidades e os interesses dos Estados.

• Identidades e interesses são definidos por forças internacionais, ou seja, pelas


normas de comportamento incorporadas na sociedade internacional.

• As normas da sociedade internacional são transmitidas aos Estados mediante as


organizações internacionais. Elas moldam as políticas nacionais “ensinando”
aos Estados quais deveriam ser os seus interesses.

A análise de Finemore contém três estudos de caso:

1. A adoção dos Estados, após 1955, de burocracias voltadas para políticas


da ciência. Este caso sustenta que a Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) ensinou os Estados a desenvolver
burocracias da ciência. A UNESCO difundiu com êxito a ideia de que, para um
Estado “moderno e civilizado”, ter uma burocracia dedicada à política
científica era um ingrediente necessário.

2. A aceitação pelos Estados de normas reguladoras da atividade bélica. Este


caso é sobre como os Estados vieram a aceitar normas reguladoras da atividade
bélica. O argumento é que uma organização internacional seria útil na
promoção de normas humanitárias para a atividade bélica. Neste caso o Comité
Internacional da Cruz Vermelha (CICV). O CICV teve êxito em prescrever
qual seria o “comportamento adequado” a Estados “civilizados” envolvidos
numa guerra.

3. A aceitação de limites à soberania económica ao permitirem que a


redistribuição tenha prioridade sobre os valores de produção. Este caso diz
respeito à aceitação, pelos Estados do mundo em desenvolvimento, da
remediação da pobreza como norma central da política económica. No início
da década de 1970, o objetivo passou a ser melhorar o bem-estar social
mediante a redistribuição económica. Finnemore afirma que essa mudança foi
impulsionada pelo Banco Mundial.

Conclusão: Finnemore sustenta que as normas promovidas pelas organizações


internacionais podem influenciar decisivamente as políticas nacionais, pressionando
os Estados a adotarem essas normas no âmbito doméstico. São as realidades sociais
que nos fornecem os fins para os quais podem ser usados o poder e a riqueza.

C) O poder das organizações internacionais

A visão realista tradicional das organizações internacionais enfatiza que elas existem
para desempenhar funções importantes para os Estados. (Elas fornecem bens
públicos, etc.)

Barnett e Finnemore sustentam o argumento que as OIs são muito importantes e não
deveriam ser reduzidas ao papel de serviçais dos Estados. Por outro lado, são atores
autónomas que poderiam exercer poder por direito prórpio.

O poder das OIs pode ser analisado em várias dimensões de poder:

• As OIs têm poder compulsório por controlarem recursos materiais que podem
ser usados para influenciar outros. Por exemplo, o Banco Mundial tem dinheiro
e os pacificadores da ONU têm armas.

• O poder institucional das OIs deriva da sua habilidade de orientar o


comportamento de formas mais indiretas.

➔ Autoridade e autonomia das OIs:

As OIs tem autoridade porque os processos da racionalização da modernidade e de


difusão global do liberalismo constituem-nas em formas particulares a relação a
outros. As OIs são burocracias devido ao seu carácter racional-legal. Também se
revestem de autoridade porque têm objetivos sociais liberais amplamente
considerados desejáveis e legítimos.
• Por fim, o poder produtivo refere-se ao papel das OIs em formular os
problemas que precisam de ser resolvidos. As OIs agem como autoridades que
formulam, definem e apresentam certos problemas a outros. Também
contribuem para resolver problemas oferecendo soluções e convencendo outros
a aceitá-las.
Em suma, as OIs não são apenas servas inocentes dos Estados, mas muitas vezes são
atores poderosos por serem burocracias que prometem atingir objetivos desejados por
outros. Embora poderosas, as OIs não são necessariamente uma força do bem, elas
também podem atender a interesses próprios.

D) Uma abordagem construtivista da cooperação europeia

Kenneth Glarbo sustenta o argumento que a cooperação em política externa não é


simplesmente o produto de interesses nacionais, mas deve-se a processos de interação
social, ou seja, “resulta de diplomacias nacionais comunicando, intencionalmente ou
não, a si mesmas e entre si, as suas interações e perceções na matéria de cooperação
política”.

• Os Estados-membros da UE podem não concordar com certos aspetos


importantes da política externa, mas, apesar disso, as práticas quotidianas de
cooperação política promovem uma moldagem de perceções compartilhadas e
coordenação mútua.

Em suma: Apesar do interesse a teoria construtivista sustenta que a cooperação


política abre um espaço para a integração social que deriva dos processos
diplomáticos e comunicação estabelecidos através da história da cooperação política.

E) Formação doméstica de identidade e normas

Construtivistas como Finnemore e Wendt enfatizam a importância do ambiente


internacional na moldagem das identidades de Estado.

Alguns autores demonstram como o tipo de regime, a experiência da guerra civil e a


presença de organizações domésticas de direitos humanos influenciam o grau em que
os Estados estão realmente prontos para cumprir as normas internacionais referentes a
direitos humanos.

A identidade do Estado expressa-se por meio dos principais responsáveis na tomada


de decisões. A identidade destes é relevada mediante fontes textuais, incluindo
arquivos, etc.

O mundo social e político é constituído por crenças comuns e não por entidades
físicas. Para os construtivistas, esse deve ser sempre o ponto de partida de uma
análise.
➔ Yucel Bozdaglioglu sobre a importância da análise doméstica

Acontecimentos políticos domésticos podem transformar a identidade de várias


maneiras.

• Primeiro, acontecimentos domésticos, independentemente de interações


sistémicas como revoluções, são capazes de mudar a identidade de um
Estado e substitui-la por uma nova.

• Segundo, através de arranjos institucionais internos ou eleições, o papel de


grupos políticos domésticos/instituições do Estado ou indivíduos da política
externa podem ser alterados. Nesse caso, é possível que o discurso da política
externa seja dominado inteiramente por novas organizações ou indivíduos
com diferentes conceções identitárias e que percebem o interesse nacional de
modo diferente.

• Considerar as raízes domésticas de uma mudança é um bom ponto de partida


para uma análise construtivista.

Críticas ao construtivismo

O neorrealismo é o principal oponente teórico ao construtivismo.

• Os neorrealistas são céticos quanto à importância que os construtivistas


atribuem às normas, particularmente às normas internacionais.

Ao mesmo tempo, os neorrealistas estão agora preparados para aceitar que os Estados
possam facilmente tornar-e amigos devido à sua interação social.

O principal problema que os Estados enfrentam na anarquia, de acordo com os


neorrealistas, não é suficientemente analisado pelos construtivistas: o problema da
incerteza.

• Incerteza quanto às atuais e futuras intenções de outros Estados.

Na anarquia, porém, os Estados procuram segurança. Movimentos nesse direção


podem ser mal interpretados: como o dilema de segurança.

• “O realismo só precisa que os Estados tenham incerteza sobre os interesses dos


outros, sejam eles atuais ou futuros, e na anarquia de grandes potências essa
incerteza muitas vezes pode ser profunda”.

Segundo Dale Copeland, a análise construtivista de Wendt subestimar o facto de que


os estados têm dificuldade em obter informações confiáveis sobre os motivos e
intenções de outros.

O problema da incerteza anda a par com o problema da hipocrisia.

• Os construtivistas tendem a presumir a interação social entre os Estados seja


sempre sincera e que eles tentam expressar e entender genuinamente os
motivos e intenções dos outros.

• Atores hipócritas “vão manipular a situação para criar impressões que sirvam a
seus fins estritos”.

Os Estados são pacíficos ou apenas fingem que o são?

No caso do pacto Hitler-Estaline, provavelmente ficou claro para a maioria que o


pacto não se baseava em boas intenções de cooperação entre os dois Estados. É fácil
encontrar exemplos de Estados que dizem uma coisa mas a intenção é outra.

Contra essa crítica, os construtivista sustentam que a anarquia é uma entidade mais
complexa do que apresentam os neorrealistas. Não leva necessariamente ao egoísmo,
à agressão mútua e ao risco de conflito violento.

• O argumento de Mearsheimer diz que “o realismo foi o discurso dominante


desde mais ou menos o começo do período medieval tardio e que os Estados e
outras entidades políticas se comportaram de acordo com ditames realistas
durante esses sete séculos”.

• Sem incorporar foco nas ideias e na interação social, na formação de interesses


e identidades, não será possível, dizem os construtivistas, produzir uma análise
precisa da natureza da anarquia em determinados períodos históricos. Ademais,
pode ser verdade que ideias compartilhadas sobre amizade não reflitam num
compromisso profundo entre Estados.

Outra crítica que os neorrealistas fazem aos construtivistas tem a ver com a mudança.

• Robert Jervis afirma que os construtivistas não conseguem explicar como as


normas se formam, como as identidades são moldadas e como os interesses são
definidos da maneira que são. O construtivismo, por si mesmo, não nos diz
nada sobre os processos em funcionamento da vida política, ou do conteúdo da
política externa, ou das relações internacionais.

Os construtivistas afirmam que estudam essa mudança. O neorrealismo é que


subestima a mudança ao afirmar que as relações internacionais são “as mesmas
sempre e sempre”, ou seja, uma lógica de anarquia constante.
• Os construtivistas sustentam que estudam a mudança por meio da análise da
interação social.

Em suma, o neorrealismo continua sendo o principal contentor e oponente intelectual


da teoria construtivistas. No que se refere às teorias liberal e da sociedade
internacional, e mesmo a algumas versões da teria neomarxista, os construtivistas
podem encontrar mais espaço para a cooperação intelectual.

Pontos-chave:

• O foco do construtivismo social é a consciência ou perceção humana e o o seu


lugar nos assuntos do mundo. O sistema internacional é constituído por ideias,
não por forças materiais.

• A teoria social é a teoria mais geral sobre o mundo social. Em teria social, os
construtivistas enfatizam a construção social da realidade. O mundo social não
é um dado, mas um mundo de consciência humana: de pensamentos e crenças,
de ideias e conceitos, de linguagens e discursos. Os quatro principais tipos de
ideias são: ideológicas, crenças normativas, crenças de causa e efeito e
prescrições políticas.

• O construtivista Alexander Wendt rejeita a posição de que a anarquia leva


necessariamente ao egoísmo. Isso não pode ser decidido a priori. Depende da
interação entre Estados. Nesses processos de interação, criam-se as identidades
e os interesses dos Estados.

• Martha Finnemore afirma que as identidades e interesses são definidos por


forças internacionais, ou seja, pelas normas de comportamento incorporadas à
sociedade internacional.

• Peter Katzenstein sustenta que a constituição interna dos Estados afeta o seu
comportamento internacional. A abordagem é empregada para explicar a
guinada da política externa japonesa militarista para pacifista.

• Ted Hopf concentra-se no alicerce doméstico da identidade num estudo da


política externa soviética e russa. O argumento é que as identidades dos
principais responsáveis pela tomada de decisões ajudam muito a explicar a
política externa.

• Construtivistas têm tornado mais clara a visão de que “ideias importam” em


relações internacionais. O debate crítico é sobre o quanto ela importam e qual é
exatamente a sua relação com os resultados das políticas.
Liberalismo

Introdução: premissas liberais básicas

A tradição liberal das RI está bastante associada ao surgimento do Estado liberal


moderno.

John Locke, um filósofo liberal no séc. XVII, acreditava num grande potencial para
o progresso humano na sociedade civil moderna e na economia capitalista, que
poderia prosperar em Estados que garantissem a liberdade individual.

• A modernidade projeta uma vida nova e melhor, livre do governo autoritário e


com um nível mais alto de bem-estar material. O processo de modernização
desencadeado pela revolução científica permitiu o aprimoramento da
tecnologia e, consequentemente, a formação d meios mais eficientes para a
produção de bens.

Em geral, os liberais apresentam uma visão positiva acerca da natureza humana.


Acreditam na razão humana e estão convencidos de que os princípios racionais
podem ser aplicados às questões internacionais.

• Embora reconheçam que os indivíduos são egoístas e competitivos, acreditam


também que há muitos interesses comuns entre eles.

Para os teóricos liberais, a razão humana pode triunfar sobre o medo e a cobiça pelo
poder. Entre os liberais, no entanto, há uma discordância quanto à magnitude dos
obstáculos a caminho do progresso humano.

• Para alguns liberais, esse é um processo de longo prazo com muitos


contratempos; para outros, o sucesso é iminente.

• Mas para todos, a cooperação com base em interesses mútuos prevalecerá,


porque a modernização aumenta continuamente o campo de ação e a
necessidade de cooperação.

Muitos dos primeiros liberais tendiam a ser bastante otimistas. Após a Segunda
Guerra Mundial, contudo, o otimismo liberal enfraqueceu.
Robert Keohane, por exemplo, observa com cuidado que os liberais, no mínimo,
acreditam “na possibilidade de progresso cumulativo”.

O progresso para os liberais é sempre para os indivíduos, ou seja, a preocupação


central do liberalismo é a felicidade e a satisfação dos seres humanos.

John Locke argumenta que os Estados existem para garantir a liberdade dos seus
cidadãos e, desta forma, permitir que vivam as suas vidas e procurem a felicidade
sem a interferência indevida dos outros.

Os liberais veem o Estado como uma entidade constitucional, que estabelece e


impõe o estado de direito, que respeita os direitos dos cidadãos à vida, à liberdade e à
propriedade. De acordo com a mesma lógica, os países constitucionais também
respeitariam e lidariam uns com os outros segundo as normas da tolerância mútua.

• Este argumento foi reforçado por Jeremy Bentham, filósofo inglês do séc.
XVIII, que cunhou a expressão “direito internacional”. Bentham acreditava
que fazia parte do inetresse racional do Estados constitucionais aderir ao
direito internacional nas suas políticas externas.

• O argumento foi ainda mais retalhado por Immanuel Kant. Este argumentou
que um mundo formado por Estados constitucionais que se respeitem
mutuamente poderia com o tempo alcançar a “paz perpétua”.

Em suma, o pensamento liberal está bastante associado ao surgimento do Estado


constitucional moderno. Os liberais argumentam que a modernização é um processo
que requer progresso na maioria das áreas da vida e amplia o campo de ação através
das fronteiras internacionais. O progresso significa uma vida melhor para, no
mínimo, a maioria dos indivíduos. À medida que eles utilizam mais a razão nas
questões internacionais, as chances de cooperação aumentam.

Liberalismo sociológico

O liberalismo sociológico rejeita a visão dos realistas, em que RI é o estudo das


relações entre governos de Estados soberanos. Argumentam que não se trata somente
das relações estatais, mas também das relações transnacionais, isto é, relações entre
pessoas, grupos e organizações pertencentes a diversos países.

• As relações transnacionais são consideradas pelos liberais sociológicos um


aspeto importante das RI.

Definição de transnacionalismo por James Rosenau: “o processo de substituição


das relações internacionais conduzidas pelos governos por interações entre
sociedades, grupos e indivíduos particulares, com importantes consequências para o
curso dos eventos”.

Muitos liberais sociológicos defendem a ideia de que a relações transnacionais entre


pessoas de diferentes países ajudam a criar novas formas de sociedade humana, que
podem existir em união ou em competição com o Estado-nação.

• No livro World Society, John Burton, propõe um “modelo de teia de aranha” de


relações transnacionais, com o propósito de demonstrar como qualquer Estado-
nação é composto por vários grupos diferentes de pessoas com diversos tipos
de ligações externas e variados interesses: grupos religiosos, empresariais,
trabalhistas, entre outros.

Posteriormente, James Rosenau desenvolveu mais a abordagem liberal sociológica


das relações transnacionais.

• Argumenta que a transações individuais geram efeitos e consequências


importantes para as questões globais.

➔ A importância dos indivíduos na política global:

1. A erosão e a dispersão do Estado e do poder governamental;

2. O surgimento da televisão global, a ampliação do uso de computadores, o


crescimento das viagens ao exterior, a multiplicação de pessoas e a difusão de
instituições educacionais, que realçam as qualificações analíticas dos
indivíduos;

3. O tumulto na agenda global provocado pelas novas questões da


interdependência enfatizou os processos pelos quais a dinâmica global afeta o
bem-estar e os níveis de renda dos indivíduos.

4. A revolução das tecnologias de informação que permitiu aos cidadãos e


políticos literalmente “enxergassem” a transformação de micro ações em
macro resultados.

5. A recém descoberta capacidade dos cidadãos de “ver” o seu papel na dinâmica


de transformação alterou-se de forma profunda. Os líderes cada vez mais se
tornam seguidores, porque os indivíduos estão cada vez mais conscientes de
que as suas ações podem produzir consequências.

Em suma, RI não se trata somente do estudo das relações entre sociedades, grupos e
indivíduos particulares. Relações sobrepostas e interdependentes entre as pessoas são
mais propícias a serem mais cooperativas do que as relações entre os Estados, porque
estes são restritivos e, de acordo com o liberalismo sociológico, os seus interesses não
combinam. Portanto, mais pacífico será um mundo quanto maior for o seu número de
redes transnacionais.

O liberalismo da interdependência.

A interdependência significa uma dependência mútua: as pessoas e os governos


sofrem o impacto do que acontece em todos os lugares, das ações dos seus
semelhantes noutros países. Dessa forma, um grau mais elevado de relações
transnacionais entre os Estados proporciona uma interdependência maior. Isso
também expressa o processo de modernização, que intensifica a interdependência
entre países.

Os liberais da interdependência argumentam que a alta divisão de trabalho na


economia internacional intensifica a interdependência, desestimulando e reduzindo os
conflitos violentes entre os Estados. Apesar de permanecer o risco dos Estados
modernos retomarem a opção militar e iniciarem mais uma vez corridas
armamentistas e confrontos violentos, a probabilidade de isso ocorrer é baixa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, David Mitrany apresentou uma teoria


funcionalista da integração:

• Argumentava que uma interdependência mais elevada na forma de ligações


transnacionais entre os países poderia proporcionar a paz. Mitrany, acreditava,
de certo modo, que a cooperação deveria ser organizada por especialistas
técnicos e não por políticos.

Ernst Haas desenvolveu a chamada teoria neofuncionalista da integração


internacional. Haas baseou-se em Mitrany, porém rejeitou a ideia de separar
questões “técnicas” da política.

Posteriormente, uma tentativa ambiciosa de apresentar uma teoria geral acerca do que
chamam “interdependência complexa” foi feita no final dos anos 70, por Robert
Keohane e Joseph Nye.

A interdependência complexa gera uma relação mais amigável e cooperativa entre


Estados. De acordo com Keohane e Nye isso traz várias consequências:

1. Os Estados procuram diferentes objetivos, e atores internacionais, como as


ONGs e corporações transnacionais.

2. A especialização dos recursos de poder em relação às temáticas. Por exemplo,


apesar de pequenas em tamanho, a Dinamarca e a Noruega dominarão a
navegação internacional por causa das suas grandes frotas mercantis e dos seus
navios-tanques.

3. A valorização das organizações internacionais, que funcionam como arenas


para as ações políticas dos Estados fracos, estimulam a formação de
coalizações e supervisionam o estabelecimento de agendas internacionais.

A interdependência complexa, na dimensão de tempo, parece estar associada à


modernização social ou ao que o Keohane e Nye chamam de “desenvolvimento de
longo prazo do Estado de bem-estar”.
No espaço, a interdependência complexa é mais evidente na Europa ocidental, na
América do Norte, no Japão, na Austrália e na Nova Zelândia: países industrializados
pluralistas.

Os realistas afirmas que qualquer assunto pode tornar-se uma questão de vida e de
morte num mundo anárquico, já os liberais da interdependência responderão que este
raciocínio é simplificado e que muitas questões da agenda internacional são
elementos práticos importantes e em linha com as suposições da interdependência
complexa.

Fica então claro que os liberais da interdependência apresentam uma abordagem mais
moderada do que outros liberais. No entanto, ao adotar essa posição intermediária, os
liberais da interdependência enfrentam o problema de decidir exatamente o quanto, o
quanto permanece o mesmo e quais as consequências precisas para RI.

Em suma, a modernização aumenta o nível e o campo de ação da interdependência


entre os Estados. Sob a interdependência complexa, atores transnacionais são cada
vez mais relevantes, a força militar é um instrumento menos útil e o bem-estar – não
a segurança – torna-se o objetivo e a principal preocupação dos Estados. Assim, o
mundo torna-se o cenário de relações internacionais mais cooperativas.

Liberalismo institucional

Eles concordam que as instituições internacionais podem tornar a cooperação mais


fácil e provável, mas não acreditam que tais organizações podem sozinhas garantir
uma transformação das relações internacionais, da “selva” para o “zoológico”.

Apesar de estarem cientes de que os Estados poderosos não serão completamente


coagidos, os liberais institucionais não concordam com o argumento realista de que
as instituições internacionais são apenas “pedaços de papel” à mercê total dos
Estados poderosos.

• As instituições internacionais são mais do que simples subalternas dos Estados


fortes; elas possuem uma importância autónoma e são capazes de promover a
cooperação entre os países.

O que é uma instituição internacional? De acordo com os liberais institucionais, é


uma organização internacional, como a NATO ou a União Europeia; ou um conjunto
de regras que governam a ação estatal em áreas particulares, como a aviação ou a
navegação.

Os liberais institucionais argumentam que as instituições internacionais ajudam a


promover a cooperação entre os Estados.
A institucionalização pode ser quantificada em duas dimensões, no campo de ação e
na profundidade.

• O “campo de ação” refere-se ao número de áreas temáticas que apresentam


instituições.

• Para analisar a “profundidade” da institucionalização existem três caminhos:

◦ o da semelhança: o grau em que as expectativas sobre o comportamento


apropriado e acerca do entendimento sobre como interpretar a ação é
comum aos participantes;

◦ o da especificidade: o grau em que essas expectativas são claramente


especificadas na forma de regras;

◦ o da autonomia: a extensão em que a instituição pode modificar as suas


próprias regras em vez de depender de agentes externos (Estados) para fazer
isso.

Como é possível determinar o nível exato de institucionalização? Uma forma de


fazer isso é observar um grupo de Estados no qual acreditamos, de imediato, que o
campo de ação e a profundidade da institucionalização tornam-se importantes. Um
desses grupos de países é a Europa, em especial a União Europeia.

Para os liberais institucionais, um alto nível de institucionalização reduz de forma


significativa os efeitos desestabilizadores da anarquia multipolar identificada por
Mearsheimer. As instituições compensam a falta de confiança entre os Estados,
permitindo um fluxo de informação entre os membros, que, consequentemente, gera
mais transparência às ações dos países e aos seus motivos. Dessa forma, as
instituições ajudam a reduzir o medo mútuo entre os Estados-membros. Além disso,
são um foro para a negociação entre os Estados – por exemplo, a União Europeia.

* anarquia multipolar – “a anarquia tem duas consequências principais: primeiro,


há pouco espaço para a confiança entre os Estados… e, segundo, cada Estado deve
garantir a sua própria sobrevivência, já que nenhum outro ator a proporcionará”

➔ O liberalismo institucional: o papel das instituições:

Possibilitam um fluxo de informação e oportunidades para a negociação.

Realçam a capacidade dos governos de monitorar a concordância dos outros e de


implementar os seus próprios compromissos – por conseguinte: a habilidade de
firmar acordos confiáveis em primeiro lugar.

Fortalecem expectativas anteriores sobre a solidez dos acordos internacionais.


Em suma, instituições internacionais contribuem para promover a cooperação entre
os Estados e, assim, para aliviar a falta de confiança entre eles e o sentimento de
medo mútuo presente no ambiente, todos considerados problemas tradicionais da
anarquia internacional. O papel positivo das instituições internacionais para ao
aumento da cooperação entre os países, no entanto, continua a ser questionado pelos
realistas.

Liberalismo republicano

O liberalismo republicado baseia-se na afirmação de que as democracias liberais


são pacíficas e cumpridas da lei do que outros sistemas políticos.

O argumento não sugere a ausência de guerra; democracias já entraram em guerra


tanto quanto as não democracias, mas a diferença é que não lutam umas contra as
outras. Esta observação foi articulada, primeiro, por Immanuel Kant. Kant foi
retomado por Dean Babst, em 1964.

Nos últimos anos, o número de democracias no sistema global aumentou


rapidamente, podemos esperar um mundo mais pacífico formado por relações
internacionais caracterizadas pela cooperação em detrimento do conflito.

Porque é que as democracias mantêm a paz? Há três elementos essenciais


inseridos na afirmação de que as democracias, com outras democracias, conduzem à
paz:

1. A existência de culturas políticas nacionais fundamentadas na resolução


pacífica de conflitos. A democracia encoraja relações internacionais pacíficas
porque governos democráticos são controlados pelos seus próprios cidadãos,
que não vão defender ou apoiar guerras contra outras democracias.

2. As democracias possuem valores morais comuns levam à formação do que


Kant chamou de “união pacífica”. A união não é um tratado de paz formal, mas
uma zona de paz com base em fundações morais comuns de todas as
democracias. A liberdade de expressão e a livre comunicação promovem um
entendimento mútuo internacionalmente e ajudam a garantir a ação de
representantes políticos de acordo com os pontos de vista dos cidadãos.

3. Finalmente, a paz entre as democracias é fortalecida por meio da


interdependência e da cooperação económica. Na união pacífica, é possível
encorajar o que Kant chamou de “o espírito do comércio”: ganho mútuo e
recíproco para os envolvidos no intercâmbio e na cooperação económica
internacional.
Entre as diferentes tendências do liberalismo, o liberalismo republicano tem o
elemento normativo mais forte. Para a maioria dos republicanos liberais não há só
confiança, mas também esperança de que a política mundial se desenvolva e avance
além da rivalidade, do conflito e da guerra entre Estados independentes.

Acreditam que a paz e a cooperação predominarão, com o tempo, nas relações


internacionais, com base no progresso voltado para um mundo mais democrático.

• Eles veem como a sua responsabilidade a promoção da democracia no mundo,


e, cumprindo essa tarefa, conseguem alcançar a paz, um dos valores políticos
fundamentais.

Com o fim da Guerra Fria criou-se uma nova onda de democratização, que motivou
um otimismo liberal crescente em relação ao futuro da democracia.

➔ Liberalismo republicano: três condições para a paz entre democracias


liberais:

1. Normas democráticas para a resolução pacífica do conflito;

2. Relações pacíficas entre Estados democráticos com base numa fundação moral
comum;

3. Cooperação económica entre democracias: laços de interdependência.

Na sua maioria, os liberais republicanos enfatizam que a paz democrática é um


processo dinâmico e não uma condição fixa, e que a união pacífica só pode crescer
entre países que alcancem um nível mínimo de democracia.

Em suma, o argumento do liberalismo republicano resumido é que as democracias


não fazem guerras umas contra as outras devido às culturas nacionais de resolução
pacífica de conflitos, aos valores morais comuns e às ligações mutuamente benéficas
de interdependência e cooperação económica. Essas são as bases sobre as quais as
relações internacionais pacíficas estão construídas. Por essas razões, todo um mundo
de democracias liberais consolidadas poderia ser pacífico.

Liberalismo e a ordem mundial

Outra tentativa recente dos liberais mais convictos de atualizar o pensamento liberal é
a teoria do “liberalismo estrutural”, de Daniel Deudney.

Os autores procuram definir as principais características da ordem ocidental, isto é,


das relações entre as democracias liberais ocidentais. Cinco elementos dessa ordem
estão estabelecidos:
1. segurança covinculada
2. hegemonia recíproca permeada
3. grandes potências parciais e semi soberania
4. abertura económica
5. identidade civil

A segurança covinculada refere-se à prática liberal dos Estados de gerar limitações


uns aos outros em instituições mutuamente coercivas, como a NATO.

A hegemonia recíproca permeada é a forma especial dos Estados Unidos liderarem


a ordem ocidental.

Grandes potências parciais e semi soberanas são aquelas com o status especial,
como a Alemanha e o Japão, que impuseram restrições a si mesmas ao abrir mão da
aquisição de armas nucleares.

A abertura económica é outro importante atributo das relações entre as democracias


liberais ocidentais. Num mundo de capitalismo industrial avançado, os benefícios do
ganho absoluto derivados da abertura económica são tantos que os Estados liberais
tentam cooperar para evitar o incentivo na procura de ganhos relativos.

Finalmente, a identidade cívica expressa um apoio ocidental comum aos valores das
liberdades civis e políticas, da economia de mercado e da tolerância étnica.

Com os valores liberais preponderantes na presente ordem mundial, as contradições


do liberalismo não podem deixar de ser mais expostas e aguçadas. Quando isso
acontecer, as políticas externas dos Estados liberais serão crescentemente
confrontadas com a questão de como dominar essa tensão central do liberalismo. Os
que são a favor da restrição devem apontar caminhos para evitar que isso leve à
aceitação impassível do enorme sofrimento dos seres humanos. Os que preferem a
imposição devem indicar maneiras de garantir que os resultados não sejam efeitos
antiliberais e políticas ilegítimas. Em síntese, esse dilema essencial do liberalismo é
uma chave fundamental na avaliação dos desafios enfrentados por uma política
externa liberal.

Pontos-chave do liberalismo

• O ponto de partida teórico para o liberalismo é o indivíduo. Os indivíduos e as


várias coletividades de indivíduos são o foco da análise: primeiro, e acima de
tudo, os Estados; mas também as corporações, organizações e associações de
todos os tipos. Os liberais sustentam que não só o conflito, mas também a
cooperação, pode configurar as questões internacionais.

• Os liberais são, sobretudo, otimistas: quando os seres humanos utilizam a sua


razão, eles podem alcançar a cooperação benéfica mútua e acabar com a
guerra. O otimismo liberal está muito associado à ascensão do Estado
moderno. A modernização significa o progresso na maioria das áreas da vida
humana, incluindo as relações internacionais.

• Os argumentos liberais a favor de relações internacionais mais cooperativas


estão divididas em quatro diferentes tendências: o liberalismo sociológico, o
liberalismo da interdependência, o liberalismo institucional e o liberalismo
republicano.

• Liberalismo sociológico: RI não é só o estudo das relações entre os governos,


mas também entre indivíduos, grupos e sociedades. As relações entre as
pessoas são mais cooperativas do que entre os governos. Um mundo com um
grande número de redes transnacionais será mais pacífico.

• Liberalismo da interdependência: a modernização aumento o nível de


interdependência entre os Estados. Atores transnacionais são cada vez mais
importantes, a força militar é um instrumento menos útil e o bem-estar, não a
segurança, é o objetivo predominante dos Estados. Essa interdependência
complexa significa um mundo de relações internacionais cooperativas.

• Liberalismo institucional: as instituições internacionais promovem a


cooperação entre os Estados e diminuem os problemas relativos à falta de
confiança entre os países, reduzindo, assim, o medo mútuo.

• Liberalismo republicano: as democracias não entram em guerra umas com as


outras devido às suas culturas nacionais pacíficas de resolução de conflito, aos
seus valores morais comuns e às ligações benéficas de interdependência e
cooperação económica.

• Os neo-realistas criticam a visão liberal. Argumentam que a anarquia não pode


perder a importância e, portanto, o otimismo liberal não é justificável.
Enquanto a anarquia predominar, não há como escapar do egoísmo e do dilema
de segurança.

• Os liberais reagem de modo diferente às objeções neo-realistas. Um grupo de


“liberais menos convictos” aceita várias afirmações neo-realistas. Já outro
grupo, o de “liberais mais convictos”, sustenta que o mundo muda de forma
significativa de acordo com as expectativas liberais. A anarquia não acarreta
consequências exclusivamente negativas, como reivindicado pelos neo-
realistas. É possível haver uma anarquia positiva que envolva a paz segura
entre as democracias liberais consolidadas.

Neo-realismo: o regresso do realismo


Kenneth Waltz – “Theory of International Politics”

• Compreendia e atacava as críticas feitas por behavioristas


• Waltz tem um enorme cuidado ao definir exatamente aquilo que entende por
teoria, argumentando que Morgenthau e os realistas clássicos tinham apenas
elementos de uma teoria, e não uma teoria propriamente dita.

O neo-realismo regressa à imagem de um sistema anárquico para argumentar que é


nessa base fundamental que vamos encontrar a chave da natureza política
internacional.

• Separando o sistema das unidades que compõem o sistema (os Estados), o neo-
realismo diz que só uma teoria sistémica pode explicar a natureza da vida
internacional. Isto é, considera que o comportamento das unidades resulta
da natureza do sistema, e não vice-versa.

O neo-realismo procura identificar as estruturas eternas da anarquia internacional


para construir teorias explicativas do comportamento internacional.

➔ Diferenças entre o Realismo clássico e o Neo-realismo:

Enquanto Morgenthau explica o comportamento de Estados com referência a uma


determinada natureza humana imutável, Waltz dispensa por completo as
considerações sobre a natureza humana, considerando que o comportamento dos
Estados se explica pela natureza do sistema internacional.

A única qualidade intrínseca dos Estados que é interessante na perspetiva de Waltz é


o poder relativo, isto é, o lugar do Estado na distribuição de capacidades
internacionais. Assim, o comportamento dos Estados compreende-se olhando parra a
estrutura que enquadra toda a política internacional e para o lugar que esses Estados
ocupam na hierarquia de poder (a capacidade).

Nota: Fatores como a proximidade cultural e ideológica, relacionamento comercial,


parceiras económicas, são de importância secundária quando comparados com a
estrutura do sistema internacional e o poder relativa dos Estados.

Outra distinção importante entre as duas escolas reside na forma como tratam o
conceito de poder. O realismo clássico utiliza este conceito de forma vaga e confusa
e o neo-realismo procura corrigir alguns problemas apontados por diversos atores.

• Enquanto no realismo clássico o poder é visto simultaneamente como objetivo


e como meio para atingir outros objetivos, o neo-realismo opta apenas pela
segunda destas caracterizações.
• Enquanto que o realismo diz que os seres humanos (e por extensão os Estados)
têm uma propensão inevitável para a acumulação de poder, o neo-realismo
coloca mesmo a possibilidade de um excesso de poder ser indesejável por
poder atrair coligações rivais. Neste sentido, numa perspetiva neo-realista,
em Estado que acumula grande poder em relação a outros Estados deverá
procurar distribuir o poder entre aliados de forma a assegurar a sua posição de
liderança durante mais tempo.

A obra de Waltz representava uma promessa de renovação do realismo que


rapidamente ganhou adeptos (e oportunidades de expansão nas universidades e nas
fundações intelectuais que dominam o comércio académico).

Fragilidades e insuficiências do neo-realismo

A imagem de anarquia internacional e a forma como este pano de fundo condiciona o


comportamento internacional abrem diversas pistas de investigação. Aquela que
merece referência mais imediata, devido à importância que assume entre os
pressupostos neo-realistas, é a obsessão com a sobrevivência dos Estados.

• Uma das características mais salientes das relações internacionais nas últimas
cinco décadas tem sido o aparecimento e a sobrevivência de Estados
extremamente débeis. Desde a segunda Guerra Mundial regista-se uma
baixíssima taxa de desaparecimento de Estados e nos casos em que isso
acontece foi sempre por implosão e para dar lugar a um maior número de
Estados, cada um mais débil do que o Estado original.

Na lógica realista, o Estado não é um conjunto específico de relações políticas


produzidas por processos históricos, diferentes em cada caso, mas simplesmente um
centro abstrato de decisões racionais.

• O comportamento internacional dos países é visto como fruto de pressões


internacionais, e não como consequência das condições internas que
determinam o acesso de determinadas pessoas e grupos ao aparelho estatal e ao
exercício do poder em nome desse aparelho estatal.

◦ É, no entanto, evidente que sem referência à composição interna do poder


político torna-se impossível compreender a desagregação da União
Soviética ou da Jugoslávia.

As organizações intergovernamentais são vistas como jogos nas mãos dos Estados,
intervindo nos espaços que os Estados lhes permitem. As organizações não
governamentais (ONG) são consideradas pouco relevantes, afetando a vida
internacional apenas nas margens.
• Relutância do neo-realismo em reconhecer outros atores ou participantes nas
relações internacionais.

O pano de fundo anárquico de concorrência e disputa internacional produz, segundo o


neo-realismo, importantes limitações às possibilidades de pensar e praticar a
cooperação internacional.

O neo-realismo não nega a existência de cooperação internacional, mas afirma que a


cooperação acontece apenas quando as circunstâncias o permitem, quando não
constitui uma ameaça aos interesses vitais dos Estados e quando não se verifica uma
situação em que os ganhos relativos de outro Estado rival são superiores.

• Muito mais profundamente do que a cooperação episódica que pode haver um


torno de um qualquer problema bilateral, os Estados cooperam na constituição
de regras e normas de comportamento na vida internacional. Estes
entendimentos comuns, que comprometem a todos e que envolvem custos
quando não respeitados, desenvolvem-se ao longo do tempo com base numa
variedade de pressões: interesses claramente definidos dos Estados mais
poderosos; consensos internacionais; forças não estatais.

A teoria apresentada por Waltz é seca e abstrata, dependendo para a sua dinâmica da
natureza (constante) do sistema internacional e da distribuição (conjuntural) do poder
entre os atores. A evolução que existe resulta das diferenças relativas de acumulação
de poder entre os Estados e a mudança internacional apenas pode explicar-se com
recursos a estes elementos.

• A falta de interesse neo-realista na constituição histórica de contextos políticos


chega ao ponto de nem considerar relevantes os processos históricos que
levaram ao desenvolvimento dos Estados modernos a partir do séc. XV, já que
a essência das relações internacionais – a estrutura e os atores – é vista como
imutável ao longo dos milénios.

Níveis de análise

O conceito de política externa

A análise da política externa é um estudo do gerenciamento das relações e atividades


externas dos Estados-Nação como algo distinto das suas políticas domésticas.
A política externa envolve objetos, estratégias, medidas, meios, orientações, entre
outros, pelos quais os governos nacionais conduzem as suas relações entre si,
com organizações internacionais e com atores não governamentais.
Todos os governos nacionais são obrigados a se envolver em política externa na sua
relação com governos estrangeiros e outros atores internacionais.
A política externa consiste em medidas e metas destinadas a orientar as decisões e
ações dos governos no que se refere a assuntos externos,particularmente nas suas
relações com outros países. O gerenciamento da política externa exige planos de ação
cuidadosamente estudados e adaptados aos interesses e preocupações (objetivos)
externos de um governo.

Os principais responsáveis pela elaboração dessas políticas são: os presidentes,


primeiros ministros, ministros das finanças, da defesa, das relações exteriores, entre
outros.

A elaboração das políticas normalmente envolve um pensamento que prevê meios e


fins, objetivos e ações do governo. Trata-se de um conceito instrumental “qual é o
problema ou objetivo e quais são as soluções disponíveis para lidar com ele?”. A
análise instrumental envolve imaginar a melhor opção ou o melhor curso disponível
para fazer as coisas acontecerem segundo os interesses ou exigências de alguém.
Pode ser um elemento essencial do estudo da política externa em que a análise busca
fornecer conhecimento de alguma relevância para o responsável pela elaboração de
políticas. Envolve calcular os métodos e medidas com maior probabilidade de
capacitar os interessados a atingir um objetivo. Assim, a analise de políticas torna-se
não apenas instrumental mas também prescritiva: ela advoga o que deve ser feito.

Análise da política externa

A análise da política externa geralmente envolve examinar cuidadosamente as


políticas dos Estados e colocá-las em um contexto de conhecimento acadêmico mais
amplo. O contexto académico é usualmente definido por teorias e abordagens. A
relação entre teoria e política é complexa, pois nenhuma teoria leva necessariamente
a uma opção mais clara em matéria política. A escolha da teoria afeta a escolha da
política.

Isto ocorre porque diferentes teorias enfatizam diferentes valores sociais:

• os realistas sublinham o valor da segurança nacional: afirmam que reforçar o


poder militar nacional e contrabalançar o de outros Estados são os meios
corretos para atingir a segurança nacional.

• os estudiosos da sociedade internacional enfatizam os valores da ordem e da


justiça: o objetivo maior é uma sociedade internacional baseada em normas e
bem-regulada.

• para os liberais a liberdade e a democracia são os valores centrais, estão


convencidos de que as democracias liberais apoiarão a cooperação com base
em instituições internacionais.
• há, ainda, os estudiosos que enfatizam a importância da prosperidade e do
bem-estar socioeconómicos como objetivos centrais da política externa,
tendem a adotar a perspetiva da economia na política internacional.

Assim, as teorias que se preocupam com questões de defesa e segurança tendem a


assumir uma abordagem realista, enfatizando o inevitável choque de interesses entre
os atores estatais, cujos resultados seriam determinados pelo poder relativo do
Estado. Por outro lado, os que se preocupam com questões multilaterais tende-me a
assumir uma abordagem liberal, enfatizando as instituições internacionais (como as
Nações Unidas ou a OMC) como meios de reduzir o conflito internacional e
promover a compreensão mútua e os interesses comuns.

A abordagem tradicional da política externa

Uma abordagem tradicional da política externa envolve estar informado sobre a


política externa de um governo, envolve a capacidade de reconhecer as circunstâncias
em que um governo deve operar para implementar a sua política externa. Esta
abordagem envolve igualmente o exercício do discernimento e do bom senso na
avaliação dos melhores meios e cursos práticos disponíveis para levar à frente essas
políticas.

A melhor maneira de chegar a uma apreensão satisfatória da política externa de um


país é o conhecimento direto do modo como são conduzidos os seus assuntos
externos. Em suma, o estudo tradicional da política externa refere-se a chegar a uma
perspetiva da atividade dos responsáveis pelas decisões de matéria da política
externa, seja pela experiência ou pelo exame cuidadoso das políticas atuais e do
passado.

A abordagem comparativa da política externa

Inspirou-se no movimento behaviorista na ciência política. A ambição era construir


teorias e explicações sistemáticas do processo da política externa em geral. Isto seria
alcançado reunindo e combinando amplos conjuntos de dados e descrevendo o
conteúdo e o contexto da política externa num grande número de países.
A abordagem da política externa por estruturas e processos
burocráticos

Concentra-se no contexto organizacional do processo de tomada de decisões. A


análise dos processos e canais por meio dos quais as organizações produzem as suas
políticas é considerada uma forma superior de obter conhecimento empírico sobre a
política externa. A força da abordagem das políticas burocráticas é o seu empirismo:
a sua atenção detalhada à forma concreta de como as políticas são executadas nos
ambientes burocráticos. Esta abordagem procura descobrir o que aconteceu e o por
quê de algo ter acontecido de uma determinada forma. Esta análise indica 3 formas
diferentes e complementares de compreender o processo de tomada de decisão:

• uma “abordagem do ator racional” que fornece modelos para responder à


pergunta “qual seria a melhor decisão para se atingir o objetivo tendo em conta
as informações obtidas?”;

• um “modelo de processos organizacionais” pelo qual uma política externa


concreta emerge do conjunto de organizações governamentais que cuidam dos
seus próprios interesses e seguem “procedimentos operacionais padronizados”

• um “modelo de política burocrática” que descreve os indivíduos responsáveis


pela tomada de decisões.

A abordagem de processos cognitivos e psicologia

Concentra-se no indivíduo responsável pela tomada de decisões, dessa vez com uma
atenção particular para os aspetos psicológicos desse processo, como as percepções
dos atores.

A abordagem “multiníveis e multidimensional”

Desenvolveu-se quando se foi tornando cada vez mais evidente que nunca se chegaria
a uma teoria de política externa completamente abrangente. Muitos estudiosos
ocupam aspetos particulares do processo de elaboração de política externa utilizando
várias das teorias mencionadas anteriormente. O estudo do comportamento de
equilíbrio do poder e dos dilemas das áreas de dissuasão e segurança (abordagens
realistas) são exemplos disso.

Os liberais estudam a interdependência complexa, o papel das instituições


internacionais, processos de integração e caminhos para a democratização. Na visão
liberal, todos esses elementos contribuem, de maneiras distintas, para políticas
externas orientavas maioritariamente para a cooperação pacífica e o benefício mútuo.

Os estudiosos da sociedade internacional investigam 3 tradições (realismo,


racionalismo e revolucionismo) no pensamento e no comportamento de estadistas e
avaliam as suas consequências na política externa.

A abordagem do construtivismo social

O foco no papel das ideias, do discurso e da identidade são as características desta


abordagem na analise da política externa. Os construtivistas tratam o processo de
elaboração política externa como um mundo intersubjetivo cujas ideias e discurso
podem ser cuidadosamente investigados para que se chegue a uma melhor
compreensão teórica desse processo. Estudam a influência das ideias e do discurso
dos responsáveis pela elaboração da política externa nos seus processos e resultados.

Os países tendem a desenvolver um conjunto mais permanente de ideias sobre como


desejam lidar com o uso de força militar na condução de assuntos externos, a este
conjunto de ideias chama-se cultura estratégica. As opções dos países no que se
refere à política externa são fortemente influenciadas pelas suas culturas estratégicas.

No entanto,uma versão mais ambiciosa do construtivismo não se satisfaz com a


noção de que as ideais sejam apenas um entre muitos fatores a influenciar a política
externa. Estes construtivistas sustentam que a identidade, enraizada nas ideias e no
discurso, é a base para a definição de interesses e, assim, está por trás de qualquer
tipo de política externa. Assim, ideias e discurso sempre constituem a política
externa.

Como estudar a política externa

Podemos estudar a política externa a partir de 3 níveis de análise:

O nível sistémico:

As teorias explicam a política externa assinalando as condições do sistema


internacional que compelem ou pressionam os Estados a agirem de determinada
maneira. Assim, as teorias sistémicas precisam dizer algo sobre as condições
prevalecentes no sistema internacional e precisam estabelecer uma conexão plausível
entre essas condições e o comportamento real dos Estados em termos de política
externa.

Porém, as teorias do sistema internacional não concordam sobre as condições que


caracterizam basicamente o sistema. Os realistas concentram-se na anarquia e na
competição entre Estados por poder e segurança. Os liberais, por sua vez, dão mais
espaço à cooperação em função das instituições internacionais e do desejo comum
dos Estados de progresso e prosperidade. Para os construtivistas sociais, os objetivos
dos Estados não são definidos em antemão, são moldados pelas ideias e valores que
se destacam no processo discursivo e da interação entre os Estados.

Assim, diferentes imagens do sistema internacional levam a diferentes ideias sobre o


modo como os Estados se comportarão.

Para os neo-realistas, o fator básico na explicação do comportamento dos Estados é a


distribuição de poder entre eles. Na ausência de limitações, o equilíbrio de poder será
menos útil na explicação da política externa dos principais Estados.
Para os realistas defensivos, os Estados estão geralmente satisfeitos com o equilíbrio
de poder existente quando ele salvaguarda a sua segurança.

Para os realistas ofensivos, os Estados sempre tentam ampliar a sua posição de poder
relativa no sistema. Diferentes políticas externas podem resultar da adoção de
pressupostos defensivos ou ofensivos.

A distribuição de poder entre os Estados é o nível mais importante para analisar e


explicara política externa.

O nível do Estado-nação:

Uma explicação abrangente da política externa tem que incluir tanto o nível do
Estado-nação quanto o do indivíduo responsável pela tomada de decisões. Uma
abordagem, é examinar a relação entre o aparelho de Estado e a sociedade doméstica
de um país. Para alguns realistas essa relação é importante porque avalia a capacidade
de um governo de mobilizar e administrar o seus recursos em matéria de poder.

Tal análise realista indica que não basta examinar a distribuição geral ou sistémica do
poder, também é necessário examinar a conexão entre o governo de um país e a sua
sociedade para avaliar adequadamente a habilidade do governo em mobilizar e extrair
recursos da sociedade para fins da política externa.

Por outro lado, os liberais acreditam que indivíduos, grupos e organizações da


sociedade desempenham um papel importante na política externa. Não apenas
influenciam ou frustram o governo, mas também promovem relações internacionais
por conta própria. De acordo com os liberais, é muito limitado considerar a política
externa como um intercâmbio entre as elites de Estados de diferentes países, as
complexas redes de relações entre as sociedades também devem fazer parte do
quadro. O liberalismo republicano alega que as políticas externas promovidas entre
democracias liberais são mais pacíficas e sujeitas a lei do que aquelas que envolvem
países que não seguem esse regime.

É importante levar em conta a diferença geral entre as abordagens de realistas e


liberais no que diz respeito à análise política externa com foco no nível do Estado-
nação. Os realistas tendem a ver o Estado como uma unidade autónoma capaz de
extrair recursos da sociedade e impor sobre ela a sua vontade, assim, a análise da
política externa deve concentrar-se no governo do Estado.

Os liberais, tendem a ver o Estado como uma entidade relativamente fraca que segue
as ordens de grupos fortes da sociedade. Assim, a analise da política externa deveria
concentrar-se no modo em como diferentes grupos da sociedade não apenas
influenciam mas orientam a formulação da política externa.
Em ambos os casos, a relações entre Estado e sociedades desempenha um papel na
análise da política externa, mas a abordagem realista é mais centrada no Estado
enquanto que a liberal é centrada na sociedade.

O processo de tomada de decisão dentro do aparelho do Estado

A visão da escolha racional: indica que os Estados são capazes de identificar


corretamente os desafios da política externa e tomar as melhores decisões possíveis
em termos de custos e benefícios, levando em consideração os seus próprios objetivos
e valores. Este é o modelo do ator racional no processo de tomada de decisões em
política externa.

A abordagem da “política burocrática”: rejeita a ideia de que o processo burocrático


de tomada de decisões seja racional. A tomada de decisões nas burocracias trata-se
muito mais de um processo em que os indivíduos competem por posição e poder
pessoais. Alguns estudiosos sustentam que a tomada de decisões em situações de
crise tende menos à política burocrática porque tais decisões seriam tomadas no nível
mais alto por uns poucos indivíduos com tal responsabilidade e dotados de acesso às
melhores informações disponíveis.

A abordagem do “pensamento de grupo”: descreve um processo pelo qual um grupo


toma decisões equívocas ou irracionais. Quando ocorre o pensamento de grupo, os
membros deixam de considerar meios alternativos de chegarem à melhor decisão
possível.

O nível do indivíduo responsável pela tomada de decisões:

Tal como burocracias ou pequenos grupos podem tomar decisões que nem sempre
são baseadas no modelo do ator racional, tal regra também se aplica ao indivíduo
responsável por esse processo. Os seres humanos têm capacidades limitadas na
condução de uma tomada de decisão que seja racional e objetiva.

Fatores que influenciam a política externa com base na cognição humana:

• o conteúdo das crenças do responsável pela elaboração de políticas;

• a organização e estrutura de crenças do responsável: os sistemas de crenças


podem variar, alguns são mais coerentes e abrangentes, enquanto outros são
fragmentado e incompletos.

• padrões comuns de perceção: podem levar a visões tendenciosas, como é o


caso da criação de uma imagem estereotipavas do oponente.

• rigidez (e flexibilidade) cognitiva à mudança e ao aprendizado: imagens e


crenças profundamente entranhadas tendem a resistir à mudança.

Quando estudamos os efeitos gerais das estruturas sistémicas ou das pressões


domésticas sobre os formulando-te de políticas, o nosso pressuposto usual é o da
racionalidade.

Muitas decisões e ações de política externa são tomadas e empreendidas em


circunstâncias de incerteza e a partir de um conhecimento imperfeito. A política
externa tende mais à incerteza e está mais exposta à instabilidade e ao conflito do que
a política doméstica, que é tomada sob a jurisdição de um governo soberano dotado
de autoridade jurídica para dirigir a sociedade interna. Muitos dos temas e problemas
com que os formuladores de políticas têm de lidar estão em movimento e isso
também introduz incertezas e dificuldades. Raramente há políticas externas corretas
ou incorretas que possam ser conhecidas durante o processo.

Notas sobre especialistas e think tanks

A política externa tem estimulado um crescente volume de interesse e de pesquisa,


em grande parte voltada a influenciar e possivelmente aperfeiçoar esse processo, bem
como os objetivos dos países.

Os think tanks foram estabelecidos tendo em mente essa finalidade. Tratam-se de


organizações que disseminam informações úteis e fornecem a orientação de
especialistas em assuntos e problemas internacionais. Em muitos países têm entrado
no processo de processo de política externa, especialmente nos Estados Unidos. Eles
constituem um complemento a organizações convencionais voltadas à elaboração de
políticas, como ministérios de comércio e relações exteriores, departamento de
defesa, etc.

Alguns dos think tanks mais importantes são organizações privadas voltadas para o
desenvolvimento e o marketing de ideias e estratégias de política externa com o
objetivo de moldar a opinião pública e influenciar as políticas do governo.

Anthony Giddens: “O mundo na era da globalização”

Visão cética:

• A economia global não é muito diferente;


• O mundo continua a ser o mesmo;
• O Estado soberano e o Estado-providência.
Visão radical:

• A economia global mudou substancialmente;


• O comércio internacional e a Aldeia Global;
• A erosão da soberania e o Estado-concorrência.

Nota: Anthony fica no meio, concorda parcialmente com ambos – posição intermédia
entre céticos radicais.
Globalização não diz apenas respeito aos grandes interesses:

• Não se limita à ordem financeira internacional;


• Não é remota ou afastada do indivíduo;
• É exterior e interior;
• Influencia aspetos íntimos e pessoais.

Nota: A globalização é uma teia complexa de processos e produz novas zonas


económicas e culturais (dentro e fora dos países).

Tradições:

A globalização faz nos repensar identidades tal como tradições.

• Todas as tradições foram inventadas + nunca houve sociedades inteiramente


tradicionais + sempre incorporou poder as tradições evoluem. As
tradições vieram romper o mundo como tradicional.

• Necessário à sociedade + o passado determina o presente através da partilha de


sentimentos e crenças coletivas.

Iluminismo:

• Sente-se vitorioso em parte por reiterar a autoridade da tradição;


• Fazer diferente produz resultados tão ou mais eficientes;
• Leva a globalização pelo abandono de algumas tradições.

Nota: A globalização contribui para enfraquecer os costumes altera a base da


nossa identidade altera a consciência de quem somos.
Globalização e cultura:

Classificação de culturas:

• Distância hierárquica;
• Grau de individualismo vs coletivismo;
• Grau de masculinidade vs feminilidade;
• Grau de incerteza.
As culturas ocidentais não perdem face, porque senão perderiam a sua honra.
Os construtivistas foram inspirados por desenvolvimentos te6ricos noutras
disciplinas, incluindo a filosofia e a sociologia.

• Em sociologia, Anthony Giddens prop6s o conceito de estrutura ao como


forma de analisar as rela<;oes entre estruturas e atores.

0 Segundo Giddens, as estruturas (isto e, as regras e condi<;oes que orientam a


a<;ao social) nao determinam o que os atores fazem de forma mecanica,
impressao que se poderia ter a partir da visao neorrealista de como a
estrutura da anarquia restringe os atores do Estado.

0 A rela<;ao entre estruturas e atores envolve compreensao e significado


intersubjetivos. As estruturas restringem os atores, mas estes tambem
podem transformar as estruturas ao pensar e atuar sobre elas de novas
maneiras.

0 A no<;ao de estrutura<;ao, portanto, conduz a uma visao menos rigida e


mais dinamica da rela<;ao entre estrutura e atores. Os construtivistas em RI
usam isso como ponto de partida para sugerirem uma visao menos rigida de
anarquia.

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