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MARCEL DUCHAMP

E O CONCEITO DE
ARTE

Catarina Sofia Rita Domingos


Aluna 59133
A arte em todos os seus estilos e definições , sempre esteve ligada a
situações sociais e politicas de um determinado período tendo tido varias
funções. Desde a educativa quando o publico a quem se dirigia não era
alfabetizado e seria esta a única forma de instrução, quer a através da
estatuaria quer através da pintura. Foi uma forma de passar uma mensagem,
até mesmo através de estilos arquitetonicos como por exemplo o
Manuelino.
A partir do sec XVIII com a filosofia iluminista, a arte passou para a esfera
da emoção, da sensorialidade e do sentimento. A própria origem da palavra
"estética" deriva de um termo grego que significa "sensação.  Nasceu o
conceito de arte pela arte, onde ela tinha um fim em si mesma, despojando-
a de toda a sua antiga funcionalidade e utilidade prática e associações com
a moral e a evangelização. Passou a dar – se o valor principal
à criatividade, à intuição, à liberdade e à visão individuais do artista.

No sec XIX Jules Lévy (1857-1935), Em 1882 - acorda com uma ideia
que não lhe sai da cabeça: “Uma exposição com desenhos feitos por quem
não sabe desenhar”. Mas, ao contrário da brilhante ideia de Duchamp, toda
esta história caiu no esquecimento . Com a ajuda de amigos e colegas, esta
exposição transforma-se numa grande atracção. O sucesso é seguido por
mais exposições "gratuitas", agora chamadas de Les Arts Incohérents.
Milhares de pessoas enchem as suas exposições. A cobertura da imprensa
é enorme
Em ParisLes Arts Incohérents exibem uma vaca pintada com as cores da
bandeira francesa, uma escultura de queijo suíço e uma pintura de um
homem cuja boca é penetrada por uma coleira amarrada no pescoço de um
coelho numa gaiola à sua frente. Em outras palavras: happenings, arte de
instalação, arte conceitual e crítica institucional…
Já tinham sido exibidos nestas Arts Incohérents muitos readymades em
1882. Coisas como uma moldura sem conteúdo, uma meia - ou “bas” em
francês – pregada em uma placa e intitulada “Bas-relief ”, um barbante
esticado em um pedaço de madeira com o nome da atriz Sarah Bernhardt e
umas calça chamadas “A torre Eiffel”.
Tudo isso foi algo Duchamp achou piada e se inspirou.
Depois de alguns anos estas exposições deixam de ser novidade e Lévy é
forçado a admitir que Les Arts Incohérents não são arte, mas apenas
diversão e jogos.
Pode afirma-se sem qualquer margem de erro que Marcel Duchamp
mudou a forma do mundo ver a arte, a sua filosofia e portanto o seu rumo.
Ao desafiar a própria noção do que era considerado arte, os seus
primeiros readymades provocaram ondas de choque no mundo que ainda
hoje podem ser sentidas. A preocupação contínua de Duchamp com os
mecanismos do desejo e da sexualidade humana, bem como o seu gosto
pelo jogo de palavras, alinha seu o trabalho com o dos surrealistas, embora
ele se recusasse firmemente a rever-se e rotular-se em qualquer
movimento artístico. Pela sua idealização de que a arte deveria ser
dirigida por ideias. Foi um dos precursores da arte conceptual, do
dadaísmo, do surrealismo, do expressionismo abstrato .
Os artistas dadaístas estavam mais interessados em como a obra de arte
poderia expressar uma ideia do que nos valores tradicionais de beleza.
Tinham fascínio com a formas como a tecnologia e a indústria moldaram a
modernidade
O estudo do olhar sobre a arte interessou muito a Duchamp, que se opunha
àquilo que ele próprio dizia ser a "arte retiniana", ou seja, uma arte que
agrada à vista. Pode-se, de certo modo, compreender toda a arte de
Duchamp como um esforço para se afastar da "arte retiniana" e passar para
uma arte mais "cerebral", em que se ressaltam os aspectos mais intelectuais
do labor artístico. Dessa forma, os ready made são uma tentativa de escapar
da "arte retiniana",  confrontam o público, oferecendo-lhe algo que ele
próprio já viu algures, forçando-o a pensar e refletir sobre a questão da arte
enquanto linguagem.
Recusou sempre seguir um caminho artístico convencional, acompanhado
por um horror à repetição, o que explica o número relativamente pequeno
de obras que produziu na sua curta carreira. Desprezava profundamente a
Arte como algo comercial
Em 1915 muda -se para Nova York, onde os habitantes locais – nas
palavras do próprio Duchamp – “levam a arte moderna muito a sério
quando se trata da América, porque acreditam que nós nos a levamos
muito a sério”.
Duchamp lançou na cena artística nova-iorquina a figura de Madame Rrose
Sélavy (cujo nome se assemelha à palavra francesa heuireusee, "feliz", e o
sobrenome à expressão francesa c'est la vie, "é a vida", resultando na frase
"feliz é a vida"), uma artista dotada de uma ironia profunda, bem como de
uma paixão por trocadilhos (evidentemente, aspectos oriundos da
personalidade do próprio Duchamp). Ela também assinou uma parte
dos ready made, podendo ela mesma ser considerada um ready
made duchampiano, na medida em que era uma espécie de transfiguração
artística de uma personalidade real do artista.

QUESTÕES LEVANTADAS PELOS READYMADES


Que materiais podem ser usados?
É necessários usar materiais para caracterizar uma obra?
É necessário retirar esses materiais de seu contexto original para que sejam
considerados obras de arte?
É preciso ter espaços específicos para receber obras de arte? 

- Roda de Bicicleta – 1913


Desviar os objetos manufaturados para fazer obras de arte.
“A roda de bicicleta é meu primeiro ready-made, tanto que nem
sequer foi chamada de readymade. Ver essa roda girando foi muito
calmante, muito reconfortante, foi uma abertura para algo diferente
da vida cotidiana.
Gostei da ideia de ter uma roda de bicicleta na minha oficina. Eu
adorava observá-la como amo observar o movimento de uma lareira.
"- Marcel Duchamp
A obra original de 1913 foi perdida e Marcel Duchamp criou várias
réplicas no início dos anos 1960. Em 1964, uma sexta réplica da obra
foi produzida sob a direção de Marcel Duchamp pela Galerie
Schwarz, Milan.

- In Advance of the Broken Arm (1915).


Duchamp freqüentemente atribuiu títulos humorísticos a seus readymades.
In Advance of the Broken Arm refere-se de forma lúdica à função de uma
pá de neve: remover a neve do chão. Ele pressupõe que, sem a pá para
remover a neve, alguém pode escorregar, cair e até partir um braço.

- Fountain / 1917 –
Quando Duchamp decidiu submeter um mictório ao qual chamou Fountain,
à primeira exposição da American Society of Independent Artists, fez
anonimamente. Assinou o mictório
“R. Mutt 1917” para que ninguém soubesse que a peça era dele. Ele estava
preocupado que sua fama como artista pudesse
Influenciar as opiniões dos membros do conselho sobre a peça

- The Bride Stripped Bare by her Bachelors ( 1915 - 1923 )


Esta obra é constituída por duas lâminas de vidro, uma sobre a outra, onde
podemos ver uma figura abstrata na parte de cima, que seria a noiva e, na
parte de baixo, outras figuras (feitas de cabides, tecido e outros materiais),
dispostas em círculo, ao lado de uma engrenagem (retirada de um moinho
de café). Esta obra teve a dedicação de Duchamp durante anos, e só veio a
público muito depois do início de sua construção, intercalada, portanto, por
uma série de obras.
- L.H.O.O.Q - 1919 "Elle a chaud au cul“
a L.H.O.O.Q. interpretou seu significado como sendo um ataque à icônica
Mona Lisa e à arte tradicional,[8] um golpe de épater le burguês
promovendo os ideais dadaístas.
-
Box in a Suitcase - Este estojo de couro contém sessenta e nove
reproduções em miniatura das obras de Duchamp. Este é o número dois de
vinte e quatro versões de luxo . Cada um deles apresenta um 'original'
diferente, colorido à mão, fixado no interior da tampa. A caixa abre de
forma que algumas seções deslizam para fora, com outras pastas e
impressões montadas em preto dentro. Para Duchamp não havia distinção
clara entre o original e a reprodução, um conceito habilmente incorporado
nesta peça. A caixa também lembra a vitrine de um caixeiro-viajante,
contendo uma selecção de obras de Duchamp anteriores a 1935 como um
museu portátil, feito para sua mudança para Nova York em 1942.
- Faulty Landscape é uma “mensagem” secretamente escondida em uma
edição da Box in a Suitcase, reservada e oferecida por Marcel Duchamp a
um dos seus amores, a escultora brasileira Maria Martins.
Depositado sobre uma folha de papel, um suporte colorido determina uma
forma abstrata indefinida. Ao sabermos que esse gesto foi feito com seu
esperma por M.D., podemos afirmar que é um ready-made: o médium já
está aí, pronto.
É um readymade puro porque é descoberto muito tarde, olhado com
singularidade pela única pessoa a quem se dirige, então, um objeto trivial
que poderia ser olhado de forma quase obscena por qualquer um que não
aquele a quem se dirige. Tornou-se uma "obra de arte", até uma obra-
prima de Arte para alguns, pelo simples jogo da reabilitação póstuma, da
posteridade em obra.
É também um readymade porque essa conquista não participa do mercado
da arte: é uma dádiva. É também um acontecimento: quantos artistas
utilizarão, logo após a Segunda Guerra Mundial, fluidos corporais,
envolverão seu corpo na prática artística! Na linguagem de Duchamp,
como veremos adiante, os fluidos são a versão líquida do “gás de
iluminação”, uma versão do “sopro da posteridade”.

- Étant donnés
- Duchamp trabalhou secretamente na peça de 1946 a 1966 em seu
estúdio em Greenwich Village. É composto por uma velha porta de
madeira, pregos, tijolos, latão, chapa de alumínio, clipes de aço
para encadernação, veludo, folhas, galhos, uma forma feminina
feita de pergaminho, cabelo, vidro, prendedores de roupa de
plástico, tinta a óleo, linóleo, uma variedade de luzes, uma
paisagem composta por elementos pintados à mão e fotografados e
um motor elétrico alojado numa lata de biscoitos que gira um disco
perfurado. A escultora brasileira Maria Martins, namorada de
Duchamp de 1946 a 1951, serviu de modelo para a figura feminina da
peça, e sua segunda esposa, Alexina (Teeny), serviu de modelo para o
braço da figura. Duchamp preparou um "Manual de Instruções" num
ficheiro de 4 argolas onde explica e ilustra como montar e desmontar a
peça.

Conclusão

Uma vez que a finalidade da arte é a produção de prazer no espectador,


apenas o mais perverso dos artistas se encarregaria de representar o
repugnante, que não pode "de acordo com a natureza, "produzir prazer em
espectadores normais. Existem, com certeza, aqueles que obtêm um prazer
pervertido em experimentar o que o espectador normal acha repugnante:
quem tem, pode-se dizer, "gostos especiais
Duchamp rejeitou o puramente visual ou o que chamou de "prazer da
retina", considerando-o fácil, em favor de abordagens mais intelectuais e
baseadas em conceitos para a criação de arte e, nesse caso, a visualização.
Estava totalmente imerso na intenção de derrubar o gosto retiniano como
um imperativo artístico.

 Charles Baudelaire foi um dos primeiros a analisar a relação da arte com


o progresso e a era industrial, prefigurando a noção de que não existe
beleza absoluta, mas que ela é relativa e mutável de acordo com os tempos
e com as predisposições de cada indivíduo. Baudelaire acreditava que a
arte tinha um componente eterno e imutável - sua alma - e um
componente circunstancial e transitório - seu corpo. Este dualismo
nada mais do que expressava a dualidade inerente ao homem na sua
idealização da realidade e pela aceitação da própria realidade

Chegando-se aos meados do século XX, o assunto tornou-se tão complexo,


volátil e subjetivo que muitos estudiosos abandonaram de todo a ideia de
que a definição do que é arte é de alguma forma possível. A título de
exemplo, citem-se algumas opiniões: Morris Weitz declarou que "o próprio
caráter aventuroso e expansivo da arte, suas constantes mutações e
novidades, tornam ilógico que estabeleçamos qualquer conjunto de
propriedades definidas". Robert Rosenblum disse que "hoje em dia a ideia
de definirmos arte é tão remota que não acredito que alguém teria coragem
de fazê-lo", e Wladyslaw Tatarkiewicz afirmou que "nosso século chegou à
conclusão de que conseguirmos uma definição abrangente do que é arte é
não apenas algo dificílimo, como impossível". Essas visões, porém, não
impediram que outros críticos lançassem opiniões diferentes, crendo ser
possível uma definição. Na mesma linha de ideias, Robert Hughes disse
que algo é arte "se foi criado com o fim expresso de ser considerado como
tal e foi colocado em um contexto em que é visto como tal".Segundo a
definição da Encyclopædia Britannica, arte é aquilo que é criado
deliberadamente pelo homem como uma expressão de habilidade ou da
imaginação.

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