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TRABALHO DE IMPROVISAÇÃO SONORA SOBRE UM CONTO

Exemplo prático com recurso ao conto


A Quase Morte de Zé Malandro, de Ricardo Azevedo

FASE 1: ENTENDIMENTO FORMAL

 Entender as partes da narrativa


 Introdutória: onde se define quem é o Zé Malandro
 Sugestiva: onde o velho dá quatro pedidos a Zé Malandro
 Viragem a: em que a morte cai na partida de Zé Malandro
 Viragem b: em que o Diabo cai na partida de Zé Malandro
 Viragem c: em que o Diabo e a Diaba caem na partida de Zé Malandro
 Resolução: em que Zé Malandro não é bem-vindo nem no Inferno nem no Céu, voltando à Terra.

 Distinguir o que é dito pelo narrador e o que é dito pelos personagens


 Ter atenção se o conto vai ser totalmente narrado, se vai ser narrado e teatralizado, com ou sem
improviso entre os cortes de tempo do próprio conto.

FASE 2: TRABALHO AMBIENTE

 Trabalhar ambiente rítmico-harmónico para as diferentes partes


 Introdutória: pode-se criar algo giocoso; ostinato rítmico-harmónico em tempo de valsa (3/4), 1
compasso em tónica, 1 compasso em dominante); depois podem-se introduzir elementos harmónicos
ou rítmicos de segundo plano, que “orquestrem” falas específicas e importantes da narrativa; pode-se
ainda acrescentar uma parte melódica, com improvisação instrumental solista, sempre acompanhado
do ostinato rítmico-harmónico (caso não exista possibilidade de improvisação melódica, por falta de
instrumentistas capazes, fazê-lo com recurso à voz; o formador dá uma deixa de pergunta, e o
formando dá uma deixa de resposta, de forma a trabalhar a capacidade de improvisação melódica com
uma base rítmico-harmónica)
 Sugestiva: esta parte está imbuída de mistério e algum humor, já que há 4 pedidos que Zé Malandro
pode ver concretizados, mas pede coisas estapafúrdias; pode-se, por exemplo, continuar com o tempo
de valsa, mas um pouco mais lento, e agora em modo eólio, a partir da mesma tónica da parte
anterior; agora deve-se ter em conta que as linhas secundárias de harmonia e ritmo devem ter
expressividade e articulação diferente; também as melodias improvisadas devem conter um caráter de
algum mistério sem perder o humor, com linhas mais em legato e notas mais longas, ao mesmo tempo
que ritmos pontuados e notas curtas a cortar com os legatos.
 Viragem a: aqui deve acontecer um contraste a vários níveis; pode-se utilizar uma base mensural
quaternária, que promova o aumento das notas a tempo (forte e fraco) cada vez mais em sentido de
marcha (marcha para a morte); a base harmónica destas notas pedais e acentuadas a cada tempo
podem ser a nota da dominante da primeira e segunda partes, de forma a criar uma sensação de
suspensão constante; as melodias improvisadas devem ter em conta a ideia de descida, como a descida
ao submundo da morte, cada vez mais graves, que podem sofrer ondulações, com descidas paralelas,
como se descesse 3 escadas e voltasse 2 atrás, sempre a tentar impedir a descida, mas sempre a
descer; é importante estabelecer um final para a resolução, quando a Morte fica presa na figueira,
como uma abertura para o registo médio em todos os instrumentos (continuação na terra do Zé
Malandro), com o movimento acentuado do 4/4 a desvanecer, e com uma chegada novamente ao
movimento de tónica e dominante do início, mas agora em compasso quaternário (como a constante
permanência entre a vida e a morte)
 Viragem b: deve continuar com o mesmo motivo anterior, dominante, acentuações, improvisação
melódica descendente; agora a intensidade deve ser maior, assim como a textura (mais instrumentos,
mais vozes, mais movimentação das vozes secundárias; mais do que um improviso melódico)
 Viragem c: deve continuar com o mesmo motivo anterior, mas agora ainda com mais intensidade, já
que é a última viragem
 Resolução: pode-se voltar ao tempo de valsa (3/4), mais próximo do ambiente da parte sugestiva do
que da parte introdutória, de maneira a dar a entender que o Zé Malandro continua aí vivo a jogar o
seu baralho, o que cria alguma onda misteriosa sobre o conto; fechar com chegada a nota longa,
desvanecendo o tempo de valsa para cada vez mais lento, com resolução à tónica menor, mas com
uma sétima maior na harmonia, ou uma segunda maior, ou uma sexta maior, de maneira a criar um
final em aberto.

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