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Uma Análise de Concepções


Sobre a Criança e a Inserção
da Infância no Consumismo
An Analysis Of Conceptions About The Child And The
Childhood’s Insertion In Consumption

Un Análisis De Concepciones Sobre El Niño Y La Inserción De


La Infancia En El Consumismo

Tiago Bastos de Moura,


Flávio Torrecilas Viana &
Viviane Dias Loyola

Universidade FUMEC
Artigo

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2013, 33 (2), 474-489


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PSICOLOGIA:
CIÊNCIA E PROFISSÃO, Tiago Bastos de Moura, Flávio Torrecilas Viana & Viviane Dias Loyola
2013, 33 (2), 474-489

Resumo: Este artigo faz uma análise de percepções e de concepções sobre o que é a criança e resgata
a evolução do conceito de infância da antiguidade aos dias atuais, associando tais mudanças à dinâmica
social pelo surgimento de novas estruturas familiares e de fatores históricos, sociais, políticos e culturais.
São discutidos algumas particularidades da criança e seu processo de desenvolvimento cognitivo sob a
luz da teoria de Piaget, considerando a infância inserida nas grandes sociedades de consumo capitalistas
e analisando como ela interpreta as informações apresentadas pelo mercado através das propagandas e
outros meios. Este artigo tem como objetivo contextualizar a evolução das percepções em relação à criança,
evidenciando sua inserção crescente no mercado de consumo, peculiaridades inerentes à sua idade, sua
relação e comunicação com os pais e como eles são significativos no desenvolvimento de sua autonomia e
capacidade crítica. O consumo exagerado se afirma culturalmente e gera consequências na infância, frutos
de um processo alienante que vem sendo construído pelo sistema capitalista e reproduzido pelas pessoas.
Evidencia-se, então, a precocidade das relações que se processam no interior da sociedade.
Palavras-chave: Crianças. Cultura. Desenvolvimento infantil. Desenvolvimento cognitivo. Comportamento
do consumidor.

Abstract: This article analyses the perceptions and conceptions of “what the child is” and gives an account
of the evolution of childhood’s notion from old times to present days, associating those changes to the
social dynamics through the beginning of new familiar structures and historical, social, political and cultural
factors. Some child’s particularities and his/her cognitive development process according to Piaget’s theory
are discussed, considering childhood in the large capitalist consuming societies and analysing how the child
interprets the information presented by the media through advertisements and other communication ways.
This article’s goal is to present the evolution of the perceptions concerning the child, evidencing his/heir
growing insertion in the consumption market, the peculiarities of his/her age, relationship and communication
with his/her parents and how they are significative to the child’s autonomy development and critical capacity.
The exaggerated consumption is culturally emphasized and generates consequences during childhood,
which are products of an alienating process that has been forged by the capitalist system and reproduced
by society. The precocity of the relations which are processed in society is evidenced.
Keywords: Children. Culture. Childhood development. Cognitive development. Consumer behavior.

Resumen: Este artículo hace un análisis de percepciones y de concepciones sobre lo que es el niño y
rescata la evolución del concepto de infancia desde la antigüedad a los días actuales, asociando tales
cambios a la dinámica social por el surgimiento de nuevas estructuras familiares y de factores históricos,
sociales, políticos y culturales. Son discutidas algunas particularidades del niño y su proceso de desarrollo
cognoscitivo bajo la luz de la teoría de Piaget, considerando la infancia insertada en las grandes sociedades
de consumo capitalistas y analizando como esta interpreta las informaciones presentadas por el mercado
a través de las propagandas y otros medios. Este artículo tiene como objetivo contextualizar la evolución
de las percepciones con relación al niño, evidenciando su inserción creciente en el mercado de consumo,
peculiaridades inherentes a su edad, su relación y comunicación con los padres y como ellos son significativos
en el desarrollo de su autonomía y capacidad crítica. El consumo exagerado se afirma culturalmente y genera
consecuencias en la infancia, frutos de un proceso alienante que viene siendo construido por el sistema
capitalista y reproducido por las personas. Se evidencia, entonces, la precocidad de las relaciones que se
procesan en el interior de la sociedad.
Palabras-clave: Niños. Cultura. Desarrollo infantil. Desarrollo cognoscitivo. Comportamiento del consumidor.

Desde seu nascimento, a criança integra-se dos fatos sociais de sua época e ao contexto
em um mundo de significados construídos sociocultural específico. Considerando o
historicamente e interage com ele inspirando- homem um ser social e a grande diversidade
se em modelos de seu meio social. De acordo cultural existente nas sociedades, a criança
com Durkheim (1973), os fatos sociais foi percebida e tratada de formas distintas.
precedem o indivíduo e possuem existência Em cada contexto e época, foram construídos
própria, são externos a ele e estão além diferentes significados em relação à criança
de seu controle e vontade, uma vez que a e ao seu papel social, produzindo-se imensa
sociedade e todos os seus padrões já estão diversidade de concepções e percepções
postos quando o indivíduo nasce. A criança, sobre a infância. As representações de infância
ao inserir-se na sociedade, adapta-se às regras da atualidade têm origem em um processo

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cultural, histórico, político, econômico, social da infância:


e ideológico construído nas sociedades.
O pensamento de Santo Agostinho, que,
durante séculos, exercerá influência sobre a
A criança na Antiguidade tradição cristã e sobre a pedagogia, postula
tanto a idéia de que a infância – concebida
Segundo Jaeger (2001), na Grécia antiga, como o período em que não se fala – é uma
o pai era a autoridade máxima, e a família época desprezível quanto à perspectiva de
que a maldade seria a verdade da criança
da criança era seu referencial em relação antes de qualquer adestramento educativo
à educação, à cultura, à saúde, à formação e moral (Cirino, 2001, p.25)
moral e à estrutura psicológica. Na Roma
antiga, a família era, para a criança, sua Nessa época, a adolescência e a infância
base educacional e cultural. Enfatizava-se eram confundidas, não havendo a distinção
a formação do caráter moral dos indivíduos de um limite etário que as separasse. Ariès
como elemento de diferenciação entre uma (1975) ressalta que a ‘’descoberta da infância’’
pessoa e outra. Segundo Conrad (2000), começou no século XIII, pois, até o século
Aristóteles considera a criança incapaz de usar XII, a arte da Idade Média (pinturas, quadros,
o pensamento e o raciocínio para alcançar retratos, iconografias, etc.) desconhecia ou
a virtude. Ele vê a infância como maléfica e não tentava representar a infância; esse
desastrosa, uma doença que requer cuidados era um tema ausente na produção artística
especiais e educação para o futuro, sendo da época. Quando surge a reprodução da
a criança incapaz e inoperante, cujo valor criança em pinturas, ela aparece exatamente
estava no potencial de desenvolvimento da como um adulto em tamanho reduzido, e sua
infância. A criança torna-se indivíduo apenas altura e proporção eram os únicos traços que
quando atinge a idade adulta, e a infância seria as diferenciavam. Havia grande indiferença e
uma fase em que ainda não há identidade, descaso em relação às crianças que morriam.
capacidade de discernimento para tomar Pelo grande índice de mortalidade infantil, a
decisões e pensamento autônomo. Essa fase morte prematura já era prevista pelas famílias
necessita ser rapidamente superada para que e rapidamente assimilada. Segundo Ariès, não
o indivíduo ganhe autonomia e adentre o se considerava que a criança fosse dotada
universo adulto, tornando-se apto para tomar de personalidade e alma, e ela vestia-se com
decisões. trajes idênticos aos dos adultos, confundindo-
se com estes em ambientes públicos e
A criança na Idade Média privados. A preocupação era somente o status
social e a hierarquia, e as roupas de crianças
Na Idade Média, na Europa, as percepções e adultos distinguiam sua classe social. Na
sobre a criança transformam-se radicalmente. sociedade medieval, não havia consciência
Cirino (2001) afirma que Santo Agostinho, das particularidades da criança pela ausência
em seu livro Confissões, reporta fatos da de um tratamento próprio dirigido a elas, o
própria infância dos quais se envergonha, que não significa que fossem desprezadas,
afirmando que a criança pequena já traz abandonadas ou maltratadas por seus
consigo o pecado e que sua alma não é responsáveis. Segundo Áries (1975), surgem
inocente. Santo Agostinho realiza esse modelos de representação das crianças e
trabalho com afinco, no momento em que da infância como o anjo, o menino Jesus
o Cristianismo se consolida como religião de e a criança nua. A imagem da Virgem com
grande importância sociopolítica e a Igreja o menino Jesus no colo inspirou artistas da
se afirma como instituição. Cirino destaca a época, sendo referência para a reflexão sobre
visão de Santo Agostinho sobre o fenômeno a maternidade e espelho para as famílias, que

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associavam a imagem à sua vida doméstica e moral do século XVII. Inicialmente, fazia parte
idealizavam o papel da mãe. Posteriormente, do costume da época associar as crianças às
começa-se a reproduzir a criança em brincadeiras sexuais dos adultos sem nenhuma
multidões sempre acompanhadas dos pais, reserva, com a adoção de linguagem vulgar
sugerindo uma imagem de dependência e de e grosseira e de ações e de gestos obscenos,
fragilidade. Os artistas destacavam os traços de brincadeiras que envolviam sexo, etc. A
característicos da criança, diferenciando-a criança era considerada alheia e indiferente
dos adultos. à sexualidade.

A criança na Modernidade No final do século XVI, surgem moralistas e


religiosos com idéias diferentes, iniciando-se
Na Modernidade, ocorrem significativas uma revolução dos costumes que manifestava
mudanças nas concepções sobre a grande preocupação com as questões da
criança e a infância, com grande ênfase infância, como educação, moral, pudor,
e preocupação quanto à educação e à comportamento sexual e hábitos. A figura
moral, que influenciaram o pensamento dos da criança adquire uma conotação religiosa
séculos posteriores. Ariès utiliza a expressão e casta, e mudam-se as percepções sobre a
“sentimento da infância”, que se refere às infância, com grande respeito pelas crianças
percepções que se constroem a respeito da em suas particularidades. Não eram mais
criança e da infância, assim como à forma de alguns moralistas isolados, e sim, um grande
tratá-las e de considerá-las. Ariès salienta que, movimento cujos sinais eram percebidos
a partir do século XVI, é atribuído à criança por toda parte, tanto em farta literatura
um traje reservado à sua idade (antigos trajes moral e pedagógica como em práticas de
que os adultos haviam abandonado há muito devoção e cultos religiosos: “Uma noção
tempo), que a diferenciava dos adultos. A essencial se impôs: a da inocência infantil”
adoção de um traje peculiar à infância, que (Ariès, 1975, p.136). Foi construída uma
se tornou geral nas classes altas no fim do concepção moral de infância que enfatizava
século XVI, marca um período importante as fragilidades da criança, associadas à
na formação do sentimento da infância, ideia de inocência. Essa concepção foi
pela constituição de um grupo esteticamente uma reação contra os abusos cometidos
separado dos adultos. A criança agora era pelos adultos e contra certos sentimentos,
reconhecida como uma entidade separada, como a indiferença pela infância. As ideias
e havia tendências como a efeminação: dessa doutrina se espalharam na literatura,
tornou-se impossível distinguir um menino de consolidando novas orientações no trato com
uma menina até os cinco anos de idade. Nas as crianças. De acordo com Ariès, considerou-
famílias nobres e burguesas, os meninos foram se prejudicial deixar crianças sozinhas sem a
os primeiros a ganhar uma particularização assistência de um adulto, mimá-las em excesso,
em seus trajes, enquanto as crianças do permitir que dormissem com pessoas de sexo
povo conservaram o antigo modo de se oposto e deixá-las na companhia de criados
vestir que não as diferenciava dos adultos. ou desconhecidos. Tornou-se consenso a
No século XVI, os jogos e brincadeiras de necessidade de repreendê-las para habituá-las
crianças e adultos eram os mesmos, e não desde cedo à seriedade. A grande preocupação
havia proibição em relação ao fato de às dos moralistas e dos educadores em relação
crianças jogarem jogos de cartas e de azar que à decência refere-se também às conversas,
envolvessem dinheiro. Segundo Áries (1975), leituras, músicas, arte, linguagem cotidiana e
observa-se nesse período uma reforma dos diversões, pois queriam isolar a criança para
costumes, sinal da renovação religiosa e preservá-la de qualquer conteúdo indecente:

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O sentido da inocência infantil resultou, que enfatiza a naturalidade, a autenticidade e


portanto, numa dupla atitude moral com a inocência da criança. A partir de Rousseau,
relação à infância: preservá-la da sujeira da intensificou-se a tendência de valorizar
vida, e especialmente da sexualidade tolerada a educação infantil, sua natureza e suas
– quando não aprovada – entre os adultos, capacidades e inclinações, em oposição aos
e fortalecê-la, desenvolvendo o caráter e a padrões impostos pela sociedade.
razão (Ariès, 1975, p.146).
A criança na
A importância adquirida pela criança Contemporaneidade
nesse período emerge de dois aspectos. O
O sentido da primeiro é a infância santa influenciada pelo A partir do século XVIII, as percepções sobre
inocência infantil Cristianismo, com a associação de Cristo a infância sofrem profundas mudanças, de
resultou, portanto, à inocência infantil. Foi estabelecida uma
numa dupla forma que alguns aspectos históricos da
atitude moral religião para as crianças e a devoção do anjo contemporaneidade colocam em questão
com relação da guarda lhes foi reservada, acreditando- o sentimento da infância e sugerem sua
à infância: se que Jesus enviava os anjos da guarda
preservá-la da desvalorização. Uma análise da trajetória
sujeira da vida, e para protegerem as crianças. Segundo Áries da criança da contemporaneidade no
especialmente (1975), a imagem da alma conduzida por mundo ocidental traz à tona um declínio
da sexualidade um anjo em forma de criança espalha-
tolerada – da valorização da infância, haja vista o
quando não se pelos séculos XVI e XVII, e a primeira relato de diversos atos de pedofilia e de
aprovada – entre comunhão se torna gradativamente a crianças vítimas de estupro. Para Del Priore,
os adultos, e grande festa religiosa da infância e a maior
fortalecê-la, a pedofilia está entre os tabus sexuais
desenvolvendo o manifestação do sentimento da infância mais repelidos pela ideologia ocidental na
caráter e a razão na modernidade. A literatura pedagógica e contemporaneidade: “Daí a dessexualização
(Ariès, 1975, moral do século XVII cita várias passagens
p.146). da infância e adolescência impor-se como
do Evangelho, nas quais Cristo se refere às um valor humano fundamental de nossa
crianças. O segundo aspecto foi o grande civilização judaico-cristã” (Del Priore, 1996,
movimento de interesse pela infância por pp. 44-45). Esse aspecto contrapõe-se a
parte de estudiosos, educadores, moralistas comportamentos tidos como desviantes, que
e pedagogos. A sociedade moderna designa enxergam as crianças como objeto de desejo.
um papel central à educação e à família,
atribuindo grande importância ao caráter Além da submissão sexual, a criança esteve
educativo no desenvolvimento da criança. No durante muito tempo sujeita à exploração
século XVIII, Rousseau marca profundamente do trabalho escravo, e até hoje a questão
as concepções sobre a criança. Apesar de do trabalho infantil é um problema social
racionalista, Rousseau dá grande ênfase grave. No período da escravidão no Brasil,
à infância e à educação, colocando o as crianças eram submetidas ao regime
sentimento como ponto central em sua visão de escravidão e às práticas de crueldade
de homem e considerando que a infância e tortura. Del Priore ressalta que a criança
tem maneiras próprias de ver, pensar e sentir. menor de 8 anos era considerada incapaz de
No livro Emílio ou da Educação, Rousseau desempenhar atividades do tipo econômico;
(1973) traça os caminhos para se produzir de 8 a 12 de idade, não eram mais crianças, e
um bom adulto, afirmando que a criança entravam no mundo dos adultos na condição
pode ser educada e que a infância é uma de aprendizes. A criança era vista como
fase tão perfeita e importante quanto a escravo reduzido, e seu tamanho e força de
adulta. Ele entende que a criança tem um trabalho eram critérios que as diferenciavam
mundo próprio, e elabora uma pedagogia dos escravos adultos. Em grande parte da

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infância escrava, a criança não tinha pai e sentimento da infância, como a exploração
mãe identificados. A Lei do Ventre Livre do trabalho infantil, o crescente número de
(1871) coloca sob o poder dos senhores desnutrição, o abandono, os abusos sexuais,
os filhos de escravos nascidos ingênuos, a prostituição, a delinquência juvenil, a
obrigando-os a criar essas crianças até que violência por parte da polícia e da família, a
completassem 8 anos de idade. “Como discriminação e a exclusão social. Esses fatos
vimos, o escravo permanece criança até a presentes no cotidiano são tipificados como
idade de 7 para 8 anos” (Del Priore, 1996, problemas da infância na atualidade. Na
p. 81). Nessa idade, a criança percebia Constituição, inúmeros direitos outorgados às
sua inferioridade social e econômica, e a crianças sugerem a continuidade do percurso
passagem para a adolescência era o primeiro de valorização da infância, mas, na prática,
choque importante que a criança escrava esses direitos reservados à infância são sempre
recebia. A escravidão no Brasil representa transgredidos.
um grande abalo no sentimento e na
valorização da infância. Del Priore observa Nas sociedades capitalistas pós-modernas
que, no século XIX, a infância continua a do século XX, configura-se uma nova
ser explorada no Brasil rural e em outros concepção de infância: as crianças como
contextos como fábricas e indústrias, com segmento de mercado, que constituem um
significativo histórico de acidentes de público de interesse das empresas por já
trabalho que envolviam a infância operária. consumirem ativamente e influenciarem seus
pais a comprar, representando os promissores
No Brasil, o conceito menor surge no consumidores do futuro. Essa representação
século XIX associado aos limites etários. De da infância que emerge na atualidade é fruto
acordo com Del Priore (1996), o mundo das mudanças econômicas, sociais, políticas
jurídico descobre o menor nas crianças e e ideológicas ocorridas com a globalização
adolescentes pobres das cidades que, por não do século XX.
estarem sob a autoridade dos responsáveis,
são chamados de menores abandonados. O consumismo das grandes
Posteriormente, esse conceito é associado sociedades capitalistas da
à criminalidade e serve à regulamentação
atualidade
das leis para menores. Surgem dois tipos
de infância: uma incluída na cobertura
As novas configurações geradas pelas
das políticas sociais básicas, com crianças
transformações econômicas, tecnológicas,
socializadas pela escola e pela família, e outra
políticas, sociais, culturais e ideológicas
excluída das famílias e das políticas sociais,
ocorridas nas grandes sociedades capitalistas
que constitui o contingente dos menores. No
da contemporaneidade produziram
século XX, com o crescimento da pobreza
significativas mudanças na vida das pessoas,
e da violência urbana, a criança se torna
nas relações sociais, e novas subjetividades
objeto de políticas governamentais de caráter
mais abrangente. Nos anos 60, o Estado se são construídas. A sociedade de consumo e
torna o principal responsável pela proteção suas ideologias dominantes promovem um
e pela assistência à infância abandonada e distanciamento do homem consigo mesmo
em situações de risco no Brasil. Surge uma e com a sua natureza, produzindo uma
nova concepção de infância: a criança como manifestação típica das grandes sociedades
sujeito de direitos civis, humanos e sociais, capitalistas da atualidade: o predomínio do
necessitando de direitos e cuidados especiais. ter sobre o ser. Em A Sociedade do Espetáculo,
Cirino (2001) sugere um retrocesso do Debord (1997) afirma que o espetáculo é,

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materialmente, a expressão da separação e nunca se concretiza de fato. Nesse sentido,


do afastamento entre o homem e o homem, Cirino e Lipovetsky salientam que a prometida
no qual a massa de objetos cresce e faz com satisfação não alcançável leva à decepção e
que o homem fique sujeito ao seu domínio. à tristeza, produzindo sujeitos insaciáveis,
É o ápice de uma expansão que opõe a vorazes em sua demanda de consumo. A era
necessidade à vida. O consumo excessivo contemporânea apresenta como sintoma mais
torna as pessoas dependentes e submetidas significativo dos problemas existenciais o vazio
ao mundo das mercadorias, sendo fabricados emotivo, que se manifesta na incapacidade de
novos significados em relação à vida e novas sentir a vida, na perda de valores, nas crises de
percepções de mundo. identidade, na ansiedade e no esvaziamento
do significado das coisas. A existência perde
De acordo com Lipovetsky (2007), o seu sentido.
consumismo exagerado na pós-modernidade
se fundamenta nos desejos nunca alcançados, Lipovetsky (2007) e Cirino (2001) afirmam
surgindo novas vontades de consumir que vivemos na era do vazio, da insegurança e
devido a uma incapacidade de eliminar os do imediatismo. As pessoas se lançam em uma
apetites de consumo, que posteriormente busca desenfreada por sentido, lutando contra
“A força
cumulativa de
geram outras procuras, uma espécie de um vazio existencial que nunca é preenchido.
um artificial círculo vicioso sem fim e completamente A sociedade, dentro de seu contexto
independente alienante, que se tornou parte da cultura histórico e sociocultural, é responsável pela
provoca a
falsificação
das grandes sociedades capitalistas da construção de necessidades específicas que
da vida social” atualidade. O ato de consumir adquire são reproduzidas pelos indivíduos dessa
(Debord, 1997, aspectos subjetivos próprios, transcendendo a sociedade, e nas sociedades consumistas não
pp.45-46).
satisfação proporcionada pela mercadoria em é diferente. Fabricam-se novas necessidades
si e substituindo-a pela busca da satisfação e desejos fundamentados em um artificial
em seu valor como mercadoria. As marcas infinito que se impõe às pessoas. Como
e as mercadorias parecem adquirir vida assinala Debord, a pseudonecessidade
própria e personalidade. Debord faz alusão imposta pelo consumismo moderno não pode
a esse fenômeno, ressaltando que cada ser contrastada com nenhuma necessidade
mercadoria específica luta por si mesma, ou desejo autêntico não produzido pela
não reconhecendo as outras e pretendendo sociedade e sua história. A mercadoria
impor-se em toda parte como se fosse a única. abundante representa a ruptura absoluta do
A satisfação que a mercadoria abundante já desenvolvimento orgânico das necessidades
não proporciona em seu consumo passa a ser sociais, e sua acumulação libera um artificial
procurada no reconhecimento de seu valor ilimitado: “A força cumulativa de um artificial
como mercadoria: é o uso da mercadoria independente provoca a falsificação da vida
bastando a si mesmo: “Para o consumidor, é a social” (Debord, 1997, pp.45-46).
efusão religiosa diante da liberdade soberana
da mercadoria” (Debord, 1997, p. 44). O De acordo com Lipovetsky (2007), o consumo
autor ressalta que o espetáculo é o momento desenfreado adquire um caráter subjetivo,
em que a mercadoria ocupou totalmente a no qual os gostos, os critérios individuais,
vida social, e não apenas a relação com a os anseios e as buscas movem os desejos
mercadoria é visível, mas nada se consegue das pessoas, criando-se novos desejos
ver além dela: o mundo que se vê é o seu de aceitação, de integração grupal e de
mundo. O consumo alienado que aprisiona reconhecimento pelo outro, além da busca
as pessoas no mundo da mercadoria produz de prazeres e de satisfações ilusórias que
uma busca incessante por uma satisfação que nunca se concretizam de fato, pois pautam-

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se no aspecto artificial, uma busca subjetiva uma adaptação sempre mais precisa à
e emocional por benefícios e prazeres. realidade” (Piaget, 2001, p.17). De acordo
A paixão pelo novo e a importância que com Piaget, do ponto de vista social, a
adquire o ser você mesmo mobilizam acomodação nada mais é do que a imitação
as pessoas a se sentirem especiais por e o conjunto de operações que possibilitam
adquirirem algo que classificam como a à criança submeter-se aos exemplos e aos
minha marca. A ideia de se sentir uma imperativos do grupo em que está inserida.
pessoa com personalidade singular assume A assimilação consiste na incorporação da
um sentido de grande valor e faz as pessoas realidade à atividade e às perspectivas do
buscarem incessantemente uma identidade eu. “A assimilação e a acomodação são,
que se concretiza superficialmente. Esse portanto, os dois pólos de uma interação
objetivo se torna cada vez difícil de ser entre o organismo e o meio que é a condição
alcançado e gera incômodo e frustração nas para qualquer funcionamento biológico e
pessoas, que tentam apoiar-se nos produtos intelectual” (Piaget, 2003, p.360).
e nas marcas acreditando que sejam os
elementos necessários para a satisfação Piaget (2001) divide o processo de
de suas demandas e para a construção de desenvolvimento mental da criança em
suas identidades. Em vez de se comprar um seis estágios: sensório-motor ou período de
produto, compra-se a promessa de satisfação lactância, composto por três subestágios (do
de um desejo, um conceito, um estilo de nascimento aos dois anos), pré-operacional
vida, tudo relacionado às marcas: “É sobre (dois aos sete anos), operações concretas
um fundo de desorientação e de ansiedade (sete aos doze anos) e operações formais (a
crescente do hiperconsumidor que se destaca partir dos doze anos, marcando o início da
o sucesso das marcas” (Lipovetsky, 2007, adolescência). As estruturas progressivas dos
p.50). estágios (formas sucessivas de equilíbrio) são
maneiras de organização da atividade mental
Contribuições de Jean Piaget: da criança nas dimensões individual e social,
sob um duplo aspecto: motor ou intelectual
a criança de dois a sete anos
e afetivo.
Jean Piaget é um dos representantes mais
Neste estudo, o estágio pré-operacional (dois
expressivos do interacionismo, que explica o
a sete anos) é destacado por ser a faixa etária
comportamento humano em uma perspectiva
caracterizada pelo surgimento da linguagem,
na qual o desenvolvimento das estruturas
pelas relações sociais de submissão aos adultos
cognitivas e a construção do psiquismo são
e pela inserção da infância no consumismo.
frutos da interação entre sujeito e objeto. Piaget
Com a linguagem, os comportamentos da
(2001) considera a adaptação e a organização
criança são profundamente modificados
pertencentes à natureza do ser humano, nas dimensões afetiva e intelectual. Piaget
que organiza suas experiências vividas e (2001) enfatiza que a troca e a comunicação
adapta-se ao que estiver experimentado. A entre os indivíduos são a consequência
adaptação na criança ocorre por meio dos mais evidente do surgimento da linguagem,
processos de assimilação e de acomodação: e ressalta três consequências essenciais
“Pode-se chamar adaptação ao equilíbrio para o desenvolvimento mental da criança
dessas assimilações e acomodações. Essa nesse estágio: início da socialização da ação
é a forma geral de equilíbrio psíquico. O (troca entre os indivíduos), pensamento
desenvolvimento mental aparecerá, então, (interiorização da palavra com base na
em sua organização progressiva como linguagem interior e nos signos) e intuição

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(interiorização da ação, que se reconstitui no simbólico não é um esforço de submissão


plano intuitivo das imagens e das experiências do sujeito ao real, mas, ao contrário, uma
mentais). Se a criança se relacionava apenas assimilação deformada da realidade ao eu.
com o universo físico, agora está diante de De outro lado, a linguagem intervém nessa
dois mundos novos: o mundo social e o das espécie de pensamento imaginativo, tendo
representações interiores. Piaget evidencia como instrumento a imagem ou símbolo”
o desenvolvimento de uma submissão (Piaget, 2001, p.29). Com a função simbólica,
inconsciente, intelectual e afetiva, devida à desenvolve-se a capacidade de representar
coação espiritual exercida pelo adulto. Um objetos, ações ou acontecimentos através de
eu ideal se propõe à criança, e os exemplos símbolos (imagens mentais, gestos, palavras,
vindos do alto serão modelos que a criança sonhos, desenhos, etc). Para Pulaski, a criança
deve procurar copiar ou igualar: emprega símbolos e, através do faz de conta,
assimila e consolida como parte de sua
Existem os fatos de subordinação e as experiência os costumes observados em seu
relações de coação espiritual exercida pelo
adulto sobre a criança. Com a linguagem,
ambiente: “Ao imitar a fala, o comportamento
a criança descobre as riquezas insuspeitas e as atividades dos adultos, as crianças
de um mundo de realidades superiores a aprendem a ajustar-se a novas situações em
ela; seus pais e os adultos que a cercam lhe seu mundo” (Pulaski, 1986, p.40).
aparecem já como seres grandes e fortes,
como fontes de atividades imprevistas e
misteriosas. Mas agora esses mesmos seres O egocentrismo é uma das características
revelam seus pensamentos e vontades, e dominantes do pensamento da criança no
esse novo universo começa a impor-se
estágio pré-operacional. Piaget (2001) afirma
com sedução e prestígio incomparáveis
que, em vez de sair de seu próprio ponto
(Piaget, 2001, p.26)
de vista para coordená-lo com o dos outros,
a criança permanece inconscientemente
Em relação ao pensamento da criança de
centralizada em si mesma. Esse egocentrismo
dois a sete anos, Piaget (2001) ressalta que
diante do grupo social reproduz e prolonga
a assimilação egocêntrica marca o início
o do lactente frente ao universo físico. Como
do pensamento e da socialização. Piaget
afirma Piaget (1977b), por mais dependente
(1973) enfatiza que, do ponto de vista
que seja das influências intelectuais ambientes,
do pensamento, as trocas interindividuais
a criança nova as assimila a seu modo,
caracterizam-se por um egocentrismo a
reduzindo-as ao seu próprio ponto de vista
meio caminho do individual e do social,
e deformando-as. A criança é egocêntrica
definindo-se por uma indiferenciação
pela inconsciência de sua subjetividade no
relativa do ponto de vista próprio e do plano social e incapaz de se situar de outra
outro. Há dois polos extremos, e a maioria perspectiva, atribuindo aos outros a sua
dos atos do pensamento infantil oscila entre própria visão das coisas. Segundo Piaget
estas direções contrárias: o pensamento (1977b), o egocentrismo intelectual nada
egocêntrico puro e o pensamento intuitivo. mais é que falta de coordenação e uma
ausência de grupamento das relações com
O pensamento egocêntrico puro é um os outros e com as coisas. A supremacia do
dos polos. Piaget associa- o ao jogo ponto de vista próprio e a centração intuitiva
simbólico, no qual os jogos de imaginação em função da ação própria expressam uma
e imitação constituem uma atividade real indiferenciação inicial e uma assimilação
do pensamento essencialmente egocêntrica deformante, porque determinada pelo único
que visa a satisfazer o eu, transformando ponto de vista possível inicialmente. Para
o real em função dos desejos: “O jogo Piaget (2001) , há uma indiferenciação entre

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o eu e a realidade exterior, aqui representada A criança no consumismo e o


pelas outras pessoas, pois a criança está relacionamento entre pais e
muito centrada em si mesma e experimenta filhos
tudo em termos de si própria, sendo incapaz
de desenvolver outros pontos de vista. O As contribuições de Piaget sobre o processo de
raciocínio da criança, por volta de dois a desenvolvimento cognitivo da criança de dois
quatro anos, “é muito influenciado por suas a sete anos sinalizam características dessa faixa
próprias vontades e desejos, como se ela visse etária que abrem caminho para sua inserção
o mundo através de seus próprios desejos na sociedade consumista. A precocidade das
e tentasse transpor obstáculos pensando a interações entre a criança e seu ambiente
seu modo” (Bee, 1977, p.146). Coutinho e sociocultural é evidenciada na assimilação
Moreira (2001) salientam que o egocentrismo da cultura do consumo, pela infância,
da criança, como traço intelectual, manifesta- desse contexto, em que ela se vê bastante
se na representação do mundo, nos exposta aos estímulos das propagandas e ao
raciocínios e nos comportamentos sociais. A bombardeio feito pelo mercado através das
criança atribui aos objetos e acontecimentos mídias. Essa faixa etária marca a inserção da
qualidades subjetivas, impondo uma criança no mundo do consumismo devido
perspectiva particular às diversas situações e ao seu egocentrismo, ao surgimento da
transformando a realidade exterior em função linguagem e às primeiras relações sociais, de
de seus desejos. forma que tais particularidades atuam em
harmonia com as estratégias das empresas
para atingir o público infantil. Com o
O pensamento intuitivo é o outro polo, que,
advento da linguagem, evidencia-se a troca
segundo Piaget, enseja uma elaboração
e a comunicação da criança com a família.
intelectual incompleta, pré-lógica, pois ainda
A submissão intelectual e afetiva devida
imita de perto os dados perceptivos, ao mesmo
à coação espiritual exercida pelo adulto
tempo centrando-os a seu próprio modo:
propõe à criança um eu ideal, de forma
“A intuição continua fenomenista, porque
que exemplos dos pais e de outras pessoas
imita os contornos do real sem os corrigir,
serão modelos que ela imitará. A criança se
e egocêntrica, porque constantemente
espelha nos adultos, que frequentemente
centrada em função da ação do momento”
acumulam bens materiais e de consumo,
(Piaget, 1977b, p.141). Conforme o autor, há aprendendo, através do exemplo direto dos
relação estreita entre o caráter egocêntrico pais consumistas, a necessidade de comprar
das trocas interindividuais próprias dessa faixa e de consumir mais produtos, associada à
etária e o caráter intuitivo do pensamento. Por ideia da satisfação de suas necessidades e
um lado, todo pensamento intuitivo centra-se desejos. Frequentemente, a criança recebe
em uma configuração estática, não atingindo dos pais uma educação que estimula o
uma decentração suficiente. Essa centração hiperconsumo. O surgimento do universo
intuitiva implica o egocentrismo, no qual ela simbólico faz que a criança assimile como
é uma prioridade do ponto de vista subjetivo parte de sua experiência os hábitos que vê em
imediato (perceptivo). Por outro lado, todo seu ambiente, imitando comportamentos e
pensamento egocêntrico centra os objetos atitudes dos pais. Observando os pais sempre
em função da atividade própria do momento, a consumir produtos, a criança reproduz
implicando o pensamento por imagem ou e copia tais comportamentos sem crítica,
intuição, em oposição à objetividade. incorporando essas práticas.

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A criança tende a demandar um grande sugestionável e influenciável pelos conteúdos


número de produtos que despertam seu apresentados pela televisão, pela internet e
interesse, sejam bens materiais, sejam de pelas demais mídias:
consumo. Dos quatro aos seis anos, suas
preferências costumam ser acentuadas, Pelo fato de o egocentrismo resultar de
simples indiferenciação entre o ego e o
e fazem muitas solicitações aos pais para
alter, a criança acha-se exposta, durante
comprarem os produtos que desejam. Se o período pré-operacional, a todas as
há o consentimento dos pais, a criança sugestões e constrições do meio ambiente,
se submete progressivamente à cultura às quais se acomodará sem crítica,
precisamente por não estar consciente
consumista e ao mundo das mercadorias do caráter próprio de seu ponto de vista
sem ter consciência disso, pois, com a (Piaget, 1977a, p.162)
predominância do pensamento egocêntrico,
ela atribui aos objetos qualidades subjetivas As propagandas são poderosas ferramentas do
de seu eu e guia-se por seus desejos e consumismo, pois seduzem o consumidor e
vontades. Piaget (1977a) sustenta que, no atraem-no para o consumo. O investimento
desenvolvimento, o apogeu do egocentrismo das empresas em produtos voltados para
coincide com o da pressão dos exemplos e o segmento infantil tem crescido, e a
das opiniões do meio. A criança aprende que propaganda se torna cada vez mais presente
consumir é bom e prazeroso, principalmente no universo da criança. Crianças de dois a
quando há exemplo dos pais, a quem imita. sete anos apreciam o espetáculo ofertado
Impondo sua própria perspectiva às coisas, pelas propagandas, suas cores, músicas,
dirigida por seus desejos, espelhando- personagens animados e o enredo da história.
se nos modelos transmitidos pelos pais Karsaklian (2004) afirma que as crianças
e tendo o seu aval nessa perspectiva, a gostam de propagandas que as divirtam. As
criança começa a apropriar-se da cultura do que utilizam desenho animado são muito
consumo desenfreado, lapidando-se sua nova bem recebidas, e, quando acompanhadas
necessidade: o consumo. As mensagens das de uma canção atraente, favorecem o
empresas na divulgação de suas mercadorias interesse da criança pela propaganda. Os
atingem os consumidores através das mídias jingles e as frases de efeito contribuem para
convencionais (televisão, rádio, outdoors, a memorização e a associação do comercial a
revistas, jornais) e mídias interativas (internet), uma determinada marca, assim como as que
que são um grande triunfo do consumismo e evidenciam determinados valores também
que estão efetivamente presentes na vida das despertam o interesse da criança. O raciocínio
crianças. Estas facilmente assemelham essas da criança de dois a sete anos baseia-se em
experiências vividas à sua vida cotidiana, sua percepção imediata, lida com a realidade
associando-as aos eventos e às pessoas de percebida através do pensamento intuitivo e
seu meio social. A criança de dois a sete considera somente a aparência dos objetos,
anos ainda não possui crítica para analisar informações, experiências e acontecimentos,
os conteúdos recebidos, não considerando sem levar em conta outras dimensões de
outras perspectivas além da sua. Isso ocorre seus conteúdos. De acordo com Karsaklian,
devido ao egocentrismo da criança dessa o que atrai a atenção das crianças é a
faixa etária, marcado pela indiferenciação diversão proporcionada pelas propagandas
entre o eu e a realidade exterior, ou seja, a e seus impactos visuais e auditivos, como
não distinção entre o ponto de vista próprio e um slogan de fácil assimilação que se repete
o do outro. Aliado a isso, a criança se guia por ou um jingle bem executado. As crianças
seus desejos; incapaz de se situar de outra tendem a lembrar-se do que as personagens
perspectiva, ela se encontra amplamente fazem e não daquilo que são, registrando

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melhor a imagem de um produto que seja e marcantes, personagens animados e músicas


manipulado por essas personagens. As atraentes, geralmente surte efeito na criança
empresas utilizam essa técnica inserindo o de dois a sete anos devido a generalizações
produto na ação apresentada para chamar indevidas do pensamento infantil. Ela é
a atenção da criança, visto que o fato de incapaz de identificar as relações concretas
verem a marca inserida em uma propaganda entre a marca e os estímulos visuais e auditivos
influi no momento da escolha. Diante de que a acompanham em uma propaganda e
uma propaganda ou de um produto lançado de refletir sobre essa associação, pois ainda
pelo mercado, a criança pode considerar seu não desenvolveu as operações lógicas do
conteúdo agradável e ter sua atenção atraída, pensamento. Propagandas com animais,
“O pensamento assim como o seu interesse e a sua curiosidade animais personificados ou objetos falantes
intuitivo está a
cada instante
despertados, o que mobilizaria seus afetos tendem a ser bem aceitas pelas crianças e
centrado numa e emoções. Surge o desejo de ter ou de despertam seu interesse, visto que o animismo
relação dada, consumir aquele produto, pois a criança, é característico dessa faixa etária. Piaget
é fenomenista e
só atinge do real
apoiando-se apenas no que é aparente (2001) define o animismo como a tendência
a sua aparência através da percepção imediata dos estímulos, a conceber as coisas como vivas e dotadas
perceptiva: julga que ele lhe trará prazer e felicidade. de intenção, que exprime uma confusão
está, portanto,
à mercê das
Muito centrada em si e demasiadamente ou indissociação entre o mundo interior
sugestões da influenciada por seus desejos e vontades, (subjetivo) e o universo físico. A propaganda
experiência a criança vê o mundo e transforma as estabelece um elo com as fantasias da criança
imediata, que
ele copia e
informações recebidas das mídias em função ao promover histórias que as conduzem ao
imita, em vez de de seus próprios desejos. A experiência sonho, em harmonia com o universo simbólico
corrigir” (Piaget, imediata das informações recebidas governa da criança que surge com a linguagem e que
1977b, p.161).
o seu campo perceptivo, que lida com os evidencia o pensamento imaginativo. Piaget
impactos das informações auditivas e visuais sustenta que podemos classificar entre
utilizando o pensamento por intuição, e não os símbolos individuais toda imaginação
a objetividade. A criança apreende os dados mental, e que a função simbólica se explica
de sua percepção imediata atribuindo-os a pela formação das representações (afetivas e
si mesma e ao seu ponto de vista, de forma cognitivas). As crianças, empregando símbolos
que o seu pensamento intuitivo faz que ela nas brincadeiras de faz de conta, muitas vezes
lide com os estímulos das propagandas sem reproduzem situações reais de consumo de
análise ou crítica, uma vez que a centração coisas que lhes são agradáveis, como comprar
intuitiva de seu pensamento é prioridade do um carro, ir ao shopping fazer compras, etc.
ponto de vista subjetivo e perceptivo. Dessa
forma, a criança está aberta às sugestões do A inserção da criança de dois a sete anos
aparente que se mostra a ela, quando os no mundo do consumismo é diretamente
estímulos apresentados são agradáveis aos proporcional à qualidade e às configurações
seus olhos: “O pensamento intuitivo está a dos relacionamentos estabelecidos entre os
cada instante centrado numa relação dada,
pais e os filhos, de forma que há atitudes dos
é fenomenista e só atinge do real a sua
pais que podem estimular o consumo infantil
aparência perceptiva: está, portanto, à mercê
e atitudes que podem desencorajá-lo. Nesse
das sugestões da experiência imediata, que
cenário, é absolutamente relevante considerar
ele copia e imita, em vez de corrigir” (Piaget,
o sentimento da infância dos pais, ou seja,
1977b, p.161).
quais percepções e concepções de criança
A técnica utilizada por empresas, que associa eles têm, como tratam a infância e como
certa marca a estímulos como frases repetitivas estabelecem as relações com os filhos. O

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ambiente familiar como lugar de transmissão traços próprios do egocentrismo, encorajando


é geralmente o primeiro grupo social no a criança a perseverar em suas tendências
qual a criança se insere, e, nesse sentido, as específicas e que são importunas em relação ao
percepções dos pais sobre o que é ser criança desenvolvimento social. Enquanto a criança,
são indissociáveis dos relacionamentos com uma liberdade de ação suficiente, sai
estabelecidos com os filhos. espontaneamente do egocentrismo dirigindo
inteiramente seu ser para a cooperação, o
Segundo Maldonado (1981), acreditando-se adulto age constantemente reforçando o
que a criança não seja capaz de escolher e egocentrismo infantil nos aspectos intelectual
que não tenha vontade própria, a tendência e moral.
é tentar dominá-la e vigiá-la. Vendo-a
como um ser selvagem, tenta-se domá-la Piaget (1977a) afirma que, na família, é
impondo-lhe nossos valores e padrões. muito comum que o prestígio da palavra
Considerando-a um ser frágil, procura-se predomine sobre qualquer experiência ativa
protegê-la excessivamente, omitindo-lhe e qualquer discussão livre. A palavra adquire
fatos importantes da vida e enganando-a. uma consistência própria e independente
Rogers (1973) afirma que tais concepções da realidade. Piaget chama esse fenômeno
são um grande obstáculo ao crescimento de verbalismo, produto do egocentrismo
da criança e entram em conflito com sua infantil e da união do sincretismo linguístico
condição de constante desenvolvimento, espontâneo da criança com a coação verbal
característica inerente ao ser humano. do adulto. Se o adulto coopera com a criança,
Ao tentar impor valores, domar, dominar discutindo com ela em pé de igualdade, sua
ou proteger excessivamente a criança, influência conduz à análise e à reflexão. Se sua
os pais estão extinguindo as condições palavra se reveste de autoridade, à medida
necessárias para desenvolver plenamente que o ensinamento verbal prevalece sobre a
as potencialidades e a autonomia dos experiência, o adulto consolida o verbalismo
filhos. A criança é uma pessoa em processo infantil. Se os pais consolidam o verbalismo,
permanente de desenvolvimento e de além de não estarem contribuindo para o
atualização, de modo que, se os pais criarem crescimento da criança, estão reforçando
relações autênticas com os filhos, encarando- suas tendências egocêntricas e retardando seu
os e aceitando-os como pessoas, estarão desenvolvimento. A autoridade da palavra e
proporcionando condições concretas para o das regras morais reveste os relacionamentos
seu crescimento. entre pais e filhos, de modo que essas
relações tendem a tornar-se superficiais e a
O egocentrismo, como tendência natural da basear-se no valor das imposições morais do
criança dessa faixa etária, está vinculado às adulto. Piaget faz uma crítica às atitudes da
interações da criança com o outro, e os pais maioria dos pais, considerando que muitos
podem ajudá-la a superá-lo, dirigindo-se à são “medíocres psicólogos e praticam a mais
autonomia. No entanto, muitas vezes os pais contestável das pedagogias morais. É talvez
não fazem isso e atrasam o desenvolvimento nesse domínio que destacaríamos com mais
moral e intelectual da criança. Piaget (1977a) acuidade quanto pode ser amoral acreditar
conclui que somente a cooperação liberta a demais na moral e quanto um pouco de
criança de seu estado inicial de egocentrismo humanidade vale mais que todas as regras”
inconsciente. A coação do adulto reforça os (Piaget, 1977a, p.167). Piaget ressalta que

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o adulto induz a criança à noção objetiva Piaget enfatiza que a coação moral do adulto
da responsabilidade, e aponta o esforço (respeito unilateral) resulta na heteronomia,
dos pais para apanhar a criança em falta, a e a cooperação resulta na autonomia. É um
multiplicidade das ordens (alguns pais são sinal de autonomia a criança descobrir que
como os governantes sem inteligência, que a veracidade é necessária nas relações de
se limitam a acumular as leis, desprezando as simpatia e de respeito mútuos, e, nesse caso,
contradições e as confusões resultantes dessa a reciprocidade relaciona-se à autonomia:
acumulação), o prazer de aplicar sanções e o “Com efeito, há autonomia moral quando a
prazer de usar sua autoridade (acreditando- consciência considera como necessário um
se que é preciso “quebrar a vontade da ideal, independente de qualquer pressão
criança” ou “fazer sentir à criança que há exterior” (Piaget, 1977a, p.172). Piaget
uma vontade superior à dela”). Geram-se ressalta que toda relação entre pais e filhos
tensão e problemas, que os pais muitas vezes que envolva coação moral do adulto e
atribuem à maldade inata da criança e ao extinção da reciprocidade e do respeito tende
pecado original. a resultar na heteronomia: “A autonomia
só aparece com a reciprocidade, quando o
O relacionamento entre pais e filhos é respeito mútuo é bastante forte, para que
essencial em relação ao processo gradativo o indivíduo experimente interiormente a
de autonomia da criança e às influências necessidade de tratar os outros como gostaria
de seu meio social. Maldonado (1981) de ser tratado” (Piaget, 1977a, p.172).
enfatiza ser essencial que os pais adotem
atitudes que estimulem a autonomia da É imprescindível que, desde cedo, os pais
criança (principal manifestação de seu estabeleçam com os filhos uma relação de
crescimento), seu poder de julgamento, confiança, transparência e honestidade.
senso crítico e capacidade de escolha. Educar Maldonado (1981) ressalta que muitos pais
para o desenvolvimento da autonomia na contam mentiras aos filhos sobre vários
infância pressupõe dar-lhe oportunidade aspectos, enganando-os ou omitindo coisas
de escolher (delimitando as margens de importantes da vida, o que gera conflitos
escolhas) e responsabilidades (deixando psíquicos na criança quando ela precisar
gradativamente de fazer por ela o que já lidar com as contradições entre o que vê e
é capaz de fazer sozinha e não intervindo o que os pais contaram. O prejuízo de seu
em situações com as quais ela já é capaz de desenvolvimento intelectual é decorrente
lidar). Para Maldonado, quando se pensa que de tais conflitos, assim como a criança pode
a criança não está entendendo nada ou que colocar em dúvida a integridade dos pais
não tem problemas, torna-se muito difícil e perder a confiança neles. É fundamental
para ela lidar com as contradições a que fica que os pais sejam sinceros e autênticos com
exposta, pois o pensamento infantil, em geral, os filhos, sendo de grande valia ensinar à
caracteriza-se por generalizações indevidas, criança comportamentos e atitudes que
que causam preocupação e ansiedade às estimulem seu crescimento e o processo
crianças. “A criança sente-se mais tranqüila gradativo de aquisição de sua autonomia.
e segura quando é oficialmente informada É imprescindível incentivar sua capacidade
do que está acontecendo e quando recebe crítica, sua criatividade e exercitar seu
ajuda para expressar abertamente dúvidas poder de escolha, assim como ajudá-la a
e sentimentos” (Maldonado, 1981, p.37). entender as consequências que decorrerão

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de suas escolhas. Conceder liberdade à do desenvolvimento cognitivo da criança


criança para tomar decisões é fundamental, de dois a sete anos e suas interações com o
pois faz que ela adquira consciência de meio descritas por Piaget oferecem condições
sua capacidade de escolher e de ter certa legítimas para a inserção da infância no
liberdade para isso, criando-lhe um senso de mundo do consumo. O consumismo, como
responsabilidade muito positivo. A criança fenômeno de produção de cultura, abriga
aprende que, dependendo de sua escolha, a construção de um processo alienante
as consequências poderão ser boas ou ruins constantemente reproduzido pelas pessoas
para ela. e gera novas percepções sobre a infância.
As propagandas produzem uma realidade
Considerações finais distorcida, fundamentada na apresentação
de conteúdos para moldar comportamentos
A criança como ser social se adapta às e criar conceitos falsos. Criam-se novas
contingências históricas, sociais, ideológicas, representações sobre o mundo real,
políticas e culturais de cada época e aparece, deformando-se uma pequena parte de
nessa perspectiva ampla, como criatura determinada realidade. Essa parte já ilusória
maldita, pecaminosa, confundida com os é comumente percebida pelo consumidor
adultos, ser inocente, mão de obra barata, como totalidade. Certos conteúdos possuem
segmento de mercado, vítima de violência grande capacidade de consolidar modelos
e pedofilia, sujeito de direitos, etc. São falsos de como viver bem, sentir-se, ter
várias as formas de encarar e de retratar a felicidade, conforto, sucesso, bem-estar, além
infância. Os pressupostos social (contexto de sustentar padrões de feio e bonito, bom
histórico-cultural do consumismo), individual e ruim, etc. Há relações entre o imediatismo
(particularidades do desenvolvimento mental próprio do consumismo da pós-modernidade
da criança de dois a sete anos) e familiar e o imediatismo perceptivo que a criança
(relacionamento entre pais e filhos) fornecem de dois a sete anos experimenta, havendo
subsídios para a análise do consumo infantil. prevalência do desejo nessas dimensões.
A inserção da infância no consumismo Nesse sentido, um bom relacionamento entre
condiciona-se à cultura do consumo e à pais e filhos proporciona condições para o
qualidade do relacionamento entre pais desenvolvimento de uma criança autônoma
e filhos, que, por sua vez, depende das para que, em certo momento de sua vida, se
percepções dos pais sobre a criança. As aproprie profundamente de si mesma e se
atitudes dos pais que promovem a autonomia reconheça como ser dotado de liberdade e
da criança e seu desenvolvimento crítico se responsável por seus atos. Da mesma forma,
opõem à alienação da criança ao consumo poderá ter consciência da cultura consumista
excessivo. Atitudes marcadas por coação, na qual se insere e questioná-la, escolhendo
verbalismo, imposição e controle conduzem livremente seu próprio caminho, seu estilo de
a criança à heteronomia, aproximam-na vida, suas preferências, optando por recusar o
da alienação e tornam-na mais propensa à aprisionamento ofertado pelo mundo artificial
cultura do consumo. Os comportamentos do consumo de mercadorias.
dos pais e a cultura familiar, que servirão
de modelo de socialização da criança, são
determinantes na assimilação da cultura do
consumo pela infância. As características

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Tiago Bastos de Moura


Discente do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC, Belo Horizonte
– MG – Brasil.
E-mail: tiagobastospsicologia@gmail.com

Flávio Torrecilas Viana


Discente do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC, Belo Horizonte
– MG – Brasil.
E-mail: flaviotorrecillas@yahoo.com.br 

Viviane Dias Loyola


Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e docente da Faculdade de Ciências Humanas
da Universidade FUMEC, Belo Horizonte – MG – Brasil.
E-mail: vividl@hotmail.com

Endereço para envio de correspondência:


Rua Uberlândia, 530, Carlos Prates. CEP: 30710-230. Belo Horizonte, MG.

Recebido 23/05/2011, 1ª Reformulação 28/01/2013, Aprovado 08/02/2013.

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