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Questão 1

a) O símbolo é um signo artificial não linguístico, artificial porque surge de convenção e não
linguístico porque seu significante não equivale, materialmente falando, a um conjunto de fonemas
que podem ser decodificados e reorganizados. O símbolo seria então um objeto concreto, material,
que representa um conceito abstrato, assim como os animais que aparecem na tirinha. Porém uma
outra diferença fundamental do símbolo para um signo linguístico é que enquanto o signo
linguístico é arbitrário – ou seja, o seu significante não possui relação natural com o seu significado
–, o símbolo é sempre motivado, nunca é completamente arbitrário, ele carrega em si um aspecto,
ou motivação, daquilo que representa. Logo, o símbolo da pomba representando a paz, como
mostrado na tirinha, não poderia ser substituído por qualquer símbolo, como um salmão; o que
contrasta com o signo linguístico. O conceito de mar, por exemplo, pode hipoteticamente ter seu
significante substituído por qualquer outro, pois não há motivação, então pode ser mar em
português, sea em inglês e mer em francês.
Se o símbolo da pomba (ou do corvo, ou da coruja) não pode ser trocado por qualquer outro
para representar a paz, isto não quer dizer que ele não possa ser trocado por algum outro. Uma
característica importante do símbolo é a sinonímia, ou seja, um mesmo conceito, no caso, a paz,
pode ser representado por mais de um símbolo, não apenas a pomba, como a cor branca, um ramo
de oliveira ou uma figura materna. Outra característica importante do símbolo, inversa à sinonímia,
é a polissemia, isto é, um símbolo pode representar mais de um conceito, a exemplo da coruja na
tirinha, que pode representar a inteligência, mas que na pintura Jardim das Delícias Terrenas, de
Hieronymus Bosch, representa o Mal, o Diabo. Já o corvo da tirinha, que representa a morte,
também poderia representar más notícias ou o deus nórdico Odin.
Por fim, o símbolo, embora sempre motivado, é também insuficiente ou inadequado, no
sentido de que um dado símbolo concreto é incapaz de representar toda a complexidade por trás do
conceito que representa. Por exemplo, a cruz é um dos símbolos do cristianismo e certamente o
maior deles, mas é incapaz de encapsular todas as nuances daquela religião, sendo assim uma
simplificação ligada à passagem mais importante de sua mitologia.

b) O símbolo advém de um acordo tácito entre as pessoas, o qual o convenciona como tal. O índice
não é convencionalizado na medida em que é um signo natural ao invés de artificial como o
símbolo. O índice, assim, não é um signo convencional pois não surge de uma relação entre
pessoas, mas de uma relação do signo com o referente que o causa. Desta forma, o índice fumaça
representa o fogo e a água congelada temperatura baixa por uma relação causal da natureza
observada pelas pessoas, não há comunicação.

c) A afirmação no terceiro painel do quadrinho está incorreta, pois a coruja nele é símbolo, não
ícone. Embora ambos sejam motivados, símbolo é signo artificial não linguístico, é objeto material
representando um conceito abstrato. Já ícone é uma mera imagem, não é signo, não contém
semiose, não advém convenção entre pessoas, não é produto cultural, é apenas a imagem de algo,
como uma fotografia de alguém ou o mapa de uma cidade.

Questão 2
O conceito de prescrição está ligado à ideia de juízo de valor, de recomendação, sugestão ou até
ordem. Quem prescreve uma conduta a sugere como a “correta” baseada em um conjunto de
valores. Já a descrição está ligada à mera explicação de fenômenos como eles são, sem a indicação
de um curso de ação ou julgamento do que é descrito. Na tirinha, a personagem de cabelo azul
dirige diversas prescrições à personagem de cabelo rosa na forma de verbos no imperativo,
comunicando o seu desejo pela outra personagem, bem como um juízo de que sua companhia seria
romântica e sexualmente agradável. Já a personagem de cabelo azul responde também com
prescrição, com uma censura da fala da primeira personagem, deixando claro que faz juízo de valor
negativo dessa fala e sugerindo que mude a conduta.

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